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terça-feira, 25 de junho de 2024

A Fé de Jesus Cristo e a Mística de Suas Aparições

Jesus Cristo (c. Vatican News)

A Revelação de Deus, Uno e Trino, ocorre, desde o pecado das origens, através da Pessoa de Jesus Cristo (Vida, Palavra, Verbo Eterno do Pai, Redentor, Único Salvador, Verdadeiro Deus + Verdadeiro Homem = duas Naturezas, em uma só Pessoa).

Diác. Adelino Barcellos Filho* - Diocese de Campos/RJ.

“Todo aquele que o Pai me dá virá a mim; esta é a Vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia” (João 6).

É possível perceber a notória importância da Fé de Jesus Cristo e Seu desejo de Ser, em mim e em você, no trato com o Pai; por isso, cabe o desejo, o anseio de suplicar esta mesma Fé em nossa Vida, em nossa existência,  trata-se da maneira mais perfeita do cumprimento da Santíssima Vontade: “Em verdade, em verdade vos digo: o Filho de si mesmo não pode fazer coisa alguma; ele só faz o que vê fazer o Pai; e tudo o que o Pai faz, o faz também semelhante­mente o Filho” (João 5). “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus, 11).

Na Audiência Geral do dia 24 de abril de 2024, o Papa Francisco afirma que, "no caminho rumo à plenitude da vida, que pertence ao destino de cada pessoa, o cristão goza de uma assistência particular do Espírito de Jesus Cristo". Assim sendo, a simplicidade (humildade) do nosso Mestre e Senhor deve permear também toda a nossa Vida, para que não corramos o risco, da autossuficiência, arrogância, presunção e petulância, na maioria das vezes enxergados, nos outros e nós deixamos de olhar para nós mesmos, numa auto análise ou revisão de consciência.

No Ciclo de Catequeses sobre “Os Vícios e as Virtudes”, o Santo Padre adverte que, "O coração do homem pode ceder às más paixões, pode dar ouvidos a tentações nocivas disfarçadas sob vestes convincentes, mas também pode opor-se a tudo isto. Por mais difícil que seja, o ser humano foi feito para o Bem, que o realiza verdadeiramente, e pode também praticar esta Arte, fazendo com que certas disposições se tornem permanentes nele ou nela”. A minha e a sua condição de pecador, não nos dá o direito de pecar: “Vai e não tornes a pecar” (João 8); por mais que rondem as tentações e “fogos passionais”“Eu prefiro o Paraíso” (Felipe Neri).

Durante algumas décadas, uma das Palavras das Sagradas Escrituras, que muito me incomoda, inquieta e desafia sempre é a seguinte: “aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai”. Como assim, tantas vezes nos encontramos fracos, fragilizados e débeis, ou seja, como cultivar, em si mesmo, a Fé sobrenatural de Jesus Cristo, evitar ou fugir da Fé “carnal”, fazer as obras que Jesus Cristo faz é abrir possibilidades de fazer obras maiores, somente pela Força e Poder de Sua Ressurreição e Ascensão, que Ele espera de mim e de você uma total adesão e Comunhão ao Seu “Projeto” do Reino de Deus, que é Ele mesmo.

Quanto à Fé “carnal”, Ele nos revelou no Horto das Oliveiras, “Meu Pai, se é possível, afaste de mim este cálice! Todavia, não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres” (Mateus 26), “afasta esse sofrimento, afasta essa dor, eu não mereço, não tenho condição de suportar, porque o Senhor faz isso comigo?”(fé carnal); a resposta da Fé sobrenatural (fé espiritual) é,  “por Cristo, com Cristo e em Cristo, sou capaz de fazer o que desejas, em Seu Plano de Amor, para minha Vida e minha Vocação”. O iluminado Padre Zezinho, em uma Canção, colabora conosco neste entendimento: “Amar como Jesus Amou; Sonhar como Jesus sonhou; Pensar como Jesus pensou; Viver como Jesus viveu; Sentir o que Jesus sentia; Sorrir como Jesus sorria; E ao chegar ao fim do dia, Eu sei que eu dormiria muito mais feliz”. Ser Feliz não depende dos dias maus ou bons, a Dinâmica da Vida Trinitária, em mim e em você, é Feliz, porque a Trindade é Feliz.

Quando o Evangelho de Lucas (17, 5) relata o pedido dos Apóstolos, “Aumenta a nossa fé!” É uma motivação para crescermos na Espiritualidade verdadeiramente Cristã, suplicando ao Senhor: “Aumentai em mim, Senhor Jesus, a Vossa Fé, para que eu possa corresponder dia após dia, qual seja a Santíssima Vontade do Pai”; é uma Graça do reconhecimento da presença continuada de Deus, Uno e Trino, e a possibilidade de crescer na intimidade com Ele, multiplicando os dons e os talentos, por Ele concedidos, na Coragem, no Amor, na Esperança.

É interessante observar que, Jesus não responde de forma direta à Oração dos Discípulos, usa do recurso da Parábola (mensagem indireta, por meio de comparação ou analogia = semelhança entre coisas ou fatos distintos) para retratar a capacidade de viver, de se desenvolver, força vital, vigor da FÈ. Quem afirmou que é “o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”(João 14, 6)?  Pela Sua Revelação«Deus invisível, na riqueza do seu Amor, fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à Comunhão com Ele» (Dei Verbum, 2: AAS 58 (1966) 818). A resposta adequada a este convite é a Fé do próprio Jesus Cristo.

Pela Féo homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o homem dá assentimento (concordância, anuência) a Deus revelador” (Dei Verbum, 5: AAS 58 (1966) 819). A Sagrada Escritura chama «obediência da Fé» a esta resposta do homem a Deus Revelador (Romanos 1, 5; 16, 26). A Dinâmica Trinitária na Alma Humana, iniciada no Sagrado Batismo é norteadora de toda a Vida Cristã e exige por Si e em Si mesma, a necessidade de entrarmos em um processo sempre dinâmico, pessoal e comunitário, de cuidado, de sinodalidade (caminhar unidos, em só Coração, numa só Alma).

O marco histórico e espiritual ocasionado pela Ressurreição de Jesus Cristo, não se restringe ao fato do túmulo vazio, mas à Sua Presença Santíssima do Seu Corpo Ressuscitado, que atravessa paredes, desde a primeira aparição, foi feita a experiência mística, da Mãe de Jesus e dos Apóstolos, apoiada nas virtudes da Fé, Esperança e da Caridade (unida à doação da própria vida, que produz solidariedade). É depois da Ressurreição que a Filiação Divina de Jesus aparece no Poder da Sua humanidade glorificada: “segundo o Espírito de Santidade, foi estabelecido Filho de Deus, no Poder, por Sua Ressurreição dos mortos”(Romanos 1).

Na Constituição Apostólica Lumen Gentium, Concílio Vaticano II,  sobre a Igreja, Corpo Místico de Cristo (Ele é a Cabeça e nós os membros), em seu parágrafo 7, “O Filho de Deus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte e ressurreição, remiu o homem e transformou-o em Nova Criatura (cf. Gálatas, 6; II Coríntios, 5). Pois, comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos, os Seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como sendo o Seu Corpo.  

É nesse Corpo que a vida de Cristo se difunde nos que creem (fazem adesão incondicional), unidos de modo misterioso (revelado) e real, por meio dos Sacramentos, a Cristo padecente e glorioso”(Cf. São Tomás, Summa Theol. III, q. 62, a. 5, ad 1). Sobretudo, naqueles Sacramentos considerados de Iniciação Cristã (Batismo, Eucaristia, Confirmação ou Crisma), na Vida da Igreja, no fazer teológico. Estar atentos que a Fé de Jesus Cristo, em nós, precisa ser Trinitária, na vivência litúrgica, na convivência cristã, na sinodalidade (Espírito de Unidade do Povo Cristão, Caminhar Unido).

Até o dia, em que seremos reconduzidos, com todo o universo, com o auxílio da Virgem Maria,  dos Santos Anjos de todos os Santos, de toda a criação; na Eterna Doxologia, enxertados no Coração Eucarístico (Presença Viva, Corpo, Sangue, Alma e Divindade, como prometeu “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”(Mateus 28), "por Cristo, com Cristo e em Cristo" devotarmos "a Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda a glória, agora e para sempre“. Pelos séculos dos séculos sem fim. Assim seja.

*Diácono da Igreja Católica Apostólica Romana (Ordenado com vistas à Ordenação Sacerdotal). Pós-graduado em Gerenciamento Socioambiental Costeiro - COPPE/UFRJ. Especialista em Educ. Profissional e EJA (Educação de Jovens e Adultos, Catecumenato) IFF/RJ. Teologia - ISTARJ (Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro). Licenciatura Plena em Filosofia - PUC/MG. Professor na Formação Pedagógica de Educadores; Formação Humana e Profissional de mais de 500 dentistas, na FOC - Faculdade de Odontologia de Campos/RJ; Coordenação e Docência em dois Institutos Federais (IFRJ e IFF). Atualização de estudos teológicos - ETRM/RJ (Escola Teológica Redemptoris Mater). Convalidação Teológica iniciada no Centro Educacional Claretiano (com TCC defendido). Atualmente provisionado por Sua Exa. Reverendíssima Dom Roberto Francisco Ferrería Paz - Bispo da Diocese de Campos/RJ, na Paróquia São Tomé. Experiência na área de Teologia e Filosofia, Ambiente e Educação. Participações em bancas de TCC (mais de 60): Pós Graduações e Ensino Médio. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A santidade, vocação universal

O chamado universal à santidade (pspsp.curitiba)

A SANTIDADE, VOCAÇÃO UNIVERSAL

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
 

Cadernos do Concílio – Volume 22 

Hoje nos debruçaremos no volume 22 da Coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II, em preparação ao jubileu da esperança do próximo ano e a comemoração dos sessenta anos de encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II. Foi elaborada pela Igreja essa coleção Cadernos do Concílio para que mesmo de forma resumida os fiéis possam ter contato com os documentos elaborados ao longo dessa Assembleia dos bispos de todo o mundo.  

Ao mesmo tempo a coleção foi elaborada para que de certa forma esses documentos fossem atualizados e sem perder a essência usam uma linguagem mais apropriada para os nossos dias. Além do mais, podemos usar os livrinhos dessa coleção para estudar em grupos em nossas paróquias e comunidades. Existe também um livro chamado de “Compêndio do Concílio Vaticano II” que tem todas as decisões e documentos do Concílio inseridos nele. Com certeza será de grande valia essa aquisição, tanto do Compêndio como dos volumes dessa coleção Cadernos do Concílio, e estudar os dois.  

O tema escolhido para esse volume 22 da coleção Cadernos do Concílio é: “A santidade, vocação universal”, ou seja, todos os batizados são chamados a viver a santidade no dia a dia, não que necessariamente serão canonizados pela Igreja, mas todo cristão batizado deve almejar a vida eterna e o Reino dos céus. Não somente almejar, mas querer estar na vida eterna, e isso será possível após trilharmos uma vida reta e santa aqui na terra. 

O caminho para alcançar a santidade consiste em edificar o Reino de Deus aqui na terra, ou seja, amando e perdoando o próximo e colocando em prática a justiça e a caridade. Somos convidados a edificar o Reino de Deus aqui na terra e vive-lo depois de maneira plena no céu.  

Quando somos batizados somos incorporados a Cristo e à sua Igreja e chamados a ser sacerdotes, profetas e reis, e ainda, sal na terra e luz no mundo. Ser sacerdote, profeta e rei quer dizer que fazemos parte do sacerdócio comum de todos os fiéis, pois somos incorporados a Cristo eterno sacerdote. Ao mesmo tempo quer dizer que somos chamados a ser discípulos e missionários do Senhor, sendo profetas nos dias de hoje, anunciando o Reino de Deus.  

Ao mesmo tempo somos chamados a ser “sal e luz”, ou seja, temos que iluminar a vida dos outros e não ser escuridão ou trevas. Iluminar significa anunciar Jesus Cristo para o outro e tirá-lo da escuridão, do mesmo modo que Barnabé fez com Paulo. E ser sal significa que a nossa vida tem que ter sabor, ou seja, que nossa vida tenha sentido e objetivo, procurando edificar aqui na terra o Reino de Deus.  

A Constituição Conciliar Lumen Gentium, fruto justamente do Concílio Ecumênico Vaticano II e que temos mencionado nos últimos volumes dessa coleção, no número 11, vai dizer: “todos os cristãos, seja qual for sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor, cada um no seu caminho, à perfeição da santidade pela qual é perfeito o próprio Pai” (Lumen Gentium, 11).  

A santidade é uma vocação, ou seja, um chamado de Deus, é Ele quem chama a viver a santidade, do mesmo modo que é Ele quem nos chama para o batismo. E ele chama a todos sem distinção de idade, profissão, raça ou condição social. Todos os seguidores de Cristo devem almejar a santidade e responder positivamente a esse chamado de Deus. São Paulo nos diz que devemos nos guiar pelo Espírito Santo, pois ele nos santifica, e não nos guiarmos pela carne que nos levará ao pecado. Peçamos todos os dias que o Espírito nos santifique e que nossas ações diárias reflitam o amor, a caridade, a justiça e a paz. Deus nos escolheu para santidade e para conduzir outros irmãos para o mesmo caminho.  

Viver a santidade não é algo tão difícil ou complicado, basta viver no dia a dia os mandamentos da lei de Deus e a caridade com o próximo. Jesus em Mateus (5, 1-12) direciona o caminho para que todos os cristãos vivam a santidade, ou seja, viver as bem-aventuranças. Por mais que algumas vezes não seja fácil temos que buscar ser perfeitos como o Pai Celeste é perfeito.  

Por fim, por isso, que no final do ano celebramos finados no dia 2 de novembro, depois de termos celebrado a Solenidade de Todos os Santos no dia 01 de novembro, ou no domingo seguinte se a solenidade cai durante a semana. Essas duas solenidades são tão próximas porque querem dizer que o caminho de todo o cristão é a vida eterna ao lado de Deus, após ter trilhado um caminho de santidade aqui na terra.  

Convido a tomarem esse volume 22 da coleção Cadernos do Concílio em mãos e ler um pouco sobre a nossa vocação universal a santidade. E ainda, ler a Lumen gentium a partir do número 11. Ser santo é um caminho possível e não muito difícil, se trata de negar aquilo que nos afasta de Deus e dizer Sim para aquilo que nos aproxima do Senhor. Em suma viver a santidade no dia a dia é colocar em prática as bem-aventuranças, e esse é o caminho para a vida eterna.

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Dom Vital: A doutrina do Espírito Santo em Fausto de Riez

Espírito Santo (Vatican News)

Nós pedimos as luzes do Espírito Santo por toda a Igreja para que anuncie a Palavra de Jesus no mundo de hoje, marcados por conflitos e por esperanças na unidade com o Pai, Deus Uno e Trino.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Fausto de Riez foi bispo (Riez), na Província romana da Gália, século V e defensor da doutrina de Nicéia em favor do Filho que é Deus como o Pai sendo este autor, um lutador contra o arianismo. Ele elaborou no fim de sua vida uma obra muito importante: o Espírito Santo, estando contra a heresia pneumatológica proveniente dos grupos macedonianos que negavam a divindade do Espírito Santo, de modo que ele defendeu a sua natureza divina[1]. Nós pedimos as luzes do Espírito Santo por toda a Igreja para que anuncie a Palavra de Jesus no mundo de hoje, marcados por conflitos e por esperanças na unidade com o Pai, Deus Uno e Trino.

O Espírito Santo e o Símbolo

Fausto iniciou o seu argumento colocando a fé católica que se difundiu no mundo através da ação do Espírito Santo que a insinuava em seus corações pelos artigos salvíficos do Símbolo apostólico[2]. Ele reforçou a formação na catequese dando vida nova aos membros que ingressavam na vida da comunidade e na Igreja. O bispo de Riez teve presentes os trezentos e dezoito participantes do Concílio de Nicéia que condenaram Ário e Macedônio ao afirmar a fé em Deus Pai e em Deus Filho e em Deus Espírito Santo, a fé no Deus Uno e Trino[3].

O Espírito é de natureza divina

Fausto criticou Macedônio por ele não ter presente que o Espírito é de natureza divina. A prova está na encarnação do Verbo de Deus que foi concebido no seio virginal de Maria por obra do Espírito Santo. Ele também reforçou a doutrina da criação colocando o Pai e o Filho, como Deus, Senhor do Universo[4].

O Espírito Santo em Jesus

Fausto disse que o Espírito Santo vem do Pai assim como Jesus tinha dito e ele desceu sobre o Senhor Jesus assim como já falou Isaias: “Espírito de sabedoria e entendimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e piedade”(Is 11,2). Em outra passagem, a Sagrada Escritura disse que o Espírito do Senhor desceu sobre o Salvador pela boca de Isaias: “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Is 61,1)[5]. A Palavra de Deus continua a dizer sobre a presença do Espírito Santo em Jesus: “Eis que o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus descendo sobre ele como uma pomba”(Mt 3,16) e “Jesus voltou do Jordão cheio do Espírito Santo” (Lc 4,1)[6].  O Espírito Santo estava em Jesus na obra evangelizadora e no anúncio do Reino de Deus.

O Espírito do Pai é o Espírito Santo

Segundo o bispo de Riez os evangelhos têm presentes que o Espírito do Pai é o Espírito Santo. Isto é bem evidenciado nos evangelistas sinóticos: “Não sereis vós que falareis, mas o Espírito de vosso Pai que falará através de vós”(Mt 10,20); “Diga o que será concedido para dizer naquele momento. Com efeito, não sereis vós a falar, mas o Espírito Santo”(Mc 13,11); “Não vos preocupeis com o que tendes a dizer e como direis. Pois, naquele momento, o Espírito Santo vos ensinará o que dizer” (Lc 12,11)[7]. O Espírito Santo iluminará as pessoas nos contextos de paz mas sobretudo, de perseguições da Igreja para dar o bom testemunho de Jesus Cristo diante das autoridades e do mundo.

Dedo de Deus

O Espírito Santo é dito pelo Evangelho dedo de Deus. Jesus disse aos fariseus e doutores da Lei: “Se eu expulso demônios é pelo dedo de Deus” (Lc 11,20). Contra os macedonianos que afirmavam a sua inferioridade em relação às outras duas Pessoas divinas, ou mesmo eles negavam a divindade do Espírito Santo, Fausto afirmou que tal expressão não significou uma diminuição na glória da Pessoa do Espírito Santo, mas a unidade da substância, e que a Ele não existe uma honra diferente, mas uma concórdia em ação[8]. A passagem da Escritura usa a expressão dedo para significar a Trindade: “Eu contemplo o céu como obra de teus dedos” (Sl 8,4) de modo que não se afirma a menção de um dedo apenas, mas no plural, tendo presente a igualdade das três Pessoas divinas[9].

O Espírito é o distribuidor dos carismas

O Espírito Santo distribui carismas celestiais e é o dispensador de santificações (1 Cor 12,7). As suas grandes obras se manifestaram também no Antigo Testamento como aos patriarcas, aos profetas, aos santos, eleitos, para que pela perfeição dos dons, todas as pessoas beneficiadas compreendessem a dignidade do doador, o Espírito Santo[10]. É claro que é a Trindade indivisível que distribui a todos os dons mais admiráveis e perfeitos a fim de predispor o ser humano à salvação[11]

Pentecostes

Seguindo a Palavra de Deus, Fausto afirmou que o Espírito Santo desceu após a Ascensão do Senhor sobre os seus discípulos para aumentar e completar seus benefícios e fazer os discípulos missionários do Senhor (cf. At 2,1-2)[12]. Jesus disse aos seus discípulos que o Espírito da verdade que o Pai enviará, será no nome de Jesus (Jo 14,26). Jesus também disse: “Se eu não for, o Paráclito não virá a vós” (Jo 16,7). Sendo assim mencionado Ele é Deus, contra os macedonianos, destinado a confirmar os dons no lugar de Deus[13]. A palavra Paráclito possui um duplo significado: advogado em relação à Pessoa do Filho ou também Consolador, em referência ao Espírito Santo[14].

O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. A sua ação continua  na vida familiar, eclesial, comunitária e social. Ele inspira pessoas e a própria Igreja para que viva bem os dons da profecia, do sacerdócio e do pastoreio em unidade com o Filho e o Pai, formando assim a Deus Uno e Trino. Ele inspira a Igreja para viver a encarnação do Verbo de Deus em unidade com o Pai no mundo de hoje. Ele nos ajuda a amar o mandamento do Senhor no amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, neste mundo e um dia nós tenhamos a graça de participar da vida eterna.

[1] Cfr. Fausto de Riez. O Espírito Santo. São Paulo, Paulus, 2024.

[2] Cfr. Idem, Livro 1,1, pg. 47.

[3] Cfr. Ibidem, pgs. 47-48.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 51.

[5] Cfr. Ibidem, pgs. 57-58.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 58.

[7] Cfr. Ibidem, pg. 58.

[8] Cfr. Ibidem, pg. 60.

[9][9] Cfr. Ibidem, pg. 60.

[10] Cfr. Ibidem, pgs. 64-65.

[11] Cfr. Ibidem, pgs. 65-66.

[12] Cfr. Ibidem, pg. 66.

[13] Cfr. Ibidem, pg. 66.

[14] Cfr. Ibidem, pgs. 66-67.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Próspero

São Próspero (A12)
25 de junho
São Próspero

Próspero nasceu no final do século IV na França. Estudou na sua cidade natal e logo se tornou escritor e teólogo. Ficou conhecido como "o melhor discípulo de Agostinho", pois dedicou grande parte da sua vida para defender as doutrinas de graça de Agostinho.

Ele não foi sacerdote, porém viveu no mosteiro de Marselha como leigo. A Igreja o venera como "Professor da Fé".

Próspero viu se difundir a doutrina herética ensinada por Pelágio, que negava o pecado original e a necessidade da Graça Divina para a salvação humana. Portanto, o homem seria capaz de se salvar apenas praticando o bem e segundo a sua própria vontade, pois a Graça Divina era importante, mas não indispensável.

Próspero, para fortalecer seus argumentos, escreveu a Agostinho, que respondeu com cartas que hoje são conhecidas como "Sobre a predestinação dos santos" e "Sobre o dom da perseverança".

Próspero se transferiu para Roma em 435, onde continuou com suas obras. Escreveu um comentário sobre os Salmos e sobre seu mestre Agostinho. A partir de 440, Próspero foi convocado pelo papa Leão Magno, o Grande, para ser seu secretário, exercendo a função até depois de 463, quando morreu. Deixou muitos escritos teológicos, as seleções de Próspero dos escritos de Agostinho foram a base dos decretos do Concílio de Orange em 529.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Nosso querido santo sempre valorizou em seus escritos o matrimônio cristão como fonte de santificação para os cônjuges. No escrito “De um esposo à sua mulher”, Próspero escreveu: "Se o orgulho me elevar, corrija-me! Seja a minha consolação nos sofrimentos. Demos ambos exemplos de uma vida santa e verdadeiramente cristã. Cumpramos os nossos deveres. Levante-me, se por ventura eu cair. Esforce-se por se levantar, quando eu a corrigir. Não nos contentemos com ser um só corpo, sejamos também uma só alma".

Oração:

Senhor Pai de Bondade, pela intercessão de São Próspero, abençoai e protegei todos as famílias que têm no Cristo a luz de suas vidas. Dai aos esposos serem zelosos com suas mulheres e filhos. Derramai sobre as mulheres o carinho pelos esposos e o cuidado pelos filhos. E aos filhos, inspirai o respeito e amor aos pais. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 24 de junho de 2024

A soberba: o vício capital que dá origem aos demais pecados

A serpente e a maçã (Crédito: Depositphotos)

A SOBERBA: O VÍCIO CAPITAL QUE DÁ ORIGEM AOS DEMAIS PECADOS

Dom João Santos Cardoso 
Arcebispo de Natal (RN)

A soberba, classificada como o primeiro dos vícios capitais pelo místico medieval Hugo de São Victor, está na origem dos demais vícios ou pecados capitais. Eles são chamados de “capitais” porque derivam do termo latino “caput”, que significa cabeça, líder ou chefe. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, eles são chamados de capitais porque geram outros pecados e vícios através da repetição de atos pecaminosos, resultando em inclinações perversas que obscurecem a consciência e corrompem a apreciação concreta do bem e do mal (CIC 1866). São sete vícios que lideram outros pecados subordinados: soberba, inveja, ira, preguiça (acídia), avareza, gula e luxúria. Tomás de Aquino explica que os vícios capitais são pecados que comprometem múltiplos aspectos da conduta humana e limitam a autêntica liberdade, levando a ações moralmente desordenadas (De Malo). 

O Papa Francisco considera a soberba como uma forma de “esplendor excessivo”, de autoexaltação, de presunção e vaidade que se manifesta no desejo excessivo de superioridade e reconhecimento. O soberbo se considera muito mais do que é na realidade, julga-se superior aos demais e despreza os outros (Papa Francisco. Audiência Geral, 06/03/2024). Hugo de São Victor descreve a soberba como o amor da própria excelência sem Deus, comparando-a ao riacho que se separa da fonte e ao raio que se afasta do sol, tornando-se secos e tenebrosos (Hugo de São Victor. Os cinco setenários). 

Segundo o Papa Francisco, a soberba está ligada ao pecado original e foi o catalisador para a queda de Adão e Eva. A serpente os convenceu de que poderiam ser como Deus, levando-os a desobedecer e a comer do fruto proibido. Esse ato de soberba rompeu a harmonia inicial com Deus e introduziu o mal no mundo (Papa Francisco, Audiência Geral, 27/12/2023). A soberba é, portanto, uma pretensão absurda de divindade, que destrói as relações humanas e envenena o sentimento de fraternidade (Papa Francisco, Audiência Geral, 06/03/2023). 

As causas da soberba incluem o desejo desordenado de autoexaltação, a falta de reconhecimento dos próprios limites humanos e a recusa de reconhecer a superioridade de Deus. Segundo Tomás de Aquino, a soberba é um pecado “supra-capital”, pois permeia e amplifica outros pecados, como a vanglória, e está na raiz de todos os pecados (De Malo). Hugo de São Victor explica que a soberba despoja o homem de Deus, levando à inveja e à ira, que por sua vez despojam o homem do próximo e de si mesmo (Os Cinco Setenários). 

As consequências da soberba são severas. Além de afastar o homem de Deus e dos outros, ela conduz à solidão e à autodestruição. O Papa Francisco adverte que a soberba pode ser devastadora, levando à ruína pessoal e à quebra das relações interpessoais (Audiência Geral, 6 de março de 2024 e 27 de dezembro de 2023). 

O Papa Francisco enfatiza que a humildade é essencial para combater a soberba e reconquistar a graça de Deus. Ele cita o exemplo de São Pedro, cuja presunção inicial foi curada pela humildade após a negação de Cristo (Audiência Geral, 6 de março de 2024). Tomás de Aquino sugere que a prática das virtudes opostas, como a humildade e a caridade, é fundamental para superar a soberba (Tomás de Aquino, De Malo). 

Tomás de Aquino descreve a soberba como um desejo desordenado de excelência própria, que leva o indivíduo a recusar a superioridade de Deus e a buscar reconhecimento injusto (De Malo). Para Tomás, a soberba é a mãe de todos os vícios, pois todas as ações pecaminosas, direta ou indiretamente, podem ser rastreadas até um desejo de autoexaltação (De Malo). 

Hugo de São Victor relaciona a soberba com os outros setenários como a primeira petição do Pai Nosso (“Santificado seja o vosso Nome”), o primeiro dom do Espírito Santo (Temor do Senhor), a primeira virtude (Humildade) e a primeira bem-aventurança (O Reino dos Céus). Ele explica que a soberba, ao despojar o homem de Deus, impede-o de alcançar a verdadeira santidade e comunhão com Deus (Os Cinco Setenários). 

A soberba é um vício destrutivo que afasta o homem de Deus e dos outros, levando à autodestruição. Através dos ensinamentos do Papa Francisco, Hugo de São Victor e Tomás de Aquino, compreendemos que a cura para a soberba está na humildade e na prática das virtudes opostas. A luta contra a soberba é uma batalha contínua, mas essencial para a saúde espiritual e a harmonia com Deus e com o outro.

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

IGREJA: Até os políticos vão para o céu...(2)

Imperador Carlos de Habsburgo com sua comitiva durante a procissão de Corpus Christi pelas ruas de Viena | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 09/2004

Até os políticos vão para o céu...

Palavra do Cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Não é por acaso que Paulo VI definiu a política como “a forma mais elevada de caridade”.

por Gianni Cardinale

Há alguma figura política santa que esteja particularmente próxima do seu coração?
SARAIVA MARTINS: Não gostaria de expressar preferências. Gostaria apenas de destacar a figura do último “político” beatificado, Alberto Marvelli, que, além de ex-aluno salesiano e associado da Ação Católica, foi também conselheiro da Democracia-Cristão para o município de Rimini.

O que o impressionou de modo particular na figura do Beato Marvelli?
SARAIVA MARTINS: Duas coisas em particular. Em primeiro lugar, a sua doação total e sem medo a Jesus Cristo e não de forma abstrata, mas tendo sempre presente a frase de Jesus: “O que fizeres ao menor dos meus irmãos, a mim o terás feito”. ". Marvelli foi de fato um grande apóstolo dos pobres. E depois a percepção de que não é a astúcia ou o trabalho do político, mas apenas a graça do Senhor que proporciona o bem de um Estado. Na verdade, o Beato Alberto escreveu: «Não fizemos nada pelas eleições, temos que trabalhar em profundidade. Em alguns lugares, muito trabalho é feito, mas nada é feito. Devemos trabalhar na graça de Deus...".

Algumas de suas declarações a favor da santidade de De Gasperi feitas durante a "Cidade das Tendas Juvenis", organizada no santuário de Abruzzo de San Gabriele dell'Addolorata no final de agosto, foram notícia. Você quer adicionar algo?
SARAIVA MARTINS: Para lhe responder, remeto-me às palavras do beato Cardeal Ildefonso Schuster que, há cinquenta anos, faleceu poucos dias depois de De Gasperi. Quando o arcebispo de Milão recebeu a notícia da morte do estadista trentino, comentou: “Um cristão humilde e leal que deu testemunho inteiro da sua fé na sua vida privada e pública está desaparecendo da terra”. Para uma pessoa comedida como Schuster, isto parece-me um elogio significativo e que confirma a sua liberdade de julgamento. Por ocasião do cinquentenário da sua morte, destacam-se ainda mais as grandes qualidades de De Gasperi, a sua plena e convicta partilha com Robert Schuman [cuja fase diocesana do processo de beatificação terminou, ed . As causas de beatificação de ambos, no entanto, visam aprofundar ainda mais a sua espiritualidade cristã profundamente enraizada e vivida. Li com interesse o que sublinhou o Cardeal Angelo Sodano, nomeadamente como em De Gasperi «a virtude religiosa e a virtude civil estavam unidas ao serviço do compromisso político». Há algo muito bonito, que hoje tem um caráter profético, que o servo de Deus Alcide escreve à sua esposa Francesca: «Há homens de rapina, homens de poder, homens de fé. Gostaria de ser lembrado entre estes últimos."

As causas da beatificação dos políticos modernos parecem dizer respeito exclusivamente a personalidades de origem popular/democrata-cristã (Marvelli, Schuman, De Gasperi...). Tem que ser necessariamente assim?
SARAIVA MARTINS: Pelo amor de Deus, a santidade não tem cartas. De qualquer tipo. A única lei de Deus válida para um político cristão assenta em dois pilares: por um lado, a lei natural entendida segundo as declarações do Magistério da Igreja, que admite uma pluralidade de soluções concretas nos casos individuais; por outro, a decisão livre e responsável do interessado que, na procura do bem da sociedade, segue os ditames de uma consciência bem formada. A Igreja, portanto, nunca pode canonizar um sistema político concreto, nem, obviamente, pode dar preferências a formas partidárias específicas. O sujeito da canonização é o político que, na sua actividade, pratica as virtudes em grau heróico, incluindo o exercício correcto da própria liberdade.

Acima, Alberto Marvelli, membro da Acção Católica e conselheiro democrata-cristão do município de Rimini no imediato pós-guerra, beatificado em 5 de Setembro de 2004 | 30Giorni

No dia 3 de outubro, uma figura política de outra época, Carlos de Habsburgo, o último imperador da Áustria, foi beatificado. O fato de Carlo ser nobre foi uma vantagem ou uma desvantagem para o processo de sua causa de beatificação?
SARAIVA MARTINS: Todos os membros da Igreja são filhos de Deus convidados a viver a vida de Cristo e a participar do mesmo chamado universal à santidade. Esta é a única nobreza que importa diante do Senhor. Portanto, não havia nenhuma deferência particular de natureza mundana para com ele.

A beatificação de Carlos de Habsburgo não poderia suscitar perplexidade nas populações que não se lembram com prazer do Império Austríaco?
SARAIVA MARTINS: Com a beatificação de Carlos de Habsburgo, é declarada a santidade de vida de um fiel cristão que praticou as virtudes em sua situação de imperador. Isto não implica qualquer julgamento de mérito relativamente à bondade das suas escolhas concretas em questões políticas. O caso não diz respeito ao Império Austro-Húngaro, mas a uma pessoa. Nem se trata de um sistema político específico. A Igreja, repito, não canoniza nenhuma forma institucional...

Nem mesmo a democracia?
SARAIVA MARTINS: A democracia também não é perfeita. Basta recordar o simples fato de Adolf Hitler ter sido eleito democraticamente... A Igreja, como diz o Papa na Centesimus annus, respeita a autonomia legítima da ordem democrática e não tem o direito de expressar preferências por uma ou outra solução institucional.

Fonte: https://www.30giorni.it/

"Pedro está aqui": como se chegou à identificação do túmulo e ossos do Apóstolo

Pedro está aqui (Vatican Media)

O túmulo de Pedro atrai peregrinos e fiéis desde tempos remotos, imediatamente após a sua morte. A sua memória, com o tempo, tornou-se o centro de gravidade da Basílica Vaticana que, com as pesquisas arqueológicas desejadas por Pio XII e depois por Paulo VI, tornou-se uma evidência concreta. Com a ajuda do professor Vincenzo Fiocchi Nicolai, vamos repassar os acontecimentos dessas descobertas, uma das mais sensacionais da história da arqueologia.

https://youtu.be/toHeOPgwMq4

Maria Milvia Morciano - Cidade do Vaticano

Do vértice da cúpula de Michelangelo um fio invisível desce e atravessa a luz, mergulha na escuridão subterrânea, percorrendo assim séculos de história e fases de construção. No fundo, na terra nua, foram sepultados os restos mortais de Pedro, depois de o apóstolo ter sido descido da cruz onde morrera não muito distante, na área do Circo de Nero. Foi sepultado em uma necrópole do Ager Vaticanus em meio a tantas pessoas desconhecidas e pobres como ele.

No entanto, a memória foi mais forte. Aquele local tornou-se imediatamente meta de peregrinações. Ao longo dos séculos, precisamente naquele fosso, sucedeu-se uma sequência de fases, com monumentos cada vez mais majestosos: uma simples edícula, o chamado Troféu de Gaio, incorporado mais tarde pelo monumento de Constantino e então a grande reorganização do espaço de Gregório Magno (590-604) e novamente o nicho com o mosaico de Cristo do século IX, o altar de Calisto II (1123) e por fim o de Clemente VIII em 1549, sombreado pelo grande baldaquino de Borromini.

A cúpula e o baldaquino na Basílica de São Pedro | Vatican Media

Do esplendor dourado do Barroco ao esplendor resplandecente da Idade Média, da severidade essencial do século IV a uma edícula esbelta e simples sobre a mais extrema pobreza de uma fossa escavada na terra. Ao redor da sepultura forma-se ao longo dos séculos a basílica ad corpus, único caso no mundo cristão de uma construção sagrada nascida diretamente sobre a sepultura de um mártir, mas neste caso trata-se de Pedro, o primeiro bispo da Igreja de Roma .

É uma história complexa aquela envolve o túmulo de Pedro. Com o tempo, a memória resistiu e tornou-se fé, até que Pio XII, em 1939, decidiu realizar escavações arqueológicas, difíceis quer por se tratar de tempo de guerra como pelas condições objetivas.

O túmulo de Pedro é reconhecido. Durante a mensagem radiofônica de Natal de 23 de dezembro de 1950, no final do Ano Santo, o Papa Pacelli anuncia que o túmulo havia sido encontrado: «Mas a questão essencial é a seguinte: o túmulo de São Pedro foi realmente encontrado? A tal pergunta, a conclusão final dos trabalhos e dos estudos responde com um sim muito claro. O túmulo do Príncipe dos Apóstolos foi encontrado».

O túmulo de Pedro | Vatican Media

Reconstituamos com o professor Vincenzo Fiocchi Nicolai, professor de Topografia dos cemitérios cristãos do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, os acontecimentos destas descobertas, entre as mais sensacionais da história da arqueologia.

«A presença do túmulo de Pedro é demonstrada a partir de toda uma série de elementos - explica o professor - porque precisamente abaixo do altar do final do século XVI foram encontrados alinhados com o altar e, portanto, sob a cúpula, um altar medieval, depois um belo monumento de mármore, que é a caixa que Constantino quis construir para incorporar uma edícula indicando um túmulo que ainda se encontra por baixo. Uma verdadeira série de caixas chinesas. Este túmulo encontra-se em um contexto sepulcral, portanto com outros túmulos que são susceptíveis de datação entre as últimas décadas do século I d.C. e os inícios do II, que confirmam que aquele é, com base neste elemento e em outros, como os grafites, que aquele é o túmulo do apóstolo”.

Fontes escritas

Os grafites são extremamente importantes, porque demonstram claramente a atividade devocional, todo um movimento dos primeiros fiéis da comunidade de Roma que se dirigiram a esta edícula, o famoso tropayon, relatado por Eusébio de Cesareia nas Historiae ecclesiasticae (II 25, 5 –7) fala de Gaio - provavelmente um eclesiástico e com certeza um romano - que, para contrapor a presença dos túmulos de Pedro e Paulo em Roma com as declarações de um herege montanista chamado Proclo, diz: «Posso mostrar-te os troféus dos apóstolos que fundaram esta Igreja, portanto a Igreja de Roma. Se quiseres ir ao Vaticano ou no caminho de Ostia, eu te mostrarei esses troféus." 

Trata-se de claras indicações topográficas, que também reaparecem no Liber Pontificalis, que além de recordar, para Pedro, monumentos considerados famosos da época imperial, situam o cemitério entre a Via Aurelia e a Via Trionfale.

O Troféu de Gaio

A edícula a que se refere o professor Fiocchi Nicolai é o Troféu de Gaio, uma estrutura leve com colunas, coroada por um tímpano sob o qual, de fato, estava a sepultura de barro com os restos mortais de Pedro.

«Os troféus – explica o professor – são os elementos monumentais triunfalistas e vitoriosos que assinalam o túmulo de um apóstolo mártir que venceu a morte graças ao martírio. Portanto, podemos datar esta edícula - explica Fiocchi Nicolai - com base na passagem de Eusébio que situa Gaio na época do Papa Zefirino, portanto entre 198 e 217. Esta edícula já existia naquela época e com base arqueológica podemos data-o por volta dos anos 60 do século II. Certamente esta é a edícula que marcou o túmulo”, conclui o professor.

Reconstrução do Troféu de Gaio | Vatican Media

“Pedro está aqui”

«Os grafites se encontram na parede rebocada de vermelho, a famosa parede vermelha. Sobre um fragmento isolado lê-se um conhecido grafite fragmentário que leva o nome de Petros, e na linha seguinte, em grego, um epsilon, um ni e depois um iota. A leitura do fragmento deu origem a muitas interpretações. A mais cativante - recorda o arqueólogo - foi proposta pelo professor Guarducci: Petros eni, ou seja “Pedro está aqui” ou “Pedro está aqui dentro” referindo-se não ao túmulo mas à deposição secundária dos ossos em uma caixa colocada em um nicho na época de Constantino. Uma terceira interpretação seria uma invocação a Pedro caso se interprete as duas letras como parte da palavra eirene, paz em grego: “Pedro em paz”. Pode-se deduzir, conclui Fiocchi Nicolai, que o nome de Pedro nessa posição pode ser atribuído ao do Apóstolo».

Centenas de grafites, testemunho de fé

«Na “parede G”, ou seja, a parede que fecha um dos lados da edícula em um momento posterior, existem centenas de grafites muito difíceis de serem decifrados, mas certamente com nomes, com invocações, com sinais cristológicos que indicam em qualquer forma e em todos os casos que havia uma frequência devocional daquele túmulo que mais tarde se torna então o fulcro de todos os outros rearranjos até o atual altar papal e o baldaquino», observa o professor Nicolai.

São realmente os ossos de Pedro?

Como expressou o Papa Pio XII, à primeira interrogação relativa à identificação do túmulo de Pedro segue-se uma segunda: foram encontrados os ossos de Pedro?

Tem início assim um dos acontecimentos mais marcantes da história da arqueologia e a protagonista foi uma mulher, nascida no início do século XX, arqueóloga e epígrafe florentina, Margherita Guarducci, a quem se deve a decifração dos grafites, sobretudo aquele relativo a Pedro.

As escavações entre 1939 e 1958, promovidas pelo Papa Pacelli, descobriram o túmulo de Pedro, mas sob a edícula de Gaio não havia ossos. «Também foi encontrada uma caixa inserida em  nicho escavado na parede dos grafites em época indeterminada, mas de qualquer forma anterior à de Constantino que envolveu a edícula com uma grande urna de mármore decorada com precioso pórfiro vermelho e que ainda pode ser vista na Capela Clementina. Uma caixa que deve ter tido um significado importante tanto pela sua preciosidade intrínseca como pela sua posição. Os quatro exploradores escreveram no relatório oficial que aquela caixa foi encontrada essencialmente vazia», observa Fiocchi Nicolai.

Um mistério arqueológico

Cerca de dez anos depois, Margherita Guarducci, conduzindo uma investigação de detetive, teria recuperado os ossos por meio do depoimento de um dos trabalhadores que havia escavado durante os primeiros anos de exploração. O trabalhador alegou que em uma caixa de madeira que se encontrava nos depósitos havia ossos que tinham sido retirados durante os trabalhos normais de limpeza sem o conhecimento dos quatro arqueólogos encarregados de acompanhar as escavações.

«Então um operário teria recuperado estes ossos da caixa e os colocado em uma caixa de madeira que depois foi parar nos depósitos», afirma o professor do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, que acrescenta: «Estes ossos foram, portanto, atribuídos a posteriori à caixa inserida na parede G também porque havia um pedaço de papel indicando sua origem. Trata-se de fragmentos ósseos que não equivalem a um corpo inteiro. Foi conduzida uma investigação antropológica que, embora genérica, os atribui a um homem maduro que possivelmente seria contemporâneo de Pedro. As investigações não fornecem sequer resultados exatos, mas pode-se dizer que são compatíveis com aquelas do Apóstolo”, conclui Fiocchi Nicolai que assim reconstrói o caso: «Teria acontecido que no momento da criação da cápsula Constantiniana teriam tirado do túmulo o que restava de alguns ossos de Pedro e os teriam colocado na caixa da parede G para protegê-los para sempre."

Um “anúncio feliz”

Durante a Audiência Geral de 26 de junho de 1968, São Paulo VI, recordando as investigações e estudos realizados, ao mesmo tempo que afirmava que «não se esgotariam com isso as pesquisas, as verificações, as discussões e as controvérsias», faz um «anúncio feliz»: «Tanto mais solícitos e exultantes devemos ser, quando tivermos motivos para acreditar que tenham sido encontrados os poucos, mas sacrossantos restos mortais do Príncipe dos Apóstolos, de Simão, filho de Jonas, do Pescador chamado Pedro por Cristo, daquele que foi eleito pelo Senhor como fundamento da sua Igreja, e a quem o Senhor confiou as chaves supremas do seu reino, com a missão de pastorear e reunir o seu rebanho, a humanidade redimida, até ao seu retorno final e glorioso».

As relíquias doadas como símbolo da unidade da Igreja

No relicário de bronze com nove fragmentos ósseos, que pertenceu ao Papa Montini, doados em 2019 pelo Papa Francisco ao Patriarca de Constantinopla, por ocasião da festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, está escrito com prudência o verbo putantur, ou seja, que «são considerados de Pedro», observa por fim o professor Vincenzo Fiocchi Nicolai. De fato, a inscrição diz: Ex ossibus quae in Arcibasilicae Vaticanae hypogeo inventi Beati Petri Apostoli esse putantur, «Dos ossos encontrados no hipogeu da Basílica Vaticana, que se acredita pertencerem ao Beato Pedro Apóstolo».

Um fio que não se rompe

A arqueologia é uma ciência que aspira basear-se em evidências, mas são as deduções que muitas vezes conseguem reconstruir a história. No caso do túmulo e dos ossos de Pedro, os elementos que convergem em torno do espaço da Confissão restituem um quadro de verdade porque, além dos vestígios materiais, o que é decisivo é a fé. A fé estratificada ao longo dos séculos por milhares e milhares de peregrinos, papas e santos que entrelaçaram o fio da memória tornando-a indestrutível.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF