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segunda-feira, 8 de abril de 2024

CATEQUESE: A Anunciação do Senhor

A Anunciação | Fra_Angélico

A Anunciação do Senhor

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Pelo anjo São Gabriel foi anunciada a Encarnação do Verbo à Virgem Maria. Esse importante momento da História da Redenção é apresentado pelas belas e profundas palavras da piedade medieval, eternizadas na Legenda Áurea (ou Legenda Dourada).

Essa importante obra, composta na Idade Média pelo bem-aventurado Tiago de Varazze (arcebispo de Gênova, oriundo da ordem dominicana, 1226-1298), expressa muito bem a inteligência privilegiada e os dotes literários e devocionais do autor; foi ela responsável pela alimentação espiritual de numerosas almas no decorrer de vários séculos.

A Anunciação

A Anunciação do Senhor é assim chamada porque no dia agora comemorado um anjo anunciou a vinda do Filho de Deus na carne. Por três razões convinha que a encarnação do Filho de Deus fosse precedida por um anúncio, que foi feito pelo anjo.

1) Para que a ordem da reparação correspondesse à ordem da prevaricação. Assim como o diabo tentou a mulher para levá-la à dúvida, da dúvida ao consentimento, e do consentimento à queda, o anjo anunciou à Virgem para estimular sua fé e levá-la da fé ao consentimento e do consentimento à concepção do Filho de Deus.

2) Por causa do ministério do anjo, porque sendo o anjo ministro e escravo do Altíssimo, e tendo a bem-aventurada Virgem sido escolhida para mãe de Deus, era sumamente conveniente que o ministro servisse à senhora e era justo que a Anunciação fosse feita à bem-aventurada Virgem pelo ministério de um anjo.

3) Para reparar a queda do anjo. Se a Encarnação não teve como único objetivo reparar a queda do homem, mas também reparar a ruína do anjo, os anjos não deveriam ser dela excluídos. Como a mulher não está excluída do conhecimento do mistério da Encarnação e da Ressurreição, o mesmo deveria ser do conhecimento do mensageiro angélico. Por isso Deus anunciou ambos os mistérios à mulher por intermédio de um anjo: a Encarnação à Virgem Maria, e a Ressurreição a Maria Madalena.

A bem-aventurada Virgem ficou dos três aos quatorze anos de idade no Templo, junto com outras virgens, e fez voto de castidade até que Deus dispusesse de outro modo. Conforme está detalhadamente relatado na história da natividade da bem-aventurada Maria, José tomou-a como esposa após ter recebido uma revelação divina e após seu ramo ter florescido. A fim de tomar providências para seu casamento, José foi a Belém, onde nascera, enquanto Maria retornava para a casa de seus pais, em Nazaré, nome que significa “flor”. Comenta São Bernardo: “a flor quis nascer de uma flor, em uma flor, e na estação das flores”.

Foi lá, portanto, que o anjo apareceu a ela e a saudou dizendo: “Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo, bendita entre as mulheres”. São Bernardo explica: “o exemplo de São Gabriel e o movimento de São João [Batista] convidam-nos a saudar Maria, para nosso benefício”.

A anunciação do anjo São Gabriel

Mas convém agora buscar os motivos pelos quais o Senhor desejou que sua mãe se casasse. São Bernardo dá três razões: “foi preciso que Maria se casasse com José porque assim o mistério ficava oculto aos demônios, porque o esposo comprovava a virgindade dela,e porque o pudor e a reputação da Virgem ficavam resguardados”. A isso podemos acrescentar outras razões:

1. Para fazer com que fosse apagada a desonra nas mulheres de qualquer condição, solteiras, casadas e viúvas, tríplice condição pela qual a própria Virgem passou.

2. Para que pudesse receber serviços de seu esposo.

3. Para ser uma prova da importância do casamento.

4. Para estabelecer para o filho a genealogia do marido.

Por isso o anjo disse: “Salve, cheia de graça”. São Bernardo, explicando tais palavras, diz que “a graça da divindade está em seu seio, a graça da caridade em seu coração, a graça da afabilidade em sua boca, a graça da misericórdia e da generosidade em suas mãos”. E acrescenta que “Ela é verdadeiramente cheia de graça, pois de sua plenitude todos os cativos recebem redenção; os doentes, cura; os tristes, consolação; os pecadores, perdão; os justos, graça; os anjos, alegria; enfim, toda a Trindade, glória; o Filho do homem, a natureza humana”. “O Senhor está contigo” – explica São Bernardo – significa que “contigo está o Senhor enquanto Pai, que gerou Aquele que concebeste, enquanto Espírito Santo, do qual concebeu, enquanto Filho, que se revestiu de tua carne”. Bendita entre as mulheres significa que: “acima de todas as mulheres, porque sereis mãe e virgem, e mãe de Deus”.

A anunciação do anjo São Gabriel

As mulheres estavam sujeitas a uma tríplice maldição: a da desonra, a da maldição, e a do suplício. A da desonra atingia as que não concebiam, e assim Raquel dizia: “O Senhor me tirou do opróbrio em que estive”; a do pecado recaía nas que concebiam, daí o salmo dizer que “fui concebido em iniquidade”; a do suplício afligia as parturientes, conforme está no Gênesis: “terás filhos com dor”. Somente a Virgem Maria é bendita entre todas as mulheres, pois sua virgindade está unida à fecundidade, sua fecundidade à santidade na concepção e sua santidade à alegria no parto. Ela é cheia de graça, pelo que diz São Bernardo, por quatro razões que fulguravam em seu espírito a devoção da humildade, o respeito ao pudor, a grandeza da fé e o martírio do seu coração.

O anjo acrescentou: “o Senhor está contigo” por quatro razões, que do Céu resplandeceram em sua pessoa, ainda conforme São Bernardo: a santificação de Maria, a saudação angélica, a vinda do Espírito Santo, a Encarnação do Filho de Deus. Disse também: “Bendita entre as mulheres” por quatro outros privilégios que, segundo São Bernardo, resplandeceram em sua carne: rainha das virgens (virgindade absoluta), fecundidade sem corrupção, gravidez sem incômodos, e parto sem dor.

“Ao ouvir tais palavras do anjo, ficou perturbada e refletiu sobre o significado daquela saudação”. Ao ouvir o elogio, a Virgem ponderou sobre ele; afetada na sua modéstia, ficou calada; tocada no seu pudor, pensou com prudência o que significava aquela saudação. Ela ficou perturbada pelas palavras do anjo, não pela sua aparição, porque a bem-aventurada Virgem vira anjos com frequência, porém nunca os tinha ouvido falar daquele jeito. Pedro de Ravena comentou: “a anjo era de aparência doce mas de palavras impressionantes, daí ela o ter visto com júbilo e ouvido com apreensão”. Segundo São Bernardo, “a perturbação que ela sentiu foi resultado de seu pudor virginal, e se ela não ficou mais perturbada isso deveu-se à força de alma, que a levou a calar e refletir, dando prova de prudência e discrição”.

E então o anjo tranquilizou-a, dizendo: “não temas, Maria, tu encontraste a graça junto ao Senhor”. São Bernardo comenta: “encontrou graça de Deus, a paz dos homens, a destruição da morte, a reparação da vida”. “Eis que tu conceberás e darás à luz um menino a quem chamarás Jesus isto é, Salvador, pois Ele salvará o povo de seus pecados. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo”. Diz São Bernardo que “isso significa que aquele que é grande como Deus será também grande homem grande doutor, grande profeta”. Então Maria perguntou ao anjo: “Como será isso possível, se não conheço homem?”, isto é, se não me proponho a conhecer? Ela foi virgem de espírito, de carne e de intenção.

No entanto Maria interroga; ora, quem interroga tem dúvida. Por que então ela não foi, como Zacarias, castigada pela mudez? A esse respeito Pedro de Ravena dá quatro razões:

Quem conhece os pecadores considera não apenas as palavras, mas o fundo de seus corações, julga não o que disseram, mas o que sentiam. A causa que os levou a interrogar foi diferente, e o que esperavam não eram a mesma coisa. Maria acreditou no que ia contra natureza, Zacarias duvidou pela natureza. Ela quis saber como as coisas aconteceriam, ele negou serem possíveis as coisas que Deus queria fazer. Ele, apesar de existirem exemplos anteriores, não teve fé; ela, sem tais exemplos, a teve. Ela ficou admirada de uma virgem dar à luz, ele contestou a concepção. Portanto ela não duvida do fato, mas apenas indaga sobre seu modo e suas circunstâncias, porque como há três modos de concepção – o natural, o espiritual e o maravilhoso – ela se pergunta sob qual deles conceberia.

E o anjo respondeu: “o Espírito Santo virá sobre ti, e Ele mesmo te fará conceber”.

Diz-se que Cristo foi concebido do Espírito Santo por quatro razões:

1. Mostrar que é pela inefável caridade divina que o Verbo de Deus se fez carne, conforme diz João: “Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único”. Esta explicação nos é dada pelo Mestre das Sentenças.

2. Mostrar que foi uma graça concedida sem que para isso houvesse algum merecimento por parte dos homens. Essa razão é dada por Santo Agostinho.

3. Mostrar que foi por poder e obra do Espírito Santo que Ele foi concebido. Essa explicação é da autoria de Ambrósio.

4. Hugo de São Victor diz que o motivo da concepção natural é o amor do marido pela esposa, e da esposa pelo marido: “ocorreu o mesmo com a Virgem, pois o amor que ela tinha ao Espírito Santo ardia singularmente em seu coração, enquanto o amor do Espírito Santo a ela operava maravilhas em seu corpo”.

“E a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”. Segundo a Glosa, isso quer dizer que a sombra é naturalmente formada por um corpo colocado no caminho da luz, e como a Virgem, por sua natureza humana, não podia receber a plenitude da divindade, “a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” significa que nela a luz incorpórea da divindade assumiu a humanidade do corpo a fim de que Deus pudesse sofrer. São Bernardo parece aceitar esta explicação quando diz: “Como Deus é espírito e como na verdade somos o corpo de sua sombra, Ele veio entre nós para que por meio da carne vivificada víssemos o Verbo na carne, o sol na nuvem, a luz na lâmpada, a vela no castiçal”. São Bernardo, ainda comentando a mesma passagem, afirma:

“Eis aqui a escrava do Senhor, que se faça comigo segundo a tua palavra”.

É como se o anjo dissesse que o modo pelo qual tu conceberás Cristo do Espírito Santo será ocultado pela sombra do poder de Deus em seu asilo mais secreto, para que seja conhecido apenas por Ele e por ti. É como se o anjo dissesse: “Por que me perguntas o que saberás por experiência própria? Tu saberás, saberás, felizmente saberás, mas por intermédio daquele que ao mesmo tempo será teu professor e teu autor. Fui enviado para anunciar a concepção virginal, não para criá-la”. Aquela frase pode ainda indicar que ele a cobrirá com sua sombra, isto é, extinguirá o ardor do vício.

“Eis que tua prima Isabel concebeu um filho na velhice”. O anjo disse isso para contar que ocorrera uma grande novidade na vizinhança. Segundo São Bernardo, a concepção de Isabel foi anunciada a Maria por quatro motivos. O primeiro, aumentar sua alegria; o segundo, aperfeiçoar seu conhecimento; o terceiro; melhorar sua doutrina; o quarto, possibilitar sua misericórdia.

Sobre tudo isso, São Jerônimo disse:

A gravidez da prima estéril foi anunciada a Maria para que um milagre somado a outro milagre juntasse alegria a uma outra alegria. Ou então, porque era conveniente que a Virgem soubesse pela boca de um anjo, e não pela de um homem, a novidade que devia estar sendo divulgada por toda parte, a fim de que a mãe de Deus não ficasse afastada das coisas de seu filho, não permanecesse na ignorância de acontecimentos tão próximos. Ou ainda, porque sabendo da vinda tanto do Salvador quanto do Precursor, sabendo do momento e do encadeamento dos fatos, poderia posteriormente revelar a verdade a escritores e pregadores do evangelho. Ou, por fim, para que conhecendo a gravidez de sua prima já idosa, a jovem a pudesse ajudar, e permitir ao pequeno profeta João prestar homenagem ao Senhor, ocorrendo, diante de um milagre, um milagre ainda mais admirável.

Mais adiante São Bernardo acrescentou: “Ó Virgem, respondei logo. Ó minha senhora, dizei uma palavra e recebei a Palavra, proferi uma palavra e recebei a palavra divina, dizei uma palavra transitória e recebei a eterna. Levantai-vos, correi, abri. Levantai-vos para demonstrar vossa fé, correi para mostrar vossa devoção, abri para exibir uma marca de vosso consentimento”.

Então Maria, estendendo as mãos e erguendo os olhos para o Céu, disse: “Eis aqui a escrava do Senhor, que se faça comigo segundo tua palavra”. São Bernardo explica: “Conta-se que uns receberam o Verbo de Deus no ouvido, outros na boca, outros na mão. Quanto a Maria, recebeu-a no ouvido pela saudação angélica, no coração pela fé, na boca pela confissão, na mão pelo tato, no ventre pela Encarnação, no seio pelo sustento, nos braços pela oferenda”. “Que se faça comigo segundo tua palavra”. São Bernardo continua: “Que ele seja feito em mim não como palavra vazia e declamatória, nem como alegoria, nem como sonho imaginário, mas como inspiração silenciosa, personalidade encarnada que habita corporalmente em minhas entranhas”. Imediatamente o Filho de Deus foi concebido no seu ventre como Deus perfeito, homem perfeito e, desde o primeiro dia de sua concepção, tinha a mesma sabedoria e o mesmo poder de quando alcançou a idade de trinta anos.

“Então Maria partiu, foi para a casa de Isabel nas montanhas, e ao ouvir sua saudação João [Batista] estremeceu no ventre da mãe”. Diz a Glosa que como ele não podia fazê-lo com a língua, demonstrou por movimento sua alegria e começou assim sua função de Precursor. Ela ajudou sua prima durante três meses, até o nascimento de São João [Batista], que ela ergueu com suas mãos, como se lê no Livro dos Justos. Ao longo tempos Deus sempre realiza nesse dia grande número de maravilhas, contadas por um poeta nos belos versos:

Salve, dia festivo, remédio de nossos males,
No qual o anjo foi enviado, Cristo crucificado,
Adão criado e caído no pecado,
Abel ofertou dízimo generoso, e foi morto pelo irmão invejoso,
Melquisedeque ofereceu sacrifício, Isaac subiu ao altar,
O bem-aventurado Batista foi decapitado,
Pedro chorou, e Tiago sob Herodes pereceu.
Muitos santos ressuscitaram com Cristo,
O bom ladrão foi por Cristo perdoado. Amém.

O lírio com as palavras “Ave Maria”

Um nobre e rico soldado, tendo renunciado à vida no mundo secular ingressou na Ordem Cisterciense, mas como não era letrado os monges não ousaram colocar tão nobre personagem entre os irmãos leigos, e então deram-lhe um mestre, esperando que aprendesse algo para poder assim continuar entre eles. No entanto, o mestre não foi capaz de lhe ensinar nada além de duas palavras, Ave Maria, as quais ele memorizou com tal amor que as repetia a todo instante, onde quer que estivesse, seja o que for que estivesse fazendo. Depois de morrer foi sepultado, e em seu túmulo nasceu um magnífico lírio, em cujas folhas estavam escritas em letras douradas as palavras Ave Maria. Todos correram a contemplar tão grande espetáculo, e tirando a terra do túmulo viram que a raiz do lírio partia da boca do morto. Entenderam então que com tal prodígio Deus quis honrar quem tinha tanta devoção ao pronunciar aquelas duas palavras.

A visita de Nossa Senhora a Santa Isabel

Efeito protetor da saudação a Maria

Um cavaleiro, cujo castelo ficava junto a uma estrada, espoliava sem piedade os transeuntes, mas cotidianamente saudava a Virgem Mãe de Deus, e nunca se passava um dia sem que ele realizasse a saudação. Certo dia um santo religioso passou por ali e o cavaleiro mandou que o espoliassem, mas o santo homem rogou aos assaltantes que o conduzissem até seu senhor porque tinha certos segredos a lhe comunicar. Levado diante do guerreiro, pediu-lhe que reunisse todas as pessoas da sua família e de seu castelo para lhes pregar a palavra de Deus.

Quando todos estavam reunidos, o religioso disse: “Não estão todos aqui: ainda falta alguém”. Como lhe assegurassem de que todos já estavam ali, ele insistiu: “Olhem bem, e verão que falta alguém”. Então um deles percebeu que o camareiro não viera. O religioso disse: “Sim, é ele quem está faltando”. Logo mandaram buscá-lo, mas ao ver o homem de Deus ele virava os olhos de forma horrível, agitava a cabeça como louco e não ousava aproximar-se. O santo homem falou: “Eu te conjuro, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, a nos dizer quem és e a revelar diante de todos o motivo de ter vindo aqui”. E o camareiro respondeu:

Ai de mim! É por ter sido conjurado e forçado que revelo que não sou um homem, mas um demônio que tomou o aspecto humano, permanecendo assim catorze anos sob este senhor. Nosso príncipe mandou-­me aqui para observar com atenção o dia em que ele não viesse a recitar a saudação à sua Maria, a fim de então me apoderar dele e estrangulá-lo sem demora, pois morrendo sob o efeito de suas ações más ele seria nosso. Mas como todos os dias ele dizia a saudação, não pude exercer poder sobre ele. Dia após dia eu o vigio com cuidado, e ele não passou sequer um dia sem saudá-la.

Ouvindo isso, o cavaleiro foi tomado de grande pavor, jogou-se aos pés do homem de Deus, pediu perdão, e a partir desse dia mudou seu modo de viver. O santo homem disse ao demônio: “Eu te ordeno, demônio, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, sai daqui e nunca mais vá a um lugar onde alguém invoque a gloriosa mãe de Deus”. Imediatamente o demônio desapareceu, e com respeito e gratidão o cavaleiro deixou o santo homem partir.

Para a apresentação do texto acima utilizou-se como fontes a versão portuguesa Legenda Dourada (Jacopo de Varazze, tradução de Hilário Franco Junior, Companhia das Letras, 2003) e a versão francesa La Legende Dorée (Jacques de Voragine, nouvellement traduite em français, Abbé J.B.M.Roze, Edouard Rouveyre Editeur, 1902), disponível em:

http://www.abbaye-saint-benoit.ch/voragine/index.htm

Fonte: Gaudium Press

https://cleofas.com.br/

O elenco das “graves violações” da dignidade humana

Uma mulher com o filho foge de um bombardeio - 08/04/2024, Ucrânia (Vatican Media)

O documento do Dicastério para a Doutrina da Fé “Dignitas infinita” exigiu cinco anos de trabalho e inclui o magistério papal da última década: da guerra à pobreza, da violência contra os migrantes àquela contra as mulheres, do aborto à maternidade sub-rogada e à eutanásia, da teoria do gênero à violência digital.

ANDREA TORNIELLI

Três capítulos oferecem os fundamentos para as afirmações contidas no quarto, dedicado a “algumas graves violações da dignidade humana”: é a declaração “Dignitas infinita” do Dicastério para a Doutrina da Fé, um documento que faz memória dos 75 anos da Declaração universal dos direitos do homem e reafirma «a imprescindibilidade do conceito de dignidade da pessoa humana ao interno da antropologia cristã» (Introdução). A principal novidade do documento, fruto de um trabalho que durou cinco anos, é a inclusão de alguns temas principais do recente magistério pontifício que acompanham aqueles bioéticos. No elenco “não exaustivo” que é oferecido, entre as violações da dignidade humana, ao lado do aborto, da eutanásia e da maternidade sub-rogada, aparecem a guerra, o drama da pobreza e dos migrantes, o tráfico de seres humanos. O novo texto contribui assim para superar a dicotomia existente entre quem se concentra de modo exclusivo na defesa da vida do nascituro ou do moribundo, esquecendo muitos outros atentados contra a dignidade humana e, vice-versa, quem se concentra somente na defesa dos pobres e dos migrantes, esquecendo que a vida deve ser defendida desde a concepção até a sua natural conclusão.

Princípios fundamentais

Nas primeiras três partes da declaração, são evocados os princípios fundamentais. «A Igreja, à luz da Revelação, reafirma de modo absoluto» a «dignidade ontológica da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus e redimida em Cristo Jesus» (1). Uma «dignidade inalienável» que corresponde «à natureza humana, para além de qualquer mudança cultural (6) e é «um dom recebido» e, portanto, está presente «por exemplo, em uma criança ainda não nascida, em uma pessoa em estado de inconsciência, em um idoso em agonia» (9). «A Igreja proclama a igual dignidade de todos os seres humanos, independentemente da sua condição de vida ou das suas qualidades» (17) e o faz com base na revelação bíblica: mulheres e homens são criados à imagem de Deus; Cristo, encarnando-se «confirmou a dignidade do corpo e da alma» (19), e ressuscitando nos revelou que «o aspecto mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à comunhão com Deus» (20).

Dignidade de cada pessoa

O documento evidencia o equívoco representado pela posição daqueles que à expressão “dignidade humana” preferem “dignidade pessoal”, «porque entendem como pessoa somente “um ser capaz de raciocinar”». Consequentemente, afirmam que «não teria dignidade pessoal a criança ainda não-nascida, nem o idoso não autossuficiente, nem o portador de deficiência mental. A Igreja, ao contrário, insiste no fato que a dignidade de cada pessoa humana, porque é intrínseca, permanece para além de toda circunstância» (24). Além disso, se afirma «o conceito de dignidade humana foi às vezes usado de modo abusivo também para justificar uma multiplicação arbitrária de novos direitos... como se fosse devido garantir a expressão e a realização de toda preferência individual ou desejo subjetivo» (25).

O elenco das violações

A declaração apresenta então o elenco de “algumas graves violações da dignidade humana”, ou seja «tudo aquilo que é contrário à vida mesma, como toda espécie de homicídio, o genocídio, o aborto, a eutanásia e o suicídio voluntário»; mas também tudo aquilo que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, as torturas infligidas ao corpo e à mente, as constrições psicológicas». Enfim, «tudo aquilo que ofende a dignidade humana, como as condições de vida sub-humana, os encarceramentos arbitrários, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e de jovens, ou ainda as ignominiosas condições de trabalho com as quais os trabalhadores são tratados como simples instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis». Cita-se também a pena de morte, que «viola a dignidade inalienável de toda pessoa humana para além de toda circunstância» (34).

Pobreza, guerra e tráfico de pessoas

Antes de tudo, se fala do «drama da pobreza», «uma das maiores injustiças do mundo contemporâneo» (36). Depois está a guerra, «tragédia que nega a dignidade humana» e «é sempre uma “derrota da humanidade"» (38), a ponto de hoje ser «muito difícil sustentar os critérios racionais maturados em outros séculos para falar de uma possível “guerra justa”» (39). Prossegue-se com o “sofrimento dos migrantes”, cuja «vida é colocada em risco porque não têm mais os meios para formar uma família, para trabalhar ou para nutrir-se» (40). O documento se detém depois no “tráfico de pessoas”, que está assumindo «dimensões trágicas» e é definida como «uma atividade indigna, uma vergonha para as nossas sociedades que se dizem civilizadas», convidando «exploradores e clientes» a fazer um sério exame de consciência (41). Do mesmo modo, se convida a lutar contra fenômenos como «comércio de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de crianças, trabalho escravizado, incluída a prostituição, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e crime internacional organizado» (42). Cita-se ainda “o abuso sexual”, que deixa «profundas cicatrizes no coração daquele que o sofre»: trata-se de «sofrimentos que podem durar toda a vida e a que nenhum arrependimento pode remediar» (43). O texto continua com a discriminação das mulheres e a violência contra elas, citando entre essas últimas «a constrição ao aborto, que fere seja a mãe que o filho, tão frequente para satisfazer o egoísmo dos homens» e «a prática da poligamia» (45). Condena-se o “feminicídio” (46).

Aborto e Maternidade sub-rogada

Firme, depois, é a condenação ao aborto: «entre todos os delitos que o homem pode cometer contra a vida, o aborto procurado apresenta características que o tornam particularmente grave e deplorável» e se recorda que a «defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano» (47). Forte também é a contrariedade à maternidade sub-rogada, «através da qual a criança, imensamente digna, torna-se mero objeto», uma prática «que lesa gravemente a dignidade da mulher e do filho... que se funda sobre a exploração de uma situação de necessidade material da mãe. Uma criança é sempre um dom e nunca objeto de um contrato». (48) Na lista são citados ainda a eutanásia e o suicídio assistido, confusamente definidos por algumas leis como «morte digna», recordando que o «o sofrimento não faz perder ao doente aquela dignidade que lhe é própria de modo intrínseco e inalienável» (51). Fala-se, portanto, da importância dos cuidados paliativos e para evitar «toda obsessão terapêutica ou intervenções desproporcionais», reiterando que «a vida é um direito, não a morte, a qual precisa ser acolhida, não aplicada» (52). Entre as graves violações da dignidade humana, encontra lugar também o “descarte” das pessoas com deficiência (53).

Teoria de gênero

Depois de reiterar que em relação às pessoas homossexuais deve ser evitada «“toda marca de injusta discriminação” e particularmente toda forma de agressão e violência», denunciando «como contrário à dignidade humana» o fato de que em alguns lugares pessoas «são encarceradas, torturadas e até mesmo privadas da vida unicamente pela sua orientação sexual.» (55), o documento critica a teoria de gênero, «que é perigosíssima porque cancela as diferenças na pretensão de tornar todos iguais» (56). A Igreja recorda que «a vida humana, em todos os seus componentes, físicos e espirituais, é um dom de Deus, que se deve acolher com gratidão e colocar a serviço do bem. Querer dispor de si, como prescreve a teoria de gênero... não significa outra coisa senão ceder à antiquíssima tentação do homem que se faz Deus» (57). A teoria do gênero quer «negar a maior das diferenças possíveis entre os seres viventes: a diferença sexual» (58). Portanto, «devem-se rejeitar todas aquelas tentativas de obscurecer a referência à insuprimível diferença sexual entre homem e mulher» (59). Negativo também o juízo sobre a mudança de sexo, que «arrisca a ameaçar a dignidade única que a pessoa recebeu desde o momento da concepção. Isto não significa excluir a possibilidade que uma pessoa portadora de anomalias dos genitais, já evidentes desde o nascimento ou que se manifestem sucessivamente, possa decidir-se por receber assistência médica com o fim de resolver tais anomalias» (60).

Violência digital

O elenco se completa com a “violência digital”, e cita as «novas formas de violência se difundem através das redes sociais, por exemplo o cyberbullying» e a «difusão da pornografia e de exploração das pessoas para fins sexuais ou através dos jogos de azar» na rede (61). A declaração se encerra exortando «a colocar o respeito pela dignidade da pessoa humana, para além de toda circunstância, ao centro dos esforços pelo bem comum e de todo ordenamento jurídico» (64).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Um idealismo imprudente (1)

A representação da arte Gramatica, mosteiro agostiniano de clausura dos Santi Quattro Coronati em Roma | 30Giorni

Arquivo 30Giorni – 06/2011

Um idealismo imprudente

Jules Lebreton escreveu dois artigos sobre Orígenes na década de 1920.
A teologia do mestre de Alexandria é «um idealismo que acredita estar se aproximando de Deus ao perder de vista a humanidade de Cristo»

por Lorenzo Cappelletti

No número 12 de 1922 de Recherches de science religieuse (revista que ele fundou em 1910 junto com o Padre De Grandmaison), o Padre Jules Lebreton publicou um artigo intitulado Les degrés de la connaissance religieuse d'après Origène . Sobre o mesmo tema, nos anos de 1923 e 1924, a Revue d'histoire ecclésiastique acolheu um longo artigo (dividido em duas partes), novamente do Padre Lebreton, intitulado Le désaccord de la foi populaire e de la théologie savante dans l'Eglise cristã do III século . Com este título, O desacordo entre fé popular e teologia erudita na Igreja do século III , em 1972, Jaca Book publicou ambos os artigos de Lebreton em tradução italiana, transformando-os em um livreto ágil que foi publicado na série Ferramentas para uma teologia trabalho (reportagem - diga-se apenas tendo em vista uma possível reimpressão - as datas do segundo artigo são indicadas incorretamente). Embora tenham passado mais de vinte anos desde esta edição e mais de setenta anos desde a publicação dos originais, a clareza com que Lebreton lê o Origenismo, destacando o seu distanciamento do depositum fidei , é insuperável; além disso, uma lição muito oportuna, porque o Origenismo certamente não desapareceu nesse ínterim.

Às vezes nos desviamos da tradução (também fiel) que Jaca Book confiou a Riccardo Mazzarol. Os números das páginas indicados entre colchetes referem-se ao texto italiano publicado pela Jaca Book.

1. Da filosofia à heresia

«Para os simples fiéis, como outrora para São Clemente de Roma, o mistério da Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, é a fé e a esperança dos eleitos; eles vêem tudo na perspectiva da salvação e, no centro, a cruz de Cristo, a sua morte redentora, a sua ressurreição, o penhor da sua. Eles podem dizer, como Orígenes os repreende, que conhecem apenas Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado. Os eruditos veem no mesmo mistério a solução para todos os enigmas do mundo: como poderia um Deus infinitamente perfeito criar? Ele está com sua Palavra. Como esse Deus invisível se deu a conhecer? Mais uma vez com a sua Palavra. Criação com a Palavra, revelação com a Palavra: estas são, sem dúvida, doutrinas autenticamente cristãs; mas nos escritores anteriores são considerados sobretudo nas suas relações com o dogma da salvação: se Deus criou o mundo foi para a sua Igreja, foi para os seus santos; estas considerações são aqui [entre os alexandrinos] menos evidentes, o que está em primeiro plano é o problema filosófico que preocupava todos os pensadores. [...] Atraídos pelo terreno dos filósofos, os teólogos cristãos são influenciados por eles: a geração da Palavra de Deus é descrita por eles como uma função do problema cosmológico: para criar o mundo, Deus, que desde a eternidade tem dentro de si a sua Palavra, ele a pronuncia externamente” (pp. 42-43).

São Pedro sobre os ombros da personificação da virtude da caridade, sob cujos pés está o vício do ódio representado por Nero, mosteiro agostiniano de clausura dos Santi Quattro Coronati em Roma | 30Giorni

2. A humanidade de Jesus Cristo

Portanto, a carne que o Filho tomou de Maria e por ela nasceu não é destacada como lugar de salvação, mas é funcional para a resolução de um problema filosófico. «“Visto que somos levados”, diz Orígenes, “por uma virtude celestial e mais que celestial a adorar somente o nosso Criador, negligenciemos o ensinamento dos primórdios de Cristo, isto é, o ensinamento elementar, e elevemo-nos a perfeição, porque a sabedoria que se manifesta aos perfeitos também se manifesta a nós" (ver Periarchon 4,1,7). Esta virtude “celestial” é aquela que nos permite ir além do ensino elementar, para alcançar realidades inteligíveis, o mundo “celestial”” (pp. 97-98). Lebreton é rápido em notar: «Sem dúvida esta é uma concepção muito falsa e perigosa da encarnação do Filho de Deus e da sua humilhação; mas este erro é intrínseco ao Origenismo, um idealismo imprudente que acredita estar se aproximando de Deus ao perder de vista a humanidade de Cristo” (89). Atenção! Em Orígenes, o Cristianismo espiritual não exclui o Cristianismo corporal, o Cristianismo secreto não exclui o Cristianismo manifesto, o Evangelho eterno não exclui o Evangelho tal como é entendido pelos simples cristãos. Lebreton escreve mesmo que para Orígenes «a fé simples, que tem como objeto central Jesus Cristo crucificado, é sem dúvida um conhecimento saudável, mas é um conhecimento elementar, como o leite das crianças; A misericórdia de Deus oferece-a, por falta de algo melhor, àqueles que são demasiado fracos para poderem subir mais alto para «conhecer a Deus na sabedoria de Deus». Portanto, não nos surpreendamos ao ver Orígenes (ver Contra Celsum 3, 79) defender esta fé dos simples, argumentando que ela não é a melhor em absoluto, mas a melhor possível dada a enfermidade daqueles a quem deve ser proposta" ( pág. 73). Mas esta mesma motivação, trazida para defender a fé dos simples, anula-a. Lebreton relata o que Orígenes escreve no Comentário a João: «Orígenes escreve: “O evangelho que os simples acreditam compreender contém a sombra dos mistérios de Cristo. Mas o evangelho eterno, de que fala João, e que chamaremos propriamente de evangelho espiritual, apresenta claramente, àqueles que entendem tudo o que diz respeito ao Filho de Deus, tanto os mistérios que seus discursos deixam vislumbrar, como as realidades de quais suas ações eram os símbolos. [...] Pedro e Paulo, que a princípio eram manifestamente judeus e circuncidados, receberam depois de Jesus a graça de o serem em segredo. Eram visivelmente judeus para a salvação das massas; eles não apenas confessaram isso com suas palavras, mas manifestaram isso com suas ações. O mesmo deve ser dito do seu cristianismo.

 E, assim como Paulo não pode ajudar os judeus segundo a carne, se, quando a razão o exigir, não circuncidar Timóteo, e se, quando chegar a hora, não cortar o cabelo e não fizer a oferta, de forma palavra, se não o fizer, ele se tornará um judeu com os judeus para conquistar os judeus, então aquele que se dedica à salvação de muitos [Orígenes fala de si mesmo] não pode efetivamente ajudar com o cristianismo secreto aqueles que ainda estão ligados aos elementos do manifesto Cristianismo, faça-os melhores e faça-os alcançar o que há de mais perfeito e mais elevado. Portanto o Cristianismo deve ser espiritual e corporal; e quando for necessário proclamar o Evangelho corporal e dizer entre os carnais que não conhecemos outra coisa senão Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado, isso deve ser feito.
Mas quando os encontramos aperfeiçoados pelo Espírito, frutificando Nele e apaixonados pela sabedoria celestial, devemos comunicar-lhes o discurso que sobe da encarnação para o que estava com Deus”” (pp. 77-78).

Fonte: https://www.30giorni.it/

Santa Júlia de Billiart

Santa Júlia de Billiart (A12)
08 de abril
Santa Júlia de Billiart

Maria Rosa Júlia Billiart nasceu em Cuvilly, região da Picardia, norte da França, em 1751. Era uma dos nove filhos de camponeses pobres e muito religiosos, que a batizaram no mesmo dia do seu nascimento. Fez a Primeira Comunhão aos sete anos; a partir deste dia, milagrosamente, a Eucaristia passou a ser o seu único alimento.

Aos 13 anos, com sérios problemas de saúde, acabou paraplégica, uma situação que durou por 30 anos. Ao longo deste tempo, aprofundou-se na oração e na contemplação, vivendo experiências místicas: Jesus lhe revelou mistérios da Salvação, dos sofrimentos no Calvário, da luz divina que ilumina os católicos e da Glória Celeste. Mas também procurou sempre ajudar na catequese paroquial, preocupando-se com a educação dos pobres.

Cultivava a amizade com familiares, religiosos, irmãs carmelitas que lhe davam auxílio espiritual, e mesmo com damas da nobreza, que a ajudavam com donativos. Desenvolveu uma pedagogia própria, e aprendeu também com os acontecimentos da Revolução Francesa, as guerras de Napoleão e com as autoridades com quem conviveu. Em 1794, conheceu Maria Luísa Francisca Blin de Bourdon, Viscondessa de Gézaincourt, no castelo desta família em Amiens. Tornaram-se amigas e acabaram por fundar a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora, futura Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namür, dedicada à educação das crianças e à catequese, com a formação de bons e santos educadores.

Em fevereiro de 1804, Júlia, Maria e Catarina Duchâtel fizeram seus votos religiosos. Júlia lutou para que a nova congregação obtivesse independência da esfera diocesana, e conseguiu, sendo então eleita superiora geral. Ingressas algumas candidatas, iniciaram-se aulas noturnas de catequese, e foi aberto um orfanato: Júlia estava atenta para o pequeno número de sacerdotes em contraste com o grande número de crianças sem formação, e com a sua fundação se dispunha a ajudá-los.

Em 1 de junho de 1804, após 30 anos de enfermidade e 22 anos de paralisia, Júlia foi milagrosamente curada durante uma novena ao Sagrado Coração de Jesus, de Quem era devota. Com saúde, expandiu a obra, inaugurando novos conventos em Namür, Gante e Tournai; abriu uma primeira escola gratuita em Amiens e outras mais pela França e Bélgica, além de pensionatos, diante da situação de miséria da época. O que era ganho com os pensionatos era utilizado para a fundação das escolas gratuitas. Júlia não aceitava doações que interferissem na independência da Congregação. Injustamente perseguida pelo bispo de Amiens, que chegou a afastá-la da Congregação, foi para Namür na Bélgica com as Irmãs, onde a Congregação se firmou.

 Faleceu ali em 8 de abril de 1816, enquanto recitava o Magnificat.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Nas palavras de Santa Júlia de Billiart, “A educação é caminho da plenitude da vida”. Particularmente a educação religiosa e espiritual. Por isso, a começar pelo clero, todos os católicos que se dedicam a algum tipo de ensino, e na verdade todos os batizados, que têm a missão de ensinar por atos e palavras a verdadeira Fé, devem se preparar com exemplar empenho no conhecimento da Doutrina da Igreja, e se destacarem pela competência nas suas áreas particulares de ensino. Não se trata de vaidade ou ambição, mas sim de coerência e fidelidade, pois se não ensinamos a Verdade, pecamos por ignorância culposa (sem dedicação correta ao que somos obrigados primeiro a conhecer bem para depois ensinar) ou omissão. E isto, atualmente, é tanto mais grave quanto maiores se tornam as mediocridades e falsidades espirituais, ideológicas, filosóficas, nos centros de ensino, na mídia, na cultura em geral. Só é possível amar e servir ao que se conhece; e Se Cristo e a cultura que Dele emana não é ensinada, ou é distorcida, quão imensa é a responsabilidade dos que o permitem, e qual o prejuízo, espiritual e material dos que são “ensinados”, ou antes, treinados no erro! Gravíssimas serão as consequências para todos, nesta e na vida infinita que teremos.

Oração:

Deus Todo-Poderoso, que nunca nos deixais sem a orientação da Verdade, e continuamente nos alertais para as nossas responsabilidades nesta vida e para o que teremos por nossas obras no futuro infinito, concedei-nos pela intercessão e ensinamentos de Santa Júlia Billiart a graça de não ficarmos paralisados na mediocridade do que devemos aprender, na indiferença sobre os males que são ensinados, e na omissão sobre o que devemos instruir, para que, nos empenhando na cura da enfermidade de ignorância acerca de Vós e do que desejais, pratiquemos a maior das caridades, que é a Vos levar ao conhecimento dos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 7 de abril de 2024

Os Papas e a misericórdia, "o segundo nome do amor"

Missa de Domingo da Divina Misericórdia - 19/04/2020 (Vatican News)

Recordamos algumas reflexões de São João Paulo II, Bento XVI e Francisco neste dia em que celebramos a Festa da Divina Misericórdia, instituída em 2000 pelo Papa Wojtyla por ocasião da canonização da Irmã Faustina Kowalska.

Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano

Neste domingo, o primeiro após a Páscoa, o Evangelho relata algumas frases ditas pelo Senhor ressuscitado aos discípulos: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados; àqueles a quem não perdoardes os pecados, eles não serão perdoados". Antes de proferir essas palavras, Jesus mostra as mãos e as feridas da Paixão. Do coração, brota uma onda de misericórdia que envolve toda a humanidade. Nunca devemos duvidar do amor de Deus, como escreveu o Papa Francisco em seu tuíte por ocasião do Domingo da Divina Misericórdia: "Confiemos com firmeza e confiança nossas vidas e o mundo ao Senhor, pedindo-lhe, em particular, uma paz justa para as nações devastadas pela guerra".

Misericórdia é o nome do amor

Neste dia, celebramos a Festa da Divina Misericórdia, estabelecida em 30 de abril de 2000 por São João Paulo II durante a solene celebração eucarística por ocasião da canonização da Irmã Maria Faustina Kowalska. Naquela ocasião, em sua homilia, o Papa Wojtyla lembrou que Cristo confiou sua mensagem de misericórdia a essa humilde freira polonesa entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

A misericórdia divina atinge os homens através do Coração de Cristo crucificado: "Minha filha, dize que sou o Amor e a Misericórdia em pessoa", pedirá Jesus à Irmã Faustina (Diário, pág. 374). Cristo derrama esta misericórdia sobre a humanidade mediante o envio do Espírito que, na Trindade, é a Pessoa-Amor. E porventura não é a misericórdia o "segundo nome" do amor, cultuado no seu aspecto mais profundo e terno, na sua atitude de cuidar de toda a necessidade, sobretudo na sua imensa capacidade de perdão?

Do coração de Jesus, Irmã Faustina, que nasceu em 1905 e morreu em 1938, viu dois feixes de luz que iluminam o mundo: "Os dois feixes", explicou-lhe um dia o próprio Cristo, "representam o sangue e a água". Se o sangue evoca o sacrifício da cruz e o dom eucarístico, a água - explicou João Paulo II durante a capela papal para a canonização da Irmã Faustina - lembra não apenas o batismo, mas também o dom do Espírito Santo".

A misericórdia é a face de Deus

No Domingo da Divina Misericórdia de 2008, Bento XVI enfatizou, antes da oração mariana do Regina Caeli, que a misericórdia é o núcleo da mensagem do Evangelho. "É a face com a qual Deus se revelou na Antiga Aliança e plenamente em Jesus Cristo, a encarnação do Amor criador e redentor".

Este amor de misericórdia ilumina também o rosto da Igreja, e manifesta-se quer mediante os Sacramentos, em particular o da Reconciliação, quer com as obras de caridade, comunitárias e individuais. Tudo o que a Igreja diz e realiza, manifesta a misericórdia que Deus sente pelo homem, portanto, por nós. Quando a Igreja deve reafirmar uma verdade menosprezada, ou um bem traído, fá-lo sempre estimulada por amor misericordioso, para que os homens tenham vida e a tenham em abundância (cf. Jo 10, 10). Da misericórdia divina, que pacifica o coração, brota depois a paz autêntica no mundo, a paz entre os povos, culturas e religiões diversas.

Assim como a Irmã Faustina, o Papa João Paulo II também foi um apóstolo da Divina Misericórdia. Na noite de 2 de abril de 2005, quando ele voltou para a casa do Pai, era a véspera do segundo domingo de Páscoa.

Ser misericordioso é encontrar Jesus

As chagas de Jesus não são chagas distantes, confinadas a uma época remota da história humana. O Papa Francisco, em 2022, durante a Missa da Divina Misericórdia, exorta a cuidar das feridas de nossos irmãos e irmãs que estão passando por momentos difíceis. A misericórdia de Deus, acrescenta o Pontífice, nos coloca "frequentemente em contato com os sofrimentos do nosso próximo".

Julgávamos estar no ápice do sofrimento, no auge duma situação difícil, mas descobrimos aqui a existência de alguém que, permanecendo em silêncio, está passando por momentos, por períodos piores. E, se cuidarmos das chagas do próximo e nelas derramarmos misericórdia, renasce em nós uma nova esperança que consola no cansaço. Então, perguntemo-nos se, nos últimos tempos, tocamos as chagas de alguém que sofre no corpo ou no espírito; se levamos paz a um corpo ferido ou a um espírito atribulado; se passamos algum tempo ouvindo, acompanhando, consolando. Quando fazemos isso, encontramos Jesus que, com os olhos de quem é provado pela vida, nos contempla com misericórdia e diz: «A paz esteja convosco!»

Na incredulidade de São Tomé, que quer ver as feridas do Senhor, está a história de todo fiel: "Há momentos difíceis, nos quais a vida parece desmentir a fé, nos quais entramos em crise e precisamos tocar e ver. Mas, como Tomé, é precisamente aqui que descobrimos o coração do Senhor, a sua misericórdia". Em 2015, abrindo o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, Francisco aponta para uma diretriz capaz de promover um autêntico discernimento: "Devemos antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo o caso, o julgamento de Deus será sempre feito à luz da sua misericórdia".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os benefícios integrais de viver a juventude na Igreja

khanti jantasao | Obturador
Karen Hutch postado em 05/04/24
Os jovens são uma parte essencial da Igreja e são chamados a “criar problemas”; Por esta razão, existem muitos grupos de pastoral juvenil concebidos para continuar a contribuir para o Reino de Cristo.

Nos laços da Igreja e do mundo estão os jovens, que se caracterizam pelo seu entusiasmo, criatividade, alegria e serviço. A juventude tem uma identidade que caracteriza esta fase; Porém, cada jovem possui talentos e habilidades diferentes que, quando combinados com os talentos de outros jovens, formam equipes inquebráveis ​​e com determinado foco. 

Para incentivar estas uniões, existem muitos grupos de jovens que podem ajudá-los a descobrir e orientar a sua missão, através dos seus gostos e talentos. Cada grupo tem um carisma diferente, mas todos têm o mesmo objetivo de “fazer bagunça”, como nos diz o Papa Francisco, e assim ser jovens apaixonados por alcançar a santidade. 

Aleteia conversou com o Ir. Álvaro Espinoza, que dirige o grupo de pastoral juvenil Jóvenes en Acción , e ele nos contou como é importante para um jovem pertencer a um grupo.

A Igreja confia nos jovens

O peso que a Igreja dá à juventude, sem dúvida, é abundante, porque não foi à toa que o Papa São João Paulo II estabeleceu um momento em que todos os jovens do mundo possam unir-se e deixar a sua marca no mundo . 

“Na Jornada Mundial da Juventude, JMJ, os jovens vivem uma experiência de amor que pode resgatá-los de tantos vícios, como corte , sexting , depressão, tentativas de suicídio, solidão, relacionamentos tóxicos, etc.”, afirma o irmão Álvaro.

Partindo da importância da participação ativa dos jovens na Igreja, estes são os benefícios espirituais e integrais da pertença à pastoral juvenil que o irmão Álvaro partilhou conosco.

1
TORNE O COMUM EXTRAORDINÁRIO

Doidam 10 | Obturador

Um jovem que partilha as mesmas preocupações, bem como as aventuras, está repleto de muitas graças extraordinárias: “É algo extraordinário, porque está a sair daquilo que o mantém prisioneiro e não lhe deixa coisas positivas na sua vida”.

Além disso, continua Álvaro, «(devemos) lembrar que se os seus dias forem normais na escola ou no trabalho, com Deus serão extraordinários porque já existe um centro, que é Deus, e o jovem encontrará o refúgio e o calor do lar. apesar de seus ambientes. 

2
UMA DIREÇÃO CLARA

Imagem do terreno | Obturador

Encontrar o sentido da vida, enquanto estamos imersos na aventura da santidade, é outro dos grandes benefícios que encontramos ao pertencer a um grupo de jovens. Além disso, você encontrará – através do seu chamado – a voz clara de Deus para seguir a direção que o leva à meta que é o Céu. 

3
TREINAMENTO E SUPORTE ABRANGENTES

A formação do ser humano é essencial para viver saudavelmente ao lado de outros jovens motivados pela fé que arde nos seus corações.

Mensagens do Papa Francisco aos jovens do mundo:


Fonte: https://es.aleteia.org/

Reflexão para o II Domingo de Páscoa: “Domingo da Divina Misericórdia” (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

No Evangelho, Jesus sopra sobre os discípulos e lhes comunica sua própria missão, formar a nova sociedade, a grande comunidade fraterna.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

“Missão dos discípulos”

São Lucas deseja, nos Atos dos Apóstolos, quando descreve a primeira Comunidade Cristã, incentivar todos nós a que não nos acomodemos com os modelos de sociedade que não estão de acordo com o espírito cristão. Uma sociedade onde se encontram ricos e pobres, pessoas carentes e pessoas que possuem tudo, pessoas exploradoras e pessoas exploradas, é uma sociedade antinatural, pecadora e que agride os planos divinos. Não podemos aceitá-la e, por uma questão de fidelidade à fé cristã, devemos rejeitá-la.

Lucas diz que uma comunidade de acordo com os preceitos cristãos é aquela onde “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum”. Era formada, realmente, por pessoas ressuscitadas, livres para partilhar, livres do medo da morte.

Partilhavam porque estavam ressuscitadas: o receio, o medo da partilha, de ficar sem, de morrer, o apego aos bens deste mundo não tinham mais poder sobre elas. Por isso, haviam acabado coma a miséria e com o latifúndio. Eram irmãos! Todos tinham tudo, todos viviam com dignidade!

A segunda leitura nos diz que quem vive o ensinamento dos Atos dos Apóstolos é porque segue os mandamentos de Jesus, porque tem fé, crê nele. Jesus mandou amar o próximo como a si mesmo.

No Evangelho, Jesus sopra sobre os discípulos e lhes comunica sua própria missão, formar a nova sociedade, a grande comunidade fraterna. Sua vida, de acordo com os ensinamentos cristãos, vai denunciar o pecado do mundo, mostrar sua caducidade, ao mesmo tempo em que mostra a vida partilhada, da gratuidade, da ausência de carentes, a perenidade da felicidade trazida pela vida partilhada.

Queridos ouvintes, precisamos dos bens deste mundo, deveremos usá-los, mas sem sermos seus escravos; eles foram feitos para nos servir. Portanto, através do gesto cristão da partilha, façamos com que eles sirvam á formação de uma nova sociedade e sejam transformados em riqueza espiritual. Assim saberemos dar aos bens que passam uma finalidade que não passa, que é eterna, a caridade, o amor.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A presença do Ressuscitado nos passos da nossa vida

A fé e a presença de Jesus ressuscitado (Canção Nova)

A PRESENÇA DO RESSUSCITADO NOS PASSOS DA NOSSA VIDA

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A fé é certamente um dom, e aqueles que crêem no Senhor ressuscitado, como nos apresentam os Evangelhos, são envolvidos num caminho de busca que os conduz a Deus através da escuta da Palavra, da oração, da interpretação dos sinais e da prática da caridade para com os irmãos. Quem espera “ver para crer” corre o risco de permanecer eternamente cego na fé, de não acolher as muitas provas da misericórdia de Deus à nossa disposição, a primeira entre todas é a morte e ressurreição de Cristo. 

Como comunidade de fé, celebramos a Páscoa do Senhor, mas a vitória de Cristo ressuscitado não pode marcar a nossa vida de forma positiva sem o nosso consentimento. Quando deixarmos de lado o orgulho da autossuficiencia, venceremos as resistências do coração e aceitaremos que o Senhor Jesus possa se fazer presente na nossa vida, não para mostrar as suas chagas, mas para curar as nossas, que nos impedem de crer e ver o Senhor ressuscitado presente na nossa história de vida. 

Tomé queria colocar o dedo nas chagas de Jesus, mas o Senhor ressuscitado quer tocar as chagas do nosso coração, para curá-las com seu amor e a sua misericórdia. Deus Pai dá a cada um de nós a oportunidade de renascermos para uma vida nova. E Jesus nos ensinou que o Pai é misericordioso e piedoso para com seus filhos e filhas. Na vida, penso que muitos de nós já fizemos a experiência de nos colocar diante de Deus, para clamar pela sua misericórdia, expressando a confiança no seu amor, num grito de dor que saía do silêncio e do mais profundo do coração. 

Deus é misericórdia, “lento na ira e grande no amor. Isso nos leva a refletir sobre a acolhida do Pai ao filho que, tendo abandonado a sua casa, resolve voltar, talvez só para matar a saudade, ou para receber um abraço de vez em quando, porque não tem a coragem de voltar definitivamente. Mas embora tenha vagado por muitos caminhos, não esqueceu o caminho que o conduz à casa do Pai.  

A comunidade cristã manifesta a comunhão com o senhor Jesus através da comunhão entre seus membros. Quando nela se vive uma autêntica comunhão de fé, ela se torna também lugar de perdão e de anúncio da misericórdia de Deus. A comunidade pode tornar-se lugar de acolhida para quem tem dificuldade em crer e necessita encontrar irmãos que deem testemunho do amor e da misericórdia de Deus. Ela é o local por excelência da comunhão, mas não é possível haver comunhão sem a misericórdia, que se expressa no perdão e na reconciliação com Deus e com os irmãos. 

A desagregação e a exaltação dos egoísmos pessoais são um contratestemunho que destroem a fé, além da caridade. A força das comunidades cristãs primitivas estava no testemunho que davam do Cristo ressuscitado. E expressavam esse testemunho através de uma vida de comunhão, manifestada pelos seus membros, como um só coração e uma só alma.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF