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quinta-feira, 6 de junho de 2024

O que é depressão e como buscar ajuda e tratamento para você ou outras pessoas (3)

Grosso modo, há três linhas principais de tratamento: a psiquiátrica, a terapêutica e a farmacoterápica, que combina psiquiatria (uso de medicamentos) e psicoterapia geralmente para casos de depressão moderada ou grave | GETTY Image

Quais são os tratamentos para depressão?

  • Cristiane Martins
  • De Londres para a BBC News Brasil

24 novembro 2021

Conforme o estágio e a intensidade do quadro de saúde, há tratamentos com medicamentos específicos. E, a depender de como o paciente se sente e quais motivos levaram ele à condição atual, haverá linhas psicoterapêuticas mais adequadas para tratar.

Um dado positivo é que, segundo a Associação Americana de Psiquiatria, a depressão é um dos transtornos mentais mais tratáveis. Entre 80% e 90% das pessoas com esse problema de saúde respondem bem ao tratamento.

Grosso modo, há três linhas principais de tratamento: a psiquiátrica, a terapêutica e a farmacoterápica, que combina psiquiatria (uso de medicamentos) e psicoterapia geralmente para casos de depressão moderada ou grave. Mas tudo vai depender do diagnóstico e da gravidade do quadro.

Como dito acima, a grande maioria dos casos de depressão leve pode ser tratada sem remédios, por exemplo. "Nesses casos, a primeira indicação pode ser a psicoterapia porque não tem efeito colateral, tem uma resposta mais rápida do que aquela com fármacos, porque antidepressivos precisam de pelo menos um ano de uso para tratar depressão. Então, se fizer psicoterapia nesses casos, você consegue melhorar mais cedo e ainda trabalhar outras coisas que não envolvam só a depressão", afirma Melo, da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.

O tratamento terapêutico pode acontecer seguindo correntes como terapia cognitiva comportamental, psicanálise, terapia analítica (junguiana), gestalt-terapia, sistêmica, psicodrama, entre outras.

Algumas vão recorrer a simbologias e interpretação dos sonhos, como a terapia junguiana, por exemplo.

Outras terapias buscam focar nas ações do presente (em uma espécie de diferenciação de tratamentos como o psicanalítico, em que esse mesmo paciente seria recebido em consultório pelo analista, que o escutaria sobre episódios da infância, por exemplo), como analítico-comportamental, gestalt e terapia cognitivo-comportamental, uma das abordagens mais comuns para casos de depressão, que por meio da conversa entre paciente e terapeuta ensina o paciente a identificar e lidar com pensamentos, crenças e sentimentos negativos, quebrando o ciclo em torno deles.

Outras se dedicam mais ao autoconhecimento, em que o paciente faz associações livres por meio da fala e sem interrupções do terapeuta, como a psicanálise, que incentiva o paciente a acessar seu inconsciente e trazer à consciência o que está lhe afetando no quadro depressivo.

No caso da psicanálise, seus efeitos são estabelecidos na chamada "transferência" entre sujeito e analista, ou seja, grosso modo, no momento em que o paciente permite ao especialista (analista) a ajuda e se entrega de fato ao processo analítico. E isso pode contribuir no tratamento da depressão como contribui com outras modalidades de sofrimento psíquico: analisando a singularidade da experiência daquele paciente com esse diagnóstico, evitando generalizações.

Além disso, há outras terapias alternativas para casos mais leves de depressão, que incluem meditação, programas de exercício físico, arteterapia, entre outras. Caberá aos profissionais especializados identificar e acompanhar quais são mais adequadas para cada paciente.

"Em casos mais leves, o tratamento pode ser realizado somente com psicoterapia. Mas quadros moderados a graves precisam também de intervenção com medicamentos e, caso haja ideação suicida, a internação pode ser considerada", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Segundo ele, quase 70% das mortes associadas à depressão podem ser prevenidas com tratamento correto.

Em linhas gerais, os antidepressivos fazem alterações químicas no cérebro para reequilibrar o humor e a energia, por exemplo. Mas algumas vezes isso se dá com efeitos colaterais, inclusive dependência, algo que gera medo e hesitação entre pacientes.

Só que esses medicamentos acabam não surtindo efeito para algo em torno de 10% a 30% dos pacientes, diagnosticados posteriormente com depressão resistente ao tratamento, refratária ou não responsiva.

Uma das abordagens usadas para esses pacientes específicos é a estimulação magnética transcraniana (EMT), uma técnica não invasiva que estimula o cérebro com ondas magnéticas. O paciente fica acordado durante as sessões.

Tratamento terapêutico pode acontecer seguindo correntes como terapia cognitiva comportamental, psicanálise, terapia analítica (junguiana), gestalt-terapia, sistêmica, psicodrama, entre outras | GETTY Image

Outra abordagem para esses tipos de casos mais graves ou refratários é a ECT (eletroconvulsoterapia, popularmente conhecida como eletrochoque), tratamento destinado a pacientes com depressão mais severa ou que já experimentaram outros tratamentos sem apresentação de melhora. Apesar de todo o estigma e preconceito em torno desse tipo de tratamento, ele é considerado seguro, indolor e eficaz.

Nesse tipo de terapia, uma baixa corrente elétrica estimula o cérebro e provoca uma convulsão no paciente sob anestesia, ajudando a aliviar os sintomas da depressão por meio de alterações químicas no cérebro. Ela é realizada em hospitais ou clínicas especializadas em séries de 6 a 12 sessões.

Há também o spray de escetamina (ou esketamina), derivado do anestésico cetamina aprovado em 2020 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse remédio inalável estimula as áreas do cérebro ligadas às emoções.

Por fim, há diversas pesquisas promissoras em andamento em torno do uso de psicodélicos para tratar depressão e outros transtornos mentais, mas esses tratamentos ainda estão em fase experimental.

Segundo OMS, depressão é principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma significativa para a carga global de doenças | GETTY Image

Como ter acesso a tratamentos para depressão pelo SUS?

Segundo a OMS, a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma significativa para a carga global de doenças. Segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Brasil, foram 576,6 mil afastamentos por transtornos mentais e comportamentais em 2020.

"Ainda precisamos de um sistema público em saúde mental no Brasil que ofereça todo o suporte necessário ao padecente de transtornos mentais, que deve contar com o princípio de integração entre os diversos serviços, constituindo um sistema integrado de referência e contra referência no qual as unidades devem funcionar de forma harmônica, complementando-se, não se opondo nem se sobrepondo um ao outro, não concorrendo e nem competindo entre si", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.

No SUS, pacientes podem buscar orientação e tratamento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de Convivência e Cultura, ambulatórios multiprofissionais, Unidades de Acolhimento (UAs), hospitais especializados e hospitais-dia de atenção integral. Parte dos medicamentos está disponível na rede de Farmácia Popular.

Segundo o Ministério da Saúde, há 2.742 CAPS espalhados por 1.845 cidades do país. Eles atendem todos os casos de depressão e isso inclui os quadros moderados e severos.

O atendimento não é feito apenas por médicos nessas unidades, mas também por psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros profissionais de saúde das equipes multidisciplinares.

Se os casos forem mais graves, os pacientes são encaminhados para hospitais especializados. Se houver diagnóstico da forma mais leve do transtorno, pode haver um direcionamento para uma Unidade Básica de Saúde (UBS).

Além da rede pública de saúde, é possível também buscar orientação e tratamento em iniciativas de atendimento psicológico gratuitas ou de baixo custo (valor social), como aquelas oferecidas por universidades (como USP, UFBA, UFSC, UFPR e UFPA), entidades de classe (como Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo e Associação Brasileira de Psicodrama), entre outros.

Por fim, Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria, lembra que os pacientes, depois de todos os obstáculos para conseguirem diagnóstico e tratamento, ainda precisam enfrentar o estigma em torno da depressão, uma "discriminação que pode ser tão incapacitante quanto a própria doença" e afeta inclusive a recuperação e reabilitação do paciente.

"O combate ao estigma é primordial para que o portador de doença mental viva de forma independente e autônoma, tenha oportunidades de trabalho, persiga suas metas e usufrua de oportunidades com dignidade e plena inserção social."

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda no Centro de Valorização da Vida e o Centro de Atenção Psicossocial (CAP) da sua cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/

O Credo do Povo de Deus (3)

São Paulo VI (Canção Nova)

Arquivo 30Dias – 06/1998

O Credo do Povo de Deus

O texto da Profissão de Fé que Paulo VI pronunciou em 30 de junho de 1968, no final do Ano da Fé anunciado por ocasião do XIX centenário do martírio dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma.

O texto da Profissão de Fé proclamada por Paulo VI em 30 de junho de 1968

Cremos que a Missa, celebrada pelo Sacerdote que representa a pessoa de Cristo em virtude do poder recebido no sacramento da Ordem, e oferecida por ele em nome de Cristo e dos membros do seu Corpo místico, é o Sacrifício do Calvário tornada sacramentalmente presente em nossos altares. Cremos que, assim como o pão e o vinho consagrados pelo Senhor na Última Ceia foram convertidos no seu Corpo e Sangue que pouco depois seria oferecido por nós na Cruz, da mesma forma o pão e o vinho consagrados pelo sacerdote são convertidos no Corpo e Sangue de Cristo reinando gloriosamente no Céu; e acreditamos que a presença misteriosa do Senhor, sob o que continua a aparecer aos nossos sentidos como antes, é uma presença verdadeira, real e substancial (33) . Portanto, Cristo não pode estar presente neste Sacramento senão através da conversão no seu Corpo da própria realidade do pão e através da conversão no seu Sangue da própria realidade do vinho, enquanto apenas as propriedades do pão e do vinho percebidas pelos nossos sentidos permanece inalterado. . Esta conversão misteriosa é chamada pela Igreja, muito apropriadamente, de transubstanciação . Toda explicação teológica que tente penetrar de alguma forma neste mistério, para estar de acordo com a fé católica, deve sustentar que na realidade objetiva, independentemente do nosso espírito, o pão e o vinho deixaram de existir após a consagração, de modo que a partir daí momento é o adorável Corpo e Sangue do Senhor Jesus que realmente está diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e do vinho (34), tal como o Senhor quis, dar-se a nós como alimento e associar-nos à unidade do seu Corpo místico (35) .

A existência una e indivisível do Senhor glorioso no Céu não se multiplica, mas torna-se presente pelo Sacramento nos numerosos lugares da terra onde se celebra a Missa. Depois do Sacrifício, esta existência permanece presente no Santíssimo Sacramento, que é, no sacrário, o coração vivo de cada uma das nossas igrejas. E é-nos um dever muito doce honrar e adorar na Santa Hóstia, que os nossos olhos vêem, o Verbo Encarnado, que eles não podem ver e que, sem sair do Céu, se fez presente diante de nós.

Confessamos que o Reino de Deus, iniciado aqui embaixo na Igreja de Cristo, não é deste mundo, cuja figura passa; e que o seu verdadeiro crescimento não se confunde com o progresso da civilização humana, da ciência e da tecnologia, mas consiste em conhecer cada vez mais profundamente as riquezas inescrutáveis ​​de Cristo, em esperar cada vez mais fortemente os bens eternos, em responder cada vez mais ardentemente ao amor de Deus, e em dispensar graça e santidade cada vez mais abundantemente entre os homens. Mas é este mesmo amor que leva a Igreja a preocupar-se constantemente com o verdadeiro bem temporal dos homens. Embora ela nunca deixe de lembrar aos seus filhos que eles não têm um lar estável aqui embaixo, ela também os incentiva a contribuir – cada um segundo a sua vocação e os seus meios – para o bem da sua cidade terrena, para promover a justiça, a paz e a fraternidade. entre os homens, para estender a sua ajuda aos irmãos, especialmente aos mais pobres e necessitados. A intensa preocupação da Igreja, Esposa de Cristo, pelas necessidades dos homens, pelas suas alegrias e pelas suas esperanças, pelos seus esforços e pelas suas angústias, não é, portanto, outra coisa senão o seu grande desejo de estar presente junto deles para iluminá-los com a luz de Cristo e reuni-los todos Nele, seu único Salvador. Esta preocupação nunca pode significar que a Igreja se conforme com as coisas deste mundo, ou que diminua o ardor da espera do seu Senhor e do Reino eterno. 

Acreditamos na vida eterna. Cremos que as almas de todos aqueles que morrem na graça de Cristo, quer ainda tenham que ser purificados no Purgatório, quer sejam acolhidos por Jesus no Céu desde o momento em que deixam o corpo, como Ele fez com o Bom Ladrão, constituem o Povo de Deus no além da morte, que será derrotado definitivamente no dia da ressurreição, quando essas almas se reunirão aos seus corpos. 

Acreditamos que a multidão de almas, que estão reunidas em torno de Jesus e Maria no Paraíso, formam a Igreja do Céu, onde eles em eterna bem-aventurança vêem Deus como Ele é (36) e onde também estão associados, em diferentes graus, com os santos Anjos no divino governo exercido pelo Cristo glorioso, intercedendo por nós e ajudando as nossas fraquezas com a sua preocupação fraterna (37) . 

Cremos na comunhão entre todos os fiéis de Cristo, dos peregrinos nesta terra, dos defuntos que completam a sua purificação e dos bem-aventurados no Céu, que todos juntos formam uma só Igreja; acreditamos que nesta comunhão o amor misericordioso de Deus e dos seus Santos escuta constantemente as nossas orações, segundo as palavras de Jesus: Pedi e recebereis (38) . E com fé e esperança, aguardamos a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que está por vir. 

Bendito seja Deus, Santo, Santo, Santo. Amém.

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NOTAS:

(33) Ver Denzinger-Schönmetzer 1651. 

(34) Ver Denzinger-Schönmetzer 1642, 1651-1654; Paulo VI, carta encíclica Mysterium fidei 

(35) Cf. São Tomás, Suma Teológica III, 73, 3. 

(36) Cf. 1 Jo 3, 2; Denzinger-Schönmetzer 1000. 

(37) Cf. Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 49. 

(38) Cf. Lucas 11, 9-10; Jo 16, 24.

 

Fonte: https://www.30giorni.it/

João Paulo II: virtudes de um Papa santo (4)

São João Paulo II (Presbíteros)

João Paulo II: virtudes de um Papa santo

Por Pe. Francisco Faus

OS SEGREDOS DA ESPERANÇA

A Epístola aos Hebreus diz que “a fé é o fundamento da esperança” (Hb 11, 1). Assim foi, sem dúvida, na vida de João Paulo II.

No livro “Cruzando o limiar da esperança”, o Papa pergunta-se: “Por que não devemos ter medo?”. E responde: “Porque o ser humano foi redimido por Deus […].Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho Unigênito (Jo 3, 16). Este Filho continua na história da humanidade como Redentor. A revelação divina perpassa toda a história do ser humano, e prepara o seu futuro… É a luz que resplandece nas trevas(cfr. Jo 1, 5). O poder da Cruz de Cristo e da sua Ressurreição é maior que todo o mal de que o homem poderia e deveria ter medo” – conclui, grifando explicitamente a última frase [19].

Na verdade, é nesta última frase que se encerra todo o segredo da esperança cristã. O biógrafo Jorge Weigel, referindo-se a um comentário feito pelo dissidente iugoslavo Milovan Djilas, no sentido de que aquilo que mais lhe havia impressionado no Papa foi perceber que era um homem totalmente destemido, esclarecia o verdadeiro caráter dessa coragem: “Trata-se de uma audácia inequivocamente cristã. Na fé cristã o medo não é eliminado, mas transformado através de um encontro pessoal profundo com Cristo e com a sua Cruz. A Cruz é o lugar onde todo o medo humano foi oferecido pelo Filho ao Pai, livrando-nos a todos do medo” [20].

Alguns anos depois, em 2005, João Paulo II corroborava essa interpretação. No livro “Memória e Identidade”, diz: “Porventura não é o mistério da Redenção [da Cruz, da Morte e da Ressurreição de Cristo] a resposta ao mal histórico que retorna, sob as mais variadas formas, nos acontecimentos do homem? Não será a resposta também ao mal do nosso tempo? […]. Se olharmos, com olhos mais clarividentes, a história dos povos e das nações que passaram pela prova dos sistemas totalitários e das perseguições por causa da fé, descobriremos que foi então precisamente que se revelou com clareza a presença vitoriosa da Cruz de Cristo […], como promessa de vitória […]. Se a Redenção constitui o limite divino posto ao mal, isso se verifica apenas porque nela o mal fica radicalmente vencido pelo bem, o ódio pelo amor, a morte pela ressurreição” [21].

Cristo vence o mundo do mal, do pecado, vence o Inimigo, vence a morte. E a sua vitória é nossa: Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé (I João 5, 4).

Com essa mesma esperança bem fundada, o Papa entrava – e nos ajudava a entrar com ele – no novo milênio, oferecendo-nos, na Carta apostólica “Novo millennio ineunte” (”No início do novo milênio”), de 6 de janeiro de 2001, todo um programa vibrante e otimista para o período que se iniciava. Também nessa Carta, a alegre esperança brotava da fé em Cristo Redentor, ressuscitado, vivo, que “não nos deixou órfãos” (cfr. Jo 14, 18), que nos prometeu “estar conosco todos os dias até o fim do mundo” (cfr. Mt 28, 20). “Agora é para Cristo ressuscitado que a Igreja olha” – escrevia. “Passados dois mil anos desses acontecimentos (Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo), a Igreja revive-os como se tivessem sucedido hoje. No rosto de Cristo, ela – a Esposa – contempla o seu tesouro, a sua alegria […]. Confortada por essa experiência revigoradora, a Igreja retoma agora o seu caminho para anunciar Cristo ao mundo no início do terceiro milênio: ele é o mesmo ontem, hoje e sempre(Hebr 13, 8)” (n. 28).

UM LUMINOSO AMANHECER

Quem lê esse documento (e é importante relê-lo e meditá-lo muitas vezes!), pode ter inicialmente a impressão de um excesso de otimismo. O Papa fala com tanto entusiasmo do futuro da Igreja! Vê o mundo como um mar aberto diante dos cristãos, imenso, fabuloso, um mar para o qual Cristo acena, enquanto olha para nós e nos lança para ele com mesma palavra de ordem que dirigiu a Pedro, pescador, no mar da Galiléia, após uma noite triste de fracassos: Duc in altum! – Avança para águas mais profundas e lança as tuas redes para a pesca! (Luc 5, 3-4).

Esperança não é ilusão. Otimismo não é fechar os olhos e achar que tudo é azul. O Papa João Paulo II tinha plena consciência da presença abundante do mal no nosso mundo, da grande quantidade de joio, de planta daninha, misturada no meio do bom trigo. Mas não se esquecia de que Jesus, com a parábola do trigo e o joio (cfr. Mt 13e, 24 ss.), quis garantir-nos que haverá trigo e promessa de belas colheitas até o fim do mundo. O pessimista vê o joio. O otimista vê o trigo, e sente a responsabilidade de cuidá-lo, aumentá-lo, estendê-lo, fazê-lo crescer. “O modo como o mal cresce e se desenvolve no terreno sadio do bem – escreve o Papa Wojtyla – constitui um mistério; e mistério é também aquela parte de bem que o mal não conseguiu destruir e que se propaga apesar do mal, e cresce no mesmo terreno […]. O trigo cresce juntamente com o joio e, vice-versa, o joio com o trigo. A história da humanidade é o palco da coexistência do bem e do mal. Isto significa que, se o mal existe ao lado do bem, então está claro que o bem, ao lado do mal, persevera e cresce”.[22].

Da mesma forma, na Carta Mane nobiscum Domine para o Ano da Eucaristia (2005), João Paulo II reafirmava o otimismo da Carta do novo milênio, sem deixar de registrar o fato de que o mal, não só não diminuiu, como até parece ter crescido em vários aspectos, desde que o novo milênio começou.

Evoca nessa Carta as celebrações do Jubileu do ano 2000 e diz: “Sentia que essa ocasião histórica se delineava no horizonte como uma grande graça. Não me iludia, por certo, que uma simples passagem cronológica, ainda que sugestiva, pudesse por si mesma comportar grandes mudanças. Os fatos, infelizmente, se encarregaram de pôr em evidência, depois do início do milênio, uma espécie de crua continuidade dos acontecimentos precedentes e, com freqüência, dos piores dentre esses”. Mas nem por isso deixa de incentivar os cristãos a “testemunhar com mais força a presença de Deus no mundo”, e proclama, “mais convencido que nunca”, a certeza de que Cristo “está no centro, não apenas da história da Igreja, mas também da história da humanidade” e de que, por isso, só “nele o homem encontra a redenção e a plenitude” [23].

João Paulo II já está com Deus, na vida que não morre mais. Mas a sua esperança continua a ser luz que ilumina os olhos da alma e enche de coragem o coração. O novo Papa Bento XVI sente-se devedor dessa esperança e quer ser o novo porta-voz dela. Na sua primeira mensagem, dirigida na Capela Sistina aos cardeais que o elegeram, em vinte de abril de 2005, disse: “Tenho a impressão de sentir a mão forte do meu Predecessor, João Paulo II, que estreita a minha. Parece que vejo seus olhos sorridentes e que ouço as suas palavras, dirigidas neste momento particularmente a mim: «Não tenhais medo!».

A bandeira da esperança de João Paulo II continua desfraldada: “Sigamos em frente com esperança” – repete-nos. “Diante da Igreja abre-se um novo milênio como um vasto oceano onde se aventurar com a ajuda de Cristo. O Filho de Deus, que se encarnou há dois mil anos por amor do homem, continua também hoje em ação […]. Agora Cristo, por nós contemplado e amado, convida-nos uma vez mais a pormo-nos a caminho […], convida-nos a ter o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora. Podemos contar com a força do mesmo Espírito que foi derramado no Pentecostes e nos impele hoje a partir de novo sustentados pela esperança, que não nos deixa confundidos (Rom 5, 5)” [24]

No verão de 1997, João Paulo II convidou a passar uns dias com ele, em Castelgandolfo, um casal de amigos poloneses, velhos companheiros na juventude da luta pela fé e a liberdade, Piotr e Teresa Malecki. “O quarto deles – relata George Weigel – ficava mesmo por baixo do seu e, todas as manhãs antes de amanhecer, sabiam pelo baque surdo da sua bengala que já se tinha levantado. Certo dia, na hora do café da manhã, o Papa perguntou-lhes se o barulho os incomodava. Não, responderam, de qualquer forma já tinham de se levantar para a missa. «Mas, Wujek[25] – perguntaram -, por que você se levanta naquela hora da manhã?»

“Porque – disse Karol Wojtyla, 264º bispo de Roma – gosto de contemplar o amanhecer”[26] .

Trecho do livro “A força do exemplo”, incluído neste site.[27]

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Notas:

[19] Obra cit., pág. 202

[20] Testemunha de esperança, cit., pág. 696

[21] Obra cit., págs. 30-33

[22] Memória e Identidade, já citada, pág. 14

[23] Carta apostólica Mane nobiscum Domine, 07.10.2004, nn. 6 ss.

[24] Carta apostólica Novo millennio ineunte, n. 58

[25] Durante a perseguição comunista, quando fazia excursões com jovens, o padre Woytila, para evitar problemas com a polícia, pedia aos jovens: – Não me chamem padre, “me chamem wujek” (tio), frase conhecida de uma célebre epopeia polonesa do escritor Henryk Sienkiewicz.

[26] George Weigel, Testemunha de esperança, citado, pág. 696

Fonte: https://presbiteros.org.br/

O Papa: preocupa a hipótese de um novo conflito mundial, os povos desejam a paz

O cemitério de Colleville-sur-mer, Normandia (ANSA)

Há 80 anos, as tropas aliadas desembarcaram na Normandia, acelerando o fim da Alemanha nazista e da Segunda Guerra Mundial. Em uma mensagem ao bispo de Bayeux por ocasião do aniversário, Francisco afirma que “a recordação dos erros do passado sustentou a firme vontade de fazer todo o possível para evitar a eclosão de um novo conflito mundial aberto”. Hoje, escreve o Pontífice, os homens “têm memória curta”.

Michele Raviart – Vatican News

Para o Papa Francisco, são os milhares de túmulos de soldados alinhados nos imensos cemitérios da Normandia que são a lembrança mais tangível do “colossal e impressionante esforço coletivo e militar feito para obter o retorno à liberdade” que foi o desembarque dos Aliados. Oitenta anos depois, o Pontífice envia uma mensagem a dom Jacques Habert, bispo de Bayeux, em cuja catedral as autoridades civis, religiosas e militares se reuniram para comemorar o evento histórico que, em 6 de junho de 1944, contribuiu decisivamente para o fim da Segunda Guerra Mundial e a restauração da paz.

“Guerra nunca mais!”

Além dos soldados “em sua maioria muito jovens e muitos que vieram de longe e heroicamente deram suas vidas”, Francisco lembra as inúmeras vítimas civis inocentes e todos aqueles que sofreram os terríveis bombardeios que atingiram tantas cidades, como Caen, La Havre e Rouen. O desembarque na Normandia, acrescenta, evoca “o desastre representado por aquele terrível conflito mundial, no qual tantos homens, mulheres e crianças sofreram, tantas famílias foram dilaceradas, tantas ruínas foram causadas” e “seria inútil e hipócrita recordá-lo sem condená-lo e rejeitá-lo definitivamente”, em nome daquele “Nunca mais a guerra!” pronunciado por São Paulo VI na ONU em 1965.

Os povos desejam a paz

“Se, por várias décadas, a memória dos erros do passado sustentou a firme vontade de fazer todo o possível para evitar a eclosão de um novo conflito mundial aberto”, enfatiza o Papa, “hoje não é mais assim”. Os homens, escreve, “têm memória curta” e “é preocupante que a hipótese de um conflito generalizado esteja às vezes sendo seriamente considerada novamente” e “que os povos estejam lentamente se acostumando a essa eventualidade inaceitável”. “Os povos”, continua o Papa, “desejam a paz! Desejam condições de estabilidade, de segurança e de prosperidade, nas quais cada um possa cumprir serenamente o seu dever e o seu destino", diz Francisco, ‘arruinar esta nobre ordem de coisas por ambições ideológicas, nacionalistas, econômicas é uma falta grave diante dos homens e diante da história, um pecado diante de Deus’.

Deus ilumine os corações daqueles que desejam a guerra

A oração de Francisco se dirige, então, “aos homens que desejam as guerras, àqueles que as desencadeiam, as alimentam sem sentido, as prolongam inutilmente e lucram cinicamente com elas”, para que “Deus ilumine seus corações” e “coloque diante de seus olhos a procissão de desgraças que eles provocam”. “Desejar a paz não é covardia”, mas requer a coragem de saber renunciar a algo, continua o Papa, rezando pelos pacificadores com a esperança de que “opondo-se à implacável e obstinada lógica do confronto, saibam abrir caminhos pacíficos de encontro e diálogo”. Finalmente, uma oração por todas as vítimas das guerras do passado e do presente: os pobres, os fracos, os idosos, as mulheres e as crianças, reiterou Francisco, são sempre as primeiras vítimas dessas tragédias.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 5 de junho de 2024

São Bonifácio

São Bonifácio (A12)
05 de junho
São Bonifácio

São Bonifácio, cujo nome de batismo era Vinfredo, nasceu aproximadamente no ano 672 na Inglaterra, em uma família abastada. Contra a vontade dos pais se tornou monge beneditino e aos 30 anos foi ordenado sacerdote.

Iniciou seu apostolado como professor e depois decidiu se dedicar ao trabalho missionário na evangelização dos povos pagãos da Alemanha. Como a sua primeira experiência não deu certo, foi para Roma falar com o papa Gregório II que o acolheu e, segundo conta Bento XVI, “depois de lhe ter imposto o novo nome de Bonifácio, confiou-lhe com cartas oficiais a missão de pregar o Evangelho no meio dos povos da Germânia”.

Em 722 foi feito Bispo de todos os territórios alemães que ele ajudou a converter, fundando vários mosteiros masculinos e femininos, como o Mosteiro de Fulda, centro da cultura religiosa alemã. Estendeu sua missão até a França.

No ano 754, estando na região da Frísia para celebrar o Crisma, no início da Santa Missa, um grupo de pagãos invadiu a celebração e matou a todos os cristãos, incluindo São Bonifácio, que teve a cabeça partida ao meio por um golpe de espada.

Colaboração: Josimeri Farias

Reflexão:

“Uma primeira evidência impõe-se a quem se aproxima de Bonifácio: a centralidade da Palavra de Deus, vivida e interpretada na fé da Igreja, Palavra que ele viveu, pregou e testemunhou até ao dom supremo de si no martírio. Vivia tão apaixonado pela Palavra de Deus, que sentia a urgência e o dever de a levar ao próximo, mesmo com o risco da sua própria pessoa”. Papa Bento XVI. Audiência Geral de 11 de março de 2009.

Oração:

Deus eterno e todo-poderoso, que destes a São Bonifácio o zelo ardente pelo Evangelho que o levou a trabalhar pela evangelização até a morte, concedei-nos, por sua intercessão, renovar a nossa fé para oferecer ao mundo de hoje a pérola preciosa do Evangelho. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!


Fonte: https://www.a12.com/

O que é depressão e como buscar ajuda e tratamento para você ou outras pessoas (2)

Segundo especialistas, se você acha que alguém que você conhece tem depressão, a coisa mais importante a fazer é ouvir | GETTY Image

Como buscar ajuda e tratamento para si mesmo ou outras pessoas?

  • Cristiane Martins
  • De Londres para a BBC News Brasil

24 novembro 2021

O psiquiatra ressalta que familiares e amigos são fundamentais na busca por ajuda e no apoio ao tratamento. Muitas vezes, são os primeiros a perceber que há algo de diferente e apontar a necessidade de buscar auxílio psiquiátrico ou psicológico.

Além dos sintomas listados acima, há outros sinais de mudança em pessoas que podem precisar de ajuda psiquiátrica e/ou psicológica, como evitar contato com familiares e amigos, se machucar, apresentar autoestima mais baixa, uso de substâncias ilícitas, desenvolver dores físicas sem causa aparente ou sentimentos persistentes de irritação, preocupação, melancolia, vazio ou anedonia, uma espécie de perda do prazer que se sentia em atividades ou eventos antes prazerosos.

"A depressão é um transtorno mental sério, quando a gente percebe que tem alguém que está com sintomas que justificam uma atenção clínica maior, o ideal é que faça, que essa pessoa possa buscar ajuda profissional", afirma Melo, da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas. "Às vezes ações como convidar um amigo que está deprimido para ir ao cinema ou ao parque, caminhar, são coisas terapêuticas. Não é terapia, mas é terapêutico. Pode ser que a pessoa não esteja aberta a isso. Nesses casos, buscar um acompanhamento profissional seria o mais indicado."

Segundo especialistas, se você acha que alguém que você conhece tem depressão, a coisa mais importante a fazer é ouvir. Muitas vezes, apenas falar e compartilhar seus sentimentos pode ser uma grande ajuda para alguém com depressão. Tente ouvir sem julgamento.

Você também pode encorajar a pessoa a buscar atendimento médico especializado ou encontrar outras formas de apoio. Seja paciente: não diga a alguém para "sair dessa" ou "se animar", pois isso não é algo que uma pessoa com depressão é capaz de fazer por si só.

Além disso, há diversos obstáculos sociais e psicológicos antes de se chegar ao diagnóstico e tratamento especializado, como a falta de recursos e o estigma em torno da depressão.

O sistema de saúde pública do Reino Unido recomenda que todas as pessoas que apresentam os sinais listados neste texto por mais de duas semanas deveriam buscar atendimento médico.

Mas como isso funciona na prática?

"Devido à psiquiatria ser uma especialidade médica, a primeira consulta com um psiquiatra tem muito em comum com aspectos de outras consultas médicas. O primeiro passo é realizar a anamnese, ou seja, colher um histórico clínico do paciente. Este histórico deve ser bastante detalhado. Além disso, nesse processo são analisados hábitos como relacionamentos pessoais e familiares, ambiente de trabalho, atividades de lazer e hobbies", diz Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Em seguida, o psiquiatra pode requisitar exames para identificar outras doenças ligadas aos campos da neurologia e da psiquiatria, como Alzheimer. E ao longo de todo esse percurso, desde a entrada no consultório, se dá o exame psíquico, com base em elementos como a observação do comportamento, discurso, humor ou atenção, explica Silva.

"O exame psíquico é essencial, pois a grande maioria dos transtornos psiquiátricos não são visíveis, a não ser por suas manifestações clínicas. Nesses casos, os sinais e sintomas são detectados a partir de técnicas e metodologias específicas de avaliação, com calma e cuidado."

E o que o paciente deve dizer nessas consultas? "A abertura total é importante. Você deve conversar com seu médico sobre todos os seus sintomas, marcos importantes em sua vida e qualquer histórico de abuso ou trauma. Informe também o seu médico sobre o histórico de depressão ou outros sintomas emocionais em você ou em membros da família, histórico médico, medicamentos que você está tomando (prescritos ou não), como a depressão afetou sua vida diária e se você já pensou em suicídio", orienta Alan Gelenberg, professor emérito da Universidade do Arizona, em guia sobre depressão da Associação Americana de Psiquiatria.

Quais são os tipos de depressão?

Antes de explicar os diferentes tratamentos, é importante esclarecer que há diversos tipos de depressão. Os mais comuns são a depressão maior ou unipolar, depressão pós-parto, depressão bipolar e transtornos depressivos induzidos por outras substâncias ou medicamento.

"Todos precisam de acompanhamento médico adequado, pois se não tratados podem levar a pensamentos suicidas", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.

O "transtorno depressivo maior" ou depressão unipolar, por exemplo, é o tipo mais conhecido e se caracteriza pelos sintomas mais conhecidos relacionados à depressão, como tristeza e falta de interesse persistentes, além de problemas de sono e apetite. É geralmente associada a fatores genéticos, mas pode ser desencadeada por eventos traumáticos, como a perda de um emprego, o fim de um relacionamento ou o surgimento de uma doença grave.

Outro tipo comum de transtorno é a depressão pós-parto. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, mulheres têm maior probabilidade de sofrer de depressão do que os homens. Alguns estudos inclusive apontam que um terço das mulheres passará por um episódio depressivo grave durante a vida. E parte delas enfrenta isso logo após o parto.

O Ministério da Saúde brasileiro define a depressão pós-parto como um quadro de tristeza, desespero e falta de esperança que se manifesta depois do nascimento de um filho. Segundo a pasta, "é importante ficar atento pois a condição pode afetar o vínculo da mãe com o bebê. Entre as causas estão a privação de sono das puérperas, falta de apoio familiar, isolamento, alimentação inadequada, vício em drogas. Ausência de planejamento da gravidez, depressão anterior, histórico familiar de depressão e violência doméstica são alguns dos fatores de risco".

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda no Centro de Valorização da Vida e o Centro de Atenção Psicossocial (CAP) da sua cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/

O Credo do Povo de Deus (2)

São Paulo VI (Canção Nova)

Arquivo 30Dias – 06/1998

O Credo do Povo de Deus

O texto da Profissão de Fé que Paulo VI pronunciou em 30 de junho de 1968, no final do Ano da Fé anunciado por ocasião do XIX centenário do martírio dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma.

O texto da Profissão de Fé proclamada por Paulo VI em 30 de junho de 1968

Acreditamos que em Adão todos pecaram: o que significa que o pecado original cometido por ele fez com que a natureza humana, comum a todos os homens, caísse num estado em que suporta as consequências desse pecado, e que já não é o estado em que foi encontrada desde o início nos nossos primeiros pais, constituídos na santidade e na justiça, e nos quais o homem não conheceu o mal nem a morte. É a natureza humana assim caída, despojada da graça que a cobria, ferida nas suas próprias forças naturais e submetida ao domínio da morte, que é transmitida a todos os homens; e é neste sentido que todo homem nasce em pecado. Professamos, portanto, com o Concílio de Trento, que o pecado original se transmite com a natureza humana, “não por imitação, mas por propagação”, e que é, portanto, “próprio de cada um” (19). 

Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, através do Sacrifício da Cruz, nos redimiu do pecado original e de todos os pecados pessoais cometidos por cada um de nós, de tal forma que – segundo as palavras do Apóstolo – «onde o pecado abundou, a graça abundou" (20). 

Cremos num só Batismo instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para a remissão dos pecados. O batismo deve ser administrado também às crianças que ainda não foram culpadas de nenhum pecado pessoal, para que elas, nascidas sem a graça sobrenatural, renasçam “da água e do Espírito Santo” para a vida divina em Jesus Cristo (21). 

Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica, construída por Jesus Cristo sobre esta rocha, que é Pedro. É o Corpo místico de Cristo, ao mesmo tempo uma sociedade visível, composta de corpos hierárquicos, e uma comunidade espiritual; é a Igreja terrena, o Povo de Deus peregrino aqui embaixo, e a Igreja repleta de bens celestes; é o germe e as primícias do Reino de Deus, através do qual a obra e as dores da Redenção continuam no tecido da história humana, e que aspira à sua perfeita realização além do tempo, na glória (22) . Com o tempo, o Senhor Jesus forma a sua Igreja através dos Sacramentos, que emanam da sua plenitude (23) . É com eles que a Igreja faz com que os seus membros participem no Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, na graça do Espírito Santo, que lhe dá vida e ação (24) . É, portanto, santa, embora inclua no seu seio os pecadores, pois não possui outra vida senão a da graça: precisamente vivendo a sua vida, os seus membros santificam-se, assim como, ao afastarem-se da sua vida, caem em pecados. e distúrbios, que impedem a radiação de sua santidade. Por isso a Igreja sofre e faz penitência por tais pecados, dos quais também tem o poder de curar os seus filhos com o Sangue de Cristo e o dom do Espírito Santo.

Herdeira das promessas divinas e filha de Abraão segundo o espírito, através daquele Israel cujas Escrituras ela guarda e venera com amor os Patriarcas e os Profetas; fundada nos Apóstolos e transmitindo, de século em século, a sua palavra sempre viva e os seus poderes de Pastores no Sucessor de Pedro e nos Bispos em comunhão com ele; Constantemente assistida pelo Espírito Santo, a Igreja tem a missão de guardar, ensinar, explicar e difundir a verdade, que Deus manifestou de forma ainda velada através dos Profetas e plenamente através do Senhor Jesus . a Palavra de Deus, escrita ou transmitida, e que a Igreja se propõe crer como divinamente revelada tanto com um julgamento solene como com o magistério ordinário e universal (25) . Acreditamos na infalibilidade, de que goza o Sucessor de Pedro quando ensina ex cathedra como Pastor e Doutor de todos os fiéis (26) , e de que goza também o Colégio dos Bispos quando exerce com ele o magistério supremo (27) . 

Acreditamos que a Igreja, que Jesus fundou e pela qual rezou, é indefectivelmente una na fé, no culto e no vínculo de comunhão hierárquica. Dentro desta Igreja, tanto a rica variedade de ritos litúrgicos como a legítima diversidade do património teológico e espiritual e das disciplinas particulares, longe de prejudicar a sua unidade, realçam-na mais claramente (28) . Reconhecendo então, fora do organismo da Igreja de Cristo, a existência de numerosos elementos de verdade e de santificação que lhe pertencem por direito próprio e tendem para a unidade católica (29), e acreditando na ação do Espírito Santo que inspira o amor por esta unidade nos corações dos discípulos de Cristo (30), alimentamos a esperança de que os cristãos, que ainda não estão em plena comunhão com a única Igreja, se reunirão um dia num só rebanho com um pastor. 

Acreditamos que a Igreja é necessária para a salvação, porque Cristo, que é o único mediador e o único caminho de salvação, se faz presente para nós no seu Corpo, que é a Igreja (31) . Mas o plano divino de salvação abrange todos os homens: e aqueles que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, mas procuram sinceramente a Deus e sob a influência da sua graça se esforçam por cumprir a sua vontade reconhecida nos ditames da sua consciência, também eles, num número que só Deus conhece, podem alcançar a salvação (32).

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NOTAS:

(19) Cf. Denzinger-Schönmetzer 1513.
(20) Cf. Rm 5, 20.
(21) Cf. Denzinger-Schönmetzer 1514.
(22) Cf. Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 8 e 50.
(23) Ver Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 7, 11.
(24) Ver Concílio Vaticano II, constituição Sacrosanctum Concilium , 5, 6; Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 7, 12, 50.
(25) Ver Denzinger-Schönmetzer 3011.
(26) Ver Denzinger-Schönmetzer 3074.
(27) Ver Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 25 (28) Ver Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 23; ver Concílio Vaticano II, decreto Orientalium Ecclesiarum , 2, 3, 5, 6. 

(29) Ver Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 8. 

(30) Ver Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 15. 

(31) Ver Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 14. 

(32)  Concílio Vaticano II, constituição dogmática Lumen gentium , 16.

 Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF