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quarta-feira, 29 de maio de 2024

Papa: adorar o Corpo e o Sangue de Cristo com viva fé

Soçenidade de Corpus Christi em junho de 2019 (Photo by AFP/Tiziane Fabi)

No mistério da Eucaristia Jesus "se faz presente por meio do Espírito Santo para permanecer sempre conosco e transformar a nossa vida", disse o Papa Francisco, que no domingo presidirá a Santa Missa na Solenidade de Corpus Christi na Basílica de São João de Latrão, que será seguida da procissão até a Basílica Santa Maria Maior.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Jesus está próximo de nós com um perene “partir” o pão: "Este é o meu Corpo! Este é o meu Sangue"! A Eucaristia é a antecipação do que viveremos juntos na eternidade.

Ao saudar os diversos grupos na Audiência Geral - que precede a Solenidade de Corpus Christi celebrada nesta quinta-feira - o Papa Francisco recordou deste grande mistério, central na vida de cada cristão e na vida da Igreja.

Que o Espírito Santo nos conduza a Jesus presente na Eucaristia, mistério de amor, fonte de graça, de alegria e de luz, amparo nas dificuldades e conforto na dor”, disse ao saudar os peregrinos de língua francesa.

Já aos peregrinos de língua alemã, recordou que a Solenidade de Corpus Christi “convida-nos a adorar o Corpo e o Sangue de Cristo com viva fé. No mistério da Eucaristia ele se faz presente por meio do Espírito Santo para permanecer sempre conosco e transformar a nossa vida.”

Ao aproximarmo-nos da Solenidade de Corpus Christi – disse ao dirigir-se aos peregrinos de língua espanhola - peçamos ao Senhor que o seu Espírito de amor faça de nós uma oferta perene, para a glória de Deus e o bem do seu Povo santo. Que Jesus Sacramentado vos abençoe e a Virgem Santa, sacrário puríssimo de sua presença, cuide de vós”.

A recordar, que neste ano a Solenidade de Corpus Christi continua a ser celebrada no domingo, mas o Bispo de Roma retoma a tradição de celebrar a Santa Missa na Basílica de São João de Latrão, seguida pela procissão  até a Basílica de Santa Maria Maior.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

As Festas do Senhor durante o Tempo Comum (2)

(Crédito: Opus Dei)

As Festas do Senhor durante o Tempo Comum

Neste editorial dedicado às festas do Senhor que a Igreja nos apresenta ao longo do Tempo comum, recolhemos algumas considerações de quatro delas: a Apresentação e a Anunciação do Senhor, a Santíssima Trindade e o Corpus Christi.

13/06/2019

A SANTÍSSIMA TRINDADE

No primeiro domingo depois de Pentecostes, a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade. Nesse dia, glorificamos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Deus uno, trino em pessoas: “ao proclamar nossa fé na verdadeira e eterna Divindade, adoramos três Pessoas distintas, de única natureza e iguais em dignidade” [12].“Ouvistes-me dizer muitas vezes que Deus está no centro de nossa alma em graça. Portanto, todos temos uma linha direta com Deus Nosso Senhor. De que valem todas as comparações humanas, com essa realidade divina, maravilhosa? No outro lado da linha esperando por nós está, não só o Grande Desconhecido, mas a Trindade inteira: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (...). É uma pena que os cristãos nos esqueçamos de que somos trono da Trindade Santíssima. Aconselho-vos que desenvolvais o costume de procurar a Deus no mais profundo de vosso coração. Isso é a vida interior” [13].

Ainda que essa festa tenha sido introduzida no calendário romano em meados do século XIV, suas origens se remontam ao período patrístico. Já São Leão Magno costumava desenvolver a doutrina sobre o mistério trinitário durante o período de Pentecostes. Algumas das suas expressões aparecerão recolhidas mais tarde no prefácio da Missa do domingo da oitava de Pentecostes. Sucessivamente, no reino franco, será composta uma Missa da Santíssima Trindade que conhecerá uma primeira difusão por todo o Ocidente, talvez como um meio para ensinar, assiduamente, ao povo cristão a verdadeira fé em Deus.

Porém, a Igreja Romana não definiu uma festa especial no calendário para a Santíssima Trindade, porque as invocações ao Deus uno e trino e as doxologias já lhe dão um lugar central na liturgia. Esta situação não impediu que algumas dioceses ou comunidades monásticas celebrassem anualmente uma festa litúrgica trinitária, ainda que a data não fosse uniforme. Seria o Papa João XXII quem, finalmente, em 1334, introduziria no calendário romano a festa da Santíssima Trindade, no domingo anterior ao domingo de Pentecostes. Por outra parte, ainda que as Igrejas do Oriente cristão não tenham estabelecido uma festa específica, dedicam a maior parte dos cantos do domingo de Pentecostes a contemplar o mistério trinitário.

O SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

A solenidade do Corpo e Sangue de Cristo (o dia de Corpus Christi) nasce na Idade Média, fruto da piedade eucarística e da reafirmação dos dogmas depois de várias controvérsias teológicas. A festa foi celebrada pela primeira vez em Liége, Bélgica, no ano de 1247, a pedido da Santa Juliana de Mont Cornillon, religiosa que dedicou grande parte da sua vida a promover a devoção ao santo Sacramento do altar. Em 1264, o Papa Urbano IV, impressionado pelo milagre eucarístico de Bolsena – testemunhado em pedra pelo monumental domo de Orvieto, que é como um grande relicário – instituiu, com caráter universal, a solenidade em honra do Santíssimo Sacramento para a quinta-feira posterior à oitava de Pentecostes. A bula de instituição da festa apresenta, em apêndice, os textos da Missa e do Ofício do dia, redigidos, segundo a tradição, por São Tomás de Aquino. A antífona O sacrum convivium das segundas vésperas da festa, sintetiza de modo admirável a fé da Igreja, o mysterium fidei: “Ó Sagrado banquete em que se recebe Cristo! Renova-se a memória de sua Paixão e a alma se enche de graça e nos é dada o penhor da glória futura” [14]. “Cada um de nós – dizia o papa nessa solenidade – pode se perguntar: e eu? Onde quero comer? Em que mesa quero me alimentar? Na mesa do Senhor? Ou sonho com comer gostosos manjares, mas na escravidão? Além disso, cada um de nossos pode se perguntar: qual é a minha lembrança? A do Senhor que me salva ou a do alho e das cebolas da escravidão? Com que lembrança sacio a minha alma?” [15].

Como essa festa gira em torno da adoração do Santíssimo Sacramento e a fé na presença real de Cristo sob as espécies eucarísticas, é lógico que, já no século XIV, surgisse o costume de acompanhar o Senhor sacramentado pelas ruas das cidades. Anteriormente, o Santíssimo tinha presidido a procissão dos ramos no Domingo de Ramos, ou sido transladado solenemente na manhã de Páscoa, a partir do “monumento” ou “sepulcro” até o tabernáculo principal do templo. A procissão do Corpo de Cristo como tal será definitivamente acolhida em Roma, no século XV. Graças a Deus, nos últimos anos estamos assistindo a um reflorescimento dessa devoção também nos lugares em que ela tinha desaparecido durante séculos. Fazemos nossos os sentimentos de São Josemaria na festa de Corpus Christi de 1971: “enquanto celebrava a Missa hoje de manhã, disse a Nosso Senhor com o pensamento: eu te acompanho em todas as procissões do mundo, em todos os Sacrários onde te honram, e em todos os lugares onde estejas e não te honrem” [16].

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Notas:

[12] Missal Romano, Prefácio da Missa da solenidade da Santíssima Trindade.

[13] São Josemaria, Anotações de sua pregação, 8-XII-1972.

[14] Antífona ad Magnificat, Vésperas II da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo.

[15] Francisco, Homilia, 19-VI-2014 (cfr. Núm 11, 4-6)

[16] Javier Echevarría, Recordações sobre Monsenhor Escrivá.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

A oração do Papa por Papua Nova Guiné e países em guerra. As crianças sofrem

Audiência Geral de 29/05/2024 com o Papa Francisco (Vatican Media)

Na audiência geral desta quarta-feira, o pensamento do Santo Padre por Papua Nova Guiné após o trágico deslizamento de terra que deixou mais de dois mil mortos, e a oração também pelas vítimas das guerras na Ucrânia, Palestina, Israel e Mianmar e em tantos outros países que sofrem com a guerra, que “é sempre uma crueldade”. Na Praça São Pedro, um grupo de 13 cadeirantes que vieram de Ancona até Roma em peregrinação, um percurso de quase 300Km. Entre eles, a brasileira Josemare de Cristo Reis.

Raimundo de Lima - Vatican News

Ao término da audiência geral desta quarta-feira (29/05), na Praça São Pedro, Francisco voltou seu pensamento a Papua Nova Guiné, após o trágico deslizamento de terra que deixou mais de dois mil mortos, assegurando suas orações e lembrando que proximamente visitará o país.

Gostaria de assegurar minhas orações pelas vítimas do grande deslizamento de terra que varreu alguns vilarejos em Papua Nova Guiné. Que o Senhor conforte suas famílias, aqueles que perderam suas casas e o povo papuásio que, se Deus quiser, encontrarei em setembro próximo.

Generosidade em responder pobrezas causadas pela guerra

Na saudação aos fiéis e peregrinos de língua polonesa, o Santo Padre lembrou o beato Stefan Wyszynski, convidando a aprender dele a generosidade em responder as pobrezas causadas pela guerra, especialmente na Ucrânia.

Saúdo cordialmente os poloneses. Dirijo um pensamento especial aos peregrinos reunidos em Roma em memória orante do beato cardeal Stefan Wyszynski. Que o Primaz do Milênio seja para a Igreja na Polônia e no mundo um modelo de fidelidade a Cristo e a Nossa Senhora. Aprendamos com ele a generosidade na resposta às pobrezas de nosso tempo, incluindo aquelas causadas pela guerra em tantos países, especialmente na Ucrânia.

As crianças em guerra sofrem

Na saudação aos de língua italiana, pedindo que o Senhor nos dê a graça da paz, o Pontífice pediu para não esquecer a Palestina, Israel, Mianmar e tantos países em guerra, ressaltando que as crianças sofrem com a guerra, com um pensamento particular pela Ucrânia.

Meu pensamento se volta para a atormentada Ucrânia. Outro dia, recebi meninos e meninas que sofreram queimaduras, perderam as pernas na guerra: a guerra é sempre uma crueldade. Esses meninos e meninas têm de começar a andar, a se movimentar com braços artificiais... perderam o sorriso. É muito ruim, muito triste quando uma criança perde seu sorriso. Oremos pelas crianças ucranianas. E não nos esqueçamos da Palestina e de Israel, que sofrem tanto: que a guerra acabe. E não nos esqueçamos de Mianmar e de tantos países que estão em guerra. As crianças sofrem, as crianças em guerra sofrem. Oremos ao Senhor para que esteja perto de todos e nos dê a graça da paz.

Cadeirantes em 300Km de peregrinação de Ancona até Roma

Na Praça São Pedro, entre os numerosos grupos de fiéis e peregrinos presentes encontrava-se um grupo muito particular, 13 cadeirantes que vieram de Ancona até Roma em peregrinação em cadeira de rodas, um percurso de quase 300Km feito em 12 dias. Entre eles encontrava-se a brasileira Josemare de Cristo Reis, que vive há 14 anos em Bergamo, norte a Itália, e nos conta a experiência sua e de seu grupo:

“Meu nome é Josemare de Cristo Reis. Sou brasileira, mas moro em Bergamo há 14 anos e viemos de Ancona até Roma em cadeira de rodas com um grupo de 13 pessoas por 12 dias fazendo uma peregrinação. Percorremos o caminho de Francisco (Via Francigena). Fizemos todo esse caminho: passamos por Assis, Spoleto, por diversas cidades que fazem parte desse percurso, desse trajeto maravilhoso. Partimos dia 17 e chegamos aqui ontem. Viemos aqui para fechar esse ciclo maravilhoso e hoje vimos estar mais próximo do grande Papa, do nosso Papa.”

Brasileira Josemare de Cristo Reis na audiência geral desta quarta-feira (29/05), na Praça São Pedro (Vatican Media)

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Úrsula Ledochowska

Santa Úrsula Ledochowska (A12)
29 de maio
Santa Úrsula Ledochowska

Júlia Ledochowska nasceu em 1865, filha de nobres pais poloneses residentes na Áustria. Sua irmã mais velha, Maria Teresa, fundadora de uma congregação, foi canonizada. Seu irmão Vladimiro, sacerdote, foi o 26º preposto-geral dos jesuítas. A família permaneceu na Áustria até o final dos seus estudos na adolescência, voltando depois para a terra natal e estabelecendo-se na Croácia.

Com 21 anos, entrou no convento das irmãs ursulinas de Cracóvia, adotando o nome de Úrsula em homenagem à fundadora da Ordem quando da profissão dos votos perpétuos, em 1899. Possuía um pendor educativo e por isso fundou um pensionato para as jovens estudantes, entre as quais promovia a Associação das Filhas de Maria. Durante quatro anos foi superiora do convento, quando, chamada pelo pároco da igreja de Santa Catarina em Petersburgo, foi para a Rússia, a dirigir um internato de estudantes polonesas, exiladas.

O governo do país reprimia atividades religiosas, mesmo as assistenciais, e por isso ela e demais freiras (em número crescente) tinham que usar roupas civis, por segurança. A comunidade, uma casa autônoma das Ursulinas, vivia escondida do contínuo monitoramento da polícia secreta nacional, realizando intenso trabalho de formação religiosa e educativa, e buscando a aproximação entre russos e polacos.

Em 1909 fundou uma casa das ursulinas na Finlândia, seguindo um modelo inglês de pensionato e escola ao ar livre para moças doentes, e outra casa ursulina em Petersburgo, no mesmo ano. Foi perseguida pela polícia russa durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), por causa da sua origem austríaca, e por isso foi para a Suécia no início da guerra. Aí fundou um pensionato e uma escola, e ainda o jornal Solglimstar (“Vislumbres do Sol”), voltado para o apostolado católico, e que até hoje é editado. Em 1917 foi para a Dinamarca, assistindo aos poloneses perseguidos, voltando para a Polônia em 1919.

Mas em 1920, abandonou a Ordem, para fundar uma nova: as Irmãs Ursulinas do Sagrado Coração Agonizante, dedicada ao cuidado dos jovens abandonados, pobres, velhos e crianças, e aprovada pelo Vaticano em 1930. Por causa da cor do hábito, as novas irmãs ficaram conhecidas na Polônia como “ursulinas cinzas”; e na Itália por “irmãs polonesas”. Rapidamente a Ordem espalhou-se pela Europa, e quando Madre Úrsula Ledochowska faleceu, aos 29 de maio de 1939 em Roma, existiam já 35 casas e mais de 1.000 irmãs.

 Santa Úrsula Ledochowska escreveu vários livros em Polonês, que tiveram tradução para o Italiano.

Reflexão:

Mesmo perseguida, Santa Úrsula Ledochowska fez o bem por onde esteve. Este fruto de santidade teve origem sem dúvida no seio familiar, de onde sua irmã também veio a ser canonizada. Nunca será suficientemente enfatizada a importância de uma família bem estruturada em Cristo… Úrsula seguiu o exemplo do próprio lar e preocupou-se com o cuidado dos jovens abandonados, pobres, velhos e crianças, mas sobretudo no que mais a marcou na casa paterna: a formação educacional e acima de tudo espiritual. A ênfase na atenção às moças, durante a maior parte da sua vida, reflete também uma herança da família, pois esta é estruturada, numa concepção católica, com base na esposa e mãe. Não à toa os que combatem Deus e a Igreja se esforçam de forma tão agressiva, atualmente, para deturpar a condição feminina, procurando convencer as jovens de que elas não devem ter qualquer responsabilidade como esposas e mães, e nem mesmo em serem o que são, mulheres! As falsas promessas de “igualdade” apenas escondem apelos à luxúria (o que na prática as torna, então sim, submissas e desvalorizadas), à ambição material e à ilusão de que devem competir (e não cooperar do seu modo único e específico) com os homens – como se fossem homens e não do sexo feminino, um contrassenso espiritual, moral, natural e biológico. E que, naturalmente, não traz a felicidade de anuncia, na medida em que é uma violência contra a própria natureza feminina. Que Deus suscite muitas outras mulheres como Úrsula, capazes de reconhecer a realidade e a verdade, e viver e ensinar com propriedade a condição divina da mulher, segundo o plano de Deus. A Igreja sempre teve que enfrentar perseguições, que aliás teve modernamente grande incremento a partir da mesma Rússia em que trabalhou Santa Úrsula, com o advento do seu governo comunista, condenado diretamente por Nossa Senhora em Fátima no ano mesmo (1917) da sua implementação regada a sangue. A necessidade de levar a Boa Nova, a Verdade, portanto, não apenas continua, mas aumentou, e este mandato de Cristo deve ser sempre obedecido pela oração, exemplo de santidade e evangelização perseverante.

Oração:

Senhor Deus dos Exércitos, concedei-nos, por intercessão de Santa Úrsula Ledochowska, enfrentar as guerras, sobretudo espirituais, contra Vós, a Igreja e as famílias, vivendo de forma santa e caridosa, para que como ela sirvamos ao Vosso Sagrado Coração, em consolo à agonia que O fere e em favor da salvação nossa e dos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 28 de maio de 2024

MARIA DO EGITO: uma fonte de água a jorrar

Maria do Egito (arquisp)

MARIA DO EGITO: uma fonte de água a jorrar

Por Pe. Jean Steferson Pereira

Como já sabemos, Deus preparou todo um caminho para que o povo de Israel fosse libertado do Egito. Moisés foi escolhido para executar esse projeto, mas, para que pudesse chegar a tal intento, foi preciso o esforço de muitas pessoas. Dentre elas, destacam-se mulheres importantes: as parteiras que resistiram ao faraó, sua mãe, sua irmã, a filha faraó. Sua irmã, Maria, todavia, não foi apenas mais uma colaboradora, mas uma grande  líder do movimento de libertação. Ela recebeu o título de profetisa, a primeira mulher a receber tal elogio na Bíblia. E, no grande louvor, após a travessia do mar Vermelho, ela aparece conduzindo as mulheres e cantando junto a elas. Vamos conhece-la um pouco mais.

QUEM É MARIA?

A tradição judaica diz que Maria profetizou, ainda criança, que sua mãe teria um filho cuja missão seria libertar seu povo do Egito. Com isso, toda a sua vida teria se orientado para o cuidado daquele menino que, mais tarde, faria o povo passar pelas águas, assim como ele mesmo passou, quando resgatado pela filha do faraó. Em outras palavras, Maria seria a protetora de Moisés, na garantia de que sua profecia pudesse se cumprir.

Como conhecemos a história do nascimento de Moisés, na qual a atuação de Maria foi fundamental, vale descobrir em que mais essa mulher colaborou no projeto de Deus. O profeta Miqueias faz questão de dizer que o povo subiu do Egito – a casa da escravidão – graças a Moisés, Aarão e Maria. E por quê? Porque ela sempre foi vista, pelo povo de Israel, como uma mulher corajosa, persuasiva e bondosa, uma verdadeira líder das mulheres israelitas. E há quem diga que foi pela força dessas mulheres que o povo conseguiu fugir da escravidão.

O nome Maria, que também pode ser Miriam, é de difícil compreensão. Alguns acreditam que traga em si algo obstinação, persistência. Há também a possibilidade de significar amada. Ambas as propostas são aplicáveis: Maria guardava consigo uma profecia e, por isso, comprometeu sua vida na busca por cumpri-la; além disso, era uma mulher amada por Deus, por seus irmãos e seu povo.

Um detalhe, porém, da sua história, vale ainda ressaltar: ao dizer que Maria era amada por todos, logo podemos pensar na passagem da lepra. Por questionar o casamento de Moisés com uma mulher etíope, Maria recebeu um castigo  divino, tornando-se leprosa, com o corpo branco como neve. Diante disso, seus irmãos Moisés e Aarão intercederam por ela. Deus concedeu a cura, depois de sete dias de isolamento, fora do acampamento. E o povo, solidário com a situação, não seguiu seu caminho enquanto Maria não fosse readmitida à comunidade (cf. Nm 12, 1-16).

Em síntese, podemos dizer que Maria foi uma filha de Israel que lutou por sua família e por seu povo, ajudando Moisés a viver e colaborando com ele no processo de libertação, no êxodo do povo de Israel. Foi líder das mulheres e cantou com elas louvores a Deus, pelas maravilhas que ele realizou em suas vidas. Foi uma fonte viva cuja água ajudou o povo de Deus a enfrentar a sede do deserto, até a terra prometida.

UMA FONTE DE ÁGUA A JORRAR

O livro dos Números anuncia a morte de Maria, dizendo: “Os israelitas, toda a comunidade, chegaram ao deserto de Sin, no primeiro mês, e o povo se estabeleceu em Cades. Ali morreu Maria e, ali, foi sepultada” (Nm 20, 1). Ela provavelmente morreu com 125 anos, na contagem bíblica, sem dor nem sofrimento, num descanso digno de quem serviu a Deus por toda a vida.

Chama a atenção do leitor o que diz  no versículo seguinte: “Como não havia água para a comunidade, surgiu um motim contra Moisés e Aarão” (Nm 20, 2). Misteriosamente, a fonte que providenciava água para o povo secou, na ocasião da morte de Maria. Depois, essa fonte jorrou milagrosamente e deu água para matar a sede de Israel, durante 40 anos, mas naquele momento o povo estava novamente sedento.

Maria colocou e retirou Moisés do rio, atravessou o mar Vermelho, provou das águas amargas e as viu ficarem doces, viu água brotar do rochedo. Assim, ela mesma se tornou uma fonte de água para o povo. Sua profecia, sua liderança, sua presença forte foram como um manancial que abasteceu e revigorou Israel durante anos de sofrimento no deserto. E, na ocasião de sua morte, o povo voltou a queixar-se de sede.

O interessante e belo, se não profético, é que outra Maria, bem mais tarde, dará à luz um filho, chamado Jesus. Ele dirá de si mesmo: “Aquele que beber da água que eu darei nunca mais terá sede, pois a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna” (Jo 4, 14). Talvez esteja na missão das Marias dar ao povo água , para que possa saciar sua sede e seguir adiante, nos caminhos preparados por Deus.

Fonte: Revista Ecoando, Ano 18 nº 71, Setembro-Novembro 2020, páginas 10 e 11

Beatos poloneses morreram mártires para defender a procissão de Corpus Christi

Corpus Christi. Crédito: Sidney de Almeida - Shutterstock | Nas laterais padre Vicente Matuszewski e padre José Kurzawa. | Crédito: Hagiopédia e Diocese de Kaliskiej.

Os beatos padre Vicente Matuszewski e padre José Kurzawa morreram mártires por causa da coragem em defender a procissão de Corpus Christi em 1940 na cidade de Osiecyni,  Polônia.

Segundo o livro Ano Cristão da Biblioteca de Autores Cristãos, o heroísmo dos beatos mártires remonta ao ano d. Os nazistas tinham invadido a Polônia, mas os padres continuaram o serviço paroquial.

No dia de Corpus Christi levaram a sagrada eucaristia em procissão pública. Os nazistas ficaram furiosos e o ex-prefeito da cidade foi até os beatos para pedir-lhes que fossem embora.

O pároco Vicente Matuszewski disse-lhe que não ia embora, mas que o padre José Kurzawa era livre para sair. Contudo, o padre coadjutor respondeu que não abandonaria o seu pároco.

diocese polonesa de Kaliskiej informa que foi no dia 23 de maio e que à noite as autoridades nazistas chegaram à casa onde dormiam os beatos, que foram espancados. Eles foram postos em um carro e levados para fora da cidade

Os padres foram amarrados ao veículo e arrastados para a floresta. Lá eles sofreram tortura e foram mortos com um tiro na cabeça. Seus corpos foram deixados em uma vala próxima à estrada. Os fiéis transformaram o funeral dos beatos num protesto contra a escravidão e a política anticatólica dos nazistas alemães.

A coragem dos chamados “mártires da eucaristia e da unidade sacerdotal” foi reconhecida em 13 de junho de 1999, dia em que um dos seus compatriotas, o papa são João Paulo II, os beatificou em Varsóvia, na Polônia.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A comunhão que nasce da comunidade em oração

Responsabilidade de viver em sociedade (Canção Nova)

A COMUNHÃO QUE NASCE DA COMUNIDADE EM ORAÇÃO

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! O ponto de partida da vida cristã é o amor a Deus, a si mesmo e ao próximo. A medida do amor ao próximo é a mesma do amor que se tem para consigo mesmo. Estamos finalizando o mês de maio, com a celebração da 145ª Romaria ao Santuário de Caravaggio, neste mês marcado pelas celebrações marianas, que nos lembram o carinho e o afeto maternal de Maria, a mãe de Jesus e nossa. Maria, a primeira seguidora de Jesus Cristo, nos recorda o nosso compromisso de batizados, que é seguir Jesus, como discípulos e missionários do Reino. Mas o discípulo, para poder viver em comunhão com o Mestre, deve alimentar-se do pão Palavra e do pão da vida eterna: a Eucaristia.

Quando nos colocamos em oração e na escuta de Deus, em comunidade, o sentido de pertença ao Povo de Deus, revigora a nossa vida de fé, e nos sentimos participantes de uma grande família. Sem vida de oração, que fortalece a comunhão entre nós e com Deus, dificilmente uma comunidade sobrevive como comunidade cristã. Não podemos manter a nossa fé no Senhor Jesus se não estamos abertos a ação santificadora do Espírito Santo na Igreja e na comunidade. O compromisso de todo batizado é anunciar e testemunhar Jesus Cristo, mas para anunciá-lo é preciso primeiro fazer um encontro com Ele. Do encontro com o Senhor Jesus nasce a conversão e a vivência comunitária da fé. A fé dos que encontraram o Senhor não é indiferente, mas busca testemunhar a alegria de ter encontrado o Mestre, vivendo a ação missionária de forma acolhedora, também na vida da comunidade.

Como cristãos, precisamos ter presente que a vida e a história obedecem em primeiro lugar ao projeto de Deus, que quer a vida para todos. Por isso, o cristão é sempre levado a buscar o significado profundo dos acontecimentos, para além de seus caprichos e interesses imediatos.

Centralizada no amor a Deus e ao próximo, a vida cristã é essencialmente uma realização comunitária. A comunidade é o ambiente vital para os cristãos, é nela que eles partilham a vida e encontram o apoio necessário para perseverar na fé. Por isso, a comunidade deve ser preservada de qualquer divisão que provém da competição pelo poder, da busca de privilégios e de sectarismos. A preocupação com a reconciliação é um dever de todos, e supõe imparcialidade quando aparecem conflitos.

Viver em comunidade, portanto, supõe que cada um confie plenamente no dom de Deus. Mas, ao mesmo tempo, requer uma educação para isso. E o ponto fundamental é a instrução no temor de Deus. Não se trata de ter medo de Deus, mas de reconhecer que Deus é o Senhor e doador da vida, e seu projeto é que todos repartam a vida entre todos. A educação cristã começa aqui, mostrando para as pessoas que elas não são autossuficientes e independentes, mas interdependentes, complementando-se mutuamente na partilha do que cada um é.

Se o caminho da vida é temer a Deus e amar a Deus e ao próximo, o caminho da morte é o contrário: começa com a ausência do temor de Deus. Sem esse temor, o homem se coloca no lugar de Deus e passa a agir como se fosse centro e senhor da vida, dispondo de tudo e de todos, sem a menor consideração pela vida e liberdade de seus semelhantes. Quando o homem usurpa o lugar de Deus, cria automaticamente o projeto da escravidão e da morte.

À luz do Evangelho, a comunidade cristã deve alimentar um clima de fraternidade e de partilha. Ao mesmo tempo, deve ser solidária e estar sempre aberta para acolher aqueles que necessitam de ajuda, para serem inseridos ou reinseridos na comunidade, como irmãos que trazem no coração, muitas vezes ferido, a dignidade de filhos e filhas de Deus nosso Pai.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

As Festas do Senhor durante o Tempo Comum (1)​

Crédito: Opus Dei

As Festas do Senhor durante o Tempo Comum (1)

Neste editorial dedicado às festas do Senhor que a Igreja nos apresenta ao longo do Tempo comum, recolhemos algumas considerações de quatro delas: a Apresentação e a Anunciação do Senhor, a Santíssima Trindade e o Corpus Christi.

13/06/2019

O tempo de uma presença

“Como agora eu, que vim a vós em nome do Senhor, vos encontrei em vigília em seu nome, assim o próprio Senhor, em cuja honra celebramos esta solenidade, encontrará a sua Igreja velando na luz da alma, quando vier despertá-la” [1]. Velar na luz da alma: estas palavras de Santo Agostinho, pronunciadas durante uma vigília pascal, resumem bem o sentido das grandes solenidades e festas do Senhor que marcam o Tempo Comum, desdobrando, ao longo de todo o ano, o mistério da salvação que brota da Cruz, emana do Sepulcro vazio e renova a face da terra.

“O único e idêntico centro da liturgia e da vida cristã –o mistério pascal –adquire então, nas diversas solenidades e festas, "formas" específicas, com ulteriores significados e com particulares dons da graça” [2]. As festas da Transfiguração e da Exaltação da Santa Cruz são comuns a todas as tradições litúrgicas, enquanto que as solenidades da Santíssima Trindade, do Santíssimo Corpo de Cristo, do Sagrado Coração de Jesus e de Cristo, Rei do Universo são próprias da Igreja romana.

Por último, duas festas profundamente vinculadas com a vida de Maria, a Apresentação de Jesus no Templo e a solenidade da Anunciação do Senhor, celebram-se também dentro do Tempo comum. Por seu teor teológico, ambas pertencem, na realidade, ao ciclo de Manifestação ou Tempo de Natal, mas seu lugar no calendário se deve ao modo pelo qual, por caminhos complexos, se acabou fixando sua data.

A APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO

A lei mosaica prescrevia que todo primogênito de Israel devia ser consagrado a Deus quarenta dias depois de nascer e ser resgatado com uma soma oferecida ao tesouro do Templo. Tratava-se de lembrar como os primogênitos foram preservados na noite da primeira Páscoa, durante a saída de Egito. O Evangelho de São Lucas recolhe a apresentação de Jesus no Templo desta forma: “Concluídos os dias da sua purificação da mãe e do filho, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” [3]. São José e Nossa Senhora entram no templo, despercebidos entre a multidão: o Esperado por todos os homens entra inerme, no colo de sua Mãe, na casa de seu Pai. A liturgia desse dia nos desperta com o salmo responsorial, para que adoremos o Rei da Glória no seio desta discreta família. “Ó portas, levantai vossos frontões! Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, a fim de que o rei da glória possa entrar!” [4]

Foi no século IV que a Igreja de Jerusalém começou a celebrar anualmente esse mistério. A festa era celebrada no dia 14 de fevereiro, quarenta dias depois da Epifania, porque a liturgia de Jerusalém ainda não tinha adotado o costume romano de celebrar o Natal no dia 25 de dezembro. Por isso, quando este uso se tornou comum em toda a orbe cristã, a festa da Apresentação foi transladada para o dia 2 de fevereiro e assim se estendeu por todo o Oriente. Em Bizâncio, foi introduzida pelo imperador Justiniano I, no século VI, sob a avocação de Hypapante ou o encontro de Jesus com o ancião Simeão, figura dos justos de Israel, que pacientemente tinha esperado por um longo tempo o cumprimento das promessas messiânicas.

Durante o século VII, a celebração arraigou-se também no Ocidente. O nome popular de candelária oufesta da luz provem da tradição de fazer uma procissão com velas, instituída pelo Papa Sérgio I. Como proclama o ancião Simeão, Jesus é o Salvador, apresentado“diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações”. [5]A Igreja, ao celebrar a vinda e manifestação da luz divina ao mundo, benze as velas todos os anos, como símbolo da perene presença de Jesus e da luz da fé que os fiéis recebem pelo sacramento do Batismo. Assim, a procissão com as velas acesas se converte em uma expressão da vida cristã: um caminho iluminado pela luz de Cristo.

A comemoração anual da Apresentação de Jesus no Templo é também uma celebração mariana. Por isso, em determinadas épocas, foi conhecida como festa da Purificação de Maria. Ainda que preservada por Deus do pecado original, Maria, como mãe hebreia, quer se submeter à Lei do Senhor e por isso oferece “um par de rolas ou dois pombinhos”.[6]A oblação de Maria se converte assim em um sinal da sua obediência pronta aos mandatos de Deus. “Aprenderás com este exemplo, menino bobo, a cumprir a Santa Lei de Deus, apesar de todos os sacrifícios pessoais?”[7]

A ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

No dia 25 de março, a Igreja celebra o anúncio do cumprimento das promessas de salvação. Maria conhece, dos lábios do Anjo, que achou graça diante de Deus. Pela ação do Espírito Santo, conceberá um filho que será chamado Filho de Deus. Salvará o seu povo e se elevará sobre o trono de Davi e o seu reino não terá fim [8]. É a festa da Encarnação: o Filho eterno do Pai entra na história. Faz-se homem na carne de Maria, uma moça humilde do povo de Israel. Desde então, “a história não é mais uma simples sucessão de séculos, anos, dias, mas sim o tempo de uma presença que lhe dá pleno significado e abertura a uma sólida esperança” [9].

É provável que, no século IV, essa festa já fosse celebrada na Palestina, pois naquelas datas se levantou uma basílica em Nazaré, no lugar onde a tradição colocava a casa de Maria. Esse forte traço mariano pode ser percebido no nome que a celebração também recebeu: Anunciação à Virgem Maria. Muito brevemente, durante o século V, a festa será difundida pelo oriente cristão, para depois ser transmitida ao Ocidente. Na segunda metade do século VII, já há testemunhas de sua celebração na Igreja romana, no dia 25 de março, sob a avocação de Annuntiatio Domini.

A data escolhida para a festa parte de uma antiga tradição que colocava a criação do mundo no dia preciso do equinócio da primavera (que no início da era cristã correspondia ao dia 25 de março do calendário juliano). De acordo com a ideia de que a perfeição implica no cumprimento de ciclos completos, os primeiros cristãos consideraram que a encarnação de Cristo (começo da nova criação), a sua morte na cruz, e a sua vinda definitiva no final dos tempos, deviam ser situados nessa mesma data, que, dessa forma, aparece carregada de sentido. Além disso, o lugar preciso do Natal no calendário – nove meses depois da Anunciação –, parece ter sua origem nessa primitiva datação.

Os textos da Missa e da Liturgia das Horas dessa solenidade focam-se na contemplação do Verbo feito carne. O salmo 39 (40) evocado na antífona de entrada, no salmo responsorial e na segunda leitura é o fio condutor de toda celebração: “Eis que venho fazer a vossa vontade, Senhor!” [10].Jesus se encarna por obediência ao querer de seu Pai; e, sua mãe atua da mesma forma. Maria se turba, mas não põe objeções: não duvida da palavra do anjo. Movida pela fé, diz “sim” à vontade de Deus. “Maria manifesta-se santamente transformada, no seu coração puríssimo, em face da humildade de Deus: (...). A humildade da Virgem é consequência desse abismo insondável de graça, que se opera com a Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade Beatíssima nas entranhas de sua Mãe sempre Imaculada ”[11].

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Notas:

[1] Santo Agostinho, Sermão 223 D (PL Supplementum 2, 717-718).

[2] Bento XVI, Homilia, 31-V-2009.

[3] Lc. 2,22-23.

[4] Salmo 23 (24), 7.

[5] Lc. 2,32.

[6] Lc. 2,24.

[7] Santo Rosário, IV mistério gozoso.

[8] Cfr. Lc 1, 26-33.

[9] Bento XVI, Audiência, 12-XII-2012.

[10] Cfr. Sl 39 (40), 8-9.

[11] Amigos de Deus, n. 96.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

O novo nascimento pela Ressurreição do Senhor

Batizado durante a Vigília Pascal na Basílica de São Pedro (Vatican Media)

"O Batismo na Igreja primitiva acontecia numa piscina da regeneração, não numa pia ou bacia ajeitada. O neófito era enxertado da Páscoa do Senhor, para renascer pelo banho da eternidade. O resgate dos textos extraordinários e mais antigos sobre o Batismo atestam esse rito batismal e refletem a riqueza fantástica do sacramento, que o Concílio Vaticano II nos propõe recuperar."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Os sacramentos são essencialmente celebrados da mesma maneira. Os ritos e as disposições exigidas pela Igreja mudam, mas a substância é a mesma. Nos primeiros séculos da Igreja, por exemplo, o tempo em que se celebrava o Batismo era pincipalmente a festa da Páscoa ou a festa de Pentecostes, precedido por uma preparação ao longo de toda a quaresma. Naturalmente havia exceções, como diante de uma grave doença, perseguições, etc. Batizava-se à noite, durante as vigílias que antecediam essas festas, com os neófitos participando de toda ação litúrgica juntamente com os outros fiéis. Ao longo dos séculos, o Batismo também passou a ser realizado em outras festas, como na Epifania, em memória ao Batismo de Jesus, mas também no Natal e na festa de São João Batista, e com o passar do tempo em qualquer festividade e mesmo nos dias de semana.

"O novo nascimento pela Ressurreição do Senhor", é o tema da reflexão do padre Gerson Schmidt*:

"Dizíamos que desde o século III, os cristãos começaram a estender algumas festividades para além do seu próprio dia. Assim, as alegres celebrações da Páscoa eram prolongadas e duravam pelo menos oito dias inteiros. Os cristãos sentiam cada dia da Oitava como se fosse o Domingo de Páscoa. Esta tradição foi preservada quer no rito romano como em vários ritos orientais.  Durante a Oitava da Páscoa não era realizado nenhum trabalho, era uma celebração contínua e continuada. Os neófitos, batizados pelo Papa na Vigília Pascal, deviam participar da Missa e receber a Sagrada Comunhão todas as manhãs em uma igreja diferente em Roma. À noite iam a São João de Latrão, a Igreja do Papa, para a oração do Ofício das Vésperas, geralmente presidida pelo Papa. Os recém-batizados usavam a veste batismal durante toda a Oitava da Páscoa, como sinal de estarem ressuscitados pelo Batismo que receberam na Vigília Pascal. O segundo domingo da Páscoa foi chamado In Albis (=em branco) porque neste dia depunham os neófitos as suas vestes brancas. Os neófitos, em sinal de que chegou ao fim a festa, tiravam, pois, as suas túnicas brancas, para retomarem as vestes ordinárias, havendo sentido já as doçuras que o Senhor prodigaliza aos seus recém-nascidos nos primórdios da vida cristã, como reza os textos do Introito do rito litúrgico, já agora revestidos com a veste do Ressuscitado.

O Batismo na Igreja primitiva não acontecia numa pia batismal qualquer ou numa bacia improvisada. Havia uma piscina com sete degraus, simbolizando os sete pecados capitais que deviam ser vencidos pelo neófito, que descia às aguas regeneradoras e batismais, despido totalmente de suas vestes e vícios, sendo batizado no último degrau negro da morte, e revitalizado, subia os outros sete degraus, do outro lado da piscina, que simbolizava os sete dons do Espirito Santo que eram recebidos na Noite Santa. Saindo das águas batismais, o recém-batizado era então revestido com uma túnica branca, num revestir-se do homem novo, desfeito de suas práticas antigas. O simbolismo pascal e batismal era realmente profundo e riquíssimo no catecumenato dos primeiros séculos. Estas particulares tradições batismais, infelizmente, caíram em desuso, mas o Tempo da Páscoa continua vibrante e festivo, um período de alegria para o cristão permanecer ancorado na beleza da Ressurreição e vitória do Senhor.

O Batismo na Igreja primitiva acontecia numa piscina da regeneração, não numa pia ou bacia ajeitada. O neófito era enxertado da Páscoa do Senhor, para renascer pelo banho da eternidade. O resgate dos textos extraordinários e mais antigos sobre o Batismo atestam esse rito batismal e refletem a riqueza fantástica do sacramento, que o Concílio Vaticano II nos propõe recuperar.

Recordamos uma antiga Homilia Pascal, de Autor desconhecido, referendado no Ofício das Leituras da Terça-feira da segunda semana do Tempo Pascal, no ciclo bienal. O texto, intitulado “O Batismo é um enxerto para a eternidade”, recorda o mergulho na morte de Cristo, pelo batismo, o enxerto na eternidade ao recém-iluminado. No útero da piscina da regeneração, a entrada no céu da Ressurreição, morada da incorrupção, vida nova ressurgida das fontes batismais. Escreve assim esse autor que não conhecemos, rico documento histórico-batismal:

“Tu, recém-iluminado, foste mergulhado nesses bens. A iniciação na graça tornou-se para ti, recém-iluminado, penhor da ressurreição. Para ti o Batismo é penhor da vida futura no céu. Imitaste com tua imersão a sepultura do Senhor. Mas emergiste daí vendo as obras da ressurreição antes de quaisquer outras. Entra na realidade das coisas cujos símbolos te foram mostrados. Toma como testemunha do que te foi dito a Paulo que escreve: Se fomos enxertados nele por uma morte semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição (Rm 6,5: Vulg.). Como é bela a expressão enxertados nele! Porque o Batismo é um enxerto para a eternidade, enxerto feito na fonte batismal e que dá fruto no céu. Ali a graça do Espírito opera de maneira misteriosa: provocado pela natureza, não deixes de reconhecer o milagre. A água serve apenas de ocasião, a graça é que de fato regenera. Na piscina, como se fosse um útero, ela dá forma nova ao que é introduzido. Na água, como numa fornalha, ela forja ao que imerge. Confere-lhe os mistérios da imortalidade. Oferece o sinal da ressurreição.”

“Teus próprios trajes, ó recém-iluminado, mostram os símbolos dessas maravilhas. Olha para ti mesmo, ostentando as imagens desses bens. Essa veste esplêndida e brilhante te manifesta os sinais da incorrupção. O pano branco que te envolve a cabeça, como um diadema, apregoa a liberdade. A mão revela os sinais da vitória conseguida sobre o demônio. De fato, Cristo se apresenta a ti como ressuscitado: agora certamente por meio de símbolos, mas dentro em breve, na própria realidade.”

“Se não mancharmos a túnica da fé com nossos pecados, se não extinguirmos a lâmpada da graça com nossas más ações e se conservarmos a coroa do Espírito, então, nitidamente, lá do céu, o Senhor clamará com voz terrível, mas benigna para os homens: Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo (Mt 25,34). A ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém” ¹”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Oficio das Leituras, Bienal, 3ª Feira da 2ª Semana da Páscoa, Sermo in sanctum Pascha: PG 28,1080-1082 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF