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quarta-feira, 20 de março de 2024

O Papa: prudência, capacidade de direcionar as ações para o bem

Audiência de 20/03/2024 com o Papa Francisco (Vatican News)

"Num mundo dominado pelas aparências, pelos pensamentos superficiais, pela banalidade tanto do bem quanto do mal, a antiga lição da prudência merece ser recuperada." Este é um trecho da catequese do Papa Francisco que na Audiência Geral refletiu sobre a prudência, dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre "Vícios e virtudes".

https://youtu.be/K8fc7dB4efE

Mariangela Jaguraba – Vatican News

A catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (20/03), realizada na Praça São Pedro, foi dedicada à virtude da prudência. O Papa saudou os fiéis e peregrinos e disse que também desta vez, devido à sua dificuldade com a voz, o monsenhor rosminiano Pierluigi Giroli, da Secretaria de Estado, iria ler o texto preparado.

"Junto com a justiça, a fortaleza e a temperança", a prudência "forma as chamadas virtudes cardeais, que não são prerrogativa exclusiva dos cristãos, mas pertencem à herança da sabedoria antiga, em particular dos filósofos gregos. Portanto, um dos temas mais interessantes no esforço de encontro e inculturação foi precisamente o das virtudes".

Segundo Francisco, "nos escritos medievais, a apresentação das virtudes não é uma simples lista de qualidades positivas da alma. Voltando aos autores clássicos à luz da revelação cristã, os teólogos imaginaram o setenário das virtudes – as três teologais e as quatro cardeais – como uma espécie de organismo vivo, onde cada virtude tem um espaço harmonioso a ocupar. Existem virtudes essenciais e virtudes acessórias, como pilares, colunas e capitéis".

A pessoa prudente é criativa

Não é a virtude da pessoa temorosa, sempre hesitante quanto à ação a tomar. Não, esta é uma interpretação errada. Não é tampouco apenas cautela.

“Dar primazia à prudência significa que a ação do homem está nas mãos da sua inteligência e da sua liberdade. A pessoa prudente é criativa: raciocina, avalia, tenta compreender a complexidade do real e não se deixa dominar pelas emoções, pela preguiça, pelas pressões das ilusões.”

De acordo com Francisco, "num mundo dominado pelas aparências, pelos pensamentos superficiais, pela banalidade tanto do bem quanto do mal, a antiga lição da prudência merece ser recuperada".

Santo Tomás, seguindo Aristóteles, chamou-a de “recta ratio agibilium”. "É a capacidade de governar as ações para direcioná-las para o bem; por isso é apelidada de o “cocheiro das virtudes”. Prudente é aquele que é capaz de escolher. Quem é prudente não escolhe ao acaso: primeiro sabe o que quer, considera as situações, procura conselhos e, com visão ampla e liberdade interior, escolhe qual o caminho a seguir. Isso não quer dizer que não possa cometer erros, afinal continuamos sempre humanos; mas pelo menos evitará grandes derrapagens."

A pessoa prudente é clarividente

Infelizmente, em todos os ambientes há quem tende a descartar os problemas com piadas superficiais ou a sempre levantar polêmicas. A prudência, por outro lado, é a qualidade de quem é chamado a governar: sabe que administrar é difícil, que há muitos pontos de vista e que é preciso tentar harmonizá-los, que se deve fazer o bem não a alguns, mas a todos.

Segundo o Papa, "a prudência também ensina que, como se costuma dizer, “o ótimo é inimigo do bem”. O zelo em demasia, de fato, pode causar desastres em algumas situações: pode destruir uma construção que precisava de gradualidade; pode gerar conflitos e incompreensões; pode até mesmo desencadear a violência".

O prudente sabe preservar a memória do passado, não porque tenha medo do futuro, mas porque sabe que a tradição é um patrimônio de sabedoria. A vida é feita de uma sobreposição contínua de coisas velhas e coisas novas, e não é bom pensar sempre que o mundo começa a partir de nós, que temos de enfrentar os problemas começando do zero. A pessoa prudente também é clarividente. Depois de decidir o objetivo a atingir, é preciso buscar todos os meios para alcançá-lo.

Santos inteligentes

O Papa recordou algumas passagens do Evangelho que nos ajudam a educar a prudência, como por exemplo: "Quem constrói a sua casa sobre a rocha é prudente e quem a constrói sobre a areia é imprudente" ou "sábias são as damas de honra que trazem óleo para as suas lâmpadas e tolas são aquelas que não o fazem". "A vida cristã é uma combinação de simplicidade e astúcia. Preparando os seus discípulos para a missão, Jesus recomenda: “Eis que Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.

“Como se dissesse que Deus não quer apenas que sejamos santos, ele quer que sejamos santos inteligentes, porque sem a prudência é fácil seguir o caminho errado.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Martinho de Braga

São Martinho de Braga )A12)
20 de março
São Martinho de Braga

Martinho nasceu na Panônia, atual Hungria, no século VI, provavelmente no ano de 518. Jovem, foi para o Oriente, onde estudou Grego e ciências eclesiásticas, com tal distinção que Santo Isidoro o chamou de ilustre na Fé e na Ciência, e São Gregório de Tours o considerava como um dos homens insuperáveis do seu tempo. Voltando ao Ocidente, continuou os estudos, em Roma e na França, tendo a oportunidade de conviver com as pessoas de maior eminência em santidade e saber da época. Em especial, visitou o túmulo de São Martinho de Tours, de quem era especialissimamente devoto.

Foi então que conheceu o rei Charrico dos suevos. Este era um povo de origem germânica que invadiu a Península Ibérica (Hispânia do Império Romano) em 409, tendo ali permanecido até 585, quando foram derrotados pelos visigodos; inicialmente ocuparam a antiga província romana da Galécia (atual norte de Portugal e Galiza), estendendo-se ao Rio Tejo, na região da Lusitânia, e sua capital era Bracara Augusta (hoje Braga). Martinho acompanhou Charrico na volta ao seu reino, em 550, e apesar de que desde 448 a Galécia abraçava o Cristianismo, ali ainda havia restos do gentilismo (isto é, paganismo) e expansão do arianismo, por causa da grande ignorância religiosa.

Martinho foi um dos principais obreiros da cristianização e do monaquismo nesta região da Península. A partir de Dume, aldeia próxima de Bracara Augusta, onde fundou um mosteiro, iniciou sua evangelização. Caso único na história da Igreja, a Diocese de Dume por ele criada incluía apenas o mosteiro, e em 556 Martinho foi seu primeiro bispo, pois o bispo de Braga, que lhe concedeu o episcopado, reconheceu sua santidade, zelo e saber.

Em 559 o arianismo já estava praticamente extinto no reino suevo. Em 569 Martinho assumiu também a Sé de Braga, que, como capital do reino e sede episcopal, ganhou importância duradoura, sendo até hoje a Sé metropolita, ou primaz, das dioceses no noroeste português. Ele fundou também, pessoalmente, a igreja e o mosteiro de São Martinho de Tours, em Cedofeita, na atual cidade do Porto, na época um importante posto militar e administrativo (num burgo de nome Cale Castrum Novum – Castelo Novo de Cale –, havia um porto, Portus Cale ou Porto de Cale, atual Ribeira às margens do Rio Douro, cujo nome deu origem ao nome Portugal; Porto foi a capital, isto é, residência real, centro administrativo e sede diocesana do final do domínio suevo).

Em 561-563 Martinho convocou o 1° Concílio de Braga, quando proibiu que se cantassem muitos dos hinos e cantos de caráter popular nas missas e celebrações; com o tempo, a música litúrgica foi sendo fixada no Cantochão (do qual deriva o Canto Gregoriano, forma musical oficial da Igreja, próprio para as celebrações litúrgicas, pois eleva com serenidade a mente e a alma a Deus, sem distrações). Em 572, houve o 2° Concílio de Braga, e nesta ocasião ele registrou: Com a ajuda da graça de Deus, nenhuma dúvida há sobre a unidade e retidão da fé nesta província”. De fato, um escrito de 580, o “Paroquial Suévico” relaciona 13 dioceses e 134 paróquias na região, embora também alguns “pagus”, paróquias arianas ou não cristãs.

São Martinho foi um profícuo e profundo escritor, abordando temas morais, teológicos, canônicos e monásticos. Além de “Escritos canônicos e litúrgicos”, outras das suas principais obras são: Aegyptiorum Patrum Sententiae (“Sentenças dos Padres Egípcios”, que traduziu e comentou), De Correctione Rusticorum (“Da Correção dos Rústicos”, livro simples e claro para a evangelização dos pagãos – não confundir com “Como Catequizar os Rudes”, de Santo Agostinho), Formula Vitae Honestae (“Fórmula da Vida Honesta”, durante séculos atribuído a Sêneca e dirigido ao rei suevo, enfatizando a Justiça aos responsáveis pelo governo), De Moribus (“Tratado dos Costumes”), De ira (“Da Ira”, comentário ao livro homônimo de Sêneca, e no mesmo espírito do ditado latino ira furor brevis est, de Horácio – “a ira é uma loucura de curta duração”), Pro Repellenda Jactantia (“Para Repelir a Jactância”), Item de Superbia (“Acerca da Soberba”), Exhortatio Humilitatis (“Exortação da Humildade”).

Importantíssima contribuição de Martinho na história da cultura e língua portuguesas foi a adoção dos atuais nomes dos dias da semana: segunda-feira, terça-feira, etc.. Até então, todas as línguas utilizavam nomes de deuses pagãos para este fim, relacionados aos astros, o que se mantém até hoje exceto no Português; na origem, Latim Lunae dies para o “dia da lua”, depois Espanhol Martes para o “dia de Marte”, Inglês Saturday para o “dia de Saturno”, etc.. Martinho utilizou uma nomenclatura escolástica, Feria ou Festa (de onde “feriado”), no caso, litúrgica: Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies, o sábado em referência ao Shabat sagrado dos judeus, que no Catolicismo foi substituído pelo “dia do Senhor (Dominus)”, o domingo. Assim a perspectiva pagã foi substituída no povo católico pela referência ao Deus Uno e Trino, o Qual nos concede o tempo. Como o 1° Concílio de Braga, quando foi feita esta substituição, era um concílio local e não de toda a Igreja, as demais línguas neolatinas permaneceram com as origens pagãs. Os mais antigos documentos em Português já trazem a mudança, uma mostra de que a partir dos suevos latinizados já houve a compreensão da maior dignidade desta nomenclatura para os fiéis católicos.

De fato, dentre os povos germânicos invasores, os suevos são reconhecidos como os de maior influência e importância para a formação de Portugal, tanto geograficamente quanto dos nomes e diversos aspectos da cultura local, bem como da sua base genética. Também São Martinho de Braga, pela sua obra de evangelização, pelos seus escritos, pelo impulso cultural do mosteiro de Dume, que cresceu por toda a Idade Média, marcou profundamente a cristianização, história e cultura da Península Ibérica, notadamente Portugal.

 São Martinho faleceu em 20 de março de 579. Escreveu seu próprio epitáfio, honrando seu patrono particular São Martinho de Tours, que termina assim: “Tendo-te seguido, ó Patrono, eu, o teu servo Martinho, igual em nome que não em mérito, repouso agora aqui na paz de Cristo”. É também conhecido como Martinho de Braga ou Martinho de Dume, Martinho Dumiense, Martinho Bracarense ou Martinho da Panônia. É considerado Apóstolo dos Suevos e principal padroeiro da arquidiocese de Braga. A sua festa litúrgica oficial, no Calendário Romano, é a 5 de dezembro, mas a 22 de outubro na diocese de Braga e 20 de março em Portugal e na igreja Ortodoxa, que também o reconhece como santo.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A imensa obra de São Martinho de Braga é centrada na sabedoria, santidade e apostolado a partir dos mosteiros, um método extremamente eficaz de fixar a vida católica numa região, pois como centros de paz, virtudes, conhecimento, espiritualidade, atraem e enraízam a Palavra de Deus entre os povos. Durante toda a Idade Média ocidental, este foi o meio mais importante para difundir e estabelecer a Igreja nas ruínas do antigo Império Romano e no caos dos invasores bárbaros. Mas o seu zelo também deu atenção à Liturgia, já naquela época sofrendo alguns abusos; a música na Missa tem um propósito específico relacionado à oração, e não à simples manifestação de alegria, por exemplo. Um zelo semelhante certamente faria muito bem à espiritualidade do povo de Deus, nos dias atuais. Não menos importante é a sua contribuição para a nomeação, mais adequada do ponto de vista da cultura católica, dos dias da semana em Português. Algo muito interessante para ser adotado no orbe da Igreja. Pelos próprios títulos dos seus livros, que indicam suas exortações para a necessidade da humildade para vencer a soberba, a jactância e a ira, e reformular os costumes, pode-se seguir um itinerário de busca da perfeição espiritual, que é o cerne da vida humana: um exemplo a ser imitado por todos os fiéis, assim como ele se espelhou em São Martinho de Tours.

Oração:

Senhor Deus, que na Vossa infinita bondade nos concedestes o tempo, de modo a que todo dia possa ser vivido para Vós e para o bem que devemos fazer nesta vida, concedei-nos por intercessão de São Martinho de Braga conhecer e praticar com amor a Vossa Doutrina, Vossos Mandamentos e Sacramentos, que são a verdadeira fórmula pra a vida honesta que precisamos ter para corrigir os nossos rústicos pecados e então, iguais no nome de irmãos, com o Cristo, embora não iguais nos Seus méritos, repousemos infinitamente na Vossa paz. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 19 de março de 2024

EXEGESE: «A fé exige o realismo dos acontecimentos» (II)

José Ratzinger (30Giorni)

Revista 30Dias – 06/2003

O discurso do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé por ocasião do centenário da constituição da Pontifícia Comissão Bíblica

«A fé exige o realismo dos acontecimentos»

“A opinião de que a fé como tal não sabe absolutamente nada sobre os fatos históricos e deve deixar tudo isso para os historiadores é gnosticismo”. A intervenção do Cardeal Joseph Ratzinger. prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. por ocasião do centenário da criação da Pontifícia Comissão Bíblica.

por Joseph Ratzinger

A constituição conciliar Dei Verbum de 1965 sobre a Revelação divina abriu efetivamente um novo capítulo na relação entre o Magistério e a exegese científica. Não há necessidade de sublinhar aqui a importância deste texto fundamental. Em primeiro lugar, define o conceito de Revelação, que em nada se identifica com o seu testemunho escrito que é a Bíblia, e abre assim o vasto horizonte, tanto histórico como teológico, no qual se move a interpretação da Bíblia, uma interpretação que vê nas Escrituras não apenas livros humanos, mas o testemunho do falar divino.

O que poderia perceber um olhar histórico lançado por Nebo sobre a terra da exegese dos últimos cinquenta anos? Em primeiro lugar, muitas coisas que teriam servido de consolo para Maier, a realização do seu sonho, por assim dizer. Já a encíclica Divino afflante Spiritu de 1943 introduziu uma nova forma de compreender a relação entre o Magistério e as necessidades científicas da leitura histórica da Bíblia. Posteriormente, a década de 1960 representou a entrada na Terra Prometida da liberdade de exegese, para preservar esta imagem metafórica. Encontramos primeiro a instrução da Comissão Bíblica de 21 de Abril de 1964 sobre a verdade histórica dos Evangelhos, mas depois, sobretudo, a constituição conciliar Dei Verbum de 1965 sobre a Revelação divina, com a qual abriu efetivamente um novo capítulo na relação entre os Magistério e exegese científica. Não há necessidade de sublinhar aqui a importância deste texto fundamental. Em primeiro lugar, define o conceito de Revelação, que em nada se identifica com o seu testemunho escrito que é a Bíblia, e abre assim o vasto horizonte, tanto histórico como teológico, no qual se move a interpretação da Bíblia, uma interpretação que vê nas Escrituras não apenas livros humanos, mas o testemunho do falar divino. Torna-se assim possível determinar o conceito de Tradição, que também vai além da Escritura, apesar de nela ter o seu centro, uma vez que a Escritura é antes de tudo por natureza “tradição”. Isto leva ao terceiro capítulo da Constituição, dedicado à interpretação das Escrituras; nele surge convincentemente a necessidade absoluta do método histórico como parte indispensável do esforço exegético, mas depois aparece também a dimensão propriamente teológica da interpretação, que - como já foi dito - é essencial se aquele livro é mais do que palavras humanas.

Continuamos a nossa investigação desde o Monte Nebo: Maier, do seu posto de observação, poderia ter-se alegrado especialmente com o que aconteceu em junho de 1971. Com o motu proprio Sedula cura, Paulo VI reestruturou completamente a Comissão Bíblica para que ela não fosse mais um órgão do Magistério, mas um lugar de encontro entre o Magistério e os exegetas, um lugar de diálogo no qual os representantes do Magistério e os exegetas qualificados pudessem se encontrar para encontrarem juntos, para por assim dizer, os critérios intrínsecos da liberdade que a impedem de se autodestruir, elevando-a assim ao nível da verdadeira liberdade. Maier também poderia ter se regozijado com o fato de um de seus melhores alunos, Rudolf Schnackenburg, ter se juntado não apenas à Comissão Bíblica, mas à não menos importante Comissão Teológica Internacional, de modo que agora, ele próprio, por assim dizer, se encontrava quase em aquela Comissão que lhe tinha causado tantas preocupações. Lembremos outra data importante que, do nosso Nebo imaginário, poderia ter surgido ao longe: o documento da Comissão Bíblica A Interpretação da Bíblia na Igreja de 1993, em que não é mais o Magistério quem impõe normas ao exegetas de cima, mas são eles próprios que tentam determinar os critérios que devem indicar o caminho para uma interpretação adequada deste livro especial, que, visto apenas de fora, constitui, em última análise, nada mais do que uma coleção literária de escritos cuja composição se estende durante um milênio inteiro. Só o sujeito do qual nasceu esta literatura – o povo peregrino de Deus – faz desta coleção literária, com toda a sua variedade e os seus aparentes contrastes, um único livro. Este povo, porém, sabe que não fala nem age por si mesmo, mas está em dívida com Aquele que faz dele um povo: o mesmo Deus vivo que lhes fala através dos autores de cada livro.

Então o sonho se tornou realidade? Será que os segundos cinquenta anos da Comissão Bíblica apagaram e deixaram de lado como ilegítimo o que os primeiros cinquenta anos produziram? À primeira pergunta eu responderia que o sonho foi traduzido em realidade e que simultaneamente também foi corrigido. A mera objetividade do método histórico não existe. É simplesmente impossível excluir completamente a filosofia, ou seja, a pré-compreensão hermenêutica. Isto já era evidente, enquanto Maier ainda estava vivo, por exemplo, no Comentário sobre João de Bultmann, onde a filosofia heideggeriana serviu não apenas para tornar presente o que estava historicamente distante, agindo, por assim dizer, como um meio de transporte que transfere o passado para o nosso hoje, mas também como um cais que traz o leitor para dentro do texto. Ora, esta tentativa falhou, mas tornou-se claro que o método histórico puro – como no caso da literatura profana – não existe. É certamente compreensível que os teólogos católicos, numa época em que as decisões da Comissão Bíblica da época impediam uma aplicação pura do método histórico-crítico, olhassem com inveja para os teólogos evangélicos, que, entretanto, com o seriedade de suas pesquisas, puderam apresentar novos resultados e aquisições sobre como essa literatura, que chamamos de Bíblia, nasceu e cresceu ao longo do caminho do povo de Deus. No entanto, isso levou muito pouco em consideração o fato de que na língua protestante teologia existe, era o problema oposto. Isto é claramente visto, por exemplo, na conferência realizada em 1936 pelo grande aluno de Bultmann, que mais tarde se converteu ao catolicismo, Heinrich Schlier, sobre a responsabilidade eclesial do estudante de teologia. Naqueles tempos, o cristianismo evangélico na Alemanha travava uma batalha pela sobrevivência: o confronto entre os chamados cristãos alemães ("deutsche Christen"), que, ao submeterem o cristianismo à ideologia do nacional-socialismo, falsificaram as suas raízes, e a Igreja Confessante (“bekennende Kirche”). Neste contexto, Schlier dirigiu estas palavras aos estudantes de teologia: «... Reflitam por um momento sobre o que é melhor: que a Igreja, legitimamente e após cuidadosa reflexão, remova o ensino de um teólogo por uma doutrina heterodoxa, ou que o indivíduo silencia gratuitamente um ou outro professor de heterodoxia e alerta contra ele? Não se deve pensar que o julgamento termina quando todos podem julgar ad libitum . Aqui a visão liberal é consistente ao afirmar que não pode haver decisão sobre a verdade de um ensinamento, que, portanto, todo ensinamento tem alguma verdade e que, portanto, todos os ensinamentos devem ser admitidos na Igreja. Mas não partilhamos desta visão. Na verdade, nega que Deus tenha verdadeiramente tomado uma decisão entre nós...". Quem se lembra que na época grande parte das faculdades protestantes de teologia estava quase exclusivamente nas mãos de cristãos alemães e que Schlier teve que abandonar o ensino académico devido a declarações como a que acabamos de citar, pode também perceber o outro lado desta problema.

Chegamos assim à segunda e última questão: como devemos avaliar, hoje, os primeiros cinquenta anos da Comissão Bíblica? Seria tudo apenas, por assim dizer, um trágico condicionamento da liberdade da teologia, um conjunto de erros dos quais tivemos que nos libertar nos segundos cinquenta anos da Comissão, ou deveríamos considerar este difícil processo de uma forma mais articulada ? Que as coisas não são tão simples como pareciam no primeiro entusiasmo no início do Conselho talvez já fique claro pelo que acabámos de dizer. É verdade que o Magistério, com as decisões citadas, alargou demasiado o âmbito das certezas que a fé pode garantir; por isso continua a ser verdade que a credibilidade do Magistério foi assim diminuída e o espaço necessário para a investigação e as questões exegéticas foi excessivamente restringido. Mas também é verdade que, no que diz respeito à interpretação das Escrituras, a fé tem uma palavra a dizer e que, portanto, até os pastores são chamados a corrigir quando se perde de vista a natureza particular deste livro e a sua objetividade, que só é puro na aparência, é faz desaparecer o que há de específico e específico da Sagrada Escritura. Foram, portanto, indispensáveis ​​pesquisas laboriosas, para que a Bíblia tivesse a sua hermenêutica correta e a exegese histórico-crítica o seu devido lugar.

O discurso do Cardeal Ratzinger
foi proferido no Augustinianum em 29 de abril de 2003.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Na família está o futuro da agricultura, afirma o Papa ao Fórum Rural Mundial

Papa em evento paralelo na JMJ de Lisboa (Vatican Media)

Francisco enviou uma mensagem aos participantes do Fórum, inaugurado neste 19 de março na Espanha. Não obstante a valiosa contribuição das famílias na agricultura, elas seguem sendo atingidas pela pobreza e pela escassez de oportunidades.

Vatican News

Erradicação da fome, redução das desigualdades e proteção do planeta: estes são os pedidos do Papa Francisco aos participantes da VIII Conferência Global do Fórum Rural Mundial, que se realiza de 19 a 21 de março em Vitoria-Gasteiz, na Espanha. O evento tem por tema “Agricultura Familiar: sustentabilidade do nosso planeta” e reúne mais de 150 personalidades de 60 países, entre eles o Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil, Luiz Paulo Teixeira Ferreira

Francisco define como “louváveis” as famílias que se dedicam à agricultura pela forma solidária do seu trabalho, assim como pelo estilo respeitoso e delicado com o qual cultivam a terra, favorecendo sistemas agroalimentares mais inclusivos, resilientes e eficientes. Não obstante esta valiosa contribuição, seguem sendo atingidas pela pobreza e pela escassez de oportunidades.

Por isso, consciente dos complexos desafios que enfrentam, o Papa dirige  às famílias dos pequenos agricultores uma palavra de alento, manifestando a proximidade da Igreja.

Igualmente, o Pontífice ressalta o papel “insubstituível” do gênio feminino neste contexto. “As mulheres rurais representam uma bússola segura para suas famílias, um ponto de apoio firme para o progresso da economia, especialmente nos países em desenvolvimento.”

O Papa também não deixa de mencionar o papel dos jovens na agricultura. “A verdadeira revolução para un futuro alimentar começa com a formação e potencialização das novas gerações”, escreve, acrescentando que a contribuição da juventude consiste em proporcionar soluções inovadoras na abordagem de problemas antigos e na coragem para mudar.

Francisco conclui com os votos de que Deus abençoe as deliberações do encontro, para que, reconhecido o papel da família rural, se avance na erradicação da fome, na redução das desigualdades, assim como no cuidado e proteção do nosso planeta.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

NOMEAÇÃO: Bispo Auxiliar de Brasília-DF

Mons. Vicente de Paula Tavares (CNBB)

PAPA FRANCISCO NOMEIA NOVO BISPO AUXILIAR PARA A ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA-DF

O Papa Francisco nomeou nesta terça-feira, 19 de março, o padre Vicente de Paula Tavares, pertencente ao clero da arquidiocese de Brasília, como bispo titular de “Gergi” e auxiliar na arquidiocese da Brasília (DF). A nomeação atende à solicitação do cardeal Paulo Cezar Costa, de poder contar com a colaboração de mais um auxiliar.

Padre Vicente é, atualmente, pároco na paróquia Imaculado Coração de Maria, no Park Way, em Brasília, e integra o Colégio de Consultores da Arquidiocese. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou saudação desejando boas-vindas ao novo membro eleito para o ministério episcopal. Segue a íntegra do documento abaixo:

Saudação da CNBB ao Monsenhor Vicente de Paula Tavares

Estimado Monsenhor Vicente de Paula Tavares,

Recebemos com alegria a notícia de sua nomeação como novo Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília (DF) neste dia da solenidade de São José, esposo da Bem-Aventurada virgem  Maria, padroeiro da Igreja Universal. Unimo-nos em comunhão ao nosso irmão, o cardeal Paulo Cezar Costa, que poderá contar com seu apoio na tarefa de oportunizar, sempre mais e melhor, a experiência de encontro pessoal com o Filho de Deus e sua Palavra.

Possa a reflexão do Santo Padre, o Papa Francisco, na Carta Apostólica Patris Cordis, sobre aquele que foi o guardião das primícias da Igreja, iluminar seu ministério:

“Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação”. (…) O que Deus disse ao nosso Santo – «José, Filho de David, não temas…» (Mt 1, 20) –, parece repeti-lo a nós também: «Não tenhais medo!»”

Nos despedimos, com um trecho da oração dedicada ao Padroeiro da Igreja: “Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós e guiai-nos no caminho da vida. Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem, e defendei-nos de todo o mal”. 

Sob a intercessão de São José, enviamos nossos votos de um profícuo episcopado.

Em Cristo,

Dom Jaime Spengler 
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre – RS
Presidente da CNBB

Dom João Justino de Medeiros Silva 
Arcebispo da Arquidiocese de Goiânia – GO
1º Vice- Presidente da CNBB

Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa 
Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife – PE
2º Vice-Presidente da CNBB

Dom Ricardo Hoepers 
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília – DF
Secretário-Geral da CNBB

Biografia e trajetória eclesial

Padre Vicente nasceu na cidade de João Pinheiro (MG), no dia 21 de janeiro de 1972, filho de Nicácio Tavares da Silva e Júnia Alves da Silva. Quando criança se mudou para a fazenda Bom Sucesso, no município de Vazante (MG). Sua família consta de 6 irmãs e um irmão mais novo, ao todo, oito filhos. Durante a juventude começou a interessar-se pelas coisas Sagradas; foi coordenador do grupo de Jovem “MUSAC” na comunidade São José Operário, pertencente à paróquia Matriz, hoje, paróquia Santuário Nossa Senhora da Lapa, na mesma cidade de Vazante (MG). Também participou de curso sobre as Sagradas Escrituras, na Boa Semente; fez encontros para músicos e frequentou retiros para jovens da Renovação Carismática Católica (RCC).

No ano de 1992, padre Vicente fez seu primeiro encontro vocacional no seminário menor de Paracatu (MG), de homônima diocese; sentiu que tinha inclinações vocacionais; todavia, na ocasião, tendo sido aprovado em concurso para Polícia Florestal em Patos de Minas (MG), declinou ingressar no seminário. Não prosseguindo na carreira policial, ávido pelo sonho de cultivar a terra, mudou-se para Brasília (DF) com intuito de estudar Agronomia.

Em Brasília, ao fazer o curso da Nova Evangelização 2000, reaproximou-se da Igreja e sentiu o ardor vocacional reavivar-se em coração. Após três anos, sob a orientação do seu pároco, padre Ulysses Reis (falecido em agosto de 2020), fez encontros vocacionais no seminário maior arquidiocesano de Brasília,  Nossa Senhora de Fátima, ingressando em fevereiro do ano 2000.

Iniciou seus estudos de Filosofia no mesmo ano de ingresso do processo formativo, concluindo o ciclo filosófico em 2002; cursou Teologia no mesmo seminário, encerrando o ciclo teológico em 2006; sua primeira responsabilidade no apostolado foi o encargo de acompanhar os trabalhos da Pastoral Vocacional arquidiocesana; após apostolado pastoral em diversas paróquias, foi ordenado sacerdote no dia 9 de dezembro de 2006, por imposição das mãos e oração da Igreja, do hoje cardeal bispo emérito de Brasília, João Braz de Aviz, à época arcebispo metropolitano.

Após ordenação sacerdotal, foi nomeado vigário da paróquia Nossa Senhora Aparecida, em São Sebastião (DF), de 2007-2008; sucedeu o padre Godwin (falecido em 2021) no ofício de pároco na mesma paróquia, de 2009-2010. Foi nomeado ecônomo e formador no seminário maior interdiocesano São João Maria Vianney, de 2011-2014, na cidade de Goiânia (GO). Durante sua estada na capital goiana, também realizou os ofícios de administrador da paróquia Santo Hilário (2011-2012); colaborador paroquial na Santo Antônio, em Senador Canedo (GO), em 2013, colaborador na paróquia Santa Cruz, e em Aparecida de Goiânia (GO), em 2014.

No ano de 2015, regressou a Brasília e foi nomeado vigário da paróquia Nossa Senhora do Rosário, no Lago Sul; nesta mesma data, também foi nomeado responsável pela Obra das Vocações sacerdotais, também na Capital do país. Em 2016, padre Vicente foi transferido pelo cardeal Sergio da Rocha para assumir nova missão na erigida na paróquia dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, no Jardim Botânico, com ofício de 1º pároco, tendo lá permanecido até janeiro de 2022.

Durante este tempo, foi professor de Ecumenismo no seminário maior arquidiocesano de Brasília e formador/diretor espiritual das Pias Operárias de São José, até 2023. Foi diretor espiritual do Movimento Eureka (2016 – 2021) e assumiu, a pedido do cardeal Paulo Cezar Costa, de 2022 até a presente data, o ofício de pároco na paróquia Imaculado Coração de Maria, no Park Way (DF); nesta mesma ocasião, passou a fazer parte do Colégio de Consultores da Arquidiocese até a presente data.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Exéquias do cardeal Cordes: uma vida dedicada aos jovens, aos leigos e à caridade

O Papa durante as exéquias do cardeal Paul Josef Cordes na Basílica São Pedro (Vatican Media)

O decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re, presidiu às exéquias do cardeal alemão, presidente emérito do Pontifício Conselho "Cor Unum", falecido em 15 de março aos 89 anos: "Sua alma agora está nas mãos de Deus". O Papa presidiu o rito da "Ultima Comendatio et Valedictio".

Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

A missa de exéquias do cardeal Paul Josef Cordes, alemão e presidente emérito do Pontifício Conselho "Cor Unum", falecido em 15 de março aos 89 anos, após vários problemas de saúde, foi celebrada na tarde desta segunda-feira, 18 de março, na Basílica de São Pedro. Vinte e sete cardeais se fizeram presentes na celebração, incluindo o vice-decano Leonardo Sandri e o secretário de Estado Pietro Parolin, além de alguns bispos, como dom Udo Markus Bentz, arcebispo de Paderborn, diocese de origem do cardeal Cordes, e também alguns padres alemães, incluindo o pároco de Kirchhundem, onde será realizado o sepultamento. No final da missa, o Papa presidiu o rito da "Ultima Comendatio et Valedictio".  

Embaixadores e parentes presentes no funeral

Foi o cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, quem presidiu o funeral, que contou com a presença dos membros do Corpo Diplomático credenciado junto à Santa Sé, acompanhados pelo arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, vários familiares (incluindo o sobrinho Reinhard Baumgardt) e as quatro Memores Domini que assistiram o cardeal até o fim de seus dias.

Exéquias do cardeal Cordes (Vatican Media)

Respeitado por muitos

Uma figura amada e respeitada especialmente pelos jovens aos quais Cordes dedicou atenção desde os tempos em que fundou o Centro São Lourenço, de onde surgiu a iniciativa de organizar um encontro internacional da juventude em Roma na solenidade do Domingo de Ramos de 1984, pequeno embrião do que viriam a ser posteriormente, por vontade de João Paulo II e impulsionado pelo cardeal Eduardo Pironio, as JMJ (Jornadas Mundiais da Juventude). Respeitado e amado também pelos membros do Caminho Neocatecumenal e da Renovação Carismática, aos quais Wojtyla sempre lhe pediu para acompanhar o apostolado "ad personam". Amado e respeitado, por fim, pelos colaboradores do Pontifício Conselho para os Leigos, do qual foi vice-presidente, e depois do Cor Unum, e pela atenção que sempre teve às necessidades dos mais frágeis, aos quais - escreveu o Papa no telegrama de condolências do último sábado - "comunicou o amor e a ternura de Cristo". O cardeal Cordes, enfatizou Francisco, "não poupou esforços para testemunhar a paterna solicitude do Papa pelos mais pobres".

Acolheu a morte com serenidade

Um serviço à Santa Sé e à Igreja relembrado, passo a passo, pelo cardeal Re em sua homilia, que começou recordando os últimos dias de vida de Cordes: "Enquanto suas energias diminuíam, ele acolheu a morte com grande serenidade, dando prova de uma espiritualidade genuína". "A alma do cardeal Cordes está agora nas mãos de Deus", acrescentou Re, destacando como "para o cristão, a realidade da morte é a passagem deste mundo para a casa do Pai, para desfrutar da imensidão de seu amor". É esse amor que levou o jovem Paul Josef a interromper seus estudos de medicina para entrar no Seminário Maior de Paderborn. Uma mudança de perspectiva pela qual ele mesmo dizia dever a uma freira franciscana conhecida por sua família, Irmã Candida de Olpe, que por anos rezou para que ele se tornasse padre, sem que ele soubesse.

O Papa preside o rito da Última Commendatio e Valedictio (Vatican Media)

Fiel a Deus, à Igreja e ao Papa

Cordes foi ordenado sacerdote na diocese de Paderborn em 1961; dez anos depois se formou em Teologia Dogmática na Universidade de Mainz e, alguns meses depois, foi nomeado secretário da Comissão Pastoral da Conferência Episcopal Alemã. Com este cargo, começou a colaborar com associações, movimentos espirituais e várias instituições eclesiásticas na Alemanha. "Essa experiência permitiu que ele desse uma boa contribuição ao Sínodo das dioceses da República Federal da Alemanha realizado em 1972", lembrou Re. Quando, em 1975, Paulo VI o nomeou bispo auxiliar de Paderborn, Cordes escolheu "Deus Fiel" como lema episcopal porque, dizia, "Deus é sempre fiel e a fidelidade de Deus nos obriga a ser também nós fiéis". "Nos vários cargos que lhe foram confiados, foi sempre animado por um espírito de fidelidade a Deus, à Igreja e ao Papa", destacou o decano do Colégio Cardinalício.

O serviço aos mais frágeis

Re então lembrou o trabalho na Cúria Romana, o compromisso com o mundo jovem, em contato com várias Associações Juvenis e Movimentos Espirituais, a ideia de criar um centro "para ajudar espiritualmente os jovens que passavam por Roma". Depois, o papel de liderança no "Cor Unum", durante o qual "com grande zelo se ocupou da coordenação das organizações humanitárias da Igreja. Foram numerosas as missões no mundo que lhe foram confiadas para levar a caridade e a solidariedade do Papa", lembrou o decano em sua homilia. Foi Bento XVI, em 2007, quem o criou cardeal. E Cordes, em seu testamento espiritual, escreveu: "Um olhar retrospectivo de fé sobre minha história me convence de que ela não foi determinada por acaso ou por minha intervenção... Pude experimentar as palavras do cardeal Dopfner: 'Deus está aqui para mim, está aqui para nós'. Na hora da despedida, gostaria de deixar esta certeza aos meus companheiros de viagem. Resta-me pedir-lhes perdão pelas ofensas e pedir-lhes suas orações para que eu possa alcançar a bem-aventurança eterna na vida trinitária de Deus"..

Funeral do cardeal Cordes, na Basílica de São Pedro (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São José, esposo de Maria

São José, esposo de Maria (cruzterrasanta)
19 de março
São José, esposo de Maria

São José é descendente da casa real de Davi. É o esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus Cristo. Nos Evangelhos ele aparece na infância de Jesus. Pode-se ver as citações nos livros de Mateus Capítulos 1 e 2, e em Lucas 1 e2. Na Bíblia, São José é apresentado como um justo. Mateus, em seu Evangelho, descreve a história sob o ponto de vista de José. Já Lucas narra o tempo de infância do menino Jesus contando com a presença de José.

São José na História da Salvação

São José estava noivo de Maria e, ao saber que ela estava grávida, decidiu abandoná-la, pois o filho não era dele. Ele pensa em abandoná-la para que ela não fosse punida com a morte por apedrejamento

Mas ele teve um sonho com um anjo que lhe disse que Maria ficou grávida pela ação do Espírito Santo, e que o menino que iria nascer era Filho de Deus, então, ele aceitou Maria como esposa. Perto do tempo previsto do nascimento de Jesus, por um decreto romano ele foi para Belém partir do recenseamento, lá Maria deu à luz ao Menino Jesus e José estava presente no nascimento.

O anjo, porém, deu novo aviso a José, em sonho. Com efeito, o anjo avisou a José que Herodes queria matar o menino Jesus e mandou-o pegar o menino e sua mãe e fugir para o Egito com eles. José obedeceu. Assim, A sagrada família foi para o Egito e viveram lá durante quatro anos. Após este tempo, o anjo avisou novamente a José em sonhos, dizendo que eles poderiam voltar para Nazaré porque Herodes tinha morrido. José obedeceu e levou a Sagrada Família novamente para Israel.

Vida Simples

São José devotou sua vida aos cuidados de Jesus e Maria. Vivendo do trabalho de suas mãos, como carpinteiro, sustentou sua família com dignidade e exemplo. A profissão de carpinteiro propiciava dignidade à família. José era um judeu religioso e praticante. Ele consagrou o menino Jesus no Templo, logo depois que o menino nasceu. Este ato só era praticado na época por judeus piedosos. São José levava sua família regularmente às peregrinações de seu povo em Jerusalém, como, por exemplo, na Páscoa. Foi numa dessas peregrinações em que, na volta para Nazaré, o menino Jesus ficou em Jerusalém conversando com os doutores da lei. O menino tinha, então, doze anos. José e Maria, aflitos, voltam ao templo e encontram o menino Jesus debatendo com os doutores da lei. Nesta ocasião, Jesus afirma que 'Tinha que cuidar das coisas de seu Pai'. Esta é a última vez que José é mencionado nas Sagradas Escrituras. Todos os indícios levam a crer que José faleceu antes de Jesus começar sua vida pública. Caso contrário, ele certamente teria sido mencionado pelos evangelistas, como o foi Maria.

Influência de José na formação da personalidade de Jesus

São José teve papel importantíssimo na formação da personalidade de Jesus enquanto pessoa humana. Claro, Jesus é o Filho de Deus. Porém, se analisarmos o comportamento de Jesus do ponto de vista humano, veremos que ele (Jesus) foi um menino e um homem que teve um pai presente, piedoso e influente. Um pai que ensinou ao filho o caminho da justiça, da verdade, do amor e do conhecimento da Palavra de Deus. Não é à toa que São José é chamado de 'Justo' desde os Evangelhos. Por isso, São José é um dos maiores santos de todos os tempos.

Devoção a São José

São José foi inserido no calendário litúrgico Romano em 1479. Sua festa é celebrada no dia 19 de março. São Francisco de Assis e, mais tarde, Santa Teresa d'Ávila, foram grandes santos que  ajudaram a divulgar a devoção a São José. No ano de 1870, São José foi declarado oficialmente como o Patrono Universal da Igreja. O autor desta declaração foi o Papa Pio IX. No ano de 1889, o Papa Leão XIII, num de seus grandes documentos, exaltou as virtudes de São José. O Papa Bento XV declarou São José como o patrono da justiça social. Para ressaltar a grande qualidade e poder de intercessão de São José como 'trabalhador', O Papa Pio XII instituiu uma segunda festa em homenagem a ele, a festa de 'São José operário'. Esta, acontece no dia primeiro de maio.

São José é invocado também como o padroeiro dos carpinteiros. Na arte cristã ele é representado tendo um lírio na mão, representando a vitória dos santos. Algumas vezes ele aparece também com o menino Jesus ou nos braços, ou ensinando a Ele a profissão de carpinteiro.

Revelações sobreo poder de intercessão de São José

São José é, sem dúvida, uma dos santos mais importantes da Igreja. Ele é invocado como o santo que intercede a Deus por todas as nossas necessidades. São José tem, diante de Deus, privilégios únicos. Esta é uma das revelações que foram dadas à Serva de Deus chamada Santa Águeda: 'Por sua intercessão alcançamos a virtude da castidade e a vitória sobre as tentações contra pureza; alcançamos o poderoso auxílio da graça para sair do pecado e voltar à amizade com Deus; alcançamos a benevolência da Santíssima Virgem Maria e a verdadeira devoção a ela; alcançamos a graça de uma boa morte e a especial proteção contra o demônio nesta hora.' A Igreja afirma que os espíritos do mal estremecem quando ouvem o nome de São José ser invocado. Pela intercessão de São José, podemos alcançar a saúde e a ajuda nas dificuldades. Através dele, as famílias podem alcançar a bênção de uma vida digna.

Nossa Senhora também revelou a Santa Águeda: 'Os homens ignoram os privilégios que o Senhor concedeu a São José, e quanto pode sua intercessão junto de Deus. Somente no dia do Juízo os homens conhecerão sua excelsa santidade e chorarão amargamente por não haverem se aproveitado desse meio tão poderoso e eficaz para sua salvação e alcançar as graças de que necessitavam'. SJMJ

Oração a São José

A vós, S. José, recorremos em nossa tribulação e, depois de ter implorado o auxílio de Vossa Santíssima Esposa, cheios de confiança solicitamos também o Vosso patrocínio. Por este laço sagrado de caridade que Vos uniu à Virgem Imaculada Mãe de Deus, e pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus, ardentemente Vos suplicamos que lanceis um olhar benigno para a herança que Jesus Cristo conquistou com seu Sangue, e nos socorrais em nossas necessidades com o Vosso auxílio e poder. Protegei, ó Guarda providente da Divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo. Afastai para longe de nós, ó Pai amantíssimo, a peste do erro e do vício. Assisti-nos do alto do céu, ó nosso fortíssimo sustentáculo, na luta contra o poder das trevas; e assim como outrora salvastes da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus contra as ciladas de seus inimigos e contra toda adversidade. Amparai a cada um de nós com o Vosso constante patrocínio a fim de que, a Vosso exemplo e sustentados por Vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter no céu a eterna bem-aventurança. Amém.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF