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segunda-feira, 11 de março de 2024

A terceira pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa (II)

3ª Pregação da Quaresma 2024 - Cardeal Cantalamessa (Vatican News)

A terceira pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa

"Impusemo-nos em não falar, nestas meditações, do que devemos fazer pelos outros, mas somente do que Jesus é e faz por nós: de nos identificarmos com as ovelhas, mão com o pastor. Mas devemos fazer uma pequena exceção nesta ocasião. Apesar de todas as exortações do Evangelho, nem sempre está em nosso poder nos livrarmos do medo e da angústia. Em contrapartida, está em nosso poder libertar alguém (ou ajudá-lo a se libertar) deles."

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap
“EU SOU O BOM PASTOR”
Terceira Pregação da Quaresma de 2024

Neste ponto, devemos trazer à mente o intuito ao qual nos propusemos com estas meditações: um intuito pessoal, mais que “pastoral”, fazer penetrar o Evangelho em nossa vida, para depois poder anuncia-lo ao mundo com mais credibilidade.

O discurso de Jesus tem dois atores: o pastor e o rebanho, ou seja, no singular, cada ovelha individualmente. Com qual dos dois nos identificaremos? Santo Agostinho, no aniversário da sua ordenação episcopal, dizia ao povo: “Para vós sou bispo, convosco sou cristão!”: “vobis sum episcopus, vobiscum sum christianus[1]. E em outra ocasião: “Em relação a vós, somos como pastores, mas, em relação ao sumo Pastor, somos ovelhas como vós”[2]. Esqueçamos, portanto, o nosso papel – o seu, de pastores, e o meu, de pregador – e sintamo-nos apenas por uma vez e unicamente ovelhas do rebanho. Recordemos a pergunta que importa a Jesus no diálogo de Cesaréia: “Para vós, quem sou?”. Como se dissesse: “Esquecei por um momento quem sou eu para as pessoas e concentrai-vos sobre vós mesmos”.

O grande psicólogo Carl Gustav Jung define o psiquiatra: “A wounded healer”: um curador ferido. O sentido da sua teoria é que é necessário conhecer as próprias feridas psicológicas para tratar daquelas dos outros e que conhecer as feridas dos outros ajuda a tratar as próprias. A intuição do psicanalista vale também para as feridas espirituais. O pastor da Igreja é também ele um wounded healer”, um enfermo que deve ajudar os outros a curar.

Busquemos ver qual é a principal doença da qual devemos nos tratar, para tratar os outros. Qual é a coisa que, do início ao fim da Bíblia, vem inculcada nas ovelhas em relação a Deus-Pastor? É para não ter medo! As palavras se acumulam na memória, neste ponto, começando por aquelas de Jesus: “Não tenhas medo, pequeno rebanho” (Lc 12,32), Por que tendes medo, fracos na fé”, disse aos apóstolos, após ter acalmado a tempestade (Mt 8,26). Recordemos também algumas palavras familiares dos Salmos, não como simples citações bíblicas, mas fazendo-as nossas enquanto as escutamos:

O Senhor é o meu pastor,
nada me falta...

Mesmo se eu tiver de andar por um vale de sombra mortal,
não temerei os males, porque estás comigo
 (Sl 23,1.4).

O Senhor é minha luz e minha salvação: de quem terei medo?
O Senhor é o refúgio da minha vida:
diante de quem tremerei?
 (Sl 27,1).

Falamos, portanto, deste “mal obscuro” do medo, que tem tanto poder para roubar dos homens e mulheres a alegria de viver. O medo é a nossa condição existencial; ele nos acompanha desde a infância até a morte. A criança tem medo de muitas coisas; nós as chamamos de terrores infantis; o adolescente tem medo do sexo oposto e se envolve às vezes em complexos de timidez e de inferioridade; Jesus deu um nome aos nossos principais medos de adultos: medo do amanhã – “que comeremos? – (Mt 6,31), medo do mundo e dos poderosos – “dos que matam o corpo” (Mt 10,28). Sobre cada um destes medos, pronunciou o seu: Nolite timere! Esta não é uma palavra vazia e impotente; é uma palavra eficaz, quase sacramental. Como todas as palavras de Jesus, opera o que significa; não é como o simples: “Tem coragem!” que, os seres humanos, dizemo-nos uns aos outros, seres humanos.

*     *     *

Mas o que é o medo? Deixemos de lado a angústia existencial sobre a qual discutem os filósofos há um século e meio. Falamos dos medos comuns e familiares. Podemos dizer que o medo é a reação a uma ameaça ao nosso ser, a resposta a um perigo real ou presumido: do maior perigo de todos, que é o da morte, aos perigos particulares que ameaçam ou a tranquilidade, ou a incolumidade física, ou o no­sso mundo afetivo. O medo é uma manifestação do nosso instinto fundamental de conservação. Conforme se trate de perigos objetivos e reais, ou imaginários, fala-se de medos justificados e injustificados, ou mesmo de neuroses: claustrofobia, agorafobia, medo de doenças imaginárias, e assim por diante.

A psicologia e a psicanálise buscam tratar medos e neuroses analisando-os e trazendo-os do inconsciente ao consciente. O Evangelho não desvia destes meios humanos, antes, encoraja-os, mas acrescenta algo que nenhuma ciência pode dar. São Paulo escreve: “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada?... Em tudo isso, porém, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou (Rm 8,35.37). Aqui, a libertação não está em uma ideia ou em uma técnica, mas em uma pessoa! O “solvente” de todo medo é Cristo, que disse aos seus discípulos: “Tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Do âmbito pessoal, o Apóstolo alarga o olhar sobre o grande cenário do espaço e do tempo, dos pequenos medos individuais passa a aos grandes e universais. Escreve:

“Tenho certeza de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potências, nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer será capaz de nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,38-39).

“Nem a morte, nem a vida!”. Cristo venceu a coisa que mais nos causa medo no mundo, a morte. Dele, a Carta aos Hebreus, afirma que ele morreu “para destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo. Assim libertou os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão (Hb 2,14-15).

“Nem a altura, nem a profundeza”, ou seja: nem o infinitamente grande como o universo, com as proporções que estão se dilatando sempre mais, nem o infinitamente pequeno – o átomo – do qual já descobrimos, por nosso risco, a terrível potência. Hoje, estamos mais do que nunca expostos a este gênero de medos cósmicos. O homem moderno percebe intensamente a sua vulnerabilidade de um modo violento e enlouquecedor. O que será do amanhã do nosso planeta se, apesar dos gritos de alarme do Papa e das pessoas mais responsáveis da sociedade, continuamos, a rédeas soltas, a consumir e poluir?

Ao término das suas reflexões filosóficas sobre o perigo da técnica para o homem moderno, Martin Heidegger, quase desistindo, exclamava: “Só um deus pode nos salvar!”[3]. “Um deus” (letra minúscula!) é o habitual modo mítico para falar de algo que está acima de nós. Tiramos o artigo indefinido e dizemos “só Deus” (e sabemos qual Deus!) pode nos salvar!”.

Não é jogar sobre Deus as nossas responsabilidades, mas crer, que, no fim, “tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” [e que Deus ama!] (cf. Rm 8,28). Quando se deve tratar com Deus, a medida é a eternidade. Podemos ficar desiludidos no tempo, mas não pela eternidade. Nós, cristãos, temo sum motivo bem mais forte do que o salmista para repetir, diante das perturbações físicas e morais do mundo:

Deus é nosso refúgio e fortaleza,
socorro sempre encontrado nos perigos.

Por isso, não temeremos, se a terra tremer,
e se as montanhas afundarem no mar
 (Sl 46).

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Tradução de Fr. Ricardo Farias

Notas:

[1]Cf. Agostinho, Sermo 340,1 (PL 38,1483).
[2] Cf. Agostinho, Comentário aos Salmos, 126,3.
[3] Cf. Martin Heidegger, Antwort. Martin Heidegger im Gespräch,

Gesamtausgabe, vol. 16, Frankfurt 1975.

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Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

AS REALIDADES ESCATOLÓGICAS (PARTE III)

O Juízo Final (apologistasdafécatólica)
AS REALIDADES ESCATOLÓGICAS (PARTE III)
O Concílio de Trento

8) Concílio de Trento (XIX ecumênico)
a) Decreto Cum hoc tempore (sess. VI – 13/01/1547)

O Concílio de Trento voltou três vezes ao tema do purgatório. Em ordem cronológica, a primeira foi em 1547 a propósito da justificação; não se falou então dele ex professo, mas não era possível omiti-lo, porque em 1530 Lutero já começara a negar a existência do purgatório¹³, como consequência de seu modo de conceber a justificação”.

b) Decreto sobre o Sacrifício da Missa (sess. XXII – 17/09/1562)

Transferido o concílio para Bolonha, foi o tema do purgatório tratado junto com o das indulgências; mas é sabido que não se chegou a passar das discussões a uma formulação definitiva. Durante o terceiro e último período (1562-1563), voltou-se a falar, embora sumariamente, do tema do purgatório no decreto sobre a Missa como Sacrifício, quando se afirma que ele é oferecido também pelos mortos em Cristo ainda não plenamente purificados.

c) Decreto Cum catholica Ecclesia (sess. XXV – 3-4/12/1563)

Finalmente chegou o momento de se examinar a questão do purgatório: foi na última sessão, quando o concílio se ocupou rapidamente de algumas matérias pendentes, mais disciplinares que dogmáticas, como o culto dos santos e as indulgências. Também o decreto sobre o purgatório tem caráter disciplinar, porque pretende preservar os fiéis de toda espécie de superstição; não deixa, porém, de chamar os católicos à Fé na doutrina tradicional sobre o purgatório, tal como sempre a ensinou a Igreja e como, um século antes, a confirmara o Concílio de Florença”. Subentende, portanto, que seja um dogma de Fé.

“Porque a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, apoiada na Sagrada Escritura e na antiga Tradição dos Padres, ensinou, nos sagrados concílios mais e, recentemente, neste concílio ecumênico, que o purgatório existe e que as almas que estão lá podem ser ajudadas pelos sufrágios dos fiéis e, de modo particularíssimo, com o Santo Sacrifício do altar: manda o santo concílio aos bispos que, com diligência, se empenhem em que a sã doutrina sobre o purgatório, transmitida pelos Santos Padres e pelos sagrados concílios, seja crida pelos fiéis cristãos, guardada, ensinada e pregada em toda a parte la Christifidelibus credi, teneri, doceri et ubique praedicari]. Entretanto, diante da gente menos instruída, excluam-se das pregações populares as questões mais difíceis e mais sutis, que não servem para a edificação (cf. 1 Tm 1,4), e das quais, geralmente, não se colhe nenhum fruto para a piedade. Igualmente, não permitam que sejam difundidas, nem tratadas doutrinas incertas ou que possam ter aparência de falsidade [specie falsi laborant. Proíbam, além disso, como escândalos e pedras de tropeço para os fiéis, aquelas questões que [só] servem para uma certa curiosidade e superstição e vã especulação [turpe lucrum sapiunt] (…).”
1. É de Fé católica que só o pecado original já basta para criar uma separação escatológica de Deus e, neste sentido, trazer um estado de condenação. A questão de fato, ou seja, a existência de um estado após a morte em que se achem almas só com o pecado original, tradicionalmente denominado “limbo”, continua como uma doutrina teológica [cf. SANTO TOMÁS DE AQUINO, Summa theologiae. Suppl., q.69, a. 4-6; idem, De malo, q. L. BILLOT, diversos artigos em Etudes, 1920-1922; INOCÊNCIO III, Carta Maiores Ecclesiae.

2. ORÍGENES, De principiis 2,10,6: PG 11, 238.

3. Contra Celsum 5, 15: PG 11, 1204.

4. Schleiermacher muito contribuiu para a difusão desta idéia. Segundo A. HARNACK, Dogmengeschichte, Tubingen, 4ª ed., 1909,3,661, todos os reformadores aderiram de coração à apocatástase, e também em nossos dias muitos teólogos modernos bizantinos e greco-russos a veem com simpatia. Cf. M. JUGIE, Theologia dogmatica orientalium dissidentium IV, Paris, 1931, 137-151. Outra forma de negação da eternidade das penas do inferno, tanto na Antiguidade, como na Idade Média, era a de sustentar o aniquilamento dos condenados, teoria já defendida pelos gnósticos no séc. II: cf. SANTO IRINEU, Adversus haereses 1,7,1: PG 7, 514. Foram depois imitados pelos socinianos medievais. Paralelamente, houve quem evoluísse com a teoria, chegando a afirmar que a alma humana não é imortal por natureza, mas Deus a torna imortal só para os eleitos (ARNÓBIO, O VELHO, Adversus nationes 2.14.

5. Bibliografia: B. ALTANER, Patrologia, Edições Paulinas, São Paulo, 1972, 213; J. DANIELOU, Origène, Paris, 1948, 207-217.

6. M. RONCAGLIA, Georges Bardanes métropolite de Corfou et Barthélemy de l’Ordre Franciscain, Roma, 1953, com documentação dos colóquios entre gregos e latinos.

7. Trata-se de Frei João Parastron ou Barastron, O.F.M., nascido em Constantinopla e apóstolo da união, que acompanhou até Lyon os legados gregos e assistiu à sessão IV do concílio. O Papa reconhece que ele se empenhou diu et utiliter pela união. Morreu em Constantinopla em 1275.

9. SÃO BERNARDO DE CLARAVAL, Sermo in festo Omnium Sanctorum: PL 185, 472. Cf. SANTO AGOSTINHO, Enarratio in psalmum 43: PL 36, 485; Id., De Trinitate 1, 13: PL. 42, 843-844. Não seria difícil encontrar em outros textos patrísticos passagens no mesmo sentido.

10. Bento XII estava bem a par da questão: quando cardeal, já havia composto o tratado De statu animarum ante generale iudicium, que depois, como Papa, apurou cuidadosamente a partir de julho de 1335 (Bibl.Vat., ms. lat. 4006, ff. 16-218).

11. M. DYKMANS, Les sermons de Jean XXII sur la vision
béatifique, Roma, 1973; DTC 2, 657-696 (X. LE BACHELET).

12.Isto é, os que hão de morrer nos séculos futuros: o mesmo vale para as expressões análogas mais adiante.

13. LUTERO, Exhortatio (à Assembléia de Augsburg): ed. Weimar 30/II, 289-290.

Fonte: https://apologistasdafecatolica.wordpress.com/

Um estilo de vida sustentável

Laudato Si' Action Plan | Vatican News

No mundo inteiro, muitas pessoas e organizações inspiraram-se na encíclica «Laudato si’» do Papa Francisco. A comunidade jesuíta na Austrália respondeu ao seu convite a cuidar da Terra, nossa casa comum, de toda a criação e de quantos a habitam, sobretudo os pobres.

https://youtu.be/jWi6NFjOaso

MARY BAYNIE, Adida das comunicações Irmãs de São José do Sagrado Coração (Austrália)

A comunidade josefina, que abrange as congregações australianas das irmãs de São José do Sagrado Coração e das irmãs de São José de Lochinvar (alargada a leigos que compartilham o carisma josefino), respondeu ao convite do Papa Francisco, aderindo à plataforma de ação Laudato si’. Além disso, em 2022, também a comunidade josefina publicou o plano de ação Laudato si’ intitulado Explore~Embrace~Embody.

A irmã Mary-Ann Casanova, religiosa de São José do Sagrado Coração com sede em Adelaide, Austrália meridional, é adida do projeto Explore~Embrace~Embody. Professora experiente, trabalhou também para a Catholic EarthCare Austrália e para o Rahamin Ecology Centre. Recentemente, completou o doutoramento no Califórnia Institute of Integral Studies, com a pesquisa sobre a relação entre ciência e espiritualidade na vida de dois sacerdotes, Julian Tenison Woods e Pierre Teilhard de Chardin.

Santa Maria MacKillop e Padre Julian Tenison Woods (Pintura de Reg Campbell, usada com permissão dos curadores das Irmãs de São José) | Vatican News

«As irmãs de São José foram fundadas pela primeira santa canonizada da Austrália, Mary MacKillop, e pelo padre Julian Tenison Woods, na solenidade de São José, em 1866», diz a irmã Mary-Ann. Fundaram-nas «em resposta à necessidade de educação católica para crianças pobres e marginalizadas e para dar uma resposta à pobreza, então alastradora, na Austrália colonial».

«Tanto Mary como Julian estavam comprometidos a favor de um modo de vida sustentável», explica a irmã Mary-Ann. «Como sacerdote e cientista, o padre Julian uniu a sua paixão espiritual à sua paixão científica em busca de soluções ambientais. Defendia a legislação e práticas de gestão no respeito pelos direitos dos pobres a levar uma vida justa, a necessidade de preservar a biodiversidade e as carências das gerações futuras».

Hoje, as irmãs josefinas continuam a responder onde há necessidade. E mantêm também um profundo compromisso com as questões ecológicas e o meio ambiente. «As congregações josefinas procuram identificar e atender às necessidades da Terra, dos seus povos e de toda a criação», observa a irmã Mary-Ann.

Antes do lançamento online de Explore~Embrace~Embody a 7 de outubro de 2022, aniversário da morte do padre Julian, as religiosas, o pessoal e os patrocinadores reuniram-se para debater e discernir a melhor forma de responder ao apelo do Papa Francisco na Laudato si’.

«Um resultado positivo dos encontros foi a capacidade de reunir documentos e recursos josefinos recentes num único volume», acrescenta a irmã Mary-Ann. «Esta simples ação reforçou a nossa noção, como josefinos, de que éramos líderes no campo da consciência ecológica e evolutiva». Explore~Embrace~Embody inclui os sete objetivos da Laudato si’, que foram repensados num contexto josefino. Os objetivos josefinos são: Alimentar a consciência ecológica, Viver com simplicidade, Fortalecer a economia ecológica e Aumentar a participação e o apoio da comunidade.

A irmã explica que a aliteração no título Explore~Embrace~Embody «é um bom instrumento para frisar um ciclo de transformação ou conversão pessoal e comunitária/organizacional».

A data do lançamento «escolhida é uma celebração comum da comunidade josefina. Associar o plano de ação ao padre Julian revigora o apelo à consciência ecológica e evolutiva como parte integrante do que fazemos — sempre tivemos um modelo», diz. «A esperança do plano de ação é que, embora o tema seja constante, o apelo ao crescimento pessoal, à maior consciência ecológica e evolutiva seja um compromisso para toda a vida», explica.

Irmã Mary Ellen O'Donoghue, membro do Comitê do Plano de Ação Laudato Si' e da Equipe de Liderança Congregacional das Irmãs de São José do Sagrado Coração | Vatican News

Até hoje, a comunidade josefina produziu vídeos sobre Explore~Embrace~Embody, com membros da comissão de ação josefina Laudato si’ e pessoal leigo. Nestes vídeos, os membros explicam em que consiste Explore~Embrace~Embody, os seus objetivos e como podem participar os patrocinadores.

Ao longo de 2023, as josefinas centraram-se no impacto ambiental dos plásticos flexíveis, sensibilizando e incentivando as pessoas a reduzir a sua utilização e a reciclá-los através de numerosas ideias e iniciativas.

Irmã Mary-Ann Casanova com sua instalação artística PLASTICS, feita com plástico | Vatican News

«A campanha “Soft Plastics” é um meio de convidar à mudança, a nível individual e sistémico, conjugando sensibilização, ação, economia, fé, moral e interligação. Isto torna os quatro objetivos do nosso plano de ação contemporaneamente operacionais», afirma.

As religiosas josefinas acreditam que qualquer contribuição, grande ou pequena, ajuda. Como dizia Santa Mary MacKillop, «faz tudo o que puderes com os meios de que dispões e deixa tranquilamente o resto para Deus».

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Rufo e São Zózimo

Santos Rufo e Zózimo (A12)
11 de março
São Rufo e São Zózimo

Muito pouco se sabe a respeito da biografia destes santos do primeiro século. As informações disponíveis são do Martirológio Romano e de uma referência de São Policarpo. Consta que eram discípulos de Jesus.

A verdadeira Fé havia sido levada a Filipos por São Paulo, sendo a primeira comunidade cristã que fundou na Europa e para a qual escreveu uma carta constante do Cânon bíblico. Parece que Rufo e Zózimo acompanhavam São Paulo nessa ocasião. A cidade, cujo nome homenageava Felipe II, pai de Alexandre Magno, era localizada no leste da antiga província da Macedônia, a 13 km do mar Egeu, no topo de uma colina (atualmente, Grécia). A maioria dos cristãos era ali formada, na época, por ex-pagãos, e também, em menor número, convertidos do judaísmo. Ali também foram perseguidos os cristãos.

São Policarpo (69 – 155 d.C.), exalta os mártires locais, em carta aos fiéis do lugar, enquanto seguia para a Turquia, ele mesmo a caminho do martírio: “Estou muito satisfeito convosco em Nosso Senhor Jesus Cristo, por terdes recebido os modelos da verdadeira caridade. Eu vos exorto a obedecerdes e a exercerdes a vossa paciência, aquela que tendes visto com vossos próprios olhos, não só nos bem-aventurados Inácio, Rufo e Zózimo, mas também em outros vossos concidadãos, no próprio Paulo e nos outros Apóstolos. Estejam certos de que todos estes não têm corrido em vão, mas na fé e na justiça, que eles estão juntos do Senhor, no lugar que lhes é devido pelos sofrimentos que suportaram. Porque eles não amaram o século presente, mas Aquele que por nós morreu e que para nós foi ressuscitado por Deus.”

São Rufo e São Zózimo foram condenados a serem devorados pelas feras no circo romano, em 107.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Embora ter sido discípulo direto de Jesus seja um privilégio, também nós, pela graça batismal, somos Seus discípulos, e ainda hoje devemos estar prontos a dar a vida por Ele. Da mesma forma, com o auxílio dos santos, a exemplo de São Rufo e São Zózimo (cujo nome significa “guerreiro abnegado”), temos o dever de tornar elevadas espiritualmente, como Filipos geograficamente, as nossas cidades. Para isso é necessário “não amar o século presente”, mas sim “Aquele que por nós morreu e ressuscitou”. Não importa se para o mundo não ficarão registros nossos, nem mesmo uma referência epistolar: Rufo e Zózimo são conhecidos e reconhecidos por Cristo, e não é outro o objetivo da vida e trabalhos que aqui fazemos, senão o de “correr na fé e na justiça para estarmos juntos ao Senhor”. Assim foi o exemplo de todos os peregrinos desta vida, Paulo, Inácio, Policarpo, Rufo, Zózimo...

Oração:

Senhor Deus, que sabeis recompensar aqueles que Vos são fiéis, concedei-nos pela intercessão de São Rufo e São Zózimo participar ativamente e até a morte na fundação de estadias temporais onde os irmãos Vos possam conhecer, e assim participar da morada definitiva que nos preparastes no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 10 de março de 2024

A terceira pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa (I)

3ª Pregação da Quaresma 2024 - Cardeal Cantalamessa (Vatican News)

A terceira pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa

"Impusemo-nos em não falar, nestas meditações, do que devemos fazer pelos outros, mas somente do que Jesus é e faz por nós: de nos identificarmos com as ovelhas, mão com o pastor. Mas devemos fazer uma pequena exceção nesta ocasião. Apesar de todas as exortações do Evangelho, nem sempre está em nosso poder nos livrarmos do medo e da angústia. Em contrapartida, está em nosso poder libertar alguém (ou ajudá-lo a se libertar) deles."

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap
“EU SOU O BOM PASTOR”
Terceira Pregação da Quaresma de 2024

Continuemos a nossa reflexão sobre os grandes “Eu Sou” de Cristo no Evangelho de João. Desta vez, Jesus não se apresenta a nós com símbolos de realidades físicas inanimadas – o pão, a luz –, mas com um personagem humano, o pastor: “Eu – diz – sou o bom pastor!”. Escutemos a parte do discurso em que está contida a autoproclamação de Cristo:

Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá sua vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor e a quem as ovelhas não pertencem, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, enquanto o lobo as ataca e as dispersa. De fato, ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas (Jo 10,11-15).

A imagem de Cristo “Bom Pastor” tem um lugar privilegiado na arte e nas inscrições paleocristãs. O Bom Pastor é apresentado, segundo o módulo clássico, no esplendor da juventude. Traz sobre as costas a ovelha, bem segura pelas patas. A imagem joanina do bom pastor é já amalgamada com aquela sinótica do pastor que vai em busca da ovelha perdida (Lc 15,4-7).

O contexto da passagem sobre o bom pastor é o mesmo dos dois capítulos precedentes, isto é, a discussão com “os judeus”, que acontece em Jerusalém, por ocasião da festa das Tendas. Mas, em João, sabe-se que o contexto conta relativamente, porque, diferentemente dos Sinóticos, ele não está preocupado em nos dar um relatório histórico e coerente da vida de Jesus (que parece dar por conhecido), mas um conjunto de “sinais” e ensinamentos do Mestre. Contudo, estes jamais aparecem fora do tempo e do espaço, como acontece nos livros de teologia, mas situados em lugares e tempos precisos (às vezes, mais precisos do que os próprios Sinóticos), que lhes conferem um valor “histórico” no sentido mais profundo do termo.

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Digamo-lo também: a imagem do bom pastor, e aquelas vinculadas de ovelha e de rebanho, realmente não estão na moda hoje em dia. Ao nos chamar de ovelhas, não teme Jesus em ferir a nossa sensibilidade e ofender a nossa dignidade de homens livres? O homem de hoje rejeita orgulhosamente o papel de ovelha e a ideia de rebanho. Não se dá conta de como, porém, na realidade, ele viva a situação que ele condena na teoria. Um dos fenômenos mais evidentes da nossa sociedade é a massificação. Imprensa, televisão, internet, são chamados “meios de comunicação de massa”, não só porque informam as massas, mas também porque as formam, massificam.

Sem perceber, deixamo-nos guiar supinamente por todo tipo de manipulação e de persuasão oculta. Outros criam modelos de bem-estar e de comportamento, ideais e objetivos de progresso, e as pessoas os adotam; vão atrás, com medo de perder o passo, condicionados e sujeitados pela publicidade. Comemos o que nos dizem, vestimos como impõe a moda, falamos como ouvimos falar. Nós nos divertimos quando vemos um vídeo acelerado, com as pessoas que se movem por quadros, rapidamente, como marionetes; mas é a imagem que teríamos de nós mesmos se nos víssemos com um olhar menos superficial.

Para entender em que sentido Jesus se proclama o bom pastor e nos chama de suas ovelhas, é preciso referir-se à história bíblica. Israel foi, no início, um povo de pastores nômades. Os Beduínos do deserto nos dão hoje uma ideia daquela que um tempo foi a vida das tribos de Israel. Nesta sociedade, a relação entre pastor e rebanho não é somente de tipo econômico, baseada no interesse. Desenvolve-se uma relação quase pessoal entre o pastor e o rebanho. Dias e dias passados juntos em lugares solitários, sem qualquer alma viva por perto. O pastor acaba por conhecer tudo de cada ovelha; a ovelha reconhece a voz do pastor, que frequentemente fala em voz alta com as ovelhas, como se fossem pessoas. Isto explica como, para expressar sua relação com a humanidade, Deus se serviu desta imagem, hoje ambígua. “Ó Pastor de Israel, dá ouvido, tu, que conduzes José, como a uma ovelha”, reza o salmista (Sl 80,2).

Com a passagem da situação de tribos nômades àquela de povo sedentário, o título de pastor é dado, por extensão, também àqueles que fazem as vezes de Deus na terra: os reis, os sacerdotes, os chefes em geral. Mas, neste caso, o símbolo se divide: não evoca mais apenas imagens de proteção, de segurança, mas também de exploração e opressão. Ao lado da imagem do bom pastor, aparece a do mau pastor. No profeta Ezequiel, encontramos uma terrível denúncia contra os maus pastores que apascentam apenas a si mesmos; nutrem-se de leite, vestem-se de lã, mas não cuidam minimamente das ovelhas, as quais tratam “com dureza” (cf. Ez 34,1ss). A esta denúncia contra os maus pastores, segue uma promessa: Deus mesmo, um dia, assumirá o cuidado amoroso de seu rebanho:

Procurarei a ovelha perdida, reconduzirei a desgarrada, enfaixarei a quebrada, fortalecerei a doente (Ez 34,16).

Jesus, no Evangelho, retoma este esquema do bom e do mau pastor, mas com uma novidade. “Eu – afirma – sou o bom pastor!”. A promessa de Deus tornou-se realidade, superando toda expectativa.

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Tradução de Fr. Ricardo Farias

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Reflexão para o 4º Domingo da Quaresma (B)

Jesus e Nicodemos (Vatican News)

Diante da entrega radical a Deus, de total descentralização, de abnegação absoluta, de esvaziamento de si mesmo, nosso coração deverá aprender a lição de amor e moldar-se ao Crucificado.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Se existe uma imagem de Jesus que me agrada bastante é a do Senhor crucificado. Vejo nela o símbolo maior de nossa fé e o sinal mais explícito do amor de Deus por nós. É a imagem da entrega radical ao Pai, por amor.

Por outro lado, preocupa-nos quando alguns cristãos dizem que a imagem do crucificado os choca e que não deveria ficar exposta, mas a do Senhor ressuscitado. É verdade, O Cristo ressuscitado é a última palavra.

No Evangelho deste domingo o Senhor nos fala que ele deverá ser levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Ele recorda a Nicodemos o episódio no deserto quando, sob a orientação de Deus, Moisés levantou uma haste de onde pendia uma serpente de bronze. Todos os que eram picados por serpente, deveriam olhar para a de bronze e ficariam curados.

Todos nós, no Paraíso, fomos picados pela serpente do egoísmo, do egocentrismo e de todos os males. É preciso que, para nossa cura, olhemos com fé para o Crucificado, testemunho maior do amor do Pai por nós, como fonte de vida, de reconciliação e de paz. Diante da entrega radical a Deus, de total descentralização, de abnegação absoluta, de esvaziamento de si mesmo, nosso coração deverá aprender a lição de amor e moldar-se ao Crucificado.

Queridos irmãos, ouvintes da Rádio Vaticano, quando nos expomos ao sol, não fazemos nada, apenas deixamos que sua luz nos passe os benefícios de que nosso organismo necessita. Nossa vida espiritual e, por que não dizer, nossa maturidade psicoafetiva necessita que fixemos o olhar na imagem do Cristo crucificado, sinal maior de libertação, de maturidade e de entrega por amor.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

AS REALIDADES ESCATOLÓGICAS (PARTE II)

Novíssimos (apologistasdafecatolica)

AS REALIDADES ESCATOLÓGICAS (PARTE II)

Da Benedictus Deus (Bento XII) a Exsurge Domine (Leão X)

4) Constituição Benedictus Deus de Bento XII (29/01/1336)


A Constituição Benedictus Deus de Bento XII é um dos documentos mais importantes do Magistério sobre escatologia; deram-lhe ensejo alguns sermões pronunciados por João XXII, seu predecessor que, a título pessoal e como doutor privado, havia pregado na Festa de Todos os Santos e no terceiro domingo do Advento de 1331 que os eleitos não gozavam da visão de Deus senão depois da ressurreição final. Em 05/01/1332 acrescentou que também os réprobos só padecem completamente o suplício eterno depois do Juízo universal; não que ele negasse que tanto o céu como o inferno começassem, respectivamente, para justos e pecadores, logo após a morte, mas se afastava da doutrina tradicional e sufragava esta novidade invocando o testemunho de alguns santos, particularmente São Bernardo de Claraval⁹. Houve grande clamor e João XXII, depois de ponderar as objeções contrárias, alimentou a intenção de definir a questão no sentido tradicional, mas não teve tempo para isso, porque a morte o colheu quando já havia submetido suas opiniões privadas ao Juízo da Igreja. Coube a Bento XII, dois anos depois da morte do seu predecessor, desfazer a confusão¹⁰.

A Constituição Benedictus Deus é um documento ex cathedra, a julgar pelas fórmulas definitórias que emprega: o objetivo primeiro é definir o estado das almas logo após a morte, mas indiretamente examina também em que consiste a bem-aventurança eterna, que é essencialmente a visão imediata de Deus. Além disso, insiste na eternidade, que é uma duração infinita”. O Concílio de Florença e os últimos documentos do Magistério se inspiram nesta constituição”¹¹.

Do estado depois da morte

“Com a presente constituição, que permanecerá sempre em vigor, definimos com Autoridade Apostólica que: segundo a ordenação geral de Deus, as almas de todos os santos, que morreram antes da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, como também as dos santos Apóstolos, mártires, confessores, virgens e dos outros fiéis mortos depois de terem recebido o santo Batismo de Cristo, nos quais nada havia a purificar quando morreram, ou as [almas] dos que venham a morrer [quando decedent etiam in futurum]¹² sem nada terem que purificar; ou, então, no caso em que tiveram ou tenham algo que purificar, desde que estejam purificadas depois da morte; e as almas das crianças renascidas pelo mesmo Batismo de Cristo, e as [almas] das que hão de ser batizadas, desde que o sejam e vierem a morrer antes do uso da razão: [todas estas almas], imediatamente depois de sua morte e da purificação de que falamos para aqueles que tiverem necessidade dela, ainda antes da reassunção de seus corpos e do Juízo universal, depois da Ascensão do Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, ao céu – estiveram, estão e estarão no céu, admitidos na companhia dos santos anjos, no Reino dos céus e no Paraíso celeste, com Cristo.”

“E depois da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo viram e veem a Essência Divina com visão intuitiva e face a face, sem mediação de criatura como objeto de visão [nulla mediante creatura in ratione obiecti visi se habente], mas a Essência Divina se lhes manifesta de modo imediato, sem véus [nude], clara e abertamente; e por esta visão gozam da Essência Divina, e por esta visão e fruição são verdadeiramente bem-aventuradas as almas dos que partiram deste mundo e receberam a vida e o descanso eterno; e as dos que morrerem depois verão também a Essência Divina e Dela gozarão antes do Juízo universal.”

“Esta visão da Essência Divina e sua fruição tornam desnecessários [evacuant] nestas almas os atos de Fé e de Esperança, enquanto a Fé e a Esperança são virtudes propriamente teologais [prout fides et spes propriae theologicae sunt virtutes]; além disso, depois que nestas almas começou ou vier a começar esta visão intuitiva e face a face [talis intuitiva ac facialis visio] e sua fruição, esta visão e fruição continuarão a existir ininterruptamente e sem nenhum esvaziamento [evacuatione] da visão e fruição, e continuará até o Juízo final, e daí para toda a eternidade [et ex tunc usque in sempiternum].”

“Definimos ainda que, segundo a ordenação geral de Deus, as almas dos que morrem em estado de pecado mortal atual descem ao inferno logo depois da morte [animae decedentium in actuali peccato mortali mox post mortem suam ad inferna descendunt], onde são atormentadas com suplicios infernais [ubi poenis infernalibus cruciantur]; e que, não obstante, no dia do Juízo, todos os homens comparecerão com seus corpos “diante do tribunal de Cristo” para prestar contas dos próprios atos, “a fim de que cada um receba a retribuição das obras feitas, para o bem ou para o mal, enquanto estava no corpo” (2 Cor 5, 10).”

5) Carta Super quibusdam de Clemente VI (29/09/1351)

Entre os 74 quesitos propostos por Clemente VI ao mekhitar (consolador) da Armênia, para avaliar a ortodoxia de sua fé, dois são sobre o purgatório e a visão beatífica.

[TEXTO: C. BARONIUS, Annales Ecclesiastici, ano 1351, 3, 15].

“Perguntamos se creste e crês que existe o purgatório, ao qual descem as almas dos que morrem em estado de graça, mas que ainda não repararam [satisfecerunt] seus pecados com uma penitência completa.”

“Igualmente perguntamos se creste e crês que [estas almas] são atormentadas temporariamente com fogo; e que, uma vez purificadas, ainda antes do dia do Juízo chegam à verdadeira e eterna bem-aventurança, que consiste na visão face a face e no amor [dilectione] de Deus.”

6) Concílio de Florença (XVII ecumênico) Bula Laetentur coeli de Eugênio IV (sess. VI-06/07/1439)

O II Concílio de Lyon e o de Florença foram obrigados a voltar a atenção para alguns pontos de atrito entre gregos e latinos a respeito da escatologia. O de Florença não fez senão reproduzir o texto do de Lyon, quase ao pé da letra, servindo-se também da Constituição Benedictus Deus e evitando, portanto, as palavras “fogo” e “purgatório”. Não deixa de acrescentar, porém, a referência à visão de Deus Uno e Trino e à perfeição da visão, proporcionada ao mérito”.

Da mesma forma [definimos que] “aqueles que estão verdadeiramente arrependidos, se vierem a morrer em estado de graça [in Dei caritate] antes de terem praticado atos de reparação [satisfecerint] com frutos dignos de penitência (cf. Mt 3,8; Lc 3,8) pelo que cometeram ou omitiram, depois da morte suas almas são purificadas com as penas do purgatório (…), e os sufrágios dos fiéis vivos lhes são proveitosos para alívio destas penas: ou seja, o Sacrifício da Missa [missarum (…) sacrificia], as orações, as esmolas e outras práticas de piedade que os fiéis costumam oferecer pelos outros fiéis, segundo as instituições da Igreja”.

Mas “as almas daqueles que, depois de terem recebido o (…) Batismo, não incorreram em nenhuma mancha de pecado, como também aqueles que, depois de terem contraído a mancha do pecado, se purificaram (…), seja enquanto viviam no corpo, seja depois de tê-lo deixado, como já foi dito: [estas almas] são imediatamente recebidas no céu” e contemplam claramente o próprio Deus, tal como Ele é [sicuti est], Uno e Trino; uns, no entanto, de modo mais perfeito que outros, segundo os méritos.”
“As almas, porém, dos que morrem em pecado mortal atual, ou apenas com o pecado original, precipitam-se imediatamente no inferno para serem punidas, mas com penas desiguais”.

7) Bula Exsurge Domine de Leão X (15/06/1520)

Num primeiro momento Lutero não achava dificuldade em aceitar o purgatório, mas negava que sua existência pudesse ser provada pela Sagrada Escritura; foi esta a tese do heresiarca na disputa de Leipzig (1519). Na realidade, ele contestava a canonicidade dos dois livros dos Macabeus, onde está a passagem clássica sobre o sufrágio pelos mortos (2 Mc 12, 41-46). Mais tarde, porém (1530), negou tudo, segundo a lógica do seu sistema: admitida a justificação só pela fé, a que é atribuída a justiça de Cristo, não pode haver lugar para um estado intermediário entre a condenação e a salvação eterna. O homem em si mesmo continua sempre pecador e merecedor da condenação eterna; se a sua fé lhe garante a justiça de Cristo, que é infinita, então esta justificação se torna perfeita e nada mais lhe pode retardar a salvação. Por isso, para Lutero, a intervenção da Igreja com as indulgências e a intercessão dos santos tornam-se supérfluas. Os reformadores ortodoxos seguem fielmente esta teoria até os nossos dias. Esta a razão por que o Concílio de Trento incluiu a doutrina sobre o purgatório no decreto sobre a justificação.

A Bula Exsurge Domine condena quatro proposições luteranas sobre o purgatório: como dissemos, naquele tempo o herege discordava da Fé católica, mas ainda não chegava a negá-la explicitamente.

[Proposições condenadas]

“37. Não se pode provar o purgatório com nenhum texto canônico da Sagrada Escritura.”

“38. As almas no purgatório não estão seguras de sua salvação, pelo menos nem todas: e não está provado, nem pela razão, nem pelas Escrituras, que elas estejam fora do estado de poder merecer ou aumentar a Caridade.”

“39. As almas no purgatório pecam continuamente, enquanto buscarem o descanso e tiverem horror das penas.”

“40. As almas saídas do purgatório pelos sufrágios dos vivos gozam de menor bem-aventurança [minus beantur] do que se tivessem feito a reparação por si mesmas [si per se satisfecissent].”

Fonte: https://apologistasdafecatolica.wordpress.com/

O Papa no Angelus: não devemos julgar os outros, mas ajudá-los

Angelus 10/03/2024 com Papa Francisco (Vatican Media)

Aquele que conhece Jesus carrega a luz da salvação de Deus, não o machado de seus próprios julgamentos. Portanto, o conhecimento e a compreensão que temos dos outros não são para julgá-los, mas para ajudá-los: disse o Papa no Angelus, ao meio-dia deste IV Domingo da Quaresma em preparação para a Páscoa do Senhor

https://youtu.be/jvtI1DeeM5w

Raimundo de Lima - Vatican News

O olhar do Senhor sobre nós não é um farol ofuscante que nos ofusca e nos coloca em dificuldade, mas o brilho suave de uma lâmpada amiga, que nos ajuda a ver o bem em nós e a perceber o mal, para que possamos nos converter e ser curados com o apoio de sua graça. Foi o que disse o Papa no Angelus, ao meio-dia deste domingo, 10 de março, IV Domingo da Quaresma em preparação para a Páscoa do Senhor.

Jesus não veio para condenar, mas para salvar o mundo

Na alocução que precedeu a oração mariana diante de milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro para rezar com o Pontífice, Francisco deteve-se sobre a página do Evangelho do dia (Jo 3,14-21), que nos apresenta a figura de Nicodemos, um fariseu, "um dos chefes dos Judeus". Ele viu os sinais que Jesus realizou, reconheceu n’Ele um mestre enviado por Deus e foi encontrá-lo à noite, para não ser visto.

O Senhor o recebeu, dialogou com ele e lhe revelou que não tinha vindo para condenar, mas para salvar o mundo, ressaltou Francisco, convidando a refletir sobre isso: Jesus não veio para condenar, mas para salvar o mundo.

Com frequência, no Evangelho, vemos Cristo revelar as intenções das pessoas que encontra, às vezes desmascarando suas atitudes falsas, como no caso dos fariseus, observou o Santo Padre, ou fazendo-as refletir sobre a desordem de suas vidas, como no caso da Samaritana.

Jesus não quer que nenhum de nós se perca

Diante d’Ele não há segredos: Ele lê os corações. Essa capacidade pode ser inquietadora porque, se mal utilizada, prejudica as pessoas, expondo-as a julgamentos impiedosos. Pois ninguém é perfeito, todos somos pecadores, todos erramos, e se o Senhor usasse o conhecimento de nossas fraquezas para nos condenar, ninguém poderia ser salvo.

Mas não é assim, continuou o Papa. Pois Ele não a usa para apontar o dedo para nós, mas para abraçar nossas vidas, para nos libertar do pecado e nos salvar. Jesus não está interessado em nos colocar em julgamento e nos submeter a sentenças; Ele não quer que nenhum de nós se perca. Jesus não veio para condenar, mas para salvar o mundo. 

Que o Senhor nos dê um olhar de misericórdia

Antes de concluir, o Santo Padre solicitou-nos a pedir ao Senhor que nos dê um olhar de misericórdia, para não julgar os outros, mas ajudá-los, que olhemos para os outros como Ele olha para todos nós.

Pensemos em nós, que tantas vezes condenamos os outros; tantas vezes gostamos de fazer fofoca, de procurar fazer fofoca contra os outros. Peçamos ao Senhor que nos dê esse olhar de misericórdia, que olhe para os outros como Ele olha para todos nós. Que Maria nos ajude a desejar o bem uns dos outros.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os 40 Mártires de Sebaste

Os 40 Mártires de Sebaste (A12)
10 de março
Os 40 Mártires de Sebaste

imperador romano Licínio, mesmo depois do Edito de Milão de 313, que conferia liberdade religiosa aos cristãos, voltou a persegui-los. Decretou a morte daqueles que não renegassem a Fé e jurassem aos deuses romanos. Relatos de São Basílio e São Gregório de Nissa contam desse período o martírio de 40 soldados romanos cristãos, pertencentes à famosa Legião XII, “a fulminante”, servindo em Sebaste, Capadócia (atual Turquia, então capital da província da Armênia Menor); na mesma época e local ocorreu o martírio de São Brás.

Os 40 decidiram assinar uma carta coletiva, atualmente uma relíquia discriminando seus nomes, na qual afirmavam permanecer fiéis a Cristo e que não incensariam aos ídolos. A carta foi entregue ao governador de Sebaste, o general Agricola, que ordenou ao comandante da legião, Lísias, que os prendesse e torturasse, o que foi feito com correntes e ganchos de ferro. Em seguida, foram encaminhados a um lago. Era inverno, e foram obrigados a ficarem nus durante a noite, na água gelada, para morrerem de frio. Um deles declarou: “Ao tirarmos as roupas, nos despojamos do homem velho (…)”.

Na margem, foi colocado um abrigo com água aquecida, para quem quisesse apostatar e escapar da sentença. Um dos soldados o fez, mas, imediatamente morreu. Conta-se que em seguida um dos guardas, proclamando a Cristo como verdadeiro Deus, despiu-se e entrou no lago para se juntar aos mártires, tornando a completar o número de 40.

Pela manhã, os corpos foram recolhidos e colocados num transporte para serem queimados. Descobriram então que havia ainda um soldado vivo, o mais jovem deles. Os guardas decidiram tentar que abjurasse a fé e não o levaram para o transporte, mas a mãe do rapaz, ali presente, o exortou a perseverar. Colocou-o ela mesmo junto aos corpos dos companheiros, dizendo: “Vai, meu filho, terminar essa feliz viagem junto com teus camaradas. E não te apresentes por último a Deus”. E os acompanhou, com alegria no rosto, até a fogueira.

No dizer de São Basílio, estes soldados entraram no Céu como uma tropa que marcha. A lembrança do seu martírio, por volta do ano 320, coincide com a Quaresma, para encorajar os católicos no caminho da Fé.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A frieza deliberada da maldade contrasta com o calor dos corações ardentes de Fé. O exemplo destes soldados, que de fato combateram o bom combate (cf. 2Tm 4,7), é ainda enriquecido pelo gesto maior de amor de uma mãe que preferiu a morte física do filho a sabê-lo no inferno. É preciso resistir às legiões de erros, pressões e enganos que as tentações apresentam para nos congelar a alma, confiando na ajuda de Deus e apoiando-nos uns aos outros com a oração e a caridade.

Oração:

Senhor, Deus dos Exércitos, concedei-nos pelos méritos, exemplo e intercessão dos santos 40 mártires de Sebaste que sejamos leais combatentes no Vosso amor, unidos, soldados uns aos outros pela mesma Fé, para vitoriosamente queimar tudo aquilo que, na carne, possa nos consumir o espírito. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Maria, Nossa e Vossa Mãe, que não hesitou em imolar o Seu Filho natural para a salvação dos Seus filhos adotados, acompanhando-O e apoiando-O até o fim. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF