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domingo, 31 de março de 2024

O Ressuscitado vive entre nós e ilumina a Criação inteira!

Cristo Ressuscitado | Glória

O RESSUSCITADO VIVE ENTRE NÓS E ILUMINA A CRIAÇÃO INTEIRA!

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)  

Na vivência integral da Páscoa entendemos por que Dom Gueranguer afirmava categoricamente que o cristão era um Aleluia dos pés à cabeça. Entendemos por que Mariategui chamava os cristãos de homens e mulheres da manhã. Sim porque Cristo o Sol da justiça ressuscitou e sua Luz esplendorosa banha e ilumina todas as criaturas e todas as coisas.  

Não estamos mais submetidos aos caprichos da morte ou da fortuna, romperam-se todas as cadeias que nos aprisionavam e nos deixavam inertes e paralisados. Cristo Ressuscitado nos chama para a verdadeira liberdade, para uma emancipação total e sem limitações. Instauram-se entre as pessoas novos relacionamentos, alicerçados na fraternidade e amizade selada com o Sangue do Cordeiro.  

Mas é importante destacar o que se escancara nos ícones bizantinos da Ressurreição, a natureza inteira vibra a vida nova e abundante da ressurreição. Como o Cristo da esperança que surge e emerge de toda a Criação como apreciamos na Sala Auditório São Paulo VI no Vaticano, percebemos a alegria e o gozo em todo ser vivo.  

Experimentar hoje a Páscoa é sentir-nos profundamente vivos e presentes, descobrindo a beleza inefável da graça e da luz que anima e colore todo o mundo sanando e esperançando todas as nossas angústias e buscas, fragilidades e paixões.  

Ao desejar-nos mutuamente a Páscoa compartilhamos sonhos e propósitos de transformação e renovação que aproximem e concretizem o Reino de paz, e fartura, de plenitude e equidade, que o Ressuscitado abre e prepara na Nova Jerusalém que já. Sejamos, pois, ardorosos e entusiastas mensageiros da Páscoa do Senhor, testemunhas do que vimos e ouvimos, amigos da luz e da terra renovada. Deus seja louvado!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa na Urbi et Orbi: a paz nunca é construída com armas, mas estendendo nossas mãos

Mensagem e Bênção "Urbi et Orbi" 31 de março de 2024 (Vatican Media)

"Jesus de Nazaré, o crucificado, ressuscitou!" Com essas palavras o Papa Francisco abriu sua mensagem e concedeu aos fiéis a Bênção Urbi et Orbi da sacada central da Basílica de São Pedro, neste Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor. Recordou os povos martirizados por conflitos e violência e pediu a paz para o mundo.

https://youtu.be/GHJrLGeaKc0

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Queridos irmãos e irmãs, Feliz Páscoa! Hoje ressoa em todo o mundo o anúncio que partiu de Jerusalém há dois mil anos: "Jesus de Nazaré, o crucificado, ressuscitou!"

Assim, o Papa Francisco saudou os milhares de fiéis presentes, na Praça São Pedro, tapeçada de flores e plantas coloridas, e também todas as pessoas no mundo, através dos meios de comunicação, que acompanharam a missa neste Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor (31/03), ouviram sua mensagem pascal e receberam a Benção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo inteiro).

Remover as pedras que fecham as esperanças

“A Igreja revive o espanto das mulheres que foram ao sepulcro na madrugada do primeiro dia da semana. O túmulo de Jesus tinha sido fechado com uma grande pedra; e assim, ainda hoje, pedras pesadas, demasiadamente pesadas, fecham as esperanças da humanidade: a pedra da guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos humanos, a pedra do tráfico de pessoas e outras.”

"O túmulo de Jesus está aberto e vazio! É aqui que tudo começa. Através desse túmulo vazio passa o novo caminho, o caminho que nenhum de nós, mas somente Deus, poderia abrir: o caminho da vida em meio à morte, o caminho da paz em meio à guerra, o caminho da reconciliação em meio ao ódio, o caminho da fraternidade em meio à inimizade", disse o Papa em sua mensagem.

Irmãos e irmãs, Jesus Cristo ressuscitou, e somente Ele é capaz de remover as pedras que fecham o caminho para a vida. De fato, Ele mesmo, o Vivente, é o Caminho: o Caminho da vida, da paz, da reconciliação, da fraternidade. Ele nos abre a passagem, algo humanamente impossível, porque somente Ele tira o pecado do mundo e perdoa os nossos pecados. E sem o perdão de Deus, essa pedra não pode ser removida.

"Sem o perdão dos pecados", disse ainda Francisco, "não se consegue sair dos fechamentos, dos preconceitos, das suspeitas mútuas e das presunções, que sempre levam a absolver a si mesmo e acusar os outros. Somente o Cristo Ressuscitado, ao dar-nos o perdão dos pecados, abre o caminho para um mundo renovado".

Paz para as populações atormentadas pela guerra

"Somente ele nos abre as portas da vida, aquelas portas que fechamos continuamente com as guerras que se alastram pelo mundo", disse o Papa, nos convidando a voltar o "nosso olhar, em primeiro lugar, para a Cidade Santa de Jerusalém, testemunha do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus, e para todas as comunidades cristãs da Terra Santa".

Meu pensamento se dirige, sobretudo, às vítimas dos muitos conflitos em andamento no mundo, começando pelos que ocorrem em Israel, na Palestina e na Ucrânia. Que o Cristo Ressuscitado abra um caminho de paz para as populações atormentadas dessas regiões. Ao mesmo tempo que convido a que sejam respeitados os princípios do direito internacional, espero que haja uma troca geral de todos os prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia: todos por todos!

“Além disso, faço novamente um apelo para que seja garantido o acesso da ajuda humanitária a Gaza e insisto, uma vez mais, na pronta libertação dos reféns sequestrados em 7 de outubro e em um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.”

Diálogo entre os povos

"Não permitamos que as hostilidades em andamento continuem afetando seriamente a população civil, já exausta, especialmente as crianças. Não permitamos que ventos de guerra cada vez mais fortes soprem sobre a Europa e o Mediterrâneo. Não nos rendamos à lógica das armas e do rearmamento. A paz nunca é construída com armas, mas estendendo nossas mãos e abrindo nossos corações", sublinhou o Pontífice.

A seguir, o Papa convidou a não nos esquecer da "Síria, que vem sofrendo as consequências de uma guerra longa e devastadora há quatorze anos. Tantos mortos, pessoas desaparecidas, tanta pobreza e destruição estão esperando por respostas de todos, inclusive da Comunidade internacional".

Voltou o seu olhar para "o Líbano, que há muito tempo vem sendo afetado por um bloqueio institucional e por uma profunda crise econômica e social, agora agravada pelas hostilidades na fronteira com Israel", "para a região dos Bálcãs Ocidentais, onde estão sendo dados passos significativos para a integração no projeto europeu", encorajou "o diálogo entre a Armênia e o Azerbaijão, para que, com o apoio da Comunidade internacional, se possa continuar o diálogo, ajudar os deslocados, respeitar os locais de culto das diferentes denominações religiosas e chegar a um acordo de paz definitivo o mais rápido possível".

Haiti e Continente africano

Francisco espera que "o Cristo Ressuscitado abra um caminho de esperança às pessoas que, em outras partes do mundo, sofrem com a violência, os conflitos, a insegurança alimentar e os efeitos das mudanças climáticas". Que Ele "conceda conforto às vítimas de todas as formas de terrorismo". O Pontífice convidou "a rezar pelos que perderam suas vidas" e implorou "arrependimento e conversão para os autores de tais crimes". O Papa pediu ao Senhor Ressuscitado para que "ajude o povo haitiano, a fim de que a violência, que derrama sangue e dilacera o País, possa cessar o mais rápido possível e que se possa progredir no caminho da democracia e da fraternidade", "dê conforto aos Rohingyas, afligidos por uma grave crise humanitária, e abra o caminho da reconciliação em Mianmar, dilacerado por anos de conflito interno, a fim de que toda lógica de violência seja definitivamente abandonada".

“Que Ele abra caminhos de paz no continente africano, especialmente para as populações provadas no Sudão e em toda a região do Sahel, no Chifre da África, na região de Kivu, na República Democrática do Congo, e na província de Cabo Delgado, em Moçambique, e ponha fim à prolongada situação de seca que afeta vastas áreas e causa fome e carestia.”

Em sua mensagem Urbi et Orbi, o Papa recordou também "os migrantes e aqueles que estão passando por dificuldades econômicas". Pediu ao Senhor para que "guie todas as pessoas de boa vontade a se unirem em solidariedade, para enfrentarem juntas os muitos desafios que as famílias mais pobres enfrentam em sua busca por uma vida melhor e pela felicidade".

Que a luz da ressurreição converta nossos corações

Neste dia em que celebramos a vida que nos foi dada na ressurreição de Cristo, Francisco recordou que "a preciosa dádiva da vida é desprezada! Quantas crianças não conseguem sequer ver a luz? Quantas morrem de fome, ou são privadas de cuidados essenciais, ou são vítimas de abuso e violência? Quantas vidas são mercantilizadas pelo crescente comércio de seres humanos?"

No dia em que Cristo nos libertou da escravidão da morte, exorto aqueles com responsabilidade política a não pouparem esforços no combate ao flagelo do tráfico humano, trabalhando incansavelmente para desmantelar suas redes de exploração e trazer liberdade àqueles que são suas vítimas. Que o Senhor console suas famílias, especialmente aquelas que aguardam ansiosamente notícias de seus entes queridos, assegurando-lhes conforto e esperança.

Francisco concluiu, pedindo "que a luz da ressurreição ilumine nossas mentes e converta nossos corações, conscientizando-nos do valor de toda vida humana, que deve ser acolhida, protegida e amada".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 30 de março de 2024

«Este é o meu sangue […], derramado pela multidão»

A Grandeza do Sangue de Cristo | Cléofas

«Este é o meu sangue […], derramado pela multidão»

2 de junho de 2021 JOÃO CRISÓSTOMOSOPHIA

Os amantes deste mundo demonstram a sua generosidade oferecendo-se dinheiro, vestes e presentes diversos; mas nenhum deles dá o seu sangue. Cristo, em contrapartida, é o seu sangue que dá, demonstrando assim a ternura que tem por nós e o ardor do seu afeto. Na antiga Lei, […] Deus aceitava o sangue dos sacrifícios, mas fazia-o para impedir o seu povo de o oferecer aos ídolos, o que já era uma prova de grande amor. Mas Cristo alterou este rito […]; a vítima já não é a mesma, pois é a Si próprio que Ele oferece em sacrifício.

«O pão que partimos não é a comunhão no corpo de Cristo?» (1Cor 10,16). […] O que é este pão? É o corpo de Cristo. Em que se tornam os que nele comungam? No corpo de Cristo; não passam a ser uma multiplicidade de corpos, mas um único corpo. Pois assim como o pão, constituído por muitos grãos de trigo, é um só pão onde os grãos desaparecem, assim como os grãos subsistem, mas é impossível distingui-los na massa, por estar muito bem unida, assim também nós, reunidos com Cristo, somos um todo. […] Ora, se participamos todos do mesmo pão e estamos todos unidos ao mesmo Cristo, porque é que não mostramos todos o mesmo amor? Porque não nos tornamos um só também nisso?

Era o que acontecia no princípio: «A multidão dos crentes tinha um só coração e uma só alma» (At 4,32). […] Cristo veio procurar-te, a ti, que estavas longe dele, para Se unir a ti; e tu não queres unir-te a teu irmão? […] Separas-te dele com violência depois de teres obtido do Senhor tão grande prova de amor, bem como a própria vida? Com efeito, Ele não Se limitou a dar o seu corpo; como a nossa carne, saída da terra, tinha perdido a vida a estava morta pelo pecado, introduziu nela, por assim dizer, outra substância, qual fermento: a sua própria carne, a sua carne da mesma natureza que a nossa, mas isenta de pecado e cheia de vida. E deu-no-la a todos, a fim de que, alimentados pelo banquete desta nova carne, […] possamos entrar na vida imortal.

São João Crisóstomo (c. 345-407)
Homilia sobre a 1.ª Carta aos Coríntios, 2; PG 61, 199
Fonte: Evangelho Cotidiano

https://ecclesia.org.br/

Papa Francisco: "Os mártires são o sinal de que estamos no caminho certo"

Papa Francisco: "Os mártires são sinais de que estamos no caminho certo" (Vatican Media)

Na mensagem de vídeo deste mês de março, Francisco recorda o testemunho e a dor de um homem muçulmano que ele conheceu ao visitar um campo de refugiados na ilha grega de Lesbos. A esposa dele era cristã e foi degolada por causa de sua fé.

Vatican News

Nas intenções de oração para o mês de março, o Papa Francisco convida a rezar pelos novos mártires, testemunhas de Cristo.

Na mensagem de vídeo, divulgada nesta terça-feira (27/02), o Pontífice conta "uma história que é um reflexo da Igreja de hoje. É a história de um testemunho de fé pouco conhecido". Francisco recorda o testemunho e a dor de um homem muçulmano que ele conheceu ao visitar um campo de refugiados na ilha grega de Lesbos. A esposa dele era cristã. O homem disse ao Papa: "Os terroristas chegaram ao nosso país, olharam-nos e perguntaram qual era a nossa religião. Viram a minha mulher com o crucifixo e disseram-lhe para o atirar ao chão. Ela não o fez e foi degolada na minha frente". "Histórico", diz o Papa no vídeo.

Sinal de que estamos no caminho certo

Sei que ele não tinha rancor. Centrava-se no exemplo de amor da sua esposa, um amor a Cristo que a levou a aceitar e ser leal até à morte. Irmãos, irmãs, sempre haverá mártires entre nós. É o sinal de que estamos no caminho certo.

"Uma pessoa entendida dizia-me que há mais mártires hoje do que no início do cristianismo", acrescenta Francisco, sublinhando como é atual o tema dos cristãos perseguidos e que dão a vida pela sua fé.

A vida das pessoas que se entregam como testemunhas de Cristo são histórias reais. A mensagem de vídeo do mês de março, tem o apoio da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), uma organização caritativa católica internacional e fundação pontifícia cuja missão é ajudar os fiéis, onde quer que estejam sendo perseguidos, oprimidos ou em situação de carência, através da informação, oração e ação.

O testemunho dos mártires é uma bênção para todos

Apenas em 2023, chegaram à Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) denúncias em 40 países de pessoas assassinadas ou sequestradas por causa da sua fé. A Nigéria tornou-se o país com o maior número de assassinatos; no Paquistão, na Diocese de Faisalabad, as igrejas e as casas dos cristãos de Jaranwala foram atacadas; e em Burkina Faso, os católicos de Débé foram expulsos de sua aldeia apenas por causa da sua fé. Isto para mencionar alguns exemplos.

A coragem dos mártires, o testemunho dos mártires, é uma bênção para todos. Rezemos para que aqueles que em várias partes do mundo arriscam a vida pelo Evangelho contagiem a Igreja com a sua coragem e o seu impulso missionário. E abertos à graça do martírio.

Neste contexto, a presidente executiva da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, Regina Lynch, afirma: "A liberdade religiosa, reconhecida na Declaração Universal dos Direitos Humanos, é um direito inalienável e nenhum cristão deve perder a vida por a exercer. É fundamental garantir o direito de praticar a sua fé como parte da dignidade de todos os seres humanos". Nesse sentido, ela diz que a intenção de Francisco neste mês é "muito importante para encorajar a oração pelas vítimas de perseguição, bem como para defender aqueles que sofrem discriminação por causa da sua fé. Para além disso, temos de envolver os políticos na defesa dos direitos dos mais vulneráveis".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A angústia de uma ausência. Meditações no Sábado Santo (3)

Nestas páginas, miniaturas retiradas do livro evangélico do início do século XIII preservado na abadia beneditina de Gros Sankt Martin em Colônia: o enterro | 30Giorni

Revista 30Dias – 03/2006

Três meditações no Sábado Santo de Joseph Ratzinger

A angústia de uma ausência. Meditações no Sábado Santo

pelo Cardeal Joseph Ratzinger

TERCEIRA MEDITAÇÃO 

No breviário romano a liturgia do tríduo sagrado é estruturada com particular cuidado; a Igreja, na sua oração, quer, por assim dizer, transferir-nos para a realidade da paixão do Senhor e, para além das palavras, para o centro espiritual de tudo o que aconteceu. Se quiséssemos tentar realçar em poucas palavras a liturgia orante do Sábado Santo, precisaríamos sobretudo falar do efeito de paz profunda que dela transpira. Cristo penetrou no oculto ( Verborgenheit ), mas ao mesmo tempo, bem no coração das trevas impenetráveis, penetrou na segurança ( Geborgenheit ), na verdade tornou-se a segurança última. Agora as ousadas palavras do salmista tornaram-se realidade: e mesmo que eu quisesse me esconder no inferno, você também está lá. E quanto mais acompanhamos esta liturgia, mais vemos brilhar nela as primeiras luzes da Páscoa, como o amanhecer. Se a Sexta-Feira Santa coloca diante dos nossos olhos a figura desfigurada do trespassado, a liturgia do Sábado Santo refere-se antes à imagem da cruz, cara à Igreja antiga: a cruz rodeada de raios luminosos, sinal, da mesma forma, de morte e ressurreição. 

O Sábado Santo recorda-nos assim um aspecto da piedade cristã que talvez se tenha perdido ao longo do tempo. Quando olhamos para a cruz em oração, muitas vezes vemos nela apenas um sinal da paixão histórica do Senhor no Gólgota. A origem da devoção à cruz, porém, é diferente: os cristãos rezavam voltados para o Oriente para expressar a sua esperança de que Cristo, o verdadeiro sol, nasceria ao longo da história, para, portanto, expressar a sua fé no regresso do Senhor. A cruz está inicialmente intimamente ligada a esta orientação da oração, é representada, por assim dizer, como uma insígnia que o rei levantará na sua vinda; na imagem da cruz a vanguarda da procissão já chegou entre os que rezam. Para o cristianismo antigo, a cruz é, portanto, antes de tudo, um sinal de esperança. Não implica tanto uma referência ao Senhor passado, mas ao Senhor que está por vir. Claro que era impossível escapar à necessidade intrínseca de que, com o passar do tempo, o olhar se voltasse também para o acontecimento ocorrido: contra qualquer fuga para o espiritual, contra qualquer reconhecimento errado da encarnação de Deus, da prodigalidade inimaginável do amor teve que ser defendido por Deus que, por amor da miserável criatura humana, ele próprio se tornou homem, e que homem! Foi necessário defender a santa loucura do amor de Deus que não escolheu pronunciar uma palavra de poder, mas trilhar o caminho da impotência para pelourinho o nosso sonho de poder e conquistá-lo por dentro.

Mas não nos esquecemos um pouco da ligação entre a cruz e a esperança, a unidade entre o Oriente e a direção da cruz, entre o passado e o futuro existente no Cristianismo? O espírito de esperança que respira nas orações do Sábado Santo deve penetrar mais uma vez em todo o nosso ser cristão. O Cristianismo não é apenas uma religião do passado, mas, em não menor grau, do futuro; a sua fé é ao mesmo tempo esperança, porque Cristo não é apenas o morto e o ressuscitado, mas também aquele que está para vir.

Ó Senhor, ilumina as nossas almas com este mistério de esperança para que reconheçamos a luz que irradia da tua cruz, concede-nos que como cristãos possamos prosseguir para o futuro, para o dia da tua vinda.
Amém.

Nestas páginas, miniaturas retiradas do livro evangélico do início do século XIII preservado na abadia beneditina de Gros Sankt Martin em Colônia: a ressurreição | 30Giorni

ORAÇÃO:

"Senhor Jesus Cristo, nas trevas da morte iluminaste; no abismo da mais profunda solidão a poderosa proteção do Teu amor agora habita para sempre; no meio do Teu esconderijo podemos agora cantar o aleluia dos salvos. Concede-nos a humilde simplicidade da fé, que não se deixa enganar quando Tu nos chamas nas horas de escuridão, de abandono, quando tudo parece parecer problemático; concede-nos, neste tempo em que se trava uma luta mortal ao teu redor, luz suficiente para não te perder; luz suficiente para que possamos dá-la a quem ainda mais precisa. Fazei brilhar o mistério da Vossa alegria pascal, como a aurora da manhã, em nossos dias; concede-nos ser verdadeiramente homens pascais em meio ao Sábado Santo da história. Conceda que durante os dias claros e sombrios deste tempo possamos sempre, com espírito alegre, encontrar-nos no caminho para a Tua glória futura. Amém!"

Fonte: https://www.30giorni.it/

Sábado Santo, o dia do grande silêncio

Papa Francisco na Vigília Pascal de 2023, na Basílica de São Pedro (Vatican Media)

O Sábado Santo marca o intervalo entre a dor pela morte de Jesus e a alegria de sua ressurreição. Nesse dia, os fiéis são convidados a refletir e esperar, seguindo o exemplo de Maria, a mãe de Jesus, enquanto também recordam a perplexidade dos apóstolos diante da morte de Cristo. Os protagonistas são o silêncio, a introspecção e a meditação.

Thulio Fonseca - Vatican News

O Sábado Santo, definido pelos padres da Igreja como "o mais longo dos dias", nos convida a uma espera silenciosa, para reviver a consternação dos apóstolos após a morte de Jesus. A reforma litúrgica de Pio XII "restaurou" o Sábado Santo como dia de silêncio e espera, no qual todo cristão, ainda hoje, medita sobre a morte de Jesus e sobre o inevitável fim da vida terrena. Neste dia, a fé é posta à prova, pois o Messias está morto e ninguém sabe o que irá acontecer; só podemos viver na expectativa de que o vazio que se sente seja preenchido.

Cristo está agindo

Apesar do aparente silêncio, Cristo está agindo. Segundo uma antiga tradição, de fato, neste dia Jesus desce à mansão dos mortos, nas profundezas do reino da morte, para salvar o homem e levá-lo consigo para o céu, onde nos precede e nos espera de braços abertos.  Lá, encontra Adão, o primeiro homem que aqui simboliza toda a humanidade, o sacode, o desperta e lhe dá o anúncio da salvação do qual ninguém está excluído, colocando de fato uma ponte entre o sepulcro e o Reino de Deus. Jesus carrega a arma infalível da Cruz, porque "com a morte vence a morte".

O padre Diogo Shishito, da Diocese de Mogi das Cruzes - SP, doutorando em Liturgia na Universidade Sant'Anselmo em Roma, nos auxilia a refletir sobre o significado da espera silenciosa à qual somos convidados a viver.

"O que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos."

Assim começa uma homilia do século IV que a Igreja retoma no Ofício das Leituras em cada Sábado Santo e da qual nasce o costume de chamar esse dia como o “Dia do Grande Silêncio”. De fato, diante do Mistério Pascal de Jesus, o silenciar parece ser natural para a nossa pequenez humana, uma vez que não se encontram palavras para expressar o misto de surpresa e gratidão que move interiormente quem se coloca diante de tamanha Graça.

O Silêncio é o lugar da ação do Espírito Santo

O silêncio parece apresentar-se como único caminho para aqueles que são inundados de um amor sem igual manifestado na entrega sem reservas do Deus feito homem que, ao dar seu último suspiro no alto da cruz, rasgou de cima abaixo o véu que separava a habitação divina da sua criatura predileta. É o silêncio de quem faz espaço para acolher algo de novo e nunca antes presenciado no tempo. O silêncio de quem, admirado, não encontra no elenco das reações uma atividade capaz de responder ao que se apresenta diante de seus olhos. Mas o silêncio, diferentemente do que muitas vezes se pensa, não é vazio.

No silêncio se encontra aquele espaço necessário entre uma ação e outra que nos permite comunicar a multiforme expressão de vida presente em cada um de nós. O silêncio é a pausa sem a qual a comunicação não seria possível, pois é ela que separa as palavras e dá clareza ao discurso. Só com o silêncio se pode passar de um conceito a outro, de uma ideia à outra. O grande silêncio desse dia faz passar da morte à Vida, do tempo à eternidade. Por isso podemos dizer que o Silêncio é o lugar da ação do Espírito Santo. Quando o Verbo cala, o Espírito trabalha no germinar de uma realidade nova.

Fé e expectativa

No alto da Cruz, com o calar-se do Verbo divino, a Palavra Eterna transformou-se em silêncio, produzindo na humanidade um sentimento de expectativa… Uma espera que brota da fé, que nasce da confiança sem reservas na promessa feita pelo próprio Senhor de que estaria conosco sempre. Para os Discípulos, que não sabiam como seriam as coisas depois da cruz e não imaginavam que a ressurreição se daria, esse silêncio certamente produziu dúvidas e medos, mas também é certo que, assim como quando um discurso é interrompido, fica a expectativa de como seria sua continuidade, no coração de cada um deles brotava também a esperança de que o Senhor, de algum modo, daria sentido àquilo que eles não conseguiam entender ainda.

Mulheres portadoras de mirra no sepulcro de Cristo, 1200-1210 | Vatican Media

Esperar com Maria

Olhando para Maria, que sabia com clareza que Jesus é o Filho de Deus, podemos pensar que o silêncio que brota da morte do Senhor tenha levado seu pensamento à doce espera da sua chegada, àquele silêncio de contemplação da surpreendente ação divina que realiza o que aos critérios humanos parecia impossível, de maneira que aquele silêncio se tornasse mais uma vez um ato de espera do próximo passo na história da Salvação. Para a Igreja, no entanto, esse silêncio é memorial da nossa fé, é a ação que reconhece a grandeza do mistério pascal de Cristo e abre espaço para o agir transformador de Deus que faz germinar, a partir dos nossos limites, o amor gerador de uma nova realidade. O amor verdadeiro daquele que nos amou até o fim e que manifestou a sua graça à humanidade quando estava ainda imersa no pecado.

O Senhor venceu a morte

De fato, por suas qualidades, uma pessoa pode ser admirada, mas só pelas suas limitações que pode ser acolhida e amada. É fácil acolher alguém quando tudo vai de acordo com o que nos agrada; somente quando o outro se mostra diferente do que gostaríamos é que a acolhida de suas inconstâncias se torna amor. Imbuídos da certeza da ressurreição, cada um de nós é chamado, através do silêncio, a abrir espaço para que o Senhor transforme em nosso interior as situações de morte fazendo brotar a vida nova e eterna que é Dele e da qual podemos participar pela sua misericórdia.

Peçamos então que o nosso silenciar possa de verdade dar espaço à ação silenciosa do Espírito Santo, que revigora em nós a graça dos que têm a vida escondida com Cristo em Deus e que o ressoar do esperado Aleluia dessa noite santa renove em nosso interior a força de ser no mundo uma voz que proclama o centro da nossa fé: o Senhor venceu a morte e está vivo no meio de nós.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt


São João Clímaco

São João Clímaco (A12)
30 de março
São João Clímaco

João Clímaco nasceu na Síria, por volta do ano 579. Da rica e nobre família recebeu ótima formação literária e educação religiosa, o que acrescentado à sua grande inteligência lhe prometia um futuro promissor na sociedade. Mas ele renunciou à fortuna da família e aos atrativos de uma boa posição social, escolhendo levar uma vida de oração na austeridade.

Aos 16 anos, João foi para o Monte Sinai na Terra Santa, onde vários mosteiros rudimentares surgiram após as perseguições romanas, no século IV, e se tornaram célebres pela hospitalidade para com os peregrinos e pelas bibliotecas que continham manuscritos preciosos, pois os eremitas se dedicavam à transcrição dos códigos e manuscritos antigos relativos à Bíblia e aos escritos dos Santos Padres. Lá buscou o mosteiro de Vatos, o atual Mosteiro (Ortodoxo) de Santa Catarina, um dos mais renomados na época, tornando-se discípulo do já ancião abade Martírio, mestre famoso.

João dedicou-se a um cotidiano de orações, estudos, trabalhos pesados e jejum continuado, deixando de comer qualquer tipo de carne. Saía da cela apenas aos domingos, para participar da Eucaristia, quando encontrava os outros monges, e deixava o mosteiro unicamente para colher frutas, raízes e outros alimentos para os eremitas, num vale próximo. Mas após a morte do seu mestre, retirou-se para uma vida mais solitária e ascética, vivendo numa gruta e estudando por 40 anos seguidos a vida dos santos, o que o tornou um dos mais eruditos acadêmicos da Igreja.

Mesmo isolado, sua santidade levou a que primeiramente os monges, e depois o povo, buscassem seus conselhos, orientação espiritual e bênçãos. Aos 60 anos, foi unanimemente eleito como abade geral dos religiosos da serra do Sinai (hegúmeno, ou guia), e voltou a viver no cenóbio (monges morando solitariamente mas em proximidade geográfica e com algumas atividades em comum). Demonstrou grande sabedoria nesta atividade, organizou melhor a vida dos religiosos, e construiu uma hospedaria para os peregrinos e viajantes. Sua fama chegou até Roma; o Papa São Gregório Magno lhe escreveu, pedindo suas orações, e forneceu auxílios para os religiosos e para a hospedaria. Entre 579 e 586, recebeu o encargo de Vigário do Papa, mantendo correspondência com muitos padres do Sinai.

Escreveu muito neste período, destacando-se o livro "Escada do Paraíso", (uma analogia com a Escada de Jacó, cf. Gn 28,10-17). “Klímax” em Grego significa " escada" (e, no caso, a sua ascensão espiritual correspondente), e em função do livro este nome lhe foi acrescentado. Dele é conhecido apenas uma outra obra, "Ao Pastor", provavelmente um curto apêndice da "Escada".

“Escada do Paraíso ou Escada da Ascensão Divina” apresenta, como num manual, a doutrina monástica para monges e noviços (mas também para nós), com 30 diferentes e progressivas etapas necessárias para alcançar a perfeição da vida da alma. Cada capítulo ou “degrau” aborda um tópico específico, mostrando as dificuldades que virão e como superá-las por meio das virtudes ascéticas. Os 30 degraus correspondem aos anos da vida de Cristo até o Seu batismo. Este verdadeiro tratado de vida espiritual se articula em três etapas: a primeira é a ruptura com o mundo e o retorno à infância evangélica, ou seja, o tornar-se criança, em sentido espiritual, mediante a inocência, o jejum e a castidade; a segunda é a luta espiritual contra as paixões: cada degrau corresponde a uma paixão, indica como vencê-la e propõe uma virtude correspondente; e a terceira trata das virtudes maiores na sobriedade do espírito, alimentada pelas virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade – correspondendo esta última ao fundamental, à experiência que pode levar a alma ao amor perfeito, mais do que a dura luta contra as paixões. O livro, de fato, termina com a citação de São Paulo: "Agora subsistem estas três coisas: a Fé, a Esperança e a Caridade; mas a maior delas é a Caridade" (1Cor 13,13).

Originalmente escrito simplesmente para os monges do mosteiro vizinho, a "Escada" rapidamente se tornou um dos mais lidos e amados livros espirituais do Império Bizantino.

Poucos anos depois, João voltou à vida eremítica, e faleceu em 30 de março de 649. É conhecido também como João da Escada, João Escolástico e João Sinaíta.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Recorrente é o fato de que os santos eremitas, buscando a solidão e encontrando a Cristo, não ficam sempre isolados, mas são procurados pelos irmãos, que buscam seu exemplo e seus conselhos. Assim é porque a Verdade atrai, e onde há almas, onde reside o Cristo, aí está a nossa verdadeira morada. Por isso, a Igreja é a nossa tenda nesta vida passageira, pois ela é também, propriamente, o Corpo Místico de Cristo, pelo qual somos abraçados e recebidos com amor. São João, pela sua santidade, chegou ao clímax do que é possível nesta vida. Para isso esvaziou-se das riquezas materiais, buscando nas alturas do Sinai a proximidade da vivência dos Mandamentos, ali recebidos por Moisés. Pela fidelidade ao Primeiro e mais importante deles, soube hospedar e acolher quem o procurava, orientando todos para Deus – pois só quem já está bem orientado pode indicar a direção correta. Neste sentido, dedicou-se também a redigir para o proveito dos irmãos. Já foi escrito que “A Escada do Paraíso", antes de ser subida pelos homens, foi descida por Deus. De fato, a iniciativa sempre vem de Deus, que desejou nos criar, ofereceu-nos o Paraíso e, depois do Pecado Original, a Redenção. Inclinando-Se para os homens, o Senhor Se humilhou até a nossa baixeza, para que pudéssemos subir de novo, por Cristo e Maria, até o Céu. Cristo é o caminho para ascender, que passa necessariamente por Maria.

Oração:

Senhor, que nos destes os Mandamentos para a salvação, concedei-nos pela intercessão de São João Clímaco seguirmos em profundidade a altura dos Sacramentos, necessários para conseguirmos cumprir as Vossas leis, pois é no paradoxo de imitar o Vosso abaixamento grandioso até nós que seremos elevados à humildade que salva; quem mais dá é quem mais recebe, é rejeitando as riquezas do mundo que teremos um tesouro nos Céus, é servindo que reinaremos, por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

sexta-feira, 29 de março de 2024

Evangelho de sexta-feira: as sete palavras de Cristo na Cruz

Cristo na Cruz (Opus Dei)

Evangelho de sexta-feira: as sete palavras de Cristo na Cruz

Sexta-feira Santa. As palavras de Jesus na cruz convidam-nos à confiança e ao amor dos filhos de Deus cheios do Espírito Santo.

29/03/2024

Evangelho

1. Lc 23,34: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”

2. Lc 23, 43: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.

3. Jo 19,26-27: Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que
ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”.

4. Mt 27,46: Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?” Que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

5. Jo 19,28: “Tenho sede!”

6. Jo 19,30: “Tudo está consumado”.

7. Lc 23,46. “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”.


Comentário

Os evangelistas mencionam sete palavras de Cristo na cruz. Nelas descobrimos o quanto Deus Pai nos amou até entregar o seu Filho à morte para nos fazer filhos n’ Ele.

1. “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34).

O Senhor pede perdão pelos nossos pecados. “Carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a cruz, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados” (1 Pe 2, 24). Cristo morre para nos salvar. Convida-nos a praticar o bem e a suportar o sofrimento. O segredo do perdão é a caridade que compreende a debilidade dos outros, porque cada pessoa sabe que está repleta do amor de Deus.

2. “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43).

Novamente o perdão. O bom ladrão arrepende-se e ouve uma promessa de salvação. A palavra “paraíso”, de origem persa, evoca um jardim de felicidade, como foi o primeiro jardim na Criação. Jesus mostra que a felicidade é estar com Ele. Como diz Gregório Nazianzeno, “se estás crucificado com Ele como um ladrão, como o bom ladrão confia no teu Deus”[1].

3. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que
ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe” (Jo 19,26-27).

A Virgem Maria está “consentindo com amor na imolação da vítima que dela nascera”[2]. Seu único filho é Jesus. Ao aceitar a sua morte na cruz, recebe-nos a todos como filhas e filhos seus em São João: é Mãe da Igreja.

4. Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?” Que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt 27,46).

São palavras do Salmo 22, 28 que acabam cheias de confiança na bondade de Deus Pai e na futura expansão da Igreja: “Recordarão e voltarão ao Senhor todos os confins da terra: diante dele se prostrarão todas as famílias dos povos”. O sofrimento de Cristo na Cruz coexistia com a visão imediata de Deus. Além disso, como diz Santo Agostinho, na cruz estávamos também nós, porque somos o seu corpo, que é a Igreja: Cristo falava por cada um de nós[3].

5 . “Tenho sede!” (Jo 19,28).

Esse grito manifesta a humanidade do Senhor no meio de terríveis sofrimentos, pois está se asfixiando na cruz. Também tem sede do nosso amor, que pode aliviar a dor do seu coração. A Sua glória, a irradiação do seu amor, é a nossa participação na vida divina. “Mais do que a fadiga do corpo, consome-o a sede de almas”[4]. Da Cruz, olha para cada um, para cada uma, no amor eterno do Pai. Tem sede da nossa sede. E tem uma grande sede de nos enviar o Espírito Santo.

6. “Tudo está consumado” (Jo 19,30).

É o cumprimento. Jesus amou obedecendo até ao extremo (cf. Jo 3,34; 13,1). Com a plenitude do Espírito, a sua oferta ao Pai não tem medida. Cumpriu a vontade do Pai. Além disso, está consumido, extenuado, esgotado. Contemplamos mais um mistério de Amor que de dor. Na Cruz está sobretudo o amor de Jesus ao Pai e ao mundo. Manifesta até às últimas consequências o que significa ser plenamente Filho de Deus.

7 . “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).

À luz de Jo 19,30 – “Entregou o espírito” –, a Igreja vê aqui o dom do Espírito Santo. Cristo morre por amor a Deus, adesão ao seu desígnio de salvação, amor por nós. Morre “de uma vez para sempre” (1 Pe 3,18). A sua alma humana separa-se do corpo, que já não tem princípio de animação. Morreu como homem, voluntariamente, da mesma forma que alguém sofre uma pena para a afastar de outra pessoa. Uma morte que o amor vencerá. A divindade permanece unida ao corpo santo que espera a ressurreição. Velamo-lo com dor e esperança. Nas sete palavras de Cristo encontramos o perdão dos nossos pecados, a promessa de estar com Jesus, o dom que nos faz da Virgem Maria como Mãe, a oração cheia de confiança, a petição, o cumprimento e o dom do Espírito. “Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus Cristo e nos fazemos uma só coisa com Ele”. Pois “Já só há uma única maneira de vivermos na terra: morrer com Cristo para ressuscitar com Ele, até podermos dizer com o apóstolo: Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (Gal 2, 20)”[5]. Podemos afirmar: “Já somos filhos de Deus”[6]; e de Santa Maria.


[1] Gregório Nazianzeno, Homilia 45 para a Páscoa, 23-24: PG 653-656.

[2] Concílio ecumênico Vaticano II, const. dogm. Lumen gentium, n. 58.

[3] Cf. Santo Agostinho, Comentário aos salmos, XXI.

[4] São Josemaria, Amigos de Deus, 176.

[5] São Josemaria, Via Sacra, 14.

[6] Ibidem.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF