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terça-feira, 14 de maio de 2024

Como se fosse um filme: "A experiência do deserto"

"A experiência do deserto" | Opus Dei

Como se fosse um filme: "A experiência do deserto"

A vida de Jesus não foi isenta de dificuldades. Antes de iniciar seu ministério público, ele passou quarenta dias de jejum e penitência no deserto, onde sofreu as tentações do demônio. Essa experiência pode nos mostrar uma maneira de ver as dificuldades como oportunidades de amadurecer nossa vocação cristã.

13/02/2024

O enredo de um bom filme geralmente tem momentos de conflito. Se o protagonista não tivesse que enfrentar problemas, talvez fosse uma história monótona e previsível. Mas são essas reviravoltas que tornam um filme emocionante. O espectador observa como o ator passa por vários contratempos até conseguir o que tanto queria. E, no final desse processo, que teve seus altos e baixos, muitas vezes ele se sentirá transformado: o personagem que começou o filme será diferente daquele do final.

Na história de qualquer pessoa, há também situações de conflito. Não há biografias sem momentos de dor, dúvida ou cansaço. Assim, junto com os bons momentos, essas circunstâncias de conflito também nos permitem crescer nos ideais que inspiram nossa vida. O próprio Jesus quis viver uma experiência semelhante: passou quarenta dias de fome e sede no deserto, onde sofreu as tentações do demônio (cf Mt 4,1-11).

Escolher quem queremos ser

Depois que Cristo recebeu uma manifestação do Paráclito e do amor de seu Pai, nas águas do Jordão, Ele é conduzido por esse mesmo Espírito ao deserto “para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1). Em vez de abraçar o sucesso fácil diante das multidões no Jordão, ele preferiu preparar sua vida pública com o sabor agridoce do abandono e da provação. “Também Jesus foi tentado pelo diabo, e acompanha-nos, a cada um de nós, nas nossas tentações. O deserto simboliza a luta contra as seduções do mal, a fim de aprender a escolher a verdadeira liberdade. De fato, Jesus vive a experiência do deserto pouco antes de começar a sua missão pública. É precisamente através dessa luta espiritual que ele afirma decididamente o tipo de Messias que pretende ser”[1].

Também nós, por meio das tentações que podem surgir na vida cotidiana, podemos afirmar com decisão quem queremos ser. Se Deus as permite, é justamente para que possamos descobrir nossa verdade e purificar nosso amor, de modo que nossos desejos tendam para Ele. “A guerra do cristão é incessante, porque na vida interior se verifica um perpétuo começar e recomeçar, que nos impede de orgulhosamente nos imaginarmos perfeitos. É inevitável que haja muitas dificuldades no nosso caminho; se não encontrássemos obstáculos, não seríamos criaturas de carne e osso. Sempre teremos paixões que nos puxem para baixo, e sempre precisaremos defender-nos contra esses delírios mais ou menos veementes”[2].

O Senhor não nos deixa sozinhos. Ao mesmo tempo em que sofremos tentações, contamos com a mão estendida de Jesus para nos manter firmes. Por meio dessas provações, podemos entender melhor quem queremos ser e escolher livremente os ideais que nos movem. Melhor do que qualquer outra pessoa, Cristo nos entende quando sentimos esse dilema entre quem queremos ser e o bem aparente que a provação coloca ao nosso alcance. A maneira como Ele viveu a experiência do deserto pode nos ajudar a ver as tentações de forma mais realista: não é cedendo a elas ou conversando com elas que encontraremos a paz, mas abraçando resolutamente o amor que inspira nossa vida.

Escutar a fome

Como um verdadeiro homem, após quarenta dias de jejum rigoroso e oração profunda, Jesus sente fome. Não se trata de um apetite isolado, nem de uma mera necessidade humana: é uma fome de sobrevivência. O Senhor está no limite das suas forças humanas. Podemos imaginá-lo exausto, com o olhar percorrendo a paisagem árida e infinita, até se fixar em algumas pequenas rochas distantes. E a imaginação, que sempre transforma a necessidade em sonhos, talvez o levaria pelos caminhos de suas boas lembranças, quando comia os pratos simples, mas saborosos, que sua mãe lhe preparava com tanto carinho. Foi exatamente nessa situação que o tentador entrou em cena: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4,3). Adão e Eva sucumbiram a outra insinuação do demônio quando se deixaram seduzir pela beleza do fruto da árvore, em vez da comunhão com Deus (cf Gn 3,1-6). O povo de Israel também entrou em desespero no deserto por causa da falta de comida, pois se lembrava com nostalgia dos vegetais que comia como escravo no Egito (cf Num 11,5). É uma prova que, no final, nos leva a meditar sobre a hierarquia do nosso coração e a nos perguntar o que realmente conta na vida. “Superar as tentações de submeter Deus a nós mesmos e aos nossos interesses, ou de o pôr num canto, e converter-se à justa ordem de prioridades, reservar a Deus o primeiro lugar, é um caminho que cada cristão deve percorrer sempre de novo”[3].

Quando a necessidade parece se rebelar dentro d’Ele e reivindicar os seus direitos, Jesus mostra a verdadeira fonte da sua paz, aquilo que Ele sabe que o faz feliz: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4:4). Cristo não nega que está com fome. Mas Ele não quer saciá-la com qualquer alimento, mas com aquele que o satisfaz profundamente: ser fiel ao chamado para redimir todos os homens. “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,34), Ele dirá aos discípulos em outra ocasião.

O Senhor revela que, quando a tentação aparece, o primeiro passo é reconhecê-la como tal. Agir como se nada estivesse errado, fingir que não se está realmente com fome, pode provocar uma tensão latente que, pouco a pouco, nos faz desejar e ansiar por aquilo que, a princípio, foi rejeitado. É por isso que Deus nos convida a ouvir a fome em nosso coração, para que não a preenchamos com as primeiras pedras que encontrarmos. Por meio da experiência da nossa necessidade, podemos entender uma mensagem. Percebemos que o Senhor não quer que saciemos essa fome com o fruto de uma árvore ou com os vegetais do Egito, pois eles dificilmente poderão anestesiá-la. Sua proposta diante dessa necessidade é que preenchamos nosso coração com o que é realmente importante em nossa vida: o amor a Deus e o amor ao próximo.

Abraçar a vontade de Deus

O demônio não se dá por vencido. Jesus Cristo permite que ele o tente ainda mais fortemente, para que experimentemos mais vividamente sua identificação com a vontade de seu Pai e a sua profunda proximidade com o homem pecador. O tentador leva Jesus ao topo do templo. O vento batia em seu rosto nu e fatigado; seus pés mal suportavam o peso de seu corpo cambaleante de cansaço. Seus olhos, que em poucos meses chorariam amargamente pelos habitantes da Cidade Santa, penetram com amor em cada telhado e em cada beco. Não seria esse um bom momento para revelar sua verdadeira identidade com toda a clareza? A voz estridente do demônio de repente rompe o denso silêncio da altura. “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: 'Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra'” (Mt 4,5).

Diante de uma insinuação tortuosa da serpente, Adão e Eva passaram a desconfiar de Deus. Por que Ele não quer que comamos dessa árvore? Durante os quarenta anos no deserto, os israelitas também desconfiaram da liberdade que o Senhor lhes havia oferecido. Será que o nosso passado como escravos não era melhor do que essa liberdade cheia de sofrimento? Em toda tentação há a possibilidade da ausência, impotência ou distanciamento de Deus. Talvez Ele seja lembrado como um companheiro do passado, outrora próximo, mas não mais real. Às vezes é fácil reconhecer o Senhor quando as coisas estão indo bem, e aproveitamos as maravilhas do Éden ou contemplamos os prodígios que Ele realizou para libertar Israel da escravidão. Mas quando surgem conflitos, parece que esses sinais desaparecem: ansiamos por uma manifestação extraordinária e mais clara da proximidade de Deus. Podemos então pensar que, se Ele não nos salvar imediatamente, não é realmente um Pai tão bom quanto imaginávamos.

Jesus experimentaria novamente uma tentação semelhante pouco antes de morrer, quando um dos ladrões lhe disse: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!” (Lc 23,39). Esse é um raciocínio que segue uma lógica esmagadora: se você realmente pode fazer tudo, livre-se dessa situação e salve-nos. Por outro lado, a atitude do outro ladrão é diferente: “Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes” (Lc 23,41). Ele não se rebela contra o destino que o aguarda, mas aceita a sua condição. Portanto, não implora ao Senhor que mude a realidade ou resolva todos os seus problemas agora mesmo, mas reconhece sua realeza e pede que não se esqueça dele: “Lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!” (Lc 23,42). Sua oração não foi uma exigência – mostre-me que você é o Salvador – mas um ato de abandono nas mãos do Messias: “Queres, Senhor?... Eu também o quero”[4].

“Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’” (Mt 4,7). Cristo rejeitou a segunda tentação no deserto – e também a tentação dirigida a ele na cruz – abraçando ainda mais fortemente a vontade de seu Pai: ele aceita que a salvação seja feita como Ele quer. Jesus não queria testar a Deus ou buscar atalhos para aliviar a sua dor, pois sabia que Ele buscava apenas o seu bem, mesmo que às vezes fosse difícil descobrir isso. “Quando te abandonares de verdade no Senhor, aprenderás a contentar-se com o que vier, e a não perder a serenidade, se as tarefas – apensar de teres posto todo o teu empenho e utilizado os meios oportunos – não correm a teu gosto… Porque terão ‘corrido’ como convém a Deus que corram”[5].

Libertar-se dos ídolos

Há um teste final à espera de Jesus. O demônio, astuto e perseverante, leva-o a uma montanha muito alta, de onde se pode ver os muitos reinos do mundo, toda a glória e o poder dos homens. Não era Ele o Rei do universo? Não tinha vindo para unir todos os povos e nações no reino dos filhos de Deus? Um único gesto seria suficiente para que o tentador o ajudasse a cumprir sua missão de forma definitiva. “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar” (Mt 4,9). Mas os joelhos de Jesus não se dobraram.

Adão e Eva, desconfiando de Deus, preferiram se colocar como deuses. Os israelitas também, em suas andanças pelo deserto, às vezes decidiam construir suas próprias divindades, na medida de suas ilusões e do reflexo de seus próprios rostos. Sempre que o homem desconfia de seu Pai, ele acaba adorando a si mesmo. E, em vez de depositar sua esperança no misterioso, mas eterno, poder divino, ele escolhe se contentar com sua própria glória passageira, por menor que seja e que se desvanece facilmente. O diabo pode não nos oferecer hoje “todos os reinos do mundo” (Mt 4,8), mas ele nos oferece pequenos reinos que podemos desejar secretamente em nosso coração e nos convence de que isso nos fará felizes o suficiente para continuarmos caminhando. Assim, divinizamos realidades que não são Deus, mas “correntes que escravizam”.

O Senhor nos criou para que nossos anseios sejam dirigidos a Ele. Fomos criados para compartilhar a sua natureza divina – como Adão e Eva pretendiam – e para sermos felizes – como os israelitas buscavam no deserto. E isso significa aprender a nos libertar dos ídolos que nos desviam do caminho para a realização. “O dinamismo do desejo está sempre aberto à redenção. Também quando ele se adentra por caminhos desviados, quando persegue paraísos artificiais e parece perder a capacidade de ansiar pelo bem verdadeiro. Também no abismo do pecado não se apaga no homem aquela centelha que lhe permite reconhecer o verdadeiro bem, saboreá-lo, e assim iniciar um percurso de subida, no qual Deus, com o dom da sua graça, nunca deixa faltar a sua ajuda. De resto, todos temos necessidade de percorrer um caminho de purificação e de cura do desejo. Somos peregrinos rumo à pátria celeste, rumo àquele bem pleno, eterno, que nada jamais nos poderá extirpar. Por conseguinte, não se trata de sufocar o desejo que se encontra no coração do homem, mas de o libertar, para que possa alcançar a sua verdadeira altura”[6].

O orgulho insinua que não precisamos do Senhor. Mas Jesus não se deixa enganar pela miragem que o demônio lhe apresenta. Ele sabe que nos arredores de Jerusalém, no Calvário, as portas do paraíso se abrirão para sempre. Da Cruz, ele nos ensinará em que consiste a verdadeira felicidade: dar a vida por amor. “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: 'Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto'” (Mt 4,10).

* * *

São Mateus termina seu relato das tentações destacando que o demônio foi embora e os anjos se aproximaram e serviram a Jesus (cf. Mt 4,11). Às vezes, as forças do demônio parecem invencíveis. As tensões a que ele as submete parecem nunca ter fim. É exatamente isso que ele busca: roubar-nos a esperança e fazer-nos acreditar que a única saída é ceder ao que ele propõe. Mas a maneira como Jesus experimenta a tentação nos mostra que essa abordagem está errada e que a vitória é possível. “O diabo é o grande mentiroso, o pai da mentira. Ele sabe falar bem, sabe até cantar para nos enganar. Ele é um derrotado, mas se move como um vencedor. Sua luz é brilhante como fogos de artifício, mas não dura, ela se apaga, enquanto a luz do Senhor é suave, mas permanente”[7].

Cristo pode nos ajudar a aceitar as tentações com serenidade e a vencer o medo nos momentos de dúvida e fraqueza, pois sabe que nenhuma ação do demônio será superior à força humana auxiliada pela graça (cf 1 Co 10, 13). Em nenhum momento Jesus entra em diálogo com o tentador, imaginando o que aconteceria se Ele aceitasse alguma de suas propostas. Em vez disso, Ele o interrompe de forma decisiva, tomando uma resolução firme. É assim que responde aos convites do demônio: escolhendo o bem que procura esconder dele. Não quer se alimentar de pão, mas da palavra divina. Não quer colocar Deus à prova, mas confia nele. Ele não quer os reinos do mundo, mas servir somente a seu Pai.

Dessa forma, o Evangelho nos mostra o Senhor como “o novo Adão, que ficou fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpre à perfeição a vocação de Israel: contrariamente aos que provocaram outrora a Deus durante quarenta anos no deserto (cfr. Sal 95,10), Cristo se revela como o Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina”[8]. A vitória do Senhor sobre o tentador também é benéfica para nós: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas que foi provado em tudo, como nós, exceto no pecado” (Hb 4,15). “Cristo não somente conhece, como Deus, a fraqueza da nossa natureza, mas também, como homem, experimentou os nossos sofrimentos, embora não tivesse pecado. Por conhecer nossa fraqueza, é capaz de nos dar a ajuda de que precisamos e, ao nos julgar, Ele o fará tendo em mente essa fraqueza”[9].

Depois desse episódio, Jesus começará sua vida pública. Naqueles quarenta dias no deserto, Ele queria fortalecer seu espírito para sua missão redentora que seria difícil e exigente. Os desertos pelos quais podemos passar em nossas vidas – tentações, crises, contratempos – também podem servir como um impulso para amadurecer nossa vocação cristã e podem ser um momento de graça. Cristo nos ajudará a passar por eles de mãos dadas, sabendo que Deus se esconde em todo deserto.


[1] Francisco, Ângelus, 6/03/2022.

[2] É Cristo que passa, n. 75.

[3] Bento XVI, Audiência, 13/02/2013.

[4] Caminho, n. 762.

[5] Sulco, n. 860.

[6] Bento XVI, Audiência, 7/11/2012.

[7] Francisco,Homilia, 8/05/2018.

[8] Catecismo da Igreja Católica, n. 539.

[9] Teodoreto de Ciro, Interpretatio ad Hebraeos, ad loc.

 Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Papa: diante do descarte e solidão na velhice, coragem em não abandonar os idosos

"A solidão e o descarte tornaram-se elementos freguentes no contexto em que estamos imersos" (VATICAN MEDIA - Divisione Foto)

O Papa divulgou nesta terça-feira (14/05) a mensagem para o IV Dia Mundial dos Avós e dos Idosos que será celebrado em 28 de julho. "Na velhice, não me abandones" (Sal 71, 9) é o tema de reflexão proposto pelo Pontífice: "à atitude egoísta que leva ao descarte e à solidão, contraponhamos o coração aberto e o rosto radioso de quem tem a coragem de dizer «não te abandonarei!»".

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco divulgou nesta terça-feira (14) a mensagem para o IV Dia Mundial dos Avós e dos Idosos celebrado todo quarto domingo de julho, próximo à memória litúrgica dos Santos Joaquim e Ana, avós de Jesus. Neste ano, será comemorado em 28 de julho e o Pontífice oferece uma reflexão proposta do Salmo 71, "Na velhice, não me abandones" (Sal 71, 9), voltando a tratar da rejeição na melhor idade, quando as pessoas enfrentam contextos de solidão e sentimentos de descarte.

A mensagem começa encorajadora, ao recordar que "Deus nunca abandona os seus filhos; nem sequer quando a idade vai avançando e as forças já declinam, quando os cabelos ficam brancos e a função social diminui, quando a vida se torna menos produtiva e corre o risco de parecer inútil. O Senhor não olha para as aparências (cf. 1 Sam 16, 7)," destaca o Papa no texto. Esse "amor fiel do Senhor", do "modo como Deus cuida de nós", continua ele, é revelado em toda Sagrada Escritura e, sobretudo, nos salmos: "aliás, segundo a Bíblia, é sinal de bênção poder envelhecer".

A solidão na velhice

Mas, nos próprios salmos, também encontramos "esta sentida invocação ao Senhor: «Não me rejeites no tempo da velhice» (Sal 71, 9). Uma frase forte, crua. Faz pensar no sofrimento extremo de Jesus, quando gritou na cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27, 46)". Assim, encontramos na Bíblia tanto "a certeza da proximidade de Deus" como "o temor do abandono, especialmente na velhice e nos períodos de sofrimento". Isso porque é um reflexo da realidade, já que os idosos "com frequência", encontram a solidão.

"Muitas vezes me sucedeu, como bispo de Buenos Aires, ir visitar lares de terceira idade, dando-me conta de como raramente recebiam visitas aquelas pessoas: algumas, há muitos meses, não viam os seus familiares."

O Papa Francisco, então, traz algumas causas dessa solidão, provenientes, por exemplo, de situações de pobreza e conflitos, migrações e hostilidades dos jovens em relação aos idosos - essa uma mentalidade que deve ser "combatida e erradicada", escreve o Pontífice, para não alimentar "uma certa conflitualidade geracional": "se pensarmos bem, está hoje muito presente por todo o lado esta acusação, lançada contra os velhos, de «roubar o futuro aos jovens»":

"O contraste entre as gerações é um equívoco, um fruto envenenado da cultura do conflito. Opor os jovens aos idosos é uma manipulação inaceitável: 'O que está em jogo é a unidade das idades da vida'."

O descarte dos idosos

"A solidão e o descarte dos idosos não são casuais nem inevitáveis, mas fruto de opções – políticas, econômicas, sociais e pessoais – que não reconhecem a dignidade infinita de cada pessoa", continua Francisco na mensagem ao acrescentar nesse pacote triste da terceira idade, o descarte. O Papa afirma o quanto os idosos e as próprias famílias acabam sendo vítimas da "cultura individualista" porque, quando se envelhece, as pessoas ficam sem ajuda de ninguém: "cada vez mais «perdemos o gosto da fraternidade» (FRANCISCO, Carta enc. Fratelli tutti, 33)".

“Isto acontece quando se perde vista o valor de cada pessoa, tornando-se ela apenas uma despesa que, em alguns casos, aparece demasiado elevada para pagar. O pior é que, muitas vezes, acabam dominados por esta mentalidade os próprios idosos que chegam a considerar-se como um fardo, sendo os primeiros a quererem desaparecer.”

"A solidão e o descarte tornaram-se elementos frequentes no contexto em que estamos imersos". Mas, a Sagrada Escritura apresenta opções diferentes face à velhice, porque "viver sozinhos não pode ser a única alternativa". Diante de um «não me abandones», é possível responder «não te abandonarei!», cuidando "de um idoso ou simplesmente demonstrando diariamente solidariedade a parentes ou conhecidos que não têm mais ninguém". Manter-se junto aos idosos, comenta ainda Francisco, reconhecer "o papel insubstituível que eles têm na família, na sociedade e na Igreja, também nós receberemos muitos dons, tantas graças, inúmeras bênçãos!".

“Neste IV Dia Mundial a eles dedicado, não deixemos de mostrar a nossa ternura aos avós e aos idosos das nossas famílias, visitemos aqueles que estão desanimados e já não esperam que seja possível um futuro diferente. À atitude egoísta que leva ao descarte e à solidão, contraponhamos o coração aberto e o rosto radioso de quem tem a coragem de dizer «não te abandonarei!» e de seguir um caminho diferente.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

"Uma Igreja Sinodal: ser missionário no ambiente digital"

Ser missionário no ambiente digital (missaosalesiana)

“UMA IGREJA SINODAL: SER MISSIONÁRIO NO AMBIENTE DIGITAL”

Dom Arnaldo Carvalheiro Neto
Bispo de Jundiaí (SP)

1. A Igreja Católica Apostólica Romana inserida no contexto histórico da primeira metade deste século XXI, sob o Pontificado do Papa Francisco, coloca-se em movimento “Igreja em Saída”. A Igreja “é chamada a ser um hospital de campanha”.  À luz da fé o movimento é ação do Espírito Santo. O Espírito Santo foi prometido por Jesus (João 14, 16-17), está presente na tradição apostólica (Atos 2, 1ss), os padres da Igreja reconhecem a ação do Espírito Santo (Basílio de Cesareia Sec. IV), os santos ao longo da história da Igreja moveram-se pela ação do Espírito Santo. Nós cremos que o Espírito Santo move a Igreja hoje. O Sínodo para a sinodalidade (2021-2024), convocado pelo Papa Francisco traz em seu relatório de síntese o título “Uma Igreja Sinodal em Missão”. O Papa Francisco, movido pelo Espírito Santo, à luz da tradição da Igreja e seguindo os passos do Concílio Vaticano II nos orienta a sempre voltarmos às origens da fé. Esse caminho foi percorrido por São João Paulo II e por Bento XVI. “Caras irmãs, caros irmãos, «todos nós fomos batizados num só Espírito para sermos um só Corpo» (1Cor 12,13)”. Essa convocação sinodal nos remete à unidade-comunhão, tal como exortava o Apóstolo Paulo. A Igreja nos convida a vivermos a essência da fé: Jesus Cristo. À luz da fé, não há dúvida de que o Espírito Santo nos coloca em ação para voltarmos às origens. No início do cristianismo estão o próprio Cristo e os apóstolos cultivando um modelo de Igreja: 1. Sinodal e 2. Missionária. Não nos fechemos a ação do Espírito Santo que conclama a Igreja a ser, no Século XXI, sinodal e missionária em sua essência.

2. A Igreja sinodal e missionária que peregrina no contexto histórico do século XXI tem diante de si a realidade do mundo que hoje é tecida em ambiente digital. O Espírito Santo não abandonou a Igreja e a tem movido a dialogar com a contemporaneidade e sua razão. Assim faz o Decreto Inter Mirifica (1963), o Papa Paulo VI instituiu o 1º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 1967, a ser celebrado, anualmente, na Festa da Ascensão do Senhor. Já na Instrução Pastoral Communio et Progressio, 1971, o então Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais reconheceu a positividade dos meios de comunicação e incentivou a Igreja a valorizar a Pastoral da Comunicação em todas as Igrejas Particulares. Já na carta Encíclica Redemptoris Missio, a Igreja assim se expressa profeticamente:

O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações, que está a unificar a humanidade, transformando-a — como se costuma dizer — na «aldeia global». Os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais. Principalmente as novas gerações crescem num mundo condicionado pelos mass-média” (RM, 37c).

A Igreja sinodal e missionaria do século XXI, iluminada pelo Espírito Santo, reflete sobre o “ambiente digital” reconhecendo:

A cultura digital representa uma mudança fundamental no modo como concebemos a realidade e nos relacionamos conosco mesmos, entre nós, com o ambiente que nos rodeia e também com Deus. O ambiente digital modifica os nossos processos de aprendizagem, a percepção do tempo, do espaço, do corpo, das relações interpessoais e todo a nosso modo de pensar. O dualismo entre real e virtual não descreve adequadamente as realidades e a experiência de todos nós, sobretudo dos mais jovens, os chamados “nativos digitais”. (Uma Igreja Sinodal em Missão. Relatório do sínodo, parte III, 17, a)

À luz do Magistério, compreendemos que, nesse atual contexto histórico, o Espírito Santo nos inspira a sermos missionários no ambiente digital.

3. Ser missionário católico no ambiente digital

Precisamos discernir os fenômenos recentes do cristianismo, à luz da tradição da Igreja. É o caso dos denominados “influenciadores digitais católicos”. Jesus nos constituiu para sermos missionários: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 16-20). É do Cristo que vem o mandato para a missão. É própria da Igreja a sua natureza missionária! É do Espírito Santo que vem a força para o missionário agir! O missionário vive da fé. Jesus nos dá autoridade para a missão. Exige que nos sustentemos só pelo Espirito Santo e nos convida a não levar nada: “Não leveis para a viagem, nem bastão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; tampouco tenhais duas túnicas” (Lucas 9, 3). A ação do missionário produz frutos. Isso implica fazer com que seja anunciado o Cristo (Kerigma em Atos 2, 14-26) e que se traduza no seguimento de Jesus: “vem e segue-me” (Lucas 18,22). O missionário fala em nome de Jesus, o missionário coloca-se à serviço do Espírito Santo, o missionário promove a comunhão na comunidade, o missionário comunga do corpo místico da Igreja. Tudo o que o missionário anuncia não é dele, é do Espírito Santo, portanto, ele humildemente aponta o caminho.

A Igreja, quando permeada pelo “ambiente digital”, vê-se diante do recente fenômeno dos influenciadores digitais católicos. Primeiramente devemos saber que o termo influenciador nasce com o advento da internet e a utilização desta pela estrutura do capital e do mercado. Esse fenômeno promove determinadas pessoas que, ao adotarem certos produtos e suas marcas, tornar-se-ão representantes destas, “influenciando” outras pessoas. Os jovens iniciados na cultura digital são os mais influenciáveis a consumirem seus produtos e ideias e, por isso, foram os primeiros a validar e potencializar essa prática. Este modelo de influenciador é insuflado pela velocidade da propagação tecnológica das redes e pela dinâmica fluída da internet. Todavia, seus discursos e conteúdos são profissionalmente plastificados para servir à lógica algorítmica das redes. Hoje, o ambiente digital está povoado de influenciadores que vendem moda, perfumes, estilos de vida, consultoria sentimental, consultoria espiritual etc. Seus objetivos e pretensões se misturam desmesuradamente aos interesses mercadológicos, numa confusão nem sempre proposital, mas sempre refém das inúmeras consequências do multiverso virtual e do capital.

Numa mescla de interesses nem sempre condizentes com a verdade do Evangelho e alheios a qualquer verificação normativa, magisterial ou teológica, os conteúdos dos influenciadores digitais católicos parecem trilhar caminhos solitários que, não raramente, desembocam em individualismo e promoção pessoal. O Espírito Santo nos conclama à sabedoria de uma purificação. Não se trata de silenciá-los, mas examinar as obras e os frutos promovidos por essa prática. Constatamos o impacto de alguns influenciadores dividindo a comunidade cristã, confrontando as autoridades da Igreja, abertamente atacando o Santo Padre Papa Francisco, os bispos constituídos, conteúdos da doutrina, a liturgia, o Concílio Vaticano II. Isso faz emergir em nossas comunidades, um magistério, uma liturgia, uma catequese que apontam para uma vida cristã paralela quando não, concorrente ao corpo da Igreja (I Cor 12, 12-30).  Podemos nos perguntar: Com qual autoridade isso é feito? Quais os frutos desta ação? Que Igreja persistirá na era vindoura, pós-influenciadores? Quais modelos de igreja estão aí promovidos? O mandato de Jesus não é para influenciar é para evangelizar. O mandado é para ser missionário no mundo digital. O critério posto é o Evangelho ou a lógica do mercado que opera por trás com a produção e atendimento dos algoritmos que potencializam visualizações, seguidores virtuais e vendas de cursos? Milhares de compartilhamentos e visualizações são os critérios para a penetração do evangelho na cultura digital? A monetização que sustenta o trabalho dos influenciadores possui destino evangélico? Essa prática favorece o entendimento e a vivência da sinodalidade, à luz do Espírito, ou a confusão de uma Babel em plena construção entre nós?

A Igreja que, pelo Espírito Santo, anuncia o Evangelho no ambiente digital, também é chamada a estabelecer o critério da evangelização a luz do Cristo.  Não nos esqueçamos que Jesus tocou os corpos, olhou face a face, seu corpo foi erguido na cruz e perfurado. A salvação e a remissão acontecem na história. Um cristianismo excessivamente midiatizado, virtualizado, tecido na lógica da emoção e dos algoritmos, podem, de fato, nos inserir no século XXI, marcado por uma profunda uma crise de fé.

Pentecostes se aproxima. O Espírito Santo de Deus há de nos iluminar diante desse desafio, como sempre fez na história da humanidade. Não nos recusemos a empreender esforços na reflexão e compreensão desses fatos. Há um longo caminho a percorrer. Sejamos missionários nessa grande seara das redes sociais, sigamos os passos daquele que nos conduz pelas trilhas da verdade, mesmo que em tempos sinuosos. Anunciar é muito mais que influenciar! Sejamos discípulos que escutam o Mestre! Ouçamos o clamor e os rumos que o Espírito quer dar à Igreja. E, sobretudos, ofereçamos o nosso sim ao chamado que a missão exige.

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BÍBLIA DE JERUSALÉM: nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edições CNBB, 2024.

Cesareia, Basilio. Tratado sobre o Espírito Santo. São Paulo: Paulus, 1999.

JOÃO PAULO II, Papa. Carta Encíclica Redemptoris Missio. Disponível em www.vatican.va

Uma Igreja Sinodal em Missão. XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos:

Relatório de Síntese. www.synod.va

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

NAZARENO: Se não vos tornardes como as crianças... (Jesus e os pequeninos, os dez leprosos) - (41)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 41 - Se não vos tornardes como as crianças... (Jesus e os pequeninos, os dez leprosos)

Felipe e Bartolomeu chegam com Jesus a Cafarnaum. Para dar as boas-vindas, há uma multidão de crianças barulhentas. Outras são levadas ao Mestre porque seus pais queriam que ele lhes impusesse as mãos e fizesse uma oração. Jesus se senta para descansar um pouco e, em pouco tempo, é cercado por elas. Um dos pequeninos se chama Benjamim. A criança pula nos ombros de Jesus e o abraça. Começam a conversar. Mas os discípulos presentes as repreendiam. Jesus, todavia, disse: “Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, pois delas é o Reino dos Céus”.

Enquanto se afastavam, o Nazareno explica a seus amigos o significado daquelas palavras. As crianças têm um coração simples e puro; as crianças dependem em tudo de seus pais, precisam do olhar deles para se sentirem seguras, precisam deles para serem livres. Assim também nós dependemos de Deus.

Jesus sabe que aqueles dias na Galileia são os últimos. Certa manhã, nas proximidades de Efraim, quando Jesus e seus discípulos estavam prestes a entrar na cidade, dez leprosos vieram ao encontro deles. Pararam à distância e clamaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”. Sabiam quem era, tinham ouvido falar dele. Vendo-os ele lhes disse: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. Partiram imediatamente. E enquanto iam, ficaram purificadosUm dentre eles, vendo-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por terra, agradecendo-lhe. Pois bem, era um samaritano. Tomando a palavra, Jesus lhe disse: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve, acaso, quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?”. Em seguida disse-lhe: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”.

Mais uma vez, o testemunho de fé não veio de perto, mas de longe, não daqueles que compartilhavam a mesma fé, mas de "estrangeiros".

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/05/09/16/137939670_F137939670.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Matias

São Matias (A12)
14 de maio
São Matias

São Matias ocupou o lugar deixado por Judas Iscariotes no grupo dos 12 Apóstolos escolhidos por Cristo. Este número representa as 12 tribos de Israel, portanto todo o povo judeu e, por extensão, o povo restaurado de Deus, os que viverão no paraíso Celeste – daí a sua importância.

Em At 1,21-26, fica evidente que Matias já acompanhava o Senhor desde o anúncio de João Batista, perseverando entre Seus discípulos até depois da Ressurreição e de Pentecostes, e tendo sido testemunha ocular de Cristo já glorioso. Certamente foi um dos 72 enviados por Jesus para evangelizar (Lc 10,1-24). A “sorte” que definiu a sua escolha evidentemente é obra do Espírito Santo.

Segundo uma tradição Matias evangelizou na Judéia, Capadócia e depois na Etiópia, tendo morrido crucificado. Em outra versão, ele foi apedrejado em Jerusalém pelos judeus, e então decapitado. As informações não são precisas, tendo origem nos evangelhos apócrifos (isto é, em escritos não aceitos como confiáveis para fazerem parte do conjunto de escritos da Bíblia, seguramente inspirados pelo Espírito Santo).

É normalmente representado com um machado ou uma alabarda, símbolos da força do cristianismo e do martírio; o machado também está ligado, por causa do martírio, ao seu patronato dos açougueiros e carpinteiros.

Registros indicam que Santa Helena, mãe do imperador Constantino e a santa que recuperou as relíquias da Cruz de Cristo, mandou transladar as relíquias de São Matias para Roma. Uma parte delas ali ficou, na igreja de Santa Maria Maior, e o restante está na Alemanha, na igreja de São Matias em Treves, cuja cidade foi por ele evangelizada segundo uma tradição, e motivo pelo qual é seu padroeiro.

 A festa de São Matias era celebrada em 24 de fevereiro, de modo a evitar a Quaresma, mas no novo calendário ficou em 14 de maio, uma data certamente próxima do dia da sua eleição.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

“Matias” deriva do Grego Matthias ou Mahthias, do Hebreu Mattathias ou Mattithiah, que significa “presente (ou dom) de Deus”. Sem dúvida que este Apóstolo é tanto presente como dom de Deus para a Sua Igreja, e a sua altíssima missão, confiada a este mínimo grupo de pessoas, indica uma singular preferência e confiança do Senhor. Os critérios para ser Apóstolo incluíam ter visto diretamente o Cristo Ressuscitado, ter acompanhado Jesus desde a manifestação de João Batista até a Ascensão e permanecido até Pentecostes, ter sido chamado e enviado por Cristo para evangelizar… apenas 12 foram santos Apóstolos, mas até que ponto podemos nos aproximar da sua obra? Vemos o Cristo, vivo, na Eucaristia, recebemos o Espírito Santo na Crisma, somos chamados por Jesus, através da Igreja e do Batismo, para com Ele levarmos a Boa Nova aos irmãos. Não temos o carisma particular dos Apóstolos, mas somos sim herdeiros da sua missão, e unidos a eles na Comunhão com Cristo. Neste sentido, Deus também demonstra a Sua escolha e confiança em cada um de nós. Resta escolhermos a via de Judas Iscariotes ou a de Matias.

Oração:

Deus Todo Poderoso, que do nada nos chamastes à existência e nos chamastes à salvação, concedei-nos por intercessão de São Matias também sermos fiéis no “apostolado tardio”, e tendo tido a honra inefável de sermos por Vós escolhidos desde sempre para receber o Paraíso, aceitarmos com amor e alegria os dons que nos destes para vencer as provações, estando sempre presentes diante de Vós para repassá-los em proveito dos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Influência da Virgem Maria na vida da Igreja

Virgem Maria e o Menino Jesus (Cléofas)

Influência da Virgem Maria na vida da Igreja

 POR PROF. FELIPE AQUINO

1. Desejamos, antes de mais, deter-nos a considerar brevemente alguns aspectos significativos da personalidade de Maria, que oferecem a cada fiel indicações preciosas para acolher e realizar plenamente a própria vocação.

Maria precedeu-nos na via da fé: crendo na mensagem do anjo, ela é a primeira a acolher, e de modo perfeito, o mistério da Encarnação (cf. Redemptoris Mater, 13). O seu itinerário de crente inicia ainda antes do princípio da maternidade divina e desenvolve-se e aprofunda-se durante toda a sua experiência terrena. É audaz a sua fé, que na Anunciação crê no humanamente impossível e em Caná impele Jesus a realizar o primeiro milagre, provocando a manifestação dos seus poderes messiânicos (cf. Jo. 2,1-5).

Maria educa os cristãos a viverem a fé como caminho empenhativo e envolvente, que, em todas as épocas e situações da vida, requer audácia e perseverança constante.

2. A fé de Maria está ligada à sua docilidade à vontade divina. Crendo na Palavra de Deus, pôde acolhê-la plenamente na sua existência e, mostrando-se disponível ao soberano desígnio divino, aceitou tudo o que lhe era requerido do Alto.

A presença da Virgem na Igreja encoraja assim os cristãos a porem-se cada dia à escuta da Palavra do Senhor, para compreenderem o seu plano de amor nas diversas vicissitudes quotidianas, cooperando com fidelidade para a sua realização.

3. Desse modo, Maria educa a comunidade dos crentes para olhar rumo ao futuro, com pleno abandono em Deus. Na experiência pessoal da Virgem, a esperança enriquece-se de motivações sempre novas. Desde a Anunciação, Maria concentra no Filho de Deus, encarnado no seu seio virginal, as expectativas do antigo Israel. A sua esperança revigora-se nas fases sucessivas da vida de Nazaré e do ministério público de Jesus. A sua grande fé na palavra de Cristo que tinha anunciado a sua ressurreição ao terceiro dia, não a fez vacilar nem sequer diante do drama da Cruz: ela conservou a esperança no cumprimento da obra messiânica, esperando sem hesitações, depois das trevas da Sexta-Feira Santa, a manhã da ressurreição.

No seu difícil peregrinar na história, entre o “já” da salvação recebida e o “não ainda” da sua plena realização, a comunidade dos crentes sabe que pode contar com o auxílio da “Mãe da Esperança” que, tendo experimentado a vitória de Cristo sobre as potências da morte, lhe comunica uma capacidade sempre nova de espera do futuro de Deus e de abandono às promessas do Senhor.

4. O exemplo de Maria faz com que a Igreja aprecie melhor o valor do silêncio. O silêncio de Maria não é só sobriedade no falar, mas sobretudo capacidade sapiencial de fazer memória e de acolher, num olhar de fé, o mistério do Verbo feito homem e os eventos da sua existência terrena.

É este silêncio acolhimento da Palavra, esta capacidade de meditar no mistério de Cristo, que Maria transmite ao povo crente. Em um mundo cheio de confusão e de mensagens de todo o gênero, o seu testemunho faz apreciar um silêncio espiritualmente rico e promove o espírito contemplativo.

Maria testemunha o valor de uma existência humilde e escondida. Normalmente todos exigem, e por vezes pretendem, poder valorizar inteiramente a própria pessoa e as próprias qualidades. Todos são sensíveis à estima e à honra. Os Evangelhos referem em várias ocasiões que os Apóstolos ambicionavam os primeiros lugares no reino, discutiam entre si quem era o maior e que Jesus lhes teve de dar, quanto a isto, lições sobre a necessidade da humildade e do serviço (cf. Mt. 18,1-5; 20, 20-28; Mc. 9,33-37; 10,35-45; Lc. 9,46-48; 22,24-27). Maria, ao contrário, jamais desejou as honras e vantagens de uma posição privilegiada; procurou sempre cumprir a vontade divina, levando uma existência segundo o plano salvífico do Pai.

A quantos não raro sentem o peso duma existência aparentemente insignificante, Maria manifesta quanto pode ser preciosa a vida, se é vivida por amor de Cristo e dos irmãos.

5. Maria, além disso, testemunha o valor duma vida pura e repleta de ternura por todos os homens. A beleza da sua alma, totalmente doada ao Senhor, é objeto de admiração para o povo cristão. Em Maria a comunidade viu sempre um ideal de mulher, cheia de amor e de ternura, porque viveu na pureza do coração e da carne.

Perante o cinismo duma certa cultura contemporânea que, muitas vezes, parece não reconhecer o valor da castidade e banaliza a sexualidade, separando-a da dignidade da pessoa e do projeto de Deus, a Virgem Maria propõe o testemunho duma pureza que ilumina a consciência e conduz a um amor maior pelas criaturas e pelo Senhor.

6. E ainda: aos cristãos de todos os tempos, Maria mostra-se como aquela que prova uma viva compaixão pelos sofrimentos da humanidade. Essa compaixão não consiste somente numa participação afetiva, mas traduz-se numa ajuda eficaz e concreta diante das misérias materiais e morais da humanidade.

A Igreja, seguindo Maria, é chamada a assumir uma atitude idêntica para com os pobres e todos os sofredores da terra. A atenção materna da Mãe do Senhor às lágrimas, às dores e às dificuldades dos homens e das mulheres de todos os tempos, deve estimular os cristãos, de modo particular ao aproximar-se do terceiro milênio, a multiplicar os sinais concretos e visíveis dum amor que faça os humildes e os sofredores de hoje participarem nas promessas e esperanças do mundo novo, que nasce da Páscoa.

7. O afeto e a devoção dos homens para com a Mãe de Jesus ultrapassam os confins visíveis da Igreja e impelem os ânimos a sentimentos de reconciliação. Como uma Mãe, Maria quer a união de todos os seus filhos. A sua presença na Igreja constitui um convite a conservar a unanimidade de coração, que reinava na primeira comunidade (cf. At 1,14) e, por conseguinte, a procurar também as vias da unidade e da paz entre todos os homens e todas as mulheres de boa vontade.

Na sua intercessão junto do Filho, Maria pede a graça da unidade do gênero humano, em vista da construção da civilização do amor, superando as tendências à divisão, às tentações da vingança e do ódio, e à fascinação perversa da violência.

8. O sorriso materno da Virgem, reproduzido em boa parte na iconografia mariana, manifesta uma plenitude de graça e de paz que quer comunicar-se. Essa manifestação de serenidade do espírito contribui de modo eficaz para conferir um rosto jubiloso à Igreja.

Acolhendo na Anunciação o convite do anjo a alegrar-se (Káire= alegra-te; Lc. 1,28), Maria é a primeira a participar na alegria messiânica, já predita pelos profetas para a “filha de Sião” (cf. Is 12,6; Sof 3,14-15; Zac 9,8), e transmite-a à humanidade de todos os tempos.

O povo cristão, invocando-a como “causa nostrae laetitiae”, descobre nela a capacidade de comunicar a alegria que nasce da esperança mesmo no meio das provas da vida e de guiar quem a ela se confia para a alegria que não terá fim.

* L’Osservatore Romano, Ed. Port. n.47, 25/11/95, p. 12 (576)

Retirado do livro: “A Virgem Maria”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

Fonte: https://cleofas.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF