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sexta-feira, 5 de abril de 2024

São Vicente Ferrer

São Vicente Ferrer )A12)
05 de abril
São Vicente Ferrer

Vicente nasceu em Valência, Espanha, no ano de 1350, em família nobre. Tanto o pai, tabelião, quanto sua mãe receberam sinais de que este filho seria santo, antes do seu nascimento. Muito inteligente, desde criança fazia “pregações” para outras crianças, e aos 12 anos começou a estudar Filosofia e Teologia, pois já dominava Gramática e Lógica.

Na juventude frequentava muito a igreja, jejuava duas vezes por semana, meditava longamente a Paixão de Cristo, rezava o Ofício da Cruz e as Horas de Nossa Senhora, e era caridoso com os pobres e os religiosos. Morando próximo de um convento dominicano, aos 17 anos pediu ingresso nesta Ordem dos Pregadores, fazendo os votos no ano seguinte (1368).

Como diácono apenas, já vinham pessoas de longe para ouvir suas pregações. Ordenou-se em 1378, e alternou, por ordem dos superiores, estudos com docência, em Lérida, Barcelona e Tolosa: doutorou-se em Filosofia e Teologia, que lecionava nestas universidades, além de Lógica. Sabia também a exegese dos santos, o Latim e o Hebraico.

Depois de ordenado, começou a peregrinar pela Europa em função do seu dom especial de pregação. O diabo o perseguia, tentando desanimá-lo da vida de perfeição, aparecendo-lhe como um venerável ermitão e depois com uma aparência monstruosa, dizendo-lhe que não conseguiria manter a santidade, ou como uma voz que lhe garantia a perda da castidade; mas em todas as ocasiões, e recorrendo a Nossa Senhora, Vicente enfrentava e espantava o demônio.

O ano da sua ordenação coincidiu com a eclosão do Grande Cisma do Ocidente, fruto de uma situação já delicada por causa da Guerra dos Cem Anos, quando eram fortes as interferências políticas nas eleições papais. Os franceses não aceitaram Urbano VI e elegeram o antipapa Clemente VII, que, após 70 anos, novamente levou a “sede papal”, agora ilegítima, para Avignon, na França.

Na época, não era tão simples perceber quem tinha a razão, pois de ambos os lados havia erros e ambições… e santidade: por exemplo, Santa Catarina de Sena apoiava Urbano VI, e São Vicente Ferrer a Clemente VII, convencido pelo cardeal aragonês Pedro de Luna. Horrível foi a divisão na cristandade. Para piorar o quadro, em 1409, numa tentativa de resolver o problema, num Concílio em Pisa foi eleito um terceiro pontífice, Alexandre V. Somente em 1417, no Concílio de Constança, retornou-se à unidade sob Martinho V, após a renúncia dos anteriores.

Neste ínterim, após o falecimento de Clemente VII, Pedro de Luna o sucedeu sob o nome de Bento XIII (não confundir com Bento XIII/Pedro Francisco Orsini, Papa em 1724). Era inicialmente austero e piedoso, convencido de sua legitimidade, e convidou frei Vicente a ser seu capelão e confessor, nomeando-o também Mestre do Sacro Palácio e penitenciário da corte papal. Mas algumas atitudes suas decepcionaram Vicente, que acabou doente, também pela gravidade da divisão entre os católicos; em três dias, estava já para morrer. Apareceu-lhe então Jesus, dando-lhe a missão de pregar contra os erros do tempo e conclamar o povo à conversão, garantindo-lhe apoio contra as dificuldades, e curando-o imediatamente.

Deixando Avignon em novembro de 1399, e com a permissão dos superiores percorreu a Europa: Espanha, Portugal, França, Suíça, Alemanha, Itália, Sabóia, Bélgica, Inglaterra, Irlanda e muitas outras regiões. Viajava a pé e depois num burro, quando ficou doente de uma perna, com qualquer tempo, tendo como proteção apenas o longo hábito dominicano, que cobria seus pés descalços.

Estando o continente imerso no cisma, em batalhas sangrentas, calamidades públicas, fome, miséria, misticismo, ignorância, peste negra (que matou um terço da população europeia), e acostumado com as visitas do diabo, Vicente pregava o iminente fim do mundo e os eventos prodigiosos que o precedem, os flagelos e tribulações pelas quais haveria de passar a humanidade. Lembrava os Novíssimos e o Juízo Final, condenando a mentira, o perjúrio, a blasfêmia, a calúnia, a usura, a simonia, o adultério, e tantos outros vícios daquela sociedade dissoluta. Seu lema era “ ‘Temei a Deus, e dai-Lhe glória, porque é chegada a hora do seu julgamento’ (Ap 14,7), porque o temor reverencial a Deus não é senão outro nome do amor.” Por causa deste teor, ficou conhecido como "o anjo do Apocalipse". Mas esta abordagem, impressionante mas verdadeira, buscava alcançar a unidade da Igreja, o fim das guerras, e a conversão sincera das almas pelo arrependimento e penitência, necessárias para a salvação. As multidões eram atraídas pela sua paixão e fervor, conhecimento e clareza, que tocava as consciências.

Dando o exemplo de vida interior, Vicente praticava o jejum e mortificações, incluindo a provação do sono para ter mais tempo de oração. Pregava em locais abertos, por causa das milhares de pessoas que o ouviam, e eram constantes os milagres, como o entendimento de todos em suas próprias línguas, mesmo ele falando apenas no seu dialeto valenciano, e a escuta por pessoas a mais de 45 km de distância. Numa ocasião, ressuscitou uma mulher judia que havia sido sarcástica à sua pregação e, deixando o local, foi imediatamente morta pela queda de um portal; viva, ela se converteu. De outra vez, expulsou três cavalos endemoninhados que se atiraram sobre a multidão. Curava os enfermos após cada pregação. Previa o futuro, como a vocação papal de Alonzo de Borja/Calisto III, dizendo a ele que o canonizaria, o que de fato aconteceu.

Vicente começou a ser seguido nos caminhos por camponeses, clérigos, nobres, teólogos, incultos, adultos e crianças, e logo surgiram os bons frutos: milhares se flagelavam em procissões penitenciais, conversões e volta à Igreja aconteciam, criminosos se arrependiam, surgiam consagrados à vida religiosa.

Ele se acompanhava de muitos confessores de várias nações para atender aos penitentes, e costumava se confessar antes da Missa solene na qual pregava. Mesmo idoso e com dificuldades, precisando de ajuda para subir nos estrados, continuou pregando, e parecia recuperar as forças quando começava a falar.

 Vicente faleceu em viagem de pregação à Bretanha, em 5 de abril de 1419. Foi dito dele que, “exceção feita aos Apóstolos, provavelmente ninguém excedeu São Vicente Ferrer como pregador”Foi declarado padroeiro de Valência e Vannes.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Acima de todos os erros, fragilidades e defeitos do ser humano, está a Providência Divina, Senhora absoluta da História. Quem de fato governa a Igreja e o seu caminhar no tempo (isto é, aquilo que conhecemos como os acontecimentos sucessivos neste mundo material em razão de uma finalidade transcendental) é Deus, e não os Homens. Por isso a santidade é possível mesmo se, como São Vicente Ferrer, nos enganamos a respeito de alguma questão, ainda que importante. É verdade que para isso deve existir uma sinceridade absoluta da alma na busca do que é certo (e São Vicente por fim apoiou a renúncia de “Bento XIII”). Esta disposição espiritual é decisiva, pois como ensina a Bíblia, “Quem dera fosses frio ou quente! Como és morno, estou para te vomitar da Minha boca” (cf. Ap 3,15-16). De fato, a pior situação de uma alma é querer agradar, ao mesmo tempo, a Deus e o mundo, sem compromissos definitivos com a Verdade ou a sua busca – infelizmente, um retrato muito fiel da condição de não poucos católicos, que se iludem ao eventualmente frequentar alguma igreja de tijolos mas não a Igreja do Espírito, discordando de pontos da Doutrina, escolhendo só o que lhe agrada nos ensinamentos da Igreja e até nos Mandamentos e Sacramentos de Deus (é pecado gravíssimo, por exemplo, comungar sem querer se confessar com um sacerdote), e na rotina praticar atos contrários à Fé (como ver filmes de conteúdo moral e espiritual divergentes do Catolicismo, não ser completamente honesto no trabalho, etc.). Não sabemos quando será o fim do mundo, mas é certo que morreremos. E é para esta ocasião, absolutamente pessoal, que devemos nos converter sinceramente, pois a cada momento dela nos aproximamos, de modo inexorável. E a morte não deve ser vista com pavor ou desespero, mas como a passagem necessária para a felicidade infinita com Deus; deve ser preparada como a melhor obra da nossa vida, como a obra-prima de um artista, que se dedica ao máximo, com alegria e com todo o empenho e constância possível, na sua perfeição.

Oração:

Deus de bondade e sábio condutor da História, dai-nos por intercessão de São Vicente Ferrer a compreensão da importância de buscar veementemente o arrependimento e a conversão, a unidade da Igreja especialmente pelo fim das guerras na alma e da pregação da Verdade, e a santa preparação para o encontro definitivo Convosco através dos conselhos que ele ensinava para tratar o próximo: doar-se com compaixão, alegria, tolerância, perdão, afabilidade, respeito e concórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Fonte dos quatro rios: monumento a um papa, um imperador e um faraó

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Camille Dalmas – publicado em 03/04/24
Construída no século XVII, a Fonte dos Quatro Rios na Piazza Navona de Roma testemunha o prestígio dos papas, o poder dos imperadores romanos e a misteriosa piedade dos faraós.

Localizada no centro da Piazza Navona, esta estrutura é famosa em todo o mundo. Conhecida como a "Fonte dos Quatro Rios", foi encomendada pelo Papa Inocêncio encarnações musculosas dos grandes rios do mundo - o Danúbio, o Ganges, o Nilo e o Rio da Prata -, estátuas agarradas a um rochedo barroco.

Os transeuntes são atraídos pelo murmúrio das águas e pela expressividade das alegorias. Mas, como costuma acontecer em Roma, é preciso olhar para cima para não perder nada. Bernini colocou um enorme obelisco no topo da estrutura, a pedido do Papa, e a sua história é particularmente incomum. Se começarmos pelo topo do monólito, encontraremos, como costuma acontecer em Roma, uma cruz de bronze no edifício pagão. Abaixo da cruz, o artista retratou uma pomba com um ramo de oliveira, brasão da família Pamphilj à qual pertencia Inocêncio X.

Graças a este monumento, este Papa pertence à família dos “Papas Faraós” que decidiram valorizar a herança egípcia presente em Roma. Assim como ele, Sisto V (1585-1590), Alexandre VII (1655-1667), Clemente XI (1700-1721), Pio VI (1775-1799) e Pio VII (1800-1823) instalaram um dos 13 obeliscos. A construção do chafariz, caríssima, não agradou a todos. O povo de Roma deixou bem clara a sua opinião ao deixar esta inscrição no monumento: “Dic ut lapides isti panes fiant ” . O que significa: “Faça com que estas pedras se transformem em pães”.

Prestígio e universalidade

Ao reabilitar os obeliscos, os papas reavivaram o prestígio dos imperadores de outrora e proclamaram-se defensores de uma universalidade capaz de abranger todas as culturas, mesmo as pagãs de outrora. Foi esta consideração, alimentada pelo pensamento humanista da sua época, que levou à criação dos Museus do Vaticano pelo Papa Júlio II no século XVI. Finalmente, o fascínio pelos “mistérios” egípcios alimentou a curiosidade de muitas mentes eruditas da época.

Para restaurar o obelisco da Piazza Navona - também conhecido como "obelisco agonal" - as oficinas de Bernini tiveram que restaurar as quatro faces de granito do monumento, que estavam deterioradas. Isto se aplica ao seu "pirâmide", a ponta piramidal do obelisco. Para fazer isso, recorreram a um certo Athanasius Kircher, um estudioso apelidado de "o último homem que sabia tudo", mas que, é claro, sabia muito pouco sobre hieróglifos. No entanto, ele completou alguns fragmentos.

Inscrições misteriosas

Estas inscrições, traduzidas no século XX, revelam um facto surpreendente: este obelisco, embora esculpido no Egito e depois transportado para Roma, foi desenhado a pedido do imperador Domiciano, e não resgatado dos restos dos reinos egípcios. Os hieróglifos foram, portanto, escritos para o soberano romano, mas foram claramente inspirados na forma como os faraós de antigamente eram descritos, disse o egiptólogo italiano Nicola Barbagli numa conferência organizada pelos Museus do Vaticano.

Domiciano, imperador do século I, estava de facto pessoalmente ligado ao Egipto, território que pertenceu ao Império Romano durante quase 100 anos. Seu pai, o imperador Vespasiano, soube que ele se tornaria imperador no ano 69, enquanto orava no templo de Serápis, em Alexandria. As circunstâncias deste episódio são estranhas e, segundo um cronista, houve milagres envolvidos.

Papa e construtor

Como imperador, Vespasiano fomentou uma verdadeira piedade, misturada com crenças mágicas, para com deuses como Ísis e Serápis, que transmitiu aos seus sucessores Tito (79-81) e Domiciano (81-96). Para o povo egípcio, o imperador era então considerado um faraó, apesar do fim da dinastia ptolomaica com a morte de Cleópatra em 30 a.C., e Domiciano parece ter tido especial consciência desta responsabilidade e das suas implicações espirituais.

Num único monumento, a história testemunha assim o prestígio de um papa construtor e humanista, a piedade esotérica de um imperador e a persistência, na Roma antiga, da linhagem dos faraós.

Fonte: https://es.aleteia.org/

O Criador e as hipóteses da Ciência

O Universo (Reprodução: Internet)

O livro de dois autores franceses que pretende oferecer um panorama das "provas científicas" da existência de Deus é um best-seller. Há seis meses, com um propósito diferente, o diretor do Departamento de Física Teórica da Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN) publicou um ensaio sobre “Antes do Big Bang”.

ANDREA TORNIELLI

O primeiro fato indubitável é o interesse que desperta a pergunta sobre a origem do universo e a hipótese do Deus criador. Isto é atestado pelas vendas do volume de Michel-Yves Bolloré e Olivier Bonnassies (Deus, ciência, as provas, Edições Sonda, 610 páginas, 24,90 euros) que, depois de ter sido lançado, na França, em 2021, tornando-se um best-seller, está agora subindo na classificação também na Itália, onde acabou de ser impresso. Os dois autores pretendem apresentar as provas científicas da existência de Deus e de um desenho inteligente na origem do universo, alinhando uma série de descobertas recentes. São teorias, corroboradas por cálculos e observações, que abalam muitas supostas certezas daqueles que em nome da ciência pretenderam desmentir a existência do Criador. Pode-se discutir a opção de misturar, num mesmo volume com declarada intenção apologética, o tema da origem do universo e das aparições de Fátima (tema ao qual são dedicadas 44 páginas), bem como outras reflexões sobre a historicidade de Jesus e seus milagres. Mas a questão colocada – o mistério na origem do universo e da vida – é fascinante.

De fato, muitas páginas do livro ajudam a entender a sabedoria das palavras contidas na Constituição Dogmática Dei Filius do Concílio Vaticano I: "Não pode haver desacordo real entre fé e razão". Esse concílio, àqueles que alegavam incompatibilidade entre as verdades da fé e o conhecimento racional confiado à razão natural, respondia afirmando, em palavras ainda relevantes hoje, que há duas ordens diferentes de conhecimento, distintas em princípio e objeto, que não entram em conflito uma com a outra. Mas ele também explicava que há uma inteligência mais ampla, aquela que liga todas as coisas criadas ao seu Criador, capaz de abranger o que a inteligência humana, com seus meios, pode saber sobre a realidade empírica. Essa é a ideia de razão da qual Bento XVI falou em seu memorável discurso no Bundestag em setembro de 2011: depois de afirmar que "a visão positivista do mundo é, em sua totalidade, uma parte grandiosa do conhecimento humano e da capacidade humana, à qual absolutamente não devemos renunciar", o Papa Ratzinger descreveu os riscos de uma certa razão positivista, "que se apresenta de maneira exclusivista e é incapaz de perceber qualquer coisa além do que é funcional". Ele a comparou a "edifícios de concreto armado sem janelas, nos quais nos damos clima e luz por nós mesmos e não queremos mais receber ambos do vasto mundo de Deus". No entanto, as palavras do Vaticano I e as de Bento também são úteis para nos mantermos atentos contra uma tentação especular e oposta, a de forçar a questão de Deus para a esfera restrita da razão científica, que acaba assim por ser implicitamente reconhecida como a única fonte crível de conhecimento. O ensaio dos dois autores franceses não está isento deste risco.

Que não há conflito entre ciência e fé também é atestado pela longa linhagem de cientistas crentes, autores de grandes descobertas. Basta aqui mencionar apenas dois nomes: o de um contemporâneo de Darwin, o frade agostiniano morávio Gregor Mendel, hoje considerado o pai da genética; ou a do padre Georges Edouard Lemaître, definido como o pai da cosmologia moderna, que em 1927 foi o primeiro a notar a expansão do universo, descoberta que está na origem da Teoria do Big Bang.

No livro de Bolloré e Bonnassies, dois argumentos cosmológicos são amplamente descritos em apoio à existência de Deus: em primeiro lugar, a evidência, confirmada por várias provas científicas, de que o universo está em expansão e que teve início por volta de 13,8 bilhões de anos atrás. Se não foi possível observar o momento inicial, foi encontrado um vestígio de uma fase posterior, quando o universo tinha 0,003% da sua idade atual. Esta evidência faz com que os autores digam que, visto que a ciência demonstrou o início dos tempos, isto postula a existência de um Criador. Até algumas décadas atrás, os astrofísicos tinham muito mais certezas do que hoje. Agora, os cientistas nos dizem que conhecemos apenas 5% do nosso universo. Apenas esta quantidade de 5 por cento é composta de matéria “comum” e visível (galáxias, estrelas, planetas, luas, gás...). O “resto” desconhecido de 95% consiste em 27% de matéria escura e 68% de energia escura. O que realmente são esta matéria escura e essa energia escura, como estão interligadas na estrutura geral do cosmos, ainda deve ser descoberto. É claro que a ignorância consciente sobre o tema representa mais uma razão para evitar ancorar uma questão séria como a existência de Deus num modelo cosmológico que ainda é incompleto do ponto de vista científico. Seria melhor reconhecer que «a ciência não pode demonstrar a existência de Deus simplesmente porque Deus não é o “tipo de coisa” que a ciência é capaz de investigar com os seus métodos. Naturalmente, o oposto também se aplica: aquelas posições que afirmam usar a ciência para excluir a fé em Deus estão completamente fora de lugar”, observou o astrofísico Marco Bersanelli ao escrever sobre o livro de Bolloré e Bonnassies no jornal Il Foglio.

O segundo argumento proposto no ensaio recentemente publicado diz respeito a outra evidência científica, ou seja, o fato de as leis reguladoras do nosso universo estarem predispostas a produzir as condições para o aparecimento da vida. A vida na Terra é, na verdade, possível graças a uma série de circunstâncias precisas (por exemplo, a inclinação do eixo estável da Terra graças à Lua em 23,5 graus, a distância certa entre a Terra e o Sol, a existência da molécula de água tão atípica que parece ter sido criada precisamente para que haja a vida: se de fato a água se comportasse como outras substâncias, seria mais densa à medida que esfria, o gelo afundaria em vez de flutuar e os mares congelariam, etc.). O universo, em suma, foi feito para nos permitir existir. A harmonia com a existência da vida é tão precisa que se todo o universo não fosse exatamente como é, não existiríamos hoje.

Existem, portanto, constantes físicas fundamentais cujo valor permite a existência do universo tal como o vemos e da vida tal como ela é. Essas constantes não são muitas e não há atualmente nenhuma razão conhecida para que sejam assim. Se houvesse mais matéria do que existe agora, o Universo entraria em colapso: já o teria feito, não teria atingido a marca dos mais de 13 bilhões de anos. Se houvesse um pouco menos de matéria, o universo teria se expandido mais rapidamente e não existiriam estrelas, fundamentais para a vida. Se a matéria não se agregar para formar estrelas, a vida não existe.

Diante dessas evidências, há quem fale do acaso como um elemento que está na origem do nosso universo, levantando a hipótese da presença de universos infinitos - a teoria do multiverso - que teriam casualmente se desenvolvido de uma forma completamente diferente da nossa e que para nós eles são desconhecidos. Uma afirmação um tanto “metafísica” (do ponto de vista científico, no sentido de além da física, a Ciência no sentido galileu do termo): esses infinitos outros universos podem de fato ser levantados como hipóteses para justificar a existência casual do nosso, mas não são observáveis​​e, portanto, não podem ser experimentados. Como podemos ver, a hipótese - para quem tem o dom da fé não é hipótese, mas certeza - de que Alguém pensou e está na origem dos céus e da terra, de que Alguém pensou em nós, nos quis e nos desenvolveu como somos, que nos amou e continua nos amando, dando-nos vida a cada momento, não pode ser demonstrada “cientificamente”, mas não é menos plausível do que outras hipóteses igualmente metafísicas.

A superação de barreiras é, portanto, positiva, assim como o desaparecimento de antigos axiomas segundo os quais a ciência, em particular aquela que trata da origem do universo, seria capaz de demonstrar que Deus não existe. Porém, ao mesmo tempo, a tentativa de comprovar cientificamente a sua existência também deve ser evitada.

A este respeito, é interessante ler Antes do Big Bang (Rizzoli editore, pp. 249, 19 euros), o livro do diretor do Departamento de Física Teórica da Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN), Gian Francesco Giudice, publicado em setembro passado. Este também é um ensaio cuja origem se deve à pergunta de uma menina que viajava de trem sentada em frente ao cientista com a intenção de ler um artigo sobre cosmologia quântica. A menina perguntou o que ele estava lendo e ao ouvir a resposta: “É a história do universo”, ela lhe disse: “Se conta toda a história do universo, fala também de mim?”. Uma pergunta que surpreendeu Giudice, deixando-o momentaneamente sem palavras, que a seguir respondeu incerto: «Não, penso que não. Mas ainda não li tudo".

Também neste livro falamos sobre o Big Bang; da expansão do universo comprovada pela descoberta casual de dois radioastrônomos da companhia telefônica Bell que em 1965 detectaram a energia cósmica de fundo, considerada prova irrefutável de que o universo não está apenas se expandindo hoje, mas que no passado atingiu níveis muito elevados temperaturas; da uniformidade quase perfeita do universo mesmo em lugares do espaço que nunca conseguiram se comunicar entre si; do estado de um universo incompreensivelmente ordenado após o Big Bang. Até chegar à teoria do “multiverso” segundo a qual toda história cósmica possível acontece em algum universo paralelo e se repete em infinitos outros universos paralelos. O cientista do CERN comenta esta última teoria: «É inegável que hoje a verificabilidade do multiverso parece extremamente árdua...». Giudice, que também critica o excesso de entusiasmo demonstrado pelos que creem diante da descoberta do Big Bang, também destrói o uso mais recente da mesma descoberta para justificar o ateísmo por aqueles que afirmam que a criação cósmica ocorre a partir do Nada.

Eis que o espetáculo do nascimento do universo e o estupor com que o cientista o relata falam mais aos que creem do que as tentativas de provar Deus com equações e experimentos de laboratório. É o mesmo estupor presente no comunicado da Specola Vaticana, que há algumas semanas relatou a descoberta do padre Gabriele Gionti e do padre Matteo Galaverni, o desenvolvimento de um novo método matemático útil para entender os primeiros instantes do universo, mostrando como há uma conexão entre as teorias alternativas da gravidade e uma teoria particular da gravidade chamada "anti-Newtoniana" ou "antigravidade".

Aceitamos, portanto, livros que nos permitam penetrar um pouco mais nos mistérios da formação do universo. Mas muita cautela para evitar confiar na ciência e nos seus métodos para “provar” a existência do Criador. Recordemos sempre as declarações de João Paulo II, que durante uma Audiência Geral em julho de 1985 disse: «Quando falamos de provas da existência de Deus, devemos sublinhar que não se trata de provas científico-experimentais. As provas científicas, no sentido moderno da palavra, são válidas apenas para as coisas perceptíveis aos sentidos, pois só sobre estas podem ser exercidos os instrumentos de investigação e verificação, que a ciência utiliza. Querer prova científica de Deus significaria rebaixar Deus à categoria de seres do nosso mundo e, portanto, já estar metodologicamente errado sobre o que Deus é. A ciência deve reconhecer os seus limites e a sua impotência para alcançar a existência de Deus: ela não pode afirmar nem negar esta existência. No entanto, não se deve tirar disso a conclusão de que os cientistas são incapazes de encontrar, nos seus estudos científicos, razões válidas para admitir a existência de Deus. Se a ciência, como tal, não pode chegar a Deus, o cientista, que possui inteligência cujo objeto não é limitando às coisas sensíveis, pode descobrir no mundo as razões para afirmar um ser que o supera. Muitos cientistas fizeram e estão fazendo esta descoberta”.

Palavras que ecoam as do pioneiro do Big Bang, padre Lemaître, que, no final de uma conferência pública, quando questionado se o átomo primitivo deveria ser identificado com Deus, respondeu sorrindo: «Tenho muito respeito por Deus para fazer disso uma hipótese científica”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A aparição de Jesus ressuscitado à santa Maria Madalena em São Cirilo de Alexandria

Jesus ressuscitado (Vatican News)

A APARIÇÃO DE JESUS RESSUSCITADO À SANTA MARIA MADALENA EM SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

No evangelho da Páscoa, a liturgia leu o evangelista São João tendo presentes Maria Madalena, depois Pedro e o discípulo amado, João (cf. Jo 20,1-9). O Evangelista São João colocou dados importantes no seu relato que no primeiro dia da semana, que para os cristãos, católicos e católicas, é o domingo, enquanto ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e percebeu que a pedra fora removida. Ela foi ao encontro de Simão Pedro e o outro discípulo que o Senhor amava dizer-lhes que tiraram o Senhor do túmulo e não sabiam onde o colocaram. Juntamente com Maria Madalena, Pedro e João foram até ao túmulo e somente o discípulo amado viu e acreditou, porque eles não tinham ainda compreendido a Escritura que o Senhor ressuscitaria dos mortos (cf. Jo 20,1-10). São Cirilo de Alexandria, bispo no século V, elaborou uma doutrina a respeito de Santa Maria Madalena, percebendo-a como uma personagem que seguiu a Jesus e também pela ressurreição do Mestre foi lhe dada a graça da aparição de Cristo Ressuscitado e pela Igreja o título de Apóstola dos Apóstolos.   

Mulher diligente e sabedora das coisas. 

O bispo Cirilo afirmou que Maria Madalena foi uma mulher diligente, sabedora das coisas do Senhor, de modo que ela não ficou em casa e nem abandonou o sepulcro1 ainda que os dois apóstolos tivessem voltado para casa. Sabendo que o sábado tinha se esgotado e já na aurora do outro dia, andou de pressa ao sepulcro e vendo que a pedra estava removida, pensou que o corpo de Jesus fora levado embora. A mulher percebeu desta forma as coisas de modo que ela voltou para as pessoas que amavam o Senhor, para fazer com que os dois discípulos a ajudassem na sua procura2. Mas como ela alimentava uma fé muito forte e constante não se deixou tomar por sentimentos de desconfiança para com o Senhor Jesus pelo escândalo da cruz, mas o chamou como ela o conhecia de Senhor ainda que estivesse morto, tanto era o afeto que ela tinha para com o Senhor3.  

A Escritura tinha dito a respeito da ressurreição.  

Ela foi contar aos dois discípulos as coisas vistas por ela. Os dois chegaram ao túmulo, mas não pensavam que Cristo ressuscitou dos mortos. A ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana. Por isso foi que o evangelista João disse que Maria Madalena foi ainda de madrugada junto ao sepulcro. Já o evangelista Mateus colocou a ressurreição na noite profunda do primeiro dia da semana(cf. Mt 28,1-2). Mas para São Cirilo, noite profunda e o primeiro dia da semana são as mesmas coisas, conforme a Escritura, para significar a ressurreição do Senhor no domingo4.  

Fora do túmulo, Maria chorava.  

Enquanto os discípulos voltaram para casa, Maria Madalena permaneceu junto ao sepulcro, chorando pelo lado de fora, São Cirilo disse que se os discípulos se esconderam para não serem vistos pelas autoridades judaicas, devido ao Salvador, Maria Madalena que amava Cristo Jesus não tinha nenhum receio ou medo, nem pensava na violência dos judeus, estava corajosamente junto ao sepulcro, derramando lágrimas e não somente porque o Senhor morreu, mas porque suspeitava que fosse levado o corpo de Jesus embora do sepulcro5. Maria Madalena chorou pela sua relação forte com Deus e voltou o seu pensamento sincero ao Senhor, o Salvador e através primeiramente dos anjos, o conhecimento do seu mistério6. 

Os anjos disseram a Maria Madalena de parar de chorar (cf. Jo 20,14). O fato era que a morte fora destruída e também a corrupção do seu corpo, de modo que Cristo, Nosso Senhor ressuscitou dos mortos renovou toda a criação, dando a vida a incorruptibilidade pelo dom da vida eterna. Ela na verdade deveria alegrar-se pelas coisas boas que o Senhor fez pela sua morte e ressurreição. O fato de que os anjos estavam lá o corpo do Senhor não poderia ter sido levado embora com violência porque eles protegeram o corpo do Senhor7. 

A aparição do Ressuscitado dada à Maria Madalena. 

São Cirilo levantou uma pergunta o fato de que os anjos não se manifestaram aos discípulos mas sim à mulher e falaram com ela. O bispo disse que o Cristo Salvador se faz conhecer às almas de quem o amavam, a plenitude do seu mistério e as almas nas quais dar-se-iam a fé8. Maria Madalena respondeu a estas expectativas, pelo seu amor grande ao Senhor. Ela olhou para trás e viu Jesus que estava lá, mas Maria não sabia que era Jesus(cf. cf. Jo 20,14). Como ela não deixava de chamar Cristo, Senhor demonstrando todo o seu afeto pelo Senhor, porque ela acreditava em Jesus, ela gozou da visão das coisas desejadas, a ressurreição de Jesus. Viu Jesus, no entanto ainda não entendeu que lá Ele estava presente (cf. Jo 20,15).  

A aparição vizinha a ela. 

Maria Madalena viu Jesus vizinho a ela e não reconheceu que era Ele, não discernindo o aspecto do corpo e a fisionomia da face, ainda que o Senhor tivesse lhe dito: Mulher, porque choras? (cf. Jo 20,15) Aquelas palavras eram dóceis mas ainda desconhecidas para ela. O fato era que Maria chorava pelo Senhor que sofreu, estava morto e além disso ela suspeitava que as autoridades tinham levado embora o corpo de Jesus. Mas agora o Senhor ressuscitado estava lá, apareceu para ela, transformando o choro em alegria9. Para o Bispo de Alexandria, Jesus Ressuscitado enxugou as lágrimas de Maria Madalena e também de todas as mulheres, levando-as do pecado original à graça da vida. Maria tornou-se a sua primícia10.  

Maria: Mestre.  

O Senhor a chamou pelo nome. Maria Madalena entendeu logo aquela nova presença e o honrou no modo habitual chamando-o de Rabbuni, isto é Mestre e tomada de uma imensa alegria, correu junto dele para tocar o seu santo corpo e para ser bendita pelo Senhor (cf. Jo 20, 16)11.  

O Senhor ainda não subiu ao céu  

O Senhor pediu a ela de não abraçar os seus pés porque Ele ainda não tinha subido ao seu Pai (cf. Jo 20,17), Se na encarnação em diversas ocasiões Jesus tocava nas pessoas e as pessoas também tocavam nele, para receberem as curas, agora Ele pediu a Madalena de não tocá-lo. Segundo São Cirilo a explicação dada era porque Ele não tinha ainda voltado para o Pai e também não tinha sido enviado o Espírito Santo por meio dele, do Senhor Jesus ressuscitados dos mortos, sobre as pessoas de modo que era somente em Pentecostes o grande acontecimento da descida do Espírito Santo12, de modo que Ele disse que ainda não tinha voltado ao Pai para assim enviar o Espírito Santo,  

A missão do Ressuscitado a Maria Madalena. 

O Senhor Ressuscitado deu a Maria Madalena, pela sua forte fé e pelo seu amor um duplo prêmio, porque ela viu o Senhor ressuscitado uma vez que ela estava chorando por Cristo, mas o Senhor transformou a tristeza em alegria. São Cirilo percebeu a nova situação que o Senhor deu àquela mulher superando a antiga condição de pecado na qual o ser humano ouviu a voz da serpente de modo a desobedecer a Deus pela comida do fruto proibido. Agora, novamente num jardim, o Senhor libertou daquela maldição na qual a mulher chorava, desejando que ela, Maria Madalena fosse anunciadora de grandes bens e lhes deu ordens de anunciar a sua volta aos céus, de modo que pela obediência às palavras do Salvador e anunciando aquilo que conduz à vida eterna libertasse do pecado todo o gênero humano13. 

Os pés de Maria Madalena. 

Ela era desejosa por abraçar os pés do Senhor Ressuscitado, no entanto, ela se tornou uma mensageira, através de seus pés e mente de uma boa noticia (cf. Is 52,7).  Ela foi digna, pelos seus pés especiosos da pregação do Profeta, para anunciar aos outros discípulos, a ressurreição de Jesus14. Maria Madalena não era mais expectadora da ressurreição de Jesus, mas sua anunciadora, de uma forma diferente dos judeus que não acreditavam na ressurreição de Jesus15.  

Para São Cirilo, deu o evangelista João uma menção importante a Maria Madalena porque esta mulher amava de uma forma ardente a Jesus e ela foi por primeiro ao sepulcro, buscando por todos os lugares o corpo de Jesus, pensando que algumas pessoas tinham levado o seu corpo embora16.  

A missão do Ressuscitado dada a Maria Madalena para apóstolos. 

O Salvador deu honra e glória eterna a Maria Madalena, confiando-lhe a missão de anunciar aos irmãos, os apóstolos: “Subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Para São Cirilo esta afirmação do Senhor buscava referências para dizer para Maria Madalena que o Unigênito Verbo de Deus fez-se semelhante a todo o gênero humano, para que este fosse semelhante a ele, na renovação da graça do Senhor17. 

A missão de Maria foi de proclamar a todas as pessoas que são irmãos e irmãs em Jesus, por graça de Deus, e o Pai de todos, seja de Jesus e todos: “Meu Pai e vosso Pai, mas também que Deus é o seu Pai e Deus nosso (cf. Jo 20,17). O Deus do Universo é Pai de Jesus Cristo e é também o Pai de toda a humanidade. Jesus chama Deus Pai seu Pai pela sua natureza divina e nós, suas criaturas, somos semelhantes a Ele, pela sua generosidade e a sua bondade18. Maria Madalena foi anunciar aos discípulos que ela viu o Senhor e contou o que Jesus lhe tinha dito (Jo 20,18). Maria anunciou aos seus irmãos, os apóstolos que Jesus ressuscitou dos mortos, estando fora das relações da morte e levou aos discípulos as palavras da vida e a primícia do evangelho divino19.  

Santa Maria Madalena foi discípula do Senhor Jesus e ela manifestou grande amor a Ele de modo que teve uma graça muito grande, uma manifestação do Ressuscitado para ela. Ela levou o título de apóstola dos apóstolos, por ser uma das primeiras mulheres mensageiras do Ressuscitado, levando aos outros as palavras de vida eterna que vinham de Jesus às outras pessoas e aos apóstolos.

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[1] Cfr. Cirillo di Alessandria. Commento al Vangelo di Giovanni/3. (Libri IX-XII)). Traduzione e Indici di Luigi Leone. Roma: Città nuova editrice, 1994.

[2] Cfr. Idem, pgs. 464-465.

[3] Cfr. Ibidem, pg. 465.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 465.

[5] Cfr. Ibidem, pgs. 466-467.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 467.

[7] Cfr. Ibidem, pg. 468

[8] Cfr. Ibidem, pg. 468.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 470.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 470.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 471.

[12] Cfr. Ibidem, pgs. 473-474.

[13] Cfr. Ibidem, pgs. 474-475.

[14] Cfr. Ibidem, pg. 475.

[15] Cfr. Ibidem, pgs. 475-476.

[16] Cfr. Ibidem, pg. 476.

[17] Cfr. Ibidem, pg. 476.

[18] Cfr. Ibidem, pg. 477. .

[19] Cfr. Ibidem, pg. 478.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Francisco: sem justiça não há paz

O Papa Francisco durante a Audiência Geral (Vatican Media)

"A justiça" foi o centro da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral. É a segunda das virtudes cardeais. "A virtude social por excelência. A virtude do direito, que busca regular as relações entre as pessoas com equidade".

Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco prosseguiu com o ciclo de catequeses sobre vícios e virtudes na Audiência Geral, desta quarta-feira (03/04), realizada na Praça São Pedro.

O tema deste encontro semanal do Pontífice com os fiéis foi "A justiça", a segunda das virtudes cardeais, "a virtude social por excelência", "a virtude do direito, que busca regular as relações entre as pessoas com equidade".

A justiça é fundamental para a convivência pacífica

A justiça "é representada alegoricamente pela balança, pois visa “igualar as contas” entre os homens, principalmente quando correm o risco de serem distorcidos por algum desequilíbrio. O seu objetivo é que numa sociedade todos sejam tratados de acordo com a sua dignidade. Os antigos mestres já ensinavam que para isso são necessárias outras atitudes virtuosas também, como a benevolência, o respeito, a gratidão, a afabilidade, a honestidade: virtudes que contribuem para a boa convivência entre as pessoas".

O Papa Francisco durante a Audiência Geral (Vatican Media)

“Todos entendemos como a justiça é fundamental para a convivência pacífica na sociedade: um mundo sem leis que respeitem os direitos seria um mundo em que é impossível viver, seria semelhante a uma selva. Sem justiça não há paz. De fato, se a justiça não for respeitada, geram-se conflitos. Sem justiça, a lei do abuso dos fortes sobre os fracos é estabelecida. E isso não é justo.”

Segundo o Papa, "a justiça é uma virtude que atua tanto no grande quanto no pequeno: não diz respeito apenas às salas dos tribunais, mas também à ética que distingue a nossa vida quotidiana. Estabelece relações sinceras com os outros: realiza o preceito do Evangelho, segundo o qual o discurso cristão deve ser: «“Sim, sim”, “Não, não”; o que for além disto vem do Maligno»".

O Papa Francisco durante a Audiência Geral na Praça São Pedro (Vatican Media)

O homem justo é íntegro, não usa máscaras

“As meias verdades, os discursos sutis que querem enganar o próximo, as reticências que escondem as reais intenções, estas não são atitudes condizentes com a justiça. O homem justo é íntegro, simples e franco, não usa máscaras, apresenta-se como é, fala a verdade.”

A palavra “obrigado” aparece frequentemente nos seus lábios: ele sabe que, por mais que tentemos ser generosos, continuamos em dívida com o próximo. Se amamos é porque fomos amados primeiro também.

Francisco disse ainda que "a virtude da justiça deixa claro – e coloca no coração a exigência – de que não pode haver um verdadeiro bem para mim se não houver também o bem de todos. O homem justo zela pelo seu comportamento para que não prejudique os outros: se comete um erro, pede desculpas. Em algumas situações, ele até sacrifica um bem pessoal para disponibilizá-lo à comunidade".

O Papa Francisco deixando a Praça São Pedro no final da Audiência Geral (Vatican Media)

Ser homens e mulheres justos

Segundo o Papa, o homem justo "deseja uma sociedade ordenada, na qual as pessoas têm mais valor do que os cargos, e não o contrário. Ele abomina as recomendações e não troca favores. Adora a responsabilidade e é exemplar em viver e promover a legalidade. O justo evita comportamentos prejudiciais como a calúnia, o falso testemunho, a fraude, a usura, a zombaria e a desonestidade. Ele mantém a sua palavra, devolve o que pediu emprestado, paga aos trabalhadores os salários justos, um homem que não paga aos trabalhadores os salários justos não é justo: é injusto".

“Nenhum de nós sabe se no nosso mundo os homens justos são numerosos ou tão raros quanto pérolas preciosas. Certamente, são homens que atraem graças e bênçãos tanto para si quanto para o mundo em que vivem.”

De acordo com Francisco, "os justos não são moralistas que assumem o papel do censor, mas pessoas íntegras que “têm fome e sede de justiça”, sonhadores que guardam no coração o desejo de uma fraternidade universal". "Todos nós temos muita necessidade desse sonho, principalmente hoje. Precisamos ser homens e mulheres justos, e isso nos fará felizes", concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

NAZARENO: O milagre e a realidade dos fatos (a cura do cego de nascença) - (36)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 36 - O milagre e a realidade dos fatos (a cura do cego de nascença)

A Festa dos Tabernáculos havia terminado, mas Jesus permaneceu em Jerusalém por mais alguns dias. Certa manhã, ele encontrou um jovem cego que estava andando às apalpadelas, encostado na parede. Seu nome é Issacar e ele vive da mendicância. Ele é cego de nascença, nasceu sem pupilas. Jesus cospe no chão, faz lama com sua saliva, passa a lama nos olhos do cego e lhe diz: "Vá se lavar na piscina de Siloé". Issacar, com o rosto sujo, chega lá rapidamente, graças à ajuda de um menino. Ele se lava e volta a ver. A notícia corre de boca em boca. O jovem é levado aos fariseus. É um sábado. Issacar também explica a eles o que aconteceu. Então alguns dos fariseus disseram: "Este homem não é de Deus, porque não guarda o sábado". Outros dizem: "Como pode um pecador realizar tais sinais?". Em vez de se renderem à evidência dos fatos, alguns dos fariseus especulam sobre uma armadilha.

Issacar toma a palavra: “Isso é espantoso: vós não sabeis de onde ele é e, no entanto, abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas, se alguém é religiosos e faz a sua vontade, a este ele escuta. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença. Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer”. A reação é furiosa: “Tu nasceste todo no pecado e nos ensinas? E o expulsaram.

Jesus ficou sabendo o que havia acontecido. No dia seguinte, passou pela mesma rua e encontrou o jovem curado conversando com seus amigos: todos ainda estavam cheios de espanto. O Mestre pergunta a Issacar: “Crês no Filho do Homem?”. Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?”. Jesus lhe disse: “Tu o estás vendo, é quem fala contigo”. Exclamou ele: “Creio, Senhor!”. E prostrou-se diante dele. Jesus o faz se levantar. O Nazareno levanta sua voz para que todos ouçam: “Para um discernimento é que vim a este mundo: para os que não veem, vejam, e os que veem, tornem-se cegos”. Jesus veio para aqueles que não veem, para aqueles que não se sentem bem, para os pecadores. Não para aqueles que julgam os outros.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/30/16/137855691_F137855691.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF