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domingo, 7 de abril de 2024

"REGINA CAELI" - Papa: a felicidade está no encontro vivo com Jesus, não no prazer e no poder

Regina Caeli - Papa Francisco - 07/04/2024 (Vatican News)

Comentando o Evangelho deste II Domingo de Páscoa, Francisco recorda que seguindo os caminhos do prazer e do poder não se encontra a felicidade. Não é assim que se “tem a vida”, porque seguindo os caminhos do prazer e do poder não se encontra a felicidade. É preciso, ao invés, fixar o olhar em Jesus crucificado e ressuscitado, encontrá-Lo nos Sacramentos e na oração, reconhecê-Lo presente, acreditar Nele.

https://youtu.be/vCVAPIl6_aw

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Neste Domingo da Divina Misericórdia, o Papa rezou com os fiéis na Praça São Pedro a oração do Regina Caeli e comentou o  Evangelho proposto pela liturgia (cf. Jo 20,19-31), em que Jesus ressuscitado aparece aos discípulos. Francisco se deteve no último versículo que diz que crendo em Jesus, podemos ter a vida em seu nome.

Existem várias maneiras de ter a vida, afirmou o Papa. Há quem reduza a existência a uma corrida frenética para gozar e possuir tantas coisas: comer e beber, divertir-se, acumular dinheiro e posses. É um caminho que, à primeira vista, parece prazeroso, mas não sacia o coração. Mas não é assim que se “tem a vida”, porque seguindo os caminhos do prazer e do poder não se encontra a felicidade. Com efeito, permanecem sem resposta muitos aspectos da existência, como, por exemplo, o amor, as experiências inevitáveis da dor, do limite e da morte.

Como vai a minha esperança?

O Pontífice convidou a observar como agem os discípulos no Evangelho. Depois dos dias da paixão, estão fechados no Cenáculo, assustados e desencorajados. O Ressuscitado vai ao encontro deles e como primeiro gesto mostra as suas chagas: os sinais do sofrimento e da dor se tornam com Jesus os canais da misericórdia e do perdão. Assim, os discípulos compreendem que, com Jesus, a vida vence e a morte e o pecado foram derrotados. E recebem o dom do seu Espírito, que dá a eles uma vida nova, de filhos amados, repleta de alegria, amor e esperança.

“Eu lhes pergunto: vocês têm esperança? Cada um se pergunte: Como vai a minha esperança?”

Eis então como fazer todos os dias para “ter a vida”: basta fixar o olhar em Jesus crucificado e ressuscitado, encontrá-Lo nos Sacramentos e na oração, reconhecê-Lo presente, acreditar Nele, deixar-se tocar pela sua graça e guiar pelo seu exemplo, experimentar a alegria de amar como Ele. 

“Todo encontro com Jesus, um encontro vivo com Jesus, nos permite ter mais vida. Buscar Jesus, deixar-se encontrar, porque Ele nos procura, abrir o coração ao encontro com Jesus.”

Por fim, os questionamentos propostos por Francisco: "Eu acredito na potência da ressurreição de Jesus, acredito que Jesus ressuscitou? Acredito na sua vitória sobre o pecado, sobre o medo e sobre a morte?".

"Que Maria nos ajude a ter uma fé sempre maior em Jesus ressuscitado para 'ter a vida' e difundir a alegria da Páscoa", concluiu Francisco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São João Batista de La Salle

São João Batista de La Salle (A12)
07 de abril
São João Batista de La Salle

João Batista nasceu em 1651 na cidade de Reims, França, de uma nobre família de magistrados, profundamente cristã. Primogênito de 11 irmãos, dos quais quatro se tornaram religiosos, desde cedo sentiu inclinação para o sacerdócio, e na infância brincava de repetir as celebrações litúrgicas das quais participava com a mãe, num altarzinho montado por ele. Aos dez anos entrou para o colégio dos Bons Meninos.

Seu pai despertou nele o gosto pelas artes, especialmente a música, clássica e sacra. Entrou assim no Coral dos Cônegos da Catedral de Reims, atuando também como coroinha nas Missas. Aos 15 anos, foi nomeado cônego (ou seja, religioso que participa do colegiado de uma igreja e trabalha na administração da mesma) da catedral, posição muito avançada para um menino de sua idade. Sempre dedicado aos estudos, com 18 anos recebeu o título de Mestre das Artes Livres. Pouco tempo depois, ingressou na Universidade de Sorbonne.

Como universitário, morou no Seminário São Sulpício em Paris, e dedicava-se aos estudos, à oração, à caridade e ao trabalho de catequista – chegou a ensinar 4.000 crianças, descobrindo assim sua vocação de educador. Mas aos 21 anos, tendo falecido os pais, teve que assumir o cuidado dos irmãos. Só foi ordenado sacerdote aos 27 anos, em 1678, após terminar os cursos de Filosofia e Teologia. É encarregado da administração da própria universidade, e conhece Adriano Nyel, um leigo com a proposta de criação de escolas populares e gratuitas para os jovens pobres, com quem passa a trabalhar. Mas logo percebe que os professores não eram bem preparados, e pouco estimulados. Iniciou assim uma escola para a formação de mestres leigos, alugando uma casa onde foi morar com seus professores, de modo a instrui-los pessoalmente. Preocupava-se também com a sua formação moral, e não apenas cultural.

Suas modificações pedagógicas incluíam a introdução de aulas coletivas, e não mais individuais, dividindo as lições em classes no ensino fundamental. Pela primeira vez, as aulas de leitura deram prioridade à língua materna, o Francês, ao invés do Latim. Organizou cursos noturnos e dominicais para jovens trabalhadores. Ofereceu, ineditamente, cursos de formação técnica, comercial e profissional para jovens (bem como havia criado a formação normalista dos professores).

A primeira escola lassalista, gratuita, surgiu em 1679. Em 1681 João termina o doutorado, após o que fundou a Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs, com o carisma da formação humana e espiritual de crianças e adolescentes pobres. Esta nova Congregação era composta não só por sacerdotes mas também homens leigos consagrados (ideia seguida posteriormente pelos maristas), que renunciavam ao matrimônio para se dedicar totalmente aos alunos.

Rapidamente novas escolas foram sendo abertas, e em 1700 a Congregação abriu um Seminário, onde era ensinado pedagogia, gramática, leitura, matemática, física, catecismo da Igreja Católica e música litúrgica. João renunciou ao cargo de cônego e seus privilégios (em favor de um sacerdote muito pobre) e distribuiu os bens de família aos necessitados. Assim os Irmãos e as escolas passaram a viver confiando apenas na providência de Deus – multiplicaram-se logo por toda a França.

Como é normal no caso de santas obras, seu crescimento foi acompanhado de injustiças: os chamados "professores de rua" acusaram João de receber dinheiro dos alunos, gozar de privilégios reservados às associações profissionais e manter um grupo de professores sem a devida autorização. Ele foi atacado pelo alto Clero de Paris, por alguns párocos, por autoridades civis, a ponto de ser obrigado a transferir tudo para a cidadezinha de Saint-Yon, perto de Rouen. Reagiu retirando-se em oração, isolamento penitencial, meditação e estudo. Por fim, em 1702, após uma visita canônica, João foi deposto do cargo de superior. “Se o nosso Instituto for obra humana, vai desaparecer; mas, se for obra de Deus, todo esforço para destruí-lo será inútil”, foi sua resposta.

Na sexta-feira da Paixão, sete de abril de 1719, idoso, João, que sempre dedicara muitas horas diárias à oração e duras penitências, faleceu em Rouen. Sua Congregação contava então com 700 Irmãos, mais de 100 Casas e 20 mil alunos. Atualmente está espalhada por todo o mundo, incluindo o Brasil. São João Batista de la Salle é considerado o precursor do ensino popular generalizado, e declarado padroeiro principal e universal de todos os educadores.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

“Ora, se um cego guia outro cego, ambos cairão num buraco” (Mt 15,14). São João de la Salle “logo percebe que os professores não eram bem preparados, e pouco estimulados”, e “Preocupava-se também com a sua formação moral, e não apenas cultural.” Retrato discente no século XVII, época do rei Luís IV de França, com esplendor político e decadência moral; e no século XXI, época do reinado da mediocridade cultural no mundo, com destaque para a política distorcida e para a decadência moral e espiritual… a importância dos mestres, daqueles que formam os demais, é fundamental, e não por outro motivo Deus Se nos ofereceu a Si mesmo, na Encarnação de Cristo, como Mestre dos mestres, e os Apóstolos e seus sucessores como continuadores desta missão; rezemos muito pelo clero atual, especialmente o Papa e os bispos, para que sejam fiéis à sua obrigação; pois é a partir deles que se formam as outras lideranças na sociedade. Se tudo o que é humano, como a cultura, a política, os meios de comunicação, não estiverem impregnados do Evangelho, as ideologias mundanas, cujo inspirador é, em última análise, o diabo, transformam esta vida numa escravidão ao pecado, onde Deus é perseguido e os povos são tiranizados sob a mentira e a violência – espiritual, moral, intelectual, física.

Oração:

Senhor Deus, supremo Mestre, que nos ensinais sempre os caminhos do Bem, concedei-nos pela intercessão de São João Batista de La Salle a graça de termos santos mestres, espirituais e em todas as outras áreas da vida, para que aprendamos e coloquemos em prática coerentemente os Vossos ensinamentos, que devem iluminar tudo, absolutamente tudo o que fazemos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 6 de abril de 2024

Cordeiro

Jesus, o Cordeiro de Deus (Catequizar)

Cordeiro

O cordeiro é mencionado no Antigo Testamento sobretudo como vítima sacrifical. Sua carne é um  prato opcional (Dt 34,14; Am 6, 4). O cordeiro é símbolo de inocência (Is 5, 7), de fragilidade (Sf 119, 176; Os 4, 16). As famílias se apegam ao cordeiro do rebanho (2Sm 12, 3-4).

O título Cordeiro de Deus é aplicado a Jesus por João Batista, em Jo 1, 29-36. Este título pode reunir a imagem do cordeiro pascal, aplicada a Jesus em Jo 19, 36 (1Cor 5, 7), e a do Servo de Javé (Is 53, 7), igualmente aplicada a Jesus (At 8, 32 etc.). Esta combinação de duas imagens poderia ser a consequência de uma tradução defeituosa, mas talvez intencional, do aramaico talya, que significa tanto cordeiro quanto servo. 1Pd compara Cristo a um cordeiro, vítima sacrifical ou vítima pascal.

O tema cordeiro é utilizado sobretudo pelo Ap. O cordeiro é “imolado” (5, 6-12);  13, 8); seu sangue traz a salvação (7, 14; 12, 11). Sobretudo o cordeiro é representado glorioso: está sentado no trono (5, 8.12-13; 7, 9-10; 22, 1.3), irritado (6, 16), vitorioso de seus inimigos (17, 14); é o juiz que tem o livro da vida (13, 8; 21, 27); só ele pode abrir o grande livro dos oráculos do Antigo Testamento (5, 9). Este cordeiro imolado e glorioso é a imagem de Jesus, morto e glorificado, cuja glória é fruto da morte. Os discípulos de Jesus são cordeiros, segundo Jo 21, 15; Pedro é seu pastor.

Fonte: Dicionário Bíblico Universal – Editoras: Aparecida (SP) e Vozes (Petrópolis (RJ) – 1997, Página 153.

NAZARENO: A labuta de Marta e os tesouros do céu (contra a hipocrisia dos notáveis) - (38)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 38 - A labuta de Marta e os tesouros do céu (contra a hipocrisia dos notáveis)

Antes de partir novamente, Jesus parou para descansar na casa de seus amigos em Betânia. Eles são Marta, Maria e Lázaro, três irmãos. Lázaro não está presente naquele dia. Jesus entra na casa, e Maria senta-se a seus pés para ouvi-lo, enquanto sua irmã mais velha, Marta, estava ocupada pelo muito serviço, atarefada em preparar o almoço para o Nazareno e seus amigos. Contrariada pela falta de apoio, ela gostaria que sua irmã a ajudasse, para que pudesse se apressar e também se sentar ao lado do Mestre. O Senhor, porém, respondeu: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”. Ele a recordara de olhar ao essencial.

É uma oportunidade para o Nazareno falar novamente sobre a oração, com exemplos e analogias que têm apenas um propósito: induzi-los a pedir, implorar, sempre e em qualquer caso, sem nunca se cansar. Disse-lhes ainda: “Quem dentre vós, se tiver um amigo e for procurá-lo no meio da noite, dizendo: ‘Meu amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus amigos e nada tenho para lhe oferecer’, e ele responder de dentro: ‘Não me importunes; a porta já está fechada, e meus filhos e eu estamos na cama; não posso me levantar para dá-los a ti’; digo-vos, mesmo que não se levante para dá-los por ser amigo, levantar-se á ao menos por causa da sua insistência, e lhe dará tudo aquilo de que precisa. Também eu vos digo: Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, acha; e ao que bate, se abrirá”.

Depois desses encontros, a peregrinação na Judeia continuou por mais alguns dias. No final de novembro eles chegam a Emaús. Na manhã seguinte, um fariseu o convida para almoçar. Jesus aceita, como sempre. O homem quer colocá-lo à prova. O Nazareno entra na casa, cumprimenta os presentes e põem-se à mesa. O fariseu, vendo isso, ficou admirado de que ele não fizesse primeiro as abluções antes do almoço. O convidado vinha da rua: as tradições farisaicas prescreviam lavagens de purificação. A curiosidade inicial do homem se transforma em indignidade, em julgamento. O Senhor, porém, lhe disse: “Agora vós, ó fariseus! Purificais o exterior do copo e do prato, e por dentro estais cheio de rapina e de perversidade! Insensatos!...

Palavras que provocam a intervenção de outro dos convidados, um homem idoso, que diz: “Mestre, falando assim, tu nos insultas também!”. Ele respondeu: “Igualmente ai de vós, legistas, porque impondes aos homens fardos insuportáveis, e vós mesmos não tocais esses fardos com um dedo sequer!”.

Alguns dias depois, eles chegam em Hebron. Enquanto Jesus falava às pessoas na rua principal, um homem de meia-idade que o ouvia pela primeira vez lhe perguntou em voz alta: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta comigo a herança”. Mas Jesus recusa. “Homem, quem me estabeleceu juiz ou árbitro da vossa partilha? Depois lhes disse: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens”.

Queria enfatizar a importância do desapego às posses, queria lembrá-los do essencial. Por isso, ele narra uma parábola: um homem rico havia obtido uma colheita abundante em seus campos e estava pensando em como iria estocar todos os seus grãos construindo novos armazéns. Mas Deus lhe diz: “Insensato! Nesta mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão? Assim acontece àquele que ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus”.

Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Pois onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.... Compreendei isto: se o dono da casa soubesse em que hora viria o ladrão, não deixaria que sua casa fosse arrombada. Vós também, ficais preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora que não pensais”.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/30/18/137856279_F137856279.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 5 de abril de 2024

A primazia da misericórdia

A primazia da misericórdia (CNBB Norte 2)

A PRIMAZIA DA MISERICÓRDIA

Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém (PA)

Todos os anos a Igreja nos convida a meditar solenemente sobre o Mistério da Misericórdia divina, no assim chamado, Domingo da Misericórdia, a ser celebrado no segundo Domingo da Páscoa; foi instituído por São João Paulo II no mês de maio do ano 2000. Nestas últimas décadas nossos Papas têm nos convidado com insistência para a meditação sobre o amor de Deus. Segundo Santa Faustina, a humanidade não terá paz, enquanto não se voltar para a misericórdia divina.  

 A devoção à Divina Misericórdia e sua dimensão pastoral 

Apesar das desgraças das guerras, miséria, corrupção, criminalidade organizada e de tantas outras formas de violência na sociedade, contemplamos um forte crescimento da devoção à Divina Misericórdia na Igreja Católica. É preciso, porém, muita atenção para que essa devoção não reduza a Misericórdia Divina a uma pura prática de piedade. A forte carga afetiva e moral dessa devoção deve ser preservada a todo custo para não cair no esvaziamento do intimismo, sem compromissos morais e pastorais.  

Para que isso não aconteça é necessário que estejamos continuamente aprofundando teológica e moralmente o significado de Misericórdia. Não há vínculo com a misericórdia divina um grupo do “terço da misericórdia” que tenha características agressivas, que é fechado, intimista e que se opõe ao pároco porque estimula o crescimento da paróquia na sensibilidade missionária e caritativa. Alguém já viu esse filme?  

Não é admissível a promoção do terço da misericórdia e, ao mesmo tempo, a rejeição da Caritas e sem espírito missionário. Aliás, a misericórdia divina é missionária. Jesus Cristo, o rosto da Misericórdia de Deus Pai, é o Filho missionário que veio para salvar o mundo. Portanto, a experiência da devoção à misericórdia sem impulso missionário, sem movimento de saída para a promoção do Reino de Deus, torna-se estéril.  

O objetivo da devoção à Divina misericórdia, é a contemplação do Amor de Deus que nos estimula no crescimento na santidade. A Misericórdia é o próprio Deus que se manifesta com muitas virtudes de amor: fazendo justiça aos oprimidos, dando pão aos famintos, libertando prisioneiros, abrindo os olhos dos cegos, endireitando encurvados, protegendo os desamparados… (cf. Sl 145,6-10); curando os corações despedaçados, cuidando dos feridos (cf. Sl 146,3; Mt 11,4-6). 

A misericórdia de Jesus Cristo, o missionário do Pai, se manifestou através de muitas atitudes e iniciativas: da abertura a todos, da acolhida incondicional aos mais desprezados, do perdão a todos os pecadores, da cura dos doentes e deficientes; a misericórdia divina em Jesus de Nazaré, se manifestou também através do seu espírito de tolerância, de diálogo, presença salvadora em todos os contextos em que as pessoas viviam. Por isso dizia: “Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque a minha carga é suave e o meu fardo é leve.» (Mt 11,28-30).  

 A precedência da Misericórdia ao sacrifício  

Certa vez Jesus disse: “quero a misericórdia e não sacrifício”; é uma frase do profeta Oseias (6,6). Jesus estava recordando a seus discípulos uma grande conquista: aquela da compreensão de que a essência da religião é a experiência de relação com alguém que tem uma identidade específica: Deus é amor, Deus é misericórdia, Deus é bondade, Deus é o Sumo Bem. 

No decálogo (os dez mandamentos) aparece a centralidade do amor que deve permear a vida do fiel. Esse amor deve ser vivido em duas dimensões, para com Deus e o próximo. Todavia, a partir do decálogo criaram muitos outros preceitos e isso começou a pesar sobre o povo chegando ao legalismo. Inventaram muitas exigências…  

Os profetas (Isaías, Oseias, Jeremias, Ezequiel, Zacarias) deram uma grande contribuição para o retorno ao centro de tudo que é o amor a Deus. Não basta contemplar a natureza, não lhe satisfaz multiplicar cultos, não lhe agrada simplesmente obedecer a lei, não é suficiente fazer sacrifícios. É necessário a experiência do amor, a prática da justiça, da verdade, da bondade pessoal, da honestidade (cf. Is 1,1-17).  

 Jesus Cristo, missionário da Misericórdia  

Com a vinda de Jesus, o Filho de Deus, chegamos ao ponto alto da revelação e da mais profunda compreensão de que Deus é Amor. Em matéria religiosa, nada vale sem o amor. Jesus vai manifestar isso com muita clareza, contando a parábola do Bom Samaritano, fazendo sérios discursos contra a hipocrisia religiosa, falando do juízo final baseado na caridade, denunciando o legalismo estéril.  “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me” (Mt 25,34-36). 

Os apóstolos continuaram na mesma linha, como bons discípulos de Jesus. São João vai dizer que Deus é amor e quem ama deve permanecer em Deus (cf. 1Jo 4,16). São Tiago vai afirmar que “o julgamento será sem misericórdia para quem não tiver agido com misericórdia. Os misericordiosos não têm motivo de temer o julgamento” (Tg 2,12-13). 

São Paulo declara que “o amor é a plenitude da lei” (Rm 13,10). Vai também escrever o hino do amor (cf. 1Cor 13). A Igreja continua afirmando a mesma coisa; assim nós devemos continuar a nossa compreensão e o exercício dessa verdade. A essência da vontade de Deus está na prática da misericórdia que é, amor transbordante, generosa compaixão, justiça que promove a vida.  

Jesus Cristo é o portador e revelador da Misericórdia do Pai; nas bem-aventuranças colocou a prática da misericórdia como via de santidade: “felizes os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia” (Mt 5,7). 

Enfim, sendo a devoção à Divina Misericórdia, uma das mais significativas devoções relacionadas à pessoa do próprio Deus, deve estar sempre permeada pelo nosso compromisso de sermos melhores, profundamente humanos, bondosos, missionários. Essa devoção, quando bem entendida e acompanhada, pode ser fonte de uma forte paixão missionária, pois a Misericórdia de Deus se revelou como luz para iluminar quem vive nas trevas, nas sombras da morte e para guiar nossos passos no caminho da paz (cf. Lc 1,79). 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Qual relação existe entre a devoção à Divina Misericórdia e a prática da Caridade? 

Como a devoção à Divina Misericórdia pode ajudar a vida fraterna nas comunidades? 

Por que há uma relação entre a Divina Misericórdia e a missionariedade da Igreja?

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Aumentam os católicos no mundo, são 1 bilhão e 390 milhões

O número de católicos no mundo está aumentando, como indicam o Anuário Pontifício e o Annuarium Statisticum Ecclesiae (ANSA)

O número global de batizados aumentou em 2022, especialmente na África. Em linha com o passado, as vocações sacerdotais diminuíram. Estes são os dados expressos pelo Annuarium Statisticum Ecclesiae 2021 e pelo Anuário Pontifício 2024 editado pelo Escritório Central de Estatística da Igreja.

Vatican News

Aumentam os católicos batizados no mundo, os bispos nos continentes asiático e africano e os diáconos permanentes na África, Ásia e Oceania, e diminuem as vocações sacerdotais, os sacerdotes, os religiosos professos que não são sacerdotes e as religiosas professas. Estes são os dados estatísticos que emergem do Annuarium Statisticum Ecclesiae 2022 e do Anuário Pontifício 2024, atualmente distribuídos nas livrarias, publicados pela Tipografia Vaticana e com o trabalho editorial realizado pelo Escritório Central de Estatística da Igreja.

A partir da leitura dos dados presentes no Anuário Pontifício, pode-se obter informações relativas à vida da Igreja Católica no mundo, a partir de 1º de dezembro de 2022 a 31 de dezembro de 2023. Durante este período, foram erigidos nove novos bispados e uma administração apostólica; duas sedes episcopais foram elevadas a sedes metropolitanas e um Vicariato Apostólico a sede episcopal.

Os dados estatísticos do Annuarium Statisticum Ecclesiae nos permitem elaborar uma síntese sobre a evolução da Igreja Católica no mundo.

Seguem, abaixo, as informações sobre alguns aspectos básicos da Igreja Católica entre 2021 e 2022:

O número de católicos batizados em todo o mundo aumentou de 1 bilhão e 376 milhões, em 2021, para 1 bilhão e 390 milhões, em 2022, um aumento relativo de 1,0%. A taxa de mudança difere de continente para continente: enquanto na África há um aumento de 3%, com o número de católicos subindo de 265 milhões para 273 milhões no mesmo período, no outro extremo, na Europa, há estabilidade (em 2021 e 2022, o número de católicos é de 286 milhões). Situações intermediárias são as registradas na América e na Ásia, onde o crescimento de católicos é significativo (+0,9% e +0,6%, respectivamente), mas totalmente alinhado com o desenvolvimento demográfico desses dois continentes. Com valores absolutos obviamente mais baixos, a estabilidade também se aplica à Oceania.

O número de bispos durante o biênio 2021-2022 aumentou em 0,25%, passando de 5.340 para 5.353. Esse movimento de crescimento se verifica na África e na Ásia, com variações de 2,1 e 1,4 por cento, respectivamente. Houve estabilidade na América (com 2.000 unidades) e na Oceania (com 130), e uma leve queda (-0,6%) na Europa (de 1.676 para 1.666 unidades).

O ano de 2022 marca uma nova diminuição no número de sacerdotes em comparação com o ano anterior, continuando assim a tendência de queda que marcou os anos a partir de 2012. O número global de sacerdotes no mundo, em 2022, diminuiu em relação a 2021 de 142 unidades, passando de 407.872 para 407.730. Enquanto a África e a Ásia mostram uma dinâmica sustentada (+3,2 por cento e 1,6 por cento, respectivamente) e a América permanece mais ou menos estacionária, a Europa, com o maior peso no total, e a Oceania, por outro lado, registram taxas de variações negativas de 1,7 por cento e 1,5 por cento, respectivamente.

O número de diáconos permanentes continua mostrando uma dinâmica evolutiva significativa: o número de diáconos aumentou, em 2022, de 2% em relação ao ano anterior, passando de 49.176 para 50.150 unidades. O número está melhorando em todos os continentes com ritmos significativos. Na África, Ásia e Oceania, onde ainda não atingem 3% do total, aumentaram 1,1%, atingindo 1.380 unidades em 2022. O número também melhorou em áreas onde a sua presença é quantitativamente relevante. Na América e na Europa, onde reside 97,3% da população total, o número de diáconos aumentou, no biênio considerado, de 2,1 e 1,7 por cento, respectivamente.

O grupo dos religiosos professos que não são sacerdotes constitui um grupo cada vez menor a nível global: eram 49.774 unidades em 2021 e passaram para 49.414 em 2022. O declínio deve ser atribuído, por ordem de importância, ao grupo europeu, ao grupo africano e ao oceânico, enquanto, inversamente, na Ásia estes números aumentaram e também na América.

As religiosas professas formam uma população mais consistente: em 2022 ultrapassaram o número de sacerdotes em todo o planeta em quase 47%, mas atualmente estão diminuindo. Globalmente, passaram de 608.958 unidades em 2021 para 599.228 em 2022, com uma diminuição de 1,6%. Notam-se diferenças de comportamento analisando as tendências temporais para cada área territorial. A África é o continente com maior aumento de religiosas, que passou de 81.832 unidades em 2021 para 83.190 em 2022, com um aumento relativo de 1,7%. Segue-se a região do Sudeste Asiático, onde as religiosas professas passaram de 171.756 em 2021 para 171.930 em 2022, com um aumento de apenas 0,1%. A região Sul e Central da América apresenta uma diminuição: de 98.081 religiosas em 2021, para 95.590 em 2022, com uma diminuição global de 2,5%. Por fim, há três áreas continentais que partilham uma diminuição acentuada: Oceania (-3,6%), Europa (-3,5%) e América do Norte (-3,0%);

Continua a diminuição que marcou o andamento das vocações sacerdotais desde 2012: em 2022 o número de seminaristas maiores era de 108.481 unidades, com uma variação de -1,3% em relação ao ano anterior. Uma análise sumária realizada no âmbito subcontinente destaca que os comportamentos locais são diferenciados entre si. Na África, por exemplo, o número de seminaristas maiores aumentou 2,1% no período de dois anos em análise. Em todas as partes da América houve uma diminuição das vocações que se concretiza numa variação de -3,2%. Na Ásia há uma diminuição que leva o número de seminaristas maiores em 2022 a um nível 1,2% inferior ao de 2021. A crise vocacional que afeta a Europa desde 2008 parece não parar: no biênio 2021-2022, o número de seminaristas diminuiu 6%. Na Oceania, as vocações sacerdotais em 2022 superam em 1,3% as de 2021. Dos 108.481 seminaristas de todo o mundo, em 2022, o continente com maior número de seminaristas é o africano com 34.541 unidades. Segue-se a Ásia com 31.767, a América com 27.738, a Europa com 14.461 e por fim a Oceania com 974 seminaristas maiores

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Debaixo da figueira

Foto: Engin Akyurt, Unsplash | Opus Dei

Debaixo da figueira

Neste momento, sentimos pena pela solidão de muitas pessoas doentes nos hospitais ou em seus lares. Mas, em Cristo, podemos chegar até o último canto do planeta, até o mais fundo de um coração abandonado.

Natanael descobriu o Messias porque sentiu sua silenciosa e íntima “companhia” debaixo da figueira. Não sabemos o que estava fazendo lá, nem o Espírito Santo considerou necessário que o conheçamos. Neste momento, sentimos pena pela solidão de muitas pessoas doentes nos hospitais ou em seus lares. Há também muitas que estão bem, mas sozinhas. O fato de não podermos fazer-lhes companhia pode se tornar insuportável para nós.

No entanto, em Cristo, chegamos até o último canto do planeta, até a última cama de um hospital improvisado, até o mais fundo de um coração abandonado. Com Ele somos capazes de dar calor, luz e carinho a qualquer alma que esteja isolada.

Um sofrimento muito íntimo

Um confinamento como o que vivemos em grande parte do mundo apresenta muitas situações que podemos oferecer a Jesus porque nos custam: não poder comungar, nem nos confessar, nem sair... Esses “sacrifícios” não são indiferentes para Jesus. “Mestre, não te importa que pereçamos? (Mc 4, 38). Não te importa: pensaram que Jesus estava desinteressado deles, que não lhes estava dando nenhuma atenção. Entre nós, em nossas famílias, o que mais dói é ouvir alguém dizer: ‘Será que eu não te importo?’ É uma frase que magoa e provoca tormentas no coração. Terá também abalado a Jesus, pois não há ninguém que se importe mais conosco do que Ele. De fato, uma vez chamado, salva seus discípulos desconfiados”[1].

Certamente também nos faz sofrer de forma especial não poder acompanhar nossos seres queridos, que precisam de companhia e calor de lar: uma avó, um irmão, uma filha, um doente, um mendigo, um fiel que precisa confessar ou receber a Unção dos Enfermos, o Viático. Em nosso coração há sentimentos em conflito: a consciência de que o nosso dever é ficar em casa; o desejo de cuidar deles, de abraçá-los, de fazer que se sintam queridos; não saber como estarão se sentindo, especialmente se estão sozinhos.

CERTAMENTE TAMBÉM NOS FAZ SOFRER DE FORMA ESPECIAL NÃO PODER ACOMPANHAR NOSSOS SERES QUERIDOS

Há um caso especialmente doloroso: o dos que sofrem de COVID-19. A necessidade de ficarem isolados faz que durante a doença sejam acompanhados unicamente pelas equipes sanitárias. Estes profissionais, devido à grande necessidade dos seus serviços e ao tipo da doença, não podem atender os pacientes com todo o sossego e carinho que desejariam. Em casos mais graves, só é possível uma breve visita final de despedida dos familiares mais íntimos. Uma mulher que sempre esteve junto do marido não poderá estar ao seu lado nos dias decisivos antes de sua morte. Os sacerdotes só podem atender os fiéis no último momento e é difícil que acompanhem com dedicação o seu rebanho (também os que não estão doentes) nesta hora difícil. Talvez uma neta não possa despedir-se da avó, ou uma mãe veja que a vida de um filho vai embora, sem poder acariciá-lo.

Nessa situação ou outras parecidas, gostaríamos de estar ao lado dos nossos amigos, familiares ou conhecidos. Por outro lado, temos que compaginar essa angústia com o excesso de tempo de que dispomos com o nosso próprio confinamento. Esta circunstância leva a imaginação a voltar repetidas vezes à dor que a situação nos causa. Não seria surpreendente que surgissem dúvidas sobre as nossas atitudes: estamos fazendo tudo que é possível? Podemos chegar inclusive a inquietar-nos, com o pensamento de que nos deixamos levar pela comodidade ou o medo. Por todas estas razões, a decisão de ficar em casa pode ser tão difícil quanto a de arriscar-nos a fazer-lhes companhia nestas circunstâncias excepcionais. A consciência de cada um, auxiliada pela graça, é que ajudará a decidir se o risco de contágio é proporcional à urgência dessa companhia. Muitas vezes a decisão já está tomada, porque as autoridades sanitárias ou civis não permitem tal opção. Há, no entanto, algo que está ao alcance de todos nesta situação e que pode ter um grande valor, além de encher-nos de paz.

Fazer companhia de longe

Jesus estava, de alguma forma, debaixo da figueira, embora fisicamente Natanael tenha comprovado que não havia ninguém observando-o. O momento presente constitui uma ocasião magnífica para fazer-nos companhia com a Comunhão dos Santos. Natanael convenceu-se de que Jesus era o Messias porque, a posteriori, ficou sabendo que ele o acompanhara nesse momento de sua vida: “Antes que Filipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, eu te vi” (Jo 1, 48). Muita gente precisa que Jesus se torne presente debaixo da sua figueira. Nós, com a graça, podemos ajudar Cristo a chegar a esses lugares recônditos, “pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28). Se vivemos a vida de Jesus, o confinamento não nos isolará. Embora não possamos estar presentes fisicamente, as pessoas que amamos sentirão a presença do Salvador junto delas.

EMBORA NÃO POSSAMOS ESTAR PRESENTES FISICAMENTE, AS PESSOAS QUE AMAMOS SENTIRÃO A PRESENÇA DO SALVADOR JUNTO DELAS

São Josemaria tinha consciência bem viva de que a distância e a separação não eram obstáculos para estar junto de seus filhos em situações especiais. Escreveu a suas filhas do México: “Vocês já sabem que, de longe, as acompanho sempre”[2]. Aos seus filhos da Austrália, no outro lado do mundo, confiava: “Quanta companhia faço a vocês daqui”[3]. Como nós, nesta situação que estamos vivendo, ele também expressa com matizes muito expressivos o estado de sua alma: “Paco, não vê que o pobre avô – assim se referia a si mesmo em suas cartas durante a guerra civil, para evitar os perigos da censura de guerra – preocupado com seus pequenos, está em carne viva?”[4]. O isolamento dos seres queridos pode ser muito mais difícil para nós do que o nosso próprio isolamento. Oferecer a Deus o nosso sofrimento por eles já é o começo de uma solução.

Não há por acaso anjos da guarda?

Nesta missão os aliados mais eficazes são os Anjos da guarda. São cúmplices muito interessados no assalto que queremos fazer a essas pessoas queridas. Não sofremos pelo nosso isolamento, mas pelo isolamento delas. Quando Jesus ouve a confissão de Natanael, responde abrindo-lhe horizontes: “Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta” (Jo 1, 50). E enchendo de solenidade os sinais que vai anunciar, confia-lhes: “Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (Jo 1, 51).

NOSSA FÉ GARANTE QUE A NENHUM DOENTE OU PESSOA QUE ESTEJA SOFRENDO NESTES MOMENTOS HÁ DE FALTAR ESSA CARÍCIA MATERNAL

Jesus afirma que a sua presença debaixo da figueira é um sinal pequeno comparado com a ação dos anjos em sua vida e na dos seus futuros discípulos. As duas presenças são invisíveis, mas nem por isso menos reais. É a nossa fé que está em jogo nesses momentos de escuridão. A mediação divina tem muitos canais e instrumentos. Nós somos um deles, mas Deus pode atuar por meios mais sutis e eficazes, como por exemplo, os seus anjos.

Certa vez, São Josemaria ficou sabendo de uma situação complicada que dois de seus filhos estavam passando. Tinham que hospedar-se em uma pensão com um ambiente nada recomendável. Um deles usava um eufemismo, falando de uma “vizinhança perigosa”. O diário daqueles dias esclarece na natureza do perigo: “Nesta casa, como é natural, há um rebanho de ‘raposas levantinas’”[5]. São Josemaria, meses depois, redigiria em Burgos um ponto de Caminho que faz referência a essa situação: “Há nesse ambiente muitas ocasiões de te desviares? – De acordo. Mas por acaso não há também Anjos da Guarda?”[6]. Podemos muito bem recorrer a essas unidades especiais do exército divino para acompanhar os nossos seres queridos e proporcionar-lhes o calor da companhia e o auxílio espiritual de que necessitam.

* * *

A Rainha dos Anjos, a quem não podem negar nada, é também a Porta do Céu. Jesus não quis privar-se da sua Mãe no Calvário. Nossa fé garante que a nenhum doente ou pessoa que esteja sofrendo nestes momentos há de faltar essa carícia maternal. Nunca necessitamos tanto dela como na solidão do último passo rumo à vida eterna, rumo ao Coração do seu Filho.

Diego Zalbidea


[1] Francisco, Homilia 27/03/2020.

[2] Carta de Roma a suas filhas do México, 20/06/1950 (AGP, série A.3.4, 500620-7).

[3] Carta de Roma a seus filhos da Austrália, 8/04/1964 AGP, série A.3.4, 640408-1).

[4] Carta a seus filhos de Valência, 25/07/1937 (AGP, série A.3.4, 370725-3).

[5] Diário da passagem dos Pirineus, dias 6 e 7 de outubro de 1937 (Juan Jiménez Vargas), p. 2.

[6] Caminho, n. 566.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

NAZARENO: Viu-o e moveu-se de compaixão (o Bom Samaritano) - (37)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 37 - Viu-o e moveu-se de compaixão (o Bom Samaritano)

Enquanto Jerusalém se esvaziava e as caravanas já estavam em marcha, Jesus volta a pregar nas proximidades do Templo. Diz: “Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa, porque ele é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas. Mas tenho outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las também; elas ouvirão a minha voz: então haverá um só rebanho, um só pastor”.

A sua missão é universal, não diz respeito apenas ao povo de Israel, o povo da primeira Aliança, ele veio ao mundo também para as outras ovelhas, para as que estão em outros "redis", para as que estão longe. Alguns dias depois, Jesus e seus seguidores partiram novamente, parando em Betânia, um dos presentes se levanta e se aproxima dele. É um doutor da lei que quer questioná-lo e colocá-lo à prova.

Pergunta: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Jesus olhando-o responde com outra pergunta: “Que está escrito na lei? Como lês?”. Ele, então, respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo”. Jesus sorri e lhe diz: “Respondeste corretamente; faze isso e viverás”.

Mas ao escriba não é suficiente. Querendo se justificar, disse a Jesus: “E quem é meu próximo?”. Jesus o faz sentar-se ao seu lado.

Em seguida, começa a lhe contar uma parábola: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, deixando-o semimorto...”. Jesus continua: “Casualmente, descia por este caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu. Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: ‘Cuida dele e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei’”.

Um sacerdote e um levita, dois notáveis, passam longe. Nenhum deles se compadece a ponto de cuidar dele. Isso é feito pelo menos "religioso" dos três, um comerciante samaritano, pertencente a um povo execrado, extremamente desprezados pelos judeus. O Nazareno termina a história e, olhando nos olhos do escriba, lhe diz: “Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”. Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Jesus então lhe disse: “Vai, e também tu, faze o mesmo”.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/30/16/137855710_F137855710.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF