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quarta-feira, 13 de março de 2024

Papa: o ser humano é feito para o bem, à imagem de Deus

Audiência Geral de 13/03/2024 - Papa Francisco (Vatican Media)

Francisco, após oito catequeses dedicadas aos vícios, iniciou nesta quarta-feira (13) uma série de reflexões sobre as virtudes. Ao introduzir o tema, o Papa afirma que este "bem, que vem de um lento amadurecimento da pessoa até se tornar sua característica interior", é sustentado pela graça de Deus, e para que cresça e seja cultivado, são necessárias sabedoria e boa vontade. “Em um mundo deformado, devemos nos lembrar da imagem de Deus impressa em nós para sempre”.

https://youtu.be/QZ4J22sTpv4

Thulio Fonseca - Vatican News

Sorrisos, saudações, acenos e muitas felicitações pelos 11 anos de Pontificado do Papa Francisco. Este foi o clima inicial da Audiência Geral desta quarta-feira, 13 de março, mesma data que marca a eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio no Conclave de 2013. A bordo do papamóvel, o Santo Padre retribui o afeto dos fiéis expressando um dos seus traços mais fortes: a ternura.

Ao iniciar a Catequese, o Papa explicou aos fiéis que, devido a um resfriado, ainda não pode ler a catequese e convidou os presentes a escutarem com atenção o conteúdo proposto:

“Dou-lhes as boas-vindas, ainda estou um pouco resfriado, por isso pedi ao monsenhor para ler a catequese. Estejamos atentos, acredito que nos fará muito bem!”

Audiência Geral com o Papa Francisco (Vatican Media)

O capítulo das virtudes

O texto, proferido pelo padre Pierluigi Giroli, introduz o novo percurso de reflexões afirmando que, após a visão geral dos vícios, é chegado o momento de voltar o olhar para o quadro simétrico que se opõe à experiência do mal: as virtudes.

Segundo Francisco, o termo de origem latina, virtus, destaca sobretudo que a pessoa virtuosa é forte, corajosa, capaz de disciplina e ascetismo; portanto, o exercício das virtudes é fruto de uma longa germinação, que exige esforço e até sofrimento. Já a palavra grega, aretè, indica algo que se destaca, algo que emerge, que desperta admiração.

“A pessoa virtuosa é, portanto, aquela que não se distorce pela deformação, mas é fiel à sua vocação e realiza-se plenamente.”

Vocação de todos

“Estaríamos errados se pensássemos que os santos são exceções à humanidade: uma espécie de círculo estreito de campeões que vivem além dos limites da nossa espécie”, enfatiza o texto do Pontífice, afirmando que nesta perspetiva que acabamos de introduzir sobre as virtudes, os santos são antes aqueles que se tornam plenamente eles mesmos, que realizam a vocação própria de cada homem:

“Que mundo feliz seria aquele em que a justiça, o respeito, a benevolência mútua, a abertura de espírito e a esperança fossem a normalidade partilhada e não uma anomalia rara! É por isso que o capítulo sobre o agir virtuoso, nestes nossos tempos dramáticos em que frequentemente lidamos com o pior do humano, deve ser redescoberto e praticado por todos. Num mundo deformado devemos lembrar a forma com que fomos moldados, a imagem de Deus que está impressa em nós para sempre.”

Audiência Geral com o Papa Francisco (Vatican Media)

Conceito de virtude

O Santo Padre então recorda que o Catecismo da Igreja Católica oferece-nos uma definição precisa e concisa: “A virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem” (n. 1803).

Não se trata, portanto, de um ato improvisado e um tanto aleatório, que cai dos céus de forma episódica, sublinha Francisco ao destacar que virtude é um habitus da liberdade. “Se somos livres em todos os atos, e sempre somos chamados a escolher entre o bem e o mal, a virtude é o que nos permite ter o costume de fazer a escolha certa.”

Uma vida virtuosa

Padre Giroli continua a leitura da reflexão com uma pergunta: Se a virtude é um dom tão belo, como é possível adquiri-la? A resposta a esta pergunta não é simples, é complexa:

“Para o cristão, o primeiro socorro é a graça de Deus!”

“O Espírito Santo atua em nós, batizados, trabalhando na nossa alma para conduzi-la a uma vida virtuosa. Quantos cristãos alcançaram a santidade através das lágrimas, percebendo que não conseguiam superar algumas das suas fraquezas! Mas eles experimentaram que Deus completou aquela boa obra que para eles era apenas um esboço. A graça sempre precede o nosso compromisso moral.”

Audiência Geral com o Papa Francisco (Vatican Media)

Sabedoria e liberdade

Na conclusão do texto o Santo Padre destaca que nunca devemos esquecer a riquíssima lição que nos foi transmitida pela sabedoria dos antigos, que nos diz que a virtude cresce e pode ser cultivada. E para que isso aconteça, o primeiro dom do Espírito a ser pedido é precisamente a sabedoria:

“O ser humano não é um território livre para a conquista de prazeres, de emoções, de instintos, de paixões, sem poder fazer nada contra essas forças, por vezes caóticas, que o habitam. Um dom inestimável que possuímos é a abertura da mente, é a sabedoria que sabe aprender com os erros para dirigir bem a vida. Depois precisamos da boa vontade: a capacidade de escolher o bem, de nos moldarmos com o exercício ascético, evitando os excessos.”

“Queridos irmãos e irmãs, é assim que iniciamos o nosso caminho através das virtudes, neste universo sereno que se apresenta desafiador, mas decisivo para a nossa felicidade”, conclui a reflexão do Pontífice.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Eufrásia

Santa Eufrásia (A12)

13 de março

Santa Eufrásia

Eufrásia nasceu em Constantinopla, hoje Istambul na Turquia, por volta de 380. Era filha única de pais ricos e convertidos ao Cristianismo, parentes do então imperador romano Teodósio. Assim ela passou a infância e juventude rodeada pelo luxo e prazeres da corte, que porém não a atraíam. De fato, sua mãe dedicava muito tempo ensinando-lhe o amor por Jesus e o horror do pecado, e seus pais, ainda que com posses, viviam de forma humilde.

Falecido o pai, o ambiente na corte passou a ser de interesseiros em relação a elas. A mãe, buscando um lugar tranquilo onde pudessem se dedicar totalmente a Deus, levou-a para o Egito, onde recomeçaram a vida. Lá, ambas dedicavam-se à caridade junto aos pobres, à visita a hospitais e a conventos. Com dez anos, Eufrásia desejou permanecer num convento de religiosas que a acolhia. A mãe consentiu, e as irmãs em breve se impressionaram com a sua maturidade precoce, acompanhado-as na rotina com disciplina e pontualidade. Ali ela cresceu, com uma vida regular, na prática do jejum e das orações.

Mas após o falecimento da mãe, o imperador a procurou, oferecendo-lhe um vantajoso casamento com um senador, através do qual a sua fortuna aumentaria ainda mais. Eufrásia recusou, reafirmando o desejo de manter-se virgem e seguir a vida religiosa. Em contrapartida, pediu a Teodósio que distribuísse aos pobres tudo o que herdara. Seguiu assim no convento, servindo com humildade as irmãs. Foram escritos relatos de que inúmeras graças e milagres aconteciam por sua intercessão, por exemplo a cura de menino moribundo quando ela fez sobre ele o sinal da Cruz.

Praticava um rigoroso jejum, passando sem comer dias inteiros, e evitando carnes, ovos, óleo e leite. Jamais provava vinho ou algo que lhe agradasse o paladar. Mas seus maiores desafios vieram de problemas no convento, como os desmandos de uma abadessa doentia e as acusações infundadas de uma irmã.

Em 12 de março de 412 a superiora teve uma visão, avisando-a de que Eufrásia iria morrer e ser proclamada santa. Eufrásia acreditou, embora fosse jovem e nada sentisse de mal. Por isso pediu para receber os últimos Sacramentos. No dia seguinte, efetivamente, ela começou a ter uma febre muito alta, e faleceu, sendo sepultada no próprio convento.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A vida aparentemente isenta de grandes acontecimentos de Santa Eufrásia é típica daquela santidade que em geral passa desapercebida do mundo, ávido de turbulências e agitações notáveis – mesmo para os cristãos. Um resumo superficial poderia indicar que era rica e passou a infância sem problemas, descobriu bem cedo sua vocação religiosa que não teve oposição, e passou a vida quase toda no recolhimento de um convento. Mas ao contrário, desde a infância teve que se esforçar, claro que com a ajuda dos pais, para fugir às seduções cortesãs do ambiente em que habitava, à facilidade de uma vida fútil pela riqueza, ao assédio de interesseiros na sua virgindade e fortuna; ao desconforto de mudar para uma terra e cultura distantes, onde conheceu as mazelas humanas e não o ócio, a decisão precoce de se separar da mãe e de se submeter a uma rígida disciplina; à pressão de um imperador e à tentação de manter uma enorme herança, às dificuldades de uma vida em comunidade reclusa, onde é necessária a obediência mesmo quando não é equilibrada a direção, e onde as pequenas asperezas da limitada convivência cotidiana se agigantam, sem que necessariamente estejam ausentes a falsidade, a má-fé, a inveja, o orgulho… sem contar com as dores naturais da perda dos pais por cima das penitências que, se bem que escolhidas livremente, não deixaram de exigir constância e empenho em enfrentar responsavelmente estes grandes desconfortos. E, naturalmente e mais importante, tudo isto feito por amor a Deus e ao próximo, não por algum tipo de fuga ou egoísmo, mas com a busca e esforço desde tenra idade no exercício interior de direcionar a alma para Deus. Esta não é uma batalha menos heroica do que outras santas vidas repletas de fatos e acontecimentos chamativos; e é a batalha pela santidade da imensa maioria dos católicos, que de forma discreta, sem buscar alarde nos seus atos, devem ser heroicos no dia a dia comum.

Oração:

Senhor Deus, imutável e constante no Vosso amor, dai-nos a graça de buscar, por intercessão de Santa Eufrásia, somente Vos servir, sem desejar aparecer para o mundo ou alimentar o próprio orgulho, mas, atentos à vida normal dos irmãos, percebermos as suas necessidades e servi-los a partir da sincera comunhão Convosco. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 12 de março de 2024

Altruísmo ou egoísmo? As verdadeiras razões pelas quais as pessoas doam para caridade

Qual a melhor maneira de encorajar doações? | GETTY IMAGE

Altruísmo ou egoísmo? As verdadeiras razões pelas quais as pessoas doam para caridade.

  • Tim Harford
  • Apresentador do programa 50 Things That Made the Modern Economy

17 dezembro 2019

"Não é da benevolência do açougueiro, cervejeiro ou padeiro que garantimos nosso jantar, mas da preocupação deles com o próprio interesse. Não devemos nos dirigir à humanidade deles, mas ao amor próprio, e jamais falar das nossas necessidades, mas sim das vantagens que eles têm a receber."

Quando o economista Adam Smith estava escrevendo, em 1770, The Wealth of Nations (A Riqueza das Nações), um de seus livros mais influentes, sua caixa de correio provavelmente não recebia cartas com imagens comoventes de crianças famintas, com pedidos de doação.

E quando passeava pela sua cidade natal, Kirkcaldy, em Fife, na costa da Escócia, provavelmente não era abordado por homens e mulheres pedindo para que ele se cadastresse para fazer doações mensais a instituições de caridade.

Hoje em dia não é incomum sermos abordados pessoalmente, por telefone, via televisão, rádio ou correio, para que façamos doações. E os argumentos usados normalmente focam não em vantagens que receberíamos, mas nas nas necessidades dos beneficiários.

Caridade se tornou um grande negócio, embora seja difícil saber o tamanho exato— há poucas estatísticas sobre isso.

Um estudo recente estima que os britânicos doam 54 centavos de libra esterlina de cada £ 100 que possuem (R$ 535,90). Isso é três vezes mais que os alemães, mas apenas um terço do que os americanos doam.

O valor doado pelos britânicos é equivalente ao que eles gastam com cerveja, não muito menos do que gastam com carne e três vezes mais que o gasto na compra de pão. Ou seja, em termos de importância econômica, as instituições de caridade estão em igualdade com o açougueiro, o cervejeiro e o padeiro.

Segundo relatório de 2019 do Charities Aid Foundation, no Brasil, sete em cada 10 pessoas doaram dinheiro nos últimos 12 meses a uma organização social, igreja ou organização religiosa.

O mestre da estratégia de obter doações

A caridade é tão antiga quanto a humanidade. O costume religioso do dízimo - de doar 10% dos salários para causas da igreja - faz o valor de 54 centavos de libra de cada £ 100 parecer irrisório.

Mesmo assim, a verdade é que diferentes impostos e contribuições substituíram o dízimo na vida moderna e muitas organizações de caridade não têm a vantagem de dizer que falam em nome de Deus.

Elas precisam ser profissionais em termos de persuasão. E há um homem considerado o pai desse setor: Charles Summer Ward.

No final do século 19, ele começou a trabalhar na Associação Cristã de Moços (YMCA, na sigla em inglês). Ward era um "homem de tamanho médio, tão sutil nos seus modos" que ninguém suspeitaria do seu poder de levantar fundos, resume o jornal New York Post.

Essa capacidade singular foi reconhecida pela primeira vez em 1905, quando seus empregadores o enviaram a Washington DC para angariar fundos para a construção de um novo prédio.

Ward encontrou um rico doador para fazer uma grande contribuição, sob a condição de que o público complementasse o restante. Ele, então, estabeleceu um prazo fictício para que isso acontecesse e conseguiu os recursos no tempo previsto.

Ward passou a aplicar amplamente seus métodos— estabelecimento de um deadline, prazo delimitado para a campanha, monitoramento e divulgação do progresso dessa campanha, e estratégias de publicidade calculadas militarmente.

Nos tempos atuais, esses métodos soam familiares, mas quando Ward foi a Londres em 1912, eles eram novidade.

O jornal The Times se impressionou com "seu conhecimento da natureza humana e sua perspicaz aplicação de princípios de negócios para assegurar vantagens num momento psicológico".

A Primeira Guerra Mundial trouxe mais inovações: loterias e dias da bandeira, que se assemelham às atuais pulseiras, broches e adesivos que demonstram que você doou algum dinheiro.

Em 1924, Ward tinha uma empresa de levantamento de fundos e divulgava o quanto havia conseguido em doações para todo tipo de setor, de escoteiros a templos maçons.

Para os herdeiros modernos de Charles Summer Ward, o que conta como "aplicação perspicaz de princípios de negócios"?

Podemos obter pistas de executivos de marketing entrevistados pelo jornal britânico The Guardian. Imagens de crianças com fome não alcançam tantas curtidas nas redes sociais, dizem. Em vez disso, invista em construir uma marca, em engajamento e entretenimento.

O que nos motiva doar?

Economistas também têm pesquisado o que motiva alguém fazer uma doação. A teoria da "sinalização de altruísmo" diz que doamos para impressionar outras pessoas.

Isso pode ajudar a explicar a popularidade de pulseiras, broches e adesivos — eles mostram ao mundo não apenas as causas que importam para nós, mas também a nossa generosidade.

Há também uma teoria que diz que doamos para nos sentir bem ou menos culpados.

Mas investigações empíricas dessas ideias produziram resultados decepcionantes. O economista John List e seus colegas mandaram pessoas baterem nas portas de casas. Alguns pediram doação, outros venderam bilhetes de loteria para a mesma causa nobre.

Os bilhetes de loteria renderam mais, o que não surpreendeu. Mas os pesquisadores também descobriram que mulheres jovens e atraentes pedindo doações obtinham resultados tão bons quanto os dos que venderam bilhetes de loteria.

O estudo destaca que esse desempenho se deu principalmente quando homens atenderam as campainhas.

Esse resultado reforça a teoria da "sinalização de altruísmo" — neste caso fica claro quem os homens que doaram queriam impressionar ao concordar com a contribuição.

Outro economista, James Andreoni, estudou a teoria segundo a qual doamos para nos sentir bem. Ele perguntou o que aconteceu com doações particulares após uma instituição começar a ganhar subsídios do governo.

A tese dele era a de que, se os doadores davam dinheiro puramente pelo desejo altruísta de garantir o funcionamento da instituição de caridade, então as doações seriam desviadas para outras causas nobres quando o subsídio entrasse em vigor.

Mas isso não aconteceu, o que sugere, segundo Andreoni, que as doações não eram puramente altruísticas.

Agora, se as instituições estão vendendo a possibilidade de o doador se sentir bem consigo mesmo, isso não daria a elas grandes incentivos para, de fato, fazer algo de útil. Elas só precisariam saber vender uma boa história.

Efetividade

Algumas pessoas, ao decidir sobre fazer ou não uma doação, obviamente levam muito a sério a eficácia e o bem que as instituições de caridade fazem. Há movimentos que advogam pelo "altruísmo efetivo", como o GiveWell (Doe Bem, em português), que estuda a eficácia de instituições de caridade e recomenda as que aparentemente merecem nosso dinheiro.

Os economistas Dean Karlan e Daniel Wood estudaram se a comprovação de eficácia, de fato, aumenta a angariação de fundos.

Eles enviaram a doadores de uma instituição uma correspondência com a história emocionante de uma beneficiária chamada Sebastiana. "Ela não conheceu nada além de pobreza abjeta durante toda a vida", dizia o panfleto.

Outros doadores receberam a mesma história com um parágrafo adicional dizendo que "rigorosos métodos científicos" confirmaram o impacto da instituição.

O resultado? Algumas pessoas que antes contribuíram com grandes doações pareceram impressionadas e doaram quantias ainda maiores. Mas a soma total não foi maior, porque pequenos doadores deram menos dinheiro.

O mero fato de mencionar ciência parece ter atenuado o apelo emocional, afetando o efeito potencial de doar para "se sentir bem consigo mesmo" ou "menos culpado".

Isso pode explicar o motivo do GiveWell não testar grandes instituições de caridade como Oxfam, Save the Children e World Vision.

O autor desse texto escreve para a coluna Economista Disfarçado, do jornal britânico Financial Times. O programa 50 That Made the Modern Economy é transmitido pelo serviço mundial da BBC.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

A caridade é o centro da vida cristã!

A catequese nunca acabará (catequizar)

A CARIDADE É O CENTRO DA VIDA CRISTÃ!

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, 

Hoje nos reunimos mais uma vez para refletir sobre a quarta catequese quaresmal, o valor espiritual da caridade em nossas vidas. A caridade, também conhecida como amor ao próximo, é uma das virtudes mais nobres e essenciais do cristianismo, e é especialmente significativa durante a Quaresma, quando somos chamados a refletir sobre nosso relacionamento com Deus e com nossos semelhantes. 

A palavra caridade muitas vezes é associada à doação de bens materiais ou à assistência aos necessitados, e certamente essas são expressões importantes de amor ao próximo. No entanto, a verdadeira caridade vai além das ações externas e envolve uma atitude de amor, compaixão e generosidade em todos os aspectos de nossas vidas. 

Nas Escrituras, encontramos inúmeras passagens que nos exortam a praticar a caridade. Em 1 Coríntios 13,1-3, o apóstolo Paulo escreve: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá”

Essas palavras nos lembram que a caridade não é apenas uma questão de ações externas, mas de atitude de coração. Podemos fazer grandes feitos e sacrifícios, mas se não o fizermos com amor, não terá significado duradouro aos olhos de Deus. 

Além disso, Jesus nos deu um exemplo vivo de caridade durante seu ministério terreno. Em Mateus 25, 35-36, Ele diz: “Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era estrangeiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me”. Nessas palavras, Jesus nos lembra que quando servimos aos necessitados, estamos servindo a Ele mesmo. 

Durante esta Quaresma, que possamos redescobrir o verdadeiro significado da caridade em nossas vidas. Que possamos cultivar um coração generoso e compassivo, buscando oportunidades para amar e servir aos outros em todas as circunstâncias. Que possamos seguir o exemplo de Jesus, que deu sua vida por nós, demonstrando o amor mais profundo e verdadeiro. 

Uma das maneiras mais simples de fazer a caridade é socorrer os pobres com o que você economizou com o seu jejum nas sextas-feiras da Quaresma. O jejum só tem valor se destinamos o que economizamos em favor dos mais pobres, em matéria, de caridade efetiva. Muitos fazem discursos! E discursos bonitos! Mas a prática é “colocar a mão no bolso” e socorrer os que mais precisam. As pessoas que passam necessidade e fomes não podem esperar! 

Que o Espírito Santo nos guie e fortaleça neste caminho de caridade e amor ao próximo, para que possamos ser verdadeiras testemunhas do amor de Deus neste mundo. 

Que assim seja. Amém.

Fonte: https://www.cnbb.org

Dos Sermões de São Leão Magno, papa

Caridade (Fraternidade sem Fronteiras)

Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 10 de Quadragesima, 3-5: PL 54,299-301)

(Séc.V)

O bem da caridade

Diz o Senhor no Evangelho de João: Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13,35). E também se lê numa Carta do mesmo Apóstolo: Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor (1Jo 4,7-8).

Examine-se a si mesmo cada um dos fiéis, e procure discernir com sinceridade os mais íntimos sentimentos de seu coração. Se encontrar na sua consciência algo que seja fruto da caridade, não duvide que Deus está com ele; mas se esforce por tornar-se cada vez mais digno de tão grande hóspede, perseverando com maior generosidade na prática das obras de misericórdia.

Se Deus é amor, a caridade não deve ter fim, porque a grandeza de Deus não tem limites.

Para praticar o bem da caridade, amados filhos, todo tempo é próprio. Contudo, estes dias da Quaresma, a isso nos exortam de modo especial. Se desejamos celebrar a Páscoa do Senhor com o espírito e o corpo santificados, esforcemo-nos o mais possível por adquirir essa virtude que contém em si todas as outras e cobre a multidão dos pecados.

Ao aproximar-se a celebração deste mistério que ultrapassa todos os outros, o mistério do sangue de Jesus Cristo que apagou as nossas iniquidades, preparemo-nos em primeiro lugar mediante o sacrifício espiritual da misericórdia; o que a bondade divina nos concedeu, demo-lo também nós àqueles que nos ofenderam.

Seja, neste tempo, mais larga a nossa generosidade para com os pobres e todos os que sofrem, a fim de que os nossos jejuns possam saciar a fome dos indigentes e se multipliquem as vozes que dão graças a Deus. Nenhuma devoção dos fiéis agrada tanto a Deus como a dedicação para com os seus pobres, pois nesta solicitude misericordiosa ele reconhece a imagem de sua própria bondade.

Não temamos que essas despesas diminuam nossos recursos, porque a benevolência é uma grande riqueza e não podem faltar meios para a generosidade onde Cristo alimenta e é alimentado. Em tudo isso, intervém aquela mão divina que ao partir o pão o faz crescer, e ao reparti-lo multiplica-o.

Quem dá esmola, faça-o com alegria e confiança, porque tanto maior será o lucro quanto menos guardar para si, conforme diz o santo Apóstolo Paulo: Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará pão como alimento, ele mesmo multiplicará vossas sementes e aumentará os frutos da vossa justiça (2Cor 9,10), em Cristo Jesus, nosso Senhor, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

A eternidade se esconde dentro de cada aparência (I)

A Maestà de Duccio di Buoninsegna, Museo dell'Opera del Duomo, Siena: o encontro entre Jesus ressuscitado e os apóstolos no Lago Tiberíades | 30Giorni

Revista 30Dias – 06/1999

A eternidade se esconde dentro de cada aparência

O discurso de Dom Luigi Giussani no encontro promovido pelo Pontifício Conselho para os Leigos sobre o tema “Movimentos eclesiais e novas comunidades na pastoral dos bispos” Roma, 18 de junho de 1999.

por Monsenhor Luigi Giussani

) Para quem é cristão e ama a Igreja com todo o seu ser, tal como ela é e como a sua mãe lhe ensinou a amá-la, o escândalo é inevitável quando se nota a diminuição repentina e contínua do índice de pessoas que vão à igreja, como ditam as informações da mídia de massa de hoje.

) Como você pode não ficar tentado a perceber que algo está errado? E isto não pode ser moralmente referido apenas à liberdade do indivíduo; pode-se despertar no coração a impressão de que a infidelidade ao Espírito atinge até algumas expressões de quem ensina o catecismo e na confiança de certos valores e opiniões do clima descristianizado isso pode passar a ser valorizado como um sinal de os tempos, em vez de ser lido no mistério de Cristo. Em suma, este «algo» que falta não pode dizer respeito à natureza do dom de Cristo. Não é um defeito original!

Pelo contrário, é uma redução daquilo que Cristo quis fazer entre os homens, todos enfraquecidos pelo pecado original: foi para isso que Cristo veio.

Portanto, a decisão de seguir a Cristo pode ser tomada por homens que consideram a sua dedicação à Igreja à luz do poder terreno, que mantém a origem e a dinâmica de todos, mesmo dos não-cristãos; e assim a falta do sentido do Mistério distorce o próprio acontecimento de Cristo.
Na verdade, era possível ser fiel à letra da Tradição sem ser educado de uma forma cristã que soubesse quais são os fundamentos de tudo na Igreja. 

) Pensando no início da minha história, gostaria de observar que o estímulo à inovação, porém, veio dentro de mim da fidelidade aos termos da Tradição, ao ensinamento e à prática da Igreja. Entrei no seminário muito jovem, convencido da necessidade da comunhão e da confissão como consequência do batismo. Eu era um jovem seminarista, um menino obediente e exemplar, até que um dia aconteceu algo que mudou radicalmente a minha vida. Foi quando um professor meu me explicou, no seminário, a primeira página do Evangelho de João: «A Palavra de Deus, ou o fim das necessidades do coração humano, isto é, o objetivo último da vida de cada homem desejos - felicidade -, ele se tornou carne." Minha vida foi literalmente atingida por isso: tanto como uma lembrança que persistentemente atingiu meus pensamentos, quanto como estímulo para uma reavaliação da banalidade cotidiana. A partir daí, o momento deixou de ser uma banalidade para mim. Tudo o que era, portanto, tudo o que era belo, verdadeiro, atraente, fascinante, até como possibilidade, encontrou a sua razão de ser naquela mensagem, como uma certeza de presença na qual era a esperança de tudo abraçar. O que me diferenciou daqueles que estavam ao meu redor foi o desejo e a vontade de compreender. Este é o terreno onde nasce a nossa devoção à razão.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Cardeal Scherer: Uma aposta perigosa

Jogo de azar (Imagem: Divulgação)

No Congresso Nacional tramita há mais de 30 anos o Projeto de Lei (PL) 442/1991, sobre a legalização dos jogos de azar. Depois de várias tentativas frustradas de aprovação, o PL 442/91 foi novamente retomado com força total e já passou pela Câmara dos Deputados, esperando ser apreciado e votado no Senado.

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo de São Paulo 

Ao que tudo indica, além da pressão de grupos interessados na legalização dos jogos de azar no Brasil, desta vez a busca de arrecadação para o erário poderia levar vento favorável aos militantes da causa. De fato, um dos argumentos invocados é de que a aprovação do PL 442/91 poderia contribuir para o cumprimento das metas de arrecadação do governo.

Qual seria o problema e que mal haveria na legalização dos jogos de azar? Alguns invocam o respeito à liberdade individual e que o Estado não deveria proibir essa prática, deixando ao cidadão a liberdade de escolha sobre o que deseja fazer ou deixar de fazer. Desconsidera, porém, esse argumento que a prática da jogatina leva, muitas vezes, a uma paixão compulsiva e a uma dependência extremamente maléficas pelo jogo. A ludopatia, ou doença do jogo, é difícil de ser tratada e seu desfecho, depois de ocasionar muito sofrimento também para terceiros, leva à frustração econômica e social e, não raro, ao suicídio.

Argumenta-se, também, que outros países, onde o jogo é legal, tiram vantagens turísticas dessa prática. E logo se pensa em Las Vegas, Monte Carlo e outros paraísos da jogatina. Seria essa uma aposta promissora para o Brasil? Parece pouco provável, pois o fluxo turístico significativo não transita por cassinos e locais de jogos de azar, mas atrai muito mais quem mora perto. Sem esquecer que há muitos outros pontos de interesse para o turismo de massa. Não falta ao Brasil um potencial turístico maravilhoso, sem precisar de jogos de azar.

Por que motivo não legalizar os jogos de azar, uma vez que eles acontecem igualmente, de modo clandestino, sem que haja benefícios tributários? Em resposta, cabe uma nova pergunta: quem assegura que, quando os jogos de azar forem legalizados, as contravenções, os jogos clandestinos e a lavagem de dinheiro serão debelados de maneira eficaz? É sabido que o submundo dos jogos de azar é dominado por fortes grupos ilegais que, certamente, relutarão para renunciar a tão promissores campos de ganho fácil. De maneira semelhante, a legalização do comércio do cigarro não debelou o seu comércio clandestino no Brasil.

Pareceria razoável legalizar os jogos de azar, uma vez que se trata de uma prática irrefreável. Mas, mal comparando, pode-se perguntar se a solução para o desvio de impostos seria a legalização dessa prática. Não se torna boa, mediante a legalização, uma prática ilegal, ilícita e maléfica, que gera graves danos e sofrimentos humanos. Além disso, o custo social, a fiscalização e o controle precisam ser considerados nessa conta. Ao legalizar a jogatina, o Estado deverá controlar seriamente e investir somas enormes em segurança e repressão dos crimes relacionados com os jogos de azar.

Será real a expectativa de que as atividades de jogatina vão trazer novas iniciativas econômicas? Certamente, podem ser gerados empregos e tributos. Mas, em contrapartida, haverá atividades econômicas seriamente ameaçadas e até destruídas pela jogatina. Não faltam histórias de falências econômicas pessoais e empresariais por causa da paixão pelos jogos de azar. Além do mais, o jogo que se pretende legalizar não será uma atividade econômica aberta a novos empreendedores, uma vez que ela já tem donos poderosos.

Não se pode desconsiderar o risco de aumento do crime organizado, da lavagem de dinheiro e dos crimes contra a pessoa. A ludopatia não traz problemas apenas para quem se envolve nessa atividade, mas também para muitas outras pessoas. A legalização da jogatina pode gerar lucros enormes para a própria indústria dos jogos, mas vai socializar imensos custos para a sociedade, que terá de se encarregar dos perdedores, não apenas do seu dinheiro e patrimônio, engolidos pelas tentadoras máquinas de vender ilusões, mas também da saúde mental e da perda do seu lugar social e produtivo. Ninguém tenha ilusões: o Estado e a sociedade serão chamados em causa para pagar a conta de tantos novos desvalidos e perdedores de seus bens e de muito mais.

Honestamente, que vantagem o Brasil e o povo brasileiro teriam com a legalização de mais esta espécie de entorpecente psicológico e moral, capaz de fazer vítimas e causar danos e sofrimentos? Já não bastam os malefícios do consumo desenfreado de entorpecentes, com todo o pacote de males que espalha? A quem interessa a legalização dos jogos de azar e quem espera tirar grandes vantagens com isso? Mesmo com o aceno a algumas possíveis vantagens tributárias, é preciso pesar muito bem as desvantagens que a legalização dessa atividade vai acabar trazendo para o Estado e para a sociedade. Em vez de serem legalizados, os males devem ser prevenidos e debelados.

Publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo em 9 de março de 2024

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 11 de março de 2024

A eternidade se esconde dentro de cada aparência (II)

O encontro de Jesus ressuscitado com os apóstolos no monte da Galiléia | 30Giorni

Revista 30Dias – 06/1999

A eternidade se esconde dentro de cada aparência

O discurso de Dom Luigi Giussani no encontro promovido pelo Pontifício Conselho para os Leigos sobre o tema “Movimentos eclesiais e novas comunidades na pastoral dos bispos” Roma, 18 de junho de 1999.

por Monsenhor Luigi Giussani

) Eu me interessava pelos alunos, porque as relações que tive, desde os primeiros dias da minha função como professor de seminário, eram todas com alunos. Não foi a escolha de um ambiente específico para dizer certas coisas; Eu me encontrei lá. Assim como um dia encontrei aqueles três meninos no trem, indo para Rimini. Eu não os conhecia e descobri que eram terrivelmente ignorantes e cheios de preconceitos sobre o cristianismo. Esta foi a razão que me levou a pedir aos meus superiores que abandonassem o ensino de teologia no seminário para me dedicar ao trabalho entre as crianças das escolas de Milão.

As coisas que lhes contei não vieram de uma análise do mundo estudantil, mas do que minha mãe e o seminário me contaram. Em suma, tratava-se de falar aos outros com palavras ditadas pela Tradição, mas com consciência visível, até às implicações metodológicas.

O que quer que eu fizesse, em qualquer lugar da Igreja eu teria feito! O que senti e vi foi como uma forma nova, não intuída antes, exceto nos textos dos Padres e dos Papais. Essa constatação veio de uma experiência. Li as mesmas palavras do Evangelho e da Tradição de uma maneira nova.

A diferença entre os fundamentalistas e os tradicionalistas e nós é que, enquanto eles, para salvar a forma antiga, queriam reconduzir os outros à condição anterior (e imitar mecanicamente os seus pais), para nós foi necessário, precisamente, salvar a Tradição, para compreender em que consistia o conteúdo da mesma, explicá-la e dar um exemplo. Eu “entendi”, e outros comigo, que Cristo estava ali, presente.

) Procurei me esclarecer, explicar essa graça de conhecimento e reflexão que tive. Muitas vezes senti-me inaceitável pelas paróquias e pelas associações oficiais, mas para mim a imagem que me veio deu-me uma alegria e uma segurança incomparáveis ​​do facto cristão e fez dele um facto que encheu todo o meu coração na sua abertura à totalidade da realidade. da Igreja no mundo. E esta certeza, esta esperança e esta abertura foram traduzidas nas crianças que começaram a me seguir. Foi o surgimento de uma forma de sentir a presença de Jesus na Igreja como resposta total e abrangente às questões do mundo.

Depois de muitos anos, percebi, precisamente na comparação que sempre procurei e amei com a autoridade da Igreja, que o meu desejo, a paixão do coração que sentia por esta novidade de vida era uma graça particular do Espírito, que se chama carisma. O carisma apareceu-me claramente como o modo concreto pelo qual o Espírito faz nascer no coração do homem uma compreensão e um afeto adequado por Cristo num contexto histórico específico. E quem o recebe «deve» participar no mandato de Cristo: «Ide por todo o mundo!». Do dom dado a uma pessoa começa uma experiência de fé que pode ser útil de alguma forma à Igreja.

Entendo que se sinta que um modo de expressão é mais interessante que outro, mas pode haver uma maneira pela qual o carisma traduza, comunique com a consciência tranquila o que São Paulo afirma sobre a nova criatura; não apenas da nova inteligência ou de um novo coração de caridade, mas da nova criatura na sua totalidade! E isto sublinhando o que é o método cristão. Assim como Deus se fez presente ao homem em Jesus de Nazaré, também a nossa fórmula para sentir a vibração do protagonista desta história é verificar a sua presença integralmente humana e, portanto, a origem de algo que na sua totalidade, tornando-se fonte de um homem diferente, torna-se fonte de uma sociedade diferente. 

) A dinâmica de reconhecimento e verificação da presença de Cristo faz com que qualquer pessoa se torne criativa e protagonista e faz descobrir como a atividade do cristão é por natureza missionária, isto é, participante do próprio método de Cristo que criou a Igreja para se fazer conhecido em todo o mundo. A finalidade da existência cristã é, portanto, viver para a glória humana de Cristo na história. Por isso amamos todas as formas que a Igreja reconhece e estamos prontos dentro dos nossos limites para colaborar com qualquer iniciativa. Tudo o que fazemos não podemos deixar de concebê-lo como uma missão, o destino último de cada ação.

A nossa certeza, fonte de alegria, é a pertença à Igreja, de cuja autoridade, como se traduz a todos os níveis, dependemos, pedindo para sermos reconhecidos, prontos ao sacrifício até ao da vida, mas sobretudo prontos em cada tempo à conversão. sua mente e coração de uma mentalidade mundana. 

7 ) Por isso a nossa concepção moral, reconhecendo a sucumbência do homem ao pecado original, deseja passar pelo aparecimento de tudo em profunda simpatia por Cristo presente para afirmar o seu significado último, para que a relação com qualquer coisa seja vivida como sinal e convite à destino. O cristão é, portanto, um homem que percebe a eternidade escondida em cada aparência.


Fonte: https://www.30giorni.it/

A mulher e a moral cristã

Crédito: Cléofas

A mulher e a moral cristã

 POR PROF. FELIPE AQUINO

“A mulher não nasce, se faz”. Esta frase de Simone Beuavoir, líder feminista radical, se converteu em um verdadeiro estandarte deste movimento. Vários fatos concorreram para isso: a revolução sexual e feminista inspirada em um neo-marxismo, e facilitada pela pílula anticoncepcional, desenvolvida na década de 60.

O movimento feminista radical inspirou-se no marxismo e criou a tal ideologia de “Gênero” (do inglês Gender). Para Karl Marx, toda a história é uma luta de classes, de opressores contra oprimidos, em um batalha que terminará só quando os oprimidos se conscientizarem de sua situação, fizerem uma revolução e impuserem a “ditadura dos oprimidos”. A sociedade será, então, totalmente reconstruída e emergirá a “sociedade sem classes”, livre de conflitos e que assegurará a paz e prosperidade utópicas para todos. Isto foi aplicado na Rússia, China, Camboja, Vietnã, Laos, Cuba, etc. e gerou 100 milhões de mortos, e nada gerou de bom.

Foi Frederick Engels quem colocou as bases para a união do marxismo e do feminismo. O feminismo do “gênero” foi lançado pela primeira vez por Christina Hoff Sommers, em seu livro “Who stole feminism?” (Quem roubou o feminismo?)

A ideologia do gênero reinterpretou a história sob uma perspectiva neomarxista, em que a mulher se identifica com a classe oprimida e o homem com a opressora. O matrimônio monógamo é a síntese e expressão do domínio patriarcal. Toda diferença é entendida como sinônimo de desigualdade, e portanto é preciso acabar com ela. O antagonismo se supera com a luta de classes. Então, as mulheres “devem ir à luta”.

Essa ideologia penetrou nas Nações Unidas (ONU) e então começou sua carreira ascendente. A primeira conquista foi em Pequim, em 1995, na IV Conferência da Mulher, da ONU, com um documento final que estabelecia uma série de pautas para implantar a ideologia. Desde então esta ideologia está se infiltrando cada vez mais nos costumes e na educação (colégios, universidades e meios de comunicação).

A tal ideologia de “gênero” (gender) hoje exige a eliminação de qualquer tipo de diferenças sexuais. Esta perigosa ideologia difunde que a moral cristã é discriminatória a respeito da mulher, e que é um obstáculo para seu crescimento e desenvolvimento; logo, precisa ser destruída. Assim, muitas organizações feministas promovem o aborto, o divórcio, o lesbianismo, a contracepção, o ataque à família, ao casamento, e, sobretudo à Igreja Católica; pois são realidades “opressoras” da mulher.

Mas na verdade foi o oposto; foi o Cristianismo quem libertou a mulher da condição de quase escrava e que se encontrava de modo geral no mundo pagão. O Papa João Paulo II afirmou na Carta Apostólica “Dignitatem Mulieris” (n. 12) que: “Admite-se universalmente — e até por parte de quem se posiciona criticamente diante da mensagem cristã — que Cristo se constituiu, perante os seus contemporâneos, promotor da verdadeira dignidade da mulher e da vocação correspondente a tal dignidade. Às vezes, isso provocava estupor, surpresa, muitas vezes raiando o escândalo: «ficaram admirados por estar ele a conversar com uma mulher» (Jo 4, 27), porque este comportamento se distinguia daquele dos seus contemporâneos. «Ficaram admirados» até os próprios discípulos de Cristo. O fariseu, a cuja casa se dirigiu a mulher pecadora para ungir os pés de Jesus com óleo perfumado, «disse consigo: “Se este homem fosse um profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que o toca: é uma pecadora”» (Lc 7, 39). Estranheza ainda maior ou até «santa indignação» deviam provocar nos ouvintes satisfeitos de si as palavras de Cristo: «Os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus » (Mt 21, 31)”.

Cristo e o Cristianismo resgataram a mulher. Naquele tempo ela não podia, por exemplo, ser testemunha diante do Sinédrio, o tribunal dos judeus, sua voz não valia. Quantas mulheres se destacaram no Cristianismo já no seu início. Santa Helena, mãe do imperador romano Constantino foi uma gigante; a rainha dos francos Clotilde, esposa de Clovis, rei dos Francos, Joana D'arc, e tantas outras santas, mártires. A Igreja lutou contra o adultério também por parte do homem; o que não acontecia no mundo antigo. A proibição do divórcio deu grande proteção às mulheres. Além disso as mulheres obtiveram mais autonomia graças ao Catolicismo. Na Idade Média católica a rainha era coroada como o rei, geralmente na Catedral de Rheims, na França, ou em outras catedrais. E a sua coroação era tão prestigiada quanto a do Rei; o que mostra que a mulher tinha importância. A última rainha a ser coroada foi Maria de Medicis em 1610, na cidade de Paris. Algumas rainhas medievais tiveram papel importante na história, como Leonor de Aquitânia († 1204) e Branca de Castela († 1252); no caso de ausência, doença ou morte do rei, exerciam o seu poder.

Foi só no século XIX, mediante o “Código de Napoleão”, que aconteceu o processo de despojamento da mulher novamente: deixou de ser reconhecida como senhora dos seus próprios bens, e, em casa mesmo, passou a exercer papel inferior.

A mulher foi por muitos séculos a reserva moral do Ocidente. A ela competia o ensino daquelas coisas que se não se aprende nos primeiros anos de vida, não se aprendem mais. Ela ensinava os filhos a rezar e a distinguir o bem do mal; ensinava o valor da família e das tradições. Mas hoje em dia o feminismo radical, eivado e ateísmo, gerou a banalização do sexo e o hedonismo, fazendo suas vítimas, levando a mulher a perder o sentido do pudor, da maternidade e da piedade.

Isto não significa que, sem descuidar dos afazeres familiares, e na medida de sua vocação, a mulher não possa também dar a contribuição feminina no âmbito a cultura, das artes, da economia, e inclusive a política. Mas tudo isso sem prejuízo do sentido de piedade, do pudor e de maternidade que sempre foram o suporte da formação das pessoas e das sociedades do Ocidente.

Infelizmente hoje cresce esta perigosa ideologia de gênero (gender) que avança de maneira destruidora nas escolas e nas universidades, se propaga pela mídia e começa a moldar a cultura do povo. Para esta ideologia não existe mais sexo, apenas “gênero”; é a pessoa que define o seu sexo e não a natureza. Assim, não tem mais sentido falar em pai, mãe, filho, filha, neto, neta, avô, avó, marido e esposa, homem e mulher. Os sexos não são dois, mas cinco: homem heterossexual, homem homossexual, mulher heterossexual, mulher homossexual e bissexuais. Violentando a natureza, se destrói a mulher, o casamento, a família e a sociedade. É isto que começa agora a ser ensinado a nossas crianças e jovens nas escolas.

É por isso que a ideologia de “gênero” odeia a religião, a natureza, a família e o casamento. Tudo precisa ser destruído, desconstruído, por que tudo isso “sufoca e escraviza a mulher”. É preciso não ignorar a tudo isso.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF