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segunda-feira, 6 de maio de 2024

Educar o desejo

Educar o desejo (juliacoach)

EDUCAR O DESEJO

Dom Leomar Antônio Brustolin  
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Temos um estilo de vida tão frenético que somos quase impedidos de meditar, refletir e até de rezar como precisamos. Muitas palavras perderam sua força, e nosso mundo se tornou prolixo demais. Somos inundados por uma torrente de palavras vazias. Muitas vezes nos encontramos numa rede de debates, discussões e argumentos que mais nos distraem da verdade e nos fazem cair em radicalismos que são desmascarados pelos fatos. 

Nossos percursos individualistas já não conseguem equilibrar as pessoas e os contextos que conhecemos. Reclama-se da crise de valores, mas esquece-se das questões comunitárias e públicas, preferindo que cada experiência individual seja eterna enquanto dure.   

Atualmente a necessidade transformou-se em escolha, porque o indivíduo, livre de tradições e controle social, começa a autoconceber-se como uma divindade, moldando a realidade de acordo com seus próprios desejos.  Na expansão do desejo vale o que o ser humano tem e não o que é. Hoje se deseja tudo e ao final se consome até os desejos. Um sonho de consumo, aos ser consumido, é um sonho consumado.  

O desejo de ter é legítimo, mas corre o risco de tornar-se uma forma de egoísmo refinado. O uso cada vez mais intenso das drogas revela como o humano quer dilatar o tempo do prazer, mesmo que seja uma felicidade artificial. Importante é buscar um momento de fuga da realidade e adentrar numa sensação de excitação e força.  

Urge passar dessa dilatação do desejo para a educação do desejo. Este, semanticamente se origina de de-sidera, isto é, originado nas estrelas. Com isso, desejar é buscar as alturas, o céu, a espiritualidade, para além dos limites deste mundo.  

Perder o desejo das coisas do alto é perder o sentido de eternidade. Hoje muito se fala em necessidade de espiritualidade, quase virou moda ter uma espiritualidade sem religião, ou pior, quase antagonizando uma à outra. Ocorre que não se busca uma espiritualidade educada, como uma necessidade humana, mas é vista muito mais como um desejo a ser gratificado. Acaba-se consumindo espiritualidade. Que fica restrita à horizontalidade e carece do sentido da graça e da noção de pecado.  

Educar o desejo significa dirigir o coração e os sentimentos para o alto, para a origem da vida e a fonte do sentido. Trata-se de ordenar os sentimentos para cultivar ideais possíveis, no respeito ao limite. 

Para os cristãos, educar para o desejo é trabalhar por uma ética do sacrifício que é motivada pela fé de que Deus recompensará até mesmo um copo de água dado com amor. Essa recompensa não está no tempo, mas além do tempo, porque a história para o cristão, não é o horizonte último nem o tribunal definitivo.  

Ora, não basta ser religioso para ser cristão, mesmo que ser cristão leve a ser religioso. Os ideais do Evangelho são superiores aos valores imanentes e a convivência civil.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

REGINA CAELI: A oração do Papa pelos gaúchos

Papa Francisco reza pelos gauchos (Vatican News)

Papa recorda durante o Regina Caeli o drama vivido peça população do Rio Grande do Sul. A Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou ao menos 55 mortes, 74 desaparecidos e 107 feridos até este sábado (4) em meio às fortes chuvas que atingem o estado. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, se manifestou ao Vatican News.

https://youtu.be/p-EHFzakgg8

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Ao final do Regina Caeli deste domingo, 5 de maio, Francisco manifestou sua solidariedade aos afetados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul com essas palavras:

"Quero assegurar a minha oração pelas populações do Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, atingidas por grandes inundações. Que o Senhor acolha os mortos e conforte os familiares e quem teve que abandonar suas casas."

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou ao menos 55 mortes, 74 desaparecidos e 107 feridos até este sábado (4) em meio às fortes chuvas que atingem o estado.  Ao todo, já são 317 municípios afetados devido aos temporais. As pessoas que estão em abrigos já somam 13.324, enquanto 69.242 estão desalojadas.  Já a população afetada pelo evento meteorológico soma 510.585 pessoas…

Ao Vatican News, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, assim se manifestou:

"A situação realmente é caótica. Temos várias vilas, bairros completamente debaixo d'água. A cidade de Eldorado do Sul praticamente toda debaixo d água. Em Canoas nós tivemos essa noite que evacuar mais de cinquenta mil pessoas. O Exército, a Defesa Civil, o pessoal das nossas comunidades, gente de fora do Estado, enfim, é muita gente colaborando. Ainda existe muita gente em cima de telhado de casas, até mesmo árvores, esperando por socorro. Parece que o Guaíba parou de subir agora. No entanto, ele vai permanecer por vários dias com nível alto. Vários bairros da cidade de Porto Alegre também estão debaixo d'água. O nosso centro administrativo também foi tomado pela água.  Enfim, várias igrejas... é realmente uma situação jamais vista não só aqui na nossa região, mas em todo o Estado."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Domingos Sávio

São Domingos Sávio (A12)
06 de maio
São Domingos Sávio

Domingos Sávio nasceu em 2 de abril de 1842, em Turim, na Itália e morreu de uma doença incurável quando tinha pouco mais de 15 anos. Ele é padroeiro das mulheres grávidas e dos cantores infantis.

Seus pais eram camponeses muito pobres, mas cristãos muito devotos. Domingos cresceu querendo ser sacerdote e santo.

Foi aceito no colégio de Dom Bosco em Valdocco para estudar e assumiu para si a espiritualidade salesiana, marcada por uma vida alegre e responsável. Ele fazia trabalhos simples como varrer o chão e tinha especial paciência e cuidado com os jovens mais travessos.

Quando fez a primeira comunhão ele disse: “Confessarei e comungarei com frequência, meus amigos serão Jesus e Maria, antes morrer do que pecar”.

No dia 8 de dezembro de 1854, quando foi proclamado o dogma da Imaculada ConceiçãoDomingos Sávio se consagrou a Nossa Senhora, para confiar a ela o seu caminho de santidade. Em 1856, fundou a "Companhia da Imaculada", uma ação apostólica de grupo, na qual junto com seus amigos, rezavam e cantavam para a Virgem Maria.

Na biografia de Domingos Sávio escrita por São João Bosco ele narra que em várias ocasiões viu Domingos extasiado depois de receber a Comunhão.

Certa vez Domingos pediu a Dom Bosco a permissão para ir a sua casa. Seu formador lhe perguntou o motivo e o jovem respondeu: “Minha mãe está muito delicada e a Virgem quer curá-la”.

Dom Bosco perguntou de quem tinha recebido notícias e Domingos respondeu que de ninguém, mas que ele sabia. O sacerdote, que já conhecia seus dons, deu-lhe dinheiro para a viagem.

Sua mãe estava grávida e com fortes dores e a criança com dificuldade de nascer, ambos poderiam morrer, quando o jovem chegou para vê-la, abraçou-a fortemente, beijou-a e lhe deu um escapulário, depois foi embora. O bebê nasceu bem e sua mãe recuperou a força.

Tempo depois, Domingos disse à sua mãe que conservasse e emprestasse aquele escapulário às mulheres grávidas que necessitassem. Assim se fez e muitas afirmavam ter obtido graças de Deus com a ajuda do escapulário de Nossa Senhora.

Domingos tinha dons espirituais extraordinários, reconhecia a necessidade das pessoas e conseguia profetizar o futuro.

Ele foi diagnosticado com tuberculose. No dia 9 de março de 1857, Domingos, pediu ao pai para rezar com ele, terminada a oração, disse estar tendo uma linda visão e morreu.

Domingos Sávio tinha dois sonhos na vida, tornar-se padre e alcançar a santidade. O primeiro não conseguiu porque a terrível doença o levou antes, mas o sonho maior foi alcançado com uma vida exemplar.

Ele foi canonizado em 1957 pelo Papa Pio XII que o definiu como "pequeno, porém um grande gigante de alma". Suas relíquias são veneradas na basílica de Nossa Senhora Auxiliadora, em Torino, Itália, perto das de São João Bosco. A sua festa foi marcada para o dia 6 de maio.

Textos: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R I Colaboração: Nathália Queiroz de Carvalho Lima

Reflexão:

São Domingos Sávio mostra-nos na sua pequena trajetória de vida, que se cultivarmos o amor a Deus, o amor e o respeito ao próximo e a tolerância com alguns contratempos, poderemos evitar diversos acontecimentos dramáticos como os que vem acontecendo nas escolas, alunos agredindo professores, brigando entre si, crianças e adolescentes sem limites e sem horizontes na vida. Que a vida de São Domingos Sávio inspire muitos jovens a buscar a verdadeira felicidade que é viver uma vida de entrega e amor a Deus e aos irmãos, aspirando sempre a santidade.

Oração:

São Domingos Sávio, que com sua firme resolução "quero ser santo" obteve na juventude o esplendor da santidade, obtenha também para nós a perseverança nas boas resoluções para fazer de nossas almas o templo vivo do Espírito Santo e merecer um dia a bem-aventurança eterna no céu. Que assim seja, Amém!


Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 5 de maio de 2024

De que depende o sucesso de um casamento? Papa Francisco responde

As Equipe de Notre-Dame foram reconhecidas pela Associação Católica Internacional do Vaticano em 1975 | Foto;Vatican Media

Discurso aos líderes internacionais do Movimento Equipes Notre-Dame

04 de Maio 2024

(ZENIT Notícias / Cidade do Vaticano, 04.05.2024).- Na manhã de sábado, 4 de maio, o Papa Francisco recebeu em audiência os líderes internacionais do Movimento Equipes Notre-Dame. É um movimento da Igreja Católica que reúne casais que desejam vivenciar plenamente as riquezas do sacramento do matrimônio. As Equipes de Notre-Dame foram reconhecidas pela Associação Católica Internacional do Vaticano em 1975 e pela Associação Internacional Privada dos Fiéis em 2002. Oferecemos uma tradução em espanhol do discurso do Papa. A tradução é nossa.

Tenho o prazer de conhecer vocês, líderes internacionais do Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Obrigado por terem vindo e, acima de tudo, obrigado pelo seu compromisso com as famílias.

Sois um movimento em crescimento: milhares de Equipas espalhadas pelo mundo, muitas famílias que tentam viver o matrimónio cristão como dom.

A família cristã atravessa uma verdadeira “tempestade cultural” neste tempo de mudança e é ameaçada e tentada em muitas frentes. O vosso trabalho, portanto, é valioso para a Igreja. Acompanhais de perto os casais para que não se sintam sozinhos nas dificuldades da vida e na sua relação conjugal. Desta forma, sois expressão da Igreja «em movimento», próxima das situações e dos problemas das pessoas e comprometida sem reservas com o bem das famílias de hoje e de amanhã.

Acompanhar os casamentos é hoje uma verdadeira missão . Com efeito, salvaguardar o matrimónio significa salvaguardar uma família inteira, significa salvar todas as relações que se geram no matrimónio: o amor entre os cônjuges, entre pais e filhos, entre avós e netos; Significa guardar aquele testemunho de um amor possível e eterno, no qual os jovens têm dificuldade em acreditar . Os filhos , de fato, precisam receber dos pais a certeza de que Deus os criou por amor e que um dia também eles poderão amar e se sentir amados como mamãe e papai. Tenham a certeza de que a semente do amor, depositada em seus corações pelos seus pais, brotará mais cedo ou mais tarde .

Vejo hoje uma grande urgência: ajudar os jovens a descobrir que o matrimónio cristão é uma vocação, um chamamento específico que Deus dirige ao homem e à mulher para que possam realizar-se plenamente, sendo geradores, tornando-se pais e mães, e trazendo para ao mundo a Graça do seu Sacramento . Esta Graça é o amor de Cristo unido ao do casal, a sua presença entre eles, é a fidelidade de Deus ao seu amor: é Ele quem lhes dá a força para crescerem juntos todos os dias e permanecerem unidos.

Hoje pensa-se que o sucesso de um casamento depende apenas da força de vontade das pessoas. Não é assim. Se assim fosse, seria um fardo, um jugo colocado sobre os ombros de duas pobres criaturas. Já o casamento é um “passo a três”, em que a presença de Cristo entre o casal torna possível o caminho, e o jugo se transforma num jogo de olhares: um olhar entre o casal, um olhar entre os casal, noivos e Cristo . É um jogo que dura a vida toda, no qual venceremos juntos se cuidarmos do relacionamento, se o valorizarmos como um tesouro precioso, ajudando-nos mutuamente a atravessar a cada dia, mesmo na vida conjugal, aquele caminho que é Cristo. Ele disse: “Eu sou a porta: quem entrar por mim será salvo” (Jo 10,9). E por falar em aparência, uma vez, num Tribunal Geral, havia um casal, casado há 60 anos, ela tinha 18 anos quando se casou e ele tinha 21. Então eles tinham 78 e 81 anos. E eu perguntei: “E agora, vocês ainda se amam?” E eles se entreolharam e depois vieram até mim, com lágrimas nos olhos: “Ainda nos amamos!” Que bonito!

Por isso, gostaria de deixar duas breves reflexões: a primeira refere-se aos noivos. Cuide deles! É importante que os noivos vivam uma mistagogia nupcial, que os ajude a vivenciar a beleza do seu Sacramento e a espiritualidade do casal. Nos primeiros anos de casamento é especialmente necessário descobrir a fé no casal, saboreá-la, saboreá-la aprendendo a rezar juntos . Há tantos que hoje se casam sem compreender o que a fé tem a ver com a sua vida conjugal, talvez porque ninguém lhes deu testemunho antes do casamento. Convido-vos a ajudá-los num caminho - digamos - "catecumenal" de redescoberta da fé, pessoal e de casal, para que desde o início aprendam a dar espaço a Jesus e, com Ele, possam cuidar dos seus casado.

O vosso trabalho ao lado dos sacerdotes, neste sentido, é precioso; Muito podeis fazer nas paróquias e nas comunidades, abrindo-vos ao acolhimento das famílias mais jovens. Devemos recomeçar a partir das novas gerações para tornar fecunda a Igreja: gerar muitas pequenas Igrejas domésticas onde se viva um estilo de vida cristão, onde nos sintamos familiarizados com Jesus, onde aprendamos a ouvir aqueles que nos rodeiam como Jesus nos ouve. Vocês podem ser como chamas que acendem outras chamas de fé, especialmente entre os casais mais jovens: não deixem que acumulem sofrimentos e feridas na solidão de seus lares. Ajude-os a descobrir o oxigênio da fé com suavidade, paciência e confiança na ação do Espírito Santo.

A segunda reflexão é sobre a importância da corresponsabilidade entre cônjuges e sacerdotes no seio do vosso movimento. Compreendestes e viveis concretamente a complementaridade das duas vocações: encorajo-vos a levá-la às paróquias, para que leigos e sacerdotes descubram a sua riqueza e a sua necessidade. Isto ajuda a superar aquele clericalismo que recentemente fecundou a Igreja – cuidado com o clericalismo! -; e isto também ajudará os cônjuges a descobrir que, através do casamento, são chamados à missão. Com efeito, têm também o dom e a responsabilidade de construir, juntamente com os ministros ordenados, a comunidade eclesial.

Sem comunidades cristãs, as famílias sentem-se sozinhas e a solidão dói muito! Com o vosso carisma, podereis tornar-vos ajudantes atentos de quem precisa, de quem está sozinho, de quem tem problemas na família e não sabe com quem falar porque tem vergonha ou perdeu a esperança. Nas vossas dioceses podeis fazer com que as famílias compreendam a importância de se ajudarem mutuamente e de trabalharem em rede; construir comunidades onde Cristo possa “habitar” nos lares e nas relações familiares.

Queridos irmãos e irmãs, no próximo mês de julho tereis o vosso Encontro Internacional em Turim. No meio do caminho sinodal que estamos vivendo, este seja também para vocês um tempo de escuta do Espírito e de planejamento fecundo para o Reino de Deus.

Confiamos a vossa missão e todas as vossas famílias à Virgem Maria, para que Ela vos proteja, vos mantenha firmes em Cristo e vos torne sempre testemunhas do seu amor. Neste ano dedicado à oração, vocês possam descobrir e redescobrir a alegria de rezar, de rezar juntos em casa, com simplicidade e na vida cotidiana. Dessa vez não vou falar nada das sogras, porque aqui tem algumas! Eu te abençoo do fundo do meu coração. E peço que, por favor, ore por mim. Obrigado.

Fonte: https://es.zenit.org/

Reflexão para o VI Domingo da Páscoa (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Mais uma vez o Senhor mostra a liberdade de Deus ao dizer que foi ele quem nos escolheu. E nos escolheu para que fizéssemos o bem e fossemos eternamente felizes.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

“Perdão e caridade: sinais concretos dos filhos de Deus”

A primeira leitura deste domingo nos fala da presença de Pedro e de outros cristãos na casa de Cornélio, um pagão que o convidara para estar com sua família e amigos.

Quando Pedro, ainda um pouco sem jeito começou a evangelizá-los, o Espírito de Deus desceu sobre os pagãos e eles começaram a ter atitudes próprias dos cristãos louvando e bendizendo a Deus.

Pedro percebeu que o dom do Espírito precedeu o batismo e resolveu batizá-los imediatamente.

Esse fato deve servir para nós como uma advertência de que Deus é Pai de todos os homens e não se restringe aos batizados. Ao contrário, o querer ser batizado é responder positivamente ao apelo de Deus. Portanto devemos ter um coração acolhedor que receba todas as pessoas de boa vontade. Não sabemos o que Deus está preparando para eles e nem para nós.

Aliás, o Evangelho de hoje nos conduz a uma atitude muito social. Jesus fala do amor ao outro e o fala se dirigindo não a uma pessoa, mas à Comunidade. É o próprio Cristo que morreu por todos nós, que nos ensinou a rezar o Pai-Nosso e não o Meu-Pai que durante todo o seu discurso se dirige a nós como Comunidade.

Quando nos dirigirmos ao Pai, será ao Pai de Jesus e de todos os cristãos. Ele quer que seus filhos vivam sempre como irmãos.

Mais uma vez  o Senhor mostra a liberdade de Deus ao dizer que foi ele quem nos escolheu. E nos escolheu para que fizéssemos o bem e fossemos eternamente felizes.

A segunda leitura, a 1ª Carta de João, encerra essa verdade ao dizer que “não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e nos enviou seu Filho Jesus”.

Queridos irmãos, amemos os nossos irmãos porque é isso que Deus quer. Que o amor esteja acima de qualquer ofensa, agressão. Que o perdão e a caridade sejam os sinais expressivos de que somos filhos do Pai. Em uma comunidade de amor não deveria haver pessoas excluídas e pessoas carentes, mas pessoas que se amam, que se socorrem, que se perdoam, porque estão cheias de Deus, ungidas por Seu Espírito Santo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Igreja, entre os acontecimentos e a vida quotidiana (2)

Giuseppe De Rita | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 05/2009

A Igreja, entre os acontecimentos e a vida quotidiana

A comunicação prospera nos eventos, mas na vida real a vida cotidiana vence. A Igreja não teria durado se tivesse que viver dos acontecimentos. Em vez disso, ela vivia pela capacidade de permanecer nas coisas cotidianas. O presidente do Censis comenta o livro investigativo A Igreja do “não”.

por Giuseppe De Rita

Pergunto-me: quando os políticos, católicos e não católicos, dão prioridade ao que a Igreja indica, por que o fazem? Será que esses trinta ou quarenta deputados que se alinham com posições próximas do presidente da CEI o fazem por obediência à Igreja, que hoje já não movimenta votos, ou para interceptar uma opinião generalizada, um consenso mais amplo? No caso Englaro, por exemplo, os políticos, o próprio primeiro-ministro, obedeceram ao Vaticano, ou o facto de, segundo eles, o consenso ir no sentido da defesa da vida, contra a eutanásia por decisão do Tribunal de Cassação? Estou convencido de que obedeceram ao consenso que pensavam estar a interceptar. Acredito pouco num Quagliarello ou num Gasparri que demonstrem lealdade à Igreja. Na realidade, o seu instinto político sentiu que desta vez o consenso estava num lado diferente daquele que queria interromper o fornecimento de energia a Eluana. E quando o deputado busca consenso, pode escolher mesmo sem se perguntar se está certo ou errado: a opinião pública me parece estar caminhando em uma direção? Eu a sigo mesmo que pareça que estou sendo papista.

Portanto, a Igreja intervém com base em princípios, mas a política só escuta o que dá consenso.

Uma nota sobre testamentos vitais e eutanásia. Eu, que faço um trabalho que me impede de ter segurança, tenho quase certeza de que a antropologia italiana de longo prazo indica que o italiano médio tem esta crença: não trabalhei duro durante toda a minha vida, por que tenho que trabalhar duro só para morrer? E dentro de dez anos um referendo sobre a eutanásia veria vitoriosos os que são a favor, como aconteceu com o aborto. Mas a liberdade de consciência, promovida pelos leigos, não tem nada a ver com isso, tem a ver com a tendência antropológica italiana de fazer o que se quer porque é mais conveniente. O egoísmo coletivo vence. Na confusão midiática como a atual, em que tudo e o contrário de tudo são verdade, nesta mucilagem do subjetivismo, os princípios são derrotados.
Deste ponto de vista, aquele sobre o testamento vital não é propriamente uma batalha de opiniões, porque é demasiado racional compreender este tipo de subjetivismo antropológico total que permeia a sociedade italiana. Subjetivismo profundo que também define os católicos praticantes. Pensemos na crise do sacramento da confissão: não confesso porque me absolvo, decido o que é pecado, e se não o sinto como tal significa que não o é.

Voltando ao tema, quando uma batalha secular é travada, como acredito que às vezes deve ser feito, ela é travada com base em princípios e acontecimentos: mas os primeiros são conflitantes e os segundos são fracos.

O livro de Politi é um bom livro, mas em alguns aspectos ia. O evento tem setenta manchetes nos jornais, a missa na paróquia nem uma. Mas na vida real o longo prazo vencerá, a vida cotidiana vencerá. A Igreja não teria durado se tivesse que viver dos acontecimentos posteriores ao Imperador Constantino. Vive-se na capacidade de permanecer nas coisas do quotidiano, nas peregrinações penitenciais ao santuário de Montevergine ou de Santiago de Compostela. Mesmo em tempos difíceis, a capacidade de permanecer na vida cotidiana era o que definia os católicos. Qualquer pessoa que tenha lido o livro de Riccardi sobre Roma ocupada pelos nazis em 1943-44 fica impressionado sobretudo com os gestos diários através dos quais a Igreja e os católicos romanos salvaram judeus e os perseguidos. Mas quem não vive o dia a dia vive nos acontecimentos.

Por último: ser católico na Itália é fácil se você “ser” católico. Mas, se você quiser que o seu catolicismo desempenhe um papel de destaque público, você não irá a lugar nenhum. E não estou dizendo isso porque algum ateu devoto tenha ficado de mau humor para agir como ultracatólico, mas porque é da própria forma do catolicismo pensar em termos de não-protagonismo. Um amigo meu, que convidei para a missa dos meus cinquenta anos de casamento, enviou-me um bilhete no qual escrevia uma frase de Rosmini, cujo significado era: lembre-se que você não é nada. Como cartão de felicitações para as bodas de ouro não é muito, mas está certo: o católico não pode ser o protagonista, porque depende de outra coisa. São também mecanismos mentais diferentes: quem quer ser protagonista cria um acontecimento, monta um acontecimento. O católico, por outro lado, sente-se confortável vivendo onde Deus o colocou. A fidelidade quotidiana à própria fé exprime-se por vezes precisamente neste não-protagonismo. Mesmo que desempenhe um papel que o coloque em destaque, ele não faz, ou não deveria, fazer do seu ser católico um elemento de protagonismo. Em vez disso, o que não suporto em alguns leigos é aquele protagonismo orgulhoso que também impede o diálogo. É uma forma de viver diferente: eles querem dominar mais a realidade cotidiana, mas eu me abandono a isso. E na minha opinião, abandonar-se à realidade é melhor do que tentar dominá-la, com um papel que em última análise é frágil, como todos os papéis individuais.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dom Jaime Spengler: “O nosso povo é bom”!

Socorredores - Rio Grande do Sul (AFP or licensors)

A Casa Comum está em crise! A humanidade está em crise! Nós, gaúchos, estamos sofrendo as consequências desta terrível crise. E dessa crise, não há outra saída senão a solidariedade.

Dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil arcebispo de Porto Alegre

Em 2023, algumas regiões do Rio Grande do Sul sofreram terrivelmente com enxurradas. Nestes dias é praticamente todo o Estado que sofre as consequências de chuvas torrenciais, em níveis jamais vistos.

Tais situações podem ser expressão de um grito ‘silencioso’ por socorro que a Mãe Terra esteja bradando aos céus. De fato, não faltam sinais de que o Planeta necessita urgentemente de atenção e cuidado!

Por que tamanhas tragédias? O que elas estariam mostrando? Como seria possível mitigar suas consequências? Estas podem ser algumas possíveis questões a ocupar cientistas, setores políticos, financeiros e empresariais a médio prazo. Elas certamente não podem se converter na tediosa rotina da normalidade, como não raramente acontece, após experiências sociais traumáticas.

A Casa Comum está em crise! A humanidade está em crise! Nós, gaúchos, estamos sofrendo as consequências desta terrível crise. E dessa crise, não há outra saída senão a solidariedade. Urge, pois, engajar-se, apoiar e promover as iniciativas de solidariedade. Não são poucos os que experimentam tempos terrivelmente longos, inquietos e dilacerantes. Em amplas áreas geográficas o cenário é desolador! A solidariedade é testemunho de que é possível superar os desafios. E o nosso povo é bom! A reciprocidade é muito arraigada!

A experiência traumática vivida pelo Rio Grande do Sul requer o esforço de todos na busca do necessário para reconstruir as comunidades necessitadas de auxílio. É oportunidade para superar ideologias, diferenças individuais e grupais, empenhando esforços para atender ao maior número possível dos flagelados. A união dos setores empresarial, financeiro, comercial, político, de ONGs e Igrejas, em sintonia com o Poder Público, pode oferecer um show de solidariedade e eficiência.

O empenho para promover a solidariedade, sobretudo neste momento trágico de nossa história, nos ajude a compreender a urgência de fomentar uma cultura que favoreça a vida para todos e a aprofundar, em nossas consciências, o sentido de pertença comum e de autêntica reciprocidade.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

Santo Ângelo

Santo Ângelo (A12)
05 de maio
Santo Ângelo

Santo Ângelo nasceu em Jerusalém, em 1185. Seus pais eram judeus e se converteram após Nossa Senhora ter avisado Ângelo, durante as orações, que ele teria um irmão, o que lhes parecia impossível porque eram idosos. Mas, isto aconteceu. Os pais de Ângelo receberam o batismo junto com a criança, à qual deram o nome de João.

Desde pequeno Ângelo mostrou ter dons extraordinários, principalmente o dom da profecia e dos milagres. Entrou para a Ordem do Carmo aos 25 anos e durante cinco anos viveu no monte Carmelo, mesmo lugar onde também viveu o profeta Elias.

Foi ordenado sacerdote em 1218, e logo depois foi a Roma para defender os interesses de sua Ordem. Segundo a tradição, Ângelo e os primeiros carmelitas foram para Roma a fim de obterem do Papa Honório III a aprovação da Regra do Carmelo. Em Roma, conheceu Francisco de Assis, de quem previu morte pelo martírio.

Dali partiu para a Sicília, a fim de converter os hereges cátaros que acreditavam que o homem na sua origem havia sido um ser espiritual e para adquirir consciência e liberdade, precisaria de um corpo material, sendo necessárias várias reencarnações para se libertar. Eram dualistas e acreditavam na existência de dois deuses, um do bem (Deus) e outro do mal (Satã), que teria criado o mundo material e mal.

Estas ideias contrariavam a fé católica e foram consideradas heresias. Na Sicília, lutando contra a ideia dos cátaros, Santo Ângelo converteu a amante de um rico senhor que levava vida de pecado. Por vingança, este mandou matá-lo. Santo Ângelo foi morto em 05 de maio de 1220, enquanto pregava na Igreja de São Tiago de Licata. Venerado pela população, logo uma igreja foi erguida no lugar de seu martírio, onde foi sepultado o seu corpo. A Igreja canonizou o mártir Santo Ângelo em 1498. Porém, somente em 1662, as suas relíquias foram transladadas para a igreja dos Carmelitas.

Sua veneração se manteve até os nossos dias, sendo invocado pelo povo e devotos nas situações de suas dificuldades. Os primeiros padres carmelitas da América difundiram a sua devoção, construindo igrejas, nomeando as aldeias que se formavam e expandiram o seu culto, que também chegou ao Brasil.

Textos: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R I Colaboração: Nathália Queiroz de Carvalho Lima

Reflexão:

A fé do cristão deve ser enraizada na história. Mais do que louvores ao Senhor, o serviço ao próximo é parte essencial da vida dos seguidores de Cristo Jesus. Santo Ângelo soube conjugar fé e obras, agindo sempre em favor daqueles mais abandonados e lutando pela verdade da fé na Igreja. Morreu defendendo a justiça. Mereceu a coroa da santidade. Para nós, fica o exemplo de Santo Ângelo, que nos convida a viver a nossa fé com plenitude e fidelidade.

Oração:

Ó Deus de admirável providência, que, no mártir Santo Ângelo destes ao vosso povo pastor corajoso e forte, concedei-nos, pela sua intercessão, ajuda nas tribulações e firme constância na fé. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!


Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 4 de maio de 2024

Chamei-vos amigos (1): Deus tem amigos?

Deus tem amigos? | Opus Dei

Chamei-vos amigos (1): Deus tem amigos?

Deus sempre procurou ativamente a amizade com os homens, oferecendo-nos viver em comunhão com Ele. Nem a fraqueza humana nem o pó do caminho fizeram-no mudar de opinião. Deixar-nos abraçar por esse Amor incondicional nos enche de luz e de força para oferecê-lo aos outros.

19/05/2020

Uma pergunta frequente que provavelmente está nas nossas mensagens do celular é: “Onde você está?” Podemos ter enviado a nossos amigos e familiares, procurando a sua companhia, mesmo à distância, ou simplesmente para imaginar a outra pessoa de um modo mais concreto. Onde você está? O que está fazendo? Está tudo bem? Essa pergunta é também uma das primeiras frases que Deus dirige ao homem, enquanto “passeava no jardim à hora da brisa da tarde” (Gn 3, 8-9). O Criador, desde o início dos tempos, queria caminhar junto de Adão e Eva; poderíamos pensar, com certo atrevimento, que Deus procurava a sua amizade – e agora a nossa – para ver a sua criação plenamente realizada.

Uma novidade que vai in crescendo

Esta ideia, que talvez não seja totalmente nova para nós, causou muitas surpresas na história do pensamento humano. De fato, em uma época de grande esplendor, a impossibilidade de o ser humano vir a ser amigo de Deus tinha sido aceita com resignação. A razão era que entre ambos havia uma absoluta desproporção, são muito diferentes entre si[1]. Pensava-se que poderia haver, no máximo, uma relação de submissão à qual, no melhor dos casos, poderíamos chegar, de longe, através de certos ritos ou conhecimentos. Uma relação de amizade, porém, era inimaginável.

No entanto, a Escritura apresenta, repetidas vezes, a nossa relação com Deus em termos de amizade. O livro do Êxodo não deixa lugar a dúvidas: “O Senhor falava com Moisés face a face, como alguém que fala com seu amigo” (Ex 33, 11). No livro do Cântico dos Cânticos, que apresenta de modo poético a relação entre Deus e a alma que o busca, esta é chamada continuamente “amiga minha” (cfr. Ct 1, 15 e outros). O livro da Sabedoria também indica que Deus “se comunica às almas santas de cada geração e as converte em amigos” (Sb 7, 27). É importante notar que em todos os casos a iniciativa parte do próprio Deus; a aliança que Ele selou com a criação não é simétrica, como poderia ser um contrato entre iguais, e sim assimétrica: foi-nos dada a desconcertante possibilidade de falar cara a cara com nosso próprio criador.

A ESCRITURA ESTÁ CHEIA DE EXEMPLOS QUE MOSTRAM COMO DEUS BUSCA CONSTANTEMENTE FAZER AMIZADE COM OS HOMENS.

Esta manifestação da caridade que Deus nos oferece, a comunicação desta novidade, continuou in crescendo ao longo da história da salvação. Tudo o que nos tinha sido dito por meio da aliança ilumina-se definitivamente com a vida do Filho de Deus na terra: “Deus não nos ama apenas como criaturas, mas como filhos a quem, em Cristo, oferece uma verdadeira amizade”[2]. Toda a vida de Jesus é um convite à amizade com o seu Pai. E um dos momentos mais intensos nos quais nos é transmitida essa boa notícia é durante a Última Ceia. Lá, no Cenáculo, com cada um dos seus gestos, Jesus abre o seu coração para levar a seus discípulos – e a nós com eles – à verdadeira amizade com Deus.

Do pó à vida

O evangelho de São João divide-se em duas partes claras: a primeira se centra na pregação e nos milagres de Cristo, a segunda, em sua paixão, morte e ressurreição. A ponte que as une é o seguinte versículo, que nos faz penetrar no Cenáculo: “Jesus, sabendo que havia chegado a hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1). Lá estavam Pedro e João, Tomé e Felipe, os doze juntos, recostados cada um numa almofada, como era costume na época. Pelos acontecimentos narrados, tratava-se provavelmente de uma mesa de três lados – em forma de U – na qual Jesus, o mais importante, encontrava-se perto de um extremo e Pedro, o que servia, no outro; provavelmente estavam um em frente ao outro. Em determinado momento, Jesus pôs-se de pé para fazer um gesto que talvez a sua Mãe tivesse feito muitas vezes com Ele, e não se tratava da tarefa de quem estava naquele lugar preferencial: cingiu a cintura com uma toalha para tirar o pó dos pés dos seus amigos.

A imagem do pó está presente na Sagrada Escritura desde o início. A história da criação conta que “o Senhor Deus formou o homem do pó da terra” (Gn 2, 7). Para que ele deixasse então de ser algo inanimado, morto e incapaz de relacionar-se, Deus “soprou em suas narinas alento de vida e o homem se converteu num ser vivo” (Gn 2, 7). A partir desse momento, o homem experimentará uma tensão que provém de ser pó e espírito, uma tensão entre os seus limites radicais e os seus desejos infinitos. Mas Deus é mais forte que a nossa fraqueza e que qualquer traição nossa.

Agora, no Cenáculo, o pó volta a aparecer. Jesus se dobra sobre o pó dos pés dos seus amigos, para animá-los, devolvendo-lhes a relação com o Pai. Jesus nos lava os pés e, divinizando o pó de que somos feitos, presenteia-nos com a amizade íntima que tem com o seu Pai. Em meio à emoção que o embarga, com os olhos de todos os seus discípulos fixos nele, diz: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15). Deus quer compartilhar tudo. Jesus compartilha conosco a sua vida, a sua capacidade de amar, de perdoar, de ser amigo até o fim.

NO HOMEM COEXISTEM O PÓ E O ESPÍRITO. DEUS SABE DISSO, E VEM AO NOSSO ENCONTRO.

Todos nós já tivemos a experiência de como as boas amizades nos mudaram; não seríamos talvez os mesmos se não tivéssemos encontrado essas relações em nossa vida. Ser amigos de Deus também transforma nosso modo de sermos amigos dos que nos rodeiam. Assim, como Cristo, poderemos lavar os pés de todos, sentar-nos à mesa de quem nos poderia trair, oferecer o nosso carinho a quem não nos compreende ou inclusive não aceita a nossa amizade. A missão de um cristão no meio do mundo é precisamente “abrir-se em leque”[3], para todos, porque Deus continua infundindo o seu alento ao pó de que somos feitos e atua nessas relações enviando-nos a sua luz.

Deixar-nos levar rumo à comunhão

Vimos que a amizade que Jesus Cristo nos oferece é um ato de confiança incondicional de Deus em nós, que nunca termina. A uma distância de vinte séculos, em nossa existência diária, Cristo nos conta tudo o que sabe sobre o Pai para continuar nos atraindo à sua amizade. No entanto, apesar de que isso não nos faltará, será sempre uma parte, já que “correspondemos a esta amizade unindo nossa vontade à Sua”[4].

Os verdadeiros amigos vivem em comunhão: no fundo da alma querem as mesmas coisas, desejam a felicidade um do outro, às vezes nem precisam utilizar palavras para se entenderem; inclusive dizem que rir das mesmas coisas é uma das maiores manifestações de intimidade. Esta comunhão, no caso de Deus, mais do que um esforço extenuante para cumprir certos requisitos – isso não acontece entre amigos – consiste em estar um com o outro, acompanhar-se mutuamente.

Um bom exemplo pode ser precisamente o de São João, o quarto evangelista: deixou que Jesus se aproximasse dele e lavasse os seus pés, recostou-se tranquilamente no seu peito durante a Ceia e, finalmente – talvez sem compreender plenamente o que estava acontecendo – não deixou o seu melhor amigo, para acompanhá-lo nos maiores sofrimentos. O discípulo amado deixou-se transformar por Jesus Cristo e, assim, Deus foi tirando pouco a pouco o pó de seu coração: “Nesta comunhão de vontades realiza-se a nossa redenção: ser amigos de Jesus, tornar-se amigos de Jesus. Quanto mais amamos a Jesus, quanto mais o conhecemos, tanto mais cresce a nossa verdadeira liberdade”[5].

A COMUNHÃO ENTRE DOIS AMIGOS MANIFESTA-SE, FUNDAMENTALMENTE, NO DESEJO MÚTUO DE ESTAR JUNTOS, DE ACOMPANHAR-SE, DE DEIXAR-SE TRANSFORMAR PELO OUTRO.

Jesus, nessa Última Ceia, mostra-nos que o segredo da amizade está em permanecer com Ele: “Assim como o sarmento não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira, assim também vós se não permanecerdes em mim” (Jo 15,4). É Jesus que quer amar em nós. Sem Ele não podemos ser realmente amigos. “Por muito que ames, nunca amarás bastante”, afirma São Josemaria. Mas imediatamente acrescenta: “Se amas o Senhor, não haverá criatura que não encontre lugar em teu coração”[6].

“Onde estás?” são as palavras que Deus, enquanto passeava por aquela esplêndida criação que havia saído das suas mãos, dirigiu ao homem. Também agora quer entrar em diálogo conosco. Ninguém, nem sequer o mais brilhante dos pensadores, podia imaginar um Deus que pedisse a nossa companhia, que mendigasse a nossa amizade até o extremo de se deixar pregar numa cruz para assim não fechar nunca os braços para nós. Tendo entrado nessa loucura de amor, ver-nos-emos impulsionados, nós também, a abri-los sem condições a todas as pessoas que nos rodeiam. Nós nos perguntaremos mutuamente: Onde você está? Tudo bem? E através dessa amizade poderemos devolver a beleza à criação.

Giulio Maspero e Andrés Cárdenas

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[1] Cfr. Aristóteles, Ética a Nicômaco, 1159a, 4-5

[2] F. Ócariz, Carta pastoral 1/11/2019, n. 2.

[3] Cfr. São Josemaria Sulco, n. 193.

[4] F. Ócariz, Carta pastoral 1/11/2019, n. 2.

[5] Joseph Ratzinger, Homilia na MissaHomilia na Missa Homilia na Missa pro elegendo pontífice, 18/04/2005.

[6] São Josemaria, Via Sacra, VIII estação, n. 5.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF