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quinta-feira, 11 de abril de 2024

Deus e eu? Liturgia e sacramentos

Deus e eu? (Opus Dei)

Deus e eu? Liturgia e sacramentos

A centralidade de Jesus Cristo na nossa vida adquire o seu sentido pleno e real na celebração litúrgica, quando Deus se deixa ‘tocar’ por nós e nos traz o hoje da sua salvação.

03/12/2019

Nós, cristãos, cremos e proclamamos Jesus Cristo, o Filho de Deus, que morreu e ressuscitou por todos e cada um de nós, inserindo-se nos acontecimentos da linhagem humana para fazer deles uma história de salvação. Não podemos chegar a Deus, o Pai, se não nos tornarmos irmãos de Cristo pela água e o Espírito, se não seguirmos – de coração – os seus gestos e palavras.

Sentindo profundamente essa realidade, Paulo VI, na mais longa viagem do seu Pontificado, pronunciava, diante de uma multidão reunida em Manila, palavras que comovem porque são um elogio vibrante a Cristo que brotava do seu coração: “Eu nunca me cansaria de falar sobre Ele. Ele é o pão e a fonte de água viva, que satisfaz nossa fome e nossa sede. Ele é nosso pastor, nosso exemplo, nosso conforto, nosso irmão. Por nós falou, operou milagres, instituiu o novo reino em que os pobres são bem-aventurados, em que a paz é o princípio da convivência, em que os limpos de coração e aqueles que choram são exaltados e consolados, em que aqueles que têm fome de justiça serão saciados, em que os pecadores podem alcançar o perdão, em que todos são irmãos. Jesus Cristo! Lembrem-se disso: Ele é o objeto perene da nossa pregação. Nosso desejo é que o nome d’Ele ressoe até nos confins da terra e para todo o sempre”[1].

O fato de que o núcleo do cristianismo seja a pessoa viva de Jesus, o Crucificado - Ressuscitado, convida-nos a colocar a lógica da nossa identidade e da nossa vida em conexão com Cristo que morre e ressuscita, e perceber que toda a nossa existência carrega, dia após dia, uma marca Pascal. Para entender essa profunda afirmação é necessário prestar uma especial atenção à pessoa de Cristo em sua relação íntima com o mistério litúrgico.

‘Roçar’ Cristo na liturgia

Em uma ocasião, São Josemaria recordava que “um bispo muito santo, meu amigo, numa das suas incessantes visitas às catequeses da sua diocese, perguntava aos meninos por que, para amar Jesus, é preciso recebe-Lo amiúde na Comunhão. Ninguém acertava na resposta. Por fim, um ciganinho tisnado e muito sujo respondeu: ‘Porque pra amá-Lo é preciso roçá-Lo’”[2]. Aquele menino destacou, sem querer, uma questão central: o ‘roçar’ Cristo, ou seja, onde, quando e como o cristão pode ter a sua experiência pessoal do Ressuscitado. Porque para viver como filhos no Filho, além de saber conceitualmente quem é Jesus, é necessário ‘roçá-Lo’, ou seja, que exista a possibilidade de relacionar-se com Ele de uma maneira real. Mas, isso é viável? Com quanto realismo?

A LITURGIA É O LOCAL PRIVILEGIADO PARA VIVER " A EXPERIÊNCIA DE CRISTO", PARA CONHECÊ-LO E TRATÁ-LO

Experiência aqui significa conhecer e sentir Cristo vivo. Pois bem, na Igreja, tratar desta experiência equivale a falar principalmente da santa liturgia, como local privilegiado para viver a paixão pelo divino, algo que para os cristãos não é opcional ou irrelevante, porque ser contemplativos no meio do mundo requer crescer sob o calor da Palavra de Deus e da liturgia.

Experimentar o ‘hoje’ da salvação

Então, é possível ‘roçar’ Cristo hoje, após a sua ascensão ao céu? Para responder a essa pergunta, é útil contemplar uma passagem do livro de Êxodo onde se descreve o desejo de Moisés de ter uma experiência mais íntima de Deus: “Moisés disse: ‘Mostra-me a tua glória!’ E o Senhor respondeu: ‘Farei passar diante de ti toda a minha bondade (...) Não poderás ver minha face, porque ninguém me pode ver e permanecer vivo’”. Sendo Deus infinito, é impossível para o homem abarcar a sua magnitude. No entanto, o Senhor acrescenta: “quando a minha glória passar, eu te porei na fenda da rocha e te cobrirei com a mão enquanto passo. Quando eu retirar a mão, tu me verás pelas costas” (Ex 33,18-23). Participar nas ações sagradas da Igreja poderia se comparar com aquela fenda da qual podemos contemplar as espécies sagradas, que – sem serem as costas de Deus – são o sacramento do seu verdadeiro Corpo e do seu verdadeiro Sangue.

Outro texto do Evangelho que reúne uma experiência significativa é a passagem da hemorroíssa. Aquela mulher toca com fé a borda do manto de Cristo e a força do Senhor a cura da sua prolongada doença. A imagem que o Catecismo da Igreja Católica escolhe para iniciar a exposição sobre a liturgia e os sacramentos, surpreendentemente, é a representação mais antiga da passagem da hemorroíssa nas catacumbas de São Marcelino e São Pedro. Por que escolher esta imagem? A razão se fundamenta em que os sacramentos da Igreja continuam agora a obra de salvação que Cristo realizou durante a sua vida terrena. Os sacramentos são como forças que saem do Corpo de Cristo para nos dar a nova vida de Cristo[3]. Santo Ambrósio explicava-o de maneira muito viva e realista: “ó Cristo, a quem encontro vivo em teus sacramentos”[4].

Os termos-chave desta frase são ‘vivo’ e ‘sacramentos’. O primeiro se refere ao aparecimento do Ressuscitado, à sua presença real. O segundo se refere às celebrações litúrgicas. E Ambrósio une as duas realidades ao verbo encontrar. Nas celebrações ocorre o encontro entre Cristo e a Igreja. Por isso, é possível experimentar, aqui e agora, o mesmo poder divino do Filho de Deus que, transcendendo a distância geográfica e temporal, salva o homem por inteiro, quando a Igreja celebra a liturgia de cada um dos sacramentos.

NA LITURGIA OCORRE O ENCONTRO ENTRE CRISTO E A IGREJA, SUA ESPOSA

E nos sacramentos, o que vemos materialmente é água, pão, vinho, óleo, luz, a cruz... Observamos alguns gestos e ouvimos algumas palavras. São gestos e palavras que Jesus, ao tomar a nossa natureza – ao encarnar – assumiu para fazer-se presente por meio deles a fim de continuar curando, perdoando ou ensinando[5]. É uma lógica difícil de entender, como foi difícil para Filipe e, por isso, o Senhor tem que ajudá-lo a entender com uma carinhosa repreensão: “Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai” (Jo 14,9). E isso não é algo que Cristo decide, mas algo que Cristo é. Que Ele seja o grande Sacramento, não provém da sua vontade, mas do seu ser, da sua ontologia. Consequentemente, a Igreja é o sacramento de Cristo e os sacramentos são os sacramentos da Igreja. Já foi dito pedagogicamente – com as limitações de um exemplo – que, quando se trata de alcançar um objeto, a cabeça (Cristo) envia uma ordem ao braço (a Igreja) para que os dedos (os sacramentos) o peguem. Os sacramentos são o organismo sacramental da Igreja.

Um contato sacramental

A segunda pergunta questionava que tipo de contato é estabelecido entre Cristo e nós. Na fé da Igreja, esse contato é chamado de mistérico ou sacramental, quer dizer, acontece através de um sistema de sinais e símbolos.

A comunicação do mistério de Cristo conosco é realizada através de mediações simbólicas, que são os ritos do culto cristão: a celebração do batismo, da Eucaristia, do matrimônio... Tudo tem um significado no universo simbólico da liturgia, tudo isso manifesta fé. Os sacramentos se chamam sacramentos da fé.

A liturgia é uma membrana sutil que relaciona o mistério de Deus e o mistério do homem. Essa membrana é uma membrana de símbolos. O espaço de uma catedral, ermida ou oratório; a hora do amanhecer ou do pôr do sol, do Natal ou da Quaresma, os textos da Bíblia e as orações do Missal. Os gestos de adorar de joelhos ou de receber as cinzas.A comunidade reunida ao redor do altar, as músicas e aclamações, luzes e cores, aromas e sabores..., todos esses – e ainda outros – são os símbolos cristãos em cuja celebração reverbera a insondável transcendência de Deus, o poder do seu amor salvador. Estes símbolos são como fendas pelas quais o Eterno ilumina a nossa cotidianidade até nos tornarmos homens e mulheres dignos de “servi-Lo em Sua presença”[6]. Por meio deles, Deus nos permite pregustar a liturgia da Jerusalém do céu. Participar definitivamente nela será um dia a consumação definitiva da nossa vocação batismal.

Essa conaturalidade com os símbolos da liturgia é patrimônio dos cristãos. Assim como uma mãe não mima o seu filho somente por meio das palavras, mas também utilizando uma rica variedade de códigos maternos de comunicação, assim a celebração litúrgica convida o cristão a participar da ação sagrada com todas as possibilidades da sua sensibilidade, com a alma e com o corpo, com todos os seus sentidos: aclama a Palavra de Deus, venera o Santíssimo Sacramento, canta os hinos com que os Anjos louvam a Deus, oferece incenso, prova o pão e vinho consagrados, conserva silêncio... Dessa maneira, os sinais do mistério de Cristo nos conduzem pela mão ao próprio mistério de Cristo e então, todo o peso da verdade que esse mistério tem é percebido por nós na atmosfera envolvente do ritos que o celebram.

E, além da conaturalidade, o apreço. Gostamos desses humildes véus por trás dos quais o Ressuscitado manifesta e oculta a sua presença. Nesse sentido, Santo Agostinho confessava: “ainda não tratava meu Deus, Jesus, de humilde para humilde, nem sabia que lição ministrava sua fraqueza”[7].

O realismo sacramental

No começo, também nos perguntávamos: com quanto realismo? Temos que mencionar também o realismo sacramental, se quisermos responder à pergunta sobre até que ponto esse ‘roçar’, esse contato com Cristo é verdadeiro. O realismo sacramental significa que, ao participar na liturgia, recebemos a própria realidade divina através dos sinais da Igreja. Os sinais e os símbolos litúrgicos estão repletos dessa realidade, especialmente na Eucaristia. Dizer que o contato entre Cristo e a Igreja é sacramental em nada diminui a pura realidade desse contato.

O CONTATO É SACRAMENTAL; ISTO É, ACONTECE ATRAVÉS DE UM SISTEMA DE SINAIS E SÍMBOLOS

O substantivo ‘contato’ é um termo que encontramos nas antigas fontes litúrgicas: “ó Deus, que na participação do teu sacramento chegas até nós (contingis)”, isto é, entra em contato conosco, se aproxima até nos atingir[8]. Deus contata conosco e nós contatamos com Deus por meio da participação no mistério celebrado. Contatos físicos com o Senhor tiveram são Tomé, a hemorroíssa ou os leprosos. Em nós, esses contatos são agora sacramentais. Não se trata de imaginar o passado como algo que agora está presente apenas para a fé dos que acreditam. A liturgia não diz: isto simbolizaimagine... mas afirma: isto é. Não é uma mera afirmação, é uma notícia! É um acontecimento real.

Os Padres da Igreja enfatizaram esse realismo do mistério sacramental e o demonstraram através de expressões, como no caso do Papa São Leão Magno, que, comentando os efeitos do batismo sobre quem o recebe, afirma: “o corpo do batizado é a carne do Crucificado”[9]. Fruto do profundo realismo sacramental, que palpita nesta expressão, é a abertura imediata de um grande horizonte para compreender quem é um cristão: uma identidade que abraça dimensões que vão do valor sagrado do seu corpo até a esperança da glória com a qual será revestido. Da condição de uma pessoa que tem o mesmo corpo de Cristo, até a santidade dos relacionamentos esponsais (cf. Ef 3,6). São valores surpreendentes que, quando brotam da fonte inesgotável que a Igreja oferece em seus sacramentos, exalta ao extremo a condição humana do batizado.

Por outro lado, na tensão de narrar o mistério, as linguagens não se excluem, mas se complementam mutuamente, e por isso a liturgia sabe intuir quando é o momento da palavra, quando é o momento da música ou do silêncio, quando é o momento do gesto ou da adoração. Mas sempre é hora da arte, pois, sendo Deus a eterna Beleza, o seu acontecer sacramental – a liturgia – constitui-se a arte das artes. Nela, verdade e bem são mostrados revestidos de beleza e, por isso, o decoro e o bom gosto estão sempre presentes, por serem elementos estruturantes da ação sagrada. A experiência de Deus passa por essa via pulchritudinis [caminho da beleza], que é a celebração, cada celebração é um acontecimento de alto nível estético.

Para que os ritos tragam significado de maneira notória, são necessárias celebrações que irradiem verdade e simplicidade, autenticidade e dignidade. A celebração ocorre na solenidade do simples. Nada do que intervém nela pode ser prosaico, nem suntuoso, mas tudo deve ser límpido, nobre e de bom gosto. São as qualidades do decoro com que a Esposa dedica a sua humilde homenagem ao Esposo, seu apreço ao que celebra: o amor salvífico transbordante da Santíssima Trindade.

Felix Maria Arocena

Tradução: Mônica Diez


[1] São Paulo VI, Homilia durante uma viagem pastoral a Manila, Filipinas 29-XI-1970.

[2] São Josemaria, Anotações de uma meditação, 12-IV-1937, em “Crescer para dentro”, p. 50. Este bispo era dom Manuel González, que ocupou a sede de Málaga, na Espanha e foi canonizado em 2016.

[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 1066.

[4] Santo Ambrósio, Apologia prophetæ David 1, 2.

[5] São Josemaria lembrava o ensinamento dos Padres quando diziam que os sacramentos são “pegadas da encarnação do Verbo” (cfr. São Josemaria Escrivá. Amar o mundo apaixonadamente).

[6] Missal Romano, Oração Eucarística II.

[7] Santo Agostinho, Confissões, 7, 18.

[8] Cfr. Sacramentário Veronense 1256. O verbo latino contingo é um composto de tango (cum-tango), que significa tocar. Contingire remete a ‘contatar’.

[9] São Leão Magno 70, 4: “corpus regenerati fit caro Crucifixi”.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

A Igreja Católica em números: mais católicos, mas menos vocações

A Igreja Católica em números (Diocese de Erexim)

O número de católicos em todo o mundo aumentou 14 milhões em 2022, segundo o Anuário Estatístico da Igreja de 2022 da Santa Sé, conforme divulgado no início deste mês e destacado em relatório do jornal do Vaticano L'Osservatore Romano.

Os dados mais recentes, de 2021 a 2022, mostram uma diminuição no número de padres e seminaristas.

Embora as vocações para o sacerdócio e a vida religiosa tenham diminuído em geral, a Igreja cresce principalmente na África e na Ásia.

Mais católicos

O número de católicos batizados cresceu cerca de 1% passando de 1,376 bilhões em 2021 para 1,390 bilhões em 2022.

Como em anos anteriores, a Igreja Católica na África continua a crescer. A África teve o maior aumento de católicos, com 3%, enquanto as Américas registraram um aumento de 0,9% e a Ásia registrou um aumento de 0,6%.

O número de católicos na Europa permaneceu estável em cerca de 286 milhões de 2021 a 2022.

A Igreja tem menos padres e seminaristas

O número de sacerdotes continuou a tendência de queda iniciada em 2012.

Globalmente, o número de sacerdotes caiu entre 2021 e 2022, passando de 407,872 mil para 407,730 mil.

Mas o número de sacerdotes continua a crescer na África e na Ásia, enquanto as vocações em outros continentes estagnam ou diminuem.

O número de sacerdotes na África e na Ásia aumentou em 3,2% e em 1,6%, respectivamente, enquanto o número permaneceu estável nas Américas. A Oceania registou uma diminuição de 1,5% no número de padres, enquanto a Europa teve uma diminuição de 1,7%.

Há também menos seminaristas em todo o mundo. Segundo os números da Santa Sé, havia 1,3% de homens a menos preparando-se para o sacerdócio em 2022 do que em 2021.

Esta diminuição é mais acentuada na Europa, onde há uma notável crise vocacional desde 2008. O número de seminaristas diminuiu em 6% entre 2012 e 2022. O número de seminaristas também diminuiu em 3,2% nas Américas e em 1,2% na Ásia.

Mas a África registrou um aumento de 2,1% no número de seminaristas, enquanto a Oceania teve um aumento notável de 1,3%.

A África teve o maior número de seminaristas em 2022, com quase 35 mil homens, enquanto a Oceania (que representa apenas 0,6% da população mundial) teve o menor número, com quase mil.

A Ásia e as Américas tinham cerca de 30 mil e 27 mil seminaristas, respectivamente, enquanto a Europa, que representa quase 10% da população mundial, tinha apenas 14,461 mil seminaristas.

Mas nem tudo está perdido para a liderança da Igreja paroquial. Os números mostram um aumento acentuado no número de diáconos permanentes, com um aumento de 2% entre 2021 e 2022.

Embora a Igreja global tenha tido 142 sacerdotes a menos entre 2021 e 2022, há 974 diáconos a mais em todo o mundo.

O número de bispos aumentou um quarto (25%) entre 2021 e 2022, de 5,340 mil para 5,353 mil bispos, com a maior parte do crescimento concentrado na África e na Ásia.

Nas Américas, o número de bispos permaneceu estável em cerca de 2 mil, enquanto que na Europa o número de bispos diminuiu ligeiramente, menos de 1%.

As vocações estão em queda tanto para homens como para mulheres

O número de religiosos professos – sem incluir sacerdotes – caiu de 49, 774 mil em 2021 para 49,414 mil em 2022.

A Ásia e as Américas foram as únicas regiões onde as vocações religiosas para os homens aumentaram, com o aumento mais substancial na Ásia.

Fonte: https://www.acidigital.com/

O Papa: como Jesus, aproximar-se de quem sofre com compaixão e inclusão

O Papa com os participantes da plenária da Pontifícia Comissão Bíblica (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

O Papa recebeu os participantes da plenária da Pontifícia Comissão Bíblica. A propósito do tema abordado pelos participantes A doença e o sofrimento na Bíblia, Francisco sublinhou que "a dor e a enfermidade, à luz da fé, podem se tornar fatores decisivos num percurso de amadurecimento".

Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência os participantes da plenária da Pontifícia Comissão Bíblica, na manhã desta quinta-feira (11/04), na Sala do Consistório, no Vaticano.

Em seu discurso, Francisco citou o tema abordado pelos participantes durante a plenária, um tema "fortemente existencial": A doença e o sofrimento na Bíblia. De acordo com o Pontífice, "o sofrimento e a doença são adversários a serem enfrentados, mas é importante fazê-lo de maneira digna do homem, de maneira humana".

Dor e enfermidade, percurso de amadurecimento

Segundo o Papa, "removê-los, reduzindo-os a tabus dos quais é melhor não falar, talvez porque prejudicam aquela imagem de eficiência a todo custo, útil para vender e ganhar, certamente esta não é uma solução. Todos vacilamos sob o peso destas experiências e devemos nos ajudar a superá-las, vivendo-as em relação, sem nos fecharmos em nós mesmos e sem que a rebelião legítima se transforme em isolamento, abandono ou desespero".

"Sabemos, também pelo testemunho de muitos irmãos e irmãs, que a dor e a enfermidade, à luz da fé, podem se tornar fatores decisivos num percurso de amadurecimento: o "crivo do sofrimento" de fato permite discernir o que é essencial do que não é", disse ainda Francisco.

A compaixão leva à proximidade

Segundo o Papa, "é o exemplo de Jesus que mostra o caminho", pois "ele nos exorta a cuidar de quem vive em situações de enfermidade, com a determinação de vencer a doença; ao mesmo tempo, Ele nos convida a unir os nossos sofrimentos à sua oferta salvífica, como uma semente que dá fruto". A seguir, o Papa propôs duas palavras decisivas: compaixão e inclusão.

A compaixão indica a atitude recorrente e característica do Senhor em relação às pessoas frágeis e necessitadas que Ele encontra. Essa compaixão se manifesta como proximidade e leva Jesus a se identificar com os sofredores: "Eu estava doente, e cuidaram de mim". Compaixão que leva à proximidade.

De acordo com o Pontífice, "tudo isso revela um aspecto importante: Jesus não explica o sofrimento, mas se inclina para com os que sofrem. Ele não aborda a dor com incentivos genéricos e consolações estéreis, mas acolhe o drama da dor, deixando-se tocar por ele. A Sagrada Escritura é iluminadora nesse sentido: não é um manual de boas palavras ou um livro de receitas de sentimentos, mas nos mostra rostos, encontros, histórias concretas. A resposta de Jesus é vital, é feita de compaixão que assume e que, ao assumir, salva o homem e transfigura sua dor".

Espírito, alma e corpo

A segunda palavra, inclusão, "expressa bem uma característica saliente do estilo de Jesus: sua ida em busca do pecador, do perdido, do marginalizado, do estigmatizado, para que sejam acolhidos na casa do Pai. Pensemos nos leprosos: para Jesus ninguém deve ser excluído da salvação de Deus". Segundo o Papa, "a inclusão também abrange outro aspecto: o Senhor deseja que a pessoa inteira seja curada, espírito, alma e corpo. Na verdade, uma cura física do mal seria de pouca utilidade sem uma cura do pecado no coração".

De acordo com Francisco, "esta perspectiva de inclusão nos leva a atitudes de partilha: Cristo, que andava entre as pessoas fazendo o bem e curando os doentes, ordenou a seus discípulos que cuidassem dos doentes e os abençoassem em seu nome, partilhando com eles sua missão de consolação".

A Igreja é chamada a caminhar com todos

Portanto, por meio da experiência do sofrimento e da doença, nós, como Igreja, somos chamados a caminhar junto com todos, em solidariedade cristã e humana, abrindo oportunidades de diálogo e esperança em nome da fragilidade comum.

A parábola do Bom Samaritano "as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum a todos", concluiu o Papa citando um trecho de sua Encíclica Fratelli tutti.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

LITURGIA: A fé da Igreja

Jesus na cruz nos dá sua vida (Comunidade Oásis)

Arquivo 30Dias – 04/2010

A fé da Igreja

Os méritos do Sacrifício da Cruz não têm limites, mas é absolutamente necessário que todos entrem em contato vital com este Sacrifício.

por Gianni Valente

A fé da Igreja expressa no decreto De iustificatione do Concílio de Trento (capítulo 3: Qui per Christum iustificantur ) é explicada em palavras, fáceis de compreender, pelo Papa Pio XII na encíclica sobre a liturgia Mediator Dei (nn. 62 -64). «Os méritos do Sacrifício da Cruz, de facto, infinitos e imensos, não têm limites: estendem-se à universalidade dos homens de todos os lugares e de todos os tempos, porque, nele, sacerdote e vítima é o Deus-Homem; porque a sua imolação, bem como a sua obediência à vontade do Pai Eterno, foi mais perfeita, e porque Ele quis morrer como Cabeça da raça humana: “Considere como foi tratado o nosso resgate: Cristo está pendurado no madeiro: veja a que preço Ele comprou... .; derramou o seu sangue, comprou com o seu sangue, com o sangue do Cordeiro imaculado, com o sangue do Filho único de Deus... Quem compra é Cristo, o preço é o sangue, a posse é o mundo inteiro” (Agostinho, Enarrationes nos salmos 147, 16). 

Esta redenção, porém, não teve o seu pleno efeito imediato: é necessário que Cristo, depois de ter redimido o mundo com o preço mais caro de si mesmo, entre na posse real e eficaz das almas. Portanto, para que, com a aprovação de Deus, a sua redenção e salvação se cumpram para todos os indivíduos e para todas as gerações, até ao fim dos tempos, é absolutamente necessário que todos entrem em contato vital com o Sacrifício da Cruz, e assim os méritos que dela derivam são transmitidos e aplicados a todos. Pode-se dizer que Cristo construiu no Calvário um tanque de purificação e salvação que encheu com o sangue que derramou; mas se os homens não mergulharem nas suas ondas e não lavarem as manchas das suas iniquidades, certamente não poderão ser purificados e salvos. Portanto, para que os pecadores individuais sejam purificados no sangue do Cordeiro, é necessária a colaboração dos fiéis.

 Embora Cristo, falando em geral, tenha reconciliado todo o gênero humano com o Pai através da sua morte sangrenta, ele quis, no entanto, que todos se aproximassem e fossem conduzidos à Cruz através dos sacramentos e do Sacrifício da Eucaristia, para alcançar os frutos saudáveis conquistado por Ele na Cruz."

 Fonte: https://www.30giorni.it/

Santa Gemma Galgani

Santa Gemma Galgani (A12)
11 de abril
Santa Gemma Galgani

Gemma Maria Umberta Pia Galgani, primeira de cinco filhos, nasceu em 1878 numa família rica e profundamente religiosa, em Capannori, província de Lucca, região da Toscana na Itália. Foi batizada no dia seguinte ao nascimento, e um mês depois a família se mudou para Lucca. Demonstrou inteligência precoce, pois com cinco anos já sabia ler o breviário para o Ofício de Maria e o dos mortos.

Em 1886, já ouvia locuções interiores místicas, e sua mãe faleceu em setembro. O pai providenciou a retomada dos seus estudos no início de 1887, quando também fez a primeira Comunhão, preparada pelas Irmãs Oblatas do Espírito Santo. Era tão ligada a este Sacramento que lhe foi permitido recebê-lo três vezes por semana, algo incomum naquele tempo. Levava a sério a caridade, dividindo sua merenda com os pobres.

Em 1899 começou a frequentar o Instituto Oblato como estudante, onde teve por professora a própria fundadora do Instituto e futura beata Irmã Elena Guerra. Aconteceu da família perder seus bens e mudar para uma casa pobre na Via del Biscione (depois Via Santa Gemma Galgani); Elena a dispensou das mensalidades. Gemma passou a sofrer de osteite nas vértebras lombares e abscesso frio nas virilhas, além de otite média aguda e mastoidite, de modo que não podia andar e sentia insuportáveis dores de cabeça. Esteve meses doente, na cama, e chegou a receber os últimos Sacramentos. Neste período teve muitas experiências místicas, com as aparições de São Gabriel (Posseti) de Nossa Senhora das Dores. Ficou milagrosamente curada após uma novena a Santa Maria Margarida Alacoque (então apenas beatificada). Depois disso, conheceu a idosa Cecilia Giannini, em cuja rica residência de Lucca foi em breve acolhida, após a morte do pai e a recusa da Ordem das Passionistas em recebê-la como religiosa.

Ainda assim, conseguiu fazer os votos de pobreza, obediência e castidade. Quando rezava, constantemente era vista rodeada de uma luz divina.

Neste mesmo ano de 1899, no dia 8 de junho, Oitava de Corpus Christi e véspera da Festa do Sagrado Coração de Jesus, a jovem recebeu os estigmas de Cristo, que reapareciam, periodicamente, da noite de quinta-feira até as 15 horas de sexta-feira. Gemma entrava em êxtase doloroso nestes períodos, com as mãos, os pés e o lado sangrando profusamente; depois as feridas se fechavam novamente, deixando pequenos sinais. Por certo período, os estigmas se manifestaram quase todos os dias.

Isto e as aparições de Jesus, Maria, o Anjo da Guarda e São Gabriel de Nossa Senhora das Dores estão na sua autobiografia, “O Livro dos Pecados”, escrita em 1901 por obediência ao seu confessor. Em 1902, tuberculosa, teve que mudar para uma casa vizinha à casa dos Giannini. Faleceu com 25 anos, em 11 de abril de 1903, Sábado Santo, enquanto os sinos anunciavam a Ressurreição de Cristo.

A devoção à “Virgem de Lucca” começou imediatamente, originando a Congregação Missionária das Irmãs de Santa Gemma, inserida na ordem Passionista. Declarada modelo para a juventude da Igreja, é também intercessora dos farmacêuticos. A sala onde Gemma nasceu, na Via Pesciatina em Capannori, foi transformada em capela, e a casa inteira num orfanato.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Não são muitos os canonizados a quem Deus agracia com a participação física de Suas chagas. Dentro das suas imensas limitações de saúde, Santa Gemma fez imensos esforços de caridade, sobretudo na oração e no simples aceitar da sua condição. E de fato é isto o que Deus mais valoriza em nós: que aceitemos a condição que Ele nos propõe para a nossa vida, a de Imagem e Semelhança Sua, seja na doença, na saúde, na riqueza, na pobreza… o grande pecado do Homem, aliás desde Adão e Eva, é o desejo iníquo de almejar ser o que não é, e por meios distorcidos procurar alcançar o que não é bom para si nem para o próximo. Isto não implica em que seja condenável o progresso, inclusive material, porém é o quanto e no que desejamos “progredir” que se coloca o problema: se nas aspirações mundanas ou se na santificação de espírito. Deus não mente e não fala em vão: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua glória, e tudo o mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33). Até que ponto vivemos sinceramente este preceito de Jesus? Por um lado, é sim louvável e correto procurar melhorar as condições de vida, e Cristo jamais ensinou que a miséria material era uma “bênção”, muito menos a condição essencial para se chegar ao Céu; mas ao contrário, chamou a atenção para a “pobreza de Espírito” (cf. Mt 5,3) que será recompensada, isto é, a virtude essencial da humildade. A busca da santidade, da primazia da vida espiritual, através da qual descobrimos a nossa vocação e deveres no diálogo e com as inspirações do Espírito Santo, é o cerne desta vida, pois é a partir daí que conheceremos o caminho certo a seguir. Se humildes, procuraremos verdadeiramente a Deus, e seguiremos, aceitaremos como Santa Gemma, seja o que for o que Ele nos pedir, individualmente. E só a santificação individual levará a uma vida em conjunto melhor, pois Deus só deseja o nosso Bem.

Oração:

Senhor, que nos destes gratuitamente e por puro Amor a condição de Vossa Imagem e Semelhança, concedei-nos pelas orações e exemplo de Santa Gemma Galgani a preciosidade de Vos seguir no caminho concreto que nos indicais, para que sejamos como ela uma jóia (Gemma) de caridade associada à Coroa de Espinhos da Vossa Paixão, a fim de participarmos igualmente da realeza da Vossa Ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 10 de abril de 2024

O que é o amor?

O que é o amor? (Cléofas)

O que é o amor?

 POR PROF. FELIPE AQUINO

“Quem não vive para servir, não serve para viver”

A palavra amor está desgastada. Amar não é gostar. Eu gosto de laranja e a destruo; você gosta de maçã e a consome; um outro gosta de cigarro e o queima. Isso não é amor; é egoísmo; é se satisfazer destruindo uma coisa. Gostamos de coisas, amamos pessoas.

Muita gente ama assim; queima, anula, destrói o outro para se satisfazer, como se fosse uma coisa; e ainda lhe diz “I love you!”. Amar é diferente; é renunciar-se para fazer o outro feliz. Você não pode dizer SIM para o outro, sem dizer NÃO para você. Você não pode dar a alguém 100 reais e ao mesmo tempo ficar com esta nota. Amar é servir desinteressadamente, sem esperar recompensa. “Quem não vive para servir não serve para viver”, diz o ditado, e é isso que nos faz felizes e santos. Fazer o bem faz bem.

Dom Bosco disse que “Deus nos colocou neste mundo para os outros”. Charlie Chaplin disse que “o homem não morre quando deixa de viver, morre quando deixa de amar”. No amor está a força da vida. Amar é dar-se de maneira espontânea, voluntária. Muito mais do que dar coisas aos outros, é dar-se a si mesmo, sua dedicação, seu tempo, seu coração. Os infelizes não aprenderam a amar. Só o amor constrói o homem e o mundo.

O amor nunca morre ou acaba, mesmo que seja pregado numa Cruz. A razão da frustração do homem pós-moderno é que ele dominou o mundo e as estrelas, a tecnologia e a ciência, mas não aprendeu a amar o irmão que está ao seu lado. Há muitas pessoas que ainda são más, porque ainda não fizeram a experiência do amor; nunca foram suficientemente amadas. “O amor é a asa que Deus deu à alma para que ela possa subir até ele”, disse Michelangelo. A falta de amor desintegra o homem e a humanidade.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

Jovens voltam à Praça São Pedro 40 anos após primeiro encontro com JP II

João Paulo II em um encontro com os jovens na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Para recordar o histórico encontro de 14 de abril de 1984, o Centro Internacional Juvenil São Lorenzo, com o patrocínio do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e da Fundação João Paulo II para a Juventude, convida para uma série de iniciativas dedicadas à memória e à atualidade do evento que deu início à JMJ. A agenda está programada para o próximo final de semana: sábado (13) e o domingo (14).

Tiziana Campisi - Vatican News

Em Roma, dois dias irão celebrar os 40 anos do primeiro encontro de jovens na Praça de São Pedro, convocado por João Paulo II, em 14 de abril de 1984. Dois dias dedicados à memória e à atualidade daquela que foi a semente das Jornadas Mundiais da Juventude, organizados pelo Centro Internacional da Juventude São Lorenzo (CSL), com o patrocínio do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e da Fundação João Paulo II para a Juventude.

O programa vai incluir uma procissão com a Cruz da Juventude - da Praça de São Pedro até o Centro Internacional da Juventude São Lorenzo - no próximo sábado, 13 de abril, às 18h do horário italiano, seguida de uma missa celebrada pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, e de uma vigília de oração e adoração da Cruz. No domingo, 14 de abril, às 18h15 da hora italiana, no Centro São Lorenzo, haverá uma missa presidida pelo cardeal Lazarus You Heung-sik, prefeito do Dicastério para o Clero, com um momento para vários testemunhos.

Rumo à JMJ de Seul

A presença dos cardeais De Mendonça e You Heung-sik no final de semana pretende criar simbolicamente uma ponte entre a última JMJ em Lisboa, de 2023, e a próxima JMJ em Seul, em 2027, explica um comunicado do Centro Internacional Juvenil São Lorenzo, que, em vista do Ano Santo de 2025, incentiva os jovens a recomeçar, com oração e fraternidade, a partir do anúncio cristão como esperança para todos. Os jovens do Centro recordam, a esse respeito, o convite que o Papa Francisco dirige aos jovens, exortando-os a recomeçar "a partir do anúncio que é o fundamento da esperança para nós e para toda a humanidade: 'Cristo vive!'", na Mensagem publicada em 25 de março por ocasião do aniversário de 5 anos da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit, olhando para o "atual contexto internacional... marcado por tantos conflitos, por tanto sofrimento", no qual muitos se sentem desanimados.

A missa de Páscoa de 22 de abril de 1984, quando João Paulo II entregou a Cruz aos jovens (Vatican Media)

O primeiro encontro mundial de jovens

O dia 14 de abril de 1984, data do histórico encontro da juventude, foi planejado como Jubileu Internacional da Juventude, no contexto do Ano Santo da Redenção, no aniversário de 1950 anos da Ressurreição de Jesus, convocado por João Paulo II e realizado de 25 de março de 1983 a 22 de abril de 1984. Naquela ocasião, 300 mil jovens de todo o mundo vieram a Roma, hospedados por cerca de 6 mil famílias romanas.

No dia seguinte, o Papa Wojtyła concluiu o Jubileu da Juventude durante o Angelus do Domingo de Ramos e, na Páscoa, em 22 de abril, entregou uma cruz de madeira aos jovens para simbolizar "o amor do Senhor Jesus pela humanidade e como uma proclamação de que somente em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção", dando-lhes um compromisso para o Domingo de Ramos do ano seguinte, proclamado pela ONU como o Ano Internacional da Juventude. Desde então, a "Cruz da Juventude" se tornou o símbolo das sucessivas Jornadas Mundiais da Juventude.

Desde 2003, a Cruz foi acompanhada por um ícone da Salus Populi Romani, também doado por João Paulo II. Os dois símbolos são mantidos no Centro Internacional da Juventude de São Lorenzo e são levados em peregrinação às dioceses católicas de todo o mundo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Por que o álcool é tão perigoso para o cérebro dos jovens (2)

As restrições ao álcool baseadas na idade foram criadas para proteger as crianças, deixando os jovens adultos livres para fazerem suas próprias escolhas | Javier Hirschfeld/BBC/Getty Images

Por que o álcool é tão perigoso para o cérebro dos jovens

Por David Robson (*)

BBC Future

05 de abril 2024

Modelando o cérebro

As mudanças que ocorrem dentro do crânio são igualmente importantes.

No passado, imaginava-se que o desenvolvimento neural humano terminasse no início da adolescência. Mas um grande número de pesquisas demonstrou recentemente que o cérebro dos adolescentes sofre um recabeamento complexo que só termina, pelo menos, aos 25 anos de idade.

As mudanças mais importantes incluem a redução da "massa cinzenta" à medida que o cérebro elimina as sinapses que permitem a comunicação entre as células.

Paralelamente, a massa branca (conexões de longa distância conhecidas como axônios, cobertas com uma camada de gordura isolante) tende a se proliferar.

"Elas são como as super-rodovias do cérebro", explica a neuropsicóloga Lindsay Squeglia, da Universidade Médica da Carolina do Sul, nos Estados Unidos. E o resultado é uma rede neural mais eficiente, que pode processar informações com maior rapidez.

O primeiro a amadurecer é o sistema límbico, relacionado ao prazer e à recompensa. "Estas áreas estão totalmente adultas durante a adolescência", explica Squeglia.

Já o córtex pré-frontal, localizado atrás da testa, amadurece mais lentamente. Esta região é responsável pelo pensamento de ordem superior, incluindo a regulagem emocional, tomada de decisões e autocontrole.

O relativo desequilíbrio entre o desenvolvimento dessas duas regiões pode explicar por que os jovens e adolescentes tendem a assumir mais riscos do que os adultos. "Muitas pessoas descrevem o cérebro dos adolescentes como tendo um acelerador totalmente desenvolvido sem freios", compara Squeglia.

Mergulhar nossos neurônios em álcool – que sabemos que libera a inibição – só pode amplificar essa busca de adrenalina. E, para os adolescentes particularmente impetuosos, o álcool pode criar um círculo vicioso de mau comportamento e delinquência.

"Os adolescentes mais impulsivos tendem a beber mais e beber aumenta a impulsividade", explica Squeglia.

Em volumes e frequências suficientemente altos, a bebida pode prejudicar o desenvolvimento de longo prazo do cérebro dos adolescentes.

Estudos longitudinais associam beber cedo ao declínio mais rápido da massa cinzenta e à redução do crescimento da massa branca. "Essas super-rodovias não recebem a mesma pavimentação em adolescentes que começam a beber", segundo Squeglia.

As consequências podem não ser imediatamente evidentes em teste cognitivos. Nos cérebros jovens, as regiões responsáveis pela solução de problemas podem trabalhar um pouco mais para compensar o déficit. Mas elas não conseguem manter esse acompanhamento para sempre.

"Depois de vários anos bebendo, observamos menos ativação do cérebro e desempenho inferior nesses testes", afirma Squeglia.

Beber cedo também pode prejudicar a saúde mental e aumenta o risco de abuso de álcool em fases posteriores da vida. Isso é particularmente válido para pessoas com histórico familiar de alcoolismo – quanto mais cedo elas começam, maiores são as chances de desenvolver problemas com a bebida.

Os genes associados ao maior risco de abuso de álcool parecem ser mais influentes durante esse período crítico do desenvolvimento cerebral. "E, quanto mais tempo alguém puder esperar, menor a probabilidade de que esses genes entrem em ação", segundo Squeglia.

A cultura da bebida no país onde você crescer pode influenciar sua relação com o álcool na idade adulta | Javier Hirschfeld/BBC/Getty Images

E o modelo europeu?

Como essas descobertas podem influenciar as escolhas dos adolescentes e as decisões dos pais sobre como e quando devem permitir que eles bebam em casa?

"Nossa mensagem é 'atrase o máximo que puder'", orienta Lindsay Squeglia, "pois o seu cérebro ainda está em desenvolvimento, e deixe seu cérebro se desenvolver e ser o mais saudável possível antes de começar a se aventurar em coisas como o uso de álcool e outras substâncias."

Mas, se este conselho deve ser estabelecido em lei, já é outra questão.

Squeglia afirma que, nas suas palestras públicas sobre o consumo de álcool, membros do público costumam levantar a questão do "modelo europeu de beber". Em países como a França, menores de idade são autorizados a beber uma taça de vinho ou cerveja para acompanhar a refeição da família.

Mesmo fora da Europa, muitos pais acreditam que a introdução lenta do álcool em contextos controlados ensina os jovens a beber com segurança e reduz o consumo de álcool em excesso com mais idade, enquanto a restrição leva a bebida a ser um tentador "fruto proibido".

Mas este é um mito.

"As pesquisas demonstraram que, quanto mais permissivo for o pai com o consumo, maior a probabilidade de que o filho tenha problemas com álcool em fases posteriores da vida", afirma Squeglia.

Uma análise abrangente indica que, contrariando a crença do fruto proibido, "os pais que impõem regras rigorosas relativas ao consumo de álcool por adolescentes são esmagadoramente relacionados ao menor consumo de bebidas e à redução dos comportamentos de risco atribuídos ao álcool".

E a maior parte das evidências indica que leis mais rigorosas de proibição do consumo de álcool, com maior idade mínima para compra, também incentivam o consumo responsável.

Um exemplo é um estudo de Alexander Ahammer, da Universidade Johannes Kepler de Linz, na Áustria. Lá, qualquer pessoa com mais de 16 anos pode legalmente comprar vinho ou cerveja.

Se as leis mais rigorosas apenas aumentassem o desejo pelo álcool, seria de se esperar que a Áustria tivesse uma cultura de bebida mais saudável que os Estados Unidos, onde a idade mínima para beber é de 21 anos. Mas não é o caso.

Os dois países observam aumento do consumo excessivo de álcool depois que as pessoas atingem a idade mínima. "Mas este salto é 25% mais alto na Áustria aos 16 [anos] do que nos Estados Unidos, aos 21", afirma Ahammer.

Em outras palavras, esperar parece incentivar o comportamento mais responsável quando os americanos são autorizados a comprar bebidas legalmente.

Definir uma idade mínima para beber que seja alta demais pode ser considerado uma medida paternalista | Javier Hirschfeld/BBC/Getty Images

Ao questionar os participantes sobre seu comportamento, Ahammer concluiu que as percepções dos austríacos sobre os riscos associados à bebida são radicalmente diferentes entre os maiores de 16 anos.

"Quando o álcool passa a ser legal, os adolescentes percebem que ele representa muito menos riscos do que antes", afirma Ahammer.

Aos 16 anos, essa falsa sensação de segurança pode ser perigosa, enquanto, aos 21, o cérebro mais maduro está um pouco mais preparado para lidar com a bebida.

A própria ideia de que a cultura europeia da bebida seria mais saudável também não se justifica. Segundo a Organização Mundial da Saúde, dados indicam que a metade de todos os casos de câncer que podem ser atribuídos ao álcool na região da Europa são causados pelo consumo de álcool leve a moderado.

Considerando as evidências científicas, deveriam os governos definir a idade legal mínima de 25 anos ou mais, depois que o cérebro terminou seu desenvolvimento?

Especialistas indicam que esta decisão não é tão simples, já que os benefícios à saúde pública precisam ser avaliados tendo em vista a percepção das pessoas sobre a liberdade pessoal.

"Acho que existe muito pouca disposição entre o público para adotar a idade de 25 anos para beber", afirma James MacKillop, estudioso da dependência da Universidade McMaster em Hamilton, Ontário (Canadá).

Para ele, "altas idades legais mínimas são consideradas paternalistas e podem ser vistas como hipocrisia se a idade legal da maioridade para votar ou servir o exército for de 18 ou 19 anos".

Ahammer concorda. "Em algum momento, precisamos simplesmente permitir que as pessoas tomem suas próprias decisões."

MacKillop sugere que os adolescentes recebam melhor educação sobre os riscos do álcool e as formas em que a substância pode prejudicar o cérebro em amadurecimento.

"Considerar simplesmente que as pessoas irão desenvolver naturalmente hábitos responsáveis em relação a essas drogas é uma premissa bastante otimista", segundo ele.

Analisando minha adolescência, eu teria ficado curioso para conhecer a contínua transformação do meu cérebro e os efeitos que o consumo de álcool poderia ter sobre as suas conexões.

Não acredito que eu teria sido abstêmio – afinal, ainda bebo até hoje, mesmo conhecendo os riscos de longo prazo à saúde. Mas talvez eu tivesse pensado duas vezes antes de pedir uma nova rodada.

* David Robson é um escritor de ciências premiado. Seu próximo livro (em inglês) chama-se As Leis da Conexão: A Ciência Transformadora de Ser Social, a ser publicado em junho de 2024 pela editora Canongate (no Reino Unido) e pela Pegasus Books (nos Estados Unidos e no Canadá). Sua conta no X (antigo Twitter) é @d_a_robson. Ele também pode ser encontrado com o nome @davidarobson no Instagram e no Threads.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês).

 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF