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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Papa: A virtude da fortaleza faz-nos reagir ao mal e à indiferença

Audiência Geral de 10/04/2024, com o Papa Francisco (Vatican Media)

A virtude cardeal da fortaleza foi o tema central da catequese de Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (10/04). "A fortaleza é a mais combatente das virtudes. Praticá-la, antes de mais nada, é uma vitória contra nós mesmos", enfatizou o Pontífice.

https://youtu.be/uvm145Y7wIw

Thulio Fonseca – Vatican News

O Papa Francisco, durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 10 de abril, refletiu sobre a terceira virtude cardeal: a fortaleza. Dirigindo-se aos milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Pontífice, ao dar continuidade ao ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes, recordou a definição presente no Catecismo da Igreja Católica: “A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições”.

Jesus conhece as emoções humanas

A fortaleza é “a mais combatente das virtudes”, introduziu o Papa, “os antigos a chamavam de apetite irascível”. Segundo Francisco, o pensamento antigo não imaginava um homem sem paixões, e isso não quer dizer que elas sejam necessariamente o resíduo do pecado, porém devem ser educadas e direcionadas para o bem:

“Um cristão sem coragem, que não dedica as suas forças ao bem, que não incomoda ninguém, é um cristão inútil. Jesus não é um Deus diáfano e apático, que não conhece as emoções humanas. Ao contrário. Diante da morte do seu amigo Lázaro, começa a chorar; e a sua alma apaixonada transparece algumas das suas expressões.”

Vitória contra nós mesmos

Ao descrever a virtude da fortaleza do ponto de vista existencial, o Santo Padre sublinhou que tanto os filósofos gregos como os teólogos cristãos reconheciam uma dupla tendência nesta virtude. A primeira é passiva, ou seja, direcionada para dentro de nós mesmos, por existirem inimigos internos que temos de derrotar, que atendem pelo nome de ansiedade, angústia, medo, culpa, e sendo forças que se agitam em nós, em algumas situações nos paralisam”:

“A fortaleza é uma vitória antes de mais nada contra nós mesmos. A maioria dos medos que surgem em nós não são realistas e nem se concretizam. Melhor então invocar o Espírito Santo e enfrentar tudo com paciente fortaleza: um problema de cada vez, como somos capazes, mas não sozinhos!”

Papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje, 10 de abril (Vatican Media)

Resiliência diante das provações da vida

Já a segunda tendência da virtude da fortaleza tem uma natureza mais ativa, pois, continuou Francisco, “além das provações internas, existem os inimigos externos, ou seja, as provações da vida, as perseguições, as dificuldades que não esperávamos e que nos surpreendem”:

“Podemos tentar prever o que nos vai acontecer, mas a realidade é em grande parte constituída por acontecimentos imponderáveis, e neste mar o nosso barco é por vezes sacudido pelas ondas. A fortaleza nos torna marinheiros resistentes, que não se assustam nem desanimam.”

Não ao mal e à indiferença

Por fim, Francisco enfatizou que a fortaleza é uma virtude fundamental porque leva a sério o desafio do mal no mundo: “alguns fingem que isso não existe, que está tudo bem”, observou o Papa, porém “basta folhear um livro de história, ou infelizmente até os jornais, para descobrir as atrocidades das quais somos em parte vítimas e em parte protagonistas: guerras, violência, escravidão, opressão dos pobres, feridas nunca curadas que ainda sangram”:

“A virtude da fortaleza faz-nos reagir e gritar um firme ‘não’ a tudo isto (...) às vezes sentimos uma saudável nostalgia dos profetas. Mas as pessoas desconfortáveis ​​e visionárias são muito raras. Precisamos de alguém que nos tire do lugar acomodado em que nos instalamos e nos faça repetir resolutamente : 'não' ao mal e 'não' à indiferença; 'sim' ao caminho que nos faz progredir e pelo qual queremos lutar."

"Redescubramos então a fortaleza de Jesus no Evangelho e aprendamo-la com o testemunho dos santos e das santas", concluiu o Papa. 

No início da Audiência Geral, o Papa saudou os fiéis a bordo do papamóvel (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Madalena de Canossa

Santa Madalena de Canossa (A12)
10 de abril
Santa Madalena de Canossa

Madalena Gabriela Canossa nasceu em 1774 na cidade de Verona, região de Veneto, nordeste da Itália, a terceira de seis irmãos. Sua família era nobre e o pai muito rico, mas morreu quando ela tinha cinco anos. Dois anos depois, sua mãe casou em segundas núpcias e entregou a educação dos filhos a uma severa governanta francesa.

Aos 15 anos, Madalena ficou doente, com uma febre misteriosa, uma forma grave de varíola e dores isquiáticas, um quadro que lhe desenvolveu asma crônica e dolorosa contração dos braços, agravados com o passar do tempo.

Com 17 anos, desejando entrar para o Carmelo, por duas vezes fez fracassadas experiências conventuais. De volta à casa, assumiu de forma excelente o controle e administração dos bens familiares, com excepcional tino comercial. Mas, mantendo sua vocação religiosa, não se casou, e incrementou no seu palácio o auxílio aos pobres, aos quais lá já atendia antes das tentativas de clausura.

As consequências da Revolução Francesa e das guerras napoleônicas, e os domínios estrangeiros, tornou difícil a condição italiana nos anos 1800, aumentando a pobreza e o número de doentes e desabrigados. Neste período duas adolescentes foram procurar guarida no palácio, e Madalena as acolheu. Outras vieram; e logo grande parte do palácio se transformou num abrigo de meninas abandonadas. Isto gerou desagrado nos familiares, mas Madalena percebeu o que Deus desejava dela.

Em 1808, chegando a um acordo com os irmãos, deixou o palácio para viver no bairro mais pobre de Verona, dedicando-se à evangelização, cuidado e educação dos desvalidos. Fundou assim a Congregação das Filhas da Caridade, para a formação de religiosas educadoras, cujas Regras de Vida foram escritas por Madalena em 1812. Rapidamente, novas casas surgiram na Itália e na Europa, com aprovações diocesanas. A aprovação papal das Regras ocorreu em 1828. No Instituto de Bérgamo, Madalena funda o primeiro Centro para professoras camponesas e a Ordem Terceira das Filhas da Caridade, aberto também às mulheres casadas ou viúvas, que se dedicavam, sobretudo, à formação das enfermeiras e professoras. Em 1831 inaugurou-se em Veneza a primeira Casa, ou Oratório, do ramo masculino da Congregação dos Filhos da Caridade, destinado à formação e evangelização de jovens e adultos carentes.

Madalena desejava para os seus congregados a disposição de ir a qualquer lugar, mesmo os mais remotos, no empenho de evangelizar e educar. Aconselhava-lhes o sereno abandono à vontade de Deus, mais do que rigor excessivo, e a fuga da tristeza e melancolia. Seus objetivos específicos eram cinco: caridade para integral promoção das pessoas, catequese para absolutamente todos mas especialmente para os mais carentes, assistência principalmente aos doentes, seminários residenciais para formação de professoras nas áreas rurais e auxílio pastoral aos párocos, e exercícios espirituais anuais para sensibilizar as mulheres (inicialmente da alta nobreza) em atividades caritativas.

Madalena teve uma profunda vida espiritual, na oração e na mística, que a sensibilizava sempre mais à dor e necessidades dos irmãos. Napoleão Bonaparte a chamava de “anjo da caridade”. Nos seus últimos anos, sofreu crises frequentes de asma e dores nos braços e pernas. Faleceu com 61 anos na sua cela em Verona, aos 10 de abril de 1835, uma Sexta-Feira da Paixão, rezando à Nossa Senhora.

 A Família Canossiana Filhos e Filhas da Caridade atua hoje nos cinco continentes, subdividida em 24 organismos.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Novamente a Providência nos oferece um santo dedicado ao ensino como tema para nossa reflexão e ação. Talvez porque os tempos atuais sejam extremamente carentes do bom ensino religioso, verdadeiramente católico, não apenas na esfera diretamente espiritual como também na cultura em geral. Chama a tenção que um dos focos principais das Congregações educativas fundadas por Santa Madalena de Canossa fosse a “catequese para absolutamente todos mas especialmente para os mais carentes”: absolutamente a todos… especialmente aos mais carentes. Um questionamento se faz necessário para os dias atuais, quem são os mais carentes de catequese? Pois salta à vista que os católicos, em grande número – incluindo, infelizmente, representantes do próprio clero – não têm boa (ou sequer minimamente correta) formação, e que entre os religiosos há alarmantes sinais, por todo o mundo, de atitudes heréticas e de apostasia. Grande é, portanto, a obra de evangelização a ser feita, e que dirijamos súplicas e penitências, certamente necessárias, para a santificação de todos os membros da Igreja. E comecemos este serviço de amor ao próximo pela nossa própria conversão, nas orações e nas ações, particularmente aos que têm por encargo o ensino.

Oração:

Pai de santidade e misericórdia, que velais sempre pelo ensino das nossas almas, concedei-nos pela intercessão de Santa Madalena de Canossa bons pastores e o empenho santo na evangelização, na plena e serena confiança do Vosso contínuo auxílio, sem permitir, como ela orientava, que a tristeza e a melancolia diante dos desafios nos desanimem ou diminuam a alegria e entusiasmo das boas obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 9 de abril de 2024

Quase dois terços dos adolescentes supera desejo de pertencer ao sexo oposto, mostra estudo na Holanda

Imagem ilustrativa | Crédito: Shutterstock

Um estudo feito na Holanda mostrou que quase dois terços dos menores que queriam pertencer ao sexo oposto na adolescência acabaram sentindo-se confortáveis ​​com o seu sexo natural na idade adulta.

O estudo feito ao longo de 15 anos por pesquisadores da Universidade de Groningen, na Holanda, acompanhou as taxas de infelicidade relacionada com o gênero de 2.772 pessoas entre seus 11 e 26 anos.

Nas fases iniciais do estudo, 11% dos participantes expressaram o desejo de ter nascido do sexo oposto. À medida que envelheciam, o número diminuiu constantemente e acabou caindo para cerca de 4% na última avaliação.

Segundo o estudo, 78% dos participantes nunca experimentaram descontentamento com o seu sexo. Cerca de 19% ficaram mais felizes com o tempo, enquanto apenas 2% ficaram menos felizes.

O estudo também revelou que os participantes cujo desconforto com o sexo natural flutuava ao longo do tempo, aumentando ou diminuindo, eram mais propensos a relatar níveis mais baixos de autoestima e a enfrentar mais problemas comportamentais e emocionais.

Os participantes que tinham tendências homossexual eram mais propensos a relatar níveis flutuantes de desconforto em relação ao seu sexo durante a adolescência e a idade adulta jovem.

“A insatisfação com o gênero, embora relativamente comum durante o início da adolescência, geralmente diminui com a idade e parece estar associada a um autoconceito e a uma saúde mental mais deficientes ao longo do desenvolvimento”, disseram os pesquisadores num resumo do relatório.

Mary Rice Hasson, diretora do Projeto Pessoa e Identidade do Centro de Ética e Políticas Públicas (EPPC) em Washington, D.C., EUA, disse à CNA, agência em inglês parceira da ACI Digital na EWTN, que o estudo confirmou “o que a maioria dos pais sabe intuitivamente”.

“Uma criança que experimenta descontentamento com o seu corpo em desenvolvimento, ou com a perspectiva de amadurecer e se tornar uma mulher ou um homem, tem uma enorme chance de superar esses sentimentos, sem intervenção”, disse Hasson.

“A puberdade não é uma doença, é um processo natural de crescimento. Às vezes é desconfortável, mas, como mostra o estudo, o desconforto diminui com o tempo”.

Hasson expressou preocupação com o fato de conselheiros estarem pressionando pais a permitirem o uso de remédios ou cirurgias como forma de combater o desconforto com o sexo natural de seus filhos menores, quando tudo o que eles precisam é de tempo para se sentirem mais confortáveis ​​com seus corpos.

“Infelizmente, o que nossos filhos não estão recebendo hoje é tempo, tempo para vivenciar e superar os estágios naturais (às vezes dolorosos) do crescimento puberal, juntamente com a garantia de que, com o tempo, eles eventualmente se sentirão confortáveis ​​em sua própria pele” disse Hasson.

Segundo Hasson, “os médicos e conselheiros de gênero convencem os pais de que os seus filhos estão em crise e precisam de bloqueadores da puberdade ou de outras intervenções hormonais. Não está certo. O que eles realmente precisam é de paz de espírito e tempo para amadurecer”.

Um estudo publicado na Finlândia no início deste ano, descobriu que medicamentos ou cirurgias não gerou redução estatisticamente significativa nas mortes por suicídio de pessoas que se identificam com o gênero oposto. O estudo descobriu que taxas mais elevadas de suicídio parecem estar relacionadas com a elevada taxa de comorbidades mentais entre os jovens que se identificam como sendo do sexo oposto.

(*) Tyler Arnold é repórter do National Catholic Register. Já trabalhou no site de notícias The Center Square e suas matérias foram publicadas em vários veículos, incluindo The Associated Press, National Review, The American Conservative e The Federalist.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Por que o álcool é tão perigoso para o cérebro dos jovens (1)

Pesquisas científicas vêm desmentindo antigas crenças sobre o consumo de álcool pelos jovens | Javier Hirschfeld/BBC/Getty Images

Por que o álcool é tão perigoso para o cérebro dos jovens

Por David Robson (*)

BBC Future

05 de abril 2024

Completei 18 anos um dia antes de sair de casa para cursar a universidade.

Convenientemente, atingi o limite legal para poder comprar bebidas alcoólicas no Reino Unido bem a tempo de visitar os bares e pubs estudantis.

Na minha primeira consulta perto da casa nova, a médica perguntou quantas unidades de álcool eu bebia por semana.

É uma forma comum de avaliar o consumo de álcool aqui no Reino Unido – 1,5 unidades equivalem a cerca de uma taça pequena de vinho.

"Cerca de sete", respondi, calculando rapidamente algumas discretas doses de vodca com suco de laranja que eu tomava quando saía à noite com os amigos do tempo de escola. Achei que fosse pouco e nunca fui muito de desrespeitar as regras.

"Isso vai aumentar, agora que você está aqui", respondeu a médica, com um sorriso seco.

Ela não estava errada. Em algumas semanas, eu estava alegremente esvaziando uma garrafa de vinho antes de alinhar shots no bar dos estudantes.

Eu sabia que beber demais poderia causar prejuízos para o resto da vida, mas não imaginava que minha juventude aumentasse esse perigo, em comparação com pessoas com 30, 40 ou 50 anos. Eu pensava que os riscos seriam certamente os mesmos para todos os adultos.

Se eu soubesse o que sei agora sobre como o álcool pode afetar o cérebro dos jovens adultos, eu teria sido um pouco mais cauteloso.

Aos 18 anos, meu cérebro ainda estava se transformando e só atingiria a maturidade pelo menos sete anos depois. Este processo altera a forma como reagimos ao álcool – e beber nesse período crítico pode ter consequências de longo prazo para o nosso desenvolvimento cognitivo.

Conversando com pesquisadores sobre os impactos do álcool sobre os jovens, fui também surpreendido por muitas outras descobertas.

Pesquisas em todo o mundo começam a desmentir uma série de conceitos comuns sobre a idade e o álcool, como a ideia de que a cultura da bebida na Europa continental é mais saudável do que no Reino Unido ou nos EUA. Ou que permitir que os jovens bebam em casa com as refeições ensina a eles o consumo responsável do álcool.

Decidir se as novas descobertas científicas devem ou não alterar nossas leis atuais sobre a bebida é uma questão política complexa. Mas o maior conhecimento dos fatos pode, pelo menos, permitir que as gerações futuras tomem decisões mais informadas sobre suas formas de confraternização – e podem ajudar os pais a decidir como lidar com o álcool dentro de casa.

Corpos pequenos, cérebros grandes

Antes de tudo, vamos deixar um ponto muito claro: o álcool é uma toxina. Seus riscos incluem acidentes fatais, doenças do fígado e muitos tipos de câncer.

Até pequenas quantidades podem ser carcinogênicas, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar que "quando o assunto é o consumo de álcool, não existe quantidade segura que não afete a saúde".

Mas poucas atividades são totalmente livres de riscos e os perigos costumam ser ponderados em comparação com os prazeres que o álcool pode gerar. Por isso, nossas políticas de saúde são orientadas pelo princípio de limitação dos danos, bebendo moderadamente.

Nos Estados Unidos, este nível é definido como não mais de duas doses por dia para os homens e não mais de uma dose por dia para as mulheres. E muitos outros países estabelecem orientações similares.

A cerveja e o vinho costumam ser considerados bebidas mais seguras, como indicam as orientações americanas, mas o fator importante não é o tipo de bebida e sim a quantidade de álcool consumida.

"Uma cerveja de 350 ml tem aproximadamente a mesma quantidade de álcool de uma taça de 150 ml de vinho ou uma dose de 45 ml de licor", dizem as orientações vigentes nos Estados Unidos.

A legislação sobre a idade em que é permitido comprar bebidas alcoólicas segue lógica similar à limitação dos danos. A lei protege as crianças e permite aos jovens adultos fazer suas próprias escolhas.

Na maioria dos países europeus e no Brasil, a idade mínima é de 18 anos, enquanto, nos Estados Unidos, é de 21 anos de idade.

Mas o álcool pode ser mais perigoso para os mais jovens por diversos motivos, mesmo após a idade mínima estabelecida por lei. Um deles é o tamanho e o formato do corpo.

Os adolescentes não atingem a altura que terão na vida adulta antes dos 21 anos. E, mesmo depois que pararem de crescer, eles podem não ter o volume corporal de uma pessoa na casa dos 30 ou 40 anos de idade.

"Beber um copo de álcool, portanto, resulta em teor de álcool no sangue mais alto nos jovens do que nos adultos", afirma Ruud Roodbeen, pesquisador em pós-doutorado da Universidade de Maastricht, na Holanda. Ele é o autor do livro Beyond Legislation ("Além da legislação", em tradução livre), que examina o impacto do aumento da idade mínima para beber.

A estrutura reduzida do corpo dos adolescentes também é caracterizada por maior relação entre a cabeça e o corpo.

Eu certamente tenho consciência de que me parecia um pouco com um daqueles bonecos "cabeçudos" de brinquedo. E essas proporções relativas também podem influenciar os efeitos do álcool nas pessoas.

Quando você bebe álcool, ele entra no seu fluxo sanguíneo e se espalha pelo corpo. Em cinco minutos, o álcool atinge o seu cérebro, cruzando facilmente a barreira hematoencefálica que costuma proteger o cérebro contra substâncias prejudiciais.

"Uma parte relativamente grande do álcool acaba no cérebro dos jovens e esta é mais uma razão que os leva a terem maior propensão a ficar intoxicados pelo álcool", explica Roodbeen.

* David Robson é um escritor de ciências premiado. Seu próximo livro (em inglês) chama-se As Leis da Conexão: A Ciência Transformadora de Ser Social, a ser publicado em junho de 2024 pela editora Canongate (no Reino Unido) e pela Pegasus Books (nos Estados Unidos e no Canadá). Sua conta no X (antigo Twitter) é @d_a_robson. Ele também pode ser encontrado com o nome @davidarobson no Instagram e no Threads.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês).

 

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Papa em oração pelas mulheres: precisam ser respeitadas, inclusive pela legislação

Papa em oração pelas mulheres (Vatican News)

Francisco, no vídeo de intenção de oração para abril, pede que rezemos pelo respeito e a dignidade das mulheres na sociedade, "em todas as culturas, e para que cesse a discriminação que sofrem em diversas partes do mundo”. O Papa exorta ação prática dos governos para que se comprometam "a eliminar leis discriminatórias nos diversos ambientes e a trabalhar para que os direitos humanos das mulheres sejam garantidos".

Andressa Collet - Vatican News

“Em diversas partes do mundo a mulher é tratada como o primeiro material de descarte.”

O Papa volta a dedicar a intenção de oração mensal às mulheres. No vídeo do Pontífice de abril, confiado à Rede Mundial de Oração do Papa, Francisco insiste nos passos que a sociedade atual deve dar e pede aos cristãos que se unam a ele em oração para o reconhecimento da dignidade das mulheres em todas as culturas e para o fim da discriminação em várias partes do mundo:

"Há países onde as mulheres estão proibidas de conseguir ajuda para organizar um negócio ou ir à escola. Inclusive, nesses lugares, se toleram leis que as obrigam a se vestir de determinada maneira. E ainda estão em uso, em muitos países, as mutilações genitais. Não neguemos a voz às mulheres. Não neguemos a voz a todas essas mulheres vítimas de abuso. São exploradas, são marginalizadas."

Uma mulher asiática com lágrimas nos olhos, outra atrás de uma grade com o olhar triste, um grupo de vítimas de abusos, expulsas de seus povoados, uma fila de adolescentes à espera de uma mutilação genital: o vídeo que acompanha a intenção de oração do Papa traz imagens fortes, em sintonia com a denúncia do Pontífice. Sua mensagem recorda a grande distância entre as declarações de princípio e a realidade dos fatos:

"Nas palavras, todos estamos de acordo que o homem e a mulher têm a mesma dignidade enquanto pessoas. Mas na prática, isso não acontece. É necessário que os governos se comprometam a eliminar leis discriminatórias nos diversos ambientes e a trabalhar para que os direitos humanos das mulheres sejam garantidos."

No mundo atual, infelizmente, não faltam as contradições. Mesmo que em alguns países, as mulheres tenham acesso à educação e às ofertas de trabalho e ocupem posições de liderança em empresas e organizações, muitas ainda não desfrutam das mesmas oportunidades que os homens. Basta pensar no mercado de trabalho: menos de uma, de cada duas mulheres no mundo, trabalha, e as mulheres ganham 23% menos que os homens. O mesmo acontece com a educação, se levamos em conta que em alguns países as mulheres adultas que sabem ler e escrever são minoria: por exemplo, no Afeganistão são 23%, no Níger, 27%. E menos oportunidades se traduzem em enormes dificuldades econômicas: segundo a ONU Mulheres, estima-se que para 2030, 8% das mulheres e meninas viverão em extrema pobreza, enquanto 25% das mulheres não terão comida suficiente.

Homem e mulher, uma mesma dignidade

O respeito pela dignidade de todas as pessoas é um tema central no cristianismo. Pois a vida de cada pessoa é sagrada, por ser criada à imagem de Deus (cf. Livro do Gênesis 1, 26-27).

O tema sobre o papel das mulheres ressoou também na síntese da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada em outubro de 2023. “Fomos criados homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus. Desde o princípio, a criação articula unidade e diferença, dando ao homem e à mulher uma natureza, uma vocação e um destino partilhados e duas experiências distintas do humano. Durante a Assembleia, experimentamos a beleza da reciprocidade entre mulheres e homens. Juntos, lançamos o apelo das precedentes fases do processo sinodal, e pedimos à Igreja o crescimento de seu empenho em compreender e acompanhar as mulheres, do ponto de vista pastoral e sacramental”, manifestaram os participantes do Sínodo, no documento final.

O Papa, assim, pede ação dos governos e, a nós, pede que respeitemos as mulheres, que infelizmente continuam a ser tratadas "como material de descarte" em muitas partes do mundo e que, frequentemente, inclusive em países que se dizem mais avançados, são vítimas de violência e de abusos:

“Respeitemos as mulheres. Respeitemo-las em sua dignidade, em seus direitos fundamentais. E se não o fizermos, nossa sociedade não avançará. Rezemos para que a dignidade e a riqueza das mulheres sejam reconhecidas em todas as culturas, e para que cesse a discriminação que sofrem em diversas partes do mundo.”

Heroínas de todos os tempos

Padre Frédéric Fornos, diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, recorda que “desde o começo, Jesus acolheu a mulheres como discípulas, o que era uma novidade na sociedade daquele tempo. Maria, a Mãe de Jesus, teve um lugar de destaque entre os Apóstolos e na comunidade primitiva, como relatam os evangelhos. A uma mulher, Maria Madalena, Jesus confiou a missão de anunciar sua ressurreição a seus irmãos. Ao longo da história, as mulheres trouxeram um verdadeiro dinamismo espiritual à Igreja: Teresa de Ávila, Catarina de Sena, Teresa de Lisieux, reconhecidas como ‘doutoras da Igreja’, e uma infinidade de santas. Tendo em conta que o Papa nos chama neste mês a rezar “para que a dignidade e a riqueza das mulheres sejam reconhecidas em todas as culturas, e para que cesse a discriminação que sofrem em diversas partes do mundo, continuemos também a reconhecer o papel das mulheres dentro da Igreja. Uma constatação importante: sem a participação ativa das mulheres, a comunidade cristã, caso fosse uma empresa, estaria quebrada”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Um idealismo imprudente (2)

São Paulo sobre os ombros da personificação da virtude da concórdia, sob cujos pés está o vício da discórdia provavelmente representado por Ário, mosteiro agostiniano de clausura dos Santi Quattro Coronati em Roma | 30Giorn

Arquivo 30Giorni – 06/2011

Um idealismo imprudente

Jules Lebreton escreveu dois artigos sobre Orígenes na década de 1920.
A teologia do mestre de Alexandria é «um idealismo que acredita estar se aproximando de Deus ao perder de vista a humanidade de Cristo»

por Lorenzo Cappelletti

3. A tradição secreta

A tradição única da Igreja, de que fala Irineu e que é confiada antes de tudo à custódia do bispo de Roma, cinde-se inevitavelmente, seguindo Orígenes, numa dupla tradição. «Por um lado, a Igreja visível, que mostra, como em Irineu ou Tertuliano, a sucessão episcopal que a liga através dos apóstolos a Cristo; de outro, uma elite, conhecida apenas por Deus, escondida dos olhos dos homens, o que também remete a uma tradição apostólica, por mais confidencial, secreta e transmitida clandestinamente” (p. 94). Se você se aprofundar, não só descobrirá que as tradições se tornam duas, uma exotérica (pública, ou seja, católica), a outra, a que conta, esotérica (secreta, ou seja, gnóstica), mas também que não transmitem o mesmo depositum .

Nem quanto ao objeto: «O ensinamento reservado aos simples é o moral; a revelação dos mistérios, particularmente da Trindade, é o segredo do perfeito. [...] Os dois ensinamentos, um proposto às massas, o outro reservado aos perfeitos, distinguem-se pelo seu objeto: para um a injunção de preceitos morais, para o outro a revelação dos segredos divinos. [...] Orígenes opõe muitas vezes o conhecimento da humanidade de Cristo ao da sua divindade: ao carnal só se pode pregar Jesus Cristo crucificado, mas aos apaixonados pela sabedoria celeste será revelada a Palavra que está com Deus. [...] Em primeiro plano ele coloca aqueles “que participam do Logos que estava no princípio, que estava com Deus, o Deus Logos”; depois aqueles “que conhecem apenas Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado, pensando que o Logos feito carne é o Logos inteiro; eles só conhecem Cristo segundo a carne: e é a massa daqueles que são chamados de crentes” (pp. 79-80).

Nem quanto ao método. As verdades, diferentes no objeto, são também diferentes no método de conhecimento: «Alguns acreditam, outros sabem; os primeiros contam com uma autoridade superior garantida por milagres e a sua fé é frágil; estes últimos contemplam as verdades religiosas às quais aderem e a sua adesão é estável” (p. 81).

Com efeito, pode-se mesmo dizer que na tradição pública não se transmite nenhuma verdade, mas apenas mentiras piedosas: «Mas as verdades elementares que são ensinadas às pessoas simples são pelo menos sempre verdades em sentido estrito? Orígenes afirma isso muitas vezes e por isso se opõe aos gnósticos, mas também encontramos algumas páginas perturbadoras nas quais o ensinamento elementar aparece como uma mentira saudável: Deus engana a alma para formá-la” (p. 95).
Em suma, na relação subordinada das verdades elementares às verdades superiores, as primeiras acabam por ser um absurdo. Nas homilias sobre o profeta Jeremias, Orígenes compara a ação de Deus à educação que os adultos dão às crianças. Segundo Orígenes: «Nós os enganamos com bichos-papões que a princípio são necessários, mas cuja vaidade eles depois reconhecem» (p. 99).
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4. Roma, guardiã da fé

Lebreton destaca como Roma resistiu desde o início a esta poluição da fé. Ele descreve o contraste de Hipólito com Zefirino e depois com Calisto (de onde surgiu o primeiro cisma na Sé Romana no início do século III) como o contraste de uma fé erudita com uma fé simples. Lebreton recorda como na Philosophoumena Hipólito põe na boca dos seus inimigos expressões que nas suas intenções deveriam ser desqualificantes: «Zefirino repete: “Conheço um só Deus, Jesus Cristo, e, fora dele, nenhum Deus gerado que tenha sofrido”; e outras vezes: “Não foi o Pai quem morreu, mas o Filho”. Estas passagens são confirmadas pelo conjunto do tratado: Hipólito é um teólogo, orgulhoso da sua ciência, um grande leitor dos filósofos gregos, a quem denuncia como os pais de todas as heresias [mesmo esta condenação inflexível da heresia partindo não da simplicidade de tradição eclesial, mas desde a cultura – note-se – é muito instrutiva: será o mesmo em Orígenes e em muitos outros que se desviam da fé]. Ele nos apresenta seus adversários: Zefirino, um espírito limitado, Calisto, um intrigante, seus seguidores, inteligências vulgares e almas sórdidas” (p. 9).

Ora, Orígenes não era estranho a esta oposição cismática contra os bispos legítimos de Roma. Orígenes chegou a Roma, de facto, precisamente no momento em que Zefirino era bispo (199-217) e juntou-se, ao que parece, ao cisma de Hipólito. Foi provavelmente por esta razão que, alguns anos depois, em 230, quando Orígenes foi deposto pelo seu bispo de Alexandria, no Egito, o Papa Pontiano convocou prontamente um sínodo em Roma para aprovar essa decisão, condenando também Orígenes. Algo que muitos outros bispos da Arábia, da Palestina e da Capadócia não fizeram.

Alguns anos se passam e diante de um discípulo de Orígenes, Dionísio, que se tornou bispo em 247 na sé alexandrina, o então bispo de Roma (também chamado Dionísio) interveio denunciando suas perigosas teses. Lebreton escreve: «Diante destas teses, a posição assumida por Dionísio de Roma e o seu concílio é a posição tradicional da Igreja de Roma. [...] Aqui, como nos outros documentos romanos, o que se encontra é a expressão autêntica da fé: nenhuma especulação teológica, nenhuma sutileza dialética, pouca erudição bíblica, mas a declaração categórica da fé professada pela Igreja. Dionísio de Roma também foi pessoalmente um homem de grande valor: Dionísio de Alexandria dá testemunho disso e São Basílio também o elogia muito, mas aqui não é o estudioso nem o teólogo que fala, é o Papa.

Ele não tem prazer em participar de especulações teológicas e pouco se importa com as dos outros. Foi notado que o seu argumento não leva em conta as sutis distinções alexandrinas sobre as três pessoas ou o duplo status do Logos. Ele está preocupado apenas com as conclusões mais evidentes, quer tenham sido formuladas pelos próprios autores dessas doutrinas, quer lhe pareçam surgir espontaneamente; e visto que estas conclusões são um perigo para a fé, ele as rejeita, e também rejeita a teologia que as trouxe.

A carta de Dionísio de Alexandria, apesar da sua imprudência e falta de jeito, estava certamente longe dos ensinamentos de Ário; mas a carta de Dionísio de Roma já tem o acento de Nicéia: a mesma preocupação pela unidade divina, a mesma firmeza soberana e categórica na definição da fé. Esta barreira intransponível, contra a qual a heresia se espatifará sessenta anos mais tarde, é o que tem impedido uma teologia aventureira desde então. Os fragmentos de Dionísio de Alexandria, já observamos, têm um caráter muito diferente da carta de Dionísio de Roma: não encontramos nele um juiz da fé, mas um exegeta, e sobretudo um metafísico apaixonado pela sua belas especulações. Ele ainda se agrada disso nesta Apologia que pretende inteiramente destacar a sua ortodoxia, e da qual conhecemos a maior parte dos fragmentos devido à escolha respeitosa e cuidadosa feita por Santo Atanásio. Se, apesar da preocupação do próprio escritor e do seu defensor, o seu pensamento nos parece muito menos firme e exato do que o do bispo de Roma, concluiremos que a sua especulação foi para ele um guia menos seguro do que o que era a fé comum. para Dionísio de Roma" (pp. 35-36).

São Lourenço sob as sombras da personificação da virtude e da liberalidade, onde também foi o próximo da ganância representada por Judas, claustro mais agostiniano dos Santos Quatro Coroados em Roma | 30Giorni

Fonte: https://www.30giorni.it/

Santo Acácio

Santo Acácio (A12)
09 de abril
Santo Acácio

Santo Acácio viveu no século V, sendo bispo e confessor em Amida, cidade localizada na margem esquerda do rio Tigre, na Mesopotâmia, atual Diyarbakir na Turquia.

Teodósio II era o Imperador Romano do Oriente, em Constantinopla, que o enviou em 419 como embaixador em Gueartaxaro no Assuristão, pertencente ao reino persa, para convocar um concílio junto às igrejas desta região que haviam abraçado a heresia nestoriana, negadora da divindade de Jesus.

Estando Acácio na Pérsia, em 422, começa a guerra entre Teodósio e os persas. O exército romano fez 7.000 prisioneiros em algumas províncias para além do Rio Tigre, que ficaram em situação miserável e deixados para morrer de fome. Acácio, sabendo disto, vendeu cálices, pátenas e todos os objetos de ouro que pôde reunir, desejando obter dinheiro suficiente para dar de comer aos prisioneiros persas e pagar o preço do seu resgate.

Esse gesto de grande caridade converteu muitos dos cativos ao cristianismo, que, após o batismo, voltaram à Pérsia. O rei persa, então, parou a perseguição aos cristãos; e em 422 Acácio, em nova missão diplomática, conseguiu a paz.

 Faleceu por volta de 425, após contribuir para a superação de um cisma e para a unidade das igrejas na Pérsia, e o dia 9 de abril foi dedicado à sua celebração.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A caridade de Santo Acácio não teve conotações políticas; e se evitou a fome e conseguiu a liberdade dos cativos, muito mais os alimentou com o Pão da Vida, no Batismo, e na libertação de uma vida no pecado. O auxílio necessário nas carências materiais devem ser reflexo do amor maior, que visa antes de tudo a felicidade infinita da alma. Os persas convertidos não o foram de modo forçado, nem por uma barganha, pois a Verdade se impõe por Si mesma, e Cristo é a Verdade, o Caminho e a Vida. Muitos, mesmo conhecendo Jesus e Suas obras, mesmo vendo por exemplo a ressurreição de Lázaro, não seguiram o Senhor… portanto, a caridade de Santo Acácio, longe de impor uma conversão, apenas despertou aos combatentes cativos o motivo certo pelo qual lutar, e é mérito de cada um deles ter se alistado espontaneamente no exército espiritual da igreja. De fato, “Acácio” significa “o que não tem malícia”, e foi por amor e não por cálculo ou interesse que este santo agiu para o bem material dos soldados. Que seja também esta a nossa motivação, sem desvirtuar a caridade em argumento ou viés político, algo que infelizmente é uma triste realidade dos nossos dias.

Oração:

Senhor Deus, que desejais para nós muito mais do que o pão material e a falsa liberdade mundana, dai-nos a graça de, pela intercessão de Santo Acácio, praticarmos a verdadeira e desinteressada caridade, levando ao próximo o amor pela Eucaristia e pela santa guerra contra o pecado, de modo a obtermos a paz nesta vida e a volta definitiva para a nossa Pátria Celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 8 de abril de 2024

O dinamismo alegre e contagiante da Páscoa

Santa Missa da Páscoa na Praça São Pedro (Vatican Media)

"É Deus que quer realizar páscoa-passagem na nossa história hodierna, desejando comer ardentemente o cordeiro pascal conosco, como fez com os seus discípulos, antes de partir, quando deixou seu testamento àqueles que amou e amou até o fim, até a morte, e morte de cruz."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“"Oh noite ditosa, em que o Céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!" (Precônio Pascal ). Também a nós, como às mulheres que acorreram ao sepulcro, é-nos dirigida esta palavra: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!». A morte, a solidão e o medo já não são a última palavra. Há uma palavra que vem depois e que só Deus pode pronunciar: é a palavra da Ressurreição”, afirmou o Papa Francisco na Bênção Urbi et Orbi de 1° de abril de 2018. “Com a força do amor de Deus – completou - , ela «afugenta os crimes, lava as culpas, restitui a inocência aos pecadores, dá alegria aos tristes, derruba os poderosos, dissipa os ódios, estabelece a concórdia e a paz» (Precônio Pascal).”

Na alegria da Festa da Ressurreição, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão “O dinamismo alegre e contagiante da Páscoa”:

“Retomo aqui uma reflexão já realizada em outro momento sobre esse alegre tempo litúrgico e maravilhoso da Páscoa. Atualizo com inovações. Importante dizer que a Páscoa foi recuperada pela Igreja e foi selada pelo Concílio Vaticano II. O Mistério Pascal passou a ser o centro de toda a liturgia e de todas as ações da Igreja. Mas a Páscoa não é um acontecimento pontual. Cabe acontecer essa passagem de Deus por meio de uma renovação em nossas vidas, em nossas Igrejas e em nossa Igreja Universal, em nossas paróquias e comunidades, pequenas ou grandes, para que sejam missionárias de Cristo vivo e Ressuscitado, que foi o esplendor proclamado pelo querigma (o anúncio da Boa nova) dos primeiros tempos calorosos da Igreja nascente. Pe. Pedro Farnés, jovem e recém-formado no Instituto Pastoral de Liturgia de Paris, que faleceu com mais 100 anos de idade, foi na época do Concilio um liturgista fundamentalmente importante para toda essa renovação conciliar, e outros homens ilustres como Dom Botte e Boyer, Romano Guardini e outros teólogos e assessores que foram os que prepararam e atuaram com intensidade no concílio.

Muita gente escutou Farnés e se escreveu milhares de livros depois do Concílio, mas verdadeiramente não se entendeu ainda tudo o que é a Páscoa. Depois de 40 dias, o mistério da quaresma que trilhamos em preparação intensa para a Páscoa é para que ela se realize em cada um, de maneira nova e decisiva. A Páscoa não é um acontecimento qualquer e apenas litúrgico, escondido e preso nos ritos que celebramos, mas é um acontecimento singular para que cada um de nós possa experimentar a glorificação à qual Deus leva o ser humano. E vemos a missão da Igreja, que será sem ruga e sem mancha; que será conduzida de ser gente pecadora e escrava, como o povo de Israel, a poder ter uma missão imensa de luz, de direção da história, de Páscoa, de passar para a alegria plena, na contemplação e proclamação do Vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.

A Páscoa não pode ser comparada com qualquer Missa, nem com nenhuma vigília de oração, nem com nada; é todo um memorial junto com o qual o próprio Deus se empenhou para realizar esta Aliança que prometeu a Abraão e os profetas. A Páscoa não é uma Missa mais comprida, de meia noite, mas algo muito maior no seu significado e sentido profundo. A Vigília Pascal não é uma Missa do Galo, como acontece no Natal. É Deus que passa nessa noite das noites, de maneira mais forte daquela da Páscoa Judaica. É Deus que quer realizar páscoa-passagem na nossa história hodierna, desejando comer ardentemente o cordeiro pascal conosco, como fez com os seus discípulos, antes de partir, quando deixou seu testamento àqueles que amou e amou até o fim, até a morte, e morte de cruz. Nós não celebramos a Páscoa. É a Páscoa que se celebra em nós. É a páscoa que vem com potência a nós. Deus irrompe e o poder da sua passagem (Pessach-Páscoa) nos convida a sair de nosso Egito interior, de nossas trevas, de nossos pecados, nossas angústias, para passar da escravidão à liberdade, da tristeza à alegria, da terra do Egito para a Terra Prometida, da prisão do pecado para a plena e doce graça do Redentor-Ressuscitado. É a páscoa que Jesus Cristo fez e quer repetir agora conosco.

Por isso, a oitava da Páscoa é como o mesmo e único dia pascal, estendido também até Pentecostes. São 50 dias pascais, como se fosse uma única celebração em tom de aleluia, alegria, louvor, júbilo e festa. No Caderno do Concílio de número 13 – publicação da CNBB para a preparação o Ano Jubilar 2025, nos aponta sobre o precioso Tempo Pascal – O Ressuscitado entre nós, usando subtítulo Laetíssimum Espatium (período de grande alegria), descrevendo desta forma: “Algumas festas principais do Cristianismo precisam de certo tempo para serem acolhidas e assimiladas. Na Igreja Primitiva, o mistério pascal era celebrado não só nos três dias de Tríduo, mas também nas sete semanas seguintes, conhecidas como o “Tempo Pascal dos 50 dias”, como acorda o termo grego Pentecoste (50 dias)”. E continua o texto do Dicastério para a Evangelização, afirmando que “a normativa litúrgica aconselha os cristãos a celebrarem os 50 dias que se sucedem do domingo da Ressurreição até o domingo de Pentecostes “com alegria e exultação, como um único dia de festa, aliás como grande domingo em que a Igreja se alegra, com o cântico de Aleluia, pela vitória do Senhor sobre a morte e pela vida nova que a participação no mistério Pascal fez germinar nos fiéis. Não é por acaso que os domingos desse período não se chamam “Domingos depois da Páscoa”, mas sim domingos “da Páscoa”, que com seu conteúdo mistérico se expande nesse tempo repleto de presença do Ressuscitado. É precisamente essa presença que faz com que o período Pascal seja considerado como Laetíssimum Espatium (período de grande alegria), expressão cara a Tertuliano, período habitado por imensa e intensa alegria pela promessa mantida pelo Senhor: “Eu estou convosco todos os dias até o fim dos tempos”(Mt 28,20)[1].

No agora de nossa vida, o Kairós do hoje (termo grego que significa o momento presente da ação da graça de Deus), a Páscoa vem para ser celebrada em nós com uma dimensão totalmente transformadora, criativa e nova. O movimento da revelação de Deus não é ascendente, mas descendente. A Páscoa também. Cristo quem desce, quem mergulha em nossa história e vem realizar Páscoa conosco, irrompendo com seu amor ofertante. A festa pascal é o lugar onde tudo converge e a fonte da qual tudo emana. Todo o culto cristão não é nada mais que uma celebração continuada da Páscoa. Como o sol, que não cessa de levantar-se sobre a terra, atrai para sua órbita todos os astros, a noite da Páscoa é rodeada por todas as eucaristias que continuamente e diariamente, a cada minuto, são celebradas em toda a terra, porque participam da Páscoa, assim como participam todos os sacramentos, sacramentais e gestos litúrgicos. As variadas ações eclesiais são tudo pequenas celebrações e desdobramentos da grande Páscoa, do esplendor do Mistério Pascal. Somos todos filhos desta Igreja que redescobriu o valor e o sentido da Páscoa. Em outras palavras, somos filhos da Páscoa, filhos no Filho, pelo mergulho batismal gestado na Vigília Pascal. O movimento litúrgico, bíblico e toda a renovação conciliar trouxeram esse dinamismo a Páscoa, para colocar em movimento a história e o mundo todo nessa dinâmica salvífica. Na Páscoa, todas as coisas são renovadas e recapituladas em Cristo, como afirma São Paulo.”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cadernos do Concilio 13 – Jubileu 2025 – Os tempos fortes do Ano Litúrgico – Edições
CNBB, 2023, p. 29-30.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF