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domingo, 16 de junho de 2024

Santos Julita e Ciro, mártires

Santos Julita e Ciro (Templário de Maria)
16 de junho
Santos Julita e Ciro

Mártires (+304)

Julita vivia na cidade de Icônio, na Licaônia, atualmente Turquia. Ela era uma senhora riquíssima, da alta aristocracia e cristã, que se tornara viúva logo após ter dado à luz um menino. Ele foi batizado com o nome de Ciro, mas também atendia pelo diminutivo Ciríaco ou Quiríaco. Tinha três anos de idade quando o sanguinário imperador Diocleciano começou a perseguir, prender e matar cristãos.

Julita, levando o filhinho Ciro e algumas servidoras, fugiu para a Selêucia e, em seguida, para Tarso, mas ali acabou presa. O governador local, um cruel romano chamado Alexandre, tirou-lhe o filho dos braços e passou a usá-lo como um elemento a mais para sua tortura. Colocou-o sentado sobre seus joelhos, enquanto submetia Julita ao flagelo na frente do menino, com o intuito de que renegasse a fé em Cristo.

Como ela não obedeceu, os castigos aumentaram. Foi então que o pequenino Ciro saltou dos joelhos do governador, começou a chorar e a gritar junto com a mãe: ‘Também sou cristão! Também sou cristão!’ Foi tamanha a ira do governador que ele, com um pontapé, empurrou Ciro violentamente, fazendo-o rolar pelos degraus do tribunal, esmigalhando-lhe, assim, o crânio.

Conta-se que Julita ficou imóvel, não reclamou, nem chorou, apenas rezou para que pudesse seguir seu pequenino Ciro no martírio e encontrá-lo, o mais rápido possível, ao lado de Deus. E foi o que aconteceu. Julita continuou sendo brutalmente espancada e depois foi decapitada. Era o ano 304.

Os corpos foram recolhidos por uma de suas fiéis servidoras e sepultados num túmulo que foi mantido oculto até que as perseguições cessassem. Quando isso aconteceu, poucos anos depois, o bispo de Icônio, Teodoro, resolveu, com a ajuda de testemunhas da época e documentos legítimos, reconstruir fielmente a dramática história de Julita e Ciro. E foi assim, pleno de autenticidade, que este culto chegou aos nossos dias.

Ciro tornou-se o mais jovem mártir do cristianismo, precedido apenas dos santos mártires inocentes, exterminados pelo rei Herodes em Belém. Por isso é considerado o santo padroeiro das crianças que sofrem de maus-tratos. A festa de santa Julita e de são Ciro é celebrada pela Igreja no dia 16 de junho, em todo o mundo católico.

Fonte: https://templariodemaria.com/

sábado, 15 de junho de 2024

O medo nas cidades modernas

Confiança e Medo na Cidade (Zygmunt Bauman)

O MEDO NAS CIDADES MODERNAS

Dom João Santos Cardoso 
Arcebispo de Natal (RS)

Recentemente, em uma reunião com o clero e os fiéis leigos da Arquidiocese de Natal, discutimos sobre a pastoral urbana e a evangelização na cidade. O tema do medo urbano foi recorrente, manifestado em falas que expressavam receio de ir a determinados bairros e realizar atos litúrgicos em certos horários. Esse medo impacta a evangelização, retraindo a audácia pastoral para difundir o evangelho em todas as periferias, comprometendo o mandato de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). 

A cidade fascina e amedronta. Muitos que vivem no interior aspiram morar na cidade grande, e a migração para as regiões metropolitanas é comum, inclusive entre padres que desejam exercer seu ministério na grande cidade. No entanto, o medo afeta a evangelização, levando as pessoas a preferirem o isolamento dos condomínios fechados. Muitos padres também trocam a casa paroquial próxima da matriz pela residência em condomínios fechados, comprometendo a proximidade com suas comunidades, como pede o Papa Francisco: “sede pastores com o cheiro das ovelhas” (Homilia Missa Crismal de 2013). 

Essa situação me faz lembrar do artigo “A cidade como exigência de sociabilidade” na coletânea “Dilemas da Sociabilidade, Pensar a Cidade Hoje”, onde discuto o medo como um desafio para a convivência urbana, com base nas contribuições de Zygmunt Bauman em “Confiança e medo na cidade” (2009). Bauman afirma que a insegurança e o medo comprometem a vida urbana, mesmo sendo as cidades mais seguras do que nas sociedades do passado. Subjetivamente, as pessoas sentem-se ameaçadas e obcecadas por segurança, esvaziando o espaço público e as interações humanas. 

É urgente repensar a noção de espaço público para recuperar a sociabilidade urbana, pois a urbanização é irreversível e a vida nas cidades será o modo predominante de habitar o planeta. Portanto, é necessário que o espaço urbano promova interação humana, encontro com o desconhecido e convivência com a diferença, sem que a insegurança e o medo impeçam essa função. 

Cidades antigas e medievais eram protegidas por muros contra inimigos externos, oferecendo segurança interna. Hoje, o medo e a insegurança deslocaram-se para dentro das cidades. “Hoje, nossas cidades, em vez de constituírem defesas contra o perigo, estão se transformando em perigo” (BAUMAN, 2009, p. 35). O perigo agora está dentro da cidade e a guerra à insegurança foi transferida para o seu interior. 

Urbanistas projetam construções para manter os estranhos distantes, minando a ideia de espaço público em favor do espaço privado e suas ilhas de segurança. A arquitetura do medo, exemplificada por condomínios fechados e sistemas de vigilância, atende ao desejo de segurança dos moradores, mas compromete a essência do espaço público. “A arquitetura do medo e da intimidação espalha-se pelos espaços públicos das cidades, transformando-os em áreas extremamente vigiadas” (BAUMAN, 2009, p. 36). 

A guerra à insegurança e ao medo tem esvaziado o espaço público, essencial à vida urbana. É nos locais públicos que a vida urbana atinge sua mais completa expressão, com suas alegrias, dores, esperanças e pressentimentos. O espaço público carrega a ideia de liberdade e interação com o estranho. Contudo, o medo que alimenta a obsessão pela segurança remove a possibilidade de livre movimento e encontro com o estranho. “Com a insegurança, estão destinadas a desaparecer das ruas da cidade a espontaneidade, a flexibilidade, a capacidade de surpreender e a oferta de aventura, em suma, todos os atrativos da vida urbana” (BAUMAN, 2009, p. 39). 

O espaço público é vulnerável e exposto a ataques, mas também é onde a atração pode superar a rejeição, onde se descobrem e se praticam os costumes de uma vida urbana satisfatória e onde o futuro da vida urbana é decidido (BAUMAN, 2009, p. 40). Para evangelizar, é necessário não temer a cidade e superar a obsessão por segurança que gera segregação e privatização dos espaços. É preciso recuperar a ideia do espaço público, tornando-o um lugar onde as diferenças são valorizadas e onde é possível o encontro e mover-se livremente. Revitalizar o espaço público é uma estratégia para combater o isolamento e gerar encontros e comunhão entre estranhos, superando a tendência de buscar refúgio em ilhas privadas de segurança. 

A tendência de retirar-se dos espaços públicos para refugiar-se em ilhas de “uniformidade” transforma-se no maior obstáculo para conviver com a diferença, enfraquecendo diálogos e pactos. A exposição à diferença torna-se um fator decisivo para uma convivência feliz, secando as raízes urbanas do medo (BAUMAN, 2009, p. 41). 

A humanização da cidade através da recuperação do espaço público é a resposta mais razoável contra o perigo de um espaço urbano residual onde as interações humanas se reduzem a conflitos entre automóveis e pedestres, possuidores e despossuídos, tornando-se locais de tensão e violência. Para que a sociabilidade encontre expressão na cidade, Bauman defende um planejamento urbano que se desloque dos espaços privados para os públicos, tornando-os amplos, atraentes e estimulantes. Isso deve acentuar a “conexão, comunicação e celebração”, respondendo à tarefa de construir cidades que alimentem comunidades e o ambiente que as sustentam (BAUMAN, 2009, p. 41). 

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Inteligência artificial e fator humano

Papa Francisco com líderes do G7 e Chefes de Estado em Brindisi, Itália, em 14 de junho de 2024 ANSA /GIUSEPPE LAMI (ANSA)

Em 1983, um homem salvou o mundo de uma guerra nuclear que poderia ter sido desencadeada pelo erro de uma máquina.

Andrea Tornielli

Os sistemas de armas autônomos nunca poderão ser sujeitos moralmente responsáveis: a exclusiva capacidade humana de julgamento moral e de decisão ética é mais do que um conjunto complexo de algoritmos, e tal capacidade não pode ser reduzida à programação de uma máquina que, por mais «inteligente» que seja, permanece sempre uma máquina. Por esta razão, é imperioso garantir uma supervisão humana adequada, significativa e coerente dos sistemas de armas". O Papa Francisco escreveu isso na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2024.

Há um episódio, ocorrido há quarenta anos, que deveria se tornar um paradigma sempre que se fala de inteligência artificial aplicada à guerra, às armas, aos instrumentos de morte. E é a história do oficial soviético cuja decisão, contrariando o protocolo, salvou o mundo de um conflito nuclear que teria tido consequências catastróficas. Aquele homem se chamava Stanislav Evgrafovich Petrov, era um tenente-coronel do exército russo e, em 26 de setembro de 1983, prestava serviço noturno no bunker "Serpukhov 15", monitorando a atividade de mísseis dos EUA. A Guerra Fria estava em um ponto de inflexão crucial, o presidente americano Ronald Reagan estava investindo grandes somas nos armamentos e acabara de definiar a URSS de "império do mal", a OTAN estava envolvida nos exercícios militares que recriavam cenários de guerra nuclear. No Kremlin, Jurij Andropov havia falado recentemente de uma "escalada sem precedentes" da crise e, em 1º de setembro, os soviéticos haviam derrubado um avião da Korean Air Lines sobre a península de Kamchatka, matando 269 pessoas.

Naquela noite de 26 de setembro, Petrov viu que o elaborador Krokus, o cérebro considerado infalível em monitorar a atividade inimiga, havia relatado de uma base em Montana, a partida de um míssil em direção à União Soviética. O protocolo exigia que o oficial alertasse imediatamente os superiores, que dariam o sinal verde para uma resposta lançando mísseis em direção aos Estados Unidos. Mas Petrov esperou, também porque, segundo lhe disseram, qualquer ataque teria sido maciço. Portanto, ele considerou aquele míssil solitário um alarme falso. E fez o mesmo com os quatro seguintes que apareceram nos seus monitores pouco tempo depois, perguntando-se por que não havia confirmação do radar terrestre. Ele sabia muito bem que os mísseis intercontinentais levavam menos de meia hora para chegar ao destino, mas decidiu não dar o alarme, deixando os outros militares presentes petrificados.

Na verdade, o cérebro eletrônico estava errado; não houve nenhum ataque de míssil. Krokus havia sido enganado por um fenômeno de refração da luz solar em contato com nuvens em alta altitude. Em suma, a inteligência humana havia visto além da máquina. A decisão providencial de não decidir foi tomada por um homem cujo julgamento foi capaz de enxergar além dos dados e protocolos.

A catástrofe nuclear foi evitada, embora ninguém soubesse disso na época até o início da década de 1990. Petrov, que faleceu em setembro de 2017, disse o seguinte sobre aquela noite no bunker "Serpukhov 15": "o que eu fiz? Nada de especial, apenas meu trabalho. Eu era o homem certo no lugar certo e na hora certa". Ele foi o homem capaz de avaliar o possível erro da máquina considerada infalível, o homem capaz - voltando às palavras do Papa - "de fazer julgamentos morais e tomar decisões éticas", porque uma máquina, por mais "inteligente" que seja, continua sendo uma máquina.

A guerra, repete Francisco, é uma loucura, uma derrota da humanidade. A guerra é uma grave violação da dignidade humana. Fazer a guerra escondendo-se atrás de algoritmos, confiando na inteligência artificial para determinar os alvos e como atingi-los e, assim, limpar a consciência porque, no final, a máquina escolheu, é ainda mais grave. Não vamos nos esquecer de Stanislav Evgrafovich Petrov.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Chamei-vos amigos (2): Para iluminar a terra

Foto: Maksim Shutov, disponível em Unsplash.

Chamei-vos amigos (2): Para iluminar a terra

O “mandamento novo” que Jesus nos confiou no fim da sua vida terrena revelou uma nova dimensão da amizade humana: trata-se de autêntico apostolado.

23/06/2020

Os grandes rios geralmente nascem de uma pequena fonte situada no alto das montanhas. Ao longo de seu percurso, vão recebendo água de mananciais e afluentes até que, no final, desembocam no mar. De modo semelhante, um afeto espontâneo ou um interesse em comum constituem as fontes das quais pode brotar uma amizade. Pouco a pouco essa relação segue o seu curso, recebendo correntes que a nutrem: tempo vivido em comum, conselhos de um lado e outro, conversas, risadas, confidências... Da mesma forma que, à sua passagem, os rios fecundam campos, enchem poços e fazem florescer as árvores, a amizade embeleza a vida, cumula-a de luz, “multiplica as alegrias e oferece conforto nas dores”[1]. Além disso, para um cristão, a amizade também fica repleta da “água viva” que é a graça de Cristo (cfr. Jo 4, 10). Esta força dá um novo impulso à corrente: transforma o afeto humano em amor de caridade. Assim, no final do seu curso, esse rio penetra no vasto mar do amor de Deus por nós.

Um coeficiente de dilatação enorme

Nas primeiras páginas da Bíblia, o relato da criação do homem diz-nos que ele foi formado à “imagem” de Deus, feito à sua “semelhança” (cfr. Gn. 1, 26). Este modelo divino está sempre presente na parte mais íntima da alma e, se treinarmos o nosso olhar, poderemos vislumbrar Deus em cada homem e em cada mulher. Por esta altíssima dignidade, todas as pessoas que encontrarmos no caminho – no trabalho, no estudo, no esporte, no nosso ir de um lado para outro – são dignas de ser amadas, embora somente com algumas delas poderemos estabelecer um relacionamento de amizade. Intuímos que, na prática, não é possível ter infinitos amigos, entre outros motivos porque o tempo é limitado; mas o nosso coração, movido por Deus, pode permanecer sempre aberto, oferecendo sua amizade ao maior número de pessoas, “dando mostras de compreensão com todos os homens” (Tt 3. 2).

“O CORAÇÃO HUMANO TEM UM COEFICIENTE DE DILATAÇÃO ENORME” (SÃO JOSEMARIA)

Procurar ter na alma tal disposição, que não “exclui ninguém”, que permanece “intencionalmente aberta a todas as pessoas, com um coração grande”[2], tem certamente um preço. A mãe de São Josemaria, por exemplo, ao ver como seu filho se entregava sem medida às pessoas que o rodeavam, advertiu-o: “Você vai sofrer muito na vida, porque põe todo o coração no que faz”[3]. Abrir-se à amizade tem o seu preço e, no entanto, todos já experimentamos como é um caminho seguro de felicidade. Ao mesmo tempo, a nossa capacidade de amar a cada vez mais amigos pode crescer continuamente. São Josemaria sentiu esta inquietação em seu coração, com o aumento do número de pessoas no Opus Dei: poderei amar a todos os que vierem ao Opus Dei com o mesmo carinho que sinto pelos primeiros? Preocupação que a graça divina resolveu: o seu coração foi sendo continuamente dilatado por Deus, a tal ponto que ele chegou a confessar: “O coração humano tem um coeficiente de dilatação enorme. Quando ama, dilata-se com um crescendo de carinho que ultrapassa todas as barreiras”[4].

Nisto vos conhecerão

Nas páginas do Gênesis revelava-se o amor de Deus ao criar-nos à sua “imagem”, mas com a encarnação do seu Filho, receberíamos revelações mais impressionantes. Os apóstolos de Jesus viveram durante três anos com aquele que era o seu melhor amigo, sem sair do seu lado. Chamavam-no Rabbi – que quer dizer “mestre” – porque além de amigos, eram e se sentiam seus discípulos. Antes de padecer, o Mestre quis que compreendessem que os amava com uma amizade que ia além da morte, que os amava “até o fim” (Jo 13, 1). Este segredo da radicalidade da sua amizade é uma das confidências íntimas que Cristo lhes fez durante a Última Ceia. Lá manifestou também o seu desejo de que esta força se perpetuasse durante os séculos através de todos os cristãos com a proclamação de um novo mandamento: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo, 13, 34). E acrescentou: “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos” (Jo 13, 35); isto é: os meus amigos serão reconhecidos pelo seu modo de amar aos outros.

Há um acontecimento na história do Opus Dei muito unido a este mandamento. Ao terminar a guerra civil, São Josemaria volta a Madri e se dirige imediatamente à rua Ferraz. No número 16 dessa rua, dias antes do começo do conflito, tinha-se terminado de instalar a nova Residência DYA. Quase três anos depois, encontra tudo destruído pelos saques e bombardeios. Está inutilizável. Entre os escombros, coberto de pó, descobre um quadro que havia estado pendurado na parede da biblioteca. Na tela, que tinha aspecto de pergaminho, estão escritas em latim essas mesmas palavras do mandamento novo que Jesus, como vimos, confiou aos seus apóstolos: “Mandatum novum do vobis...”, “Eu vos dou um novo mandamento...” (cfr. Jo 13, 34-35). Tinham-no pendurado ali porque era uma síntese do ambiente que São Josemaria desejava para os centros da Obra: ”Lugares onde muitas pessoas encontrem um amor sincero e aprendam a ser amigas de verdade”[5]. Depois do desastre da guerra, quando era preciso recomeçar praticamente do zero, o importante continuava de pé: uma das bases fundamentais para reconstruir seria deixar-se guiar por esse doce mandamento de Cristo.

Deste jeito é mais fácil subir

Vemos que o modelo da nova lei é o amor de Jesus: “Como eu vos amei” (Jo 13, 34). Mas, como é este amor? Quais são as suas características? O amor de Cristo pelos seus apóstolos – disse-o Ele mesmo – é precisamente como o amor o que os amigos têm entre si. Eles foram testemunhas e destinatários da intensidade deste amor. Sabem que Jesus cuidava das pessoas com quem convivia. Eles o viram alegrar-se com as suas alegrias (cfr. Lc 10, 21) e sofrer com sua dor (cfr. Jo 11, 35). Sempre encontrou tempo para estar com os outros: com a samaritana (cfr. Jo 4, 6), com a hemorroíssa (cfr. Mc 5, 32) e inclusive com o bom ladrão quando já estava na cruz (cfr. Lc 23, 43). O carinho de Jesus manifestava-se em coisas concretas: preocupava-se com o alimento dos que o seguiam (cfr. Lc 9, 13) e também com seu descanso (cfr. Mc 6, 31). Como nos recorda o Papa Francisco, Jesus “cuidou da amizade com seus discípulos, e inclusive nos momentos críticos permaneceu fiel a eles”[6].

JESUS QUER QUE SEUS AMIGOS SEJAM RECONHECIDOS PELO SEU MODO DE AMAR AOS OUTROS

A amizade é, ao mesmo tempo, um bálsamo para a vida e um dom de Deus. Não é apenas um sentimento fugaz e sim um verdadeiro amor “estável, firme, fiel, que amadurece com o passar do tempo”[7]. É considerada por alguns a expressão mais alta do amor, já que nos permite valorizar a outra pessoa por si mesma. A amizade “é olhar o outro não para servir-se dele, mas para servi-lo”[8]. É essa a sua preciosa gratuidade. Entende-se então, que o “ser desinteressada” é inerente à amizade, porque a intenção de quem ama não é buscar nenhum benefício, nem um possível efeito boomerang.

Descobrir isto em sua autêntica profundidade sempre surpreende, pois parece chocar com uma ideia da vida como competição, que costuma ser comum em alguns ambientes. Por isso, quem experimenta a amizade o faz habitualmente como um dom imerecido; com amigos os problemas da vida parecem mais leves. Como diz um provérbio kikuyu do qual o bem-aventurado Álvaro del Portillo gostou muito quando foi ao Quênia: “quando há um amigo no cume da montanha, é mais fácil subir”[9]. Os amigos são absolutamente necessários para conseguir uma vida feliz. É, sem dúvida, possível ter uma vida plena sem participar do amor conjugal – como acontece, por exemplo, com quem recebeu o dom do celibato – mas não se pode ser feliz sem experimentar o amor de amizade. Quanto consolo e alegria encontramos numa boa amizade! Como as tristezas se aliviam!

Mais amigos para Jesus

Conhecendo a vida de Jesus e crescendo em intimidade com Ele, podemos aprender as características de uma amizade perfeita. Vimos no princípio que a amizade cristã é especial porque se nutre de uma corrente divina, a graça de Deus, e por isso adquire uma nova “dimensão cristológica”. Esta força impulsiona a olhar e a amar a todos – especialmente os mais próximos – “por Cristo, com Ele e n’Ele”, como diz o sacerdote na Missa ao erguer Jesus no pão eucarístico. Aprenderemos assim a “ver os outros com os olhos de Cristo, descobrindo sempre e novamente o seu valor”[10]. São Josemaria nos animava a ser o próprio Cristo que passa ao lado das pessoas, a dar aos outros o mesmo amor de Cristo amigo. Por isso é lógico que alimentemos em nossa oração a expectativa humana e sobrenatural de ter sempre novos amigos, porque “Deus muitas vezes se serve de uma amizade autêntica para realizar a sua obra salvadora”[11].

A amizade de Jesus com Pedro, com João e com todos os seus discípulos identifica-se com um ardente desejo de que vivam perto do Pai; a sua amizade está unida ao desejo de que descubram a missão à qual foram chamados. Do mesmo modo, em meio às tarefas que o Senhor nos confiou, “não se trata de ter amigos para fazer um apostolado, mas de que o Amor de Deus informe nossas relações de amizade para que elas sejam um autêntico apostolado”[12]. São Josemaria costumava dizer que na vida espiritual chega um momento em que não se distinguem a oração e o trabalho, porque se vive numa contínua presença de Deus. Algo similar acontece com a amizade, porque ao desejar o bem do amigo queremos que esteja o mais perto possível de Deus, fonte segura de alegria. Assim, “não há tempos compartilhados que não sejam apostólicos: tudo é amizade e tudo é apostolado, sem nenhuma distinção”[13].

“NÃO HÁ TEMPOS COMPARTILHADOS QUE NÃO SEJAM APOSTÓLICOS” (MONS. FERNANDO OCÁRIZ)

Por isso, no coração dos santos, sempre havia lugar para um novo amigo. Ao ler livros que contam as suas vidas descobrimos um interesse sincero pelos problemas dos outros, pelas suas angústias e alegrias. Dom Álvaro cultivou esta disposição até o fim da sua vida; quis levar a amizade de Cristo inclusive às pessoas que o acompanharam durante as horas da sua última viagem nesta terra. Um dia depois do seu falecimento, “na mesinha de cabeceira encontrou-se o cartão de visita de um dos pilotos do avião que o tinha levado da Terra Santa a Roma. Ele tinha se interessado pelo piloto e pela sua família, especialmente durante o tempo de espera no aeroporto de Tel Aviv. O relacionamento foi breve, mas, profundo: aquele piloto foi rezar diante dos restos mortais de dom Álvaro assim que soube do seu falecimento”[14]. Em um encontro casual tinha se gerado uma amizade que continuava entre a terra e o céu.

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O cristão tem um grande amor – um dom – a compartilhar. As nossas relações com os outros dão a Cristo a possibilidade de oferecer a sua amizade a novos amigos. “Iluminar os caminhos da terra”[15] implica estender pelo mundo a preciosa realidade do amor de amizade. Às vezes, pensar só em nossos interesses, ter muita pressa ou ficar em certa superficialidade ao conhecer as pessoas, coloca em perigo este presente que Deus quer dar a todos os homens. Grande parte da nossa missão evangelizadora é justamente devolver à amizade o seu autêntico brilho, colocando-a em relação com Deus, com os outros, com o nosso desejo de ser melhores... em suma, com a felicidade.

José Manuel Antuña

Foto: Maksim Shutov, disponível em Unsplash.

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[1] Fernando Ocáriz, Carta Pastoral 1/11/2019, n. 23.

[2] Fernando Ocáriz, Carta Pastoral 1/11/2019, n. 7.

[3] Andrés Vázquez de Prada, El fundador del Opus Dei, Rialp, Madri 1997, tomo I, p. 164.

[4] São Josemaria, Via Crucis, VIII estação, 5.

[5] Fernando Ocáriz, Carta Pastoral 1/11/2019, n. 6.

[6] Francisco, Christus vivit, n.31

[7] Ibid., n.152.

[8] São João Paulo II, Ângelus 13-II-1994.

[9] Salvador Bernal, Recuerdo de Álvaro del Portillo, Rialp, Madri 1996, p. 278. Veja aqui o vídeo da tertúlia em que Dom Álvaro fala sobre este provérbio:

[10] Fernando Ocáriz, Carta Pastoral 1/11/2019, n.16.

[11] Ibid. , n.5.

[12] Ibid., n. 19.

[13] Ibid., n. 19.

[14] Salvador Bernal, Recuerdo de Álvaro del Portillo, Rialp, Madri 1996, p. 179.

[15] Fragmento da oração pública para pedir a intercessão de São Josemaria.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

O Papa aos humoristas: quando vocês fazem alguém sorrir, Deus também sorri

O Papa recebeu, no Vaticano, os humoristas de várias partes do mundo. "Embora a comunicação hoje em dia muitas vezes gere contraposições, vocês sabem como unir realidades diferentes e, às vezes, até opostas. O riso do humorismo nunca é "contra" alguém, mas é sempre inclusivo, proativo, desperta abertura, simpatia e empatia", disse o Papa em seu discurso.

https://youtu.be/4ovO0Ov9BfE

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (14/06), na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de duzentos humoristas do mundo. Dentre eles alguns nomes do Brasil, como Fábio Porchat, Cacau Protásio e Cristiane Wersom, e dos Estados Unidos, a atriz e comediante Whoopi Goldberg. 

O Pontífice deu as boas-vindas aos artistas e agradeceu aos membros do Dicastério para a Cultura e a Educação que prepararam este encontro.

O riso é contagioso

Tenho grande estima por vocês artistas que se expressam com a linguagem da comédia, do humorismo e da ironia. De todos os profissionais que trabalham na televisão, no cinema, no teatro, na mídia impressa, com músicas, nas redes sociais, vocês estão entre os mais amados, procurados e aplaudidos. Certamente porque são bons, mas há também outro motivo: vocês têm e cultivam o dom de fazer as pessoas rirem.

A atriz e comediante Whoopi Goldberg cumprimentando o Papa | Vatican Media

"Em meio a tantas notícias sombrias, imersos como estamos em tantas emergências sociais e também pessoais, vocês têm o poder de espalhar a serenidade e o sorriso. Vocês estão entre os poucos que têm a capacidade de falar com pessoas muito diferentes, de diferentes gerações e origens culturais", disse ainda o Papa.

“À sua maneira, vocês unem as pessoas, porque o riso é contagioso. É mais fácil rir juntos do que sozinhos: a alegria permite o compartilhamento e é o melhor antídoto contra o egoísmo e o individualismo. Rir também ajuda a quebrar as barreiras sociais, a criar conexões entre as pessoas.”

"Ele nos permite expressar emoções e pensamentos, ajudando a construir uma cultura compartilhada e a criar espaços de liberdade. Vocês nos lembram que o homo sapiens também é homo ludens; que a diversão e o riso são fundamentais para a vida humana, para nos expressarmos, aprendermos e darmos significado às situações", sublinhou Francisco.

Dentre os humoristas italianos Lino Banfi e Christian De Sica | Vatican Media

A seguir, o Papa disse aos artistas que o talento deles "é um dom precioso. Junto com o sorriso, espalha a paz nos corações, entre as pessoas, ajudando-nos a superar as dificuldades e a lidar com o estresse diário". O sorriso "nos ajuda a encontrar alívio na ironia e a encarar a vida com humor". O Pontífice citou as palavras de São Tomás More: "Dai-me, Senhor, o senso de humor". "Vocês conhecem essa oração?" Perguntou o Papa aos humoristas. "Vocês precisam conhecê-la", disse ele, encarregando os superiores de divulgá-la a todos os artistas. "Dai-me, Senhor, o senso de humor". "Essa é uma graça que eu peço todos os dias, porque ela me faz encarar as coisas com o espírito certo", disse ainda o Papa.

Despertar o senso crítico fazendo rir e sorrir

“Mas vocês também conseguem outro milagre: conseguem fazer sorrir mesmo quando lidam com problemas, pequenos e grandes fatos da história. Vocês denunciam os excessos de poder; dão voz a situações esquecidas; evidenciam abusos; apontam para comportamentos inadequados. Mas sem espalhar alarme ou terror, ansiedade ou medo, como fazem muitos da comunicação.”

Vocês despertam o senso crítico fazendo rir e sorrir. Vocês fazem isso contando histórias de vida, narrando a realidade, de acordo com seu ponto de vista original; e, dessa forma, falam às pessoas sobre problemas pequenos e grandes.

A atriz e comediante italiana Luciana Littizzetto | Vatican Media

"De acordo com a Bíblia, na origem do mundo, enquanto tudo estava sendo criado, a Sabedoria divina praticava sua arte para o benefício do próprio Deus, o primeiro espectador da história", disse o Papa, citando uma passagem do Livro dos Provérbios: "Eu estava junto com ele, como mestre-de-obras. Eu era o seu encanto todos os dias, e brincava o tempo todo em sua presença;  brincava na superfície da terra, e me deliciava com a humanidade". "Lembrem-se disto: quando vocês conseguirem fazer com que sorrisos inteligentes brotem dos lábios de até mesmo um só espectador, vocês também fazem Deus sorrir", disse ainda o Francisco, afirmando que isso não é uma heresia.

“Vocês, queridos artistas, sabem como pensar e falar com humor em diferentes formas e estilos; e, de qualquer forma, a linguagem do humor é adequada para entender e "sentir" a natureza humana. O humorismo não ofende, não humilha, não prega as pessoas aos seus defeitos.”

Embora a comunicação hoje em dia muitas vezes gere contraposições, vocês sabem como unir realidades diferentes e, às vezes, até opostas. Como precisamos aprender com vocês! O riso do humorismo nunca é "contra" alguém, mas é sempre inclusivo, proativo, desperta abertura, simpatia e empatia. Por favor, rezem e peçam ao Senhor a graça do senso de humor.

Encarar a vida com esperança

O Papa recordou a passagem do Livro do Gênesis, quando Deus promete a Abraão que dentro de um ano ele teria um filho. Sara ouviu e riu por dentro. Ela disse: "Deus me deu motivo para rir com alegria". Por isso, deram ao filho o nome de Isaac, que significa "ele ri".

"Também é possível rir de Deus? É claro que sim, e isso não é blasfêmia, podemos rir, assim como brincamos e fazemos piadas com as pessoas que amamos", disse o Pontífice. "A tradição sapiencial e literária hebraica é mestra nisso", disse ele. Porém, "isso pode ser feito, sem ofender os sentimentos religiosos dos fiéis, especialmente dos pobres".

"Querido amigos, Deus abençoe vocês e a sua arte. Continuem animando as pessoas, especialmente aquelas que têm mais dificuldade de encarar a vida com esperança. Ajude-nos, com o sorriso, a ver a realidade com suas contradições e a sonhar com um mundo melhor", concluiu.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Vito

São Vito (A12)
15 de junho
São Vito

Vito nasceu no ano de 290, na Sicília Ocidental, era filho de um senador pagão chamado Hylas. Sua mãe morreu quando ele tinha aproximadamente sete anos de idade, seu pai então, contratou uma ama, chamada Crescência, para cuidar do menino. Ela era cristã, viúva e tinha perdido o único filho. O pai providenciou também um professor, chamado Modesto, para instruir e formar seu herdeiro. Este também era cristão.

O pai de Vito encarava o cristianismo como inimigo a ser combatido. Por isto, Modesto e Crescência nunca revelaram que eram seguidores de Cristo. Contudo, educaram o menino dentro da religião. Aos doze anos, Vito já estava batizado e demonstrava identificação total com os ensinamentos de Jesus.

Ao saber do batismo, o pai tentou convencê-lo a abandonar a fé e castigou o próprio filho, entregando-o então ao governador Valeriano, que o encarcerou e o maltratou por vários dias. Modesto e Crescência, entretanto, conseguiram arquitetar uma fuga e tiraram Vito das mãos do governador, fugindo para a cidade de Lucânia e depois para Roma.

Em Roma, aconteceu que o filho do imperador Diocleciano estava possuído por um espírito maligno. O soberano, tendo conhecimento dos dons de Vito, mandou que o trouxessem à sua presença. Vito então rezou com todo fervor e em nome de Jesus realizou a cura. Porém, Diocleciano atribuiu a cura do filho a utilização de feitiçaria por parte do Vito, mandando prendê-lo juntamente com Modesto e Crescência.

O imperador ordenou que Vito fizesse sacrifícios pagãos em troca da sua liberdade, mas ele que não aceitou renegar a fé em Cristo para ser libertado. Dessa forma então os três foram torturados e condenados à morte, foram lançados aos leões, porém os leões não quiseram tocá-los, então eles foram jogados em óleo fervente. No momento de suas mortes, uma imensa tempestade destruiu vários templos pagãos da região, o que deu origem à tradição de proteção contra as intempéries.

Morreu no dia 15 de junho, possivelmente no ano de 303, depois de muitas torturas. Com ele foram martirizados também Modesto e Crescência.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

São Vito é invocado contra o perigo das tormentas, mordidas de serpentes e contra todo dano que os animais podem fazer aos homens. Sua santidade manifestou-se em prodígios e sinais miraculosos que acompanharam sua vida. Mas sua maior virtude foi entregar-se ao amor de Jesus e deixar-se conduzir nos caminhos da fidelidade ao Evangelho.

Oração:

São Vito! A vós recorro porque em vós eu vejo uma esperança para a minha saúde, uma luz para a minha vida. Sinto que a vossa proteção me reanima na minha fraqueza. A vossa bênção me dará um pensamento positivo, paz, segurança, tranquilidade. Que vossa proteção faça reviver a minha esperança, aumente a minha fé em Deus Pai de amor, fortaleça a minha confiança em Deus Filho e Salvador; que reanime a minha segurança em Deus Espírito Santo Consolador. Amém!


Fonte: https://www.a12.com/

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Que mundo é esse?

Preservar o meio ambinte (Idec)

QUE MUNDO É ESSE?

Dom Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR) 

Experimentamos sentimento de perda com as inundações, estiagens, descontrole da vida social. Quando as relações humanas estão fragilizadas é porque perdemos o senso da espiritualidade, da libertação dos instintos egocentristas. Frequentemente encontramos na Sagrada Escritura relatos dos vacilos do Povo de Deus ao longo de sua história. O distanciamento de Deus, aproxima as confusões, tensões e desajustes na sociedade. A natureza sinaliza tais desacertos e se manifesta, por vezes, tragicamente porque invadimos o seu percurso natural e lógico. 

Convivemos com a natureza que nos acolhe e nos sustenta, mas não sabemos como se explica, em última análise, o que faz germinar, crescer uma semente. O Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo, em miniatura. Jesus procura fazer os discípulos entenderem que o desenvolvimento da mente humana, o retorno ao Deus da vida que nos liberta das angústias, é um processo de crescimento, de evolução na fé. 

Nos admiramos das técnicas avançadas, das facilidades midiáticas, das redes sociais, enfim, quanta criatividade e novidade apreciamos a cada instante. As relações humanas não têm evoluído nessa proporção. Entramos no mundo da dominação, da frieza relacional e desenvolvemos o instinto da competição desenfreada que machuca e destrói a natureza, a vida humana. Os pais não têm tempo para os filhos, nem para a convivência familiar. Criam-se outros modelos de vida que revela os desajustes do afeto, do respeito e da dignidade humana. Sentimos saudades da comunhão de vida, da libertação das amarras de um sistema que produz, vorazmente e não consegue evoluir no respeito, na paz que gera vida em plenitude. 

Afinal, que mundo é esse em que vivemos? Destruímos a natureza, em busca do lucro selvagem. Justificamos o desmonte ecológico em nome do desenvolvimento, intoxicamos a mãe terra e reclamamos das pandemias, doenças, do vazio sistemático que gera depressão, abandono, solidão. 

O que fazer? O profeta Ezequiel, que caminha contra a corrente dos costumes do seu tempo, prega a libertação de Israel em exílio. É preciso voltar a Deus. “E todas as árvores do campo saberão que eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço” (Ez 17,24). Respeitar a presença divina gera a salutar convivência no mundo em que vivemos. A vinda do Filho de Deus ao mundo aponta o rumo a ser tomado, para salvar a vida, o maior dom do Criador. “Todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida corporal” (2Cor 5,10). 

Para fazer os discípulos entenderem a riqueza do Reino de Deus, Jesus utiliza a comparação da semente que é lançada na terra. Sabemos da qualidade, do ambiente, do tempo, dos insumos necessários para que a semente germine e chegue aos seus frutos. Não há equívoco. Não há alteração na qualidade, na espécie. Mas o crescimento é Deus quem dá. Ao nos ausentarmos da intimidade com aquele que gera crescimento, nos afastamos da essência da vida. Homens e mulheres que ditam as normas da condução da sociedade, se não estiverem afinados com a sabedoria divina, criarão instrumentos de exploração, de divisão, de ódio e de exclusão.  

Que a leitura da Palavra de Deus nos instrua, nos anime e nos qualifique na vida, para que toda criatura humana, cresça na fé, na esperança e caminhe ao encontro definitivo com Deus no Reino que Ele preparou para todos nós. Esse é o mundo desejado e anunciado por Jesus Cristo.

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF