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sábado, 6 de abril de 2024

NAZARENO: A labuta de Marta e os tesouros do céu (contra a hipocrisia dos notáveis) - (38)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 38 - A labuta de Marta e os tesouros do céu (contra a hipocrisia dos notáveis)

Antes de partir novamente, Jesus parou para descansar na casa de seus amigos em Betânia. Eles são Marta, Maria e Lázaro, três irmãos. Lázaro não está presente naquele dia. Jesus entra na casa, e Maria senta-se a seus pés para ouvi-lo, enquanto sua irmã mais velha, Marta, estava ocupada pelo muito serviço, atarefada em preparar o almoço para o Nazareno e seus amigos. Contrariada pela falta de apoio, ela gostaria que sua irmã a ajudasse, para que pudesse se apressar e também se sentar ao lado do Mestre. O Senhor, porém, respondeu: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”. Ele a recordara de olhar ao essencial.

É uma oportunidade para o Nazareno falar novamente sobre a oração, com exemplos e analogias que têm apenas um propósito: induzi-los a pedir, implorar, sempre e em qualquer caso, sem nunca se cansar. Disse-lhes ainda: “Quem dentre vós, se tiver um amigo e for procurá-lo no meio da noite, dizendo: ‘Meu amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus amigos e nada tenho para lhe oferecer’, e ele responder de dentro: ‘Não me importunes; a porta já está fechada, e meus filhos e eu estamos na cama; não posso me levantar para dá-los a ti’; digo-vos, mesmo que não se levante para dá-los por ser amigo, levantar-se á ao menos por causa da sua insistência, e lhe dará tudo aquilo de que precisa. Também eu vos digo: Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, acha; e ao que bate, se abrirá”.

Depois desses encontros, a peregrinação na Judeia continuou por mais alguns dias. No final de novembro eles chegam a Emaús. Na manhã seguinte, um fariseu o convida para almoçar. Jesus aceita, como sempre. O homem quer colocá-lo à prova. O Nazareno entra na casa, cumprimenta os presentes e põem-se à mesa. O fariseu, vendo isso, ficou admirado de que ele não fizesse primeiro as abluções antes do almoço. O convidado vinha da rua: as tradições farisaicas prescreviam lavagens de purificação. A curiosidade inicial do homem se transforma em indignidade, em julgamento. O Senhor, porém, lhe disse: “Agora vós, ó fariseus! Purificais o exterior do copo e do prato, e por dentro estais cheio de rapina e de perversidade! Insensatos!...

Palavras que provocam a intervenção de outro dos convidados, um homem idoso, que diz: “Mestre, falando assim, tu nos insultas também!”. Ele respondeu: “Igualmente ai de vós, legistas, porque impondes aos homens fardos insuportáveis, e vós mesmos não tocais esses fardos com um dedo sequer!”.

Alguns dias depois, eles chegam em Hebron. Enquanto Jesus falava às pessoas na rua principal, um homem de meia-idade que o ouvia pela primeira vez lhe perguntou em voz alta: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta comigo a herança”. Mas Jesus recusa. “Homem, quem me estabeleceu juiz ou árbitro da vossa partilha? Depois lhes disse: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens”.

Queria enfatizar a importância do desapego às posses, queria lembrá-los do essencial. Por isso, ele narra uma parábola: um homem rico havia obtido uma colheita abundante em seus campos e estava pensando em como iria estocar todos os seus grãos construindo novos armazéns. Mas Deus lhe diz: “Insensato! Nesta mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão? Assim acontece àquele que ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus”.

Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Pois onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.... Compreendei isto: se o dono da casa soubesse em que hora viria o ladrão, não deixaria que sua casa fosse arrombada. Vós também, ficais preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora que não pensais”.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/30/18/137856279_F137856279.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 5 de abril de 2024

A primazia da misericórdia

A primazia da misericórdia (CNBB Norte 2)

A PRIMAZIA DA MISERICÓRDIA

Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém (PA)

Todos os anos a Igreja nos convida a meditar solenemente sobre o Mistério da Misericórdia divina, no assim chamado, Domingo da Misericórdia, a ser celebrado no segundo Domingo da Páscoa; foi instituído por São João Paulo II no mês de maio do ano 2000. Nestas últimas décadas nossos Papas têm nos convidado com insistência para a meditação sobre o amor de Deus. Segundo Santa Faustina, a humanidade não terá paz, enquanto não se voltar para a misericórdia divina.  

 A devoção à Divina Misericórdia e sua dimensão pastoral 

Apesar das desgraças das guerras, miséria, corrupção, criminalidade organizada e de tantas outras formas de violência na sociedade, contemplamos um forte crescimento da devoção à Divina Misericórdia na Igreja Católica. É preciso, porém, muita atenção para que essa devoção não reduza a Misericórdia Divina a uma pura prática de piedade. A forte carga afetiva e moral dessa devoção deve ser preservada a todo custo para não cair no esvaziamento do intimismo, sem compromissos morais e pastorais.  

Para que isso não aconteça é necessário que estejamos continuamente aprofundando teológica e moralmente o significado de Misericórdia. Não há vínculo com a misericórdia divina um grupo do “terço da misericórdia” que tenha características agressivas, que é fechado, intimista e que se opõe ao pároco porque estimula o crescimento da paróquia na sensibilidade missionária e caritativa. Alguém já viu esse filme?  

Não é admissível a promoção do terço da misericórdia e, ao mesmo tempo, a rejeição da Caritas e sem espírito missionário. Aliás, a misericórdia divina é missionária. Jesus Cristo, o rosto da Misericórdia de Deus Pai, é o Filho missionário que veio para salvar o mundo. Portanto, a experiência da devoção à misericórdia sem impulso missionário, sem movimento de saída para a promoção do Reino de Deus, torna-se estéril.  

O objetivo da devoção à Divina misericórdia, é a contemplação do Amor de Deus que nos estimula no crescimento na santidade. A Misericórdia é o próprio Deus que se manifesta com muitas virtudes de amor: fazendo justiça aos oprimidos, dando pão aos famintos, libertando prisioneiros, abrindo os olhos dos cegos, endireitando encurvados, protegendo os desamparados… (cf. Sl 145,6-10); curando os corações despedaçados, cuidando dos feridos (cf. Sl 146,3; Mt 11,4-6). 

A misericórdia de Jesus Cristo, o missionário do Pai, se manifestou através de muitas atitudes e iniciativas: da abertura a todos, da acolhida incondicional aos mais desprezados, do perdão a todos os pecadores, da cura dos doentes e deficientes; a misericórdia divina em Jesus de Nazaré, se manifestou também através do seu espírito de tolerância, de diálogo, presença salvadora em todos os contextos em que as pessoas viviam. Por isso dizia: “Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque a minha carga é suave e o meu fardo é leve.» (Mt 11,28-30).  

 A precedência da Misericórdia ao sacrifício  

Certa vez Jesus disse: “quero a misericórdia e não sacrifício”; é uma frase do profeta Oseias (6,6). Jesus estava recordando a seus discípulos uma grande conquista: aquela da compreensão de que a essência da religião é a experiência de relação com alguém que tem uma identidade específica: Deus é amor, Deus é misericórdia, Deus é bondade, Deus é o Sumo Bem. 

No decálogo (os dez mandamentos) aparece a centralidade do amor que deve permear a vida do fiel. Esse amor deve ser vivido em duas dimensões, para com Deus e o próximo. Todavia, a partir do decálogo criaram muitos outros preceitos e isso começou a pesar sobre o povo chegando ao legalismo. Inventaram muitas exigências…  

Os profetas (Isaías, Oseias, Jeremias, Ezequiel, Zacarias) deram uma grande contribuição para o retorno ao centro de tudo que é o amor a Deus. Não basta contemplar a natureza, não lhe satisfaz multiplicar cultos, não lhe agrada simplesmente obedecer a lei, não é suficiente fazer sacrifícios. É necessário a experiência do amor, a prática da justiça, da verdade, da bondade pessoal, da honestidade (cf. Is 1,1-17).  

 Jesus Cristo, missionário da Misericórdia  

Com a vinda de Jesus, o Filho de Deus, chegamos ao ponto alto da revelação e da mais profunda compreensão de que Deus é Amor. Em matéria religiosa, nada vale sem o amor. Jesus vai manifestar isso com muita clareza, contando a parábola do Bom Samaritano, fazendo sérios discursos contra a hipocrisia religiosa, falando do juízo final baseado na caridade, denunciando o legalismo estéril.  “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me” (Mt 25,34-36). 

Os apóstolos continuaram na mesma linha, como bons discípulos de Jesus. São João vai dizer que Deus é amor e quem ama deve permanecer em Deus (cf. 1Jo 4,16). São Tiago vai afirmar que “o julgamento será sem misericórdia para quem não tiver agido com misericórdia. Os misericordiosos não têm motivo de temer o julgamento” (Tg 2,12-13). 

São Paulo declara que “o amor é a plenitude da lei” (Rm 13,10). Vai também escrever o hino do amor (cf. 1Cor 13). A Igreja continua afirmando a mesma coisa; assim nós devemos continuar a nossa compreensão e o exercício dessa verdade. A essência da vontade de Deus está na prática da misericórdia que é, amor transbordante, generosa compaixão, justiça que promove a vida.  

Jesus Cristo é o portador e revelador da Misericórdia do Pai; nas bem-aventuranças colocou a prática da misericórdia como via de santidade: “felizes os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia” (Mt 5,7). 

Enfim, sendo a devoção à Divina Misericórdia, uma das mais significativas devoções relacionadas à pessoa do próprio Deus, deve estar sempre permeada pelo nosso compromisso de sermos melhores, profundamente humanos, bondosos, missionários. Essa devoção, quando bem entendida e acompanhada, pode ser fonte de uma forte paixão missionária, pois a Misericórdia de Deus se revelou como luz para iluminar quem vive nas trevas, nas sombras da morte e para guiar nossos passos no caminho da paz (cf. Lc 1,79). 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Qual relação existe entre a devoção à Divina Misericórdia e a prática da Caridade? 

Como a devoção à Divina Misericórdia pode ajudar a vida fraterna nas comunidades? 

Por que há uma relação entre a Divina Misericórdia e a missionariedade da Igreja?

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Aumentam os católicos no mundo, são 1 bilhão e 390 milhões

O número de católicos no mundo está aumentando, como indicam o Anuário Pontifício e o Annuarium Statisticum Ecclesiae (ANSA)

O número global de batizados aumentou em 2022, especialmente na África. Em linha com o passado, as vocações sacerdotais diminuíram. Estes são os dados expressos pelo Annuarium Statisticum Ecclesiae 2021 e pelo Anuário Pontifício 2024 editado pelo Escritório Central de Estatística da Igreja.

Vatican News

Aumentam os católicos batizados no mundo, os bispos nos continentes asiático e africano e os diáconos permanentes na África, Ásia e Oceania, e diminuem as vocações sacerdotais, os sacerdotes, os religiosos professos que não são sacerdotes e as religiosas professas. Estes são os dados estatísticos que emergem do Annuarium Statisticum Ecclesiae 2022 e do Anuário Pontifício 2024, atualmente distribuídos nas livrarias, publicados pela Tipografia Vaticana e com o trabalho editorial realizado pelo Escritório Central de Estatística da Igreja.

A partir da leitura dos dados presentes no Anuário Pontifício, pode-se obter informações relativas à vida da Igreja Católica no mundo, a partir de 1º de dezembro de 2022 a 31 de dezembro de 2023. Durante este período, foram erigidos nove novos bispados e uma administração apostólica; duas sedes episcopais foram elevadas a sedes metropolitanas e um Vicariato Apostólico a sede episcopal.

Os dados estatísticos do Annuarium Statisticum Ecclesiae nos permitem elaborar uma síntese sobre a evolução da Igreja Católica no mundo.

Seguem, abaixo, as informações sobre alguns aspectos básicos da Igreja Católica entre 2021 e 2022:

O número de católicos batizados em todo o mundo aumentou de 1 bilhão e 376 milhões, em 2021, para 1 bilhão e 390 milhões, em 2022, um aumento relativo de 1,0%. A taxa de mudança difere de continente para continente: enquanto na África há um aumento de 3%, com o número de católicos subindo de 265 milhões para 273 milhões no mesmo período, no outro extremo, na Europa, há estabilidade (em 2021 e 2022, o número de católicos é de 286 milhões). Situações intermediárias são as registradas na América e na Ásia, onde o crescimento de católicos é significativo (+0,9% e +0,6%, respectivamente), mas totalmente alinhado com o desenvolvimento demográfico desses dois continentes. Com valores absolutos obviamente mais baixos, a estabilidade também se aplica à Oceania.

O número de bispos durante o biênio 2021-2022 aumentou em 0,25%, passando de 5.340 para 5.353. Esse movimento de crescimento se verifica na África e na Ásia, com variações de 2,1 e 1,4 por cento, respectivamente. Houve estabilidade na América (com 2.000 unidades) e na Oceania (com 130), e uma leve queda (-0,6%) na Europa (de 1.676 para 1.666 unidades).

O ano de 2022 marca uma nova diminuição no número de sacerdotes em comparação com o ano anterior, continuando assim a tendência de queda que marcou os anos a partir de 2012. O número global de sacerdotes no mundo, em 2022, diminuiu em relação a 2021 de 142 unidades, passando de 407.872 para 407.730. Enquanto a África e a Ásia mostram uma dinâmica sustentada (+3,2 por cento e 1,6 por cento, respectivamente) e a América permanece mais ou menos estacionária, a Europa, com o maior peso no total, e a Oceania, por outro lado, registram taxas de variações negativas de 1,7 por cento e 1,5 por cento, respectivamente.

O número de diáconos permanentes continua mostrando uma dinâmica evolutiva significativa: o número de diáconos aumentou, em 2022, de 2% em relação ao ano anterior, passando de 49.176 para 50.150 unidades. O número está melhorando em todos os continentes com ritmos significativos. Na África, Ásia e Oceania, onde ainda não atingem 3% do total, aumentaram 1,1%, atingindo 1.380 unidades em 2022. O número também melhorou em áreas onde a sua presença é quantitativamente relevante. Na América e na Europa, onde reside 97,3% da população total, o número de diáconos aumentou, no biênio considerado, de 2,1 e 1,7 por cento, respectivamente.

O grupo dos religiosos professos que não são sacerdotes constitui um grupo cada vez menor a nível global: eram 49.774 unidades em 2021 e passaram para 49.414 em 2022. O declínio deve ser atribuído, por ordem de importância, ao grupo europeu, ao grupo africano e ao oceânico, enquanto, inversamente, na Ásia estes números aumentaram e também na América.

As religiosas professas formam uma população mais consistente: em 2022 ultrapassaram o número de sacerdotes em todo o planeta em quase 47%, mas atualmente estão diminuindo. Globalmente, passaram de 608.958 unidades em 2021 para 599.228 em 2022, com uma diminuição de 1,6%. Notam-se diferenças de comportamento analisando as tendências temporais para cada área territorial. A África é o continente com maior aumento de religiosas, que passou de 81.832 unidades em 2021 para 83.190 em 2022, com um aumento relativo de 1,7%. Segue-se a região do Sudeste Asiático, onde as religiosas professas passaram de 171.756 em 2021 para 171.930 em 2022, com um aumento de apenas 0,1%. A região Sul e Central da América apresenta uma diminuição: de 98.081 religiosas em 2021, para 95.590 em 2022, com uma diminuição global de 2,5%. Por fim, há três áreas continentais que partilham uma diminuição acentuada: Oceania (-3,6%), Europa (-3,5%) e América do Norte (-3,0%);

Continua a diminuição que marcou o andamento das vocações sacerdotais desde 2012: em 2022 o número de seminaristas maiores era de 108.481 unidades, com uma variação de -1,3% em relação ao ano anterior. Uma análise sumária realizada no âmbito subcontinente destaca que os comportamentos locais são diferenciados entre si. Na África, por exemplo, o número de seminaristas maiores aumentou 2,1% no período de dois anos em análise. Em todas as partes da América houve uma diminuição das vocações que se concretiza numa variação de -3,2%. Na Ásia há uma diminuição que leva o número de seminaristas maiores em 2022 a um nível 1,2% inferior ao de 2021. A crise vocacional que afeta a Europa desde 2008 parece não parar: no biênio 2021-2022, o número de seminaristas diminuiu 6%. Na Oceania, as vocações sacerdotais em 2022 superam em 1,3% as de 2021. Dos 108.481 seminaristas de todo o mundo, em 2022, o continente com maior número de seminaristas é o africano com 34.541 unidades. Segue-se a Ásia com 31.767, a América com 27.738, a Europa com 14.461 e por fim a Oceania com 974 seminaristas maiores

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Debaixo da figueira

Foto: Engin Akyurt, Unsplash | Opus Dei

Debaixo da figueira

Neste momento, sentimos pena pela solidão de muitas pessoas doentes nos hospitais ou em seus lares. Mas, em Cristo, podemos chegar até o último canto do planeta, até o mais fundo de um coração abandonado.

Natanael descobriu o Messias porque sentiu sua silenciosa e íntima “companhia” debaixo da figueira. Não sabemos o que estava fazendo lá, nem o Espírito Santo considerou necessário que o conheçamos. Neste momento, sentimos pena pela solidão de muitas pessoas doentes nos hospitais ou em seus lares. Há também muitas que estão bem, mas sozinhas. O fato de não podermos fazer-lhes companhia pode se tornar insuportável para nós.

No entanto, em Cristo, chegamos até o último canto do planeta, até a última cama de um hospital improvisado, até o mais fundo de um coração abandonado. Com Ele somos capazes de dar calor, luz e carinho a qualquer alma que esteja isolada.

Um sofrimento muito íntimo

Um confinamento como o que vivemos em grande parte do mundo apresenta muitas situações que podemos oferecer a Jesus porque nos custam: não poder comungar, nem nos confessar, nem sair... Esses “sacrifícios” não são indiferentes para Jesus. “Mestre, não te importa que pereçamos? (Mc 4, 38). Não te importa: pensaram que Jesus estava desinteressado deles, que não lhes estava dando nenhuma atenção. Entre nós, em nossas famílias, o que mais dói é ouvir alguém dizer: ‘Será que eu não te importo?’ É uma frase que magoa e provoca tormentas no coração. Terá também abalado a Jesus, pois não há ninguém que se importe mais conosco do que Ele. De fato, uma vez chamado, salva seus discípulos desconfiados”[1].

Certamente também nos faz sofrer de forma especial não poder acompanhar nossos seres queridos, que precisam de companhia e calor de lar: uma avó, um irmão, uma filha, um doente, um mendigo, um fiel que precisa confessar ou receber a Unção dos Enfermos, o Viático. Em nosso coração há sentimentos em conflito: a consciência de que o nosso dever é ficar em casa; o desejo de cuidar deles, de abraçá-los, de fazer que se sintam queridos; não saber como estarão se sentindo, especialmente se estão sozinhos.

CERTAMENTE TAMBÉM NOS FAZ SOFRER DE FORMA ESPECIAL NÃO PODER ACOMPANHAR NOSSOS SERES QUERIDOS

Há um caso especialmente doloroso: o dos que sofrem de COVID-19. A necessidade de ficarem isolados faz que durante a doença sejam acompanhados unicamente pelas equipes sanitárias. Estes profissionais, devido à grande necessidade dos seus serviços e ao tipo da doença, não podem atender os pacientes com todo o sossego e carinho que desejariam. Em casos mais graves, só é possível uma breve visita final de despedida dos familiares mais íntimos. Uma mulher que sempre esteve junto do marido não poderá estar ao seu lado nos dias decisivos antes de sua morte. Os sacerdotes só podem atender os fiéis no último momento e é difícil que acompanhem com dedicação o seu rebanho (também os que não estão doentes) nesta hora difícil. Talvez uma neta não possa despedir-se da avó, ou uma mãe veja que a vida de um filho vai embora, sem poder acariciá-lo.

Nessa situação ou outras parecidas, gostaríamos de estar ao lado dos nossos amigos, familiares ou conhecidos. Por outro lado, temos que compaginar essa angústia com o excesso de tempo de que dispomos com o nosso próprio confinamento. Esta circunstância leva a imaginação a voltar repetidas vezes à dor que a situação nos causa. Não seria surpreendente que surgissem dúvidas sobre as nossas atitudes: estamos fazendo tudo que é possível? Podemos chegar inclusive a inquietar-nos, com o pensamento de que nos deixamos levar pela comodidade ou o medo. Por todas estas razões, a decisão de ficar em casa pode ser tão difícil quanto a de arriscar-nos a fazer-lhes companhia nestas circunstâncias excepcionais. A consciência de cada um, auxiliada pela graça, é que ajudará a decidir se o risco de contágio é proporcional à urgência dessa companhia. Muitas vezes a decisão já está tomada, porque as autoridades sanitárias ou civis não permitem tal opção. Há, no entanto, algo que está ao alcance de todos nesta situação e que pode ter um grande valor, além de encher-nos de paz.

Fazer companhia de longe

Jesus estava, de alguma forma, debaixo da figueira, embora fisicamente Natanael tenha comprovado que não havia ninguém observando-o. O momento presente constitui uma ocasião magnífica para fazer-nos companhia com a Comunhão dos Santos. Natanael convenceu-se de que Jesus era o Messias porque, a posteriori, ficou sabendo que ele o acompanhara nesse momento de sua vida: “Antes que Filipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, eu te vi” (Jo 1, 48). Muita gente precisa que Jesus se torne presente debaixo da sua figueira. Nós, com a graça, podemos ajudar Cristo a chegar a esses lugares recônditos, “pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28). Se vivemos a vida de Jesus, o confinamento não nos isolará. Embora não possamos estar presentes fisicamente, as pessoas que amamos sentirão a presença do Salvador junto delas.

EMBORA NÃO POSSAMOS ESTAR PRESENTES FISICAMENTE, AS PESSOAS QUE AMAMOS SENTIRÃO A PRESENÇA DO SALVADOR JUNTO DELAS

São Josemaria tinha consciência bem viva de que a distância e a separação não eram obstáculos para estar junto de seus filhos em situações especiais. Escreveu a suas filhas do México: “Vocês já sabem que, de longe, as acompanho sempre”[2]. Aos seus filhos da Austrália, no outro lado do mundo, confiava: “Quanta companhia faço a vocês daqui”[3]. Como nós, nesta situação que estamos vivendo, ele também expressa com matizes muito expressivos o estado de sua alma: “Paco, não vê que o pobre avô – assim se referia a si mesmo em suas cartas durante a guerra civil, para evitar os perigos da censura de guerra – preocupado com seus pequenos, está em carne viva?”[4]. O isolamento dos seres queridos pode ser muito mais difícil para nós do que o nosso próprio isolamento. Oferecer a Deus o nosso sofrimento por eles já é o começo de uma solução.

Não há por acaso anjos da guarda?

Nesta missão os aliados mais eficazes são os Anjos da guarda. São cúmplices muito interessados no assalto que queremos fazer a essas pessoas queridas. Não sofremos pelo nosso isolamento, mas pelo isolamento delas. Quando Jesus ouve a confissão de Natanael, responde abrindo-lhe horizontes: “Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta” (Jo 1, 50). E enchendo de solenidade os sinais que vai anunciar, confia-lhes: “Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (Jo 1, 51).

NOSSA FÉ GARANTE QUE A NENHUM DOENTE OU PESSOA QUE ESTEJA SOFRENDO NESTES MOMENTOS HÁ DE FALTAR ESSA CARÍCIA MATERNAL

Jesus afirma que a sua presença debaixo da figueira é um sinal pequeno comparado com a ação dos anjos em sua vida e na dos seus futuros discípulos. As duas presenças são invisíveis, mas nem por isso menos reais. É a nossa fé que está em jogo nesses momentos de escuridão. A mediação divina tem muitos canais e instrumentos. Nós somos um deles, mas Deus pode atuar por meios mais sutis e eficazes, como por exemplo, os seus anjos.

Certa vez, São Josemaria ficou sabendo de uma situação complicada que dois de seus filhos estavam passando. Tinham que hospedar-se em uma pensão com um ambiente nada recomendável. Um deles usava um eufemismo, falando de uma “vizinhança perigosa”. O diário daqueles dias esclarece na natureza do perigo: “Nesta casa, como é natural, há um rebanho de ‘raposas levantinas’”[5]. São Josemaria, meses depois, redigiria em Burgos um ponto de Caminho que faz referência a essa situação: “Há nesse ambiente muitas ocasiões de te desviares? – De acordo. Mas por acaso não há também Anjos da Guarda?”[6]. Podemos muito bem recorrer a essas unidades especiais do exército divino para acompanhar os nossos seres queridos e proporcionar-lhes o calor da companhia e o auxílio espiritual de que necessitam.

* * *

A Rainha dos Anjos, a quem não podem negar nada, é também a Porta do Céu. Jesus não quis privar-se da sua Mãe no Calvário. Nossa fé garante que a nenhum doente ou pessoa que esteja sofrendo nestes momentos há de faltar essa carícia maternal. Nunca necessitamos tanto dela como na solidão do último passo rumo à vida eterna, rumo ao Coração do seu Filho.

Diego Zalbidea


[1] Francisco, Homilia 27/03/2020.

[2] Carta de Roma a suas filhas do México, 20/06/1950 (AGP, série A.3.4, 500620-7).

[3] Carta de Roma a seus filhos da Austrália, 8/04/1964 AGP, série A.3.4, 640408-1).

[4] Carta a seus filhos de Valência, 25/07/1937 (AGP, série A.3.4, 370725-3).

[5] Diário da passagem dos Pirineus, dias 6 e 7 de outubro de 1937 (Juan Jiménez Vargas), p. 2.

[6] Caminho, n. 566.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

NAZARENO: Viu-o e moveu-se de compaixão (o Bom Samaritano) - (37)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 37 - Viu-o e moveu-se de compaixão (o Bom Samaritano)

Enquanto Jerusalém se esvaziava e as caravanas já estavam em marcha, Jesus volta a pregar nas proximidades do Templo. Diz: “Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa, porque ele é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas. Mas tenho outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las também; elas ouvirão a minha voz: então haverá um só rebanho, um só pastor”.

A sua missão é universal, não diz respeito apenas ao povo de Israel, o povo da primeira Aliança, ele veio ao mundo também para as outras ovelhas, para as que estão em outros "redis", para as que estão longe. Alguns dias depois, Jesus e seus seguidores partiram novamente, parando em Betânia, um dos presentes se levanta e se aproxima dele. É um doutor da lei que quer questioná-lo e colocá-lo à prova.

Pergunta: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Jesus olhando-o responde com outra pergunta: “Que está escrito na lei? Como lês?”. Ele, então, respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo”. Jesus sorri e lhe diz: “Respondeste corretamente; faze isso e viverás”.

Mas ao escriba não é suficiente. Querendo se justificar, disse a Jesus: “E quem é meu próximo?”. Jesus o faz sentar-se ao seu lado.

Em seguida, começa a lhe contar uma parábola: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, deixando-o semimorto...”. Jesus continua: “Casualmente, descia por este caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu. Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: ‘Cuida dele e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei’”.

Um sacerdote e um levita, dois notáveis, passam longe. Nenhum deles se compadece a ponto de cuidar dele. Isso é feito pelo menos "religioso" dos três, um comerciante samaritano, pertencente a um povo execrado, extremamente desprezados pelos judeus. O Nazareno termina a história e, olhando nos olhos do escriba, lhe diz: “Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”. Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Jesus então lhe disse: “Vai, e também tu, faze o mesmo”.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/30/16/137855710_F137855710.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Vicente Ferrer

São Vicente Ferrer )A12)
05 de abril
São Vicente Ferrer

Vicente nasceu em Valência, Espanha, no ano de 1350, em família nobre. Tanto o pai, tabelião, quanto sua mãe receberam sinais de que este filho seria santo, antes do seu nascimento. Muito inteligente, desde criança fazia “pregações” para outras crianças, e aos 12 anos começou a estudar Filosofia e Teologia, pois já dominava Gramática e Lógica.

Na juventude frequentava muito a igreja, jejuava duas vezes por semana, meditava longamente a Paixão de Cristo, rezava o Ofício da Cruz e as Horas de Nossa Senhora, e era caridoso com os pobres e os religiosos. Morando próximo de um convento dominicano, aos 17 anos pediu ingresso nesta Ordem dos Pregadores, fazendo os votos no ano seguinte (1368).

Como diácono apenas, já vinham pessoas de longe para ouvir suas pregações. Ordenou-se em 1378, e alternou, por ordem dos superiores, estudos com docência, em Lérida, Barcelona e Tolosa: doutorou-se em Filosofia e Teologia, que lecionava nestas universidades, além de Lógica. Sabia também a exegese dos santos, o Latim e o Hebraico.

Depois de ordenado, começou a peregrinar pela Europa em função do seu dom especial de pregação. O diabo o perseguia, tentando desanimá-lo da vida de perfeição, aparecendo-lhe como um venerável ermitão e depois com uma aparência monstruosa, dizendo-lhe que não conseguiria manter a santidade, ou como uma voz que lhe garantia a perda da castidade; mas em todas as ocasiões, e recorrendo a Nossa Senhora, Vicente enfrentava e espantava o demônio.

O ano da sua ordenação coincidiu com a eclosão do Grande Cisma do Ocidente, fruto de uma situação já delicada por causa da Guerra dos Cem Anos, quando eram fortes as interferências políticas nas eleições papais. Os franceses não aceitaram Urbano VI e elegeram o antipapa Clemente VII, que, após 70 anos, novamente levou a “sede papal”, agora ilegítima, para Avignon, na França.

Na época, não era tão simples perceber quem tinha a razão, pois de ambos os lados havia erros e ambições… e santidade: por exemplo, Santa Catarina de Sena apoiava Urbano VI, e São Vicente Ferrer a Clemente VII, convencido pelo cardeal aragonês Pedro de Luna. Horrível foi a divisão na cristandade. Para piorar o quadro, em 1409, numa tentativa de resolver o problema, num Concílio em Pisa foi eleito um terceiro pontífice, Alexandre V. Somente em 1417, no Concílio de Constança, retornou-se à unidade sob Martinho V, após a renúncia dos anteriores.

Neste ínterim, após o falecimento de Clemente VII, Pedro de Luna o sucedeu sob o nome de Bento XIII (não confundir com Bento XIII/Pedro Francisco Orsini, Papa em 1724). Era inicialmente austero e piedoso, convencido de sua legitimidade, e convidou frei Vicente a ser seu capelão e confessor, nomeando-o também Mestre do Sacro Palácio e penitenciário da corte papal. Mas algumas atitudes suas decepcionaram Vicente, que acabou doente, também pela gravidade da divisão entre os católicos; em três dias, estava já para morrer. Apareceu-lhe então Jesus, dando-lhe a missão de pregar contra os erros do tempo e conclamar o povo à conversão, garantindo-lhe apoio contra as dificuldades, e curando-o imediatamente.

Deixando Avignon em novembro de 1399, e com a permissão dos superiores percorreu a Europa: Espanha, Portugal, França, Suíça, Alemanha, Itália, Sabóia, Bélgica, Inglaterra, Irlanda e muitas outras regiões. Viajava a pé e depois num burro, quando ficou doente de uma perna, com qualquer tempo, tendo como proteção apenas o longo hábito dominicano, que cobria seus pés descalços.

Estando o continente imerso no cisma, em batalhas sangrentas, calamidades públicas, fome, miséria, misticismo, ignorância, peste negra (que matou um terço da população europeia), e acostumado com as visitas do diabo, Vicente pregava o iminente fim do mundo e os eventos prodigiosos que o precedem, os flagelos e tribulações pelas quais haveria de passar a humanidade. Lembrava os Novíssimos e o Juízo Final, condenando a mentira, o perjúrio, a blasfêmia, a calúnia, a usura, a simonia, o adultério, e tantos outros vícios daquela sociedade dissoluta. Seu lema era “ ‘Temei a Deus, e dai-Lhe glória, porque é chegada a hora do seu julgamento’ (Ap 14,7), porque o temor reverencial a Deus não é senão outro nome do amor.” Por causa deste teor, ficou conhecido como "o anjo do Apocalipse". Mas esta abordagem, impressionante mas verdadeira, buscava alcançar a unidade da Igreja, o fim das guerras, e a conversão sincera das almas pelo arrependimento e penitência, necessárias para a salvação. As multidões eram atraídas pela sua paixão e fervor, conhecimento e clareza, que tocava as consciências.

Dando o exemplo de vida interior, Vicente praticava o jejum e mortificações, incluindo a provação do sono para ter mais tempo de oração. Pregava em locais abertos, por causa das milhares de pessoas que o ouviam, e eram constantes os milagres, como o entendimento de todos em suas próprias línguas, mesmo ele falando apenas no seu dialeto valenciano, e a escuta por pessoas a mais de 45 km de distância. Numa ocasião, ressuscitou uma mulher judia que havia sido sarcástica à sua pregação e, deixando o local, foi imediatamente morta pela queda de um portal; viva, ela se converteu. De outra vez, expulsou três cavalos endemoninhados que se atiraram sobre a multidão. Curava os enfermos após cada pregação. Previa o futuro, como a vocação papal de Alonzo de Borja/Calisto III, dizendo a ele que o canonizaria, o que de fato aconteceu.

Vicente começou a ser seguido nos caminhos por camponeses, clérigos, nobres, teólogos, incultos, adultos e crianças, e logo surgiram os bons frutos: milhares se flagelavam em procissões penitenciais, conversões e volta à Igreja aconteciam, criminosos se arrependiam, surgiam consagrados à vida religiosa.

Ele se acompanhava de muitos confessores de várias nações para atender aos penitentes, e costumava se confessar antes da Missa solene na qual pregava. Mesmo idoso e com dificuldades, precisando de ajuda para subir nos estrados, continuou pregando, e parecia recuperar as forças quando começava a falar.

 Vicente faleceu em viagem de pregação à Bretanha, em 5 de abril de 1419. Foi dito dele que, “exceção feita aos Apóstolos, provavelmente ninguém excedeu São Vicente Ferrer como pregador”Foi declarado padroeiro de Valência e Vannes.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Acima de todos os erros, fragilidades e defeitos do ser humano, está a Providência Divina, Senhora absoluta da História. Quem de fato governa a Igreja e o seu caminhar no tempo (isto é, aquilo que conhecemos como os acontecimentos sucessivos neste mundo material em razão de uma finalidade transcendental) é Deus, e não os Homens. Por isso a santidade é possível mesmo se, como São Vicente Ferrer, nos enganamos a respeito de alguma questão, ainda que importante. É verdade que para isso deve existir uma sinceridade absoluta da alma na busca do que é certo (e São Vicente por fim apoiou a renúncia de “Bento XIII”). Esta disposição espiritual é decisiva, pois como ensina a Bíblia, “Quem dera fosses frio ou quente! Como és morno, estou para te vomitar da Minha boca” (cf. Ap 3,15-16). De fato, a pior situação de uma alma é querer agradar, ao mesmo tempo, a Deus e o mundo, sem compromissos definitivos com a Verdade ou a sua busca – infelizmente, um retrato muito fiel da condição de não poucos católicos, que se iludem ao eventualmente frequentar alguma igreja de tijolos mas não a Igreja do Espírito, discordando de pontos da Doutrina, escolhendo só o que lhe agrada nos ensinamentos da Igreja e até nos Mandamentos e Sacramentos de Deus (é pecado gravíssimo, por exemplo, comungar sem querer se confessar com um sacerdote), e na rotina praticar atos contrários à Fé (como ver filmes de conteúdo moral e espiritual divergentes do Catolicismo, não ser completamente honesto no trabalho, etc.). Não sabemos quando será o fim do mundo, mas é certo que morreremos. E é para esta ocasião, absolutamente pessoal, que devemos nos converter sinceramente, pois a cada momento dela nos aproximamos, de modo inexorável. E a morte não deve ser vista com pavor ou desespero, mas como a passagem necessária para a felicidade infinita com Deus; deve ser preparada como a melhor obra da nossa vida, como a obra-prima de um artista, que se dedica ao máximo, com alegria e com todo o empenho e constância possível, na sua perfeição.

Oração:

Deus de bondade e sábio condutor da História, dai-nos por intercessão de São Vicente Ferrer a compreensão da importância de buscar veementemente o arrependimento e a conversão, a unidade da Igreja especialmente pelo fim das guerras na alma e da pregação da Verdade, e a santa preparação para o encontro definitivo Convosco através dos conselhos que ele ensinava para tratar o próximo: doar-se com compaixão, alegria, tolerância, perdão, afabilidade, respeito e concórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Fonte dos quatro rios: monumento a um papa, um imperador e um faraó

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Camille Dalmas – publicado em 03/04/24
Construída no século XVII, a Fonte dos Quatro Rios na Piazza Navona de Roma testemunha o prestígio dos papas, o poder dos imperadores romanos e a misteriosa piedade dos faraós.

Localizada no centro da Piazza Navona, esta estrutura é famosa em todo o mundo. Conhecida como a "Fonte dos Quatro Rios", foi encomendada pelo Papa Inocêncio encarnações musculosas dos grandes rios do mundo - o Danúbio, o Ganges, o Nilo e o Rio da Prata -, estátuas agarradas a um rochedo barroco.

Os transeuntes são atraídos pelo murmúrio das águas e pela expressividade das alegorias. Mas, como costuma acontecer em Roma, é preciso olhar para cima para não perder nada. Bernini colocou um enorme obelisco no topo da estrutura, a pedido do Papa, e a sua história é particularmente incomum. Se começarmos pelo topo do monólito, encontraremos, como costuma acontecer em Roma, uma cruz de bronze no edifício pagão. Abaixo da cruz, o artista retratou uma pomba com um ramo de oliveira, brasão da família Pamphilj à qual pertencia Inocêncio X.

Graças a este monumento, este Papa pertence à família dos “Papas Faraós” que decidiram valorizar a herança egípcia presente em Roma. Assim como ele, Sisto V (1585-1590), Alexandre VII (1655-1667), Clemente XI (1700-1721), Pio VI (1775-1799) e Pio VII (1800-1823) instalaram um dos 13 obeliscos. A construção do chafariz, caríssima, não agradou a todos. O povo de Roma deixou bem clara a sua opinião ao deixar esta inscrição no monumento: “Dic ut lapides isti panes fiant ” . O que significa: “Faça com que estas pedras se transformem em pães”.

Prestígio e universalidade

Ao reabilitar os obeliscos, os papas reavivaram o prestígio dos imperadores de outrora e proclamaram-se defensores de uma universalidade capaz de abranger todas as culturas, mesmo as pagãs de outrora. Foi esta consideração, alimentada pelo pensamento humanista da sua época, que levou à criação dos Museus do Vaticano pelo Papa Júlio II no século XVI. Finalmente, o fascínio pelos “mistérios” egípcios alimentou a curiosidade de muitas mentes eruditas da época.

Para restaurar o obelisco da Piazza Navona - também conhecido como "obelisco agonal" - as oficinas de Bernini tiveram que restaurar as quatro faces de granito do monumento, que estavam deterioradas. Isto se aplica ao seu "pirâmide", a ponta piramidal do obelisco. Para fazer isso, recorreram a um certo Athanasius Kircher, um estudioso apelidado de "o último homem que sabia tudo", mas que, é claro, sabia muito pouco sobre hieróglifos. No entanto, ele completou alguns fragmentos.

Inscrições misteriosas

Estas inscrições, traduzidas no século XX, revelam um facto surpreendente: este obelisco, embora esculpido no Egito e depois transportado para Roma, foi desenhado a pedido do imperador Domiciano, e não resgatado dos restos dos reinos egípcios. Os hieróglifos foram, portanto, escritos para o soberano romano, mas foram claramente inspirados na forma como os faraós de antigamente eram descritos, disse o egiptólogo italiano Nicola Barbagli numa conferência organizada pelos Museus do Vaticano.

Domiciano, imperador do século I, estava de facto pessoalmente ligado ao Egipto, território que pertenceu ao Império Romano durante quase 100 anos. Seu pai, o imperador Vespasiano, soube que ele se tornaria imperador no ano 69, enquanto orava no templo de Serápis, em Alexandria. As circunstâncias deste episódio são estranhas e, segundo um cronista, houve milagres envolvidos.

Papa e construtor

Como imperador, Vespasiano fomentou uma verdadeira piedade, misturada com crenças mágicas, para com deuses como Ísis e Serápis, que transmitiu aos seus sucessores Tito (79-81) e Domiciano (81-96). Para o povo egípcio, o imperador era então considerado um faraó, apesar do fim da dinastia ptolomaica com a morte de Cleópatra em 30 a.C., e Domiciano parece ter tido especial consciência desta responsabilidade e das suas implicações espirituais.

Num único monumento, a história testemunha assim o prestígio de um papa construtor e humanista, a piedade esotérica de um imperador e a persistência, na Roma antiga, da linhagem dos faraós.

Fonte: https://es.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF