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sexta-feira, 14 de junho de 2024

O Papa no G7: nenhuma máquina deve optar por tirar a vida a um ser humano

O Papa Francisco proferindo o seu discurso no G7 (Vatican Media)

Francisco falou no encontro de cúpula em Borgo Egnazia, na Puglia. Na sessão conjunta com os líderes mundiais, indicou as oportunidades, os perigos e os efeitos da inteligência artificial: a humanidade está condenada a um futuro sem esperança se as pessoas forem privadas da capacidade de decidir sobre si mesmas e sobre suas vidas, condenando-as a depender das escolhas das máquinas.

Salvatore Cernuzio/Mariangela Jaguraba – Vatican News

"Nenhuma máquina, em caso algum, deveria ter a possibilidade de optar por tirar a vida a um ser humano." Foi o que disse o Papa Francisco em seu discurso proferido na cúpula de líderes mundiais do G7, em Borgo Egnazia, na região italiana da Puglia. A cúpula teve início na quinta-feira, 13, e se concluirá no sábado, 15 de junho.

Chegada a Puglia

O Papa chegou de helicóptero por volta de 12h15 e foi recebido pela presidente do Conselho de Ministros da Itália, Giorgia Meloni. Depois, manteve quatro encontros bilaterais com Georgieva (FMI), Zelensky, Macron e Trudeau, antes de se deslocar, acompanhado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, para a Sala Arena onde foi recebido por uma salva de palmas dos líderes na sessão conjunta.

Francisco num carro de golfe com a primeira-ministra italiana Meloni em sua chegada a Borgo Egnazia | Vatican Media

O Papa falou sobre a Inteligência Artificial, um dos principais temas do G7. Um "instrumento fascinante", mas ao mesmo tempo "tremendo", disse ele; "um instrumento" capaz de trazer benefícios ou causar danos, como todas as "ferramentas" criadas pelo homem desde o início dos tempos. O Papa já tinha dedicado sua Mensagem para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais a esse tema. Agora, diante dos homens e mulheres responsáveis pelo mundo, ele examina suas oportunidades, mas sobretudo seus riscos e "efeitos sobre o futuro da humanidade". O seu olhar está voltado principalmente para essa guerra com seus "pedaços" cada vez mais unificados. 

Num drama como o conflito armado, é urgente repensar o desenvolvimento e o uso de dispositivos como as "armas autônomas letais" para proibir sua utilização, começando já com um compromisso ativo e concreto para introduzir um controle humano cada vez maior e significativo.

O Papa durante o encontro bilateral com o presidente ucraniano Zelensky | Vatican Media

Potencial humano

Que nunca aconteça que as máquinas matem o homem que as criou. Francisco do palco do G7 refletiu a partir da engenhosidade humana, para esclarecer como não existe nenhum preconceito sobre os progressos científico e tecnológico, mas sim o medo de um desvio: "A ciência e a tecnologia são produtos extraordinários do potencial criativo de nós seres humanos”, disse o Pontífice. “É a partir do uso deste potencial criativo que Deus nos deu que a inteligência artificial vem à luz”. Um “instrumento extremamente poderoso”, sublinhou o Papa, utilizado em muitos âmbitos da ação humana: medicina, trabalho, cultura, comunicação, educação, política. “É agora lícito levantar a hipótese de que o seu uso influenciará cada vez mais o nosso modo de vida, as nossas relações sociais e, no futuro, até mesmo a forma como concebemos a nossa identidade como seres humanos”.

Portanto, por um lado, as possibilidades que a IA oferece são estimulantes; por outro lado, geram medo pelas consequências que se preveem. Em primeiro lugar, para Francisco é necessário distinguir adequadamente entre uma máquina que “pode, de algumas formas e com estes novos meios, produzir escolhas algorítmicas” e, portanto, “uma escolha técnica entre várias possibilidades”, e o ser humano que, em vez disso, “não só escolhe, mas em seu coração é capaz de decidir”.

"É por isso que, diante dos prodígios das máquinas, que parecem ser capazes de escolher de forma independente, devemos ter claro que o ser humano deve sempre ficar com a decisão, mesmo nos tons dramáticos e urgentes com os quais ela às vezes se apresenta em nossas vidas", disse ainda o Papa.

A mesa da sessão conjunta dos participantes do G7 | Vatican Media

A advertência do Papa foi incisiva: “Condenaríamos a humanidade a um futuro sem esperança se retirássemos das pessoas a capacidade de decidir sobre si mesmas e sobre as suas vidas, condenando-as a depender das escolhas das máquinas. Precisamos – disse ele – garantir e proteger um espaço de controle significativo do ser humano sobre o processo de escolha de programas de inteligência artificial: a própria dignidade humana está em jogo”.

Revolução cognitivo-industrial

Em suma, não estamos falando apenas de progresso científico, mas estamos diante de "uma verdadeira revolução cognitivo-industrial que", disse o Papa Francisco, "contribuirá para a criação de um novo sistema social marcado por complexas transformações epocais". 

A inteligência artificial poderia permitir a democratização do acesso ao conhecimento, o progresso exponencial da pesquisa científica, a possibilidade de delegar trabalhos árduos às máquinas; mas, ao mesmo tempo, poderia trazer consigo uma injustiça maior entre nações avançadas e em desenvolvimento, entre classes sociais dominantes e classes sociais oprimidas, colocando em perigo a possibilidade de uma "cultura do encontro" e promovendo uma "cultura do descarte". "Este é o perigo", disse ele.

O Papa durante o seu discurso | Vatican Media

Francisco falou sobre a "ética": É nela que está em jogo a condição humana de "liberdade" e "responsabilidade"; é sem ela que "a humanidade perverteu os fins do seu ser, transformando-se em inimiga de si mesma e do planeta". Hoje, observou o Papa, "há uma perda ou, pelo menos, um eclipse do sentido do humano e uma aparente insignificância do conceito de dignidade humana", os programas de inteligência artificial "devem ser sempre ordenados para o bem de cada ser humano". Eles devem ter, em outras palavras, "uma inspiração ética".

Nesse sentido, o Papa mencionou favoravelmente a assinatura em Roma, em 2020, marcado pela pandemia, do Apelo de Roma para a Ética da Inteligência Artificial (Rome Call for AI Ethics), e o apoio a essa forma de moderação ética dos algoritmos condensada no neologismo "algorético".

Embora tenhamos dificuldades para definir um único conjunto de valores globais, podemos, no entanto, encontrar princípios partilhados para enfrentar e resolver os dilemas ou conflitos de vida.

Entre os vários riscos, o Papa também teme o de um "paradigma tecnocrático". É precisamente aqui, disse ele, que a "ação política" se torna "urgente". Política, para muitos hoje, "é uma palavra feia" que lembra "erros", "corrupção", "ineficiência de alguns políticos", à qual se somam "estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la com alguma ideologia". Entretanto, "o mundo pode funcionar sem política?", perguntou o Papa. Sim, "a política é necessária" é a resposta. Mas, diante dos cenários descritos, é necessária uma "política saudável" que nos faça olhar para o nosso futuro com esperança e confiança.

Há, de fato, "coisas que precisam ser mudadas com redefinições fundamentais e transformações importantes" e "somente uma política saudável poderia guiar o caminho, envolvendo os mais diversos setores e conhecimentos", disse o Papa. "Dessa forma", acrescentou, "uma economia integrada em um projeto político, social, cultural e popular que tende para o bem comum pode abrir caminho para diferentes oportunidades, que não implicam deter a criatividade humana e seu sonho de progresso, mas sim canalizar essa energia de uma nova maneira".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A distinção entre Criador e criatura (2)

Nesta página, alguns detalhes da Última Ceia, Andrea del Sarto, Museo del Cenacolo di San Salvi, Florença | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 06/2003

Sessenta anos depois de Mystici Corporis

A distinção entre Criador e criatura

Sessenta anos depois de Mystici Corporis. A relevância da encíclica de Pio XII que condena “o falso misticismo, que falsifica a Sagrada Escritura, procurando eliminar as fronteiras invariáveis ​​entre as coisas criadas e o Criador”.

por Lorenzo Cappelletti

Atração da graça e abertura ecumênica

Se, portanto, na questão fundamental colocada por Gröber, Roma locuta est no sentido que ele queria, condenando como contrária à fé católica a indistinção entre Criador e criatura, entre Cristo e o cristão, e as consequências da moralidade desta indistinção, a Mystici Corporis distancia-se, no entanto, das análises e propostas próprias e alheias, pois por um lado evita acusar o protestantismo de ser a fonte dos males reclamados, por outro não propõe um retorno puro e simples à doutrina da societas perfecta .

 Com mais visão, a encíclica talvez já sinta que a deriva protestante é apenas uma etapa, e nem mesmo obrigatória, rumo à fusão que é ao mesmo tempo muito antiga e muito moderna do eu e de Deus e compreende que agora não o é. apenas reivindicando (em última análise numa função antiprotestante) a natureza da societas perfecta da Igreja, isto é, a sua autossuficiencia para atingir os seus próprios objetivos, o que oferece a contribuição decisiva para a realização efetiva desses objetivos .

Não é por acaso, deste ponto de vista, que a encíclica abre e termina apelando à beleza e ao poder de atração como aquilo que distingue a pertença a Cristo e à Igreja. Por isso se expõe a doutrina do Corpo Místico (escreve o Papa no n. 11), «para que a beleza da Igreja brilhe com nova glória, para que o conhecimento da nobreza singular e sobrenatural dos fiéis unidos no Corpo de Cristo com sua Cabeça pode se espalhar».

Graças à tempestade da guerra, isso pode ser sentido no Mystici Corporis até mesmo uma certa inspiração ecumênica. No início (n.5): «Confiamos que nem mesmo aqueles que estão fora do ventre da Igreja Católica acharão ingratas ou inúteis as verdades que vamos expor sobre o Corpo místico de Cristo. E isto não só porque a sua benevolência para com a Igreja parece aumentar dia após dia, mas também porque eles próprios, enquanto observam as nações levantando-se contra as nações e os reinos levantando-se contra os reinos, e a discórdia, a inveja e as razões para o ódio, se então virarem a sua olharem para a Igreja e considerarem a sua unidade de origem divina (em virtude da qual todos os homens de todas as raças estão unidos por um vínculo fraterno com Cristo), então serão certamente obrigados a admirar esta grande família alimentada pelo amor, e com a inspiração e com a ajuda da graça divina, são atraídos a participar da mesma unidade e caridade”.

A abertura ecuménica regressa no final da encíclica (n.95): «A Esposa de Cristo é única, e esta é a Igreja: mas o amor do Esposo divino tem tal amplitude que, sem excluir ninguém, na sua Esposa é abrange toda a raça humana. Na verdade, a causa pela qual o nosso Salvador derramou o seu sangue foi precisamente para reconciliar todos os homens com Deus na cruz”. Portanto, «mesmo nos outros homens, embora ainda não unidos a nós no Corpo da Igreja, reconhecemos irmãos de Cristo segundo a carne, chamados conosco à mesma salvação eterna».

Se há nostalgia em nós, não é tanto pela doutrina substancial da Mystici Corporis , gostaríamos de dizer paradoxalmente, mas por estas alusões respeitosas ao mesmo tempo à liberdade humana e à gratuidade da graça divina: «Para que todos os desorientados possam ingressar o quanto antes no rebanho único de Jesus Cristo, declaramos que é absolutamente necessário que isso seja feito de livre e espontânea vontade, não podendo acreditar senão quem o quiser", escreve Pio XII citando Agostinho. «Portanto, se alguns incrédulos são de fato obrigados a entrar no edifício da Igreja, a aproximar-se do altar, a receber os sacramentos, estes sem dúvida não se tornam verdadeiros cristãos, pois a fé sem a qual é impossível agradar a Deus deve seja a livre submissão do intelecto e da vontade. [...] E como os homens gozam de livre arbítrio e podem também, sob o impulso das perturbações da alma e das paixões perversas, abusar da própria liberdade, é necessário, portanto, que sejam efetivamente atraídos para a verdade do Pai da iluminação através do obra do Espírito de seu Filho amado" (n. 103).

Para “entregar-se”, como escreve o Papa, “aos impulsos internos da graça divina” (n. 102), basta rezar. E, nisso, longe e perto estão unidos. Com efeito, «se infelizmente muitos ainda se afastam da verdade católica, é porque nem eles nem os fiéis cristãos elevam orações mais fervorosas a Deus com este propósito» (n. 104).

Do “cristão como Cristo” ao “Eu sou você”

Cardeal Ratzinger, num livro recentemente publicado pela Herder com o título Glaube, Wahrheit, Toleranz. Das Christentum und die Weltreligionen (que será publicado em italiano pela Cantagalli), que reúne suas intervenções sobre os temas da fé, das religiões, das culturas e da verdade, escolhe como fio condutor de todo o volume a comparação entre a fé monoteísta, ou melhor, a compreensão de Deus como pessoa e um misticismo que, em última análise, identifica Deus e eu.

Tomaremos algumas citações do primeiro capítulo e de um “interlúdio” que o segue. «Em última análise, trata-se de ver se o divino é Deus, alguém que está diante de nós - para que o termo último da religião seja a relação, o amor que se torna unidade ("Deus tudo em todos": 1Cor 15, 28), mas que não elimina o fato de que eu e você estamos um diante do outro - ou se o divino está além da pessoa e o objetivo final é unir-se e dissolver-se no Um-todo."

Naturalmente, explica Ratzinger, por misticismo não devemos entender "aquela forma de piedade religiosa que também pode ser encontrada na ordem de pertença à fé cristã", mas aquela experiência de indistinção "na última etapa da qual o místico não mais diga ao seu Deus: “Eu sou seu”, mas “Eu sou você”. A distinção é relegada à esfera do provisório, a fase definitiva é a fusão, a unidade.”

Aqui reaparece, com uma fórmula diferente, “o cristão como Cristo” visado pela Mystici Corporis . Estamos no meio do mesmo problema: a interpretação mística enganosa do Cristianismo.
Os dois caminhos, porém, diferem radicalmente: «Na mística há o primado da interioridade, a absolutização da experiência espiritual. [...] Não existe ação de Deus, mas existe apenas a mística do homem, o caminho dos diferentes graus de união.”

Ao longo do caminho monoteísta - que exerce plenamente os seus efeitos no Cristianismo (mas a cadeia delineada por Ratzinger é mais ampla: "surgiu em Israel pela força de uma revolução" e "das raízes de Israel no Cristianismo e no Islão") - «o que é decisivo não é a experiência espiritual pessoal, mas o chamado divino. Então, todos aqueles que reconhecem esta vocação estarão, em última instância, na mesma condição”.

Isto pode ser difícil de aceitar para a concepção moderna de religião, como foi para os Padres, começando com Agostinho. Ele, «que descobriu a beleza da verdade no Hortênsio de Cícero e aprendeu a amá-la, achou a Bíblia, depois de tomá-la nas mãos, indigna da tulliana dignitas». Com efeito, «perante a sublimidade do pensamento místico, os protagonistas da história da fé parecem ter os pés no chão. [...] Visto da perspectiva da história das religiões, Abraão, Isaque, Jacó não são verdadeiramente grandes personalidades religiosas. Mas este escândalo não deve ser subestimado porque é precisamente através dele que somos conduzidos «àquilo que é particular e único no seu género que pertence à revelação bíblica. [...] Não se trata principalmente da descoberta de uma verdade, mas da ação do próprio Deus na história. [...] Na verdade aqui, ao contrário do misticismo, é Deus quem trabalha, e é Ele quem dá a salvação ao homem”. E Ratzinger continua citando Daniélou: «Para o sincretismo, as almas salvas são aquelas capazes de interioridade, qualquer que seja a religião a que pertençam. Para o cristianismo, quem crê está seguro, qualquer que seja o seu nível de interioridade. Uma criança pequena, um trabalhador oprimido pelo trabalho, se acreditam, são superiores aos maiores ascetas.”

Interessante também é o caminho sugerido por Ratzinger como uma possível superação do pântano do sincretismo. Além da honestidade, do respeito e da paciência necessários em qualquer diálogo, é um jogo de alianças que pode favorecer a fuga da distorção mística do cristianismo. Ou seja, o cristão deve ser capaz de estabelecer uma aliança com a racionalidade secular moderna, tal como, “no tempo da Igreja antiga, o Cristianismo foi capaz de se ligar bastante estreitamente às forças do Iluminismo”.
Ideias claras e distintas.

 Fonte: https://www.30giorni.it/

NAZARENO: Ele olhou por primeiro (Zaqueu) - (45)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 45 - Ele olhou por primeiro (Zaqueu)

Enquanto curava o cego Bartimeu, a menos de cem metros dali um jovem de baixa estatura, vestido com roupas luxuosas, saía de sua casa para a rua. Um de seus servos acabara de lhe dizer que Jesus de Nazaré havia entrado na cidade e que logo passaria por ali com seus discípulos e uma grande multidão. O homem se chama Zaqueu. É o chefe dos publicanos, ou seja, daqueles que cobram impostos em nome dos romanos.

É considerado um pecador, odiado por todos na cidade. O homem não saberia explicar por que desejava ver esse profeta itinerante de quem muitos falavam. Zaqueu teme a multidão. Correu então à frente e subiu num sicômoro para ver Jesus que iria passar por ali.

Quando Jesus chegou ao lugar, levantou os olhos e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa”.

Levou apenas um instante. Os olhos do Nazareno pousaram na cabeça dos publicanos que se agarravam desajeitadamente ao tronco verde da planta. O olhar de amor e misericórdia do Nazareno o invade. Jesus não apenas parou diante dele e olhou diretamente para ele. Mas também se convidou para entrar em sua casa. Naquela habitação evitada por todos, àquela mesa que todos desprezavam, com aquelas companhias que nenhum de seus concidadãos aceitaria. A dos pecadores, dos ladrões, dos colaboracionistas.

Durante o almoço, Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: “Senhor, eis que eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, restituo-lhe o quádruplo”.

Até duas horas antes, para ele, Jesus de Nazaré era apenas o nome de um personagem. Duas horas depois de ser olhado por ele, Zaqueu se sente perdoado. Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/06/14/11/138031779_F138031779.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Beata Nhá Chica

Beata Nhá Chica (A12)
14 de junho
Beata Nhá Chica

Francisca nasceu em 1808, no povoado de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, atualmente distrito da cidade de São João Del Rei em Minas Gerais.

Filha e neta de escravos foi batizada no dia 26 de abril de 1810. Pouco tempo depois sua família mudou-se para a cidade de Baependi, também no estado de Minas Gerais.

Mulher humilde, era fervorosa devota de Nossa Senhora da Conceição. Não se casou, dedicando sua vida inteiramente ao Senhor. Desde jovem, era procurada para dar conselhos, fazer orações, ela era considerada uma "santa", porém sempre respondia " É porque eu rezo com fé".

Francisca era conhecida por Nhá Chica, sendo que "nhá" é uma forma reduzida da palavra senhora, que é uma forma respeitosa de se tratar aos mais velhos. Aos poucos a fama de santidade foi se espalhando e pessoas de outras localidades vinham visitá-la.

A todos, atendia com a mesma paciência e dedicação, porém as sextas feiras, não havia atendimento, pois era o dia que ela dedicava à oração e à penitência.

Francisca era analfabeta, desejava somente ler as Escrituras Sagradas, mas alguém as lia para ela, e a fazia feliz. Compôs uma Novena à Nossa Senhora da Conceição e em Sua honra, construiu, ao lado de sua casa, uma Igrejinha, onde venerava uma pequena Imagem de Nossa Senhora da Conceição que era de sua mãe. Hoje o local abriga o Santuário da Conceição.

Leiga, foi chamada ainda em vida de "a mãe dos pobres", sendo respeitada por todos os que a procuravam, desde os mais humildes aos homens mais nobres.

Francisca morreu em 14 de junho de 1895 e foi sepultada no interior da capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição, construída a pedido dela. Sua beatificação ocorreu em 4 de maio de 2013, promulgada pelo Papa Bento XVI.

Reflexão:

"Eu não sou santa. Eu apenas rezo. E Deus, pela intercessão de sua mãe, atende os meus pedidos", dizia Nhá Chica. Sua fé profunda e pleno abandono no Senhor, pelas mãos de Maria, davam à beata a certeza de que quem operava era Deus. A tarefa de Nhá Chica era apenas pedir. Eram pessoas curadas, causas ganhas, pessoas e animais encontrados, escolhas acertadas. Tudo acontecia, porque Nhá Chica rezava com fé.

Oração:

Deus nosso Pai, vós revelais as riquezas do vosso Reino aos pobres e simples. Assim agraciastes a Beata Francisca de Paula de Jesus, Nhá Chica, com inúmeros dons: Fé profunda, Amor ao próximo e Grande Sabedoria. Amou a Igreja e manteve uma terna devoção à Imaculada Conceição. Por sua intercessão, concedei-nos a graça de que precisamos (pedir a graça). Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!


Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 13 de junho de 2024

A abertura do túmulo de Santo Antônio e a 'festa da língua'

Relicários de ouro contendo o queixo e a língua de Santo Antônio na Basílica de Santo Antônio de Pádua, Itália. | Richard Mortel/CC BY 2.0 via Flickr

 Santo Antônio de Pádua é um dos santos mais famosos da Igreja, em parte por sua ligação com são Francisco de Assis e também porque é popularmente invocado como o padroeiro dos itens perdidos.

A festa de santo Antônio é celebrada hoje (13). Mas há também outro dia importante do ano em que o santo é celebrado em Pádua: 18 de fevereiro, o dia em que sua língua foi removida.

Felizmente, isso ocorreu depois da morte do santo, durante a primeira de duas exumações no ano de 1263, três décadas depois de sua morte.

O padre Mario Conte, OFM Conv, um dos 50 frades que da basílica de Santo Antônio, em Pádua, disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, a que pertence ACI Digital, em 2022, que, quando o túmulo foi aberto há vários anos, foi encontrado algo "realmente excepcional", a mandíbula e a língua de santo Antônio pareciam estar incorruptas.

Segundo a tradição católica, os santos que são milagrosamente preservados da decomposição dão testemunho da verdade da ressurreição do corpo e da vida eterna no céu que está por vir.

"Todo o corpo tinha ido para cinzas e ossos basicamente, exceto o aparelho vocal, que ainda estava molhado e macio", disse Conte.

"Então eles pegaram essas partes, a língua e a mandíbula, e as colocaram em alguns relicários. E se você for à basílica de Santo Antônio, há uma capela dedicada às relíquias de santo Antônio e você as verá naquela capela particular", disse.

A Igreja Católica tem uma longa tradição de dar honra às relíquias, que são objetos que têm uma associação direta com os santos ou com o próprio Cristo. As relíquias não são adoradas, mas honradas – "veneradas" – por causa do amor e da proximidade do santo com Deus. Aqueles que rezam com relíquias muitas vezes pedem a intercessão daquele santo.

A exumação de 1263 foi feita pelo então ministro geral dos franciscanos, são Boaventura, porque os franciscanos estavam transferindo o corpo do santo para uma igreja nova e maior. Conte disse que, quando Boaventura encontrou a língua, disse: "'Isso é realmente um milagre. Deus quer que saibamos que santo Antônio foi realmente o mensageiro do amor de Deus".

Atualmente, o dia em que a língua de santo Antônio foi encontrada é celebrado com missas na basílica que leva seu nome em Pádua, norte da Itália.

O túmulo de santo Antônio não voltaria a ser aberto por mais de 700 anos — entre janeiro e fevereiro de 1981. Conte descreveu como foi estar presente na segunda abertura do túmulo de santo Antônio.

"Em 1981, decidimos abrir o túmulo de santo Antônio pela segunda vez... Eu era jovem na época", disse Conte à CNA em 2022.

"Foi quando descobrimos como o corpo de santo Antônio havia sido colocado dentro de um novo caixão por são Boaventura", continuou Conte. Segundo ele, relíquias adicionais do corpo deteriorado de santo Antônio – pedaços da carne do santo, mas não identificáveis – foram removidas na ocasião e colocadas em relicários.

Hoje, essas relíquias de santo Antônio viajam por todo o mundo, fazendo paradas em paróquias e dioceses onde grandes multidões costumam sair para venerá-las.

Quem foi santo Antônio?

Nascido em Lisboa, Portugal, em 1195, santo Antônio se mudou para Pádua, na Itália, depois de ingressar na ordem franciscana. Santo Antônio é conhecido não apenas por suas pregações eloquentes e repreensões frequentes aos hereges, mas também por seu cuidado amoroso com os pobres que encontrou.

Em 1224, são Francisco de Assis deu a Antônio permissão para ensinar teologia na ordem franciscana, o que ele fez em várias cidades francesas e italianas, enquanto seguia estritamente seus votos franciscanos e pregava regularmente ao povo. Depois, dedicou-se inteiramente ao trabalho de pregar como missionário na França, Itália e Espanha, ao ensinar um autêntico amor a Deus a muitas pessoas que haviam se afastado da fé e da moral católicas.

Conhecido por sua pregação ousada e estilo de vida austero, santo Antônio também tinha a reputação de fazer milagres. Morreu em 1231, em meio a problemas de saúde, aos 36 anos de idade.

*Jonah McKeown é jornalista e produtor de podcasts de Catholic News Agency. Tem um mestrado na Escola de Jornalismo da Universidade de Missouri e trabalhou como escritor, produtor radial e camarógrafo.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A distinção entre Criador e criatura (1)

Nesta página, alguns detalhes da Última Ceia, Andrea del Sarto, Museo del Cenacolo di San Salvi, Florença | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 06/2003

Sessenta anos depois de Mystici Corporis

A distinção entre Criador e criatura

Sessenta anos depois de Mystici Corporis. A relevância da encíclica de Pio XII que condena “o falso misticismo, que falsifica a Sagrada Escritura, procurando eliminar as fronteiras invariáveis ​​entre as coisas criadas e o Criador”.

por Lorenzo Cappelletti

Se você folhear as revistas, especializadas ou não, de dez anos atrás, quando caiu o cinquentenário da Mystici Corporis , não encontrará nenhuma lembrança nem nenhum estudo crítico sobre esta encíclica. Talvez porque já fosse um tabu constrangedor há algum tempo. Assim, o convite calmo e razoável do Cardeal Hamer, a quem 30Giorni pediu para introduzir a retomada de algumas passagens da encíclica, não surtiu efeito (ver nº 6, junho de 1993, pp. 34-48): «Devemos trabalhar para que o ensinamento da Mystici Corporis volta a ser atual para o bem espiritual do povo cristão. [...] Espero que este ano do cinquentenário da Mystici Corporis possa ser um ano de restabelecimento do contato com este documento."

Mais dez anos se passaram e já chegou o sexagésimo aniversário da Mystici Corporis . O convite do Cardeal Hamer pode agora ser retomado também em sua memória. Não celebrando esse documento como um totem (o outro lado do tabu), mas repropondo a sua complexa génese histórica e chamando a atenção para alguns dos seus aspectos que nos parecem interessantes para o presente. De jornalistas.

Ser cristão significa tornar-se Cristo?

Nos anos cruciais da Segunda Guerra Mundial, e especialmente tendo em mente a situação alemã, a Mystici Corporis nasceu com uma dupla intenção: por um lado, corrigir desvios teóricos e práticos na eclesiologia do Corpo Místico orientada para uma o biologismo espiritual e um falso misticismo, por outro, para evitar que a urgência desta correção trouxesse consigo o abandono da categoria do Corpo Místico de Cristo sobre a qual se havia realizado um intenso trabalho entre as duas guerras.

O ápice da deriva foi alcançado com a obra de Karl Pelz, pároco de Berlim, que, em 1939, publicou pro manuscrito um texto com título ambíguo: Der Christ als Christus(O cristão como Cristo). Esta ambiguidade já foi resolvida na introdução, onde Pelz escreveu que “o estudo da nossa incorporação em Cristo termina com a observação de que nós, cristãos, nos tornamos efetivamente Cristo” (p. 7). Sentiu-se obrigado a revelar esta verdade porque «o nosso dever de sacerdotes é oferecer aos crentes o conteúdo de verdade da nossa fé na sua totalidade, especialmente num tempo em que cada um deve poder, face ao ataque violento contra Cristo e o Igreja, para utilizar todo o arsenal de armas da nossa fé” (p. 8). Citando abundantemente os Padres como fiadores, ele apenas repete a partir de diferentes perspectivas que, “segundo os Padres, estamos na carne e no corpo de Cristo, isto é, na sua santa humanidade” (p. 65). E isto de forma absolutamente independente do sacramento do Baptismo: «Devemos realmente convencer-nos de que, segundo os Padres, Cristo se uniu a cada homem pelo simples facto da sua encarnação» (p. 66).

Nos anos imediatamente seguintes, devido à interpretação dada por Pelz, vários teólogos julgaram perigosa a doutrina do Corpo Místico, pedindo a restauração pura e simples da definição da Igreja como societas perfecta , uma noção bastante recente, estabelecida entre os séculos XVIII e XIX, o que significativamente, São Tomás não utiliza - fala de communitas perfecta ou em termos agostinianos de civitas (ver Summa theologiae I-II, q.90 a.3), concebendo a civitas como incluindo a cooperação com o poder político ( regnum ). De forma igualmente significativa, a categoria de societas perfecta foi, em vez disso, assumida por Karol Wojtyla numa das suas intervenções no Concílio (ver Acta synodalia II/3, 155-156).

Mas voltemos aos anos de guerra. A certa altura, até o arcebispo de Freiburg im Breisgau, Conrad Gröber, ex-representante do episcopado alemão, pensou em incluir na sua carta aos seus irmãos datada de 18 de janeiro de 1943 (em Die Krise der Liturgischen Bewegung in Deutschland und Österreichpor Theodor Maas-Ewerd, Regensburg 1977, pp. 540-569) palavras preocupadas sobre o assunto: «Estou preocupado com o sobrenaturalismo sublime e a nova atitude mística que está abrindo caminho dentro da nossa teologia e também dentro da nossa jovem Igreja» (p. 548). Na verdade, escreve ele, “pode degenerar num misticismo em que as fronteiras da criação desaparecem” (ibid.). O «misticismo actual», de facto, dissera ele precipitadamente, nada mais é do que «o reverso da moeda da gnose moderna» (p. 544). Com efeito, «já é preciso lamentar que, entre os jovens, tipos que inicialmente eram muito inclinados para o sobrenatural, se transformassem em perfeitos incrédulos» (p. 549). Pelo contrário, diante da ignorância cada vez mais difundida, trata-se de «recordar as verdades simples do catecismo e torná-las conhecidas [...]. Muito pouco é necessário, segundo o ensinamento da Igreja em termos de conhecimento religioso formal, para alcançar a salvação da alma »! (págs. 549-550). Em particular, o livro de Pelz parece-lhe um desastre, não tanto em si mesmo, mas porque a unio mystica nele defendida põe em causa a doutrina da graça e dos sacramentos. Sobre a graça, antes de tudo, porque “a graça santificante aparece como algo supérfluo” (p. 550) e há risco de quietismo. Sobre os sacramentos, então, porque «se existe tal intimidade com Deus e com Cristo, [...] qual o sentido de receber a Sagrada Comunhão? Se já temos o que precisamos, certamente não precisamos ir buscá-lo.

Para que serve então o altar do Santíssimo Sacramento, para que serve a sua conservação no sacrário, a visita, a exposição, as procissões, a meditação, a adoração perpétua, se cada batizado, um fiel “Cristóvão”, é inabalavelmente unido a Cristo e, portanto, ele mesmo é adorável? Tudo se resume a puro conteúdo simbólico. Quando pretendemos então diferenciar a presença eucarística da presença mística de Cristo em nós, no entanto, a fim de salvaguardar a presença mística, não se pensará que seja possível que realmente aconteça o que já é fundamentalmente considerado como estando presente de forma estável. 551).

A certa altura, até o arcebispo de Freiburg im Breisgau, Conrad Gröber, ex-representante do episcopado alemão, pensou em incluir palavras preocupadas sobre o assunto na sua carta aos seus irmãos datada de 18 de janeiro de 1943: «Estou preocupado com o sublime sobrenaturalismo e o nova atitude mística que se inscreve na nossa teologia e também na nossa jovem Igreja”. Na verdade, escreve ele, “pode degenerar num misticismo em que as fronteiras da criação desaparecem”. «O misticismo atual», ele havia dito precipitadamente, nada mais é do que «o outro lado da moeda da gnose moderna»

Gröber prevê consequências nefastas: «O futuro dir-nos-á onde leva – na pregação, na catequese e na vida cristã – a desvalorização do Cristo histórico, com a sua estupenda proximidade aos homens, a sua glória exemplar e a sua realidade libertadora, em favor da um Cristo mais sublime que está inteiramente além do espaço e do tempo” (p. 552).

Além de adiar para a posteridade a árdua decisão sobre este ponto, a longa carta de Gröber também apela a uma intervenção dos bispos alemães e de Roma: “Podemos nós, bispos alemães, permanecer em silêncio, podemos Roma permanecer em silêncio?” (pág. 569).
E aqui aparece cinco meses depois, para a festa dos Santos Pedro e Paulo de 43, o Mystici Corporis .

Mystici Corporis ajuda a distinguir.

Se ignorarmos o que expusemos, ainda que muito brevemente, não fica claro que situação concreta a encíclica tem em mente do início ao fim.
A encíclica abre, de facto, referindo-se à persistência de erros antigos, mas sobretudo visa o novo “falso misticismo, que falsifica a Sagrada Escritura, esforçando-se por eliminar as fronteiras invariáveis ​​entre as coisas criadas e o Criador” (n. 9). . Esse falso misticismo sobrecarrega a doutrina do Corpo Místico com suspeitas, mas sendo uma doutrina revelada – afirma a encíclica – não há razão para isso. Procedendo com devoção e sobriedade, e se Deus o der, como ensina o Vaticano I, a razão poderá de alguma forma compreendê-lo: «Quando a razão iluminada pela fé, investiga com piedosa e sóbria diligência, pode alcançar, se Deus a conceder, suficiente e muito útil inteligência dos mistérios, tanto pela analogia com o que ele conhece naturalmente, como pela ligação dos próprios mistérios entre si e com a meta última do homem” (n. 10).

Nas suas partes centrais, portanto, a encíclica explica que a Igreja é análoga a um corpo, aliás, é o Corpo de Cristo e, para que não haja mal-entendidos (de facto «esta denominação não deve ser tomada como se aquele vínculo inefável com o qual o Filho de Deus assumiu uma natureza humana individual, pertencente a toda a Igreja», n. 52), faz própria a noção de Corpo Místico: «Este nome deve ser usado por diversas razões, pois através dele se pode distinguir o corpo social da Igreja da qual Cristo é cabeça e guia, do corpo físico do próprio Cristo, que, nascido da Virgem Mãe de Deus, está agora sentado à direita do Pai no céu e escondido na terra sob os véus eucarísticos; e, o que é mais importante para os erros modernos, por meio desta determinação ele pode ser distinguido de qualquer outro corpo, seja físico ou moral” (n. 58). Isto permite-nos falar da habitação do Espírito Santo nas almas, isto é, da forma como dentro do seu Corpo místico os fiéis individuais se unem a Cristo, rejeitando «nesta união mística qualquer forma pela qual os fiéis por qualquer motivo ultrapassam tanto a ordem das criaturas e invadem erroneamente o campo divino, que mesmo um único atributo do Deus eterno pode ser predicado deles como seu” (n. 79). Por outro lado, a Mystici Corporis , citando a Divinum illud de Leão XIII, explica que, na ordem das criaturas, a união das almas com Cristo no céu não difere daquela na terra exceto pela nossa condição aqui de peregrinos (ver nº 80). Em outras palavras, não há diferença essencial entre as almas que estão unidas ao Senhor na graça e na glória.

Concluindo, a encíclica convida-nos a recorrer à doutrina do Corpo Místico anteriormente exposta para “guardar-nos dos erros que, com grande perigo para a fé católica e confusão das almas, surgem da investigação, arbitrariamente empreendida por alguns, de esta questão difícil" (n. 84). Além dos erros que dizem respeito à confissão e à oração, ele reitera que o erro é antes de tudo aquele daqueles que pretendem “unir e fundir o divino Redentor e os membros da Igreja na mesma pessoa física” (n. 85). E, como consequência disto, «o erro daqueles que tentam deduzir um certo quietismo doentio da misteriosa união de todos nós com Cristo [...]. Certamente ninguém pode negar que o Espírito Santo de Jesus Cristo é a única fonte da qual emana toda força celestial na Igreja e nos seus membros [tanto que a encíclica cita João duas vezes15.5: «sem mim nada podeis fazer»]. Mas que os homens perseverem constantemente nas obras de santidade, que progridam diligentemente na graça e na virtude, que finalmente não só se esforcem arduamente para o cume da perfeição cristã, mas também impulsionem os outros, segundo as suas próprias forças, para alcançar a mesma perfeição, tudo isto O Espírito Celestial não quer realizá-lo se os próprios homens não cooperarem todos os dias com diligente diligência” (n. 86).

Fonte: https://www.30giorni.it/

EDITORIAL: Repensar o primado em sentido ecumênico

Repensar o primado em sentido ecumênico (Vatican Media)

Uma reflexão sobre o documento “O Bispo de Roma”: o papel do Papa, a sinodalidade e as outras Igrejas.

Andrea Tornielli

É uma história de um caminho comum, séculos de unidade, mas também de cismas, excomunhões mútuas, divisões e lutas determinadas mais pela política do que por diferenças teológicas. Depois de quase dois milênios de história cristã, apesar de antigas e novas crises dentro das diferentes confissões, o caminho ecumênico está dando passos significativos. O documento sobre o “Bispo de Roma”, que acaba de ser publicado, atesta como a disposição e a abertura para discutir as formas de exercício do primado petrino manifestadas em 1995 por São João Paulo II não permaneceram letra morta. O diálogo avançou e o caminho sinodal que a Igreja católica está vivendo em todos os níveis faz parte dele. De fato, os católicos estão redescobrindo e aprofundando a importância da sinodalidade como uma forma concreta de viver a comunhão na Igreja, uma consciência já presente e experimentada por outras tradições cristãs.

Ao mesmo tempo, o papel do Bispo de Roma e seu primado não são mais considerados por outros cristãos apenas como um obstáculo ou um problema no caminho ecumênico: na verdade, a sinodalidade sempre contempla a presença de um “protos”, de um primado.

É claro que, para as outras Igrejas, o primado petrino, como exercido pelos Papas no segundo milênio e especialmente como sancionado pelo Concílio Vaticano I, permanece inaceitável. Mas também sobre isso o documento do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos mostra passos significativos: o trabalho nos diálogos ecumênicos sugeriu, de fato, distinguir o primado papal que exerce jurisdição sobre a Igreja latina (ou ocidental, como os orientais gostam de chamá-la) do primado na caridade da Igreja de Roma, “primeira Sé”. Uma primazia de “diakonia”, ou seja, de serviço, e não de poder. Um primado de unidade, exercido em sinodalidade para buscar o consenso de todos os bispos.

Portanto, existe, ou pelo menos poderia existir, uma forma de primado petrino aceitável para as outras Igrejas. É o que, há alguns anos, o Patriarca ecumênico de Constantinopla Bartolomeu chamou de primado “exercido com humildade e compaixão, e não como uma espécie de imposição sobre o restante do colégio episcopal”, como “um verdadeiro reflexo do amor crucificado do Senhor, e não em termos de poder terreno”. Um caminho concreto para trilhar em direção à realização do sonho expresso pelo Papa Wojtyla há quase trinta anos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O que é um Dogma?

O que é um Dogma? (Cléofas)

O que é um Dogma?

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Dogma é uma verdade revelada por Deus, e, como tal, diretamente proposta pela Igreja à nossa fé

A Revelação, fonte do dogma, dá a conhecer o ensinamento divino em seu próprio conceito: tal é a primazia de Pedro e de seus discípulos e, como consequência, a infalibilidade pontifícia.

Para que uma verdade revelada seja um dogma é necessário que este proponha diretamente à nossa fé por uma definição solene da Igreja ou pelo ensinamento de seu magistério ordinário.

No Evangelho se sublinha várias vezes a natureza da fé. Está descrita como uma adesão ao ensinamento divino anunciado por Cristo ou pregada em seu nome e com sua autoridade pelos Apóstolos. No Evangelho de São Marcos encontramos:

“Depois lhes disse: ‘Ide pelo mundo e pregai a boa nova a toda criação. O que crer e for batizado se salvará; o que não crer, será condenado'” (Mc 16,15-16).

“A fé é garantia do que se espera; a prova das realidades que não se veem. Foi ela que valeu aos nossos ancestrais” (Hb 11,1-2).

Do século I ao IV, esta doutrina se manifesta pela insistência com a qual os Santos Padres afirmaram a obrigação de crer integramente na doutrina ensinada por Jesus Cristo aos Apóstolos. Para que o ensinamento divino contido nas Sagradas Escrituras seja um dogma são necessárias duas condições:

1. O sentido deve estar suficientemente manifestado.

2. Esta doutrina deve ser proposta pela Igreja como revelada. Quando o texto das escrituras estiver definido pela Igreja como contendo um dogma revelado, com sentido preciso e determinado, é um dever estrito para os exegetas católicos aceitá-lo.

A revelação feita por Jesus Cristo e anunciada aos Apóstolos tem seu caráter definitivo e imutável e a doutrina de São Paulo mostra bem este caráter.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

Dos Sermões de Santo Antônio de Pádua, presbítero

Santo Antônio de Pádua (liturgiadashoras)

Dos Sermões de Santo Antônio de Pádua, presbítero

(I.226)             (Séc. XII)

A palavra é viva quando são as obras que falam

            Quem está repleto do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, a saber: a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamos estas línguas quando os outros as veem em nós mesmos. A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. Por este motivo o Senhor nos amaldiçoa, como amaldiçoou a figueira em que não encontrara frutos, mas apenas folhas. Diz São Gregório: “Há uma lei para o pregador: que faça o que prega”. Em vão pregará o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras.

            Os apóstolos, entretanto, falavam conforme o Espírito Santo os inspirava (cf. At 2,4). Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme suas ideias! Pois há alguns que falam movidos pelo próprio espírito e, usando as palavras dos outros, apresentam-nas como suas, atribuindo-as a si mesmos. Destes e de outros semelhantes, diz o Senhor por meio do profeta Jeremias: Terão de se haver comigo os profetas que roubam um do outro as minhas palavras. Terão de se haver comigo os profetas, diz o Senhor, que usam suas línguas para proferir oráculos. Eis que terão de haver-se comigo os profetas que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, que os contam, e seduzem o meu povo com suas mentiras e seus enganos. Mas eu não os enviei, não lhes dei ordens, e não são de nenhuma utilidade para este povo – oráculo do Senhor (Jr 23,30-32).

            Falemos, portanto, conforme a linguagem que o Espírito Santo nos conceder; e peçamos-lhe humilde e devotamente que derrame sobre nós a sua graça, a fim de podermos celebrar o dia de Pentecostes com a perfeição dos cinco sentidos e na observância do decálogo. Que sejamos repletos de um profundo espírito de contrição e nos inflamemos com essas línguas de fogo que são os louvores divinos. Desse modo, ardentes e iluminados pelos esplendores da santidade, mereceremos ver o Deus Uno e Trino.

 Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF