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domingo, 28 de abril de 2024

A economia está subordinada ao bem comum (1)

Apresentação do livro de Amintore Fanfani na Pontifícia Universidade Gregoriana em 28 de fevereiro de 2006. No centro da mesa dos palestrantes estavam Giorgio Napolitano e Giulio Andreotti | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 05/2006

A economia está subordinada ao bem comum

Os escritos económicos que Amintore Fanfani publicou na década de 1930, quando era um jovem professor universitário, foram reimpressos. São uma crítica ao capitalismo feita a partir da tradição cristã.

por Fabio Silvestri

O método histórico ensina que, na análise dos processos culturais e sociais, é necessário evitar a tentação de focar o olhar nos acontecimentos e “emergências” mais imediatamente evidentes, que de alguma forma constituem o lado consciente e consciente, para em vez disso centrar a atenção naqueles elementos “duradouros” que representam a estrutura profunda, na forma de elementos aparentemente “inconscientes” (mas ciclicamente sempre prontos a manifestar a sua presença), desses mesmos processos. Uma destas persistências que animam “profundamente” a história do mundo contemporâneo foi posta em causa, há poucos meses, pelo Cardeal Renato Raffaele Martino. Estes, apresentando o volume do Pontífice A Europa de Bento XVI , destacaram como a partir daquele fatídico 1989, que marcou definitivamente o fim da Segunda Guerra Mundial e a divisão do mundo em blocos de poder, e que quebrou "a camisa de força" das ideologias (" que de alguma forma dominou o mundo durante muitos anos"), o novo desafio e o novo horizonte histórico com que todos somos chamados a lidar diariamente, seja representado pela relação entre tecnologia e ética. Em particular, as palavras de Martino sublinharam como o destino da humanidade parece orientado para uma nova divisão em "dois blocos", isto é, entre aqueles que acreditam que a pessoa humana nada mais é do que um produto histórico e cultural artificial (cortando, neste caso, plano, a ligação com a natureza, a tradição e a criação) e aqueles que não partilham um processo de absolutização da tecnologia, que resulta numa concepção meramente pragmática e processual da política, da economia, do desenvolvimento, bem como da democracia e dos próprios direitos humanos. A questão levantada pelo Cardeal Martino, «dependendo se for considerada na esfera política, onde paira o risco da tecnocracia, ou na esfera da manipulação da vida, onde confiamos cegamente na biotecnologia, ou na esfera da comunicação, remodelada e perturbada pela tecnologia da informação", está claramente ligada às questões dramáticas que derivam da difusão cada vez mais preocupante à escala planetária de uma lógica de desenvolvimento económico completamente desvinculada de qualquer propósito ético e que, ao gerar desequilíbrios e desigualdades cada vez mais graves e preocupante, também se revela, não raro, como um desrespeito pela dignidade fundamental do ser humano.

A este nível, a afirmação de um processo de globalização que, como também sublinharam dois ilustres vencedores do Prémio Nobel, como Amartya Sen e Joseph Stiglitz, coloca o problema de «aproveitar bem a liberalização dos mercados e dos resultados para que todos os países possam dela beneficiar para alcançar um desenvolvimento adequado", obriga-nos a repensar em profundidade os fundamentos sobre os quais assentam os chamados "fundamentos" da economia e a perguntar-nos cada vez com mais insistência se e como é possível encontrar antídotos úteis para contrariar a lógica do “fundamentalismo de mercado”. E da mesma forma, mesmo a política, se não quiser registar mais uma derrota face à ameaça de uma “economicização do mundo” que abre caminho a uma “tecnociência” descontrolada, não pode evitar o dever de repensar , até culturalmente, as próprias fórmulas e soluções. E não pode, consequentemente, evitar a tarefa de chamar a atenção para as antigas questões históricas da relação entre a ética e o capitalismo e, mais amplamente, entre a ética e a economia, de cuja única solução depende a possibilidade concreta de que o processo de globalização da A economia não se traduz, quase automaticamente, numa crise moral cada vez mais dramática.

Neste sentido, o interesse despertado pelo regresso à impressão (mais de sessenta anos após a sua última publicação em Itália e graças à iniciativa da Fundação Amintore Fanfani e da editora Marsilio) do volume fundamental, Cattolicesimo, parece perfeitamente compreensível e protestante. na formação histórica do capitalismo , que o próprio Fanfani, então muito jovem professor de história econômica na Universidade Católica de Milão, escreveu em 1934. O interesse nesta análise aprofundada da formação da sociedade capitalista, conduzida em relação ao diferentes interpretações do mundo e em relação às diferentes concepções do destino humano de que o cristianismo católico e protestante se tornaram, respectivamente, portadores, foi também reafirmado pelas importantes conferências que se dedicaram à reconstrução da obra de Amintore Fanfani, primeiro (na apresentação do volume) pela Pontifícia Universidade Gregoriana e, mais recentemente, pela mesma Universidade Católica de Milão.

 Fonte: http://www.30giorni.it/

O Papa: a fé em Jesus, o vínculo com Ele, nos abre para receber a seiva do amor de Deus

Visita pastoral do Papa Francisco a Veneza (Vatican Media)

Permanecer no Senhor significa crescer no relacionamento com Ele, dialogar com Ele, acolher sua Palavra, segui-lo no caminho para o Reino de Deus. Portanto, trata-se colocar-nos a caminho atrás d’Ele, de nos deixarmos provocar por seu Evangelho e de nos tornarmos testemunhas de seu amor: disse o Papa Francisco em seu último compromisso em terras venezianas, este domingo, 28 de abril, na Missa celebrada na Praça São Marcos.

Raimundo de Lima – Vatican News

A fé em Jesus, o vínculo com Ele, não aprisiona nossa liberdade, mas, ao contrário, nos abre para receber a seiva do amor de Deus, que multiplica nossa alegria, cuida de nós com o cuidado de um bom vinhateiro e faz nascer brotos mesmo quando o solo de nossa vida se torna árido. Foi o que disse o Santo Padre na celebração da Eucaristia – centro e ápice da vida cristã –, ponto alto de sua visita pastoral a Veneza, este domingo, 28 de abril, numa Praça São Marcos repleta de fiéis e peregrinos, cerca de 10.500, de Veneza e das dioceses do Vêneto, norte da Itália.

Somente aquele que permanece unido a Jesus dá frutos. Em sua homilia, Francisco deteve-se sobre o Evangelho deste V Domingo do Tempo Pascal, que nos traz a parábola da videira.

Eu sou a videira e vós sois os ramos

Jesus é a videira, nós somos os ramos. E Deus, o Pai misericordioso e bom, como um agricultor paciente, trabalha conosco com cuidado para que nossa vida seja repleta de frutos. É por isso que Jesus recomenda que conservemos a dádiva inestimável que é o vínculo com Ele, do qual dependem nossa vida e fecundidade.

Assim, a metáfora da videira, ao mesmo tempo em que expressa o cuidado amoroso de Deus por nós, por outro lado nos adverte, pois se rompermos esse vínculo com o Senhor, não poderemos gerar frutos de boa vida e nós mesmos corremos o risco de nos tornarmos ramos secos, que serão jogados fora.

Tendo como pano de fundo a imagem usada por Jesus, continuou o Pontífice, penso também na longa história que liga Veneza ao trabalho das videiras e à produção de vinho, no cuidado de tantos viticultores e nos numerosos vinhedos que surgiram nas ilhas da Lagoa e nos jardins entre as calas da cidade, e naqueles que engajaram os monges na produção de vinho para suas comunidades.

Isso é o que conta, permanecer no Senhor, habitar n’Ele

Mas a metáfora que saiu do coração de Jesus também pode ser lida ao pensarmos nessa cidade construída sobre a água e reconhecida por essa singularidade como um dos lugares mais evocativos do mundo. Veneza é uma só com as águas sobre as quais está situada e, sem o cuidado e a proteção desse ambiente natural, poderia até deixar de existir. Assim também é nossa vida: nós também, imersos para sempre nas fontes do amor de Deus, fomos regenerados no Batismo, renascemos para uma nova vida pela água e pelo Espírito Santo e fomos inseridos em Cristo como ramos na videira. Em nós flui a seiva desse amor, sem o qual nos tornamos ramos secos que não dão frutos.

Francisco deteve-se sobre uma das palavras-chave dadas por Jesus aos seus apóstolos antes de concluir sua missão terrena: trata-se da palavra “permanecei”, exortando os apóstolos a manter vivo o vínculo com Ele, a permanecer unidos a Ele como os ramos à videira.

Irmãos e irmãs, isso é o que conta: permanecer no Senhor, habitar n’Ele. E esse verbo - permanecer - não deve ser interpretado como algo estático, como se quisesse nos dizer para ficarmos parados, estacionados na passividade; na realidade, ele nos convida a nos colocarmos em movimento, porque permanecer no Senhor significa crescer no relacionamento com Ele, dialogar com Ele, acolher sua Palavra, segui-lo no caminho para o Reino de Deus. Portanto, trata-se colocar-nos a caminho atrás d’Ele, de nos deixarmos provocar por seu Evangelho e de nos tornarmos testemunhas de seu amor.

Produzir os frutos do Evangelho em nossa realidade

E nós, cristãos, disse Francisco, que somos ramos unidos à videira, a videira do Deus que cuida da humanidade e criou o mundo como um jardim para que possamos florescer nele e fazê-lo florescer, como respondemos?

Permanecendo unidos a Cristo, seremos capazes de produzir os frutos do Evangelho na realidade em que vivemos: frutos de justiça e paz, frutos de solidariedade e cuidado mútuo; escolhas de cuidado com o meio ambiente, mas também com o patrimônio humano: precisamos que nossas comunidades cristãs, nossos bairros, nossas cidades se tornem lugares hospitaleiros, acolhedores e inclusivos. E Veneza, que sempre foi um lugar de encontro e de intercâmbio cultural, é chamada a ser um sinal de beleza acessível a todos, a começar pelos últimos, um sinal de fraternidade e de cuidado com a nossa casa comum. Veneza, terra que faz irmãos. Obrigado!

Concluída a celebração eucarística - último compromisso da visita pastoral do Papa a Veneza -, Francisco visitou de forma privada a Basílica de São Marcos para venerar as relíquias do Santo Evangelista, detendo-se por um breve momento em oração.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Pedro Chanel

São Pedro Chanel (A12)
28 de abril
São Pedro Chanel
Pedro Chanel nasceu em Cuet, próximo a Belley, França no ano de 1803, de uma família do campo. Foi batizado pelos próprios pais em 16 de julho, memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo; ele manteve por toda a vida grande devoção a Nossa Senhora. Era simples e educado, e o pároco de Cras-sur-Reyssouze notou a vocação religiosa do menino, convidando-o a estudar na escola do Seminário da sua paróquia. Ao ser crismado, quis acrescentar ao nome o do seu protetor, São Luís Gonzaga, e descobrindo que sua mãe o consagrara antes do nascimento à Virgem, adotou também o de Maria: Pedro Luís Maria Chanel.

Com 21 anos entrou para o Seminário Maior em Bourg, onde começou a desejar ser missionário, e depois de três anos, em 1827, ordenou-se padre. Foi nomeado vice-pároco em Ambérieu e depois pároco em Crozet. Duas vezes pediu ao bispo para abraçar a vida missionária, sem obter a permissão. Porém conheceu o padre Jean-Claude Colin, com o qual, e outros sacerdotes, fundou uma nova Congregação, a Sociedade de Maria, cujo carisma era a evangelização missionária dos não cristãos. Foi assim um dos primeiros membros da Congregação dos Maristas, aprovada em 1836.

Em 1835 a Santa Sé pediu voluntários à diocese de Lyon para uma missão na Oceania, e os maristas aceitaram. Embarcou Pedro em 1837 para Futuna, com um confrade, o Irmão Delorme. Levaram mais de um ano para chegar a esta ilha do Oceano Pacífico, no arquipélago de Willis, onde o rei Niuliki os recebeu e hospedou na sua própria casa. Iniciaram os missionários o aprendizado da língua e dos costumes locais. A primeira Missa, em dezembro, foi celebrada em segredo na cabana construída para eles, e que depois se tornaria uma capela. Mas Pedro decidiu convidar para a Missa de Natal o rei e sua família. O evento foi muito apreciado, e logo muitos ilhéus vieram pedindo uma repetição. Aos poucos, Pedro dedicou-se à visitação das aldeias e ao cuidado dos idosos e enfermos, com bondade e mansidão, o que o tornou conhecido e atraiu a atenção para a Fé católica. Em dois anos, surgiram os primeiros pedidos para o Batismo.

A popularidade dos sacerdotes incomodou os idosos da ilha, desejosos de manter sua religião, tradições e costumes, bem como o rei Niuliki, temeroso de perder sua autoridade: impediu as missões, incitou que os religiosos fossem insultados, maltratados e roubados, promoveu a perseguição dos catecúmenos; Pedro e Delorme chegaram a ficar sem comida. Por fim tiveram que sair da ilha. Mas ao saber da conversão do próprio filho, o rei mandou matar os padres, executados a golpes de tacape em 28 de abril de 1841. Pedro foi o primeiro mártir marista e da Oceania.

Em 1842, novos missionários chegaram a Futuna, construindo uma igreja no local do martírio, e em 1844 toda a ilha havia se convertido, tornando-se inclusive um centro de evangelização missionária para outras ilhas. Atualmente pertencente à França, Futuna é um local turístico e pacífico. São Pedro Chanel é padroeiro da Oceania.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Não há dúvida de que o testemunho é o melhor método de evangelização. Em primeiro lugar vem sempre a caridade, a bondade, e depois as explicações, como fez São pedro Chanel. Mas o esplendor do culto público, particularmente o Santo Sacrifício da Missa, que torna visível e materializada a presença de Cristo nas espécies eucarísticas, também é fundamental. Também no Brasil, o primeiro contato com a celebração da Missa cativou os indígenas, ainda que não a compreendessem, entendendo porém o seu caráter sagrado. Os Sacramentos realizam as graças de Deus, e por isso são necessários os sacerdotes, escolhidos por Deus para cuidar do povo indefeso diante do pecado. Roguemos ao Pai pela vocação e santidade de muitos sacerdotes, pois de fato “a messe é grande e os operários são poucos” (cf. Lc 10,2).

Oração:

Senhor, Deus do universo, que nos enviais a todos os lugares como missionários do Vosso amor, concedei-nos pela intercessão de São Pedro Chanel a graça de jamais sermos uma ilha apartada de Vós, mas um oceano de virtudes para cercar de cuidados as necessidades dos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 27 de abril de 2024

O Papa: o amor nos torna melhores, mais ricos e mais sábios, em todas as idades

Avós, Idosos e Netos, participantes do Encontro promovido pela Fundação Età Grande (Vatican Media)

Procurem seus avós e não os marginalize, para o próprio bem de vocês: “A marginalização dos idosos corrompe todas as estações da vida, não apenas a da velhice”. Vocês, por outro lado, aprendem a sabedoria do seu forte amor, e também da sua fragilidade, que é um “magistério” capaz de ensinar sem a necessidade de palavras, um verdadeiro antídoto contra o endurecimento do coração: isso os ajudará a saborear a vida como relacionamento. Foi a exortação do Papa no Encontro com avós, idosos e netos.

Raimundo de Lima – Vatican News

“Quando vocês, avós e netos, idosos e jovens, estão juntos, quando se veem e se ouvem com frequência, quando cuidam uns dos outros, o amor de vocês é um sopro de ar puro que refresca o mundo e a sociedade e nos torna todos mais fortes, para além dos laços de parentesco”, disse Francisco ao receber em audiência na manhã deste sábado, 27 de abril, na Sala Paulo VI, no Vaticano, em clima de festa, avós, idosos e netos, um evento promovido pela Fundação “Età Grande”.

O encontro "A carícia e o sorriso", que teve a participação de numerosos personagens do mundo do espetáculo, reuniu representantes das duas gerações para promover a pessoa idosa e o seu papel no mundo de hoje.

É bom recebê-los aqui, avós e netos, jovens e idosos. Hoje vemos, como diz o Salmo, como é bom estarmos juntos (Sl 133). Basta olhar para vocês para perceber isso, pois há amor entre vocês, frisou o Papa, convidando os presentes a refletir sobre isso, sobre o fato de que o amor nos torna melhores, mais ricos e mais sábios, em todas as idades.

O amor nos torna melhores

Primeiro: o amor nos torna melhores. Vocês também demonstram isso, que se tornam melhores reiprocamente ao se amarem. E digo isso a vocês como “avô”, com o desejo de compartilhar a fé sempre jovem que une todas as gerações. Eu também a recebi de minha avó, com quem aprendi pela primeira vez sobre Jesus, que nos ama, que nunca nos deixa sozinhos e que nos incentiva a estarmos próximos uns dos outros e a nunca excluirmos ninguém. Foi com ela que ouvi a história daquela família em que havia um avô que, por não comer mais bem à mesa e se sujar, foi mandado embora, colocado para comer sozinho. Não era uma coisa boa, na verdade, era muito ruim! Então, o neto ficou alguns dias mexendo em martelos e pregos e, quando seu pai perguntou o que ele estava fazendo, ele respondeu: “Estou construindo uma mesa para o senhor, para que possa comer sozinho quando ficar velho! Isso minha avó me ensinou, e nunca mais esqueci.

Não se esqueça disso também, observou o Pontífice, porque é somente estando juntos com amor, sem excluir ninguém, que se torna melhor, mais humano!

O amor nos torna mais ricos

Não só isso, mas você também se torna mais rico. Nossa sociedade está repleta de pessoas especializadas em muitas coisas, ricas em conhecimento e meios úteis para todos. Se, no entanto, não houver compartilhamento e cada um pensar apenas em si mesmo, toda a riqueza se perderá, tornando-se, de fato, um empobrecimento da humanidade. E esse é um grande risco para o nosso tempo: a pobreza da fragmentação e do egoísmo. Pensemos, por exemplo, em algumas das expressões que usamos: quando falamos de “mundo dos jovens”, de “mundo dos velhos”, de “mundo disso e daquilo”... Mas o mundo é apenas um! E é composto de muitas realidades que são diferentes justamente para que possam se ajudar e se complementar: gerações, povos e todas as diferenças, se harmonizadas, podem revelar, como as faces de um grande diamante, o maravilhoso esplendor do homem e da criação. Isso também é o que o fato de vocês estarem juntos nos ensina: não deixar que a diversidade crie fendas entre nós! Não pulverizar o diamante do amor, o mais belo tesouro que Deus nos deu.

Às vezes ouvimos frases como “pense em você!”, “não precise de ninguém!”. Essas são frases falsas, que enganam as pessoas, fazendo-as acreditar que é bom não depender dos outros, fazer por si mesmas, viver como ilhas, enquanto essas são atitudes que apenas criam muita solidão, continuou o Santo Padre.

O amor nos torna mais sábios

E isso nos leva ao último aspecto: ao amor que nos torna mais sábios. Queridos netos, seus avós são a memória de um mundo sem memória, e “quando uma sociedade perde a memória, está acabada”. Ouça-os, especialmente quando eles lhe ensinarem, por meio de seu amor e testemunho, a cultivar os afetos mais importantes, que não são obtidos pela força, não aparecem pelo sucesso, mas preenchem a vida.

Por fim, antes de despedir-se, o Santo Padre deixou-lhes uma forte exortação. Procurem seus avós e não os marginalize, para o próprio bem de vocês: “A marginalização dos idosos (...) corrompe todas as estações da vida, não apenas a da velhice”. Vocês, por outro lado, aprendem a sabedoria do seu forte amor, e também da sua fragilidade, que é um “magistério” capaz de ensinar sem a necessidade de palavras, um verdadeiro antídoto contra o endurecimento do coração: isso os ajudará a saborear a vida como um relacionamento.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Ambiente de lar, escola de amor

Ambiente de lar, escola de amor (Opus Dei)

Ambiente de lar, escola de amor

Para conseguir que o amor cresça, cada família tem de procurar aumentar a sua capacidade de dar e receber.

29/12/2016

I. Uma família em saída: dar e receber

A família é uma célula aberta a serviço da sociedade, não é uma instituição fechada, longínqua e de âmbito estritamente privado; como diz o Catecismo da Igreja Católica: “A família é a célula originária da vida social. E a sociedade natural na qual o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A autoridade, a estabilidade e a vida de relações dentro dela constituem os fundamentos da liberdade, da segurança e da fraternidade no conjunto social. A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, tais como honrar a Deus e usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade”[1]. De acordo com isso, podemos dizer que a família é o âmbito natural do amor.

Esse amor, próprio dos cônjuges, é querer que o outro exista e que exista bem, não de qualquer maneira: porque te amo, busco o seu bem, a sua felicidade. Com a chegada dos filhos, o amor entre os esposos cresce, se multiplica e se manifesta na busca do bem para cada filho, em querer o melhor para eles – em todos os aspectos: físico, emocional, espiritual, etc. Porém como a família não fica fechada em si mesma, mas transcende a sua própria esfera e se incorpora à sociedade – mais ainda, sem família, não há sociedade –, esse amor que começou sendo dos esposos e logo desembocou nos filhos está chamado também a estender-se: todos merecem participar do amor que a família irradia, que se manifesta no desejo do bem.

EM ALGUMAS OCASIÕES OCORRE UMA TENDÊNCIA A DIVIDIR A PROFUNDA UNIDADE DAR-RECEBER; O RESULTADO É A DESAGREGAÇÃO DA FAMÍLIA.

Para conseguir que o amor cresça, cada família tem de procurar aumentar a sua capacidade de dar e receber. Em algumas ocasiões ocorre uma tendência a dividir a profunda unidade dar-receber; o resultado é a desagregação da família, pois parece que “o dar é para os pais; o receber é dos filhos. E o resultado é um conjunto de seres humanos pouco unidos pelo amor familiar: pais sacrificados, filhos mais ou menos irresponsáveis... Ambos devem dar e receber. Em primeiro lugar, dar, porque toda pessoa é um ser de contribuições. E então, receber para dar mais, para dar melhor”[2]. Como diz Enrique Rojas: “O amor não é egoísta. Sua única referência é o outro. O amor acaba com a vida solitária”. Porém esse amor precisa ser concretizado. A este respeito comenta o Papa Francisco: “O amor... não é o amor das novelas. Não, é outra coisa. O amor cristão tem sempre uma qualidade: o concreto (...) o próprio Jesus, quando fala de amor, nos fala de coisas concretas: dar de comer aos famintos, visitar aos enfermos...”.

O Papa nos sugere dois critérios. O primeiro é que o amor está mais nas obras do que nas palavras. O próprio Jesus disse: não são os que me dizem “Senhor, Senhor”, os que falam muito, que entrarão no reino dos céus; mas aqueles que cumprem a vontade de Deus. É o convite, portanto, a estar no «concreto» cumprindo as obras de Deus. Assim, o primeiro critério é amar com as obras, não só com as palavras. O segundo é este: no amor é mais importante dar que receber. A pessoa que ama dá – vida, coisas, tempo –, se entrega a si mesma a Deus e aos outros. Ao contrário, a pessoa que não ama e que é egoísta busca sempre receber. Busca sempre tirar vantagem[3].

Hoje em dia, há muitas pessoas necessitadas de ajuda, por causa de diversas circunstâncias: a fome, a imigração por culpa da guerra, as vítimas de abusos e violências e do terrorismo; pessoas afetadas por catástrofes naturais; outros perseguidos por causa da sua fé; o drama do aborto e da eutanásia; o desemprego, sobretudo dos jovens; idosos que vivem em solidão. Todas estas realidades convivem de uma maneira ou outra conosco, no dia a dia e é ali onde cada pessoa, cada família, é chamada a ser um agente de ajuda e de mudança a favor dos mais necessitados.

Como diz o Concílio Vaticano II, “A própria família recebeu de Deus esta missão, de ser a célula primeira e vital da sociedade. Cumprirá esta missão se, pela mútua piedade dos membros e pela oração em comum dirigida a Deus, se mostrar como que o santuário doméstico da Igreja; se a família toda se inserir no culto litúrgico da Igreja; se, finalmente, oferecer hospitalidade acolhedora, promover a justiça e outras boas obras em serviço de todos os irmãos constituídos em necessidade. Entre as várias atividades do apostolado familiar, podem enumerar-se as seguintes: adotar como filhos crianças abandonadas, receber benignamente os peregrinos, cooperar na orientação das escolas, assistir aos adolescentes com conselhos e com meios econômicos, ajudar os noivos a prepararem-se melhor para o matrimônio, trabalhar na catequese, amparar os cônjuges e as famílias que estão em perigo material ou moral, prover os velhos não só com o necessário, mas ainda procurar-lhes os frutos equitativos do progresso econômico”[4].

“A MISERICÓRDIA NÃO É SER BONZINHO, NEM UM MERO SENTIMENTALISMO”, PELO CONTRÁRIO, É MANIFESTAÇÃO DO AMOR INFINITO DE DEUS POR CADA UM E A REALIZAÇÃO HUMANA DO AMOR AO PRÓXIMO.

Neste Ano Jubilar da Misericórdia, é apresentada uma nova oportunidade para viver o amor familiar e concretizar o amor nos necessitados. O elenco das obras de misericórdia nos oferece a possibilidade de abrir-nos, de dar-nos aos outros. O Papa Francisco nos chama a redescobrir as obras corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher o estrangeiro, assistir aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E a não esquecermos as espirituais: aconselhar os que têm dúvidas, ensinar os ignorantes, advertir os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar pacientemente as pessoas irritantes, rezar a Deus pelos vivos e defuntos. “A misericórdia não é ser bonzinho, nem um mero sentimentalismo”, pelo contrário, é manifestação do Amor infinito de Deus por cada um e a realização humana do amor ao próximo.

É assim que a família está chamada a ser “escola de generosidade”; ou seja, na família “se aprende que a felicidade pessoal depende da felicidade do outro, se descobre o valor do encontro e do diálogo, a disponibilidade desinteressada e o serviço generoso”.

“As crianças que veem em sua casa como se busca sempre o bem comum da família, e como uns se sacrificam pelos outros, estão aprendendo um estilo de vida baseado no amor e na generosidade. É uma vivência que deixa uma marca inapagável. Crescerão sabendo que integrar-se na sociedade não é só receber, mas receber e retribuir”[5].

II. Dar-se na própria família

Muitas vezes – e é preciso fazê-lo –, dirigimos o olhar para as realidades distantes buscando fazer o bem: damos dinheiro, tempo, trabalho, esquecendo talvez que nos mais próximos temos nosso principal e mais importante campo de ação. Não só com o cônjuge e os filhos, mas com os pais já idosos, e talvez doentes, que requerem uma atenção especial; com parentes necessitados por diferentes causas; com amigos próximos que precisam do nosso conselho; com pessoas conhecidas a quem vemos e tratamos regularmente e que precisam temporariamente de um lar, da presença de um amigo, etc. Para os cônjuges cristãos, sua primeira “periferia” é a própria família, onde talvez se encontrem os mais necessitados da sua dádiva amorosa. Logo, o mundo inteiro para “afogar o mal em abundância de bem”, como são Josemaria gostava de dizer[6].

Voltando para o caso dos idosos nas famílias, eles merecem – como as crianças –, uma solicitude especial, sejam os próprios pais ou outros familiares próximos que, pelo passar dos anos, necessitam de atenções particulares. A esperança de vida é cada vez mais longa; no entanto, não se produziu um avanço paralelo no cuidado dos idosos, que, muitas vezes, são considerados uma carga difícil de carregar, ou pior os que por determinadas circunstâncias se encontram em situação de desamparados e abandonados. Com cada um deles, temos de ser amáveis, pacientes, entregues, oferecer-lhes o nosso tempo, o nosso carinho e ajuda em suas necessidades, e ensinar os filhos a atuar da mesma maneira. O dia de amanhã serão eles os que talvez tenham que cuidar dos seus pais e, se não o viram, se não o viveram, não saberão ou não quererão fazê-lo. A família é o lugar onde os mais fracos encontram auxílio e proteção. Por isso, é o melhor lugar para cuidar dos idosos. A esse respeito, dizia Bento XVI: “A qualidade de uma sociedade, gostaria de dizer de uma civilização, se julga também por como se trata os idosos e pelo lugar que lhes é reservado na vida em comum”.

Este dar-se aos que estão próximos de cada um, se é por amor, se faz com a alegria dos que sabem que são filhos de Deus, destinados à felicidade que só se encontra fazendo o bem.

Carolina Oquendo Madriz


[1] Catecismo da Igreja Católica, 2207

[2] Oliveros F. Otero (1988), La felicidad en las familias, Loma Editorial, México.

[3] Cfr. Papa Francisco, Homilia em Santa Marta, 9-1-2014.

[4] Decreto Apostolicam Actuositatem (18 de novembro 1965), n.11. O sublinhado é da autora.

[5] María Lacalle Noriega (2015), La dimensión pública de la familia. Em: Nicolás Álvarez de las Asturias (Ed.), Redescubrir la familia, Palabra, Madri.

[6] São Josemaria, Sulco, n. 864

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Roncalli e Wojtyla, pastores no meio do povo

As imagens de João Paulo II e João XXIII na missa de canonização em 2014 (Vatican Media)

Há dez anos realizou-se a canonização de João XXIII e João Paulo II na missa presidida pelo Papa Francisco na Praça São Pedro. Vivendo em tempos históricos agitados, os dois santos Pontífices testemunharam a esperança e a alegria que o encontro com Jesus proporciona com a abnegação total a serviço do Povo de Deus.

Alessandro Gisotti

Quem são os santos? Em primeiro lugar, não são super-homens, como Francisco nos lembrou muitas vezes. No entanto, no imaginário coletivo, até mesmo de quem não crê, a santidade é sinônimo de excepcionalidade. Se seu nome está no calendário - poderíamos dizer com uma piada – certamente se deve a uma vida vivida de forma extraordinária. No entanto, o Papa, justamente por isso, quis enfatizar - e o fez com uma Exortação Apostólica que talvez merecesse ser mais aprofundada - que todos os batizados são chamados à santidade, a serem “santos da porta ao lado”, que são muito mais numerosos do que os indicados no calendário. A santidade, escreveu o Pontífice na Gaudete et Exsultate, se vê “no povo paciente de Deus: nos pais que educam seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham para levar o pão para casa, nos doentes, nas religiosas idosas que continuam sorrindo”. 

Nesta santidade do Povo de Deus, povo paciente, que sabe confiar-se ao Pai e deixar-se guiar por Ele, João XXIII e João Paulo II acreditaram com convicção e em 27 de abril de dez anos atrás foram proclamados santos numa Praça São Pedro repleta de fiéis. Angelo Roncalli e Karol Wojtyla – em Veneza e Cracóvia antes do ministério petrino em Roma – foram “pastores com cheiro das ovelhas”, como diria hoje Jorge Mario Bergoglio. Viveram como pastores no meio do povo, sem medo de tocar as chagas de Cristo, feridas visíveis no sofrimento de irmãs e irmãos que formam aquele Corpo que é a Igreja. Uma imagem, esta última, que o próprio Concílio Vaticano II - nascido do coração dócil e corajoso de João XXIII e que teve no jovem bispo Wojtyla um dos seus mais apaixonados apoiadores - recolocou no centro da vida eclesial, ligando-a à experiência original da primeira comunidade cristã da que nos falam os Atos dos Apóstolos.

Vivemos numa época de grande agitação: nos últimos anos, primeiro a pandemia, depois a guerra na Ucrânia e, por fim, o novo conflito no Oriente Médio se concatenaram, semeando dor, medo e uma sensação de perturbação que, graças à globalização, agora parece ser uma dimensão constitutiva da humanidade como um todo. No entanto, os tempos em que Roncalli e Wojtyla viveram não eram menos complexos, nem menos marcados pelo medo da aniquilação da raça humana. João XXIII, idoso e doente, enfrentou a Crise dos Mísseis de Cuba nos primeiros dias do Concílio. João Paulo II, como sacerdote viveu o horror nazista em sua Polônia, como bispo a sufocante ditadura comunista, e como Papa enfrentou, animado pela tenacidade profética, a oposição entre os dois blocos da Guerra Fria até a dramática dissolução da União Soviética e a consequente ilusão do “fim da história”.

Estes dois Papas do século XX não responderam às tragédias do seu tempo com resignação e pessimismo. Eles não seguiram as litanias dos “profetas da destruição” que então, como agora, parecem preferir queixar-se do que está errado em vez de arregaçar as mangas para ajudar a melhorar as coisas. Como sublinhou Francisco na homilia da missa para sua canonização, em João XXIII e João Paulo II “mais forte foi a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da História”, uma fé que se manifestou na alegria e na esperança que somente pode ser testemunhada por quem encontrou Cristo em sua vida. “Estas – observou novamente na homilia – são a esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado e por sua vez doaram em abundância ao Povo de Deus, recebendo a gratidão eterna”. Uma gratidão aos dois santos que não enfraquece com o passar dos anos, mas cresce na convicção de que agora do Céu podem interceder pela Igreja, pelo Povo de Deus, a quem na sua vida terrena serviram com amor e abnegação.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Apresentado novo projeto de reforma para a Catedral de Brasília

Reforma da Catedral de Brasília (arqbrasilia)

A Arquidiocese de Brasília apresentou nesta quarta-feira, (24/04) um ambicioso plano de revitalização para a icônica Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida.

Reforma da Catedral de Brasília (arqbrasilia)
Reforma da Catedral de Brasília (arqbrasilia)

25 abril 2024

O projeto abrange não apenas a restauração física do monumento, mas também a criação de um espaço de encontro e reflexão. A proposta inclui a criação do Centro de Acolhimento ao Visitante, a implementação de tecnologia de iluminação inteligente, instalação de um museu e o desenvolvimento de um aplicativo para visitantes, visando proporcionar uma experiência enriquecedora aos que adentram suas portas.

Para alcançar esses objetivos, a Arquidiocese está buscando parcerias com empresas e instituições dispostas a contribuir financeiramente com o empreendimento. Estima-se que o custo total da obra seja de R$ 50 milhões. A ideia é que a restauração seja realizada por etapas, onde a primeira fase, orçada em 10 milhões, fará os reparos mais urgentes, como impermeabilização do espelho d’água, reparo nos vidros e nos sinos que foram danificados por raios.

De acordo com a organização do projeto, a manutenção é necessária para manter a integridade estrutural da Catedral que foi comprometida ao longo do tempo. A renovação irá garantir que o edifício seja seguro para os visitantes e para as gerações futuras.

Durante o lançamento do plano, o Cardeal Dom Paulo Cezar Costa defendeu que Catedral seja um monumento dialogante: ‘’Toda pessoa ou turista que vem a Brasília quer conhecer a Catedral. Então, a Catedral é o monumento dialogante. Ela é o monumento que quer dialogar e é o que nós queremos. Queremos que a Catedral seja bonita, que ela responda sua vocação.’’

Além disso, Dom Paulo defendeu a gratuidade das visitas a Catedral. ‘’a visita, em momento nenhum deve ser cobrada, por isso eu digo que a visita a Catedral deverá ser sempre gratuita. Nunca, nunca se deve cobrar. Eu sou contra que se cobre para entrar numa Igreja, mas nós queremos que ela esteja bonita. Nós queremos que a beleza da Catedral se manifeste, que seja um monumento de acolhida e que seja um monumento dialogante.”

Empresas e instituições interessadas em se tornar parceiras poderão entrar em contato nos seguintes canais: +55 (11) 98946-7242 |
CATEDRALDEBRASILIA.COM.BR comercial@catedraldebrasilia.com.br

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

A dimensão ética da Amizade

Ética da Amizade (Filosofia na Escola)

A DIMENSÃO ÉTICA DA AMIZADE

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém (PA)

A dimensão ética da Amizade (Parte 11) 

Na visão popular a amizade está sempre conectada à alegria, à festa, ao prazer, ao lazer, à diversão, à aventura, ao companheirismo, ao apoio nas horas imprevistas. Contudo, na era do “amor líquido” (Zygmunt Bauman, 2003), sem forma, sem critérios, sem compromissos, sem parâmetros, egoísta, consumista, hedonista e narcisista que tem como meta o puro “haurir satisfação”, é justo refletirmos sobre a importância da dimensão ética da amizade.  

A experiência da amizade autêntica tem conteúdos que vão bem além dessas experiências prazerosas. A origem da amizade está vinculada ao Amor que é inseparável da verdade, da justiça, do respeito, da bondade, da honradez. Logo, por sua própria natureza, a amizade está relacionada ao bem. É por isso que na Bíblia Sagrada há uma forte sensibilidade para com a experiência da amizade e até afirma: “Amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro. Amigo fiel não tem preço, e o seu valor é incalculável. Amigo fiel é remédio que cura, e os que temem ao Senhor o encontrarão. Quem teme ao Senhor tem amigos verdadeiros, pois tal e qual ele é, assim será o seu amigo” (Eclo 7,15-17). 

Certa vez, estive num presídio conversando com o grupo de mais ou menos sessenta encarcerados. Visto que nos conhecíamos, pois os visitava com frequência por causa das atividades da pastoral carcerária, numa roda de conversa falando sobre a liberdade e responsabilidade, lhes perguntei: por que você está aqui encarcerado? A participação naquela roda de conversa foi excelente. Mas uma coisa me chamou atenção: a maioria disse que estava ali por causa de um amigo porque foi incentivado ou colaborou para a promoção de um crime. Esse fato nos estimula a aprofundar a dimensão ética da amizade.  

O dinamismo do eros, filia e ágape 

Na cultura grega havia três concepções de amor: eros, philia e ágape. O eros é o amor que se manifesta através da atração física, sensual, sexual, passional, instintiva; o eros é vorraz, devorador, impaciente, aprisionador! Mas é frágil porque está limitado à sensualidade e ao prazer. Ao centro do dinamismo do eros não está o outro, mas o “eu” sedento de desejos. No eros desaparece a dimensão ética, porque sua paixão maior é a autossatisfação.  

O amor philia é o vínculo de bem-querer que entrelaça os parentes e aqueles que tem afinidade entre si. A filia é a amizade! Desse nível de Amor emerge, sem dúvida, uma profunda dimensão ética. Da Amizade brotam uma série de virtudes e atitudes tais como: o cuidado, a proteção, o respeito, a reciprocidade, a busca da segurança, o senso de honestidade, de autenticidade, a transparência, a solidariedade, a partilha, a justiça, a confiança, a fidelidade etc. Portanto, nunca a amizade é moralmente neutra, ou seja, não é coerente que alguém diga que é amigo do outro, mas lhe é indiferente, negligente, injusto, incorrespondente, insensível, violento, falso, desonesto e lhe promovendo inconvenientes etc. Diz São Paulo que o amor nada faz de inconveniente e não é interesseiro (cf. 1Cor 13,4-6). 

Apesar disso, a experiência da amizade, a filia, tem como limite o vínculo afetivo e a reciprocidade, ou seja, não há a experiência da gratuidade e da transcendência no cuidado com os outros que não fazem parte do grupo dos seus parentes e amigos. Tais atitudes fazem parte da expressividade do dinamismo do ágape, que é o amor materno, desinteressado, livre, gratuito, sem fronteiras, incondicional, transbordante. É o amor divino! Apesar do ágape abraçar todas as virtudes da filia (amizade), não se deixa limitar pela condição da reciprocidade.  

A amizade é benevolente e benfazeja

Quem ama quer sempre o bem e por isso, faz o bem ao outro e jamais deliberadamente o prejudica. O amor, por sua própria natureza, só faz o bem. Por isso, a experiência da amizade é sempre edificante e humanizante.  Isso significa que a autêntica amizade é uma relação que promove os sujeitos envolvidos tornando-os corresponsáveis uns pelos outros.  

Tanto o amor de amizade (filia) quanto o amor ágape (a caridade) tem uma profunda dimensão ética. Ao contrário, somente o eros é concentrado em si mesmo e egocêntrico. Aquele que viveu em plenitude o amor ágape, a misericórdia, chamou os seus discípulos de amigos (cf. Jo 15,15). Dessa forma Jesus estava dizendo a seus discípulos que quem ama tem o direito de ser correspondido.  

A experiência da amizade e da Caridade contribuem para a educação do indivíduo, leva-o a descentralizar-se, a crescer na sua dimensão socioafetiva, a superar o critério erótico (da pura atração) e a fazer a experiência da empatia e da compaixão; a amizade nos ajuda a olhar para os outros e nos educa para o cuidado, reciprocidade, respeito pela dignidade do outro. Porém, na parábola do Bom Samaritano a Caridade é exaltada, sendo colocada como referência desafiadora para os discípulos de Jesus por causa da gratuidade sem fronteiras. De fato, o bom samaritano não era amigo daquele que estava caído, não o conhecia, era um estranho. Mas cuidou dele porque reconheceu sua dignidade ferida e, sentindo compaixão e cheio de espírito de iniciativa, mudou seus interesses, sacrificou sua agenda dedicou-lhe tempo para cuidar dele e pagou a conta. Por isso, ao final Jesus diz ao fariseu que o interrogou: “vai e faça a mesma coisa” (Lc 10,37). A caridade supera as fronteiras da Amizade.  

A dimensão educativa da Amizade e da Caridade

Tanto a amizade quanto a Caridade tem um compromisso educativo com o outro. Ou seja, não basta que o outro seja beneficiário, ele também deve ser educado para ser benfeitor. Faz parte da dimensão ética da amizade e da caridade, a experiência da autoeducação e educação de quem é beneficiário do nosso amor, porque a meta da amizade e da caridade é a promoção da plena dignidade humana. Isso comporta um processo pelo qual se estimula o desenvolvimento da liberdade e da vontade (superando o instinto), da responsabilidade, da ternura, da compaixão, da gratuidade, da  generosidade, do exercício do espírito de sacrifício pelo bem dos outros. Então, os amigos se educam, crescem juntos, se firmam no amor e na verdade, na justiça e na honestidade. Amigos que fazem o mal são comparsas. 

A dimensão educativa da Amizade e da Caridade nos educa para a responsável gestão dos nossos impulsos e paixões, dos nossos gostos e preferências, sentimentos e emoções, levando-nos sempre a colocar como critério principal das nossas escolhas o bem do outro. São Paulo recomenda que cada um não busque a realização dos seus interesses, mas os dos outros (cf. 1Cor 10,33; Fl 2,4). “Portanto, busquemos sempre as coisas que trazem paz e edificação mútua” (Rm 14,19). Isso é maravilhoso para a experiência da amizade. 

No horizonte da dimensão ética da amizade e da caridade, está também o compromisso permanente do discernimento entre os amigos, do compromisso com a verdade, da defesa incondicional do bem e da honestidade, da prática da não violência em palavras, gestos e atitudes em todas as circunstâncias entre si e com os outros.  

Outra experiência significativa também, diz respeito à questão para com a palavra dada; para os amigos não se mente e, incondicionalmente, se preserva as confidências por causa da sagrada confiança. Essa palavra dada pode estar relacionada também à questão econômica, no que se refere à empréstimos; quantas pessoas romperam suas amizades por causa de empréstimos de bens materiais não devolvidos ou de dinheiro não restituído, que acabaram gerando graves prejuízos ao outro. O calote não faz parte da dinâmica da amizade, porque é um ato desonesto e injusto; doação é doação, mas empréstimo é empréstimo; requer o cumprimento da restituição! Quem não honra a palavra dada com seus amigos, está promovendo o risco de perdê-los; assim não mais poderá contar com eles em outras necessidades.  

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

Por que pouco refletimos sobre a dimensão ética da Amizade?

Você já perdeu algum amigo por causa da ruptura da confiança ou de empréstimos não pagos? Como foi a experiência?

Em que a experiência da Amizade e Caridade nos educam?

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF