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domingo, 5 de maio de 2024

Reflexão para o VI Domingo da Páscoa (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Mais uma vez o Senhor mostra a liberdade de Deus ao dizer que foi ele quem nos escolheu. E nos escolheu para que fizéssemos o bem e fossemos eternamente felizes.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

“Perdão e caridade: sinais concretos dos filhos de Deus”

A primeira leitura deste domingo nos fala da presença de Pedro e de outros cristãos na casa de Cornélio, um pagão que o convidara para estar com sua família e amigos.

Quando Pedro, ainda um pouco sem jeito começou a evangelizá-los, o Espírito de Deus desceu sobre os pagãos e eles começaram a ter atitudes próprias dos cristãos louvando e bendizendo a Deus.

Pedro percebeu que o dom do Espírito precedeu o batismo e resolveu batizá-los imediatamente.

Esse fato deve servir para nós como uma advertência de que Deus é Pai de todos os homens e não se restringe aos batizados. Ao contrário, o querer ser batizado é responder positivamente ao apelo de Deus. Portanto devemos ter um coração acolhedor que receba todas as pessoas de boa vontade. Não sabemos o que Deus está preparando para eles e nem para nós.

Aliás, o Evangelho de hoje nos conduz a uma atitude muito social. Jesus fala do amor ao outro e o fala se dirigindo não a uma pessoa, mas à Comunidade. É o próprio Cristo que morreu por todos nós, que nos ensinou a rezar o Pai-Nosso e não o Meu-Pai que durante todo o seu discurso se dirige a nós como Comunidade.

Quando nos dirigirmos ao Pai, será ao Pai de Jesus e de todos os cristãos. Ele quer que seus filhos vivam sempre como irmãos.

Mais uma vez  o Senhor mostra a liberdade de Deus ao dizer que foi ele quem nos escolheu. E nos escolheu para que fizéssemos o bem e fossemos eternamente felizes.

A segunda leitura, a 1ª Carta de João, encerra essa verdade ao dizer que “não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e nos enviou seu Filho Jesus”.

Queridos irmãos, amemos os nossos irmãos porque é isso que Deus quer. Que o amor esteja acima de qualquer ofensa, agressão. Que o perdão e a caridade sejam os sinais expressivos de que somos filhos do Pai. Em uma comunidade de amor não deveria haver pessoas excluídas e pessoas carentes, mas pessoas que se amam, que se socorrem, que se perdoam, porque estão cheias de Deus, ungidas por Seu Espírito Santo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Igreja, entre os acontecimentos e a vida quotidiana (2)

Giuseppe De Rita | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 05/2009

A Igreja, entre os acontecimentos e a vida quotidiana

A comunicação prospera nos eventos, mas na vida real a vida cotidiana vence. A Igreja não teria durado se tivesse que viver dos acontecimentos. Em vez disso, ela vivia pela capacidade de permanecer nas coisas cotidianas. O presidente do Censis comenta o livro investigativo A Igreja do “não”.

por Giuseppe De Rita

Pergunto-me: quando os políticos, católicos e não católicos, dão prioridade ao que a Igreja indica, por que o fazem? Será que esses trinta ou quarenta deputados que se alinham com posições próximas do presidente da CEI o fazem por obediência à Igreja, que hoje já não movimenta votos, ou para interceptar uma opinião generalizada, um consenso mais amplo? No caso Englaro, por exemplo, os políticos, o próprio primeiro-ministro, obedeceram ao Vaticano, ou o facto de, segundo eles, o consenso ir no sentido da defesa da vida, contra a eutanásia por decisão do Tribunal de Cassação? Estou convencido de que obedeceram ao consenso que pensavam estar a interceptar. Acredito pouco num Quagliarello ou num Gasparri que demonstrem lealdade à Igreja. Na realidade, o seu instinto político sentiu que desta vez o consenso estava num lado diferente daquele que queria interromper o fornecimento de energia a Eluana. E quando o deputado busca consenso, pode escolher mesmo sem se perguntar se está certo ou errado: a opinião pública me parece estar caminhando em uma direção? Eu a sigo mesmo que pareça que estou sendo papista.

Portanto, a Igreja intervém com base em princípios, mas a política só escuta o que dá consenso.

Uma nota sobre testamentos vitais e eutanásia. Eu, que faço um trabalho que me impede de ter segurança, tenho quase certeza de que a antropologia italiana de longo prazo indica que o italiano médio tem esta crença: não trabalhei duro durante toda a minha vida, por que tenho que trabalhar duro só para morrer? E dentro de dez anos um referendo sobre a eutanásia veria vitoriosos os que são a favor, como aconteceu com o aborto. Mas a liberdade de consciência, promovida pelos leigos, não tem nada a ver com isso, tem a ver com a tendência antropológica italiana de fazer o que se quer porque é mais conveniente. O egoísmo coletivo vence. Na confusão midiática como a atual, em que tudo e o contrário de tudo são verdade, nesta mucilagem do subjetivismo, os princípios são derrotados.
Deste ponto de vista, aquele sobre o testamento vital não é propriamente uma batalha de opiniões, porque é demasiado racional compreender este tipo de subjetivismo antropológico total que permeia a sociedade italiana. Subjetivismo profundo que também define os católicos praticantes. Pensemos na crise do sacramento da confissão: não confesso porque me absolvo, decido o que é pecado, e se não o sinto como tal significa que não o é.

Voltando ao tema, quando uma batalha secular é travada, como acredito que às vezes deve ser feito, ela é travada com base em princípios e acontecimentos: mas os primeiros são conflitantes e os segundos são fracos.

O livro de Politi é um bom livro, mas em alguns aspectos ia. O evento tem setenta manchetes nos jornais, a missa na paróquia nem uma. Mas na vida real o longo prazo vencerá, a vida cotidiana vencerá. A Igreja não teria durado se tivesse que viver dos acontecimentos posteriores ao Imperador Constantino. Vive-se na capacidade de permanecer nas coisas do quotidiano, nas peregrinações penitenciais ao santuário de Montevergine ou de Santiago de Compostela. Mesmo em tempos difíceis, a capacidade de permanecer na vida cotidiana era o que definia os católicos. Qualquer pessoa que tenha lido o livro de Riccardi sobre Roma ocupada pelos nazis em 1943-44 fica impressionado sobretudo com os gestos diários através dos quais a Igreja e os católicos romanos salvaram judeus e os perseguidos. Mas quem não vive o dia a dia vive nos acontecimentos.

Por último: ser católico na Itália é fácil se você “ser” católico. Mas, se você quiser que o seu catolicismo desempenhe um papel de destaque público, você não irá a lugar nenhum. E não estou dizendo isso porque algum ateu devoto tenha ficado de mau humor para agir como ultracatólico, mas porque é da própria forma do catolicismo pensar em termos de não-protagonismo. Um amigo meu, que convidei para a missa dos meus cinquenta anos de casamento, enviou-me um bilhete no qual escrevia uma frase de Rosmini, cujo significado era: lembre-se que você não é nada. Como cartão de felicitações para as bodas de ouro não é muito, mas está certo: o católico não pode ser o protagonista, porque depende de outra coisa. São também mecanismos mentais diferentes: quem quer ser protagonista cria um acontecimento, monta um acontecimento. O católico, por outro lado, sente-se confortável vivendo onde Deus o colocou. A fidelidade quotidiana à própria fé exprime-se por vezes precisamente neste não-protagonismo. Mesmo que desempenhe um papel que o coloque em destaque, ele não faz, ou não deveria, fazer do seu ser católico um elemento de protagonismo. Em vez disso, o que não suporto em alguns leigos é aquele protagonismo orgulhoso que também impede o diálogo. É uma forma de viver diferente: eles querem dominar mais a realidade cotidiana, mas eu me abandono a isso. E na minha opinião, abandonar-se à realidade é melhor do que tentar dominá-la, com um papel que em última análise é frágil, como todos os papéis individuais.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dom Jaime Spengler: “O nosso povo é bom”!

Socorredores - Rio Grande do Sul (AFP or licensors)

A Casa Comum está em crise! A humanidade está em crise! Nós, gaúchos, estamos sofrendo as consequências desta terrível crise. E dessa crise, não há outra saída senão a solidariedade.

Dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil arcebispo de Porto Alegre

Em 2023, algumas regiões do Rio Grande do Sul sofreram terrivelmente com enxurradas. Nestes dias é praticamente todo o Estado que sofre as consequências de chuvas torrenciais, em níveis jamais vistos.

Tais situações podem ser expressão de um grito ‘silencioso’ por socorro que a Mãe Terra esteja bradando aos céus. De fato, não faltam sinais de que o Planeta necessita urgentemente de atenção e cuidado!

Por que tamanhas tragédias? O que elas estariam mostrando? Como seria possível mitigar suas consequências? Estas podem ser algumas possíveis questões a ocupar cientistas, setores políticos, financeiros e empresariais a médio prazo. Elas certamente não podem se converter na tediosa rotina da normalidade, como não raramente acontece, após experiências sociais traumáticas.

A Casa Comum está em crise! A humanidade está em crise! Nós, gaúchos, estamos sofrendo as consequências desta terrível crise. E dessa crise, não há outra saída senão a solidariedade. Urge, pois, engajar-se, apoiar e promover as iniciativas de solidariedade. Não são poucos os que experimentam tempos terrivelmente longos, inquietos e dilacerantes. Em amplas áreas geográficas o cenário é desolador! A solidariedade é testemunho de que é possível superar os desafios. E o nosso povo é bom! A reciprocidade é muito arraigada!

A experiência traumática vivida pelo Rio Grande do Sul requer o esforço de todos na busca do necessário para reconstruir as comunidades necessitadas de auxílio. É oportunidade para superar ideologias, diferenças individuais e grupais, empenhando esforços para atender ao maior número possível dos flagelados. A união dos setores empresarial, financeiro, comercial, político, de ONGs e Igrejas, em sintonia com o Poder Público, pode oferecer um show de solidariedade e eficiência.

O empenho para promover a solidariedade, sobretudo neste momento trágico de nossa história, nos ajude a compreender a urgência de fomentar uma cultura que favoreça a vida para todos e a aprofundar, em nossas consciências, o sentido de pertença comum e de autêntica reciprocidade.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

Santo Ângelo

Santo Ângelo (A12)
05 de maio
Santo Ângelo

Santo Ângelo nasceu em Jerusalém, em 1185. Seus pais eram judeus e se converteram após Nossa Senhora ter avisado Ângelo, durante as orações, que ele teria um irmão, o que lhes parecia impossível porque eram idosos. Mas, isto aconteceu. Os pais de Ângelo receberam o batismo junto com a criança, à qual deram o nome de João.

Desde pequeno Ângelo mostrou ter dons extraordinários, principalmente o dom da profecia e dos milagres. Entrou para a Ordem do Carmo aos 25 anos e durante cinco anos viveu no monte Carmelo, mesmo lugar onde também viveu o profeta Elias.

Foi ordenado sacerdote em 1218, e logo depois foi a Roma para defender os interesses de sua Ordem. Segundo a tradição, Ângelo e os primeiros carmelitas foram para Roma a fim de obterem do Papa Honório III a aprovação da Regra do Carmelo. Em Roma, conheceu Francisco de Assis, de quem previu morte pelo martírio.

Dali partiu para a Sicília, a fim de converter os hereges cátaros que acreditavam que o homem na sua origem havia sido um ser espiritual e para adquirir consciência e liberdade, precisaria de um corpo material, sendo necessárias várias reencarnações para se libertar. Eram dualistas e acreditavam na existência de dois deuses, um do bem (Deus) e outro do mal (Satã), que teria criado o mundo material e mal.

Estas ideias contrariavam a fé católica e foram consideradas heresias. Na Sicília, lutando contra a ideia dos cátaros, Santo Ângelo converteu a amante de um rico senhor que levava vida de pecado. Por vingança, este mandou matá-lo. Santo Ângelo foi morto em 05 de maio de 1220, enquanto pregava na Igreja de São Tiago de Licata. Venerado pela população, logo uma igreja foi erguida no lugar de seu martírio, onde foi sepultado o seu corpo. A Igreja canonizou o mártir Santo Ângelo em 1498. Porém, somente em 1662, as suas relíquias foram transladadas para a igreja dos Carmelitas.

Sua veneração se manteve até os nossos dias, sendo invocado pelo povo e devotos nas situações de suas dificuldades. Os primeiros padres carmelitas da América difundiram a sua devoção, construindo igrejas, nomeando as aldeias que se formavam e expandiram o seu culto, que também chegou ao Brasil.

Textos: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R I Colaboração: Nathália Queiroz de Carvalho Lima

Reflexão:

A fé do cristão deve ser enraizada na história. Mais do que louvores ao Senhor, o serviço ao próximo é parte essencial da vida dos seguidores de Cristo Jesus. Santo Ângelo soube conjugar fé e obras, agindo sempre em favor daqueles mais abandonados e lutando pela verdade da fé na Igreja. Morreu defendendo a justiça. Mereceu a coroa da santidade. Para nós, fica o exemplo de Santo Ângelo, que nos convida a viver a nossa fé com plenitude e fidelidade.

Oração:

Ó Deus de admirável providência, que, no mártir Santo Ângelo destes ao vosso povo pastor corajoso e forte, concedei-nos, pela sua intercessão, ajuda nas tribulações e firme constância na fé. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!


Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 4 de maio de 2024

Chamei-vos amigos (1): Deus tem amigos?

Deus tem amigos? | Opus Dei

Chamei-vos amigos (1): Deus tem amigos?

Deus sempre procurou ativamente a amizade com os homens, oferecendo-nos viver em comunhão com Ele. Nem a fraqueza humana nem o pó do caminho fizeram-no mudar de opinião. Deixar-nos abraçar por esse Amor incondicional nos enche de luz e de força para oferecê-lo aos outros.

19/05/2020

Uma pergunta frequente que provavelmente está nas nossas mensagens do celular é: “Onde você está?” Podemos ter enviado a nossos amigos e familiares, procurando a sua companhia, mesmo à distância, ou simplesmente para imaginar a outra pessoa de um modo mais concreto. Onde você está? O que está fazendo? Está tudo bem? Essa pergunta é também uma das primeiras frases que Deus dirige ao homem, enquanto “passeava no jardim à hora da brisa da tarde” (Gn 3, 8-9). O Criador, desde o início dos tempos, queria caminhar junto de Adão e Eva; poderíamos pensar, com certo atrevimento, que Deus procurava a sua amizade – e agora a nossa – para ver a sua criação plenamente realizada.

Uma novidade que vai in crescendo

Esta ideia, que talvez não seja totalmente nova para nós, causou muitas surpresas na história do pensamento humano. De fato, em uma época de grande esplendor, a impossibilidade de o ser humano vir a ser amigo de Deus tinha sido aceita com resignação. A razão era que entre ambos havia uma absoluta desproporção, são muito diferentes entre si[1]. Pensava-se que poderia haver, no máximo, uma relação de submissão à qual, no melhor dos casos, poderíamos chegar, de longe, através de certos ritos ou conhecimentos. Uma relação de amizade, porém, era inimaginável.

No entanto, a Escritura apresenta, repetidas vezes, a nossa relação com Deus em termos de amizade. O livro do Êxodo não deixa lugar a dúvidas: “O Senhor falava com Moisés face a face, como alguém que fala com seu amigo” (Ex 33, 11). No livro do Cântico dos Cânticos, que apresenta de modo poético a relação entre Deus e a alma que o busca, esta é chamada continuamente “amiga minha” (cfr. Ct 1, 15 e outros). O livro da Sabedoria também indica que Deus “se comunica às almas santas de cada geração e as converte em amigos” (Sb 7, 27). É importante notar que em todos os casos a iniciativa parte do próprio Deus; a aliança que Ele selou com a criação não é simétrica, como poderia ser um contrato entre iguais, e sim assimétrica: foi-nos dada a desconcertante possibilidade de falar cara a cara com nosso próprio criador.

A ESCRITURA ESTÁ CHEIA DE EXEMPLOS QUE MOSTRAM COMO DEUS BUSCA CONSTANTEMENTE FAZER AMIZADE COM OS HOMENS.

Esta manifestação da caridade que Deus nos oferece, a comunicação desta novidade, continuou in crescendo ao longo da história da salvação. Tudo o que nos tinha sido dito por meio da aliança ilumina-se definitivamente com a vida do Filho de Deus na terra: “Deus não nos ama apenas como criaturas, mas como filhos a quem, em Cristo, oferece uma verdadeira amizade”[2]. Toda a vida de Jesus é um convite à amizade com o seu Pai. E um dos momentos mais intensos nos quais nos é transmitida essa boa notícia é durante a Última Ceia. Lá, no Cenáculo, com cada um dos seus gestos, Jesus abre o seu coração para levar a seus discípulos – e a nós com eles – à verdadeira amizade com Deus.

Do pó à vida

O evangelho de São João divide-se em duas partes claras: a primeira se centra na pregação e nos milagres de Cristo, a segunda, em sua paixão, morte e ressurreição. A ponte que as une é o seguinte versículo, que nos faz penetrar no Cenáculo: “Jesus, sabendo que havia chegado a hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1). Lá estavam Pedro e João, Tomé e Felipe, os doze juntos, recostados cada um numa almofada, como era costume na época. Pelos acontecimentos narrados, tratava-se provavelmente de uma mesa de três lados – em forma de U – na qual Jesus, o mais importante, encontrava-se perto de um extremo e Pedro, o que servia, no outro; provavelmente estavam um em frente ao outro. Em determinado momento, Jesus pôs-se de pé para fazer um gesto que talvez a sua Mãe tivesse feito muitas vezes com Ele, e não se tratava da tarefa de quem estava naquele lugar preferencial: cingiu a cintura com uma toalha para tirar o pó dos pés dos seus amigos.

A imagem do pó está presente na Sagrada Escritura desde o início. A história da criação conta que “o Senhor Deus formou o homem do pó da terra” (Gn 2, 7). Para que ele deixasse então de ser algo inanimado, morto e incapaz de relacionar-se, Deus “soprou em suas narinas alento de vida e o homem se converteu num ser vivo” (Gn 2, 7). A partir desse momento, o homem experimentará uma tensão que provém de ser pó e espírito, uma tensão entre os seus limites radicais e os seus desejos infinitos. Mas Deus é mais forte que a nossa fraqueza e que qualquer traição nossa.

Agora, no Cenáculo, o pó volta a aparecer. Jesus se dobra sobre o pó dos pés dos seus amigos, para animá-los, devolvendo-lhes a relação com o Pai. Jesus nos lava os pés e, divinizando o pó de que somos feitos, presenteia-nos com a amizade íntima que tem com o seu Pai. Em meio à emoção que o embarga, com os olhos de todos os seus discípulos fixos nele, diz: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15). Deus quer compartilhar tudo. Jesus compartilha conosco a sua vida, a sua capacidade de amar, de perdoar, de ser amigo até o fim.

NO HOMEM COEXISTEM O PÓ E O ESPÍRITO. DEUS SABE DISSO, E VEM AO NOSSO ENCONTRO.

Todos nós já tivemos a experiência de como as boas amizades nos mudaram; não seríamos talvez os mesmos se não tivéssemos encontrado essas relações em nossa vida. Ser amigos de Deus também transforma nosso modo de sermos amigos dos que nos rodeiam. Assim, como Cristo, poderemos lavar os pés de todos, sentar-nos à mesa de quem nos poderia trair, oferecer o nosso carinho a quem não nos compreende ou inclusive não aceita a nossa amizade. A missão de um cristão no meio do mundo é precisamente “abrir-se em leque”[3], para todos, porque Deus continua infundindo o seu alento ao pó de que somos feitos e atua nessas relações enviando-nos a sua luz.

Deixar-nos levar rumo à comunhão

Vimos que a amizade que Jesus Cristo nos oferece é um ato de confiança incondicional de Deus em nós, que nunca termina. A uma distância de vinte séculos, em nossa existência diária, Cristo nos conta tudo o que sabe sobre o Pai para continuar nos atraindo à sua amizade. No entanto, apesar de que isso não nos faltará, será sempre uma parte, já que “correspondemos a esta amizade unindo nossa vontade à Sua”[4].

Os verdadeiros amigos vivem em comunhão: no fundo da alma querem as mesmas coisas, desejam a felicidade um do outro, às vezes nem precisam utilizar palavras para se entenderem; inclusive dizem que rir das mesmas coisas é uma das maiores manifestações de intimidade. Esta comunhão, no caso de Deus, mais do que um esforço extenuante para cumprir certos requisitos – isso não acontece entre amigos – consiste em estar um com o outro, acompanhar-se mutuamente.

Um bom exemplo pode ser precisamente o de São João, o quarto evangelista: deixou que Jesus se aproximasse dele e lavasse os seus pés, recostou-se tranquilamente no seu peito durante a Ceia e, finalmente – talvez sem compreender plenamente o que estava acontecendo – não deixou o seu melhor amigo, para acompanhá-lo nos maiores sofrimentos. O discípulo amado deixou-se transformar por Jesus Cristo e, assim, Deus foi tirando pouco a pouco o pó de seu coração: “Nesta comunhão de vontades realiza-se a nossa redenção: ser amigos de Jesus, tornar-se amigos de Jesus. Quanto mais amamos a Jesus, quanto mais o conhecemos, tanto mais cresce a nossa verdadeira liberdade”[5].

A COMUNHÃO ENTRE DOIS AMIGOS MANIFESTA-SE, FUNDAMENTALMENTE, NO DESEJO MÚTUO DE ESTAR JUNTOS, DE ACOMPANHAR-SE, DE DEIXAR-SE TRANSFORMAR PELO OUTRO.

Jesus, nessa Última Ceia, mostra-nos que o segredo da amizade está em permanecer com Ele: “Assim como o sarmento não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira, assim também vós se não permanecerdes em mim” (Jo 15,4). É Jesus que quer amar em nós. Sem Ele não podemos ser realmente amigos. “Por muito que ames, nunca amarás bastante”, afirma São Josemaria. Mas imediatamente acrescenta: “Se amas o Senhor, não haverá criatura que não encontre lugar em teu coração”[6].

“Onde estás?” são as palavras que Deus, enquanto passeava por aquela esplêndida criação que havia saído das suas mãos, dirigiu ao homem. Também agora quer entrar em diálogo conosco. Ninguém, nem sequer o mais brilhante dos pensadores, podia imaginar um Deus que pedisse a nossa companhia, que mendigasse a nossa amizade até o extremo de se deixar pregar numa cruz para assim não fechar nunca os braços para nós. Tendo entrado nessa loucura de amor, ver-nos-emos impulsionados, nós também, a abri-los sem condições a todas as pessoas que nos rodeiam. Nós nos perguntaremos mutuamente: Onde você está? Tudo bem? E através dessa amizade poderemos devolver a beleza à criação.

Giulio Maspero e Andrés Cárdenas

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[1] Cfr. Aristóteles, Ética a Nicômaco, 1159a, 4-5

[2] F. Ócariz, Carta pastoral 1/11/2019, n. 2.

[3] Cfr. São Josemaria Sulco, n. 193.

[4] F. Ócariz, Carta pastoral 1/11/2019, n. 2.

[5] Joseph Ratzinger, Homilia na MissaHomilia na Missa Homilia na Missa pro elegendo pontífice, 18/04/2005.

[6] São Josemaria, Via Sacra, VIII estação, n. 5.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Arcebispo critica obsessão do governo espanhol com a Igreja Católica

O arcebispo de Oviedo, Espanha, dom Jesús Sanz Montes | Arquidiocese de Oviedo

"É uma espécie de mantra obsessivo toda vez que precisam de uma cortina de fumaça para distrair dos problemas reais que temos e aos quais eles tão desajeitadamente e insidiosamente aplicam sua tortuosa governança", escreveu o arcebispo de Oviedo, Espanha, dom Jesús Sanz Montes.

Em uma carta intitulada "O Chocalho Acusador", divulgada nesta semana, o bispo responde ao anúncio do governo socialista da Espanha de um plano exclusivo para abordar abusos sexuais e de poder cometidos dentro da Igreja Católica.

Na opinião do arcebispo, o poder executivo do país "tem tentado centrar-se de forma tendenciosa e manipuladora no problema da pedofilia como algo atribuível apenas à Igreja Católica, que representa um destacamento exclusivo e impróprio e deixa a maioria dos que sofreram este terrível flagelo desprotegida".

O arcebispo franciscano encorajou as pessoas a denunciarem "as informações enganosas, tendenciosas ou falsas e a dizerem humildemente o quanto de bem fazemos como comunidade cristã", ao mesmo tempo em que reconhecem os erros, pedem perdão e acompanham as vítimas.

“Os cristãos são chamados a defender as vítimas de abuso, ao assumir nossa responsabilidade no que nos diz respeito, mas pedindo que toda a sociedade também adote medidas apropriadas, a começar pelos líderes governamentais", acrescentou.

Dom Sanz também criticou o poder executivo por falsificar "a identidade da pessoa humana" e destruir "a antropologia em sua identidade masculina e feminina".

O arcebispo acrescentou que o governo propaga uma versão do feminismo que não apenas não erradica a violência sexista injusta contra as mulheres, mas "na verdade a exacerba", juntamente com "uma manipulação perversa pornográfica e obscena que confunde e prejudica crianças e jovens com base na ideologia de gênero".

Dom Sanz prevê que se tais políticas forem mantidas, "a sociedade envenenada e confusa será mais manipulável por aqueles que, a partir de sua amoralidade narcisista e falaciosa, procuram perpetuar-se no poder".

O arcebispo descreveu como "claro" o comunicado da Conferência Episcopal Espanhola (CEE) que rejeita o plano do governo e denuncia que o plano "parte de um julgamento que condena toda a Igreja, feito sem qualquer tipo de garantia legal, uma acusação pública e discriminatória por parte do Estado".

Sanz enfatizou que "não devemos nos deixar identificar com essa falsa história que desfigura a verdadeira obra da Igreja" e pergunta, ao virar o jogo sobre o assunto: "Qual instituição dos atingidos por esse crime levou o assunto a sério? Quem criou gabinetes de acolhimento e apoio, educou seus membros e colaboraram ativamente com o Ministério Público?"

"A imputação arbitrária é inaceitável"

O arcebispo lembrou aos fiéis que o problema do abuso sexual de menores na Espanha é um problema no qual o clero católico e os religiosos representam uma ínfima parte de 0,2%. O número é de um estudo da Fundação Anar, especializada na proteção de crianças, que detalha que, entre 2008 e 2009, 0,2% dos mais de 6 mil casos de abuso denunciados podem ser atribuídos a padres e religiosos.

Segundo a fundação que atua na prevenção do abuso infantil, os pais representaram o maior número de abusadores, totalizando 23,3%. Companheiros ocuparam o segundo lugar entre os abusadores de menores, com 8,7%, enquanto os amigos representam 5,7% e os companheiros, namorados ou namoradas representam 5,6%.

O arcebispo de Oviedo concluiu rejeitando como inaceitável "a acusação arbitrária que só incide sobre nós, tendo uma percentagem criminal tão baixa, com toda uma série de medidas legais, fiscais, econômicas e sociais", acrescentando: "Do que é que aqueles que continuam neste jogo sujo querem encobrir ou distrair? ' Cui prodest?', disse o filósofo Sêneca ['Quem se beneficia?', em latim]."

Fonte: https://www.acidigital.com/

A Igreja, entre os acontecimentos e a vida quotidiana (1)

Giuseppe De Rita | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 05/2009

A Igreja, entre os acontecimentos e a vida quotidiana

A comunicação prospera nos eventos, mas na vida real a vida cotidiana vence. A Igreja não teria durado se tivesse que viver dos acontecimentos. Em vez disso, ela vivia pela capacidade de permanecer nas coisas cotidianas. O presidente do Censis comenta o livro investigativo A Igreja do “não”.

por Giuseppe De Rita

 

Marco Politi, A Igreja do “não”. Investigações sobre italianos e liberdade de consciência | 30Giorni

No dia 29 de Abril de 2009, foi apresentado em Roma o último livro de Marco Politi, A Igreja do "não", uma viagem de investigação ao mundo eclesiástico, científico, médico, político, teológico e jurídico, em que o autor coloca algumas questões: tem o A Igreja na Itália disse muitos “não” na última década? Nas relações com o Estado tem havido transbordamento de autoridade eclesiástica e interferência contínua nos processos legislativos? Do caso Welby à morte de Eluana Englaro, da relação com a ciência à lei da procriação assistida, o livro de Politi publicado pela Mondadori reúne muitos temas e testemunhos heterogéneos. Giuseppe De Rita, secretário geral do Censis, que há muitos anos estuda a profunda dinâmica da sociedade italiana, também falou na apresentação do livro em Roma. Publicamos seu discurso abaixo pelo que ele sugere. Duas questões. Primeiro: em nome de que é que a Igreja faz “incursões” no civil? Segunda: qual é o critério que os políticos, católicos e não católicos, seguem para buscar o consenso? Se estas duas questões não forem abordadas, ficamos a discutir se teria sido correto ter dado a Welby um funeral religioso, se o fim de Englaro foi justo ou injusto, se a Igreja bloqueou a lei sobre as uniões de facto com interferência indevida, mas sem sempre saindo do evento como tal. Nego totalmente a importância dos acontecimentos na sociedade italiana. É a comunicação que vive dos acontecimentos, não da sociedade italiana. Infelizmente – digo isto como um bom católico educado muito secularmente – é a cultura secular que muitas vezes gere o acontecimento, que prefere o acontecimento, pensando que o acontecimento modifica uma determinada realidade. O acontecimento (seja uma sigla como Pacs, ou Dico, seja uma morte como a de Welby ou a de Englaro, seja uma manifestação pública na Praça de São Pedro) torna-se um momento que a comunicação propõe como, de alguma forma, determinante . Mas isto é um mal-entendido da antropologia da sociedade italiana, que na realidade não acredita nos acontecimentos. Acredite nas manchetes, sim: durante quatro meses acreditávamos que vivíamos a mais grave crise económica do mundo, agora descobrimos que não era bem assim. Então, talvez aqueles que continuaram a viver e a trabalhar tenham se saído bem. Na vida moral de cada um de nós não contam os grandes acontecimentos, o que conta é a fidelidade diária a quem somos e ao que pensamos.

No entanto, a Igreja reage diante de um acontecimento, mesmo que a dialética baseada nos acontecimentos crie um contraste inevitável e por vezes desejado. Na minha opinião, a Igreja prejudica, porque o acontecimento deve ser deixado sozinho, não deve ser dramatizado, não deve ser considerado um momento de transformação social. Porque os eventos nunca existiram, exceto os planetários, como as guerras mundiais. Não conheço muitos italianos que, por exemplo, vivam aterrorizados porque as medidas não foram tomadas. Eu digo: adaptámo-nos, esta é a realidade. O evento cava para si a cova onde será enterrado no dia seguinte. Reagir ao acontecimento cria inevitavelmente outro acontecimento, que se opõe ao primeiro acontecimento, mas não escapa a esta dialética.

Portanto, tendo esclarecido que para mim é um erro a Igreja intervir, uma vez que um determinado tema foi colocado como um acontecimento decisivo na civilização deste país - o Pacs, o Dico, ou a lei da inseminação artificial - o presidente da Conferência Episcopal [na época ainda era o Cardeal Ruini, ed. ] como deveria intervir? Dizendo: “Faça o que quiser”? Se o evento deve ser combatido, deve ser feito com base em princípios: se acredito que algo é certo ou injusto, eu o afirmo. Fui educado pelos meus professores, todos seculares, que antes de me comportar de determinada forma devo me perguntar se isso é certo ou injusto. Então, por que devo negar à Igreja a possibilidade de afirmar um princípio? Me dirão que é uma invasão. Mas por que deveria ser uma invasão de campo dizer que algo está certo ou não? Além disso, considero útil, numa sociedade onde a desorganização até mesmo dos líderes é total, que não seja apenas a senhora Lario quem tem o direito de dizer que somos desorganizados, mas que a Igreja também o pode fazer.

E não houve invasão mesmo quando o Cardeal Ruini se concentrou no abstencionismo para o referendo da lei 40: nesse caso foi uma avaliação baseada no conhecimento da antropologia social, tendo em conta que os italianos não teriam ido votar a lei que regulamenta inseminação artificial, por considerá-lo um tema muito complicado. E se não houvesse manobras palacianas não vejo invasão de campo. É diferente se houver pressão sobre os deputados, se a Igreja chantagear o primeiro-ministro ou o presidente de uma comissão parlamentar. Contudo, aqui entramos no segundo tema com o qual abrimos a nossa análise: o consenso político.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O Papa: com os jovens casais gerar pequenas Igrejas domésticas

Papa Francisco com jovens casais (Vatican Media)

“Recomeçar a partir das novas gerações: gerar muitas pequenas Igrejas domésticas onde se vive um estilo de vida cristão, onde se sente familiarizado com Jesus”. É o pedido do Papa Francisco aos responsáveis do Movimento Internacional Équipes Notre-Dame que foram recebidos neste sábado (04) no Vaticano.

Vatican News

Na manhã deste sábado (04/05) o Papa recebeu os responsáveis pelo Movimento Internacional "Équipes Notre-Dame". Em seu discurso Francisco destacou dois pontos de reflexão com o Movimento que se dedica às famílias para que vivam o matrimônio cristão como um dom. A primeira dedicada aos casais recém-casados e a segunda sobre a importância da corresponsabilidade entre cônjuges e sacerdotes dentro do movimento.

Depois de afirmar que acompanhar os casais de perto nas dificuldades da vida e em seu relacionamento conjugal, disse que o movimento é a expressão da Igreja "em saída". “Acompanhar os casais, hoje”, disse o Papa “é uma verdadeira missão! Proteger o casamento, de fato, significa proteger toda uma família, significa salvar todos os relacionamentos gerados pelo casamento”. Em seguida continuou:

“Vejo hoje uma grande urgência: ajudar os jovens a descobrir que o matrimônio cristão é uma vocação, um chamado específico que Deus dirige a um homem e a uma mulher para que eles possam se realizar plenamente sendo geradores, tornando-se pai e mãe e trazendo ao mundo a Graça de seu Sacramento”

Casamento com a presença de Cristo

Explicando que “hoje em dia, acredita-se que o sucesso de um casamento depende apenas da força de vontade das pessoas. Não é assim” disse. Acrescentando que o casamento é um "passo de três vias", no qual “a presença de Cristo entre os cônjuges torna a jornada possível, e o jugo é transformado em um jogo de olhares: olhar entre os cônjuges, olhar entre os cônjuges e Cristo. É um jogo que dura a vida inteira, no qual todos ganham juntos se cuidarem de seu relacionamento, se o valorizarem como um tesouro precioso”.

Casais recém-casados

Francisco disse que gostaria de deixá-los com duas breves reflexões: a primeira diz respeito aos casais recém-casados.  É importante que os recém-casados possam vivenciar uma mistagogia nupcial, que os ajude a experimentar a beleza de seu Sacramento e a espiritualidade como casal. Acrescentou que “muitos se casam sem entender o que a fé tem a ver com sua vida conjugal, talvez porque ninguém tenha testemunhado a eles antes do casamento”. Incentivou os presentes a ajudá-los “em um caminho 'catecumenal' de redescoberta da fé, tanto pessoalmente quanto como casal, para que, desde o início, eles possam aprender a dar espaço para Jesus e, com Ele, serem capazes de cuidar de seu casamento”.

“Devemos recomeçar a partir das novas gerações para a Igreja dar novos frutos: gerar muitas pequenas Igrejas domésticas onde se vive um estilo de vida cristão, onde se sente familiarizado com Jesus, onde se aprende a ouvir as pessoas ao nosso redor como Jesus nos ouve”

Cônjuges e sacerdotes

A segunda reflexão do Papa foi sobre a importância da corresponsabilidade entre cônjuges e sacerdotes dentro do Movimento. “Vocês compreenderam e vivem concretamente a complementaridade das duas vocações”, afirmou Francisco, “eu os encorajo a levá-la às paróquias, para que os leigos e os sacerdotes descubram sua riqueza e necessidade. Isso ajudará a superar o clericalismo que torna a Igreja menos frutífera: cuidado com o clericalismo... Também ajudará os cônjuges a descobrir que, por meio do matrimônio, são chamados a uma missão”. 

Por fim o Papa concluiu recordando aos presentes:

“Sem comunidades cristãs, as famílias se sentem sozinhas e a solidão dói muito! Com seu carisma, vocês podem ser ajudantes atentos aos necessitados, aos que estão sozinhos, aos que têm problemas em suas famílias e não sabem com quem falar porque têm vergonha ou perderam a esperança”

“Em suas dioceses”, disse ainda, “vocês podem fazer com que as famílias compreendam a importância de se ajudarem mutuamente e de trabalharem em rede; construam comunidades onde Cristo possa ‘habitar’ nos lares e nos relacionamentos familiares".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Floriano

São Floriano (A12)
04 de maio
São Floriano

Floriano nasceu em Zeiselmer, povoado da Alta-Áustria, no século III. Era oficial romano, administrador militar servindo numa legião imperial da região do Rio Danúbio, em Nórica (atualmente parte da Áustria e da Alemanha).

rápida disseminação do Catolicismo no Império Romano ocorreu em parte pela sua boa rede de estradas e pelo envio de soldados para as diversas áreas do império. Muitos militares se converteram, entre eles Floriano.

Nesta época ocorria a duríssima perseguição de Dioclesiano aos cristãos, que incluía a morte para os que não renegassem o Cristo e sacrificassem aos deuses pagãos, bem como a destruição de qualquer escrito da Palavra de Deus. Juntamente a 40 soldados, Floriano declarou-se cristão a Aquilino, comandante militar no vale do Rio Danúbio, em Lorch (atual Áustria); foi agredido a pauladas e teve arrancada a carne das espáduas.

Mas, não renunciando à Fé ele e os demais, foram todos condenados à morte. A sentença cumpriu-se com os condenados sendo atirados do alto de uma ponte ao rio Enns, próximo a Lorch, com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço, em 4 de maio de 304.

Seu corpo foi levado pelas águas, recolhido numa margem por cristãos e enterrado num local que no século VIII foi doado à Igreja por um presbítero, Reginolfo, que incluía as terras “do lugar aonde foi enterrado o precioso mártir Floriano".

Em 1138, o rei polaco Casimiro e o bispo Gedeão, de Cracóvia, pediram ao Papa Lúcio III a doação de algumas relíquias de mártires, seguindo entre elas as de São Floriano; por este motivo, ele é padroeiro da Polônia, e também de Linz no norte da Áustria, e ainda outros países da Europa Central.

Seu culto foi muito divulgado, especialmente entre soldados, na Idade Média. É também invocado contra os incêndios, sendo padroeiro dos bombeiros europeus e norte-americanos, pois ele teria criado um destacamento de legionários, conhecido como “combatentes do fogo”, para apagar os constantes incêndios nas modestas construções de acampamento. Sua imagem o representa embraçando um recipiente de onde a água cai sobre habitações queimando.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Pode-se dizer que São Floriano viveu e morreu na sua própria “casa”, hoje Áustria, ainda que sob o Império Romano; o mesmo se aplica a nós, que devemos viver, neste mundo, na nossa “casa” – mais ainda, “Corpo”, Místico e também material – que é a Igreja, e na qual queremos permanecer igualmente para sempre. Isto implica em que devemos combater, como num verdadeiro exército, as pressões mundanas e despóticas que nos querem afastar de Deus e consequentemente de nós mesmos, que somos Sua imagem e semelhança. A água do Batismo que caiu sobre cada um de nós deve constantemente apagar as chamas do pecado que nunca deixarão de nos tentar consumir durante o nosso serviço, neste posto avançado que é a terrena existência, e o apoio mútuo entre as legiões de Cristo deve formá-las, à semelhança de Nossa Senhora, “como um exército em ordem de batalha” (cf. Ct 63.9). Não poucos foram os mártires cristãos entre os legionários romanos, e como eles é preciso militar na obediência antes a Deus do que aos homens (cf. At 5,28-30).

Oração:

Senhor, Deus dos Exércitos, concedei-nos pela intercessão de São Floriano, e seus companheiros mártires, a união na Vossa obediência, e a graça de administrar as nossas vidas na lógica da conversão diária e perseverante, de modo a que em qualquer momento e situação, nas pequenas ou decisivas situações, tenhamos o destemor de confessar a Fé por obras e palavras, para a Vossa glória, o bem dos irmãos, e a nossa salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Melquisedec: sacerdote e rei

Melquisedec: rei de Salém | Catequistas Brasil

Melquisedec: sacerdote e rei

Etim. Hebraica: meu rei (é) (o deus) Sedec

ANTIGO TESTAMENTO

O nome aparece duas vezes. Gn 14, 18-20 afirma que esse personagem é o “rei de Salém” (nome da Jerusalém primitiva), sacerdote de El-Elyôn, “o Deus Altíssimo, Criador do céu e da Terra” (divindade suprema  do panteão cananeu, adorada nesta cidade). Em nome de seu deus, ele abençoa Abraão que lhe apresenta o dízimo. E depois, o Sl 110, 4 cita um oráculo associando em Melquisedec sacerdócio e realeza.

Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho; ele sacerdote do Deus Altíssimo, Ele pronunciou esta bênção: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo que entregou teus inimigos entre tuas mãos.” E Abrão lhe deu o dízimo de tudo. (Gn 14, 18-20)

As frases do Gênesis interrompem o contexto: o diálogo entre Abraão e o rei de Sodoma. Estamos portanto diante de uma tradição relativamente tardia, destinada a estabelecer relação entre Jerusalém e Abraão. O patriarca recebeu a bênção do deus venerado em Jerusalém: este deus lhe deu o domínio sobre seus inimigos e suas riquezas. A bênção lhe foi transmitida pelo sacerdote do santuário a quem Abraão respeitosamente ofereceu uma parte dos seus bens.

Esta relato deve então ter servido, primeiro, para realçar o sentido – e, por conseguinte, justificar – da tomada de Jerusalém por Davi e da elevação desta cidade e de seu santuário, de origem jebuseia, ao status de capital do reino e do santuário nacional (o autor vê neste fato o cumprimento da bênção dada a Abraão); e, em segundo lugar, para justificar a manutenção do sacerdote Sadoc (que tem o nome do deus cananeu Sedec e devia ser o seu sacerdote) ao lado de Abiatar, há muito tempo companheiro sacerdotal de Davi (1Sm 22, 21-23. Descendente do remoto antepassado Melquisedec, que Abraão tinha honrado e cuja bênção aceitara, este sacerdote Sadoc parece um autêntico javista. O versículo 4 do Sl 110 pode então ser lido como o eco de uma frase real, dirigida por Davi ao sacerdote Sadoc, para afirmar a legitimidade javista daquele que era “sacerdote como Melquisedec”.

Iahweh jurou e jamais desmentirá: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec”. (Sl 110, 4)

NOVO TESTAMENTO

É com extrema liberdade que os autores utilizam as duas alusões veterotestamentárias a Melquisedec. Essa liberdade é um prolongamento daquela com a qual o judaísmo comentara o significado desta antiga personagem. A Igreja vê portanto em Melquisedec uma figura de Jesus Cristo, e por diversos motivos.

Melquisedec era sacerdote e rei. Cristo é sacerdote “como Melquisedec”, por unir em sua pessoa, como ele, sacerdócio e realeza (Hb 5, 6.10; 6, 20). Melquisedec é mencionado no Gênesis sem que se diga uma palavra de seus ancestrais; ao contrário, os sacerdotes judeus se orgulham de sua ascendência aarônica, que serve de fundamento a suas funções. Cristo, estranho a sua linhagem sacerdotal, que é a única habilitada para o exercício do sacerdócio, é portanto sacerdote por vocação divina e não por descendência, e nisso é também semelhante ao rei de Salém. O sacerdócio desse rei, estranho à linhagem de Aarão, foi reconhecido e venerado por Abraão, o próprio ancestral de Aarão. Mediante esse antepassado remoto, os aarônidas venceram então o sacerdócio de Melquisedec, imagem do sacerdócio de Cristo. De maneira semelhante, o sacerdócio de Cristo deve ser reconhecido e venerado por todos os filhos de Aarão e até mesmo por todos os descendentes de Abraão.

Este Melquisedec é, de fato, rei de Salém, sacerdote de Deus Altíssimo. Ele saiu ao encontro de Abraão quando esse regressava do combate contra os reis, e o abençoou. Foi a ele que Abraão entregou o dízimo de tudo. E o seu nome significa, em primeiro lugar, “Rei de Justiça”; e, depois, “Rei de Salém”, o que quer dizer “Rei da Paz”. É assim que se assemelha ao Filho de Deus, e permanece sacerdote eternamente. (Hb 7, 1-2.3b)

Fonte: Dicionário Bíblico Universal – Págs. 511/512 – Ed. Santuário, Aparecida-SP -SP e Ed. Vozes, Petrópolis-RJ - 1997

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF