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quarta-feira, 1 de maio de 2024

O Papa: a fé é o primeiro dom a ser acolhido na vida cristã

Papa Francisco: a fé é o primeiro dom a ser acolhido na vida cristã (Vatican Media)

Em sua catequese, na Audiência Geral, o Papa se deteve sobre a fé, "única virtude que podemos invejar. Porque quem tem fé é habitado por uma força que não é só humana; de fato, a fé “desencadeia” em nós a graça e abre a mente ao mistério de Deus". Francisco disse também que o grande inimigo da fé não é a inteligência, não é a razão, mas o medo.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (1°/05), realizada na Sala Paulo VI, o Papa Francisco falou sobre a virtude da fé que junto com a caridade e a esperança formam as virtudes teologais.

“As três virtudes teologais são os grandes dons que Deus dá à nossa capacidade moral.”

Sem elas poderíamos ser prudentes, justos, fortes e temperantes, mas não teríamos olhos que veem mesmo no escuro, não teríamos um coração que ama mesmo quando não é amado, não teríamos uma esperança que ousa contra toda esperança.

Ser cristão é preservar um vínculo com Deus

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, "a fé é o ato com o qual o homem entrega-se total e livremente a Deus". "Nesta fé, Abraão foi o grande pai. Quando concordou em deixar a terra dos seus antepassados ​​para ir em direção à terra que Deus lhe teria mostrado. Nesta fé, Abraão se torna pai de uma longa linhagem de filhos. A fé o tornou fecundo", disse ainda o Papa, citando como exemplos também Moisés, que permaneceu firme, confiante no Senhor, e defendeu "o povo que muitas vezes não tinha fé", e a Virgem Maria, que "com o coração cheio de fé, com o coração cheio de confiança em Deus, inicia um caminho cujo percurso e perigos ela não conhece".

“A fé é a virtude que faz o cristão. Porque ser cristão não é antes de tudo aceitar uma cultura, com os valores que a acompanham, mas acolher e preservar um vínculo, um vínculo com Deus: eu e Deus; a minha pessoa e o rosto amável de Jesus. Este vínculo é o que nos torna cristãos.”

O grande inimigo da fé é o medo

Segundo o Papa, o grande inimigo da fé não é a inteligência, não é a razão, "mas o grande inimigo da fé é o medo". "Por isso, a fé é o primeiro dom a ser acolhido na vida cristã: um dom que deve ser acolhido e pedido diariamente, para que se renove em nós. Aparentemente é um dom pequeno, mas é o essencial. Quando nos levaram à pia batismal, os nossos pais, depois de anunciarem o nome que haviam escolhido para nós, foram questionados pelo sacerdote: “O que vocês pedem à Igreja de Deus?”. E eles responderam: “A fé, o batismo!”", disse ainda Francisco.

Para um progenitor cristão, consciente da graça que lhe foi dada, esse é o dom que deve pedir também para o seu filho: a fé. Com ela, um progenitor sabe que, mesmo no meio das provações da vida, o seu filho não se afogará no medo. O inimigo é o medo. Ele também sabe que quando deixar de ter um progenitor nesta terra, continuará tendo um Deus Pai no céu, que nunca o abandonará. O nosso amor é frágil, só o amor de Deus vence a morte.

Fé, virtude que podemos invejar

Francisco disse ainda que "nem todos têm fé", "e mesmo nós, que cremos, muitas vezes percebemos que temos apenas uma pequena quantidade dela. Muitas vezes Jesus pode censurar-nos, como fez com os seus discípulos, por sermos 'homens de pouca fé'”.

“Mas é o dom mais feliz, a única virtude que podemos invejar. Porque quem tem fé é habitado por uma força que não é só humana; de fato, a fé “desencadeia” em nós a graça e abre a mente ao mistério de Deus.”

O Papa convidou todos os presentes na Sala São Paulo VI a pedirem: Senhor, aumentai a nossa fé! Esta "é uma oração bonita", concluiu.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São José Operário

São José Operário (A12)
01 de maio
São José Operário

São José é modelo de inúmeras virtudes, e sempre vale a pena conhecê-lo melhor. Mas esta data específica nos remete a um aspecto particular da sua vida, aquele voltado para a santificação do trabalho.

Desde o princípio, Deus quis que o Homem cooperasse na Sua obra – “E Deus criou o Homem à Sua imagem; à imagem de Deus Ele o criou; homem e mulher Ele os criou. Deus os abençoou dizendo: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a Terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a Terra’” (Gn 1,27-28); “Javé Deus tomou o Homem e colocou-o no jardim paradisíaco do Éden de delícias para o cultivar e o guardar” (Gn 2,15).

Mesmo após o Pecado Original, o trabalho foi santificado, ainda que, nesta nova realidade, haja o sacrifício e as dificuldades a ele inerente (“Com trabalho penoso dela [da Terra] tirarás o sustento todos os dias de tua vida” (Gn 3,17).

Por outro lado, este modo de “carregar a sua cruz” todos os dias (cf. por exemplo Mt 16,24) é, agora, um meio de santificação, da escolha de seguir a Deus que, nesta vida, nos conduz para o Paraíso Celeste. São José é o modelo perfeito do trabalhador que, com suma humildade, caridade, honestidade e competência, sustentou Jesus e Maria, e ensinou o Cristo a fazer o mesmo.

Dia do Trabalhador, a 1º de maio, foi originalmente instituído como uma comemoração ideológica do comunismo, para ser o símbolo da “luta de classes” que incentiva o ódio entre os patrões e empregados.

Ao contrário, São Paulo nos ensina que “Os servos obedeçam em tudo aos patrões desta terra; não só enquanto são vigiados, nem por bajulação, mas com sinceridade, por temor de Deus. Em tudo o que fizerdes, procurai trabalhar com ânimo, como quem serve a Deus e não aos homens. Pois sabeis que o Senhor vos recompensará com a herança eterna. De fato, Cristo é o Senhor: estais a Seu serviço. Pois quem comete injustiça recebe o pagamento da injustiça na mesma medida, sem distinção de pessoas. Patrões, tratai vossos trabalhadores com justiça e equidade, sabendo que vós também tendes um Senhor no Céu” (Cl 3,22-25; 4,1).

Verdadeiramente, Deus abençoa o trabalho humano, que é digno e necessário, e por isso a Igreja, ressaltando o valor salvífico, cooperativo com Deus, e da dignidade do trabalho não apenas em si mesmo mas como forma de bom relacionamento de amor e serviço entre os seres humanos, desmistificou esta depravação ideológica destacando a obra e a figura de São José, que com seu labor santificou a vida ao oferecê-lo para Deus e para os irmãos, a começar no sustento de Jesus e Maria.

Assim agiu também a Igreja no Natal, a 25 de dezembrotrocando o significado pagão da data comemorativa do “deus sol” para o acolhimento da verdadeira Luz, Cristo Jesus que Se fez homem na Encarnação e nasce da Virgem Maria para nos resgatar da culpa do Pecado Original e nos obter a possibilidade da Salvação: ou seja, todas as realidades humanas estão submetidas à obra salvífica de Cristo, e por isso têm dignidade e implicações de infinito.

Assim, em 1955 o Papa Pio XII instituiu a festa de São José Operário, que, nas suas próprias palavras, é “uma festa cristã, um dia de júbilo para o triunfo concreto e progressivo dos ideais cristãos da grande família do trabalho”, de modo a dignificar os frutos laborais humanos. E o Papa Leão XIII deixa claro que os operários têm o direito de recorrer a São José, e de procurar imitá-lo, no seu serviço e santidade.

Deste modo, a Igreja evidencia que a pretensa busca de “justiça” materialista, por meio de trabalhadores revoltados e não responsáveis e fiéis, sem a perspectiva cristã do serviço – fonte de serenidade e merecimentos – é algo ofensivo a Deus e prejudicial à sociedade.

São José Operário é o padroeiro dos trabalhadores, e o melhor exemplo da santidade possível a um ser humano, uma vez que a santidade perfeita de Cristo, que também é Deus, e de Nossa Senhora, criada sem Pecado Original, está acima da possibilidade de qualquer outro. Certamente não chegaremos jamais a ter a sua dignidade de pai adotivo de Jesus, mas sem dúvida devemos imitá-lo e invocá-lo na vida de serviço a Deus e ao próximo, o labor próprio da vida neste caminho de salvação!

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Adverte São Paulo, “...quem não quer trabalhar, não coma” (2Ts 3,10). Quem não quer empregar o seu tempo no trabalho da própria salvação, santificando a sua vida, não poderá comer do Pão Eucarístico, isto é, da Comunhão com Deus, nesta vida e especialmente na futura e infinita. Os ofícios humanos são dignos e necessários, aproveite-mo-los como meio de salvação, mas não só eles: tudo o que fazemos deve servir a Deus e ao próximo na caridade, como ensina o Primeiro Mandamento.

Oração:

Glorioso São José, modelo de todos os que se dedicam ao trabalho, obtende-me a graça de trabalhar com espírito de penitência para expiação de meus numerosos pecados; De trabalhar com consciência, pondo o dever acima de minhas inclinações; De trabalhar com recolhimento e alegria, olhando como uma honra empregar e desenvolver pelo trabalho os dons recebidos de Deus; De trabalhar com ordem, paz, moderação e paciência, sem nunca recuar perante o cansaço e as dificuldades; De trabalhar, sobretudo com pureza de intenção e com desapego de mim mesmo, tendo sempre diante dos olhos a morte e a conta que deverei dar do tempo perdido, dos talentos inutilizados, do bem omitido e da vã complacência nos sucessos, tão funesta à obra de Deus! Tudo por Jesus, tudo por Maria, tudo à vossa imitação, oh! Patriarca São José! Tal será a minha divisa na vida e na morte. Amém. São José Operário, rogai por nós!


Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 30 de abril de 2024

CATEQUESE: Disponível como argila

Disponível como argila (Cléofas)

Disponível como argila

 POR PROF. FELIPE AQUINO

“O Senhor Deus plasmou o homem com o pó da terra” (Gn 2,7)

Eu, naquele entardecer da criação, senti passos no jardim. Era ele, O SENHOR DA CRIAÇÃO. Acontece que, nesse entardecer, ele parou, inclinou-se, com um olhar carregado de amor. E, de repente, juntou-me do chão, a mim, pobre e pequeno punhado de terra e ficou a me olhar pensativo… Remexeu-me longamente… longamente… com todo carinho!

E, então, começou a me amassar: primeiro, retirou de mim uma porção de impurezas que o atrapalhavam: pedrinhas, pedacinhos de pau, ciscos. E eu fui ficando terra pura, do seu gosto. Fez ainda operações, que eu não compreendia, nem poderia compreender: “Pode por acaso um vaso dizer ao oleiro: eu entendo disso mais do que você?” (Is 29,16).

Eu nada perguntei. Oferecia simplesmente o meu ser em disponibilidade de amor. Deixava-me trabalhar. Deixava que ele me fizesse. Porque eu sabia que era obra sua e que ele transformava com amor.

De fato, fui tomando forma. Uma forma à maneira sua, à sua imagem! Para que haveria eu de servir no futuro? Eu não o sabia. “Como argila nas mãos de um oleiro, assim estava eu em suas mãos” (Jr 18, 6).

E fui-me tornando obra de Deus. “E ele aplicava seu coração em aperfeiçoar-me, pondo cuidado vigilante em tornar-me belo e perfeito” (Eclo 38, 31).

Depois, veio uma etapa difícil. Porque foi um forno superaquecido que ao barro vejo dar força e consistência. É o calor e o valor de minha vida que leva a bom termo a obra de suas mãos, O SENHOR CRIADOR. A cada vaso muito querido, ele dá contornos de eternidade. Então, comecei a olhar em torno de mim. E descobri outros vasos que suas mãos hábeis e cheias de amor haviam amassado e modelado artisticamente. Sem se cansar, dava ele mais outra demão aqueles que não haviam saído bem. Cada um tinha sua forma e sua cor, sem dúvida, isso conforme à destinação no mundo. Mas, do mais humilde ao mais rico, todos eram lindos, todos bem feitos. Ele nos tinha feito como ele bem queria (…).

“Pode, por ventura, um vaso perguntar ao oleiro: por que me fizes­te assim? Não tem o oleiro poder sobre o barro para fazer da mesma argila um vaso de uso nobre e outro de uso vulgar?” (Rm 9, 20-21).

Ó OLEIRO DIVINO, CRIADOR E PAI, permite que se cumpra em mim a obra que começaste. Seja meu projeto o teu projeto sobre mim!

D. Estevão Bettencourt, osb

Fonte: https://cleofas.com.br/

Amizade, conflito e resiliência relacional

Relacionamento interpessoal (Poder da Escuta)

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

AMIZADE, CONFLITO e RESILIÊNCIA RELACIONAL (Parte 12) 

Ninguém pode afirmar com segurança e despreocupação que tem um amigo garantido e ficar tranquilo. Um amigo não é um objeto e a amizade não é um contrato assinado, mas é uma relação viva, sempre atual e condicionada pelo dinamismo de vida dos sujeitos envolvidos e inseridos em contextos variados. 

Se afirmamos que a amizade é relação entre dois ou mais sujeitos, então naturalmente, ela precisa de cuidado, atenção, vontade, dedicação, zelo, discernimento conjunto. Por outro lado, nas relações humanas sobretudo, na experiência de amizade, nem tudo depende da simples vontade dos indivíduos. Como já vimos no artigo anterior, há princípios, valores, virtudes e atitudes fundamentais que comprovam a existência da Amizade. Há poucos meses uma jovem já madura, acima dos 25 anos, me disse que ama profundamente o seu namorado, mas ele, apesar de declarar amor com palavras, é ciumento, violento e lhe agrediu diversas vezes deixando-a com hematomas pelo corpo. E me perguntava: Por que isso acontece? Naturalmente lhe respondi que é porque não se amam, vivem uma relação doentia! 

O amor não é possessivo, agressivo e nem violento. O amor autêntico não gera dependência deixando o outro vivendo à mercê dos seus impulsos; a amizade não é uma relação por pena de deixar o outro na solidão… isso não é amizade! A amizade é uma qualidade de relação possível somente para pessoas maduras e que querem crescer juntas, e sabem se cuidar! Por isso, uma relação tóxica, fria, sem respeito, nem espírito ético, venenosa e agressiva não está alicerçada no Amor! Nessa situação não pode haver amizade!  

 Amizade e vulnerabilidade afetiva 

Há muitos fatores que influenciam profundamente a qualidade de uma amizade, que podem contribuir para o seu fortalecimento ou para o seu fim e, muitas vezes, há até a passagem brusca, da amizade para uma terrível e violenta inimizade. A vulnerabilidade da amizade, ou seja, a possibilidade de mudanças, é natural porque está condicionada à instabilidade do comportamento humano. Mas isso não é motivo para o fracasso.  

Na relação de amizade há sempre um compromisso de gestão recíproca da relação. Ou seja, o teor da experiência de amizade, depende basicamente da maturidade das pessoas envolvidas, sendo capazes de resolver problemas, conflitos, desentendimentos, frustrações etc. Isso implica o cultivo de muitas virtudes para os envolvidos. Uma séria e madura amizade está sempre alicerçada na rocha de muitas virtudes. Sem a existência de uma teia de virtudes, não conseguimos estabelecer compromissos duradouros com ninguém, seja nas relações de amizade, namoro, noivado, matrimônio, na vida profissional ou em qualquer outro compromisso relacional. Portanto, podemos afirmar que pessoas socioafetivamente imaturas, não são capazes de relações de amizade estáveis e profundas. 

Amizade é relação entre sujeitos diferentes, livres, vulneráveis, passíveis de muitas situações imprevisíveis; mas, ao mesmo tempo, a amizade é relação entre pessoas cheias de recursos e, por isso, capazes de sonhar, querer, lutar, crescer, discernir, perseverar em bons propósitos. Um dos fatores que possibilitam a estabilidade de uma amizade é a questão da formação humana. Quem não amadureceu e nem desenvolveu a sua dimensão socioafetiva, dificilmente terá condições de estabelecer estáveis relações de amizade. Pessoas afetivamente imaturas são possessivas, violentas, agressivas, fechadas, autodefensivas, egoístas, interesseiras, ciumentas, intolerantes, oportunistas, desconfiadas, facilmente interpretam mal gestos, atitudes e palavras.  

Todavia, a experiência da amizade madura, pressupõe um dinamismo profundamente diferente, rico de conteúdos positivos e promotor da formação recíproca, porque está baseada na abertura, na comunicação, no diálogo, na escuta, no perdão, na compaixão, no respeito, na confiança, na correção mútua, na solidariedade, na corresponsabilidade, na compreensão dos limites do outro. 

A experiência da amizade é uma relação entre sujeitos carregados de virtudes, valores, crenças, bem como, de fragilidades, defeitos e tendências negativas. Quem está em busca de um amigo perfeito jamais o encontrará. E mesmo o amigo fiel, não é perfeito! 

Dizia o filósofo Blaise Pascal que o ser humano é como um monte de grandezas e misérias. Considerando essa condição, a realização dos nossos bons propósitos, muito dependerá dos nossos investimentos pessoais de força de vontade, de inteligência relacional, de valores que cultivamos, de virtudes nas quais nos treinamos, de reflexão e discernimento nas variadas circunstâncias da vida. Amizade é vida e, por isso, está sempre inserida numa grande variedade de situações.  

 A experiência da diversidade

Apesar de constituirmos uma única humanidade, todos os seres humanos são diferentes entre si. A experiência da amizade só é possível porque somos diferentes, essa diversidade possibilita o nosso enriquecimento recíproco. Quem procura uma pessoa igual a si mesma, para ser sua amiga, jamais fará a experiência da amizade. Na verdade, esse é um desejo narcisista que tem como intenção uma relação dominadora, possessiva, exploradora. A pessoa narcisista é alguém profundamente apegada a si mesma, que fica sempre projetando sobre os outros a própria imagem e se impondo sobre elas; esse não é o figurino da amizade autêntica, que é encontro de pessoas diferentes, que se acolhem incondicionalmente, se conhecem, se identificam, divergem, compartilham o que pensam, sentem e vivem; se complementam, se respeitam, se corrigem, se ajudam.  

Por outro lado, essa experiência da diversidade também ocasiona a possibilidade do surgimento do conflito, do desentendimento, da frustração nas expectativas pela falta de correspondência. A questão da diversidade humana é ampla; não envolve somente os aspectos físicos, mas diz respeito à dimensão psicológica, afetiva, sexual, mental, religiosa, vocacional, moral, cultural, existencial (experiência de vida) etc. Dessas dimensões ricas de diferenças, temos consequentemente, a diversidade de atitudes e comportamento dos amigos por causa da variedade de crenças, sensibilidades, gostos, interesses, expectativas, modos de entender os valores, convicções religiosas e morais, opções políticas e esportivas, histórias vividas pessoalmente na família e com outros. A experiência da amizade não nega e nem neutraliza aquilo que o outro é (a sua identidade) e nem a sua história.  

 Conflito, reconciliação e resiliência 

No livro do profeta Jeremias encontramos um versículo muito interessante. Deus manifesta a sua convicção de amor para com o povo lhe dizendo através do profeta: “Eu te amo com amor eterno e te reservo misericórdia” (Jr 31,3). O que mais nos chama atenção nesse versículo não é a declaração de amor eterno de Deus para com o povo, mas é o fato de Deus declarar o seu amor eterno considerando a fragilidade do povo. É por isso que lhe reserva a misericórdia, ou seja, o perdão. O fato de Deus amar o povo, não significa negar sua fragilidade e a possibilidade de erros e traição.  

Amar não significa negar os defeitos do outro! Quem faz da pessoa amada um ser perfeito não considerando sua realidade ambivalente, corre o perigo de uma séria frustração. Uma das mais fortes manifestações da fragilidade de uma amizade é o idealismo. A experiência da amizade entre sujeitos perfeitos só acontece na Santíssima Trindade.  

Quanto mais idealizamos os nossos amigos mais corremos o perigo de uma grave frustração por causa da excessiva expectativa e do esquecimento de que o outro é profundamente humano e pode errar. Isso não significa reconhecer suas virtudes e admirá-los. Mas é na experiência da sábia e serena gestão do erro do outro, que podemos dar testemunho da grandeza do nosso amor para com ele. Onde há idealismo amistoso, há também perfeccionismo e intolerância. Pessoas assim, não conseguem estabelecer uma relação de amizade, porque amor e perdão caminham juntos.  

Uma das mais significativas formas de manifestação de maturidade afetiva entre os amigos é a experiência da resiliência, ou seja, quando os amigos são capazes de sofrer, perdoarem-se, reconciliarem-se e restaurar a experiência da Amizade sem ficarem com mágoas recíprocas. A experiência de amizade longeva e madura é consequência da resiliência. Amigos verdadeiros são capazes de testemunhar o amor entre si através do perdão, da paciência, da delicadeza, da reconciliação. Todavia, quando alguém desconsidera a corresponsabilidade na manutenção da amizade, quando há pertinácia em graves erros com a traição da confiança, a violência, prejuízos econômicos e muitas formas de abusos, o fracasso da amizade é inevitável.  

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Por que não é bom idealizar os amigos? 

O que é a resiliência relacional? 

Por que não é admissível a “amizade líquida”?

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Fé e família na nova evangelização (1/3)

Fé e família na nova evangelização | Opus Dei

Fé e família na nova evangelização

Num texto do Magistério sobre a família, o Papa João Paulo II afirmava que “a família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura”.

14/05/2014

Num texto do Magistério sobre a família, o Papa João Paulo II afirmava que “a família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura”[1].

Com estas palavras, o Papa observava como a perda do sentido do compromisso ou do amor que se percebe em alguns ambientes, embaçou progressivamente o valor, a natureza e a missão da família, provocando a desorientação de muitas pessoas.

Trinta anos depois, esta observação continua plenamente vigente e não nos desanima, mas estimula o nosso otimismo humano e sobrenatural.

O Prelado do Opus Dei recorda com frequência “a família precisa urgentemente de que se reafirme o seu humus originário, querido por Deus na criação, que infelizmente os costumes e as leis civis de muitos países se empenham em perverter”[2]. No contexto marcado pelo Sínodo sobre a Nova Evangelização, este é um momento propício para redescobrir o papel fundamental do matrimônio e da família, pois aqui está em jogo o futuro da Igreja e da humanidade.

A família, igreja doméstica

A família é insubstituível para o homem, pois constitui a célula primeira e original da sociedade; nela o homem e a mulher são acolhidos e tratados pela primeira vez como a sua dignidade requer: com amor desde a concepção até a morte, sendo amados pelo que são. É no lar onde cada pessoa aprende a amar e ser amada. O ser humano precisa da família, não só pela sua fragilidade e pela necessidade que tem dos outros para sobreviver, mas principalmente para atingir a sua plenitude.

Partindo destes princípios, se entende por que a qualidade moral do homem e da sociedade está ligada à família. De fato, o homem e a sociedade serão o que a família for. Precisamos urgentemente compreender que o futuro da humanidade passa por esta instituição: ali onde encontra o seu lugar e é protegida, mantendo em segurança a sua natureza, a sociedade consegue promover o desenvolvimento completo e integral dos seus cidadãos. Pelo contrário, onde é atacada e desprezada, o bem comum é danificado. Por isso proteger a família é “uma tarefa de importância capital, em que os católicos coincidimos com pessoas de outras crenças, ou sem religião alguma, conscientes de que a promoção da família – comunhão de amor entre um homem e uma mulher, indissolúvel e aberta à vida – constrói uma coluna insubstituível para a reta orientação da sociedade, e um fundamento importante para que os homens atinjam a maturidade e a felicidade”[3].

A defesa da família não é uma questão religiosa ou privada. O ser humano, o fundamento da sociedade, nasce e se desenvolve na família. Por isso “Nenhum país do mundo, nenhum sistema político pode pensar no seu futuro senão através da imagem destas novas gerações que assumirão dos pais o múltiplo patrimônio dos valores, dos deveres e das aspirações da nação à qual pertencem, e o de toda a família humana”[4]. Por outro lado, a identidade da família cristã não está circunscrita só nisso. Deus quis lhe dar um papel fundamental para a vida da graça e para a relação de cada pessoa com Deus. A Constituição Dogmática Lumen Gentium afirma que nesta espécie de Igreja doméstica “devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um”[5]. A família cristã é uma autêntica 'igreja doméstica': “participa na vida e na missão da Igreja”[6], pois os casais cristãos “não só 'recebem' o amor de Cristo tornando-se comunidade 'salva', mas também são chamados a 'transmitir' aos irmãos o mesmo amor de Cristo, tornando-se assim comunidade 'salvadora'“[7].

Para cumprir esta missão, é necessário um movimento em duas direções, porque só uma família evangelizada, que acolheu o Evangelho e permitiu que frutificasse nos seus membros, pode ser evangelizadora. Por isso em primeiro lugar a igreja doméstica deve acolher em si mesma a mensagem de Cristo: converter-se num lugar onde se aprende a fé, e em que as relações entre as pessoas são vivificadas pela graça de Deus. Deste modo, a família cristã poderá ser luz para os outros homens, e instrumento de Deus eficaz para a nova evangelização.

maio 2013

© CRIS 2013

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[1] Cfr. João Paulo II, Exhort. apost. Familiaris consortio, n. 1.

[2] D. Javier Echevarría, Carta, 2-10-2011, n. 30

[3] D. Javier Echevarría, Carta, 2-10-2011, n. 30

[4] São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 11

[5] Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen Gentium, n. 11

[6] São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 49

[7] São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 49

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Armênia enfrenta ameaça à sua existência 109 anos depois de genocídio

Homenagem a vítimas do gonocídio armênio | KAREN MINASYAN/AFP - Getty Images

Historiadores e ativistas dos direitos humanos marcaram 109 anos do genocídio armênio na semana passada com um alerta de que a Armênia enfrenta mais uma ameaça à sua existência.

A ativista armênia do grupo de defesa da liberdade religiosa Projeto Philos, Simone Rizkallah, disse que “isso parece menos uma lembrança e mais um evento verdadeiramente histórico em que estamos” em entrevista ao EWTN News Nightly na última quarta-feira (24).

O genocídio armênio foi cometido por turcos otomanos em 1915 e matou cerca de 1,5 milhões de cristãos armênios, que apoiaram a Rússia durante a Primeira Guerra Mundial. O Império Turco Otomano lutou ao lado de Alemanha e do Império Austro-Húngaro. Embora o genocídio seja reconhecido por mais de 30 outros países, a Turquia nega a acusação.

O massacre ocorreu há mais de cem anos. Mas o Azerbaijão, outro vizinho muçulmano da Armênia e aliado da Turquia, fez uma tomada violenta da região de Nagorno-Karabakh, e causou a fuga de mais de 100 mil cristãos armênios de suas casas há menos de um ano. O êxodo em massa de armênios étnicos foi considerado um caso de “limpeza étnica” por alguns líderes da comunidade internacional.

Rizkallah teme que, em vez de marcar o fim da agressão do Azerbaijão, Nagorno-Karabakh tenha sido apenas o começo.

“O Azerbaijão e a Turquia continuam agora a ameaçar a Armênia propriamente dita e deixaram bem claro que não vão parar de tomar Artsakh e Nagorno Karabakh, o que já fizeram, mas vão tomar toda a Armênia”, disse ela.

Por que isso importa?

A Armênia é um pequeno país no sul do Cáucaso que tem uma população de aproximadamente 2,9 milhões de habitantes. É um país profundamente religioso e uma dos poucos países cristãos no Oriente Próximo.

Segundo Rizkallah, a Armênia é o país cristão mais antigo do mundo, convertendo-se oficialmente ao cristianismo no ano 301 d.C. Desde então, o povo da Armênia aderiu fortemente ao cristianismo, mantendo a luz da fé na região ao longo dos séculos.

Mas agora, imprensada entre a Turquia e o Azerbaijão, dois países muçulmanos com populações, economias e forças armadas muito maiores, a própria existência da Armênia parece estar ameaçada.

Em outubro passado, o ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, ao qual pertence ACI Digital, que havia “possibilidades reais” de paz com a Armênia “num curto espaço de tempo”.

Na última terça-feira (23), o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, concordou em ceder quatro aldeias fronteiriças ao controle do Azerbaijão. Apesar dos protestos de muitos cidadãos armênios, Pashinyan disse que as concessões eram a única forma de evitar a guerra direta com o Azerbaijão.

Nagorno-Karabakh é um aviso do que está por vir?

A repórter armênia e ativista dos direitos humanos Lara Setrakian disse à CNA que embora a Armênia tenha tentado integrar e abrigar os refugiados de Nagorno-Karabakh, eles vivem em grande parte na pobreza, com “muito pouca esperança de verem as suas casas novamente”, sete meses depois de fugirem de suas casas.

“Algumas dessas pessoas sofreram ferimentos horríveis, muitas perderam familiares. Eles passaram por muita coisa, alguns deles chegaram com sinais de desnutrição. Portanto, a reabilitação destas pessoas tem sido uma tarefa enorme”, disse ela.

O Azerbaijão continua a prender membros da antiga liderança etnicamente Armênia de Nagorno-Karabakh.

O ex-ministro de Estado de Nagorno-Karabakh, Ruben Vardanyan, é um desses prisioneiros, mantido em completo isolamento na capital do Azerbaijão, Baku. Segundo sua família, Vardanyan vem sendo mantido em “condições prisionais cada vez piores”, com muito pouco contato com o mundo exterior.

Setrakian acredita que toda a Armênia se encontra igualmente “numa situação muito difícil”.

Ela explicou que houve um aumento militar “significativo” por parte do Azerbaijão em locais estratégicos ao longo da fronteira dos dois países e disse que a concessão da região de Pashinyan provavelmente não seria a última.

“A Armênia está sendo pressionada pela ameaça da força e pelo uso contínuo da força nas suas fronteiras”, disse ela.

O que acontece a seguir?

Até recentemente, a vizinha Rússia tinha ajudado a manter o equilíbrio de poder na região. Mas em 17 de abril, uma força de manutenção da paz russa estacionada perto da fronteira entre o Azerbaijão e a Armênia desde 2020 retirou-se.

“A Armênia entrou numa fase de fazer concessões e o Azerbaijão tem pedido cada vez mais”, disse ela.

Chegou-se ao ponto de o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, começar a referir-se à Armênia como “Azerbaijão Ocidental” e afirmar que a Armênia “sempre” fez parte do Azerbaijão.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Inteligência Artificial e a Inteligência de Santo Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino (Vatican News)

Percebemos que, para Tomás de Aquino, a teologia é uma ciência rigorosa, que parte da lectio, ou seja, da leitura atenta que busca captar o sentido autêntico do texto bíblico. Entretanto, isso deve levar o leitor à conversão, à oração, à união com Deus e à caridade.

Padre Anderson Alves - Diocese de Petrópolis

J.-P. Torrell, numa excelente biografia sobre Santo Tomás de Aquino, que recomendamos nesse ano, quando celebramos os 750 anos da morte daquele grande santo (Iniciação a Tomás de Aquino. Sua pessoa e obra, Loyola, 1999), fala-nos de como Tomás de Aquino realizava os seus comentários bíblicos, que era a primeira tarefa do professor universitário de teologia na Idade Média.

O seu “Comentário ao livro de Isaias”, primeira obra teológica do jovem “bacharel bíblico” (possuímos um texto autógrafo dessa obra), era dividido em duas partes: a) o comentário literal ao texto, que buscava explicitar a mente do autor, ou seja, o que pensava o autor sagrado ao escrever o texto; b) e, à margem do comentário, havia breves anotações em estilo telegráfico, denominadas posteriormente de collationes, em formas de esquemas e ligadas ao texto principal por traços gerais. A partir de uma frase ou palavra de Isaías Tomás anotava as sugestões que lhe vinham à memória, com vistas da sua aplicação pastoral ou espiritual. As collationes eram compilações da Escritura que inspiram aplicações morais ou espirituais e dizem respeito ao que os medievais chamavam de “sentido místico” da Escritura.

Um exemplo dado por Torrell é o seguinte: Ao comentar Is 48, 17 (“Eu te ensino coisas úteis”), Tomás diz que a palavra de Deus e útil para:

- Iluminar a inteligência, Pr, 6, 23: “O ensinamento é uma luz”;

- Agradar a sensibilidade, Sl 119,103: “Quão doce ao meu paladar tua promessa [tuas palavras]”;

- Inflamar o coração, Jr 20,9: “A palavra do Senhor o inflamou”;

- Retificar a obra, Sl 24,5: “Dirige-me na tua verdade, ensina-me”;

- Obter a glória, Pr 3, 21: “Guarda a ponderação e a prudência”;

- Instruir os outros, 2Tm 3, 16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar...”

Com isso, percebemos que, para Tomás de Aquino, a teologia é uma ciência rigorosa, que parte da lectio, ou seja, da leitura atenta que busca captar o sentido autêntico do texto bíblico. Entretanto, isso deve levar o leitor à conversão, à oração, à união com Deus e à caridade. O último ponto da sua collatio de Tomás afirma que a contemplação da Palavra não é objetivo em si mesmo, mas deve servir para a instrução. A teologia tem uma finalidade prática. Para Santo Tomás, a maior felicidade que o homem pode obter nessa vida é “contemplar e comunicar o contemplado”. Isso o fez escolher a “Ordem dos Pregadores”, fundada poucos anos antes por São Domingos. De fato, os primeiros biógrafos de Tomás dizem que ele aprendeu algo com aquele santo: Santo Tomás “só falava de Deus ou com Deus” (nonnisi cum Deo aut de Deo loquebatur).

E como Tomás fazia essas collationes? A resposta é surpreendente: através de associação de palavras latinas (o que não é percebido nas traduções). Ele buscava citações para cada palavra que teriam causado a sua iluminação. Assim, ao comentar o texto que diz “Eu te ensino coisas úteis”, Tomás procurava na sua memória versículos bíblicos em que apareciam os termos mencionados e ordenava os textos bíblicos de modo esquemático e pedagógico, com o fim de usar isso na sua pregação e conduzir o leitor a Deus.

Ora, essa relação de palavras numa base de dados não é o que o Chatgpt e outros programas similares fazem? O que Tomás fez com muito esforço e dedicação ao longo de muito tempo poderia ser feito agora por programas informáticos em poucos minutos. Isso mostra a genialidade de Tomás de Aquino e como as IAs podem ser bem utilizadas, inclusive em teologia.

Entretanto, uma máquina não reza, não se converte, não pode entrar em comunhão com Deus e com o próximo. Isso é tarefa exclusivamente humana, e usar a tecnologia em benefício do homem, da sua razão, da fé e da vida social, é algo que devemos fazer. A máquina não é capaz de ensinar ética. Somos nós que devemos agir com responsabilidade moral os meios técnicos que podemos construir. Essa tarefa sempre confiada ao homem, e por isso ele é considerado “imagem e semelhança” de Deus.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF