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terça-feira, 2 de abril de 2024

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo (Opus Dei)

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo

O tempo da Páscoa, explosão de alegria, se estende desde a vigília Pascal até o domingo de Pentecostes. Nesses cinquenta dias a Igreja nos envolve em sua alegria pela vitória do Senhor sobre a morte. Cristo vive, e vem ao nosso encontro.

09/04/2023

“Vinde, benditos de meu Pai: tomai posse do reino preparado para vós desde o princípio do mundo, aleluia”[1]. O tempo pascal é uma antecipação da felicidade que Jesus Cristo ganhou para nós com a sua vitória sobre a morte. O Senhor “foi entregue por nossos pecados” e ressuscitou “para nossa justificação”[2]: para que, permanecendo n’Ele, nossa alegria seja completa[3].

“RESSUSCITEI, Ó PAI, E SEMPRE ESTOU CONTIGO: POUSASTE SOBRE MIM A TUA MÃO, TUA SABEDORIA É ADMIRÁVEL”. É A EXPERIÊNCIA INEFÁVEL DA RESSURREIÇÃO, VIVIDA POR ELE NAS PRIMEIRAS HORAS DO DOMINGO.

No conjunto do Ano litúrgico, o tempo pascal é o “tempo forte” por antonomásia, porque a mensagem cristã é anúncio alegre que surge com força da salvação realizada pelo Senhor em sua “páscoa”, sua passagem da morte à vida nova. “O tempo pascal é tempo de alegria, de uma alegria que não se restringe a esta época do ano litúrgico, mas que habita sempre no coração do cristão. Porque Cristo vive. Não é Cristo uma figura que passou, que existiu num tempo e que se retirou, deixando-nos uma lembrança e um exemplo maravilhosos”[4].

O que só algumas “testemunhas designadas de antemão por Deus”[5] puderam experimentar nas aparições do Ressuscitado, agora nos é dado na liturgia, que nos faz reviver esses mistérios. Como pregava o Papa São Leão Magno, “todas as coisas relativas a nosso Redentor que antes eram visíveis, agora passaram a ser ritos sacramentais”[6]. É expressivo o costume dos cristãos do Oriente que, conscientes dessa realidade, desde a manhã do domingo da Ressurreição se cumprimentam reciprocamente: “Christos anestē”, Cristo ressuscitou; “alethōs anestē”, verdadeiramente ressuscitou.

A liturgia latina, que na noite santa do sábado transbordava de alegria no Exultet, no domingo de Páscoa condensa esta alegria no belo intróito Resurrexi: “Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo: pousaste sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável”[7]. Pomos nos lábios do Senhor, delicadamente, em clima de calorosa oração filial ao Pai, a experiência inefável da ressurreição, vivida por Ele nas primeiras horas do domingo. Assim nos animava São Josemaria, na sua pregação, a aproximarmo-nos de Cristo, com a consciência de que vivemos no Seu tempo: “Quis recordar, embora brevemente, alguns dos aspectos dessa vida atual de Cristo – Iesus Christus heri et hodie, ipse et in saecula, Jesus Cristo ontem e hoje, o mesmo pelos séculos – por nela se achar o fundamento de toda a vida cristã”[8]. O Senhor quer que O tratemos e falemos d’Ele, não no passado, como se faz com uma lembrança, mas percebendo o seu “hoje”, a sua atualidade, a sua companhia viva.

MUITO ANTES DE QUE EXISTISSE A QUARESMA E OUTROS TEMPOS LITÚRGICOS, A COMUNIDADE CRISTÃ JÁ CELEBRAVA ESSES CINQUENTA DIAS DE ALEGRIA.

Os cinquenta dias pascais

Muito antes de que existisse a Quaresma e outros tempos litúrgicos, a comunidade cristã já celebrava esses cinquenta dias de alegria. Quem não expressasse seu júbilo durante esses dias era considerado como alguém que não tinha captado o núcleo da fé, porque “com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”[9]. Essa festa, tão prolongada, nos indica até que ponto “os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que há de ser revelada em nós”[10]. Nesse tempo, a Igreja vive já a alegria que Senhor lhe revela: algo que “olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu”[11].

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo (Opus Dei)

Esse sentido escatológico, de antecipação do céu, reflete-se há séculos no costume litúrgico de suprimir as leituras do Antigo Testamento durante o tempo pascal. Se toda a Antiga Aliança é preparação, o Tempo Pascal celebra a realidade do reino de Deus já presente. Tudo se renovou na Páscoa, e ali não cabe figura, pois tudo é cumprimento. Por isso, no tempo pascal a liturgia proclama, junto ao quarto Evangelho, os Atos dos Apóstolos e o livro do Apocalipse: livros luminosos que têm uma especial afinidade com a espiritualidade desse tempo.

Os escritores do Oriente e do Ocidente cristãos contemplaram o conjunto do Tempo Pascal como um único e extenso dia de festa. Por isso, os domingos desse tempo não se chamam segundo, terceiro, quarto… depois da Páscoa, mas, simplesmente, domingos da Páscoa. Todo o tempo pascal é como um só grande domingo; o domingo que fez com que todos os domingos fossem domingos. Do mesmo modo se considera o domingo de Pentecostes, que não é uma nova festa, mas o dia conclusivo da grande festa da Páscoa.

TODO O TEMPO PASCAL É COMO UM SÓ GRANDE DOMINGO; O DOMINGO QUE FEZ COM QUE TODOS OS DOMINGOS FOSSEM DOMINGOS.

Quando a Quaresma chegava, alguns hinos da tradição litúrgica da Igreja recitavam o aleluia com um tom de despedida. Pelo contrário, a liturgia pascal se entretém neste canto, porque o aleluia é a antecipação do cântico novo que os batizados entoarão no céu[12], que já agora se sabem ressuscitados com Cristo. Por isso, durante o tempo pascal, tanto o estribilho do salmo responsorial como o final das antífonas da Missa repetem frequentemente essa aclamação, que une o imperativo do verbo hebreu hallal – louvar – e Yahveh, o nome de Deus.

“Feliz aquele aleluia que entoaremos ali! – diz Santo Agostinho em uma homilia – Será um aleluia seguro e sem temor, porque ali não haverá nenhum inimigo, não se perderá nenhum amigo. Lá, como aqui, ressoarão os louvores divinos, mas os daqui procedem dos que ainda estão em dificuldades, enquanto os de lá são dos que já estão em segurança. Aqui, dos que hão de morrer. Lá, dos que hão de viver para sempre. Aqui, dos que esperam. Lá, dos que já possuem. Aqui, dos que ainda estão no caminho. Lá, dos que já chegaram à pátria”[13]. São Jerônimo conta que durante os primeiros séculos na Palestina, esse grito era tão habitual que aqueles que aravam os campos diziam de vez em quando: aleluia! E os que remavam nas barcas para transportar os viajantes de uma margem a outra de um rio, quando se cruzavam, exclamavam: aleluia! “Nestas semanas do tempo pascal, a Igreja é embargada por um júbilo profundo e sereno, que nosso Senhor quis deixar como herança para todos os cristãos (...). Um contentamento cheio de conteúdo sobrenatural que nada nem ninguém poderá tirar-nos, se nós não o permitirmos”[14].

A oitava da Páscoa

“Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa e são celebrados como solenidades do Senhor”[15]. Antigamente, durante esta oitava o bispo de Roma celebrava as stationes, para introduzir os cristãos recém batizados no triunfo daqueles santos especialmente significativos para a vida cristã de Roma. Era uma certa “geografia da fé”, na qual a Roma cristã aparecia como uma reconstrução da Jerusalém do Senhor. Visitavam-se várias basílicas romanas: a statio da vigília da Páscoa ocorria em São João de Latrão, o domingo, em Santa Maria Maior, a segunda, em São Pedro do Vaticano, a terça, em São Paulo Extramuros, a quarta, em São Lourenço Extramuros, a quinta, na Basílica dos Santos Apóstolos, a sexta, em Santa Maria ad martyres, e o sábado, novamente, em São João de Latrão.

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo (Opus Dei)

As leituras desses dias se relacionavam com o lugar da celebração. Assim, por exemplo, a statio de quarta se celebrava na Basílica de São Lourenço Extramuros. Ali o evangelho que se proclamava era a passagem das brasas[16], em alusão à tradição popular romana, que relata como o diácono Lourenço foi martirizado sobre uma grelha. O sábado da oitava era o dia em que os neófitos depunham a alva com a qual se haviam revestido em seu batismo durante a vigília pascal. Por isso, a primeira leitura era a exortação de Pedro que começa com as palavras “deponentes igitur omnem malitiam…[17]: despojai-vos de toda maldade.

Os Padres da Igreja falavam com frequência do domingo como “oitavo dia”. Situado fora da sucessão dos sete dias, o domingo evoca o início do tempo e seu final no tempo futuro[18]. Por isso, os antigos batistérios, como o de São João de Latrão, tinham forma octogonal: os catecúmenos saiam da fonte batismal para iniciar a sua vida nova, aberta já no oitavo dia, o domingo que não acaba. Assim, cada domingo nos recorda que nossa vida transcorre dentro do tempo da Ressurreição.

Ascensão e Pentecostes

“Com a sua Ascensão, o Senhor ressuscitado atrai o olhar dos Apóstolos – e também o nosso – às alturas do Céu para nos mostrar que a meta do nosso caminho é o Pai”[19]. Começa o tempo de uma presença nova do Senhor: parece que está mais escondido, mas de certo modo está mais perto de nós: começa o tempo da liturgia, que é toda uma grande oração ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo, uma oração “em caudal manso e largo”[20].

COM A ASCENSÃO COMEÇA O TEMPO DE UMA PRESENÇA NOVA DO SENHOR: PARECE QUE ESTÁ MAIS ESCONDIDO, MAS DE CERTO MODO ESTÁ MAIS PERTO DE NÓS.

Jesus desaparece da vista dos apóstolos, que talvez fiquem silenciosos no princípio. “Não sabemos se perceberam naquele momento o fato de que precisamente diante deles se estava abrindo um horizonte magnífico, infinito, o ponto de chegada definitivo da peregrinação terrena do homem. Talvez o tenham compreendido só no dia de Pentecostes, iluminados pelo Espírito Santo”[21].

“Deus eterno e todo-poderoso, que quisestes incluir o sacramento da Páscoa no mistério dos cinquenta dias...”[22]. A Igreja nos ensina a reconhecer nessa cifra a linguagem expressiva da revelação. O número cinquenta tinha duas cadências importantes na vida religiosa de Israel: a festa de Pentecostes, sete semanas após se começar a ceifar o trigo, e a festa do jubileu que declarava santo o quinquagésimo ano: um ano dedicado a Deus no qual cada um recuperava sua propriedade, e podia regressar à sua família[23]. No tempo, da Igreja, o “sacramento da Páscoa” inclui os cinquenta dias após a Ressurreição do Senhor, até a vinda do Espírito Santo no Pentecostes. Se, com a linguagem da liturgia, a Quaresma significa a conversão a Deus com toda a nossa alma, com toda a nossa mente, com todo o nosso coração, a Páscoa significa nossa vida nova de “corressuscitados” com Cristo. “Igitur, si consurrexistis Christo, quæ sursum sunt quærite: Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus”[24].

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo (Opus Dei)

Ao final desses cinquenta dias, “chegamos ao cume dos bens e à metrópole de todas as festas”[25], pois, inseparável da Páscoa, é como a “Mãe de todas as festas”. “Somai todas as vossas festas – dizia Tertuliano aos pagãos de seu tempo – e não chegareis aos cinquenta dias de Pentecostes”[26]. Pentecostes é, pois, um domingo conclusivo, de plenitude. Nessa Solenidade, vivemos com admiração como Deus, por meio do dom da liturgia, atualiza a doação do Espírito que se realizou no amanhecer da Igreja nascente.

SÃO JOSEMARIA VIVIA E NOS ANIMAVA A VIVER COM ESTE SENTIDO DE PRESENTE PERENE: “AJUDA-ME A PEDIR UM NOVO PENTECOSTES, QUE ABRASE OUTRA VEZ A TERRA”.

Se na Ascensão Jesus “subiu aos céus para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade”[27], agora, no dia de Pentecostes, o Senhor, sentado à direita do Pai, comunica sua vida divina à Igreja mediante a infusão do Paráclito, “fruto da cruz”[28]. São Josemaria vivia e nos animava a viver com este sentido de presente perene: “Ajuda-me a pedir um novo Pentecostes, que abrase outra vez a terra”[29].

Compreende-se também por isso que São Josemaria quisesse começar alguns meios de formação da Obra rezando uma oração tradicional da Igreja que se encontra, por exemplo, na Missa votiva do Espírito Santo: “Deus, qui corda fidelium Sancti Spiritus illustratione docuisti, da nobis in eodem Spiritu recta sapere, et de eius semper consolatione gaudere[30]. Com palavras da liturgia, imploramos a Deus Pai que o Espírito Santo nos faça capazes de apreciar, de saborear, o sentido das coisas de Deus e pedimos também que disfrutemos do consolo alentador do “Grande Desconhecido”[31]. Porque “o mundo necessita da coragem, da esperança, da fé e da perseverança dos discípulos de Cristo. O mundo precisa dos frutos, dos dons do Espírito Santo, como elenca São Paulo: “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gal 5, 22). O dom do Espírito Santo foi concedido em abundância à Igreja e a cada um de nós, para podermos viver com fé genuína e caridade operosa, para podermos espalhar as sementes da reconciliação e da paz.”[32]

Félix María Arocena


[1] Missal Romano, Quarta-feira da Oitava da Páscoa, Antífona de entrada, Cfr. Mt 25, 34.

[2] Rm 4, 25.

[3] Cfr. Jo 15, 9-11.

[4] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 102.

[5] At 10, 41.

[6] São Leão Magno, Sermão 74, 2 (PL 54, 398).

[7] Missal Romano, Domingo da Ressurreição, Antífona de entrada. Cfr. Sl 138 (139), 18.5-6.

[8] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 104. Cfr. Hb 13, 8.

[9] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24-XI-2013, n. 1.

[10] Rm 8, 18.

[11] 1 Cor 2, 9.

[12] Cfr. Ap 5,9

[13] Santo Agostinho, Sermão 256, 3 (PL 38, 1193).

[14] Álvaro del Portillo, Caminhar com Jesus, Quadrante, São Paulo, 2016, pp. 225-226.

[15] Missal Romano, Normas universais do ano litúrgico, 24.

[16] Jo 21, 9.

[17] 1 Pd 2, 1.

[18] Cfr. São João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini, 31-V-1998, n. 26.

[19] Francisco, Regina Coeli, 1-VI-2014.

[20] Caminho, 145.

[21] Bento XVI, Homilia, 28-V-2006.

[22] Missal Romano, Vigília do Domingo de Pentecostes, coleta.

[23] Cfr. Lv 23, 15-22; Nm 28, 26-31; Lv 25, 1-22.

[24] Cl 3, 1.

[25] São João Crisóstomo, Homilia II de Sancta Pentecoste (PG 50, 463).

[26] Tertuliano, De idolatria 14 (PL 1, 683).

[27] Missal Romano, Ascensão do Senhor, prefácio.

[28] É Cristo que passa, n. 96.

[29] São Josemaria, Sulco, n. 213.

[30] Missal Romano, Missa votiva do Espírito Santo, coleta.

[31] Cfr. É Cristo que passa, nn. 127-138.

[32] Francisco, Homilia na Solenidade de Pentecostes, 24-V-2015.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Um guia para proteger as crianças dos danos ambientais

Guia "Crianças e Poluição" curado pela Dra. Elena Ugo | Vatican News (You Tube)

A poluição, os microplásticos, os pesticidas e as roupas "fast fashion" são especialmente prejudiciais para as crianças, as primeiras vítimas das mudanças climáticas. São os argumentos do livro “Bambini e Inquinamento” (Crianças e Poluição), escrito pelo grupo de pesquisa “Pediatras por um Mundo Possível”, destinado a pais e educadores. Elena Uga, curadora do texto explica: "É preciso conscientização, atenção e uma mudança de rumo nos estilos de vida".

Cecilia Seppia – Cidade do Vaticano

Mãe e pediatra. A vocação e o interesse ambiental de Elena Uga, médica do Hospital Santo André em Vercelli, e coordenadora da associação científica "Pediatras por um Mundo Possível" (Pump), podem ser facilmente identificados nessa combinação que expressa a atenção e o cuidado com os menores, vítimas involuntárias das consequências prejudiciais das mudanças climáticas. Nascida em 1973, mãe de três filhas com uma paixão sem limites pela música, é especializada em Alergologia, Amamentação e Meio Ambiente. Há anos Elena acompanha o impacto da poluição e de outras patologias do tipo ambiental em crianças, a ponto de sentir a necessidade de escrever um guia, juntamente com outros colegas, destinado a pais, professores e educadores. Os especialistas envolvidos no livro “Crianças e Poluição”, publicado pela editora Junior, apontam o dedo, em primeiro lugar, para a poluição do ar, na qual estão presentes material particulado, monóxido de carbono, ozônio, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre, que podem afetar negativamente o desenvolvimento cognitivo, predispor a doenças metabólicas e até mesmo reduzir o QI (quociente de inteligência). Por outro lado, trancar-se dentro de casa também não é uma boa ideia, pois o ar interno contém mofo e compostos voláteis tóxicos, como o formaldeído. Sem mencionar o fumo passivo muito prejudicial: estima-se que cause até 13% dos casos de asma em crianças, 20% das infecções brônquicas e pulmonares, 15% das infecções de ouvido e mais de 20% dos casos de morte súbita infantil. Mas não é apenas a poluição do ar que causa preocupação, há também pesticidas, microplásticos, protetores solares e, em geral, produtos de higiene e têxteis. É por isso que é fundamental aumentar a conscientização e a percepção de risco e, em seguida, fazer mudanças pequenas, mas constantes, no estilo de vida.

Guia "Crianças e Poluição" curado pela Dra. Elena Ugo | Vatican News

É melhor prevenir

“Proporcionalmente ao seu tamanho", afirma a doutora Elena Uga, "uma criança tem uma superfície de pele e uma capacidade respiratória maior do que um adulto, ou seja, ela troca mais ar, tem mais pele, portanto, qualquer coisa que venha de fora e que possa ser prejudicial tem um impacto maior sobre ela. Além disso, a criança, especialmente nos primeiros 1000 dias de vida, que vão desde a concepção até os dois anos de idade, tem um metabolismo que funciona muito rápido, basta pensar na velocidade absoluta com que duas células podem chegar neste período de tempo a pesar 15 kg. Outra fase de grande suscetibilidade é a puberdade, um período de grande crescimento e desenvolvimento. Além disso, não podemos deixar de observar como as doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e derrames, que afetam a população mais idosa e geralmente são muito condicionadas à poluição do ar, têm suas raízes nos primeiros anos de vida de uma pessoa. Após essa premissa, tudo o que posso dizer é que há muitas armadilhas, mas também há mais conscientização e uma maior possibilidade, por meio da informação e da prevenção, de detectá-las e neutralizá-las, mesmo com pequenas medidas". A doutora Elena Uga também insiste na desigualdade social que inevitavelmente agrava o impacto da mudança climática sobre as populações. A poluição aparentemente é bastante democrática, transversal, não poupa ninguém, tanto pobres quanto ricos, mas não há dúvida de que os maiores danos podem ser encontrados nos países do Sul do mundo assolados pela fome, carestia, guerra, pobreza, falta de saneamento... Além disso, não é novidade que, mesmo nos países mais ricos, as camadas sociais menos favorecidas são as que têm menores recursos para combater os danos causados, por exemplo, pelos desastres naturais, ondas de calor ou secas excepcionais.

Conselhos práticos para mães e pais

No entanto, o guia "Crianças e Poluição" não é um compêndio alarmista; em vez disso, entre sugestões e estudos clínicos, surgem muitas soluções ao alcance de todos. "Uma de nossas mensagens", diz a doutora Uga, "não é 'não temos mais esperança, vamos fechar a janela e jogar a chave fora, pois essa é a única maneira de proteger nossos filhos', muito pelo contrário! Há muitas coisas práticas que podemos fazer pela saúde de nossos filhos e pelo futuro deles". Para protegê-las dos microplásticos, os pediatras sugerem comprar recipientes de vidro (até mesmo mamadeiras), alimentos não confeccionados, embalagens de papelão, não usar plástico-filme para alimentos, comprar brinquedos ecológicos, feitos de madeira, papel, tecido, de preferência certificados, usar fraldas ecológicas ou laváveis, comprar chupetas de borracha natural, preferir lápis de cor ou têmpera em vez de canetinhas, organizar festas sem plástico, escolhendo copos recicláveis, enfeites de papel, balões biodegradáveis. Os pesticidas também podem ser prejudiciais à saúde das crianças, a começar pelo sistema respiratório. As sugestões dos especialistas nesse caso incluem menos uso de inseticidas no jardim de casa, instalação de mosquiteiros para manter os insetos afastados, lavar bem as frutas e os legumes com água antes de levá-los à mesa e preferir alimentos orgânicos (de acordo com uma revisão de 343 estudos, as culturas orgânicas contêm, em média, mais antioxidantes, menos cádmio e menos pesticidas do que as culturas não orgânicas).

Cuidado com os celulares e as roupas da moda

Outra fonte de poluição que tendemos a subestimar são os campos eletromagnéticos produzidos pelos celulares: para manter as crianças quietas, às vezes as deixamos em contato com esses dispositivos por muito tempo. Em vez disso, é uma boa prática evitar segurá-los. Nunca coloque o celular no bolso da calça ou debaixo do travesseiro à noite (também se aplica a adultos), e também não é recomendável carregar o celular perto da cama, pois as emissões do smartphone se somam às do carregador. Por fim, os pediatras recomendam que as crianças e os jovens usem fones de ouvido com fio ou viva-voz para fazer chamadas telefônicas, evitando os sem fio. Nas bermudas, nas camisetas e nos moletons também nas roupas infantis, estão presentes produtos químicos nocivos, como alquilfenóis etoxilados, pentaclorofenol e formaldeído. A doutora Uga recorda também que “durante a infância, as roupas são usadas por um período limitado". "Por isso, os pais geralmente optam pelas roupas de moda rápida (fast fashion), que é prejudicial à saúde e ao meio ambiente. É melhor dar preferência a marcas éticas e fibras naturais, considerar consertar e reformar, usar roupas de segunda mão. E optar pelo aluguel de roupas para serem usadas em ocasiões particulares, como trajes para determinados esportes, de festas ou de carnaval.

Sustentabilidade, educação, ecologia integral

Pensar na saúde de nossos filhos, sendo mais cuidadosos em nossas escolhas de estilo de vida, desde a mobilidade sustentável até uma dieta com reduzida quantidade de proteína animal, tem um efeito benéfico que atinge diretamente o meio ambiente, afirma ainda a doutora Uga, que não esconde a inspiração que recebeu da encíclica Laudato si' para esse trabalho de proteção dos "frágeis" habitantes da Terra. Mas, assim como o Papa, a pediatra insiste na educação ambiental dos menores, cuja consciência, segundo ela, está extremamente "mais preparada" para a bondade, o respeito e o cuidado. "Certamente serve o exemplo, devemos ensinar nossos filhos a amar a natureza, a frequentar ambientes naturais, porque estar em meio à natureza, mas também em meio ao verde urbano, a um jardim, a um parque, sem necessariamente ir em busca de grandes coisas, não só se sente melhor psicologicamente, se sente melhor mentalmente, se sente melhor também fisicamente. A primeira prescrição que nós, pediatras, devemos fazer para as crianças é: fiquem ao ar livre, porque o verde cura mais do que qualquer remédio. Estudos mostram, por exemplo, que estar ao ar livre reduz o risco de desenvolver TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), uma síndrome que se manifesta durante a infância e é caracterizada por desatenção, impulsividade e hiperatividade". A importância desse texto, além do apoio à pesquisa e aos estudos clínicos e dos conselhos práticos que todos podem aplicar, está no fato de que a comunidade científica de pediatras sentiu a necessidade e o dever de colocar seu conhecimento e profissionalismo a serviço das crianças, que certamente não podem se defender sozinhas. “Mesmo nessa conexão de intenções entre diferentes especialistas, é possível discernir o eco da Laudato si'", conclui a doutora Uga. Todos nós somos chamados a contribuir e, embora talvez não tenhamos o conhecimento especializado ou a função de resolver o problema dos combustíveis fósseis ou dos aterros sanitários, podemos atuar na formação de uma massa crítica que, ciente das circunstâncias e dos riscos, possa influenciar os tomadores de decisão e gerar mudanças reais".

Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão crescendo? Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária. Quando nos interrogamos acerca do mundo que queremos deixar, referimo-nos sobretudo à sua orientação geral, ao seu sentido, aos seus valores... As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida atual – por ser insustentável – só pode desembocar em catástrofes, como aliás já está a acontecer periodicamente em várias regiões. A atenuação dos efeitos do desequilíbrio atual depende do que fizermos agora, sobretudo se pensarmos na responsabilidade que nos atribuirão aqueles que deverão suportar as piores consequências. (LS 160-161)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Instituição do Ministério de Catequista

Instituição do Ministério de Catequista | CNBB

CATEQUISTAS DO BRASIL VÃO RECEBER O MINISTÉRIO DE CATEQUISTA DURANTE A 61ª ASSEMBLEIA GERAL DA CNBB

https://youtu.be/kAvSBQqRROA

A 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) terá um momento especial durante sua realização, entre os dias 10 e 19 de abril, em Aparecida (SP). No dia 13 de abril, sábado, a missa do encontro do bispos contará com o rito de instituição do ministério de catequistas, no qual catequistas de todos os dezenove regionais da Conferência receberão a designação desse ofício.

Catequistas de 19 regionais já estão confirmados para a celebração, que será realizada no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), a partir das 7h da manhã.

Na preparação para este momento da 61ª Assembleia Geral da CNBB, será realizada uma live na próxima quarta-feira, dia 3 de abril, para partilhas com os catequistas que serão instituídos ministros durante assembleia dos bispos. Será possível acompanhar no canal da CNBB no Youtube.

O Ministério de Catequistas

Instituído pelo Papa Francisco com o motu proprio Antiquum Ministerium, do dia 10 de maio do ano de 2021, o ministério de catequista “é um serviço estável prestado à Igreja local de acordo com as exigências pastorais identificadas” pelo bispo, e que devem ser desempenhadas de acordo com a condição de cristãos leigos e leigas que recebem este ministério.

O Papa Francisco destacou que o ministério instituído de Catequista seja conferido a “homens e mulheres de fé profunda e maturidade humana, que tenham uma participação ativa na vida da comunidade cristã, sejam capazes de acolhimento, generosidade e vida de comunhão fraterna”. O pontífice também orientou que esses fiéis devem receber a devida formação bíblica, teológica, pastoral e pedagógica, “para ser solícitos comunicadores da verdade da fé, e tenham já maturado uma prévia experiência de catequese”. Outro requisito é que “sejam colaboradores fiéis dos presbíteros e diáconos, disponíveis para exercer o ministério onde for necessário e animados por verdadeiro entusiasmo apostólico”.

O trabalho da Conferência Episcopal

No Motu Proprio que instituiu o ministério de catequista, o Papa Francisco confiou às Conferências Episcopais a indicação dos critérios e o itinerário formativo para que seja concedido o ministério. Assim, a Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB preparou um documento que atende a esse pedido do Papa, em vista da aplicação na Igreja no Brasil. O texto foi aprovado durante a 59ª Assembleia Geral da CNBB, em 2022.

Publicado sob o número 112, o documento “Critérios e Itinerários para a Instituição do Ministério de Catequista” contém a  proposta de formação imediata para aqueles que já atuam como catequistas, como também uma formação mais prolongada para os que desejam ser catequistas.

Outra tarefa da CNBB no processo de implementação do ministério de catequista foi a tradução do “Rito da Instituição de Catequistas”, produzido pelo Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Dessa forma, o ritual está disponível para que os bispos e as Comissões Diocesanas de Liturgia utilizem, como expressão do reconhecimento da Igreja a tantos leigos e leigas que, há tempos, dedicam suas vidas à transmissão da fé e ao anúncio do Evangelho. O material pode ser adquirido nas Edições CNBB.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Francisco recorda Bento XVI em livro com lançamento na quarta: "foi um pai para mim"

Uns dos encontros entre Francisco e Bento XVI - 2020 (Vatican Media)

"El Sucesor", o livro-entrevista com o Papa, produzido pelo jornalista espanhol Javier Martínez-Brocal: Bento XVI "sempre me defendeu; nunca interferiu", contou Francisco. A obra tem lançamento marcado para esta quarta-feira (3).

Vatican News

"Bento era um homem de grande doçura. Em alguns casos, algumas pessoas se aproveitaram dele, talvez sem malícia, e restringiram os seus movimentos. Infelizmente, de certa forma, elas o estavam cercando. Era um homem muito delicado, mas não era frágil, era forte. Mas, consigo mesmo, era humilde e preferia não se impor. Por isso, sofreu muito". Essas são algumas das palavras com as quais o Papa Francisco recorda do seu antecessor Bento XVI, no livro-entrevista com o jornalista espanhol Javier Martínez-Brocal ("El Sucesor", Editorial Planeta), que será lançado nesta quarta-feira, 3 de abril.

"Ele me deixou crescer", explica Francisco, "foi paciente. E se não via algo bom, pensava três ou quatro vezes antes de me dizer. Ele me deixou crescer e me deu a liberdade de tomar decisões". O Papa contou a relação que o uniu ao emérito durante quase 10 anos de convivência no Vaticano: "permitia a liberdade, nunca interferiu. Em uma ocasião, quando houve uma decisão que ele não entendeu, me pediu uma explicação de uma forma muito natural. Ele me disse: 'olha, eu não entendo isso, mas a decisão está nas suas mãos', eu expliquei as razões e ele ficou feliz". Francisco explica no livro que seu antecessor nunca se opôs a nenhuma de suas decisões: "nunca deixou de me apoiar. Talvez houvesse algo que não compartilhasse, mas nunca disse".

O Papa também recordou as circunstâncias da sua despedida de Bento, na quarta-feira, 28 de dezembro de 2022, quando o viu vivo pela última vez: "Bento estava deitado na cama. Ainda estava consciente, mas não conseguia falar. Olhava para mim, apertava a minha mão, entendia o que eu dizia, mas não conseguia articular uma palavra. Fiquei com ele assim por um tempo, olhando para ele e segurando a sua mão. Lembro-me perfeitamente dos seus olhos claros.... Eu lhe disse algumas palavras com carinho e o abençoei. Dessa forma, nos despedimos".

Sobre a questão da continuidade entre os pontificados, Francisco disse: "o que eu vejo nos últimos papas... é que cada sucessor sempre foi marcado pela continuidade, continuidade e diferença", porque "na continuidade cada um trouxe seu carisma pessoal... sempre há continuidade e não ruptura".

Francisco também contou no livro, escrito em espanhol, um caso específico em que foi defendido por Bento XVI. "Tive uma conversa muito agradável com ele quando alguns cardeais foram ao seu encontro, surpresos com as minhas palavras sobre o matrimônio, e ele foi muito claro com eles. Um dia foram à casa dele para praticamente me julgar e me acusaram na frente dele de promover o matrimônio homossexual. Bento não ficou chateado porque sabia perfeitamente o que eu pensava. Ele ouviu todos eles, um por um, acalmou-os e explicou tudo a eles. Certa vez, eu disse que, como o matrimônio é um sacramento, não pode ser administrado a casais homossexuais, mas de alguma forma era necessário dar alguma garantia ou proteção civil à situação dessas pessoas. Eu disse que na França existe a fórmula das 'uniões civis', que à primeira vista pode ser uma boa opção, porque não se limita ao matrimônio. Por exemplo", pensava, "podem ser acolhidos três idosos aposentados que precisam compartilhar serviços de saúde, de herança, moradia etc. Eu quis dizer que essa parecia ser uma solução interessante. Alguns foram dizer a Bento que eu estava falando heresia. Ele os ouviu e, com muita altivez, ajudou-os a distinguir as coisas... Ele lhes disse: 'isso não é heresia'. Como me defendeu!... Ele sempre me defendeu".

O Papa também respondeu à pergunta de um jornalista sobre os livros que foram publicados simultaneamente à morte do papa emérito. Francisco respondeu: "me causaram grande dor: o fato de que no dia do funeral seja publicado um livro que me vira de cabeça para baixo, contando coisas que não são verdadeiras, é muito triste. É claro que isso não me afeta, no sentido de que não me atrapalha. Mas me magoou o fato de Bento ter sido usado. O livro foi publicado no dia do funeral, e eu senti isso como uma falta de nobreza e de humanidade".

Por fim, o Papa revelou a Javier Martínez-Brocal que já havia pedido uma revisão do funeral papal, explicando que o velório de Bento XVI foi o último com o corpo do Papa fora do caixão e com o catafalco com as almofadas. Os papas "devem ser velados e enterrados como qualquer outro filho da Igreja. Com dignidade, como qualquer cristão".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Francisco de Paula

São Francisco de Paula (A12)
02 de abril
São Francisco de Paula

Francisco nasceu no ano de 1416 em Paola (Paula), hoje província de Cosenza, na Calábria, reino de Nápoles, Itália. Seus pais, simples e muito religiosos, haviam pedido a intercessão de São Francisco de Assis – ou para ter um filho, ou para a cura de um abscesso no olho, dependendo da fonte – e prometendo-o à Igreja (permanentemente ou não, dependendo da fonte); daí o seu nome. Desde pequeno, estimulado pelo cuidado dos pais, demonstrou amor pela oração, retiro e mortificação.

Entre os 11 e 15 anos, Francisco passou um ano no convento franciscano de São Marcos Argentano, em Cosenza. Mesmo não tendo feito profissão, seguia exemplarmente a regra de São Francisco, aumentando inclusive o seu rigor, tornando-se modelo para os frades. Depois deste tempo, pediu aos pais que o acompanhassem em várias peregrinações: Assis, Montecassino, Roma, Loreto e Monte Luco. Voltando a Paola, fez uma experiência eremítica numa gruta das montanhas próximas, e por cinco anos só se alimentou de frutas, ervas silvestres e água, dormindo no chão e usando uma pedra como travesseiro.

Com o tempo, foi sendo procurado para conselhos, e outros mais o seguiram no exemplo de vida, buscando abrigo nas proximidades. Assim, aos 19 anos, havia ao seu redor um grupo que seria o núcleo da futura Congregação dos Mínimos de São Francisco de Paula (Ordem dos Eremitas de São Francisco de Paula). Por volta de 1453, com a devida permissão episcopal, e com a ajuda de muitas pessoas (incluindo nobres que se voluntariavam como operários), construiu um mosteiro e uma igreja.

Consta que neste período fez muitos milagres, como a recuperação da saúde num caso de doença incurável. No mosteiro, estabeleceu uma normatização para os discípulos, mas para si mesmo não diminuiu as austeridades (só aceitou dormir numa esteira quando idoso; dormia o mínimo necessário, fazia apenas uma refeição por dia, geralmente pão e água, e especialmente nas vésperas das grandes festas litúrgicas, ficava dois dias sem comer). Em 1474, o Papa Sisto IV oficializou a nova Ordem, a Congregação Paulina dos Eremitas de São Francisco de Assis (o reconhecimento da Regra, com o nome atual da Ordem dos Mínimos, é de Alexandre VI, 1492-1503), fazendo de Francisco o superior geral, chamado de corregedor, e com a obrigação de se lembrar de servir a todos.

O lema era Charitas (Caridade), associada à austeridade pessoal e ao apostolado; na prática, devia-se viver a "Quaresma perpétua", ou seja, durante o ano todo, o mesmo rigor da penitência, jejum e oração do período quaresmal, mais a caridade para com todos. Francisco inclusive fez deste ponto, em relação ao jejum, um quarto voto, como reparação dos excessos dos católicos durante a Quaresma, e como exemplo catequético. Fundou ainda quatro novas casas, em Paterno, Spezza, na Sicília e em Corogliano.

Embora o religioso fosse amado e respeitado também pela nobreza em geral, Frederico, terceiro filho do rei de Nápoles e príncipe de Taranto, alegou que Francisco construíra mosteiros em seu território, sem consentimento – uma desculpa para perseguir o santo por conselhos que dera ao seu pai e irmãos. Enviou um capitão para prendê-lo em Paterno, mas o oficial, diante da humildade do frade, não teve coragem, e voltando ao príncipe convenceu-o a deixar Francisco livre.

A humildade de Francisco era notória, e também seus milagres e o dom da profecia, e por isso o Papa Paulo II enviou um emissário para verificar esta fama em 1467, que não só a confirmou como aderiu à comunidade. Tendo adoecido, o rei da França, Luís XI, pediu ao Papa que lhe enviasse Francisco; o rei se converteu e o nomeou diretor espiritual do filho, futuro rei Carlos VIII. Na França, Francisco fundou novos mosteiros. Em 1506, como a Congregação havia já se tornado cenobítica e não mais eremítica, foram fundadas a Ordem Terceira Secular e o ramo feminino, com as respectivas regras.

 Avisado milagrosamente da sua morte, preparou-se para ela passando três meses na cela, sem qualquer comunicação externa. Faleceu por causa de uma febre, com cerca de 90 anos, entre 1505 e 1508, em Tours, França. Seu corpo, ainda incorrupto em 1562, foi queimado por calvinistas. É o padroeiro da região da Calábria, na Itália, e da cidade de Pelotas, no Brasil.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Se a maioria de nós, católicos, não tem a vocação conventual de Quaresma Perpétua de São Francisco de Paula, devemos imitá-la ao menos em espírito, fugindo da índole mundana para o qual este santo foi uma resposta na época renascentista, e que atormenta igualmente os dias atuais. Imitemo-lo também nas suas devoções, que resumem os pontos principais e imutáveis da nossa Fé, sendo fontes necessárias para quem de fato quer progredir na vida católica: o Mistério da Santíssima Trindade, a Anunciação à Virgem (e consequente Encarnação do Verbo), a Paixão de Nosso Senhor, e os Santíssimos Nomes de Jesus e Maria. A meditação destas verdades nos leva ao sentido correto da vida e indica o que devemos nela fazer, em função do nosso fim último.

Oração:

Pai Santo e eterno, que nos amais e desejais infinitamente na Vossa alegria, concedei-nos por intercessão de São Francisco de Paula viver a humildade que convence os maus do Bem, e não nos permite abusar do que é santo e sagrado – ocasiões, objetos, Vossa presença, também na Eucaristia e nos irmãos – de modo a não Vos ofender e a edificar as almas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF