Translate

sábado, 29 de junho de 2024

Com os braços abertos a todos. A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil (3)

A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil | Flickr-Photos/Opus Dei

Com os braços abertos a todos. A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil

1974. São Josemaria Escrivá esteve 15 dias no Brasil. Que mensagem deixou aos brasileiros? Qual foi a sua impressão sobre o país? Este artigo inédito descreve como foram organizados os encontros com o fundador do Opus Dei em São Paulo, e resume a sua mensagem.

29/08/2017

O desenrolar dos eventos

No dia 1o de junho, sábado de manhã, vários membros da Obra estavam no Anhembi já por volta das 8 horas, para receber as pessoas, pois muitos chegaram ao local com bastante antecedência, e para cuidar de todos os últimos detalhes dos aspectos técnicos e logísticos[63]. «O palco, enorme, estava instalado como uma sala de estar, com muitíssimas flores [...] e ficou muito agradável. [...] Estava um dia maravilhoso, com um céu azul limpo, o típico dos bons dias de inverno em que o vento leva para longe a poluição. O auditório ia engolindo rios de gente – famílias inteiras, grupos de amigos, gente de todas as idades, raças e condições... – até acomodar umas 4.000 pessoas»[64].

«O Padre [J. Escrivá] saiu de casa às 10h15 e entrou no Anhembi pela entrada que fica no lado de trás do Palácio de Convenções. Lá estavam alguns à sua espera, para acompanha-lo como “seguranças” até uma sala contígua ao palco. No percurso até lá, já se tinha situado um bom número de pessoas, que iriam ficar no palco – na “sala de estar” da tertúlia [...] – junto ao Padre»[65]. Ao chegar, mons. Escrivá acomodou-se em uma sala preparada para isso, à espera do horário programado para começar, estava «muito bem humorado, brincando com os que lhe tiravam fotografias e acalmando-nos com o seu sorriso. Quando entrou no auditório, foi recebido com um aplauso cerrado, que se prolongou por um bom tempo. Eram 10h30 horas»[66].

O encontro desenrolou-se muito bem, 16 pessoas puderam dirigir-se a São Josemaria, como analisaremos mais adiante. Ao terminar a tertúlia, a alegria e a emoção de todos era visível. As pessoas saíam sem pressa, cumprimentavam-se e reuniam-se para comentar o que acabavam de ouvir. Narra o diário da Casa Nova: «Quando terminou a tertúlia, ficamos um bom tempo nos jardins que rodeiam o Palácio das Convenções, com nossas amigas. Famílias inteiras desde os avós aos netos, todos iam fazendo pequenos grupos comentando com animação sobre este maravilhoso encontro com o nosso Padre»[67]. Particularmente, os organizadores estavam assombrados com a multidão que «se tinha reunido à volta do Padre. Lembrávamo-nos então da natural apreensão de uns dias antes, quando contemplávamos o gigantesco local vazio. Foi maravilhoso ver como os espaços se tinham tornado pequenos para escutar o Padre»[68]. São Josemaria estava igualmente contente ao voltar ao Sumaré: pela sintonia das pessoas, o calor humano e, também, por perceber que a barreira linguística fora ultrapassada com facilidade. Inclusive, na espera do almoço, sugeriu que trouxessem algum refrigerante, como se quisesse celebrar aquele evento maravilhoso[69].

No dia seguinte, domingo de Pentecostes, já vencidas as apreensões da primeira tertúlia geral, os preparativos imediatos se desenvolveram de forma similar. O afluxo de gente, mais uma vez, superou as expectativas. Conta o diário da sede da Comissão, que acontecera o mesmo que no dia anterior: desde cedo começavam a chegar pessoas ao edifício Mauá, em um número muito acima do esperado. Desde as seis horas da manhã, os organizadores colocaram mais quinhentas cadeiras, além das próprias do auditório, ajeitando-as mais próxima do palco, tentando assim criar um ambiente mais familiar[70]. O local, muito menor que o Anhembi, tinha sido pensado para os que não tinham podido ir neste primeiro encontro, mas foram outras tantas pessoas que desejavam estar com mons. Escrivá mais esta vez[71].

Mons. Josemaria Escrivá saiu do Sumaré às 10h30 em direção ao Palácio Mauá. Sendo o dia da Solenidade de Pentecostes, logo após o café, São Josemaria escrevera uma ficha com estas palavras: «Ure ígnea Sancti Spiritus! Pentecostes, Sancti Pauli, 1974. Mariano» e deu-a ao pe. Xavier de Ayala. «No carro, referiu-se ao sacerdócio real dos fiéis, recordando as palavras da Primeira Epístola de São Pedro. Era um tema que, neste dia, o Padre teria bem presente na alma e nos ajudaria a meditar»[72]. Por isso, nas suas primeiras palavras da tertúlia, mons. Escrivá relacionou diretamente o evento de Pentecostes com a grande variedade de raças que convivem em harmonia no Brasil[73]. O «clima vibrante, ardente, apostólico, da festa de Pentecostes foi o tempo todo o pano de fundo da mesma. [...] Foi vivíssima, intensa, enormemente cálida. [...] Quando o Padre entrou no auditório, a alegre expectativa transformou-se num instante de silêncio emocionado, que explodiu logo a seguir num mar de aplausos. No momento em que subiu ao palco, uma menininha que ia levada pela mão da avó, entregou ao Padre uma orquídea. O Padre deu-lhe uma carinhoso abraço e a abençoou»[74].

A tertúlia beneficiou-se do clima de confiança criado no dia anterior. Desta vez, 17 pessoas fizeram perguntas a mons. Escrivá e, ao final, a alegria de todos era grande. Já na sede da Comissão, comentaram muito a respeito da tertúlia, dando graças a Deus pelos seus frutos. O fundador também estava comovido, pois tinha sido uma tertúlia realmente calorosa. Contudo, de forma natural, em um momento de descontração, enquanto alguns observavam as araras que então ficavam no jardim da casa, contou que naquela noite não havia dormido. «Não conto para que se compadeçam de mim», fazia a ressalva com toda naturalidade[75]. O pe. Francisco Faus testemunhou a respeito, manifestando que ele e outros que fazia tempo conheciam São Josemaria ficaram assombrados por aquele comentário pois nunca o tinham visto tão bem disposto, cheio de entusiasmo contagiante, tão ágil e rápido de pensamento e de palavra como nesse dia de Pentecostes[76]. Completa o autor dizendo que a maioria dos que estavam lá sentiram e comentaram a mesma coisa[77].

O diálogo com São Josemaria

Mediados por um intervalo de apenas 24 horas, os dois encontros tiveram um grande paralelismo: foram 16 perguntas no Anhembi, e 17 no Palácio Mauá. Podemos analisar o diálogo e a mensagem destas tertúlias conjuntamente, como se fossem um mesmo encontro, com um grande intervalo. As intervenções do público, bem como as respostas de São Josemaria seguiram um mesmo estilo direto, familiar, ainda que, surpreendentemente, não ocorreram repetições de perguntas. As pessoas que se dirigiram a mons. Escrivá nos dois encontros gerais eram de perfis bem distintos: desde uma mãe de família a um empresário, uma empregada doméstica, juízes, professores, etc... Embora não deixe de ser interessante dar notícias destas pessoas, isso ultrapassaria muito o alcance do presente artigo.

São Josemaria Escrivá fez, em cada uma das tertúlias, um brevíssimo prólogo, com simpatia, incentivando a que lhe perguntassem, que cada um falasse do que tivesse no coração. «Não vim ao Brasil ensinar nada»[78], disse ao iniciar seu encontro no sábado. No dia seguinte, no Palácio Mauá, a mesma coisa: «Estamos reunidos para falar das grandezas de Deus; não do que eu queira, mas do que interessa a vocês»[79]. De fato, era patente o seu “agradecimento” ao final dos dois encontros, como relatam os que estiveram ao seu lado. Após o encontro no Anhembi, relata o diário da Comissão que «um grande grupo acompanhou-o até o carro, e o Padre [J. Escrivá] ia repetindo, também dentro do automóvel, muito comovido: − “Dios os bendiga! ¡Dios os bendiga!”»[80].

Foram as intervenções do público que deram a pauta daquela conversa, muito natural e familiar, de uma intimidade quase inexplicável para um público desconhecido, numeroso, que falava outro idioma e em um local nada propício a este tipo de diálogo. Muitas das perguntas abordaram temas pessoais, em tom confidencial. Ao contrário de deixar o interpelado constrangido, levavam-no a responder também pessoalmente, de uma forma paternal e carinhosa. Muitas vezes, mons. Escrivá brincava com o interlocutor dizendo que ninguém mais os estava escutando, convidando-o a abrir- se, a fazer a sua confidência. Na primeira intervenção no Palácio Mauá, quando a mulher que perguntava dava claras mostras de nervosismo, ele animava: «Estamos em família, como se estivéssemos você e eu sozinhos, com Nosso Senhor que nos escuta e o Espírito Santo que habita na sua alma e na minha»[81].

Das 33 perguntas respondidas pelo fundador nas duas tertúlias, 12 trataram do tema da família. Destas, 4 foram sobre a educação das crianças na família, 3 sobre o relacionamento entre marido e mulher, e 4 sobre a relação entre pais e filhos já adultos, sendo que três destas abordaram o tema da vocação dos parentes próximos. Uma pessoa perguntou sobre o valor do trabalho das pessoas que se dedicam profissionalmente às lides domésticas. Entendemos por que o diário do centro da Casa Nova afirma categoricamente: «O tema central desta tertúlia esteve especialmente relacionado com a família»[82]. Veremos mais adiante, porém, que a vida familiar serviu apenas como pano de fundo para os distintos temas abordados por São Josemaria. Outras 11 abordam a caridade e o apostolado, tocando em distintos problemas do relacionamento humano ou pedindo orientações para que se pudesse esclarecer equívocos morais ou doutrinais. Quatro perguntas entraram em temas relacionados com a luta ascética: como estar alegre nas contrariedades, ou como cumprir os propósitos ou fazer as coisas mesmo quando não se tem vontade. Três perguntas foram sobre vida de oração, e apenas uma pergunta tratou diretamente sobre o Opus Dei, quando pediram-lhe que fizesse um resumo do espírito da instituição, ainda que outras perguntas exigiram-lhe um esclarecimento sobre o modo de viver e fazer apostolado próprios do Opus Dei.

As quatro perguntas restantes que não se encaixaram nos temas citados abordaram os cinquenta anos de sacerdócio que celebraria dentro de alguns meses, suas expectativas sobre o Brasil, sua opinião sobre a Escola Taboão, até uma divertida pergunta sobre os cabeludos. Essas perguntas, tocando em temas pessoais ou pedindo uma “opinião”, deram ocasião a comentários autobiográficos. Aliás, em muitas outras respostas são abundantes as referências à sua própria vida, em um tom sobrenatural e de ação de graças, vista como instrumento de Deus para levar adiante o Opus Dei na terra.

Como dissemos, foram as próprias perguntas que definiram a pauta do que falou mons. Escrivá, e a leitura da transcrição nos leva a pensar que ele não tinha uma mensagem previamente preparada, a não ser a de levar a Deus, fazer crescer a esperança e a fé em todos que lhe escutavam. Alguns recordam que ele não sabia previamente o que iam perguntar-lhe[83]. E suas respostas foram dirigidas a cada pessoa que lhe perguntava; poucas vezes generalizava, lembrando, de certo modo, o modo de atuar de Jesus Cristo, como nos deixam entrever os Evangelhos. Esse modo de dialogar, com intervenções incisivas, concretas, personalizadas e, ao mesmo tempo, repletas de alusões a outros temas e digressões, torna muito difícil responder quais foram os temas mais importantes. Basta a leitura destes diálogos para percebermos uma extraordinária empatia com cada pessoa, o que levava a uma enorme riqueza e vivacidade no seu modo de abordar os temas. A impressão que temos é que não transmitia uma mensagem geral a todos, mas orientava a cada um que se dirigia a ele.

Muitos se admiraram com esta demonstração de caridade de São Josemaria. «A nenhum dos que lá estiveram passou inadvertido – e assim o comentavam – o delicado esforço que o Padre fez para se fazer entender: contendo o ritmo das frases, repetindo-as quando era necessário, “traduzindo” logo depois que empregava uma palavra ou expressão menos frequente»[84]. No encontro de domingo também impressionou o «modo como o Padre se dava a todo o momento, sem parar, mesmo quando, como hoje, tinha motivos de sobra para se sentir muito cansado»[85]. De fato, ao entrar no carro para retornar à casa disse, satisfeito, que tinha falado com claridade e caridade, e não faltam expressões de admiração no diário da Comissão: «Essa clareza e essa caridade vinham tocando fundo, com a graça do Senhor, nestes dias, os corações e as vidas de milhares de pessoas»[86]. E da Assessoria Regional: «Como ontem, ninguém tinha pressa de ir embora. Havia uma comoção geral, um ambiente inexplicável, como se tivéssemos vivendo o primeiro Pentecostes...»[87].

Como se pode perceber, seria muito difícil descrever, nos limites deste artigo, algo tão expressivo e afetuoso como uma mensagem vital que se pode admirar diretamente pelos vídeos. Entretanto, podemos apontar, depois de uma leitura minuciosa das tertúlias gerais, alguns temas que, segundo nossa opinião, acabaram sendo mais ressaltados. Esse esforço tem seu interesse, pois uma análise conjunta do conteúdo das suas palavras nestes dois encontros gerais poderia desvendar o que passava na sua alma naquele momento, o que mais desejava transmitir aos brasileiros. Propomos reunir os temas em cinco grupos: o amor a Deus, vida de oração e santidade; a fé, amor à Igreja e os sacramentos; a santificação do trabalho e a luta ascética; caridade e apostolado e o espírito do Opus Dei. Passemos a descrever cada um destes tópicos, para fazer uma análise final.

____________

Alexandre Antosz Filho, sacerdote. Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Paraná, mestre em História pela Universidade de São Paulo e doutor em Teologia (especialidade em História da Igreja) pela Pontificia Università della Santa Croce (Roma). e-mail: alexantosz@gmail.com

Notas:

[63] Diário da primeira estadia, pp. 86-87; Diário da Casa Nova, 2a parte, p. 7

[64] Diário da primeira estadia, p. 87. O Diário da Casa Nova, 2a parte, p. 7, também fala de 4.000 pessoas.

[65] Ibid.

[66] Diário da primeira estadia, pp. 86-88.

[67] Diário da Casa Nova, 2a parte, p. 8. Nosso Padre é uma forma carinhosa com a qual os membros do Opus Dei chamam a São Josemaria.

[68] Diário da primeira estadia, pp. 88-89.

[69] Entrevista com Alfredo Canteli, 9 de junho de 2014.

[70] Diário da primeira estadia, p. 96.

[71] Diário da Casa Nova, 2a parte , p. 9.

[72] Diário da primeira estadia, p. 95.

[73] Diário da primeira estadia, p. 96.

[74] Diário da primeira estadia, p. 97.

[75] Entrevista com Alfredo Canteli, 9 de junho de 2014.

[76] Cfr. Faus, São Josemaria, p. 48.

[77] Cfr. ibid., p. 49.

[78] «No he venido al Brasil a enseñar nada». Transcrição da tertúlia geral com mons. Escrivá no Centro de Convenções Anhembi, São Paulo, 1 de junho de 1974, p. 1, 3o parágrafo [tradução nossa]. Passaremos a citar apenas Anhembi, seguido da página e do parágrafo.

[79] «Estamos reunidos para hablar de las grandezas de Dios; no de lo que yo quiera, sino de lo que a vosotros os interese». Transcrição da tertúlia geral com mons. Escrivá no Palácio Mauá, p. 1, 4o parágrafo [tradução nossa]. Passaremos a citar apenas Mauá, seguido da página e do parágrafo.

[80] Diário da primeira estadia, pp. 89-90.

[81] Faus, São Josemaria, p. 49.

[82] Diário da Casa Nova, 2a parte , p. 7.

[83] Entrevista com José María Córdova Fernández, 18 de fevereiro de 2014.

[84] Diário da primeira estadia, p. 89.

[85] Diário da primeira estadia, p. 98. Sobre o contexto desta tertúlia, ver também Faus, São Josemaria, pp. 47-52.

[86] Diário da primeira estadia, p. 98.

[87] Diário da Casa Nova, 2a parte, p. 9.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Papa: seguir a missão de Pedro, de conversão e humildade ao encontro do Senhor

O Papa Francisco durante a oração mariana do Angelus (Vatican Media)

Após a celebração eucarística na Basílica Vaticana neste sábado (29/06), de Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, o Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus e refletiu sobre a missão que Jesus confiou a Pedro, dando as chaves do Reino dos céus. Chaves que podem estar em poder de todos nós que são aquelas "das virtudes como a a paciência, a atenção, a constância, a humildade, o serviço", dadas a quem é humilde e honesto, e não perfeito, como Pedro.

Andressa Collet - Vatican News

Neste sábado, 29 de junho, e de festa para Igreja no mundo que honra a memória dos Santos Pedro e Paulo, o Papa Francisco rezou com os fiéis presentes na Praça São Pedro a oração mariana do Angelus. O Pontífice refletiu sobre a missão que Jesus confiou a Simão, chamado Pedro: "A ti darei as chaves do Reino dos céus" (Mt 16,19):

"É por isso que vemos frequentemente São Pedro representado com duas grandes chaves em sua mão, como na estátua que se encontra aqui nesta Praça. Essas chaves representam o ministério de autoridade que Jesus lhe confiou para servir a toda a Igreja. Porque a autoridade é um serviço, e uma autoridade que não é serviço, é ditadura."

A missão de receber as chaves, como Pedro

No entanto, alertou o Papa, devemos ter cuidado para entender bem o significado dessa missão, que "não é a de trancar as portas da casa" e selecionar os convidados, mas dar acesso a todos - "todos, todos, todos" - ajudando a encontrar o caminho para entrar no Evangelho de Jesus. Atitudes que podem ser praticadas diariamente através, por exemplo, das virtudes:

"As chaves de Pedro, de fato, são as chaves de um Reino, que Jesus não descreve como um cofre ou um quarto blindado, mas com outras imagens: uma pequena semente, uma pérola preciosa, um tesouro escondido, um punhado de fermento (cf. Mt 13,1-33), ou seja, como algo precioso e rico, sim, mas ao mesmo tempo pequeno e discreto. Para alcançá-lo, portanto, não é necessário acionar mecanismos e fechaduras de segurança, mas cultivar virtudes como a paciência, a atenção, a constância, a humildade, o serviço."

Essa missão de abertura e encontro com o Senhor é encarada por Pedro "ao longo de toda a sua vida, fielmente, até o martírio", recordou o Papa, "depois de ter sido o primeiro a experimentar sobre si mesmo". Ele "teve que se converter, e entender que a autoridade é um serviço, e não foi fácil para ele", insistiu Francisco, explicando que "Pedro recebeu as chaves do Reino não porque fosse perfeito, não: é um pecador; mas porque era humilde e honesto" e, "confiando na misericórdia de Deus, foi capaz de apoiar e fortalecer, como lhe foi pedido, também seus irmãos (cf. Lc 22:32)".

Como encontrar Jesus

O Papa finalizou a reflexão pedindo a intercessão de Maria e dos Santos Pedro e Paulo para que, através das orações, nos guiem e apoiem para o encontro com Cristo. Uma missão individual que pode partir de indagações pessoais, como sugeriu Francisco:

“Eu cultivo o desejo de entrar, com a graça de Deus, em seu Reino e de ser, com a sua ajuda, um guardião acolhedor também para os outros? E, para fazê-lo, deixo-me 'limar', adoçar, modelar por Jesus e seu Espírito, o Espírito que habita em nós, em cada um de nós?”

Angelus 29 de junho 2024 – Papa Francisco:

https://youtu.be/tfyVTn_IZ4s

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Pedro e São Paulo

São Pedro e São Paulo (A12)
29 de junho
São Pedro e São Paulo

A solenidade de São Pedro e de São Paulo é uma das mais antigas da Igreja, sendo anterior até mesmo à comemoração do Natal. Depois da Virgem Santíssima e de São João Batista, Pedro e Paulo são os santos que têm mais datas comemorativas no ano litúrgico. Além do tradicional 29 de junho, há: 25 de janeiro, quando celebramos a Conversão de São Paulo; 22 de fevereiro, temos a festa da Cátedra de São Pedro e 18 de novembro, reservado à Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo.

São Pedro

Tinha como primeiro nome Simão, era natural de Betsaida, irmão do Apóstolo André. Simão era Pescador e foi chamado pelo próprio Senhor Jesus. Esteve presente nos momentos mais importantes da vida do Senhor, como no momento da Transfiguração.

São Paulo

Saulo era natural de Tarso. Se tornou um fariseu zeloso, era perseguidor dos cristãos, sendo responsável inclusive pela morte de muitos deles. Se converteu à fé cristã, enquanto perseguia os cristãos, no caminho de Damasco, quando o próprio Senhor Jesus Ressuscitado lhe apareceu dizendo: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?”.

São Pedro é o apóstolo que Jesus Cristo escolheu e investiu da dignidade de ser o primeiro Papa da Igreja. A ele Jesus disse: "Tu és Pedro e sobre esta pedra fundarei a minha Igreja". São Paulo é o maior missionário de todos os tempos, o advogado dos pagãos, o "Apóstolo dos gentios".

O martírio de ambos ocorreu na cidade de Roma: São Pedro, crucificado de cabeça para baixo na Colina Vaticana em 64, e São Paulo decapitado na chamada Três Fontes em 67.

Na homilia de 2012, por ocasião da solenidade de São Pedro e São Paulo, o papa Bento XVI chamou esses dois apóstolos de "principais patronos da Igreja de Roma""A tradição cristã sempre considerou São Pedro e São Paulo inseparáveis: juntos, de fato, eles representam todo o Evangelho de Cristo", afirmou o papa Bento XVI.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Pedro, segurando as chaves, símbolo de seu apostolado como chefe da Igreja, e Paulo, missionário por excelência, são as duas colunas da Igreja, enraizadas no grande fundamento da fé, que é Jesus Cristo. Celebrar a festa destes apóstolos nos permite vislumbrar a aproximação do Reino de Deus, que nasce de nosso envolvimento com a causa do evangelho.

Oração:

Príncipes dos apóstolos e doutores do Universo, São Pedro e São Paulo, rogai ao Mestre de todas as coisas que dê a paz ao mundo e às nossas almas a sua grande misericórdia. Fazei de nós seguidores fiéis de Jesus e inspirai-nos o zelo missionário. Amém!


Fonte: https://www.a12.com/

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Missa com Rito de Investidura dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística

Celebração Eucarística no último sábado (22/06), no Santuário Menino Jesus, localizado em Brazlândia DF (arqbrasilia)

Missa com Rito de Investidura dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística da Arquidiocese de Brasília

695 leigos, que foram indicados por seus párocos, receberam a Investidura e tornaram-se Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística (MESCE) da Arquidiocese de Brasília, durante a Celebração Eucarística, no último sábado (22/06), no Santuário Menino Jesus, localizado em Brazlândia.

  • junho 25, 2024

A Santa Missa foi presidida pelo Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, concelebrada por Dom Antonio de Marcos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília e Referencial dos MESCE, pelo padre Paulinho, Diretor Espiritual dos MESCE, e por diversos padres da Arquidiocese. Durante a homilia, o Cardeal frisou a importância do trabalho realizado pelos Ministros na Santa Igreja.

“Servir, amadas e amados de Deus, não é humilhação, servir é colocar a nossa liberdade à disposição de Deus, em uma atitude de amor. Esse é o verdadeiro sentido da nossa vida, amar e servir. Quem ama serve, quem ama sai de si. O Ministro da Eucaristia é aquele(a) que na vida da Comunidade vai buscar ser dom, distribuindo a Eucaristia para os irmãos, levando a Eucaristia para as pessoas que já participaram da vida da Comunidade, mas que se encontram doentes. A igreja vai ao encontro dessas pessoas, alimentando-as com a Palavra e alimentando com a Eucaristia. Esse é o sentido do Ministério de vocês”, ressaltou o Cardeal.

Dom Paulo salientou ainda que “Cristo deve fazer a diferença na vida do Ministro, na sua capacidade de amar, na capacidade de se relacionar com os outros. Não posso ser Ministro da Eucaristia e viver falando mal dos outros. Não posso ser Ministro e não ser um homem e uma mulher de caridade na minha vida. A Eucaristia vai verdadeiramente plasmando a vida do Ministro”.

Os Ministros que receberam a Investidura são oriundos dos quatro Vicariatos da Arquidiocese de Brasília. Pela primeira vez, o grupo de MESCE recebeu a Formação Inicial on-line da Fateo, tendo como formadores o padre Paulo Alves e o padre Anderson. No 2° semestre deste ano, a Arquidiocese de Brasília contará com mais uma cerimônia de Investidura de novos Ministros.

Dom Antonio de Marcos fez um pedido especial aos novos Ministros, destacando que: “Vocês tocam o que é mais sagrado na vida da Igreja. A Eucaristia é o centro da vida Cristã. Três coisas que eu gostaria que vocês gravassem e deixassem no coração: 1 – Vida de Oração, de intimidade diária com o Senhor, e Adoração a Jesus Eucarístico, sempre pedindo por sabedoria; 2- Disponibilidade em servir, não façam corpo mole para levar a comunhão aos enfermos; 3 – Santidade, busquem sempre a reconciliação através do Sacramento da Penitência. Seguindo essas três coisas irão viver plenamente esse Ministério à frente do Senhor e à frente da comunidade”, frisou.

 Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Sentimentos e gestos humanos

Emoções humanas (Enciclopédia Significados)

SENTIMENTOS E GESTOS HUMANOS

Dom Genival Saraiva
Bispo Emérito de Palmares (PE) 

O ser humano tem a capacidade de viver bem, de conformidade com o seu mundo interior, e de conviver bem, de acordo com os princípios e as práticas da civilidade. Os sentimentos são expressões da natureza humana, enquanto gestos, atitudes e condutas de vida revelam a natureza da educação recebida no lar e na sociedade. A personalidade humana é um universo maravilhoso, prodigioso, todavia, nem sempre escrito ajuizadamente pelo próprio indivíduo, nem sempre lido adequadamente por seus semelhantes. Daí, a constatação de tantos problemas na vida e na convivência. De antemão, é preciso ter a necessária clareza: nada disso é atribuído ao destino, como muitos pensam, nem existe por força do determinismo, como outros explicam. Para quem assim pensa, “tudo aquilo que acontece ao homem ou no mundo é determinado por acontecimentos passados e que podem ser de caráter natural ou sobrenatural.” As ciências humanas, as ciências sociais e as ciências da saúde, nos seus respectivos campos, contribuem para a compreensão da personalidade humana, na sua feição individual e coletiva. Na investigação de determinados fenômenos, conforme o nível do conhecimento alcançado pelos estudos, pelas pesquisas, as ciências têm como parâmetro a relação entre causa e efeito. À luz da revelação divina e no olhar da filosofia clássica, a liberdade é a chave de leitura fundamental para compreensão das manifestações mais genuínas, mais simples, mais sadias ou a identificação das marcas mais complexas, mais problemáticas, mais dolorosas da personalidade humana. 

Pelo bem que fazem e dada a sua importância, cabe um destaque para as manifestações genuínas, vividas coletivamente, de forma contextualizada. Considere-se, por exemplo, o calendário cultural brasileiro e, particularmente, nordestino, no período junino, com a riqueza e a diversidade de suas manifestações folclóricas. Esse tempo festivo proporciona à população a oportunidade de vivenciar sentimentos de alegria coletiva que são benéficas, na medida em que, na sua realização, são observados os requisitos básicos da segurança, da paz, do lazer. A programação dos eventos tem perfil próprio, segundo as condições locais. Os antigos afirmavam que belo é tudo aquilo que agrada à vista. Ao lado do que é belo, há de se ter presente também o que é bom. Todavia, em muitos casos, o que agrada aos olhos e é bom para o estômago das pessoas nem sempre tem o selo da transparência, da honestidade, como constatam os Tribunais de Conta, ao fazerem a apreciação dos registros da contabilidade dos eventos, apresentada pelos gestores públicos. Assim, como divulga a crônica jornalística, há Municípios que pagam cachês exorbitantes aos artistas, se comparados com os pagamentos por serviços ordinários prestados pelos funcionários à população. Vale lembrar que, no seu tempo, os Imperadores romanos, propositadamente, ofereciam ao povo “pão e circo”, com esse intuito: “Assim, esses eventos tinham a função de entreter a plebe, despolitizando a mesma e evitando contrapontos políticos aos imperadores como reivindicações ou levantes populares. Também tinham a função de aumentar a popularidade dos líderes romanos.”  

Outro evento, recentemente, chamou a atenção da humanidade porque teve como foco os sentimentos das pessoas. Ao promover um encontro com humoristas do mundo, um fato inusitado, por sinal, o Papa Francisco demonstrou sua capacidade de perceber o alcance de iniciativas, aparentemente desprovidas de maior significação, por serem corriqueiras. Com efeito, em seu magistério, o Papa Francisco tem revelado a capacidade de “enxergar o óbvio”, vendo logo o bem-estar do interior das pessoas, revelado na espontaneidade do seu sorriso. O gesto do Papa demonstra o elevado grau de sua ternura paterna, de sua sensibilidade pastoral, ao reconhecer o valor dos profissionais do humor e ao estimular o uso de seus talentos e carismas, em favor da coletividade. De fato, a arte do humorista penetra no íntimo do ser humano, ao falar aos seus olhos, aos seus ouvidos. Nisso consiste o humor: “Lato sensu, humor é o estado de espírito de um indivíduo. Stricto sensu, é um determinado estado de ânimo cuja intensidade representa o grau de disposição e de bem-estar psicológico e emocional de um indivíduo.” A palavra do Papa, destacando a leveza da alegria que o humor suscita, alude à realidade vivida por segmentos da sociedade atual: “Em meio a tantas notícias sombrias, imersos como estamos em tantas emergências sociais e também pessoais, vocês têm o poder de espalhar a serenidade e o sorriso. Vocês estão entre os poucos que têm a capacidade de falar com pessoas muito diferentes, de diferentes gerações e origens culturais“. 

A Igreja dirige preces ao Senhor em favor de todos os artistas: “Vós, que tornais os artistas capazes de exprimir a vossa beleza, por meio de sua sensibilidade e imaginação, fazei de suas obras uma mensagem de alegria e de esperança para o mundo.” Na sua veneração à Virgem Maria, a Igreja a distingue com essa invocação singular – Nossa Senhora do sorriso” –, e identifica a sua origem: “Nossa Senhora do Sorriso foi o nome dado por Santa Terezinha do Menino Jesus a Nossa Senhora das Vitórias, quando ela (santa Terezinha) foi curada de uma grave enfermidade pelo sorriso que Nossa Senhora lhe deu.” No cultivo da sua espiritualidade mariana, os fiéis recorrem à sua proteção: “Nossa Senhora do Sorriso, como um dia sorriu a Santa Teresinha e a curou de todas as suas enfermidades, assim cure a todos nós das doenças do corpo e do espírito, da depressão, da tristeza e do desânimo e nos devolva a alegria de viver.” 

Os sentimentos, as palavras e os gestos humanos que geram a alegria e motivam o sorriso nas pessoas têm o traço da criação divina. A palavra alegria encontra-se em inúmeras páginas da Sagrada Escritura e o sentimento de alegria está revelado na vida e nos gestos solidários, fraternos de muitos homens e mulheres que têm seus nomes inscritos no livro da vida. (cf. Ap 21,27).

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Suprema Corte dos EUA chamada a pronunciar sobre a criminalização dos sem-teto

Um sem abrigo - Roma (ANSA)

Nos Estados Unidos, esta poderá ser a decisão mais importante em relação aos sem-abrigo em décadas e poderá ter implicações nacionais. Ao serviço dos mais pobres, especialmente das pessoas que vivem na rua ou ameaçadas de despejo, a Sociedade de São Vicente de Paulo não esconde a sua preocupação. Uma entrevista com o presidente da Associação nos Estados Unidos, John Berry.

Entrevista realizada por Marie Duhamel – Cidade do Vaticano

Os sem abrigo podem ser punidas com multas ou penas de prisão? Nos Estados Unidos, a pequena cidade rural de Grants Pass, no Oregon, decidiu desta forma, mas as ordens tomadas neste sentido foram denunciadas por um grupo, nomeadamente dos sem-abrigo, que exigiram justiça. O caso Grants Pass vs. G. Johnson já foi entregue à Suprema Corte, que deve decidir antes das férias de verão. Num parecer apresentado em abril passado aos nove juízes, a Conferência dos Bispos denunciou a criminalização dos sem-abrigo, e julga estas ordens contrárias à Oitava Emenda da Constituição Americana que estipula que “não se pode exigir fiança desproporcional, nem impor multas excessivas ou punição cruel ou incomum”.

A decisão do Supremo Tribunal é aguardada, com preocupação, pelas Instituições da Igreja que trabalham ao serviço dos mais necessitados. Temem não poder mais ajudar os sem-abrigo a quebrar o ciclo de pobreza. É o que nos explica John Berry, presidente nacional da Sociedade de São Vicente de Paulo. Estabelecido desde 1845 nos Estados Unidos, conta hoje com cerca de 90.000 membros.

Como a sociedade de Saint-Vincent-de-Paul vê as leis aprovadas no Grants Pass?

Não podemos tomar uma posição específica sobre questões de legislação, mas o facto de esta questão ter passado a ser matéria de legislação e ter chegado ao Supremo Tribunal mostra que no nosso país não temos tratado de forma adequada a questão dos sem-abrigo e como servir os pobres. Nenhuma lei aprovada por qualquer cidade acabará com o problema dos sem-abrigo.

Para acabar com os sem-abrigo é preciso investir na prevenção e a assistência financeira a curto prazo. Os serviços de apoio são incrivelmente eficazes para ajudar indivíduos e famílias a permanecerem em suas casas. A Universidade Católica de Notre Dame, aqui nos Estados Unidos, descobriu que as pessoas que recebem uma média de dois mil dólares em ajuda financeira de emergência têm 81% menos probabilidade de se tornarem sem-abrigo no prazo de seis meses após receberem esta assistência, e 73% menos probabilidade de se tornarem sem-abrigo nos doze meses seguintes. Legislar as cidades para combater a falta de abrigo entre os sem-abrigo não é, portanto, a solução. Ela não vai mudar nada.

Como católicos, podemos discordar sobre as propostas políticas e sobre como combater a pobreza, mas não podemos contestar que a prevenção funciona. É muito mais eficaz e bem-sucedido a longo prazo antecipar e prevenir problemas do que esperar até que alguém fique sem abrigo e depois tentar realojá-lo.

Se as ordens do Grants Pass fossem mantidas pelo Supremo Tribunal, quais poderiam ser as consequências?

Se o Supremo Tribunal confirmar as decisões do Grants Pass que criminalizam os sem-abrigo, estes serão forçados a mudar-se, criando desafios adicionais no serviço à comunidade dos sem-abrigo. Organizações eclesiais como a Sociedade de Saint-Vincent-de-Paul, mas também Catholics Charities (as filiais americanas da Caritas) ou Catholic Relief Services, terão muito mais dificuldades em cumprir a sua tarefa, porque o nosso modelo de serviço, que envolve reuniões com pobres, através de visitas individuais, será muito mais complicado. Veremos um aumento de pessoas sem-abrigo nas cidades que não adotam estas leis e isso dificultará a capacidade de fornecer os serviços de que necessitam.

Quando se diz que terão de se “deslocar”, isso implica obviamente que estão a desfazer a sua rede social: as suas amizades, mas também o apoio associativo ou outro que recebiam. Está preocupado que alguns deles desapareçam completamente?

Acredito que muito deles se estabelecerá em acampamentos nas matas ou em locais onde desaparecerão entre uma população de “indesejáveis”. Isso vai se tornar um problema. É algo muito trágico. Vários moradores de rua enfrentam problemas de saúde mental que exigem acompanhamento. Poderão haver problemas de dependência (de drogas) que eles estejam a tentar ultrapassar e, para isso, precisam ter acesso ao tipo de serviços de apoio que nós e outros prestamos. E se eles tivessem que ir para um lugar onde desapareceriam e não teriam acesso aos nossos serviços? Isto apenas criaria um ciclo de pobreza e eles deixariam de poder ter alguém que os ajudasse a rompê-lo. Essas pesoas estariam enfrentando uma trágica situação.

Alguns arriscariam a vida desta forma, mas para quem não tem problemas de saúde mental ou dependência química, como se recuperar e como sair das ruas quando se sabe que a primeira coisa que um locador faz antes de alugar seu imóvel é verificar o antecedente da pessoa que solicita o apartamento? Se um morador de rua foi multado, principalmente se já esteve na prisão, ele nunca poderá alugar o apartamento. Neste sentido, podemos dizer que criminalizar os sem-abrigo é uma condenação definitiva?

Este é um ponto importante porque é um desafio enfrentado por muitas pessoas em situação de pobreza ou sem-abrigo que tentam estabelecer residência, seja um apartamento ou uma casa, e que são sujeitas a uma averiguação de crédito. Mesmo que não sejam sem-abrigo. Trabalhamos com mães solteiras que moram em hotéis de longa permanência, onde pagam preços exorbitantes para morar em um quarto com seus filhos. Podem ter um trabalhar, ter um rendimento, mas devido a antecedentes judiciais, como consumo de marijuana ou furto em lojas, têm grande dificuldade em encontrar um proprietário que concorde em alugar-lhes um apartamento ou uma casa. Como Sociedade de Saint-Vincent-de-Paul, trabalhamos, portanto, com estas pessoas e com os proprietários para tentar dar-lhes garantias e oportunidades de habitação. Se a Suprema Corte mantivesse as leis do Grants Pass, os sem-teto seriam presos. E com antecedentes criminais, trabalhar com eles para que se mudassem mais tarde se tornaria muito mais difícil. Este seria outro obstáculo que os impediria de se tornarem estáveis ​​e independentes.

Se apoiado pelo Supremo Tribunal, outras cidades virão a tomar medidas que criminalizam os sem-abrigo?

Esperamos que, seja qual for o resultado, os decisores políticos não aproveitem a oportunidade para punir os sem-abrigo, mas, em vez disso, implementem medidas de prevenção que evitem que as pessoas pobres fiquem sem-abrigo. Devemos, portanto, enfrentar os encargos financeiros das pessoas que estão prestes a acabar na rua. Além disso, o facto de, dentro do mesmo estado, poder haver várias cidades a adotar abordagens diferentes a este respeito, poderia levar a uma intervenção a nível estadual ou federal. Os responsáveis políticos poderiam unir-se e talvez encontrarem soluções para abordar esta questão numa base mais ampla, porque não é necessário que uma cidade aprove leis sobre os sem-abrigo e outra não.

A pobreza é um tema que tem sido abordada pelos políticos, especialmente antes das eleições presidenciais de novembro?

Infelizmente, o tema da pobreza não tem sido suficientemente discutido nas eleições há vários anos. Há muito tempo que as questões da pobreza ou dos sem-abrigo não têm sido abordadas de forma adequada, a qualquer nível, nas eleições. Precisamos debatê-lo, discuti-lo. Devemos pensar neste problema de forma ampla, envolvendo o sector privado, o sector público, as religiões, questionando os modelos económicos existentes. Precisamos tratar essas pessoas como pessoas, não como coisas que precisam ser transportadas de um lugar para outro. Espero que o governo, num momento ou noutro, comece a compreender que não pode ignorar este problema. Especialmente porque é um problema que está a piorar, enquanto as disparidades económicas entre ricos e pobres só aumentam.

Os moradores de rua votam nos Estados Unidos?

Depende. Para votar nos Estados Unidos, é preciso ter uma identidade estabelecida. Uma carteira de identidade ou pelo menos alguma forma de identificação, carteira de motorista, identidade do governo federal, passaporte, algo assim. Mas para obtê-los é necessário ter residência. Daí, alguém que mora na rua não pode ter esses documentos. Então não, eles não podiam votar. Estão, portanto, privados do direito de voto devido à sua situação, o que os torna ainda mais privados de voz, o que é uma situação trágica para eles. Eles não têm voz em seu próprio futuro.

Quantas pessoas sem-abrigo são ajudadas todos os dias e quantas deveriam ser?

Não há um número preciso, mas posso afirmar que há muito mais pessoas que procuram ajuda do que entidades disponíveis para as ajudar. Na Sociedade de São Vicente de Paulo, só podemos responder a uma fração dos pedidos que recebemos atualmente, e sei que a Catholic Charities e outras estão na mesma situação. Fazemos esforços constantes todos os dias para buscar mais financiamento, para buscar parcerias adicionais para alimentos, utensílios domésticos e roupas, para aumentar nossa capacidade de serviço.

Na realidade, também precisamos de pessoas que sejam capazes de trabalhar com as pessoas que servimos. Como organização católica cuja missão é crescer em santidade e espiritualidade através do nosso serviço aos pobres, estamos muito focados no encontro que temos com as pessoas que servimos, um encontro de humano para humano centrado em Cristo. Não somos apenas uma agência de serviço social que distribui ajuda, esforçamo-nos por respeitar e honrar a humanidade de todos aqueles que ajudamos. Por esse motivo, atendemos as pessoas individualmente, presencialmente. Este é um aspeto muito intenso e muito importante do nosso trabalho. Precisamos cada vez mais de pessoas que queiram ingressar na Sociedade, especialmente jovens. Temos quase 90 mil membros nos Estados Unidos, mas poderíamos ter o dobro para poder servir todos aqueles que nos procuram. É, portanto, um esforço contínuo da nossa parte tentar disponibilizar recursos humanos, financeiros e materiais para servir todas as pessoas que deles necessitam.

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF