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sexta-feira, 22 de março de 2024

Quarta pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa (I)

4ª Pregação da Quaresma 2024 - Cardeal Cantalamessa (Vatican News)

Quarta pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa

"A esperança necessita da tribulação como a chama necessita do vento para se reforçar. As razões de esperança terrenas devem morrer, uma após a outra, para que venha à tona a verdadeira razão inabalável, que é Deus."

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap
“EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA”
Quarta pregação da Quaresma de 2024

Em nosso comentário aos solenes “Eu Sou” de Cristo no Evangelho de João, chegamos ao capítulo 11. Ele está todo ocupado pelo episódio da ressurreição de Lázaro. O ensinamento que João quis transmitir à Igreja com a sábia composição do capítulo pode ser resumido em três pontos:

Primeiro ponto: Jesus ressuscita o amigo Lázaro (Jo 11,1-44).

Segundo ponto: A ressurreição de Lázaro provoca a condenação de Jesus à morte (11,47-50):

Os chefes dos sacerdotes e os fariseus reuniram então o sinédrio e discutiam: “Que vamos fazer, visto que este homem faz muitos sinais? Se o deixarmos continuar assim, todos crerão nele, e os romanos virão destruir nosso Lugar Santo e nossa nação”. Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: “Vós não entendeis nada! Não considerais ser melhor para vós, que um só morra pelo povo e não pereça a não inteira?”.

Terceiro ponto: A morte de Jesus obterá a ressurreição de todos os que creem nele (11,51-53). O Evangelista assim comenta:

Caifás não falou isso por si mesmo, mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus haveria de morrer pela nação, e não só pela nação, mas também para reconduzir à unidade os filhos de Deus dispersos. A partir desse dia decidiram matar Jesus.

Resumindo, a ressurreição de Lázaro provoca a morte de Jesus; a morte de Jesus provoca a ressurreição de quem crer nele!

*    *    *

Agora podemos nos concentrar na palavra de autorrevelação contida no contexto:

Jesus respondeu: “Teu irmão vau ressuscitar”. Marta disse: “Eu sei que ele vai ressuscitar, na ressurreição do último dia”. Então Jesus declarou: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá (11,23-26).

“Eu sou a ressurreição!”. Perguntamo-nos: de qual ressurreição Jesus fala aqui? Marta pensa na ressurreição final. Jesus não nega esta ressurreição “do último dia”, que ele mesmo promete em outra parte (Jo 6,54), mas aqui anuncia una coisa nova: que a ressurreição começa já, desde agora, para quem crê nele. Santo Agostinho comenta: “O Senhor nos indicou uma ressurreição dos mortos que precede a ressurreição final. E não se trata de uma ressurreição como aquela de Lázaro ou do filho da viúva de Naim... que ressuscitaram para morrer uma outra vez, mas no sentido que afirma aqui: “...tem a vida eterna”[1].

Como se vê, a ideia de uma ressurreição “espiritual” e existencial, que acontece já nesta vida graças à fé, não era desconhecida na tradição cristã. A novidade interveio quando se quis fazer dela o único significado da palavra de Jesus. É conhecida a posição de Bultmann, já em grande parte superada, mas que se impunha quando eu estudava teologia. Segundo ele, a ressurreição de que fala Jesus é uma ressurreição existencial, um despertar de consciência, baseado na fé. Estamos na linha do vago “apelo à decisão” e do “decidir-se por Deus”, aos quais ele reduz quase toda a mensagem do Evangelho.

Mas João dedica dois capítulos inteiros do seu Evangelho à ressurreição real e corporal de Jesus, fornecendo algumas das informações mais detalhadas sobre ela. Para ele, portanto, não é apenas “a causa de Jesus”, isto é, a sua mensagem, que ressuscitou da morte – como alguém escreveu[2] – mas a sua pessoa!

A ressurreição atual não substitui aquela final do corpo, mas é a sua garantia. Ela não anula e não torna inútil a ressurreição de Cristo do túmulo, mas antes se funda justamente sobre ela. Jesus pode dizer “Eu sou a ressurreição”, porque ele é o Ressuscitado! A dimensão existencial depende daquela real, não a substitui.

Antes de João, foi o Apóstolo Paulo a afirmar o vínculo indissolúvel entre a fé cristã e a ressurreição real de Cristo. É sempre útil e salutar recordar as suas veementes palavras aos Coríntios:

E se Cristo não ressuscitou, é vã é a nossa pregação, e vã nossa fé. Assim também seríamos considerados falsas testemunhas de Deus, porque testemunhamos contra ele que ressuscitou Cristo, a quem, de fato, não ressuscitou, se é verdade que os mortos não ressuscitam... E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé é ilusória e ainda estais nos vossos pecados (1Cor 15,14-17).

Jesus mesmo indicara a sua ressurreição como o sinal por excelência da autenticidade da sua missão. Aos adversários que lhe pediam um sinal, ele dá uma resposta que dificilmente pode ser atribuída a outrem senão ao próprio Jesus:

Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhes será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. De fato, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra (Mt 12,39-40).

Os seus opositores sabiam bem que Jonas não permanecera para sempre no ventre da baleia, mas que tinha saído dela após três dias.

Em uma meditação anterior, falei do pré-julgamento presente nos não crentes em relação à fé, que não é menor do que aquele que reprovam nos fiéis. Reprovam nos fiéis, de fato, em não poderem ser objetivos, a partir do momento em que a fé lhes impõe, em princípio, a conclusão a que devem chegar, sem se darem conta de que igualmente acontece com ele. Se se parte do pressuposto de que Deus não existe, que o sobrenatural não existe e que os milagres não são possíveis, também a conclusão a que se chegará é dada em princípio, por isso, literalmente, um pré-juízo.

A ressurreição de Cristo constitui o caso mais exemplar disso. Nenhum evento da antiguidade é sufragado por tantos testemunhos de primeira mão como este. Alguns deles remetem-se a personalidades do calibre intelectual de Saulo de Tarso, que anteriormente combatera ferozmente tal crença. Ele fornece um elenco detalhado de testemunhas, algumas das quais ainda em vida, que poderiam, por isso, facilmente desmenti-lo (1Cor 15,6-9).

Tira-se proveito das discordâncias acerca dos lugares e tempos das aparições, sem se dar conta de que esta coincidência não programada sobre o fato central é uma comprovação da verdade histórica deste, mais do que um desengano. Nenhuma “harmonia preestabelecida” neste caso! Antes de serem postos por escrito, os eventos da vida de Jesus foram por décadas transmitidos por via oral – e variações e adaptações marginais são típicos de toda narrativa que uma comunidade viva e em expansão faz das próprias origens, segundo os lugares e as circunstâncias. É a conclusão a que chegou a mais recente e abalizada pesquisa crítica sobre os Evangelhos[3].

De resto, não há apenas as aparições. São João Crisóstomo tem, a respeito, uma famosa página, à qual toda a investigação crítica moderna não tirou nada da sua força de convicção. Dizia, assim, em uma homilia ao povo:

Donde vem que doze homens, e ignorantes, que viviam às margens dos lagos, dos rios e no deserto, enfrentassem tal empreendimento e aqueles que talvez jamais haviam ido a uma cidade e a uma praça, se entregassem à luta contra toda a terra? Que na prisão de Cristo, depois de tantos milagres, uns fugiram, e outro, o chefe de todos eles, o negou. De onde vem que eles, enquanto Cristo vivia, não enfrentaram o ataque dos judeus, e depois de morto e sepultado, (...) armaram-se contra a terra inteira? Acaso não diriam a si mesmos: O que é isto? Não pôde salvar-se a si mesmo e nos protegerá? Enquanto vivo não socorreu a si próprio, e estender-nos-á a mão depois de morto? Enquanto viveu, não submeteu nem um só povo, e nós, proferindo seu nome, converteremos o orbe todo? Não seria desarrazoado não só agir assim, mas até mesmo pensar? É evidente que, se não o tivessem visto ressuscitado, com uma grande prova de seu poder, não se teriam aventurado a obra tão perigosa[4].

A todas estas provas, o não crente não pode opor senão a convicção de que a ressurreição dos mortos é algo de sobrenatural e o sobrenatural não existe. E o que é isto se não, justamente, um pré-juízo e um “a priori”?

Fides christianorum resurrectio Christi est, escreveu Santo Agostinho: “A fé dos cristãos é a ressurreição de Cristo. Todos acreditam que Jesus esteja morto, também os malvados o creem, mas nem todos creem que tenha ressuscitado e não somos cristãos se não cremos nisso”[5]. Este é o verdadeiro artigo com o qual “a Igreja ou está ou cai”. Nos Atos, os Apóstolos são definidos simplesmente como “testemunhas da sua ressurreição” (At 1,22;2,32). Portanto, valeria a pena refrescar a nossa fé nela, antes de celebrá-la liturgicamente em algumas semanas.

*    *    *

Tradução de Fr. Ricardo Farias

[1] Cf. Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de João, 19,9.
[2] Cf. W. Marxsen, La risurrezione di Gesú di Nazareth, Bologna 1970 (ed. ingl. The Resurrection of Jesus of Nazareth, London 1970).
[3] Cf. J.D.G. Dunn, Gli albori del Cristianesimo, 3 voll., Paideia, Brescia 2006, sintetizado em seu livro Cambiare prospettiva su Gesù, Paideia, Brescia 2011.
[4] Cf. João Crisóstomo, Homilias sobre a Primeira Carta aos Coríntios, 4,4 (PG 61,35ss).
[5] Cf. Agostinho, Enarr. in Psaslmos, 120,6.

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A sabedoria dos Salmos

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A SABEDORIA DOS SALMOS

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

Na Bíblia Sagrada existe o Livro dos Salmos. Impressiona a todos, geração após geração, este livro de oração e poesia ancestral. Nele está o que há de mais profundo das aspirações do coração humano voltado para Deus através da fé, e da constatação dos fatos que se dão na realidade do dia a adia.  

Na língua grega a palavra salmo designa um poema a ser acompanhado por instrumentos musicais. Nos salmos da bíblia está toda doutrina religiosa do Antigo Testamento, neles é possível perceber o amor de Deus pelas criaturas e o louvor verdadeiro que se exprime por um coração transformado segundo a sabedoria divina. 

O próprio Jesus fez suas orações com os salmos, ele mesmo afirmou: “Isto é o que vos dizia quando estava convosco, que deveria se cumprir tudo quanto a meu respeito está escrito em Moisés, nos profetas e nos Salmos’(Lc 24,44). 

Os salmos são perpassados por uma afirmação que muitas vezes pode passar despercebida, trata-se da justiça de Deus na defesa dos pobres, como por exemplo afirma o Salmo 53, conforme se encontra na Edição da Bíblia Sagrada – Edição Pastoral: “Será que os malfeitores não percebem, eles que devoram o meu povo, como se comessem pão, e não invocam a Deus? Eles vão tremer de medo, porque Deus espalha os ossos do agressor, e ficarão envergonhados porque Deus os rejeita”. 

Nos Salmos podemos ver como a história, a profecia, a sabedoria e a lei penetraram a vida do povo, transformando-a em oração viva marcada pelas situações do dia a dia das pessoas e da coletividade. Os Salmos nos ajudam a perceber os dramas da história à luz de Deus, o qual tem a última palavra, quer queira ou não. 

Nos salmos de fato encontramos unidas orações de ação de graças e profecia ao mesmo tempo, como por exemplo no Salmo 9: “Eis que Deus sentou-se para sempre, firmou seu trono para o julgamento. Ele julga o mundo com justiça e governa os povos com retidão…Os povos caíram na cova que fizeram, no laço que ocultaram prenderam o pé. Deus apareceu fazendo justiça, apanhou o injusto em sua manobra. Que os injustos voltem ao túmulo, os povos todos que se esquecem de Deus! Pois o indigente não será esquecido para sempre, e a esperança do pobre jamais se frustrará”. 

Estas são orações que exprimem uma esperança que na verdade se realiza na história através dos séculos. Os reinos e impérios injustos, os sistemas políticos que sustentam a ganância dos poderosos e oprimem os pobres, vão à falência um atrás do outro. O salmista observa que “O injusto se gloria da própria ambição, o avarento despreza e maldiz a Deus! O injusto é soberbo, jamais se interroga. Deus não existe – é tudo o que pensa”( Salmo 10, 3-4). 

Os Salmos nos estimulam a ver a ação de Deus na defesa dos fracos e imitá-lo: “Feliz quem cuida do fraco e do indigente, Deus o salva no dia infeliz. Deus o guarda e mantém vivo, para que seja feliz na terra, e não o entrega á vontade de seus inimigos”(Salmo 41, 2-3). Nos Salmos somos estimulados a colocar em prática a lei de Deus que é a lei do amor fraterno: “A lei de Deus é perfeita, um descanso para a alma. O testemunho de Deus é firme, instrução para o ignorante. Os preceitos de Deus são retos, alegria para o coração. O mandamento de Deus é transparente, é luz para os olhos”(Salmo 19, 8-9). Se observássemos os mandamentos de Deus a Terra viveria em paz. 

E por fim os Salmos, em nossa cultura que adora o dinheiro, a fama e o poder,  nos convidam a confiar em Deus acima de tudo: “Só em Deus a minha alma repousa, porque dele vem a minha salvação. Ele é minha rocha e salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalado”(Salmo 62, 2-3). “Porque o Senhor é meu pastor, nada me falta”(Salmo 23,1).

Fonte: https://www.cnbb.org

Dia Mundial da Água: "Água para a prosperidade e a paz"

Dia Mundial da Água (Vatican News)

A data marcada neste 22 de março reforça o apelo por gestão sustentável; novas realidades econômicas e sociais, incluindo alterações climáticas e geopolíticas, tem implicações hídricas; mais de 60% da água doce mundial flui através de fronteiras nacionais, mas progresso em acordos transfronteiriços é considerado lento.

Vatican News

Celebra-se nesta sexta-feira, 22 de março, o Dia Mundial da Água. Segundo a ONU, a data quer chamar a atenção para a importância da água doce e defender a gestão sustentável deste "bem vital e comum da humanidade".

Este ano, a data tem como foco o tema "Água para a Prosperidade e a Paz", com mensagens da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), e da Comissão Econômica da ONU para a Europa, (Unece).

Condições sociopolíticas instáveis

Segundo a Unesco, a gestão sustentável da água gera uma infinidade de benefícios para indivíduos e comunidades, incluindo saúde, segurança alimentar e energética, proteção contra riscos naturais, educação, melhoria dos padrões de vida e emprego, desenvolvimento econômico e uma variedade de serviços ecossistêmicos.

A agência defende que é através desses benefícios que a água leva à prosperidade e que a partilha equitativa desses benefícios promove a paz.

A edição de 2024 do Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água das Nações Unidas destaca como desenvolver e manter a segurança hídrica e o acesso equitativo aos serviços de água.

De acordo com a Unesco, eventos recentes de epidemias globais e conflitos armados, enfatizaram que as condições sociopolíticas sob as quais a água é fornecida, gerenciada e usada podem mudar rapidamente.

Para a agência, a gestão da água tem de levar em conta as novas realidades econômicas e sociais, incluindo as mudanças climáticas e geopolíticas e as suas implicações nos recursos hídricos. Promover a água para a prosperidade e a paz, portanto, requer ações além do domínio hídrico.

Cooperação transfronteiriça na gestão da água

A Unece afirma que mais de 60% da água doce mundial flui através de fronteiras nacionais, como no Congo, no Danúbio, na Amazônia e no Mekong, nas bacias de lagos como o Lago Genebra ou os Grandes Lagos. A agência citou ainda as mais de 450 reservas transfronteiriças de águas subterrâneas identificadas em todo o mundo.

Com a crescente escassez de água em todo o planeta, a cooperação transfronteiriça é considerada crucial para a estabilidade regional, a prevenção de conflitos e o desenvolvimento sustentável.

Os impactos das mudanças climáticas, como as secas e as inundações, bem como a poluição e a crescente procura por água, estão colocando uma pressão crescente sobre os recursos hídricos, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, e estão entre os principais motores da dinâmica da cooperação.

No entanto, o progresso é considerado muito lento. Novos dados de um relatório conjunto da Unesco e Unece sobre a cooperação transfronteiriça no domínio da água revelam que apenas 26 dos 153 países em todo o mundo que partilham recursos hídricos têm todas as suas áreas de bacias transfronteiriças cobertas por acordos operacionais para cooperação hídrica, em comparação com 24 em 2020. Apenas 10 novos acordos transfronteiriços foram assinados no período.

Fatos relevantes

2,2 bilhões de pessoas não tinham condições para gerir com segurança a água potável em 2022.

Cerca de 80% dos empregos são dependentes da água em países de baixa renda, onde a agricultura é a principal fonte de subsistência.

72% de captação de água doce é utilizada pela agricultura.

1,4 bilhão de pessoas foram afetadas por secas entre 2002 e 2021.

Até 10% do aumento da migração global entre 1970-2000 esteve ligado a déficits de água.

Dia Mundial da Água | Brasil Escola - UOL

Doenças relacionadas com água e saneamento inadequados

Nessa data, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) recorda que todos os dias mais de mil crianças abaixo de 5 anos morrem por causa de doenças relacionadas com água e saneamento inadequados, matando mais de 1 milhão e 400 mil pessoas por ano.

A nível mundial, quase 1 bilhão de crianças (953 milhões) estão expostas a níveis elevados ou extremamente elevados de estresse hídrico. Estresse hídrico é a proporção entre a demanda total de água e os suprimentos renováveis disponíveis de águas superficiais e subterrâneas. A demanda de água inclui usos domésticos, industriais, de irrigação e pecuária. Valores mais elevados indicam maior concorrência entre os usuários.

Na Itália, estima-se que em 2022 aproximadamente 298 mil crianças foram expostas a níveis elevados ou muito elevados de estresse hídrico. No mundo, 240 milhões de crianças estão altamente expostas às inundações costeiras e 330 milhões de crianças estão altamente expostas às inundações fluviais.

Os dados revelam grandes desigualdades

Uma a cada quatro pessoas no mundo não tem água potável gerenciada de forma segura. Além disso, 2 a cada 5 pessoas ainda não têm saneamento gerenciado de maneira segura (banheiros) e 1 a cada 4 não tem instalações básicas de água (pias para lavar as mãos).

Os dados revelam grandes desigualdades, sendo que os mais pobres e os que vivem em áreas rurais têm menor probabilidade de usar um serviço básico.

Na maioria dos países, a obrigação da coleta de água continua recaindo principalmente sobre as mulheres e meninas. No âmbito global, em 2 a cada 3 famílias, as mulheres são as principais responsáveis pela coleta de água. 16% da população mundial, ou seja, 1 bilhão e 800 milhões de pessoas, coletam água de fontes situadas fora de suas casas. Desse número, 63% das mulheres são responsáveis pelo transporte de água, em relação aos 26% dos homens. Globalmente, é mais provável que as meninas busquem água do que os meninos em todas as regiões, exceto no Norte da África e na Ásia Ocidental. Na África Subsaariana, 45% da população coleta água e as mulheres têm quatro vezes mais probabilidade do que os homens de serem responsáveis pelo transporte de água.

(ONU News e Unicef)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Léia

Santa Léia (A12)
22 de março
Santa Léia

Léia viveu por volta do ano 370 em Roma, Itália. Sua família era nobre e rica, e ela recebeu ótima formação cristã, sendo muito piedosa. Jovem, casou-se, porém não teve filhos, tendo logo ficado viúva.

O costume da época seria que de novo se casasse, e teve por pretendente o cônsul romano Vécio Agorio Pretestato, prefeito da cidade. Este seria um casamento mutuamente vantajoso, com prestígio e privilégios para ambos, dada a sua nobreza e o cargo e riqueza do cônsul, ainda maior do que a da sua família.

Léia, contudo, recusou o pedido, pois sentia-se atraída para uma vida totalmente consagrada a Deus. Era amiga de outra nobre e viúva, Marcela, depois mártir, e também canonizada; Marcela conhecia São Jerônimo, que morou em Roma antes de ir para a África e a chamava de “a glória das damas romanas”. No seu palácio em Aventino (uma das sete colinas onde foi fundada a Cidade Eterna), Marcela abriu uma escola de estudo das Sagradas Escrituras e de orações para mulheres que desejavam levar uma vida ascética e austera, uma comunidade que se tornou um dos primeiros mosteiros fundados e dirigidos por Jerônimo, e da qual ela era a abadessa. Léia convivia com as irmãs da comunidade e participava das suas atividades, e, sentido-se vocacionada, tornou-se monja.

Trocou assim uma vida luxuosa por uma pequena cela, dedicando-se à oração (muitas vezes ao longo de toda a noite), jejuns, penitência e caridade. Vendeu seus ricos vestidos, doando o dinheiro aos pobres, e passou a vestir-se com um rústico hábito feito de saco. Escolhia as tarefas mais humildes no mosteiro, agindo como serviçal e escrava das irmãs. Um seu cuidado especial era praticar boas ações de forma escondida, para não receber elogios, reconhecimento ou recompensas. Assim viveu por vários anos, e por sua santidade foi eleita Madre Superiora, função que exerceu até o seu falecimento em 384.

Neste mesmo ano, faleceu seu antigo pretendente, o cônsul Vécio. Ao saber destas mortes, São Jerônimo, que a conhecera pessoalmente, e que já então vivia em Belém, escreveu uma carta às religiosas do mosteiro, que ainda dirigia à distância, carta esta a única fonte sobre a vida de Santa Léia; na missiva, ele compara a situação do cônsul, que antes, riquíssimo e vestido com finas vestes de púrpura, estava agora envolto pela escuridão, ao passo que Léia, que escolhera vestir-se com roupa de saco, estava agora revestida de luz e glória infinitas.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O fecundo matrimônio espiritual de Santa Léia com o Senhor gerou muito mais vida do que o seu estéril casamento terreno; ela, como outros santos e santas, é a prova concreta de que a virgindade dedicada a Deus é sempre fértil, isto é, gera verdadeiramente grande quantidade de filhos para Deus. Urgente é no século atual a valorização da castidade consagrada, pessoal ou formalmente, como caminho certo de santidade. A verdadeira riqueza, a pérola a ser adquirida pelo emprego de todos os bens disponíveis (cf. Mt 13,44-46) é a prisão no serviço a Deus: a cela de Deus é a liberdade do Homem, e Santa Léia de fato vendeu o que possuía para encerrar-se no seu pequeno quarto, de onde abriu-se a ela a imensidão do Céu. A plenitude do espírito não pode nunca estar confinada na matéria, e até mesmo essa será transformada no Paraíso, como o Corpo Glorioso do Senhor, caso contrário não pode acompanhar o esplendor das almas salvas. Creio que uma observação pertinente é que São Jerônimo não explicita que Vécio era necessariamente mau, nem se diz que taxativamente fosse condenado ao inferno; mas não dedicou sua vida, como Léia, ao amor a Deus e ao próximo, e na sua morte, ao contrário do caso dela, pode-se apenas dizer com segurança que ficou nas sombras, implicando sim (e no mínimo) numa vida apagada, enquanto que ela certamente está na Luz pela santidade: sem dúvida perspectiva muito melhor e desejável, também para nós.

Oração:

Senhor Deus Todo-Poderoso, que Vos fizestes servo para nos dar o exemplo e nos salvar, concedei-nos pela intercessão de Santa Léia não buscarmos o destaque nesta vida, mas como ela, fazer o bem na quietude e discrição, revestidos da verdadeira humildade, de modo a estarmos com as vestes apropriadas para poder participar do banquete celeste que nos preparastes. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 21 de março de 2024

VOCAÇÕES NA BÍBLIA: Miquéias, o defensor da vida

Miquéias, o defensor da vida (Revista Ava Maria)

Por; Pe. Nilton Cesar Boni, cmf

Miqueias, cujo nome significa “quem como Javé”, nasceu em Moreshet-Gath, a 35 quilômetros de Jerusalém, no século VIII a.C. Era um homem do povo, criado na zona rural, e falava com simplicidade. Foi vítima das opressões. Fazia parte do reino de Judá e sua cidade era cercada por fortalezas e quartéis com numerosos soldados e oficiais para garantir a segurança do reino. Viveu num ambiente cercado por grandes proprietários de terra, altos impostos, muitos problemas sociais como roubos, trabalho escravo, prostituição e aldeias sendo saqueadas. Atuou nos reinados de Joatão, Acaz e Ezequias e era contemporâneo dos profetas Oseias e Isaías.

A definição de seu nome já nos introduz em sua missão, marcada por uma profunda experiência de Deus revelada por meio de visões. Esse profeta, imerso na realidade conflitante do povo, começa a denunciar os abusos de autoridade dos governantes, suscitando incômodo. Suas denúncias estão ligadas à dominação dos lavradores por meio de corrupção, exploração, propinas, interesses em poder, massacre dos pobres e indefesos.

Sua fé foi alimentada desde a infância em um ambiente temente a Deus e marcado pelo desejo de justiça. A esperança era o selo de sua existência e por ela se ocupou até o fim de sua vida.

Miquéias, em seus escritos, refletiu sobre as duas classes de autoridade que exercem influência direta nas pessoas. A primeira é a autoridade falsa exercida pelos governantes civis, que amam a maldade e detestam o bem, a dos líderes religiosos, que se corrompem esperando pagamento e a dos líderes morais que usam o povo para guerrear em nome da paz. A outra é a autoridade verdadeira, alimentada e administrada por Deus, que gera paz e salvação.

O mais importante na pregação de Miqueias é fazer as pessoas retornarem ao verdadeiro templo de Deus e colocá-lo no centro de sua peregrinação. É dessa forma que o pecado será exterminado e Jerusalém voltará a ser a cidade santa onde o amor brilhará. “Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus” (Mq 6,8).

A promessa que Javé faz a Miqueias é reaver o seu povo perdido moralmente e explorado pelos poderosos. A bondade de Deus em proteger seu povo é marca nesse profeta. O amor e a fraternidade é que estabelecem vínculos de paz e intimidade com Deus e o próximo, por isso, é direito que todos tenham a dignidade assegurada pelos líderes civis e religiosos.

Miqueias propõe a formação de uma consciência moral reta que assegura os valores éticos fundamentais, sustentando a comunidade humana e transformando-a num espaço de encontro e paz. É preciso reeducar ética e religiosamente a sociedade que prioriza o ter sobre o ser, restaurando o indivíduo para um mundo melhor onde a liberdade e a responsabilidade sejam marcas de seu compromisso com o Reino de Deus. Nesse sentido, podemos colocar em prática os desejos de Deus para que a vida tenha sentido e o bem prevaleça. Só o amor transfigurante do Senhor pode dar ao ser humano a resposta para cumprir sua missão de ser filho amado e escolhido.

Pe. Nilton Cesar Boni, cmf

Fonte: Revista Ave Maria - Março/2024, páginas 8 e 9 (https://revistaavemaria.com.br/)

Reflexões ao final da Quaresma: rumo à conversão

Quaresma: tempo de reflexão (Revista Ave Maria)

REFLEXÕES AO FINAL DA QUARESMA: RUMO À CONVERSÃO

Dom Jailton Oliveira Lino
Bispo de Teixeira de Freitas/Caravelas (BA)

À medida que nos aproximamos do término da Quaresma e nos preparamos para entrar na Semana Santa, é essencial que mergulhemos profundamente em nossa jornada espiritual, buscando a verdadeira conversão do coração. Durante este tempo sagrado, somos chamados a refletir sobre nossas ações, a praticar a penitência e a intensificar nossa vida de oração. Nesse contexto, a Palavra de Deus, expressa na Sagrada Escritura, nos orienta e nos inspira a viver de acordo com os ensinamentos de Cristo. 

Uma passagem que ressoa profundamente com o tema da conversão é encontrada no livro de Isaías, no Antigo Testamento. Em Isaías 55,7, lemos: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos; volte-se ao Senhor, que terá misericórdia dele; e para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.” Esta passagem nos lembra da importância de abandonar nossos maus caminhos e nos voltarmos para Deus, que está sempre pronto para nos perdoar e nos acolher de volta em seu amor. 

Outro texto que ilustra a necessidade da conversão é encontrado nas palavras de Jesus, registradas no Evangelho de Lucas 13,3: “Se, porém, não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Aqui, Jesus nos adverte sobre a urgência do arrependimento e da mudança de coração. Ele nos convida a deixar para trás nossos pecados e a nos voltarmos para Deus, pois somente assim encontraremos a vida verdadeira e eterna. 

Além disso, as cartas de São Paulo também oferecem valiosas reflexões sobre o tema da conversão. Em Romanos 12,2, São Paulo nos exorta: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Essas palavras nos lembram da importância de nos afastarmos das influências do mundo e de nos renovarmos em Cristo, buscando viver de acordo com a vontade de Deus. 

Diante dessas passagens bíblicas e de tantas outras que poderíamos citar, somos desafiados a refletir sobre nossa própria jornada de fé durante este tempo de Quaresma. Que possamos nos arrepender de nossos pecados, nos voltarmos para Deus em oração e buscar viver de acordo com seus ensinamentos, para que possamos experimentar verdadeiramente a transformação que Ele deseja operar em nossas vidas. 

Que a luz da ressurreição de Cristo brilhe sobre nós neste tempo sagrado, guiando-nos no caminho da verdadeira conversão e da plenitude da vida.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O Papa: ver o rosto de Jesus em quem vive na miséria por causa das injustiças sociais

Mutirão Nacional - 6ª Semana Social Brasileira (Vatican News)

Francisco recorda que "desde sua primeira edição em 1991, a Semana Social Brasileira propôs-se como caminho para uma “Igreja em saída”, comprometida em derrubar os muros do descarte e da indiferença, acompanhando os mais pobres e carentes dos direitos básicos em sua luta por terra, moradia e trabalho".

Vatican News

O Papa Francisco enviou uma carta, nesta quarta-feira (20/03), aos 150 participantes do Encontro Nacional de encerramento da 6ª Semana Social Brasileira. O encontro começa nesta quarta-feira, em Brasília, e prossegue até sexta-feira, 22.

"Com o coração repleto de esperança, dirijo-me a todos os participantes na VI Semana Social Brasileira, promovida pela Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Socio-transformadora da CNBB sobre o tema “O Brasil que queremos, o Bem Viver dos Povos”. Quero assegurar-lhes minha proximidade e minhas orações pelo bom andamento do encontro e seus frutos", escreve o Papa.

Terra, casa e trabalho

Francisco recorda que "desde sua primeira edição em 1991, a Semana Social Brasileira propôs-se como caminho para uma “Igreja em saída”, comprometida em derrubar os muros do descarte e da indiferença, acompanhando os mais pobres e carentes dos direitos básicos em sua luta por terra, moradia e trabalho".

Além disso, propõe uma nova economia, mais solidária, e a revitalização dos valores democráticos que auxiliam a construir uma sociedade onde haja verdadeira participação popular nos processos decisórios da Nação. "Agradeço-lhes vivamente por este compromisso e também pela promoção, junto com a juventude do Brasil, da Economia de Clara e Francisco", ressalta ainda o Pontífice.

"Estou-lhes igualmente grato por promoverem o chamado, que dirigi aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em 2014, para responder “a um anseio muito concreto, a algo que qualquer pai, qualquer mãe, deseja para os próprios filhos; um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos, com tristeza, cada vez mais distante de se tornar realidade na vida da maioria das pessoas: terra, casa e trabalho", afirma o texto.

Uma sociedade mais justa

O Papa espera "que o “Mutirão pela vida”, organicamente vinculado à Semana Social Brasileira, produza abundantes frutos em favor de uma sociedade mais justa, na qual, como diz a Campanha da Fraternidade deste ano, se vivam a fraternidade universal e a amizade social".

Francisco convida a "ver naqueles que são forçados a viver na miséria pelas injustiças sociais o rosto de Jesus que nos instiga a não permanecermos indiferentes, pois, como Ele próprio disse: “Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a Mim que o fizestes!”"

"Confiando estes votos e preces à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil", o Papa concede de coração a sua bênção, pedindo ainda que não se esqueçam de rezar por ele.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Nicolau de Flue

São Nicolau de Flue (A12)
21 de março
São Nicolau de Flue

Nicolau nasceu em 1417 na cidadezinha de Flüe, Sachseln, no Cantão suíço de Obwalden, então Confederação dos oito Cantões da Suíça central. De uma família de camponeses, permaneceu analfabeto por toda a vida, e desde a juventude desejava a vida religiosa, mas ajudou o pai em serviços do campo.

Entre 1440 e 1444, teve que partir como soldado e depois como oficial, sempre com comportamento exemplar, contra o cantão de Zurique, que havia se rebelado contra a Antiga Confederação Helvética. De volta à casa e a pedido do pai, casou-se com Dorothy Wiss, filha de agricultores, num matrimônio feliz. Tiveram dez filhos, dos quais vários seguiram o sacerdócio; um dos netos, Conrado Scheuber, faleceu com fama de santidade.

Reconhecido pelo seu senso de justiça, integridade moral e retidão de consciência, foi solicitado a assumir muitos cargos públicos, como conselheiro, deputado na Dieta federal, e por nove anos juiz no seu Cantão. Recusou o cargo maior de Landamman (governador) do seu Cantão. Como pai de família, não podia dedicar-se à oração como gostaria, mas quando completou 50 anos Deus lhe concedeu as três graças que desejava: o consentimento de sua esposa e filhos para partir, a ausência da tentação de voltar e a possibilidade de viver sem beber e comer. Abandonou os cargos públicos e retirou-se para um local perto de casa, num lugar íngreme, chamado Ranft, onde construiu uma cela de tábuas (depois, transformada em capela pelos habitantes locais). Viveu ali 20 anos em oração, penitências e jejum; ia à Missa nos domingos e dias santos, sempre descalço, mesmo no gelo; dormia numa tábua usando uma pedra por travesseiro, vestia-se com roupas rudes e, de acordo com as provas de várias testemunhas ao longo do tempo, alimentava-se somente da Eucaristia, tendo saúde e boa disposição física, mental e espiritual.

Não conseguiu permanecer totalmente solitário, pois era procurado para conversas, conselhos e explicações religiosas, a todos, simples e poderosos, atendendo com caridade e boa vontade. Passou a ser conhecido carinhosamente como Irmão Klaus. Mediou com sucesso negociações que evitaram uma guerra iminente entre a Suíça e a Áustria. Em 1481, acedeu aos pedidos para intervir na Assembleia de Stans, onde conseguiu a unificação dos partidos na Confederação Suíça, impedindo uma guerra fratricida no país. Em 1482, foi chamado para resolver uma questão entre Constança e a Confederação sobre o exercício do direito em Thurgau, e novamente restabeleceu a paz. Enorme é o seu mérito em conciliar protestantes e católicos, sendo por ambos respeitado e amado.

Sua capacidade de reconciliação, inimiga de violência, guerra e conquistas ambiciosas, e também alianças comprometedoras com outras nações, muito influenciou o seu povo, e há um consenso de que, se a Suíça é um país pacífico e que raramente se envolve em conflitos mundiais, isto se deve à sua influência.

São Nicolau faleceu em sua cela de Flüe, em 1487, no dia em que completava 70 anos. Considerado um dos maiores místicos da Igreja católica, é o santo mais popular e conhecido na Suíça, de onde é padroeiro e chamado de Pai da Pátria.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Nicolau de Flüe só desejava a Deus – e por isso conquistou uma nação. Soube ele esperar os tempos de Deus, até alcançar o que mais queria, realizando com humildade, obediência e amor cada passo específico da vida: filho que ajudou o pai, esposo que santificou a família, militar que combateu o bom combate, agindo com humanidade mesmo no fragor das batalhas (diz-se dele que “lutava com uma espada na mão e o Rosário na outra”); bom conselheiro, da paz e da reconciliação. Este tempo de preparação e espera, ele o chamava de "lima que aperfeiçoa e aguilhão que estimula", sem revolta ou impaciência. Alcançou assim, já nesta Terra, a vida de Comunhão com Deus, no retiro e silêncio que almejava. Como Jesus, ele “fez tudo bem feito” (cf. Mc 7,37). São Nicolau rezava: “Ó meu Deus e meu Senhor, afaste de mim tudo o que me afasta de Vós. Ó meu Senhor e meu Deus, dê-me tudo o que me aproxima de Vós. Ó meu Senhor e meu Deus, livre-me do meu egoísmo e conceda-me possuir somente a Vós. Amém”. É preciso cuidado com o que queremos. Pois se realmente o desejarmos, vamos obtê-lo: seja com a ajuda de Deus, seja com a mão do diabo.

Oração:

Pai de amor e bondade, que nos desejas alimentar somente com o Pão da Vida, de modo que não nos envenenemos com as podridões mundanas, concedei-nos por intercessão de São Nicolau de Flüe fazer guerra somente contra o pecado, e desejar somente a reconciliação Convosco e a paz com os irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 20 de março de 2024

Bom filho, bom Padre

Bom filho, bom Padre (Opus Dei)

Bom filho, bom Padre

"Quando uma pessoa conhecida, boa e querida falece, passam pela cabeça mil lembranças diferentes". Neste texto Dom Guillaume Derville conta suas recordações de Dom Javier Echevarría, e reflete sobre a marca que ele deixou em sua vida.

12/12/2018

Quando uma pessoa conhecida, boa e querida falece, passam pela cabeça mil lembranças diferentes, como fagulhas que despertam na alma sentimentos contrastantes. Mais ainda quando se trata de um Padre que mostrou amplamente como vivia somente para nós, para levar-nos ao coração de Cristo. Em nossa alma, há uma mistura de ação de graças e de desejos de reparação pela própria falta de correspondência. A realidade da morte, do tempo que passa, se faz mais presente. E à dor de uma ausência, se une a gloriosa esperança do Céu. À oração pela alma de um cristão, soma-se o recurso a uma intercessão que se percebe mais poderosa. Assim vem sendo, em um rápido esboço, a ressonância do falecimento de Dom Javier em muitas pessoas da Obra, e em tantas outras que nos querem bem.

PERCEBE-SE, QUASE MELHOR AGORA, A SINGULARIDADE DE UMA VIDA QUE SE GASTOU DESDE A JUVENTUDE: PRIMEIRO PERTO DE SÃO JOSEMARIA, E DEPOIS DO BEM-AVENTURADO ÁLVARO.

A morte de um Padre como Dom Javier traz muitas lembranças: algumas vividas por cada um e cada uma. Outras, tantas vezes escutadas, como esses relatos de família que se contam de geração em geração. Percebe-se, quase melhor agora, a singularidade de uma vida que se gastou desde a juventude: primeiro perto de São Josemaria, e depois do Bem-aventurado Álvaro, e, finalmente, como sucessor de ambos com a memória do coração e da inteligência sempre viva, para transmitir com fidelidade o espírito recebido de Deus por meio de suas mãos. O carinho que São Josemaria mostrou desde muito cedo a Dom Javier, correspondido por uma admiração e uma obediência filiais cheias de fé na ação de Deus nos santos, fizeram de Dom Javier um filho leal e valente. Seu sentido da filiação divina passou pelo caminho da filiação ao Padre na Obra, primeiro em sua missão de atender às necessidades materiais de São Josemaria, e depois, em sua estreita colaboração com Dom Álvaro.

A entrega decidida e constante de Dom Javier como custos[1] (palavra latina para custódio), e o cumprimento fiel ad mentem Patris (com a mente do Padre) das tarefas que lhe eram confiadas, foram uma preparação intensa para seu longo ministério pastoral como Padre e Prelado do Opus Dei. Sua relação com Deus, o exemplo e a proximidade de São Josemaria e do Bem-aventurado Álvaro, abriram o coração desse filho fiel para que a graça de Deus o enchesse de caridade. Foi um bom filho e foi um bom Padre. Desvivendo-se sempre por suas filhas e filhos no Opus Dei e atento a estreitar os vínculos de nossa fraternidade sobrenatural, foi filho não só quando nosso Padre e Dom Álvaro estavam nesta terra, mas também depois. A partir da integridade de seu caráter, que saltava à vista, sentia saudades desses dois gigantes da fé e do amor, ao mesmo tempo em que se sabia sempre em sua presença. Como homem que sabia amar, e ainda hoje tão querido, palpitava no seu coração a saudade do tempo em que São Josemaria vivia entre nós.

Bom filho, bom Padre (Opus Dei)

Como Padre e Prelado queria seguir as pegadas dos seus santos predecessores, não se afastar de um caminho bem traçado, cuidar amorosamente de um espírito esculpido. Como filho, foi co-herdeiro valente de Cristo (cf. Rom 8-17): levou a Cruz, peso bendito das almas, jugo suave e carga leve (cf. Mt 11,30). Com frequência, Dom Javier dizia que era necessário apostarmos tudo na carta do Amor. Esse foi o seu grande anseio, o seu esforço constante.

REPETIRIA AQUILO QUE, ESPECIALMENTE NOS ÚLTIMOS ANOS, TINHA CHEGADO A SER UM REFRÃO NOS SEUS LÁBIOS: QUE VOS QUEIRAIS BEM, QUE VOS AMEIS CADA VEZ MAIS!

«Se aquele que chamamos Padre durante vinte e dois anos –dizia Mons. Fernando Ocáriz, atual prelado do Opus Dei, na homilia da missa por Dom Javier na basílica de Santo Eugênio–, estivesse aqui entre nós, com certeza nos pediria que aproveitássemos estes momentos para intensificar o nosso amor à Igreja e ao Papa, que permanecêssemos muito unidos entre nós e com todos os nossos irmãos em Cristo. E repetiria aquilo que, especialmente nos últimos anos, tinha chegado a ser um refrão nos seus lábios: que vos queirais bem, que vos ameis cada vez mais! E não só nos seus lábios: impressionava ver como sabia querer bem aos outros. Lembro, por exemplo, que um dia antes de falecer, expressou o seu desconforto por estar incomodando a tantas pessoas que cuidavam dele. E espontaneamente respondi: “Não, Padre. É o senhor que sustenta a todos nós”»[2].

Agora este filho bom e fiel continua nos sustentando a todos lá do Céu. Muitos notaram, desde o dia do seu falecimento, como Dom Javier os ajudava em tantos aspectos da sua vida diária, como se o Padre, que sempre teve um temperamento ativo e generoso e que tanto nos convidava a acudir à intercessão dos que nos precederam, quisesse empenhar-se para ajudar-nos a cada uma, a cada um. Talvez para agradecer aquela carta que lhe escrevemos, para responder a essa pergunta que não lhe pudemos fazer, enfim, para continuar nos mostrando a paternidade de Deus.

Por: Guillaume Derville

Tradução: Mônica Diez


[1]N.T. Um dos dois sacerdotes que sempre acompanham o Padre e o auxiliam em assuntos materiais e espirituais. Numa entrevista, Dom Javier explicava assim os custódios: Os custódios existem para que o Prelado, o Padre, não viva sozinho, não seja um homem isolado lá em cima. E, além disso, para que possam ajudá-lo a ser melhor. (https://opusdei.org/es/article/tras-la-huella-de-un-padre 18/06/2012).

[2] N.T. https://opusdei.org/pt-br/article/homilia-de-mons-fernando-ocariz-na-missa-pelo-prelado-do-opus-dei.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF