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sexta-feira, 29 de março de 2024

A Sexta-feira Santa: mistério da nossa redenção

Sexta-feira Santa (catequizar)

A SEXTA-FEIRA SANTA: MISTÉRIO DA NOSSA REDENÇÃO

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

Na Sexta-Feira Santa, revivemos o mistério da paixão, crucificação e morte de Jesus. Este é o único dia do ano em que a Igreja Católica não celebra a Eucaristia nem os demais sacramentos, com exceção da Penitência e da Unção dos Enfermos. O ato litúrgico mais significativo deste dia é a Celebração da Paixão do Senhor, às 15 horas, que se compõe de três partes: a liturgia da Palavra, a adoração da Cruz e a Sagrada Comunhão. A espiritualidade cristã inclui também a celebração da Via-Sacra, a recitação do Ofício da Paixão, a procissão do Senhor Morto e outras práticas de piedade ligadas às tradições locais. É muito importante também santificar esse dia com jejum e penitência e, no silêncio e na oração, contemplar o mistério da Paixão do Senhor. 

A Sexta-Feira da Paixão direciona nosso olhar para a Cruz do Senhor, expressão do amor de Deus por nós, marco de uma nova aliança entre Ele e a humanidade, selada pelo sacrifício redentor de seu Filho. A cruz não apenas simboliza a humanidade de Deus, que assumiu as dores e tragédias humanas para nos salvar do pecado, mas também nos convoca à solidariedade e à transformação pessoal, unindo nossos sofrimentos aos de Cristo para alcançar a redenção. 

A morte de Cristo na cruz nos faz lembrar dos sofrimentos e males que afligem o ser humano em todos os tempos: o peso esmagador da morte, o ódio e a violência que ainda hoje ensanguentam a terra. Embora a Sexta-Feira Santa seja um dia repleto de tristeza, é também uma oportunidade propícia para despertar nossa fé, fortalecer nossa esperança e coragem a fim de carregar nossa cruz com humildade, confiando em Deus e em sua vitória. 

A morte de Cristo nos interpela profundamente. Quando foi preso, Ele poderia ter resistido com uma legião de anjos, mas escolheu não reagir por meio da violência, recusando-se a usá-la como meio de defesa. Na noite após a celebração da última ceia, traído por Judas, o Senhor foi levado à prisão. Na mesma noite, foi julgado pelo Sinédrio. Na manhã de sexta-feira, o Sinédrio o submeteu a um novo julgamento, acusando-o de blasfêmia. Por fim, foi condenado à morte, pois o Senhor não pôde negar que realmente é o Filho de Deus. 

Após ser condenado pelo Sinédrio, que não tinha autoridade para executar penas de morte, Jesus foi levado a Pôncio Pilatos pelos líderes judeus, os quais solicitaram sua execução. Pilatos, não encontrando culpa em Jesus, propôs torturá-lo e, em seguida, conceder-lhe o indulto de Páscoa e libertá-lo. No entanto, eles rejeitaram a proposta e influenciaram a multidão a pedir a liberdade para Barrabás e a pena de morte para Jesus. Pilatos, renunciando à sua responsabilidade, “lava as mãos” e cede à pressão popular, condenando Jesus à morte, apesar de sua inocência. Esse fato nos faz refletir sobre como a justiça pode ser distorcida pela pressão da opinião de uma massa manipulada e, movida pelo espetáculo, transformar-se em vingança, condenando alguém à morte sem dar-lhe a ampla possibilidade de defesa. 

A morte de Cristo na cruz é um grande mistério, difícil de compreender. Jesus, embora sendo Deus, optou por não usar suas prerrogativas divinas e seu poder. Ao contrário, “despojou-se de si mesmo”, assumindo radicalmente, exceto o pecado, a frágil condição humana até o extremo da morte humilhante numa cruz (Fl 2, 6-11). Essa escolha não foi um acidente, mas uma decisão deliberada de seguir o plano salvífico de Deus Pai. 

São Paulo interpreta esse acontecimento à luz da fé. À arrogância e desobediência de Adão, ele contrapõe a humildade e obediência de Jesus. Embora sendo Deus e sem pecado, ao tornar-se homem, assumiu nossas debilidades, fez penitência em nosso lugar, carregando sobre seus ombros nossos pecados. Submeteu-se a tudo por amor a nós, até a morte humilhante na cruz. Por amor, “despojou-se de si mesmo” e tornou-se nosso irmão, compartilhando nossa condição humana. Por sua obediência, Deus o exaltou à sua direita, para que, “ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua proclame: ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 10-11). 

Reviver o mistério da Paixão de Cristo significa também buscar significado para os acontecimentos dolorosos de nossa história pessoal e coletiva. Por isso, devemos ter em mente, neste dia da Paixão do Senhor, as situações dramáticas que afligem tantos irmãos nossos no Brasil e em todas as partes do mundo, mostrando solidariedade e empatia com os sofredores e vítimas da maldade humana, da injustiça e da violência.


Fonte: https://www.cnbb.org

EDITORIAL: O dom das lágrimas por quem está afastado

A Missa Crismal na Basílica de São Pedro na manhã desta Quinta-feira Santa (28) (Vatican Media)

As palavras de Francisco na Missa do Crisma e o testemunho dos cristãos no editorial desta Quinta-feira Santa, 28 de março, assinado por Andrea Tornielli.

Andrea Tornielli

"O Senhor não pede juízos de desprezo contra quem não crê, mas amor e lágrimas por quem vive afastado". O Papa Francisco dá início aos ritos da Semana Santa presidindo a Missa do Crisma na Basílica de São Pedro e faz uma homilia sobre as lágrimas. Começando por aquela "lágrima amarga" do apóstolo Pedro, que depois de ter negado o Mestre por três vezes no pátio da casa dos sumos sacerdotes, cruza por alguns instantes o olhar misericordioso de Jesus acorrentado e, diante do abraço do perdão, reconhece o seu pecado. Francisco fala a seus irmãos sacerdotes, na celebração dedicada especialmente a eles. Mas as suas palavras podem se estender e envolver a todos nós.

Diante das situações da vida, das posições de quem que não crê, de quem discute conosco, mas também diante das diferentes sensibilidades dos nossos irmãos na fé, quantas vezes brotam de nossos corações julgamentos desdenhosos e definitivos. Às vezes, julgamentos de zombaria, não muito diferentes daqueles que ecoaram aos pés da cruz. Basta olharmos primeiro "para dentro de casa" para percebermos esse risco. Basta olhar, mesmo que de forma distraída, para o mundo da mídia social e dos blogs que se dizem cristãos para perceber que o contratestemunho evangélico passa pela atitude daqueles que se dedicam à divisão, à oposição e à ridicularização daqueles cujo único defeito é pensar de forma diferente. Ampliando nosso olhar, como podemos não pensar no oceano de ódio que é desencadeado e alimentado por guerras, terrorismo e violência que continuam a fazer vítimas inocentes?

Os cristãos são seguidores de um Deus feito Homem que nos pediu para amar até mesmo nossos inimigos. Um Deus que não precisa de nossos preconceitos e julgamentos desdenhosos sobre os outros, mas que se manifesta ao nos abraçar quando somos capazes de chorar e amar, quando nos permitimos ser atravessados pelo sofrimento dos outros, saindo das bolhas da indiferença, quando amamos quem está longe e oramos por ele, quando - em vez de recriminar - derramamos lágrimas por quem que está fora do que acreditamos ser o recinto dos justos, dos salvos, dos bons, daqueles que estão "bem", daqueles que acreditam que já sabem tudo e, portanto, não esperam por mais nada.

"As situações difíceis que vemos e vivemos, a falta de fé, o sofrimento que tocamos", disse Francisco aos sacerdotes, "em contato com um coração compungido, decididamente não suscitam a polêmica, mas a perseverança na misericórdia. Quanto precisamos de ser libertos de durezas e recriminações, de egoísmos e ambições, de rigidezes e insatisfações, para nos confiar e entregar a Deus, encontrando n’Ele uma paz que salva de toda a tempestade! Adoremos, intercedamos e choremos pelos outros: permitiremos assim que o Senhor realize maravilhas".

Na véspera da repetição do sacrifício do Gólgota, os cristãos, pecadores perdoados, aprendem com as lágrimas de Pedro a se reconhecerem como tais. E, abrindo-se ao amor gratuito e incondicional do Crucificado, aprendem a amar uns aos outros e, assim, a ser testemunhas da misericórdia em um mundo que não perdoa; testemunhas da unidade em um mundo dividido; testemunhas da paz em um mundo onde a violência e a guerra parecem prevalecer. Aprendem a ser testemunhas de uma esperança que não se baseia em suas próprias capacidades e habilidades, mas na certeza do que aconteceu na noite de Páscoa naquele túmulo de Jerusalém.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Isto é o que a Paixão de Jesus nos ensina

ArtMediaWorx | Obturador
Peter Cameron, OP postado em 29/03/24
A Paixão oferece um modelo de crescimento na santidade. As idas e vindas de Pilatos no Pretório – mencionadas sete vezes – simbolizam as hesitações e indecisões de todos em relação a Jesus.

Toda Sexta-feira Santa , os fiéis têm a oportunidade de ouvir a história da Paixão de Jesus proclamada no Evangelho de João. A Paixão oferece um modelo para crescer na santidade.

1
A CONVERSÃO OCORRE AO NÍVEL DO DESEJO

Não é por acaso que as primeiras palavras ditas por Jesus na história da Paixão são um eco das primeiras palavras ditas por Jesus no início do Evangelho de João. Na história da Paixão, Jesus diz a Judas e aos soldados: “A quem procurais?” (Jo 18,7) No início do Evangelho, Jesus pergunta aos discípulos de João Batista que se aproximaram dele: “O que procurais?” (Jo 1,38) Em ambos os casos, a resposta é a mesma: Jesus Cristo.

Por que Jesus faz esta pergunta? Porque a conversão ocorre sobretudo ao nível do desejo. Para abraçar o mistério da Paixão, devemos primeiro reconhecer que o nosso desejo mais profundo é seguir este homem que está disposto a morrer na cruz por amor aos homens.

O desejo é um dom que Deus concede ao crente para que ele conheça quem é Jesus e entenda o propósito da sua vida. Portanto, a questão mais importante é: desejo Deus o suficiente?

Uma freira que vivia com Santa Teresinha de Lisieux contou a história de uma conversa espiritual que a santa teve com outra irmã carmelita “que defendia excessivamente as reivindicações da justiça divina” em detrimento da infinita misericórdia de Deus. Quando Teresa chegou a um impasse na conversa, concluiu dizendo: “Minha irmã, se você quer a justiça de Deus, terá a justiça de Deus. A alma recebe exatamente o que espera de Deus.

2
NÃO SOMOS NADA LONGE DE DEUS

Ao longo do Evangelho, Jesus declara: Eu sou a Luz do mundo, sou o Pão da vida, sou o Bom Pastor, sou a Ressurreição e a Vida... E enquanto o Filho de Deus continua a afirmar isto “Eu sou sou" divino durante o seu interrogatório pelo sumo sacerdote, Simão Pedro, que está próximo, proclama publicamente: "Eu não sou!" A justaposição irônica de confissão e negação simboliza o aprisionamento de cada pessoa no pecado.

Santa Catarina de Sena dá este bom ensinamento:

Aqui está o remédio contra o medo: que as criaturas reconheçam que não somos nada por nós mesmas, que participamos constantemente do nada que é o pecado e que tudo o que temos vem de Deus. Uma vez que nos conhecemos, passamos a conhecer a bondade de Deus para conosco.

Isto é o que Simão Pedro fez. Embora tivesse cometido o mesmo pecado de Judas Iscariotes, Pedro não permitiu que a sua negação o mergulhasse no desespero. Quanto mais Pedro se dá conta do nada que está fora de Deus – eu não sou – mais ele tem sede do Tudo que só encontra em Jesus Cristo. Pedro inverte a sua tripla negação, proclamando três vezes a Jesus ressuscitado: «Tu sabes que eu te amo» (Jo 21,17).

3
INFLUENCIADOS PELO MUNDO, NÃO ACESSAMOS A VERDADE

Domínio público

A inclusão deliberada de São João de instruções detalhadas para as idas e vindas de Pôncio Pilatos no Pretório - indicadas sete vezes - simboliza a hesitação e a indecisão que todos demonstram em relação a Jesus.

A tentação de ser influenciado pelo mundo e pela própria visão das coisas impede o homem de aceder à Verdade. No entanto, Pilatos faz a pergunta: “O que é a verdade?” (Jo 18:38). Talvez esta pergunta não seja cínica, mas sincera, pois é também Pilatos quem proclama: «Eis o homem» (Jo 19, 5).

A tentação de pecar deve ser substituída pela convicção de que é Jesus quem dá a salvação

Jesus, o Homem, representa o homem Adão, imagem perfeita e sem pecado do Criador, colocado na terra para ser a fonte da vida e da perfeição humana. A exclamação de Pilatos proclama: «Vejam o que fizestes à natureza humana: torturada, injuriada, ridicularizada. Isto é o que o homem fez consigo mesmo. Este homem – que é Deus – assume tudo. A tentação de pecar deve ser substituída pela convicção de que é Jesus quem dá a salvação.

Pilatos também declara: “Aqui está o seu rei”, o que significa que ele destrona o homem, o centro do universo. A verdade preenche e transforma quem contempla o verdadeiro Rei, em vez de permanecer obstinadamente fechado nos próprios pensamentos e na visão das coisas.

4
SANTIDADE É SINÔNIMO DE PERTENCIMENTO

Na Sexta-Feira Santa, a Igreja une-se a Jesus na sua agonia. A raiz da palavra “agonia” é agon , que significa “assembléia” ou reunião de pessoas para uma disputa, julgamento, batalha ou luta, uma assembleia que aspira à vitória.

Quando, da cruz, Jesus ordena: “Eis a tua Mãe”, Cristo apresenta Maria como a personificação da Igreja. Jesus dá a sua Mãe aos homens para que estes, por sua vez, pertençam a Deus e aos outros. Como disse o Beato Guerric d'Igny:

«Como a Igreja da qual é símbolo, a Virgem é a mãe de todos aqueles que renascem para a vida. Sim, ela é a mãe da Vida, que dá vida a todos os homens.

5
BEM-VINDO A GRAÇA DO SOFRIMENTO

Um soldado enfia a lança no lado de Jesus. “A graça sempre entra por uma ferida” (J. Carron). O homem pode tentar limitar o sofrimento, mas não pode eliminá-lo. É tentando evitar o sofrimento a todo custo que o homem se encaminha para uma vida vazia: quem sempre evitou o sofrimento não compreende os outros; Ela se torna dura e egoísta.

O fenômeno da apatia não é tanto a indiferença, mas o ódio ao sofrimento e à sua natureza sagrada. “A degradação das almas consiste na apatia: na perda da capacidade de sofrer”, nas palavras de Bernanos. “Eles levantarão os olhos para Aquele a quem traspassaram” (Jo 19,37). É mantendo o olhar em Jesus trespassado na cruz que “a contemplação da miséria humana nos atrai para Deus” (Simone Weil).

“As chagas de Jesus nos oferecem uma escolha: ou nos condenamos com aqueles que infligiram as feridas e perfuraram seu lado, ou nos arrependemos e entramos no lado aberto de Cristo para habitar nele” ( São Tomás de Aquino ).

6
A PRESENÇA REAL DE JESUS NA HÓSTIA

Após a morte de Jesus na cruz, José de Arimateia foi buscar seu corpo. É o que todos os fiéis fazem na Sagrada Comunhão.

«A Eucaristia é a coisa mais real do mundo. É por isso que deve ser aceite sem reservas. Quando o homem for atormentado pela dúvida, pela angústia, pelos problemas da alma e da carne, em meio às piores perturbações da mente e da alma, ele será salvo. Não é quando tudo parece perdido que devemos abandonar a Hóstia; Pelo contrário, é quando tudo parece perdido que devemos alimentar-nos da Hóstia e confiar nas solenes promessas do Senhor” (François Mauriac).

7
VIGILÂNCIA CARDÍACA

“Estando próximo o sepulcro, depositaram ali Jesus” (Jo 19,42). O túmulo é um verdadeiro tabernáculo, um lugar de culto, porque «durante a permanência de Cristo no túmulo, a sua Pessoa divina continuou a cuidar da sua alma e do seu corpo» ( CIC 630 ).

Por mais miseráveis ​​e desesperadoras que fossem as circunstâncias da sua vida, a presença de Jesus Cristo no túmulo convida-nos à esperança . Pelo menos uma vez na vida, todos nós acreditamos que estávamos afundando ou chegando ao fundo do poço. “A ilusão de que tudo nos foi tirado de uma vez, o sentimento de total despossessão, é o sinal divino de que, pelo contrário, tudo apenas começou.” (Bernanos)

Esta morte enfrentada no túmulo de Cristo nos ensina como enfrentar a morte. “A vida de um ser humano se realiza através de uma sucessão de muitas mortes”, disse São Basílio, o Grande. Lembre-se: «Todos chegam ao túmulo cansados, tristes e decepcionados... mas fogem! (Mãe Elvira Petrozzi).

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A angústia de uma ausência. Meditações no Sábado Santo (2)

Nestas páginas, miniaturas retiradas do livro evangélico do início do século XIII preservado na abadia beneditina de Gros Sankt Martin em Colônia: a crucificação | 30Giorni

Revista 30Dias – 03/2006

Três meditações no Sábado Santo de Joseph Ratzinger

A angústia de uma ausência. Meditações no Sábado Santo

pelo Cardeal Joseph Ratzinger

SEGUNDA MEDITAÇÃO 

A ocultação de Deus neste mundo constitui o verdadeiro mistério do Sábado Santo, mistério já insinuado nas enigmáticas palavras segundo as quais Jesus “desceu ao inferno”. Ao mesmo tempo, a experiência do nosso tempo ofereceu-nos uma abordagem completamente nova do Sábado Santo, desde a ocultação de Deus no mundo que lhe pertence e que deveria anunciar o seu nome em mil línguas, a experiência da impotência de Deus que ele é, no entanto, o todo-poderoso – esta é a experiência e a miséria do nosso tempo. Mas mesmo que o Sábado Santo tenha chegado assim profundamente perto de nós, mesmo que compreendamos o Deus do Sábado Santo mais do que a poderosa manifestação de Deus no meio dos trovões e dos relâmpagos, de que fala o Antigo Testamento, a questão ainda permanece sem solução para sabemos o que realmente significa quando se diz de forma misteriosa que Jesus “desceu ao inferno”. Digamos isso com muita clareza: ninguém consegue realmente explicar. Nem fica mais claro dizer que inferno aqui é uma má tradução da palavra hebraica shêol, que indica simplesmente todo o reino dos mortos e, portanto, a fórmula originalmente significaria apenas que Jesus desceu às profundezas da morte, realmente morreu e participou do abismo do nosso destino de morte. Na verdade, surge então a questão: o que é realmente a morte e o que realmente acontece quando alguém desce às profundezas da morte? Aqui devemos atentar para o fato de que a morte não é mais a mesma coisa depois que Cristo a sofreu, depois que ele a aceitou e penetrou, assim como a vida, o ser humano, não é mais a mesma coisa depois que em Cristo a natureza humana poderia entrar em contato, e de fato entrou, com o próprio ser de Deus. Antes, a morte era apenas morte, separação da terra dos vivos e, embora com profundidades diferentes, algo como "inferno", lado noturno da existência, escuridão impenetrável. Agora, porém, a morte é também vida e quando atravessamos a solidão gelada do limiar da morte, reencontramo-nos sempre com Aquele que é a vida, que quis tornar-se companheiro da nossa solidão última e que, na solidão mortal da sua angústia no jardim das oliveiras e o seu grito na cruz «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?», tornou-se participante das nossas solidões. Se uma criança se aventurasse sozinha numa noite escura através de uma floresta, ela ficaria com medo, mesmo que lhe fosse mostrado centenas de vezes que não há perigo. Ele não tem medo de algo específico, que pode receber um nome, mas na escuridão experimenta a insegurança, a condição de órfão, o caráter sinistro da própria existência. Somente uma voz humana poderia consolá-lo; só a mão de um ente querido poderia afugentar a angústia como um pesadelo. Há uma angústia – a verdadeira, aninhada nas profundezas da nossa solidão – que não pode ser superada pela razão, mas apenas com a presença de uma pessoa que nos ama. Na verdade, esta angústia não tem um objeto ao qual possamos dar um nome, mas é apenas a expressão terrível da nossa solidão última. Quem nunca sentiu a sensação assustadora desta condição de abandono? Quem não sentiria o santo e consolador milagre suscitado nestas circunstâncias por uma palavra de carinho? Porém, onde há tal solidão que não pode mais ser alcançada pela palavra transformadora do amor, então falamos de inferno. E sabemos que muitos homens do nosso tempo, aparentemente tão optimistas, são de opinião que todo o encontro permanece na superfície, que nenhum homem tem acesso à profundidade última e verdadeira do outro e que, portanto, nas profundezas últimas em toda existência reside o desespero, ou melhor, o inferno. Jean-Paul Sartre expressou-o poeticamente numa das suas peças e ao mesmo tempo expôs o núcleo da sua doutrina sobre o homem. Uma coisa é certa: há uma noite em cujo abandono escuro não penetram palavras de conforto, uma porta pela qual devemos passar na solidão absoluta: a porta da morte. Toda a angústia deste mundo é, em última análise, a angústia causada por esta solidão. Por esta razão, no Antigo Testamento o termo para indicar o reino dos mortos era idêntico ao usado para indicar o inferno: shêol . Na verdade, a morte é uma solidão absoluta. Mas aquela solidão que não pode mais ser iluminada pelo amor, que é tão profunda que o amor não consegue mais acessá-la, é o inferno.

“Desceu ao inferno”: esta confissão do Sábado Santo significa que Cristo atravessou a porta da solidão, que desceu às profundezas inatingíveis e intransponíveis da nossa condição de solidão. Isto significa, porém, que mesmo na última noite em que nenhuma palavra penetra, em que somos todos como crianças afugentadas, chorando, há uma voz que nos chama, uma mão que nos segura e nos conduz. A solidão intransponível do homem foi superada a partir do momento em que Ele se encontrou nela. O inferno foi conquistado a partir do momento em que o amor também entrou na região da morte e a terra de ninguém da solidão foi habitada por ele. Na sua profundidade o homem não vive de pão, mas na autenticidade do seu ser vive do facto de ser amado e de poder amar. A partir do momento em que a presença do amor se dá no espaço da morte, a vida penetra na morte: aos teus fiéis, ó Senhor, a vida não é tirada, mas transformada – a Igreja reza na liturgia fúnebre.

Em última análise, ninguém pode medir o significado destas palavras: “desceu ao inferno”. Mas se nos for permitido aproximar-nos da hora da nossa solidão final, seremos capazes de compreender algo da grande clareza deste mistério sombrio. Na esperança certa de que naquela hora de extrema solidão não estaremos sozinhos, já podemos prever algo do que acontecerá. E no meio do nosso protesto contra as trevas da morte de Deus, começamos a ficar gratos pela luz que vem até nós precisamente destas trevas.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Via-Sacra no Coliseu: as meditações de Francisco

Papa Francisco no Coliseu - arquivo (Vatican Media)

Nas meditações da Via Sacra, pensadas no Ano da Oração, Francisco propõe uma conversa face a face com Jesus e, nas quatorze estações, convida todos a se questionarem, olhando para si mesmos e para a própria consciência, mas também lançando um olhar para o mundo contemporâneo e suas distorções.

Tiziana Campisi – Vatican News

É um diálogo com Jesus que o Papa Francisco desenvolve nas meditações da Via-Sacra da Sexta-feira Santa no Coliseu, uma conversa face a face com Cristo, feita de reflexões, interrogações, introspecções, confissões, invocações. Uma longa oração íntima que, neste Ano da Oração, prelúdio do Jubileu, deixa o coração humano falar. Nas quatorze estações, os sofrimentos de Jesus a caminho do Gólgota, os encontros ao longo da Via Dolorosa, o olhar amoroso de Maria que, sob a Cruz, torna-se Mãe de todos os homens, as mulheres capazes de gestos ternos e corajosos nos momentos mais dramáticos, o Cireneu pronto para oferecer sua ajuda ao nazareno condenado à morte, José de Arimateia que oferece aquele sepulcro onde Deus derrotará a morte, provocam um exame de consciência que depois se torna oração, com uma invocação final que repete o nome de Jesus quatorze vezes.

O Papa introduz a Via-Sacra, enfatizando que a oração caracterizou cada um dos dias de Jesus, com diferentes nuances: como uma conversa com Deus, "luta e pedido, 'Afasta de mim este cálice'", "entrega e dom, 'Mas não o que eu quero, mas o que tu queres'". Diante, então, do medo da morte e da "angústia sob o peso do nosso pecado", essa oração se tornou mais intensa e "a veemência da dor" se tornou "uma oferta de amor" pela humanidade.

O silêncio de Jesus

Na primeira estação o que nos faz refletir é o silêncio de Jesus diante do "falso julgamento" que o condenou, um silêncio fecundo que "é oração, é mansidão, é perdão, é o caminho para redimir o mal", para converter o que foi sofrido em dom oferecido, explica Francisco. Um silêncio que o homem de hoje não conhece, porque não encontra tempo para parar e permanecer com Deus e "deixar agir a sua Palavra", mas que "sacode", porque ensina que a oração nasce "de um coração que sabe escutar".

A cruz com a qual Cristo é carregado (segunda estação), por outro lado, lembra experiências que todos nós também vivemos: dores, tristezas, decepções, feridas, fracassos, cruzes que também carregamos. "Jesus, como se faz para rezar ali?", pergunta o Papa, dando voz a um pedido comum: como você reza quando se sente esmagado pela vida? Cristo nos convida a nos aproximarmos dele, se estivermos cansados e oprimidos, para nos dar descanso, mas nós ponderamos, cismamos, nos afundamos na vitimização, e então Ele "vem ao nosso encontro", carregando nossas cruzes nos ombros, "para tirar o nosso peso". No entanto, Jesus cai (terceira estação), mas tem a força para se levantar novamente; a mola que o empurra para frente é o amor, enfatiza Francisco, "porque quem ama não fica no chão, começa de novo; quem ama não se cansa, corre; quem ama voa".

Maria, mãe de Jesus, dom para a humanidade

Depois da Eucaristia, Cristo nos dá "Maria, o dom supremo antes de morrer", escreve o Papa meditando sobre a quarta estação. Jesus no caminho para o Calvário e sua Mãe: um encontro que evoca cuidado e ternura, e que nos impele a recorrer a ela, a Maria - Mãe que Deus dá a todos os homens - para poder "preservar a graça", "recordar o perdão e as maravilhas de Deus", "saborear novamente as maravilhas da providência" e "chorar de gratidão". O Cireneu que ajuda Jesus a carregar a cruz (quinta estação), por outro lado, leva-nos a refletir sobre a presunção de fazer tudo sozinho "diante dos desafios da vida". "Como é difícil pedir uma mão, com medo de dar a impressão de não estar à altura, nós que sempre temos o cuidado de parecer bem e de se colocar em evidência! Não é fácil confiar, menos ainda de se confiar". Quem reza, porém, "sabe que está em necessidade", observa Francisco, e Jesus, que na oração sempre se confia, não despreza a ajuda do Cireneu, cujo gesto ensina "que amar significa ajudar os outros ali mesmo, nas fraquezas das quais se envergonham".

A coragem da compaixão

Entre a multidão que testemunha o "espetáculo bárbaro" da execução do Nazareno, há também aqueles que emitem "julgamentos e condenações", lançando sobre ele "infâmia e desprezo", sem conhecê-lo "e sem conhecer a verdade". "Isso acontece ainda hoje, Senhor", reconhece Francisco, "basta um teclado para insultar e publicar julgamentos", mas em Jerusalém, enquanto "muitos estão gritando e julgando" Jesus, surge uma mulher que "não fala: age. Ela não reclama: ela se compadece. Ela vai contracorrente: sozinha, com a coragem da compaixão, ela se arrisca por amor, encontra uma maneira de passar entre os soldados só para lhe dar o conforto de uma carícia no rosto". Um gesto de consolação, o de Verônica (sexta estação), que passa para a história e que nos coloca diante de Cristo, "amor não amado", que ainda hoje procura "entre a multidão corações sensíveis" ao seu sofrimento e à sua dor, "verdadeiros adoradores, em espírito e verdade". Mas "a cruz pesa, carrega o fardo da derrota, do fracasso, da humilhação".

Então Jesus cai pela segunda vez (sétima estação), e nos vemos nele novamente quando somos esmagados pelas coisas, visados pela vida, incompreendidos pelos outros, comprimidos "nas garras da ansiedade" e assaltados pela melancolia, achamos que não podemos nos levantar, ou quando caímos novamente em nossos erros e pecados, quando somos escandalizados pelos outros e depois percebemos que não somos diferentes. Mas com Jesus, "a esperança nunca acaba, e depois de cada queda nos levantamos novamente", porque Deus espera e perdoa, sempre, mesmo se caímos muitas vezes. "Lembre-me de que as quedas podem se tornar momentos cruciais do caminho, porque elas me levam a entender a única coisa que conta: que eu preciso de ti, Jesus", é a oração do Papa, porque a vida recomeça com o perdão de Deus.

Reconhecer a grandeza das mulheres

Jesus encontra as mulheres de Jerusalém (oitava estação) e, para Francisco, é o motivo para exortar "a reconhecer a grandeza das mulheres, aquelas que na Páscoa foram fiéis e próximas" a Cristo, "mas que ainda hoje são descartadas, sofrendo ultrajes e violências". O choro delas nos faz perguntar se sabemos nos comover diante de Jesus, crucificado por nós, se choramos nossas falsidades, ou diante das tragédias, "da loucura da guerra, dos rostos das crianças que não sabem mais sorrir, das mães que as veem desnutridas e famintas e não têm mais lágrimas para derramar".

E contemplando Cristo despojado de suas vestes (nona estação), o convite do Papa é para ver Deus feito homem "nos sofredores", "naqueles despojados de sua dignidade, nos cristãos humilhados pela prepotência e pela injustiça, pelos ganhos iníquos obtidos na pele de outros na indiferença geral" e a despojar-se "de tantas aparências exteriores". Na cruz, então, "enquanto a dor física é mais atroz", perdoando aqueles que "estão cravando pregos em seus pulsos" (10ª estação), Jesus nos ensina que podemos "encontrar a coragem de escolher o perdão, que liberta o coração e relança a vida" e nos revela "a altura da oração de intercessão, que salva o mundo".

O amor não fica sem resposta

No momento mais sombrio e extremo em que Jesus grita seu abandono (11ª estação), qual é o ensinamento a ser guardado? "Nas tempestades da vida: em vez de se calar e se conter, gritar" a Deus, sugere Francisco, que na décima segunda estação se detém no ladrão que se confia a Cristo, que lhe promete o Paraíso, tornando assim "a cruz, emblema da tortura, o ícone do amor", transformando "a escuridão em luz, a separação em comunhão, a dor em dança, e até mesmo o túmulo, a última estação da vida, no ponto de partida da esperança". Maria, que em seus braços acolhe Jesus morto (13ª estação), nos ajuda a dizer sim a Deus, ela que, "forte na fé", acredita "que a dor, atravessada pelo amor, produz frutos de salvação; que o sofrimento com Deus não tem a última palavra" e, enfim, José de Arimatéia, que toma a custódia do corpo de Jesus para dar-lhe uma digna sepultura (14ª estação) nos mostra que "cada dom feito a Deus recebe uma recompensa maior", "que o amor não fica sem resposta, mas dá novos começos", que dando se recebe, "porque a vida se encontra quando é pedida e se possui quando é doada”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt.html

São Raimundo Lúlio

São Raimundo Lúlio (A12)
29 de março
São Raimundo Lúlio

Raimundo Lúlio ou Raimundo Lulo (em Catalão, Ramon Llull) nasceu em Palma de Maiorca, na época Ciudad de Majorca, capital do reino, reino vassalo de Aragão (atualmente, capital da comunidade autônoma das Ilhas Baleares no Mar Mediterrâneo, pertencente à Espanha), no final de 1232 ou início de 1233. Isto foi pouco depois da conquista de Maiorca pelo rei Jaime I de Aragão, e o local sofreu assim forte influência catalã (região do nordeste espanhol que até hoje mantém cultura e língua próprias).

Sua família era cristã e de boa condição financeira, influente, e por isso foi enviada às ilhas para ajudar na sua cristianização, pois o arquipélago era então habitado principalmente por árabes e judeus. Raimundo cresceu assim numa condição de cultura mista.

Frequentava a corte de Jaime I e, aos 22 anos, como trovador da corte de Jaime II e seu menescal (isto é, chefe administrativo), casou-se com Blanca Picany, com quem teve dois filhos, Domenéc e Magdalena. Segundo ele mesmo, era uma vida frívola, vazia e libertina. Contudo, em 1263, após uma experiência mística, converteu-se verdadeiramente ao Catolicismo, e entrou como leigo para a Ordem Terceira de São Francisco. Dedicou-se à contemplação e ao estudo de línguas estrangeiras e teologia, com o objetivo de trabalhar para a conversão dos judeus e dos árabes. Em 1275, deixou a família para se dedicar a este serviço.

Neste seu empenho, desenvolveu uma vasta obra com grandes méritos em termos literários, linguísticos, técnicos, filosóficos, lógicos, teológicos, matemáticos, exegéticos, apologéticos: por exemplo, foi o primeiro autor a utilizar uma língua neolatina – o Catalão – para expressar conhecimentos científicos e filosóficos, e, assim como Dante é considerado o fundador do italiano padrão, ele o é do Catalão moderno, particularmente por conta do livro Blanquerna, possivelmente o primeiro romance europeu conhecido, publicado em 1270. Mas além disso, grande parte dos seus 280 escritos o foram em Árabe, e ainda muitos em Latim e Occitano (ou Langue d'Oc, o dialeto de origem românica mais falado no sul da França e regiões próximas, e que sucumbiu ao uso internacional do Francês moderno, o Langue d'Oui, onde a palavra “sim” é oui e não oc).

Desenvolveu métodos argumentativos com base em sistemas de escolhas que antecedem os trabalhos de Borda (em 1770) e Condorcet (também do século XVIII) – respectivamente, a metodologia na qual candidatos (ou ideias, etc.) são ordenados segundo as preferências de cada eleitor de acordo com uma contagem, e os métodos “de paridade”, onde são comparadas de cada vez, sucessivamente, apenas duas opções, ganhando uma delas sequencialmente até um possível vencedor. Outros métodos seus de argumentação: o das “razões necessárias” (para O Livro do Gentio e dos Três Sábios, 1274-1276), o da automatização do pensamento, e o da combinação de atributos religiosos e filosóficos selecionados de várias origens (para Ars Generalis Ultima ou Ars Magna, "Grande Arte", de 1305). O objetivo era sempre expor a Fé Católica de modo a argumentar com os que não a conheciam bem.

Para além do conteúdo religioso destas obras, seus métodos de raciocínio também influenciaram matemáticos e lógicos posteriores, como Gottfried Leibniz (pelo que Raimundo é reconhecido como um pioneiro da teoria computacional) e Giordano Bruno. Pode-se assim falar de um “sistema de Llullo” ou “llullismo”, que seria uma forma aprimorada de retórica e lógica, onde os argumentos de um debatedor eram desmontandos e remontados.

Por ser o mais importante filósofo, poeta, escritor, teólogo e missionário da língua catalã, e um destaque na literatura e religiosidade da Idade Média, Raimundo ficou conhecido como Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), embora não seja um dos 36 Doutores da Igreja Católica.


Algumas das suas obras mais importantes são: Livro da Ordem de Cavalaria (sobre ética cristã, c.1274-1276), , O Livro do Gentio e dos Três Sábios (1274-1276), O Livro das Bestas (c. 1289-1294), O Livro do Amigo e do Amado, Escritos Antiaverroitas (sobre as interpretações do filósofo islâmico Averroes sobre Aristóteles, 1309-1311), Vida Coetânea (1311), O Livro da Lamentação da Filosofia (1311), Do Nascimento do Menino Jesus, O Livro dos Mil Provérbios e Félix, Ou o Livro das Maravilhas.

Em 1314, já muito idoso, Raimundo viajou para o norte da África. Os reis de Sicília e Aragão haviam recebido falsas informações, repassadas a ele, de que o governante de Túnis desejava conhecer o Catolicismo. Ao pregar o Evangelho, foi apedrejado por muçulmanos nesta cidade, e mercadores genoveses o embarcaram de volta a Maiorca; mas não resistiu aos ferimentos. A data do seu falecimento é usualmente referida como 29 de junho de 1315, mas seus últimos escritos, de dezembro deste ano, e outras pesquisas sugerem que ocorreu ela no primeiro trimestre de 1316.

Raimundo Lúlio é considerado mártir da Ordem Terceira Franciscana.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Grande é a obra de São Raimundo Lúlio, que reconhecendo o valor do estudo, em várias áreas, o utilizou para o bem, buscando a conversão dos árabes e judeus com quem convivia desde a infância. Verdade é que não todos serão eruditos, mas ao menos pelo exemplo o nosso apostolado, na vivência verdadeira da Fé, deve ser caminho para levar a Palavra de Deus aos irmãos, dentro e fora da Igreja. Isto, naturalmente, pressupõe um mínimo de conhecimento da sã Doutrina, o qual sempre pode e deve ser cultivado. Por outro lado, não é possível esperar que Deus providencia uma experiência mística especial, como aconteceu com São Raimundo, para levarmos a sério a nossa formação católica: na Sua misericórdia, o Senhor ofereceu uma tal oportunidade a ele, que levava uma vida mundana na corte, mas não é este o caminho usual para todos. De resto, muitas e muitas são as diferentes oportunidades, sejam mais ou menos místicas, que o Pai oferece a nós, Seus filhos, para a nossa conversão diária: fundamental é o mérito de reconhecê-las e aceitá-las.

Oração:

Senhor Deus de infinita sabedoria e conhecimento, concedei-nos, por intercessão de São Raimundo Lúlio, abandonarmos os vazios nesta vida, aprendendo como ele a falar a língua universal do Vosso amor e caridade, para, acatando a ordem primeira da Vossa vontade, levarmos aos irmãos não as falsas notícias, mas a Boa Nova da Vossa redenção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 28 de março de 2024

Papa lava os pés de 12 detentas de prisão feminina de Roma, em meio a muita comoção

Papa lava os pés de 12 detentas (Vatican Media

Com humildade e ternura, Francisco imitou Jesus durante a Ceia do Senhor e lavou e beijou os pés de 12 mulheres que cumprem pena na Penitenciária Feminina de Rebibbia, em Roma. Algumas estavam visivelmente emocionadas em ver o líder da Igreja Católica repetir o gesto de Cristo com elas. Elas tinham entre 40 e 50 anos e eram provenientes de 8 países. "É um gesto que chama a atenção para a vocação do serviço. Peçamos ao Senhor que nos faça crescer na vocação do serviço", disse o Papa.

https://youtu.be/QyMOiaVTHBc

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco, na tarde desta Quinta-feira Santa (28), foi saudado por muitas detentas e funcionários no início da sua visita à Penitenciária Feminina de Rebibbia, em Roma, que atende 360 mulheres e uma criança. Em outra ocasião, em 2015, o Pontífice esteve na setor masculino para a mesma celebração. A missa da Ceia do Senhor abre o Tríduo Pascal, que recorda a Paixão, Morte e Ressureição de Cristo, culminando na celebração do Domingo de Páscoa.

A chegada do Papa no local da visita (Vatican Media)

Na homilia, feita sem texto escrito, como é de costume, o Papa falou improvisamente algumas palavras sobre dois episódios importantes durante a Ceia do Senhor. Francisco chamou a atenção das cerca de 200 pessoas presentes na celebração, primeiro para a cerimônia do Lava-pés, quando Jesus se humilhou, fazendo entender que "veio para servir", ensinando "o caminho do serviço". O outro episódio - triste - foi a traição de Judas, incapaz de amar, revelando o que de ruim podem fazer o dinheiro e o egoismo. Mas Francisco recordou:

"Mas Jesus perdoa tudo. Jesus perdoa sempre. Só pede que nós peçamos o perdão. Certa vez, ouvi uma velhinha, sábia, uma velhinha avó, do povo... Ela disse assim: 'Jesus jamais se cansa de perdoar: somos nós que nos cansamos de pedir perdão'. Peçamos hoje ao Senhor a graça de não nos cansarmos. Sempre, todos nós temos pequenos fracassos, grandes fracassos - cada um tem a sua própria história. Mas o Senhor espera sempre por nós, de braços abertos, e jamais se cansa de perdoar."

“Agora faremos o mesmo que Jesus fez: lavar os pés. É um gesto que chama a atenção para a vocação do serviço. Peçamos ao Senhor que nos faça crescer, todos nós, na vocação do serviço.”

Foi durante a celebração eucarística que o Pontífice lavou os pés de algumas mulheres, imitando o gesto de Jesus durante a Ceia do Senhor, ao lavar os pés dos discípulos, em sinal de serviço e doação ao próximo. Com humildade e ternura, Francisco se dirigiu até um grupo - todo feminino - posicionado em uma altura capaz do Papa chegar com a sua cadeira de rodas. O Papa lavou e beijou os pés de 12 detentas, algumas visivelmente emocionadas e comovidas em ver o líder da Igreja Católica repetir o gesto de Jesus com elas. As mulheres tinham entre 40 e 50 anos e eram provenientes da Bulgária, Nigéria, Ucrânia, Rússia, Peru, Venezuela, Bósnia-Herzegovina e da própria Itália. Ao final do rito do Lava-pés, o sentimento das detentas era de muita gratidão.

O grupo de detentas provenientes de 8 países (Vatican Media)

Já ao final da celebração e as palavras da diretora de agradecimento ao Papa pela visita, ao dizer "não um, mas tantos 'obrigados'", o Pontífice recebeu alguns presentes das detentas. Entre eles, um grande cesto com produtos agrícolas cultivados pelas próprias mulheres na horta dentro da prisão e um terço, feito de crochê e pérolas, produzido na oficina de colares. Da parte de Francisco, um quadro de Nossa Senhora com Jesus nos braços. A visita terminou com a saudação individual do Papa às detentas.

Os produtos agrícolas presenteados ao Papa, da horta de dentro da prisão (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF