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sexta-feira, 22 de março de 2024

Dia Mundial da Água: "Água para a prosperidade e a paz"

Dia Mundial da Água (Vatican News)

A data marcada neste 22 de março reforça o apelo por gestão sustentável; novas realidades econômicas e sociais, incluindo alterações climáticas e geopolíticas, tem implicações hídricas; mais de 60% da água doce mundial flui através de fronteiras nacionais, mas progresso em acordos transfronteiriços é considerado lento.

Vatican News

Celebra-se nesta sexta-feira, 22 de março, o Dia Mundial da Água. Segundo a ONU, a data quer chamar a atenção para a importância da água doce e defender a gestão sustentável deste "bem vital e comum da humanidade".

Este ano, a data tem como foco o tema "Água para a Prosperidade e a Paz", com mensagens da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), e da Comissão Econômica da ONU para a Europa, (Unece).

Condições sociopolíticas instáveis

Segundo a Unesco, a gestão sustentável da água gera uma infinidade de benefícios para indivíduos e comunidades, incluindo saúde, segurança alimentar e energética, proteção contra riscos naturais, educação, melhoria dos padrões de vida e emprego, desenvolvimento econômico e uma variedade de serviços ecossistêmicos.

A agência defende que é através desses benefícios que a água leva à prosperidade e que a partilha equitativa desses benefícios promove a paz.

A edição de 2024 do Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água das Nações Unidas destaca como desenvolver e manter a segurança hídrica e o acesso equitativo aos serviços de água.

De acordo com a Unesco, eventos recentes de epidemias globais e conflitos armados, enfatizaram que as condições sociopolíticas sob as quais a água é fornecida, gerenciada e usada podem mudar rapidamente.

Para a agência, a gestão da água tem de levar em conta as novas realidades econômicas e sociais, incluindo as mudanças climáticas e geopolíticas e as suas implicações nos recursos hídricos. Promover a água para a prosperidade e a paz, portanto, requer ações além do domínio hídrico.

Cooperação transfronteiriça na gestão da água

A Unece afirma que mais de 60% da água doce mundial flui através de fronteiras nacionais, como no Congo, no Danúbio, na Amazônia e no Mekong, nas bacias de lagos como o Lago Genebra ou os Grandes Lagos. A agência citou ainda as mais de 450 reservas transfronteiriças de águas subterrâneas identificadas em todo o mundo.

Com a crescente escassez de água em todo o planeta, a cooperação transfronteiriça é considerada crucial para a estabilidade regional, a prevenção de conflitos e o desenvolvimento sustentável.

Os impactos das mudanças climáticas, como as secas e as inundações, bem como a poluição e a crescente procura por água, estão colocando uma pressão crescente sobre os recursos hídricos, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, e estão entre os principais motores da dinâmica da cooperação.

No entanto, o progresso é considerado muito lento. Novos dados de um relatório conjunto da Unesco e Unece sobre a cooperação transfronteiriça no domínio da água revelam que apenas 26 dos 153 países em todo o mundo que partilham recursos hídricos têm todas as suas áreas de bacias transfronteiriças cobertas por acordos operacionais para cooperação hídrica, em comparação com 24 em 2020. Apenas 10 novos acordos transfronteiriços foram assinados no período.

Fatos relevantes

2,2 bilhões de pessoas não tinham condições para gerir com segurança a água potável em 2022.

Cerca de 80% dos empregos são dependentes da água em países de baixa renda, onde a agricultura é a principal fonte de subsistência.

72% de captação de água doce é utilizada pela agricultura.

1,4 bilhão de pessoas foram afetadas por secas entre 2002 e 2021.

Até 10% do aumento da migração global entre 1970-2000 esteve ligado a déficits de água.

Dia Mundial da Água | Brasil Escola - UOL

Doenças relacionadas com água e saneamento inadequados

Nessa data, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) recorda que todos os dias mais de mil crianças abaixo de 5 anos morrem por causa de doenças relacionadas com água e saneamento inadequados, matando mais de 1 milhão e 400 mil pessoas por ano.

A nível mundial, quase 1 bilhão de crianças (953 milhões) estão expostas a níveis elevados ou extremamente elevados de estresse hídrico. Estresse hídrico é a proporção entre a demanda total de água e os suprimentos renováveis disponíveis de águas superficiais e subterrâneas. A demanda de água inclui usos domésticos, industriais, de irrigação e pecuária. Valores mais elevados indicam maior concorrência entre os usuários.

Na Itália, estima-se que em 2022 aproximadamente 298 mil crianças foram expostas a níveis elevados ou muito elevados de estresse hídrico. No mundo, 240 milhões de crianças estão altamente expostas às inundações costeiras e 330 milhões de crianças estão altamente expostas às inundações fluviais.

Os dados revelam grandes desigualdades

Uma a cada quatro pessoas no mundo não tem água potável gerenciada de forma segura. Além disso, 2 a cada 5 pessoas ainda não têm saneamento gerenciado de maneira segura (banheiros) e 1 a cada 4 não tem instalações básicas de água (pias para lavar as mãos).

Os dados revelam grandes desigualdades, sendo que os mais pobres e os que vivem em áreas rurais têm menor probabilidade de usar um serviço básico.

Na maioria dos países, a obrigação da coleta de água continua recaindo principalmente sobre as mulheres e meninas. No âmbito global, em 2 a cada 3 famílias, as mulheres são as principais responsáveis pela coleta de água. 16% da população mundial, ou seja, 1 bilhão e 800 milhões de pessoas, coletam água de fontes situadas fora de suas casas. Desse número, 63% das mulheres são responsáveis pelo transporte de água, em relação aos 26% dos homens. Globalmente, é mais provável que as meninas busquem água do que os meninos em todas as regiões, exceto no Norte da África e na Ásia Ocidental. Na África Subsaariana, 45% da população coleta água e as mulheres têm quatro vezes mais probabilidade do que os homens de serem responsáveis pelo transporte de água.

(ONU News e Unicef)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Léia

Santa Léia (A12)
22 de março
Santa Léia

Léia viveu por volta do ano 370 em Roma, Itália. Sua família era nobre e rica, e ela recebeu ótima formação cristã, sendo muito piedosa. Jovem, casou-se, porém não teve filhos, tendo logo ficado viúva.

O costume da época seria que de novo se casasse, e teve por pretendente o cônsul romano Vécio Agorio Pretestato, prefeito da cidade. Este seria um casamento mutuamente vantajoso, com prestígio e privilégios para ambos, dada a sua nobreza e o cargo e riqueza do cônsul, ainda maior do que a da sua família.

Léia, contudo, recusou o pedido, pois sentia-se atraída para uma vida totalmente consagrada a Deus. Era amiga de outra nobre e viúva, Marcela, depois mártir, e também canonizada; Marcela conhecia São Jerônimo, que morou em Roma antes de ir para a África e a chamava de “a glória das damas romanas”. No seu palácio em Aventino (uma das sete colinas onde foi fundada a Cidade Eterna), Marcela abriu uma escola de estudo das Sagradas Escrituras e de orações para mulheres que desejavam levar uma vida ascética e austera, uma comunidade que se tornou um dos primeiros mosteiros fundados e dirigidos por Jerônimo, e da qual ela era a abadessa. Léia convivia com as irmãs da comunidade e participava das suas atividades, e, sentido-se vocacionada, tornou-se monja.

Trocou assim uma vida luxuosa por uma pequena cela, dedicando-se à oração (muitas vezes ao longo de toda a noite), jejuns, penitência e caridade. Vendeu seus ricos vestidos, doando o dinheiro aos pobres, e passou a vestir-se com um rústico hábito feito de saco. Escolhia as tarefas mais humildes no mosteiro, agindo como serviçal e escrava das irmãs. Um seu cuidado especial era praticar boas ações de forma escondida, para não receber elogios, reconhecimento ou recompensas. Assim viveu por vários anos, e por sua santidade foi eleita Madre Superiora, função que exerceu até o seu falecimento em 384.

Neste mesmo ano, faleceu seu antigo pretendente, o cônsul Vécio. Ao saber destas mortes, São Jerônimo, que a conhecera pessoalmente, e que já então vivia em Belém, escreveu uma carta às religiosas do mosteiro, que ainda dirigia à distância, carta esta a única fonte sobre a vida de Santa Léia; na missiva, ele compara a situação do cônsul, que antes, riquíssimo e vestido com finas vestes de púrpura, estava agora envolto pela escuridão, ao passo que Léia, que escolhera vestir-se com roupa de saco, estava agora revestida de luz e glória infinitas.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O fecundo matrimônio espiritual de Santa Léia com o Senhor gerou muito mais vida do que o seu estéril casamento terreno; ela, como outros santos e santas, é a prova concreta de que a virgindade dedicada a Deus é sempre fértil, isto é, gera verdadeiramente grande quantidade de filhos para Deus. Urgente é no século atual a valorização da castidade consagrada, pessoal ou formalmente, como caminho certo de santidade. A verdadeira riqueza, a pérola a ser adquirida pelo emprego de todos os bens disponíveis (cf. Mt 13,44-46) é a prisão no serviço a Deus: a cela de Deus é a liberdade do Homem, e Santa Léia de fato vendeu o que possuía para encerrar-se no seu pequeno quarto, de onde abriu-se a ela a imensidão do Céu. A plenitude do espírito não pode nunca estar confinada na matéria, e até mesmo essa será transformada no Paraíso, como o Corpo Glorioso do Senhor, caso contrário não pode acompanhar o esplendor das almas salvas. Creio que uma observação pertinente é que São Jerônimo não explicita que Vécio era necessariamente mau, nem se diz que taxativamente fosse condenado ao inferno; mas não dedicou sua vida, como Léia, ao amor a Deus e ao próximo, e na sua morte, ao contrário do caso dela, pode-se apenas dizer com segurança que ficou nas sombras, implicando sim (e no mínimo) numa vida apagada, enquanto que ela certamente está na Luz pela santidade: sem dúvida perspectiva muito melhor e desejável, também para nós.

Oração:

Senhor Deus Todo-Poderoso, que Vos fizestes servo para nos dar o exemplo e nos salvar, concedei-nos pela intercessão de Santa Léia não buscarmos o destaque nesta vida, mas como ela, fazer o bem na quietude e discrição, revestidos da verdadeira humildade, de modo a estarmos com as vestes apropriadas para poder participar do banquete celeste que nos preparastes. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 21 de março de 2024

VOCAÇÕES NA BÍBLIA: Miquéias, o defensor da vida

Miquéias, o defensor da vida (Revista Ava Maria)

Por; Pe. Nilton Cesar Boni, cmf

Miqueias, cujo nome significa “quem como Javé”, nasceu em Moreshet-Gath, a 35 quilômetros de Jerusalém, no século VIII a.C. Era um homem do povo, criado na zona rural, e falava com simplicidade. Foi vítima das opressões. Fazia parte do reino de Judá e sua cidade era cercada por fortalezas e quartéis com numerosos soldados e oficiais para garantir a segurança do reino. Viveu num ambiente cercado por grandes proprietários de terra, altos impostos, muitos problemas sociais como roubos, trabalho escravo, prostituição e aldeias sendo saqueadas. Atuou nos reinados de Joatão, Acaz e Ezequias e era contemporâneo dos profetas Oseias e Isaías.

A definição de seu nome já nos introduz em sua missão, marcada por uma profunda experiência de Deus revelada por meio de visões. Esse profeta, imerso na realidade conflitante do povo, começa a denunciar os abusos de autoridade dos governantes, suscitando incômodo. Suas denúncias estão ligadas à dominação dos lavradores por meio de corrupção, exploração, propinas, interesses em poder, massacre dos pobres e indefesos.

Sua fé foi alimentada desde a infância em um ambiente temente a Deus e marcado pelo desejo de justiça. A esperança era o selo de sua existência e por ela se ocupou até o fim de sua vida.

Miquéias, em seus escritos, refletiu sobre as duas classes de autoridade que exercem influência direta nas pessoas. A primeira é a autoridade falsa exercida pelos governantes civis, que amam a maldade e detestam o bem, a dos líderes religiosos, que se corrompem esperando pagamento e a dos líderes morais que usam o povo para guerrear em nome da paz. A outra é a autoridade verdadeira, alimentada e administrada por Deus, que gera paz e salvação.

O mais importante na pregação de Miqueias é fazer as pessoas retornarem ao verdadeiro templo de Deus e colocá-lo no centro de sua peregrinação. É dessa forma que o pecado será exterminado e Jerusalém voltará a ser a cidade santa onde o amor brilhará. “Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus” (Mq 6,8).

A promessa que Javé faz a Miqueias é reaver o seu povo perdido moralmente e explorado pelos poderosos. A bondade de Deus em proteger seu povo é marca nesse profeta. O amor e a fraternidade é que estabelecem vínculos de paz e intimidade com Deus e o próximo, por isso, é direito que todos tenham a dignidade assegurada pelos líderes civis e religiosos.

Miqueias propõe a formação de uma consciência moral reta que assegura os valores éticos fundamentais, sustentando a comunidade humana e transformando-a num espaço de encontro e paz. É preciso reeducar ética e religiosamente a sociedade que prioriza o ter sobre o ser, restaurando o indivíduo para um mundo melhor onde a liberdade e a responsabilidade sejam marcas de seu compromisso com o Reino de Deus. Nesse sentido, podemos colocar em prática os desejos de Deus para que a vida tenha sentido e o bem prevaleça. Só o amor transfigurante do Senhor pode dar ao ser humano a resposta para cumprir sua missão de ser filho amado e escolhido.

Pe. Nilton Cesar Boni, cmf

Fonte: Revista Ave Maria - Março/2024, páginas 8 e 9 (https://revistaavemaria.com.br/)

Reflexões ao final da Quaresma: rumo à conversão

Quaresma: tempo de reflexão (Revista Ave Maria)

REFLEXÕES AO FINAL DA QUARESMA: RUMO À CONVERSÃO

Dom Jailton Oliveira Lino
Bispo de Teixeira de Freitas/Caravelas (BA)

À medida que nos aproximamos do término da Quaresma e nos preparamos para entrar na Semana Santa, é essencial que mergulhemos profundamente em nossa jornada espiritual, buscando a verdadeira conversão do coração. Durante este tempo sagrado, somos chamados a refletir sobre nossas ações, a praticar a penitência e a intensificar nossa vida de oração. Nesse contexto, a Palavra de Deus, expressa na Sagrada Escritura, nos orienta e nos inspira a viver de acordo com os ensinamentos de Cristo. 

Uma passagem que ressoa profundamente com o tema da conversão é encontrada no livro de Isaías, no Antigo Testamento. Em Isaías 55,7, lemos: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos; volte-se ao Senhor, que terá misericórdia dele; e para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.” Esta passagem nos lembra da importância de abandonar nossos maus caminhos e nos voltarmos para Deus, que está sempre pronto para nos perdoar e nos acolher de volta em seu amor. 

Outro texto que ilustra a necessidade da conversão é encontrado nas palavras de Jesus, registradas no Evangelho de Lucas 13,3: “Se, porém, não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Aqui, Jesus nos adverte sobre a urgência do arrependimento e da mudança de coração. Ele nos convida a deixar para trás nossos pecados e a nos voltarmos para Deus, pois somente assim encontraremos a vida verdadeira e eterna. 

Além disso, as cartas de São Paulo também oferecem valiosas reflexões sobre o tema da conversão. Em Romanos 12,2, São Paulo nos exorta: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Essas palavras nos lembram da importância de nos afastarmos das influências do mundo e de nos renovarmos em Cristo, buscando viver de acordo com a vontade de Deus. 

Diante dessas passagens bíblicas e de tantas outras que poderíamos citar, somos desafiados a refletir sobre nossa própria jornada de fé durante este tempo de Quaresma. Que possamos nos arrepender de nossos pecados, nos voltarmos para Deus em oração e buscar viver de acordo com seus ensinamentos, para que possamos experimentar verdadeiramente a transformação que Ele deseja operar em nossas vidas. 

Que a luz da ressurreição de Cristo brilhe sobre nós neste tempo sagrado, guiando-nos no caminho da verdadeira conversão e da plenitude da vida.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O Papa: ver o rosto de Jesus em quem vive na miséria por causa das injustiças sociais

Mutirão Nacional - 6ª Semana Social Brasileira (Vatican News)

Francisco recorda que "desde sua primeira edição em 1991, a Semana Social Brasileira propôs-se como caminho para uma “Igreja em saída”, comprometida em derrubar os muros do descarte e da indiferença, acompanhando os mais pobres e carentes dos direitos básicos em sua luta por terra, moradia e trabalho".

Vatican News

O Papa Francisco enviou uma carta, nesta quarta-feira (20/03), aos 150 participantes do Encontro Nacional de encerramento da 6ª Semana Social Brasileira. O encontro começa nesta quarta-feira, em Brasília, e prossegue até sexta-feira, 22.

"Com o coração repleto de esperança, dirijo-me a todos os participantes na VI Semana Social Brasileira, promovida pela Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Socio-transformadora da CNBB sobre o tema “O Brasil que queremos, o Bem Viver dos Povos”. Quero assegurar-lhes minha proximidade e minhas orações pelo bom andamento do encontro e seus frutos", escreve o Papa.

Terra, casa e trabalho

Francisco recorda que "desde sua primeira edição em 1991, a Semana Social Brasileira propôs-se como caminho para uma “Igreja em saída”, comprometida em derrubar os muros do descarte e da indiferença, acompanhando os mais pobres e carentes dos direitos básicos em sua luta por terra, moradia e trabalho".

Além disso, propõe uma nova economia, mais solidária, e a revitalização dos valores democráticos que auxiliam a construir uma sociedade onde haja verdadeira participação popular nos processos decisórios da Nação. "Agradeço-lhes vivamente por este compromisso e também pela promoção, junto com a juventude do Brasil, da Economia de Clara e Francisco", ressalta ainda o Pontífice.

"Estou-lhes igualmente grato por promoverem o chamado, que dirigi aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em 2014, para responder “a um anseio muito concreto, a algo que qualquer pai, qualquer mãe, deseja para os próprios filhos; um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos, com tristeza, cada vez mais distante de se tornar realidade na vida da maioria das pessoas: terra, casa e trabalho", afirma o texto.

Uma sociedade mais justa

O Papa espera "que o “Mutirão pela vida”, organicamente vinculado à Semana Social Brasileira, produza abundantes frutos em favor de uma sociedade mais justa, na qual, como diz a Campanha da Fraternidade deste ano, se vivam a fraternidade universal e a amizade social".

Francisco convida a "ver naqueles que são forçados a viver na miséria pelas injustiças sociais o rosto de Jesus que nos instiga a não permanecermos indiferentes, pois, como Ele próprio disse: “Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a Mim que o fizestes!”"

"Confiando estes votos e preces à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil", o Papa concede de coração a sua bênção, pedindo ainda que não se esqueçam de rezar por ele.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Nicolau de Flue

São Nicolau de Flue (A12)
21 de março
São Nicolau de Flue

Nicolau nasceu em 1417 na cidadezinha de Flüe, Sachseln, no Cantão suíço de Obwalden, então Confederação dos oito Cantões da Suíça central. De uma família de camponeses, permaneceu analfabeto por toda a vida, e desde a juventude desejava a vida religiosa, mas ajudou o pai em serviços do campo.

Entre 1440 e 1444, teve que partir como soldado e depois como oficial, sempre com comportamento exemplar, contra o cantão de Zurique, que havia se rebelado contra a Antiga Confederação Helvética. De volta à casa e a pedido do pai, casou-se com Dorothy Wiss, filha de agricultores, num matrimônio feliz. Tiveram dez filhos, dos quais vários seguiram o sacerdócio; um dos netos, Conrado Scheuber, faleceu com fama de santidade.

Reconhecido pelo seu senso de justiça, integridade moral e retidão de consciência, foi solicitado a assumir muitos cargos públicos, como conselheiro, deputado na Dieta federal, e por nove anos juiz no seu Cantão. Recusou o cargo maior de Landamman (governador) do seu Cantão. Como pai de família, não podia dedicar-se à oração como gostaria, mas quando completou 50 anos Deus lhe concedeu as três graças que desejava: o consentimento de sua esposa e filhos para partir, a ausência da tentação de voltar e a possibilidade de viver sem beber e comer. Abandonou os cargos públicos e retirou-se para um local perto de casa, num lugar íngreme, chamado Ranft, onde construiu uma cela de tábuas (depois, transformada em capela pelos habitantes locais). Viveu ali 20 anos em oração, penitências e jejum; ia à Missa nos domingos e dias santos, sempre descalço, mesmo no gelo; dormia numa tábua usando uma pedra por travesseiro, vestia-se com roupas rudes e, de acordo com as provas de várias testemunhas ao longo do tempo, alimentava-se somente da Eucaristia, tendo saúde e boa disposição física, mental e espiritual.

Não conseguiu permanecer totalmente solitário, pois era procurado para conversas, conselhos e explicações religiosas, a todos, simples e poderosos, atendendo com caridade e boa vontade. Passou a ser conhecido carinhosamente como Irmão Klaus. Mediou com sucesso negociações que evitaram uma guerra iminente entre a Suíça e a Áustria. Em 1481, acedeu aos pedidos para intervir na Assembleia de Stans, onde conseguiu a unificação dos partidos na Confederação Suíça, impedindo uma guerra fratricida no país. Em 1482, foi chamado para resolver uma questão entre Constança e a Confederação sobre o exercício do direito em Thurgau, e novamente restabeleceu a paz. Enorme é o seu mérito em conciliar protestantes e católicos, sendo por ambos respeitado e amado.

Sua capacidade de reconciliação, inimiga de violência, guerra e conquistas ambiciosas, e também alianças comprometedoras com outras nações, muito influenciou o seu povo, e há um consenso de que, se a Suíça é um país pacífico e que raramente se envolve em conflitos mundiais, isto se deve à sua influência.

São Nicolau faleceu em sua cela de Flüe, em 1487, no dia em que completava 70 anos. Considerado um dos maiores místicos da Igreja católica, é o santo mais popular e conhecido na Suíça, de onde é padroeiro e chamado de Pai da Pátria.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Nicolau de Flüe só desejava a Deus – e por isso conquistou uma nação. Soube ele esperar os tempos de Deus, até alcançar o que mais queria, realizando com humildade, obediência e amor cada passo específico da vida: filho que ajudou o pai, esposo que santificou a família, militar que combateu o bom combate, agindo com humanidade mesmo no fragor das batalhas (diz-se dele que “lutava com uma espada na mão e o Rosário na outra”); bom conselheiro, da paz e da reconciliação. Este tempo de preparação e espera, ele o chamava de "lima que aperfeiçoa e aguilhão que estimula", sem revolta ou impaciência. Alcançou assim, já nesta Terra, a vida de Comunhão com Deus, no retiro e silêncio que almejava. Como Jesus, ele “fez tudo bem feito” (cf. Mc 7,37). São Nicolau rezava: “Ó meu Deus e meu Senhor, afaste de mim tudo o que me afasta de Vós. Ó meu Senhor e meu Deus, dê-me tudo o que me aproxima de Vós. Ó meu Senhor e meu Deus, livre-me do meu egoísmo e conceda-me possuir somente a Vós. Amém”. É preciso cuidado com o que queremos. Pois se realmente o desejarmos, vamos obtê-lo: seja com a ajuda de Deus, seja com a mão do diabo.

Oração:

Pai de amor e bondade, que nos desejas alimentar somente com o Pão da Vida, de modo que não nos envenenemos com as podridões mundanas, concedei-nos por intercessão de São Nicolau de Flüe fazer guerra somente contra o pecado, e desejar somente a reconciliação Convosco e a paz com os irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 20 de março de 2024

Bom filho, bom Padre

Bom filho, bom Padre (Opus Dei)

Bom filho, bom Padre

"Quando uma pessoa conhecida, boa e querida falece, passam pela cabeça mil lembranças diferentes". Neste texto Dom Guillaume Derville conta suas recordações de Dom Javier Echevarría, e reflete sobre a marca que ele deixou em sua vida.

12/12/2018

Quando uma pessoa conhecida, boa e querida falece, passam pela cabeça mil lembranças diferentes, como fagulhas que despertam na alma sentimentos contrastantes. Mais ainda quando se trata de um Padre que mostrou amplamente como vivia somente para nós, para levar-nos ao coração de Cristo. Em nossa alma, há uma mistura de ação de graças e de desejos de reparação pela própria falta de correspondência. A realidade da morte, do tempo que passa, se faz mais presente. E à dor de uma ausência, se une a gloriosa esperança do Céu. À oração pela alma de um cristão, soma-se o recurso a uma intercessão que se percebe mais poderosa. Assim vem sendo, em um rápido esboço, a ressonância do falecimento de Dom Javier em muitas pessoas da Obra, e em tantas outras que nos querem bem.

PERCEBE-SE, QUASE MELHOR AGORA, A SINGULARIDADE DE UMA VIDA QUE SE GASTOU DESDE A JUVENTUDE: PRIMEIRO PERTO DE SÃO JOSEMARIA, E DEPOIS DO BEM-AVENTURADO ÁLVARO.

A morte de um Padre como Dom Javier traz muitas lembranças: algumas vividas por cada um e cada uma. Outras, tantas vezes escutadas, como esses relatos de família que se contam de geração em geração. Percebe-se, quase melhor agora, a singularidade de uma vida que se gastou desde a juventude: primeiro perto de São Josemaria, e depois do Bem-aventurado Álvaro, e, finalmente, como sucessor de ambos com a memória do coração e da inteligência sempre viva, para transmitir com fidelidade o espírito recebido de Deus por meio de suas mãos. O carinho que São Josemaria mostrou desde muito cedo a Dom Javier, correspondido por uma admiração e uma obediência filiais cheias de fé na ação de Deus nos santos, fizeram de Dom Javier um filho leal e valente. Seu sentido da filiação divina passou pelo caminho da filiação ao Padre na Obra, primeiro em sua missão de atender às necessidades materiais de São Josemaria, e depois, em sua estreita colaboração com Dom Álvaro.

A entrega decidida e constante de Dom Javier como custos[1] (palavra latina para custódio), e o cumprimento fiel ad mentem Patris (com a mente do Padre) das tarefas que lhe eram confiadas, foram uma preparação intensa para seu longo ministério pastoral como Padre e Prelado do Opus Dei. Sua relação com Deus, o exemplo e a proximidade de São Josemaria e do Bem-aventurado Álvaro, abriram o coração desse filho fiel para que a graça de Deus o enchesse de caridade. Foi um bom filho e foi um bom Padre. Desvivendo-se sempre por suas filhas e filhos no Opus Dei e atento a estreitar os vínculos de nossa fraternidade sobrenatural, foi filho não só quando nosso Padre e Dom Álvaro estavam nesta terra, mas também depois. A partir da integridade de seu caráter, que saltava à vista, sentia saudades desses dois gigantes da fé e do amor, ao mesmo tempo em que se sabia sempre em sua presença. Como homem que sabia amar, e ainda hoje tão querido, palpitava no seu coração a saudade do tempo em que São Josemaria vivia entre nós.

Bom filho, bom Padre (Opus Dei)

Como Padre e Prelado queria seguir as pegadas dos seus santos predecessores, não se afastar de um caminho bem traçado, cuidar amorosamente de um espírito esculpido. Como filho, foi co-herdeiro valente de Cristo (cf. Rom 8-17): levou a Cruz, peso bendito das almas, jugo suave e carga leve (cf. Mt 11,30). Com frequência, Dom Javier dizia que era necessário apostarmos tudo na carta do Amor. Esse foi o seu grande anseio, o seu esforço constante.

REPETIRIA AQUILO QUE, ESPECIALMENTE NOS ÚLTIMOS ANOS, TINHA CHEGADO A SER UM REFRÃO NOS SEUS LÁBIOS: QUE VOS QUEIRAIS BEM, QUE VOS AMEIS CADA VEZ MAIS!

«Se aquele que chamamos Padre durante vinte e dois anos –dizia Mons. Fernando Ocáriz, atual prelado do Opus Dei, na homilia da missa por Dom Javier na basílica de Santo Eugênio–, estivesse aqui entre nós, com certeza nos pediria que aproveitássemos estes momentos para intensificar o nosso amor à Igreja e ao Papa, que permanecêssemos muito unidos entre nós e com todos os nossos irmãos em Cristo. E repetiria aquilo que, especialmente nos últimos anos, tinha chegado a ser um refrão nos seus lábios: que vos queirais bem, que vos ameis cada vez mais! E não só nos seus lábios: impressionava ver como sabia querer bem aos outros. Lembro, por exemplo, que um dia antes de falecer, expressou o seu desconforto por estar incomodando a tantas pessoas que cuidavam dele. E espontaneamente respondi: “Não, Padre. É o senhor que sustenta a todos nós”»[2].

Agora este filho bom e fiel continua nos sustentando a todos lá do Céu. Muitos notaram, desde o dia do seu falecimento, como Dom Javier os ajudava em tantos aspectos da sua vida diária, como se o Padre, que sempre teve um temperamento ativo e generoso e que tanto nos convidava a acudir à intercessão dos que nos precederam, quisesse empenhar-se para ajudar-nos a cada uma, a cada um. Talvez para agradecer aquela carta que lhe escrevemos, para responder a essa pergunta que não lhe pudemos fazer, enfim, para continuar nos mostrando a paternidade de Deus.

Por: Guillaume Derville

Tradução: Mônica Diez


[1]N.T. Um dos dois sacerdotes que sempre acompanham o Padre e o auxiliam em assuntos materiais e espirituais. Numa entrevista, Dom Javier explicava assim os custódios: Os custódios existem para que o Prelado, o Padre, não viva sozinho, não seja um homem isolado lá em cima. E, além disso, para que possam ajudá-lo a ser melhor. (https://opusdei.org/es/article/tras-la-huella-de-un-padre 18/06/2012).

[2] N.T. https://opusdei.org/pt-br/article/homilia-de-mons-fernando-ocariz-na-missa-pelo-prelado-do-opus-dei.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

EXEGESE: «A fé exige o realismo dos acontecimentos» (III)

Portal da Virgem do Batistério de Parma, obra de Benedetto Antelami (século XIII) | 30Giorni

Revista 30Dias – 06/2003

O discurso do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé por ocasião do centenário da constituição da Pontifícia Comissão Bíblica

«A fé exige o realismo dos acontecimentos»

“A opinião de que a fé como tal não sabe absolutamente nada sobre os fatos históricos e deve deixar tudo isso para os historiadores é gnosticismo”. A intervenção do Cardeal Joseph Ratzinger. prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. por ocasião do centenário da criação da Pontifícia Comissão Bíblica.

por Joseph Ratzinger

Parece-me que podem ser distinguidos dois níveis do problema, então e ainda em questão. Num primeiro nível, devemos perguntar-nos até onde se estende a dimensão puramente histórica da Bíblia e onde começa a sua especificidade que escapa à mera racionalidade histórica. Também poderia ser formulado como um problema interno ao próprio método histórico: o que ele pode realmente fazer e quais são os seus limites intrínsecos? Que outros modos de compreensão são necessários para um texto deste tipo? A laboriosa investigação a realizar pode ser comparada, em certo sentido, ao esforço exigido pelo caso Galileu. Até aquele momento parecia que a visão geocêntrica do mundo estava indissociavelmente ligada ao que era revelado pela Bíblia; parecia que aqueles que eram a favor da visão heliocêntrica do mundo estavam desintegrando o núcleo da Revelação. A relação entre a aparência externa e a mensagem real do todo teve que ser completamente revista, e só lentamente puderam ser desenvolvidos os critérios que teriam permitido a racionalidade científica e a mensagem específica da Bíblia. É claro que a tensão nunca pode ser considerada completamente resolvida, pois a fé testemunhada pela Bíblia inclui também o mundo material, afirma algo também sobre ele, sobre a sua origem e a do homem em particular. Reduzir toda a realidade que nos chega a causas puramente materiais, confinar o Espírito criativo à esfera da mera subjetividade é inconciliável com a mensagem fundamental da Bíblia. Contudo, isto envolve um debate em torno da própria natureza da verdadeira racionalidade; visto que, se uma explicação puramente materialista da realidade é apresentada como a única expressão possível da racionalidade, então a própria racionalidade é falsamente compreendida. Algo semelhante deve ser afirmado em relação à história. A princípio parecia indispensável, para a fiabilidade das Escrituras e, portanto, para a fé nela fundada, que o Pentateuco fosse indiscutivelmente atribuído a Moisés ou que os autores dos Evangelhos individuais fossem verdadeiramente aqueles nomeados pela Tradição. Também aqui foi necessário, por assim dizer, redefinir lentamente as áreas; a relação fundamental entre fé e história precisava ser repensada. Tal esclarecimento não era uma tarefa que pudesse ser feita da noite para o dia. Também aqui haverá sempre espaço para discussão. A opinião de que a fé como tal não sabe absolutamente nada sobre os factos históricos e deve deixar tudo isto para os historiadores é gnosticismo: esta opinião desencarna a fé e reduz-a a uma ideia pura. Para a fé que se baseia na Bíblia, o realismo do acontecimento é uma exigência constitutiva. Um Deus que não pode intervir na história e nela se mostrar não é o Deus da Bíblia. Portanto, a realidade do nascimento de Jesus da Virgem Maria, a própria instituição da Eucaristia por Jesus na Última Ceia, a sua ressurreição corporal dentre os mortos - este é o significado do túmulo vazio - são elementos da fé como tal, que ela pode e deve defender contra um único conhecimento histórico supostamente melhor. Que Jesus - em tudo o que é essencial - foi realmente o que os Evangelhos nos mostram não é de forma alguma uma conjectura histórica, mas um facto de fé. Objeções que querem nos convencer do contrário não são a expressão do conhecimento científico real, mas são uma superestimação arbitrária do método. Além disso, muitas questões nos seus detalhes devem permanecer abertas e ser confiadas a uma interpretação consciente das suas responsabilidades, é o que entretanto aprendemos.

Com isto surge agora o segundo nível do problema: não se trata simplesmente de fazer uma lista de elementos históricos indispensáveis ​​à fé. Trata-se de ver o que a razão pode fazer e por que a fé pode ser razoável e a razão aberta à fé. Entretanto, não só foram corrigidas as decisões da Comissão Bíblica que haviam entrado demasiado na esfera das questões puramente históricas; também aprendemos algo novo sobre os caminhos e limites do conhecimento histórico. Werner Heisenberg, no campo das ciências naturais, estabeleceu com o seu “princípio da incerteza” que o nosso conhecimento nunca reflete apenas o que é objetivo, mas é sempre também determinado pela participação do sujeito, pela perspectiva em que ele faz as perguntas e pela sua capacidade de perceber. Tudo isto, naturalmente, é válido numa medida incomparavelmente maior onde o próprio homem entra em jogo ou onde o mistério de Deus se torna perceptível. Fé e ciência, Magistério e exegese, portanto, já não se opõem como mundos fechados sobre si mesmos. A fé é em si uma forma de conhecimento. Querer deixá-lo de lado não produz mera objetividade, mas constitui a escolha de um ângulo que exclui uma perspectiva específica e não quer mais levar em conta as condições casuais do ângulo escolhido. Contudo, se percebermos que as Sagradas Escrituras vêm de Deus através de um sujeito que ainda vive – o povo peregrino de Deus – então também fica racionalmente claro que este sujeito tem algo a dizer sobre a compreensão do livro.

A Terra Prometida da liberdade é mais fascinante e multifacetada do que poderia imaginar o exegeta de 1948. As condições intrínsecas da liberdade tornaram-se evidentes. Pressupõe escuta atenta, conhecimento dos limites dos vários caminhos, plena seriedade da relação , mas também disponibilidade para se limitar e para se superar no pensar e no conviver com o sujeito que nos garante as diferentes escritas do Antigo e do Novo Aliança como obra única, a Sagrada Escritura. Estamos profundamente gratos pelas aberturas que o Concílio Vaticano II nos deu, como resultado de um longo esforço de investigação. Mas não condenamos o passado nem levianamente, mas antes vemos-no como parte necessária de um processo de conhecimento que, considerando a grandeza da Palavra revelada e os limites das nossas capacidades, nos apresentará sempre novos desafios. Mas esta é precisamente a beleza disso. E assim, cem anos depois da criação da Comissão Bíblica, apesar de todos os problemas que surgiram neste período, ainda podemos olhar, gratos e cheios de esperança, para o caminho que se abre diante de nós.

O discurso do Cardeal Ratzinger
foi proferido no Augustinianum em 29 de abril de 2003.

Fonte: https://www.30giorni.it/

A experiência do deserto e jejum quaresmal

Fiel haitiana recebe as cinzas na Igreja São Pedro em Porto Príncipe, Haiti - 17/02/2021 (EPA/Orlando Barria) (ANSA)

O tempo quaresmal é por excelência um tempo penitencial, de obras de misericórdia, jejum e mortificação. Jesus, tal como o Povo de Israel, fez a experiência do deserto, no lugar onde é tentado pelo inimigo. No deserto há sempre um grande desafio. O jejum quaresmal nos coloca no nosso próprio deserto, à mercê das tentações que nos vem ao encontro, que devemos vencer e nos desviar, mergulhando nossa vida em Deus que é nossa força.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Deus não Se cansou de nós. Acolhamos a Quaresma como o tempo forte em que a sua Palavra nos é novamente dirigida: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão». É tempo de conversão, tempo de liberdade. O próprio Jesus, como recordamos anualmente no primeiro domingo da Quaresma, foi impelido pelo Espírito para o deserto a fim de ser posto à prova na sua liberdade (...). Ao contrário do Faraó, Deus não quer súbditos, mas filhos. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão. Na Quaresma, encontramos novos critérios de juízo e uma comunidade com a qual avançar por um caminho nunca percorrido. Isto comporta uma luta: assim no-lo dizem claramente o livro do Êxodo e as tentações de Jesus no deserto. (Papa Francisco)”

A Quaresma é um sinal sacramental da nossa conversão, ou seja, a graça da conversão nos é dada em diferentes níveis e intensidades. Permite-nos crescer no conhecimento do mistério de Cristo, o que significa uma graça especial na escuta fecunda da Palavra de Deus e na compreensão espiritual dela. Ou seja, um tempo forte que significa testemunhar isto com uma conduta de vida digna, recebendo a graça de traduzir o Evangelho em obras e escolhas de pensamento e de vida, o que implica uma contínua conversão e restauração da nossa personalidade cristã. "É tempo de agir e, na Quaresma, agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano em presença do irmão ferido", diz o Papa Francisco em sua Mensagem para a Quaresma deste ano.

Neste contexto, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "A experiência do deserto e jejum quaresmal":

"Joseph Ratzinger, em suas obras completas, aponta que “antes da reforma pós-conciliar, o calendário litúrgico conhecia um singular entrelaçamento dos tempos que, porém, não era mais há muito tempo compreendido e era concebido de modo muito formal e superficial. De acordo com a data mais ou menos antecipada da Páscoa, o tempo depois da Epifania deve ser diminuído ou prolongado. Os domingos que ficam interrompidos vinham, pois, mudados para o fim do Ano Litúrgico”.¹

A Constituição Sacrosanctum Concilium aponta sobre as celebrações nos mais variados tempos litúrgicos e sobretudo que o Mistério Pascal seja acentuado na Liturgia cristã, valorizando o Domingo como dia consagrado ao Senhor, de escuta da Palavra e participação da Eucaristia. Está claro essa preocupação dos padres conciliares, escrita nos números 106 e 107.

No número 105, a Constituição sobre a Liturgia descreve sobre os exercícios de piedade, afirmando assim: “Em várias épocas do ano e seguindo o uso tradicional, a Igreja completa a formação dos fiéis servindo-se de piedosas práticas corporais e espirituais, da instrução, da oração e das obras de penitência e misericórdia”. No número 109 da SC, na letra “b”, aponta a natureza própria da penitência quaresmal que detesta o pecado como ofensa feita a Deus. Vamos ao texto literal: “o mesmo se diga dos elementos penitenciais. Quanto à catequese, inculque-se nos espíritos, de par com as consequências sociais do pecado, a natureza própria da penitência, que é detestação do pecado por ser ofensa a Deus; nem se deve esquecer a parte da Igreja na prática penitenciai, nem deixar de recomendar a oração pelos pecadores”.

Por isso, o Concílio delineou o período quaresmal para melhor evidenciar o itinerário que a Igreja oferece a cada cristão para que chegue renovado nas celebrações do Mistério Pascal. O Concílio deu acento à Páscoa, cuja Quaresma tem por finalidade de preparar. O caderno de número 13 – Cadernos do Concílio – em preparativa ao ano jubilar 2025, diz assim: “A reforma litúrgica especificou a finalidade, a estrutura e a duração desse período: em primeiro lugar, determinou-se que a quaresma tem por finalidade preparar a Páscoa, ou seja, conduzir à celebração do Mistério Pascal”, tanto aos catecúmenos e aqueles que renovam sua adesão ao Senhor, “mediante a lembrança do batismo e o compromisso de conversão pela penitência”(p. 14).

O tempo quaresmal é por excelência um tempo penitencial, de obras de misericórdia, jejum e mortificação. Jesus, tal como o Povo de Israel, fez a experiência do deserto, no lugar onde é tentado pelo inimigo. No deserto há sempre um grande desafio. O jejum quaresmal nos coloca no nosso próprio deserto, à mercê das tentações que nos vem ao encontro, que devemos vencer e nos desviar, mergulhando nossa vida em Deus que é nossa força. Os autores Anselm Grün e Michael Reepen, no pequeno subsídio sobre o Ano Litúrgico nos trazem uma profunda reflexão sobre o sentido do deserto em nossa caminhada preparatória à Páscoa. Dizem assim os autores: “O deserto é um lugar onde ficamos totalmente desprotegidos. Lá estamos sozinhos, frente a frente com nós mesmos, com nosso vazio interior, nosso desamparo, nossa solidão, com o imenso nada ao redor e dentro do coração. Lá topamos com nossos limites, descobrimos que não podemos nos autoajudar, que precisamos da ajuda de Deus. No deserto nos expomos sem proteção, temos sede de tanta coisa e fome do que possa preencher o que nos falta” ².

Esses dois monges escritores também falam do jejum, importante prática quaresmal: “O jejum retira o véu que encobre os nossos pensamentos e sentimentos, e assim constatamos diretamente todas as fúrias guardadas, todas as aspirações e necessidades não satisfeitas. O jejum nos mostra a verdadeira essência de nossa vida, do nosso bem-estar. Será que só ficamos bem com Deus, será que só ficamos de bom humor quando comemos e bebemos bastante?”³. A Igreja no Brasil nos propõe o jejum e a abstinência de carne na Quarta-Feira de Cinzas e na sexta-feira Santa. Mas não só. Toda a Quaresma é tempo de jejum e penitência. Mas nesses dias especiais de abstinência, banquetear-se de peixe faz perder o sentido espiritual e penitencial do jejum. É preciso ter bom senso que um peixe frito pode ser mais agradável do que uma outra carne.

A liturgia considera o jejum da Quaresma um tempo de graça. No jejum nós assumimos nossas próprias carência, renunciando às coisas que costumeiramente temos à mão, de comida e bebida, para entrar na dinâmica de conversão e entrega de nossa vida nas mãos do Senhor."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
______________

¹ RATZINGER, Joseph. Obras completas, Volume XI, Teologia da Liturgia – Fundamento Existencial da Vida Cristã, Edições CNBB, 2019, p. 94.
² GRÜN, Anselm e REEPEN, Michael. O Ano Litúrgico – como ritmo de uma Vida plena de sentido, Vozes, Petrópolis 2013, p. 49-50.
³ Ibidem, 51.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Sermão do depósito

Sermão do depósito (ArqRio)

SERMÃO DO DEPÓSITO

Dom Anuar Battisti
Arcebispo emérito de Maringá (PR)

A Semana Santa é um período de profundo significado para os cristãos em todo o mundo. É uma época em que recordamos e celebramos os eventos centrais da fé cristã, especialmente a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Cada dia da Semana Santa é marcado por eventos específicos que nos conduzem por meio dos últimos momentos da vida terrena de Jesus. 

No contexto da Semana Santa, o Sermão do Depósito ocupa um lugar de destaque. Este sermão, geralmente proferido na segunda-feira da Semana Santa, concentra-se na condenação e prisão de Jesus Cristo. É um momento de contemplação da escuridão que envolveu o mundo no momento em que Jesus foi preso, quando seus próprios discípulos o abandonaram por medo. 

A prisão de Jesus representa o início dos eventos que culminariam em sua crucificação. É um momento de profunda tristeza e angústia, tanto para Jesus quanto para seus seguidores. É também um lembrete do sofrimento e da injustiça que Jesus enfrentou em seu caminho para a Cruz. 

O Sermão do Depósito nos convida a refletir sobre a natureza da injustiça e da opressão, tanto nos tempos de Jesus quanto nos dias de hoje. Recordamos aqueles que são perseguidos por causa de sua fé, os injustiçados e marginalizados, e todos os que sofrem nas mãos da opressão e da violência. 

Além disso, o Sermão do Depósito nos desafia a examinar nossas próprias vidas e a considerar como podemos responder ao chamado de Jesus para defender os oprimidos e trabalhar pela justiça em nosso mundo. É um lembrete poderoso de que, assim como Jesus sofreu injustamente, também somos chamados a agir em solidariedade com os que sofrem e a trabalhar pela transformação de nossa sociedade. 

Ao participarmos do Sermão do Depósito, somos convidados a refletir não apenas sobre o sofrimento de Jesus, mas também sobre o significado mais amplo de sua vida e ensinamentos. É um momento para nos comprometermos novamente com os valores do Evangelho e para renovarmos nosso compromisso de seguir a Jesus em todas as áreas de nossas vidas. 

Portanto, durante a Semana Santa, ao participarmos do Sermão do Depósito, somos desafiados a enfrentar as trevas e a injustiça em nosso mundo com coragem e determinação, confiando na promessa da ressurreição e na vitória final do amor de Deus sobre o mal e a morte.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF