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terça-feira, 2 de julho de 2024

'A língua que falamos determina como pensamos' (3)

Para Caleb Everett, alguns modelos linguísticos clássicos, como os de Noam Chomsky (foto), estão sendo superados por novas pesquisas  (GETTY IMAGES)

'A língua que falamos determina como pensamos': americano que cresceu com indígenas na Amazônia explica relação3

  • Autor, Daniel Gallas
  • Role, Da BBC News Brasil em Londres

22 junho 2024

BBC: Mas ele ainda desperta muitas emoções fortes. Você acha que o mundo da linguística vai acabar deixando a gramática universal para trás?

Everett: A ideia de gramática universal mudou muito. Se você voltar e olhar os estudos dos anos 60 e 70, eles fizeram previsões muito grandes. Agora as previsões são quase impossíveis de serem provadas falsas.

Eles dizem: todos os humanos têm uma linguagem e então deve haver uma gramática universal.

É algo tão vago que não se pode discordar, mas que já não ajuda a se fazer nenhuma previsão, na minha opinião.

Mas digo isso também porque os pesquisadores que realmente respeito agora, que são talvez 10 anos mais novos que eu que estão fazendo pesquisas de ponta, eles não parecem estar levando em conta esse debate no seu trabalho.

Em vez disso, eles estão focados em realizar experimentos realmente bons, usando big data, ciência de dados e programação de computador, que se tornaram central para o trabalho que fazemos.

E isso não é verdade apenas na pesquisa linguística.

Quando as pessoas investem décadas de suas vidas em qualquer modelo teórico específico em qualquer disciplina, elas tendem a ser indivíduos bastante tendenciosos.

E então existe uma velha expressão que diz: a ciência muda uma aposentadoria por vez. E, de certa forma, acho que isso é verdade, que leva tempo.

Gostamos de pensar que somos objetivos, mas na verdade não somos, depois que investimos décadas em uma determinada visão e a promovemos, é preciso ser uma pessoa realmente grande para dizer “sabe: eu estive errado nos últimos 30 anos e preciso reconhecer isso diante de tantas evidências".

Eu não vou ficar parado esperando isso acontecer. Eu acho que é apenas uma mudança social gradual em uma disciplina.

BBC: A tecnologia recente acelerou o estudo das línguas. Mas muitas dessas línguas estão morrendo rapidamente também. Existe uma corrida contra o tempo para estudá-las antes que morram?

Everett: Sim. Eu acho que há muita documentação linguística ao redor do mundo e às vezes eu acho que na verdade somos meio egoístas como pesquisadores, queremos obter todos esses dados antes que eles desapareçam ou queremos manter as pessoas falando suas línguas.

Na Amazônia, por exemplo, você vê que existem alguns grupos indígenas que realmente importam muito para eles manterem sua língua e para alguns deles isso não parece importar muito.

E quem somos nós para dizer a eles que isso deveria importar?

Acho que às vezes isso é importante para mim porque eu tenho um interesse egoísta de querer mais idiomas e é uma coisa fascinante para mim e para minha carreira olhar para esses dados.

Mas sim, infelizmente, para alguns, as línguas estão morrendo.

Elas estão morrendo principalmente hoje em dia por razões econômicas, na medida em que grupos de pessoas que estão no Brasil e em outros lugares, se quiserem que seus filhos possam ser economicamente viáveis diante do encolhimento das reservas e da dificuldade cada vez maior de sobreviver da caça e da pesca, essas pessoas têm que falar português, espanhol ou inglês.

Dependendo do contexto em que se encontram, as pressões econômicas são tão fortes sobre alguns destes grupos individuais que a maioria dos modelos sugere que muitas destas línguas desaparecerão nos próximos 100 anos.

BBC: Ao longo da sua vida, você viu línguas amazônicas morrerem ou prestes a morrer?

Everett: Sim. Um exemplo que me vem à mente é o idioma suruí que também é falado em Rondônia e ainda há falantes. O missionário que foi um dos primeiros a contatá-los nos anos 60 falava que era um idioma vibrante em termos linguísticos, mas agora muitas dessas pessoas falam principalmente português.

E se você olhar a proporção de crianças que estão aprendendo a língua como primeira língua, você vê que isso está diminuindo. Esse é geralmente o melhor indicador de se uma linguagem sobreviverá ou não.

Para muitas destas línguas, simplesmente não há muitas crianças aprendendo-as.

Existem outras línguas que vimos morrer completamente.

Uma que me vem à mente é uma língua chamada Orouim, que era falada na fronteira brasileira com a Bolívia.

Mas há muitos exemplos de línguas que acabaram morrendo. Ou de línguas onde ainda há muitos falantes, mas a proporção de número de falantes de português aumentou muito entre as crianças. Você vê isso no parque Xingu, por exemplo. Muitas das línguas ainda são faladas, mas muitas vezes as crianças falam principalmente português.

BBC: E com a morte das línguas a humanidade está perdendo diversidade na forma de se pensar o mundo?

Everett: Uma das coisas que descobrimos e que é mencionada no livro é que há vários grupos que demonstraram ter vocabulários ricos sobre cheiros.

Isso é outra coisa que costumávamos pensar: “nós, humanos, não temos palavras abstratas para cheiros”.

Mas acontece que houve uma série de línguas documentadas nos últimos 10 anos que possuem palavras ricas e abstratas para cheiros.

À medida que essas línguas morrem e algumas delas estão à beira da extinção, estamos perdendo algo crítico sobre como os humanos pensam sobre cheiros e como eles podem falar sobre cheiros. Se perdemos isso, nós perderemos um pouco de como os humanos pensam sobre os cheiros que sentem.

Na medida em que as línguas morrem, estamos perdendo algo básico de nossa compreensão de como os humanos pensam sobre as sensações que sentem.

BBC: Você compara línguas amplamente faladas com línguas pouco conhecidas para ilustrar como pessoas podem pensar de formas diferentes. Mas existe essa diferença na forma de pensar o mundo mesmo entre línguas amplamente faladas? Por exemplo, um chinês pensa o mundo diferente de um alemão, por conta da língua que fala?

Everett: É sempre difícil saber quanto disso é a cultura e quanto disso é a linguagem. Mas no caso chinês, por exemplo, tem havido algumas pesquisas fascinantes mostrando que os falantes de mandarim parecem pensar sobre o tempo de maneiras diferentes dos falantes de inglês, porque as metáforas que usam para o tempo são um pouco diferentes.

Os chineses usam metáforas verticais, em que o tempo está caindo, em oposição à metáfora horizontal do futuro estar diante de você, como no inglês.

Outro exemplo com falantes de chinês é o da cognição quantitativa — como as pessoas pensam sobre quantidades.

Os falantes de inglês, por exemplo, tendem ser um pouco mais lentos do que os falantes de chinês no aprendizado de números, por causa como de números como 11 (“eleven”) e 12 (“twelve”).

No inglês, nas dezenas de 13 em diante, existe um padrão previsível: “thirteen” (13) e “fourteen” (14) são a junção do número três e quatro com a dezena (“teen”). Mas isso não acontece com as palavras “eleven” (11) e “twelve” (12).

Em idiomas como o chinês isso é mais transparente. Na parte das dezenas, você aprende a junção “um-dezena”, dois-dezena", etc.

Isso ajudaria a explicar por que as crianças chinesas se saem um pouco melhor mais cedo em alguns exercícios de adição do que as crianças que falam inglês.

BBC: Um exemplo que se costuma dar em linguística é que os esquimós têm mais de 50 palavras para neve, já que é algo importante na cultura deles. Mas isso é um exemplo errado?

Isso se tornou uma coisa divertida para os linguistas zombarem.

Chegou ao ponto de o New York Times publicar um artigo que dizia que os esquimós têm centenas de palavras para neve e isso simplesmente não é verdade.

No entanto, a ideia central por trás dessa mentira não é imprecisa, que é a de que as pessoas vivem em ambientes muito diferentes. Não é de surpreender que alguns grupos amazônicos não tenham palavras para neve.

Há algumas evidências agora de que alguns destes termos que existem no ambiente podem ter impacto na forma como as pessoas pensam sobre algumas destas coisas externas.


Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Doações da Itália estão de partida para o Rio Grande do Sul: "é tudo obra de Deus"

Parte dos voluntários atuantes na triagem das roupas (Vatican Media)

Uma ação humanitária de caráter internacional colocou à prova a fé de dois gaúchos na Itália: Flavio Boriolo e Luiz da Silva tiveram que prorrogar prazos de envio de doações às vítimas do RS por falta de dinheiro para pagar o transporte marítimo de 2 contêiners. Em menos de uma semana, "Deus operou novamente" e conseguiram o apoio financeiro restante, logo após uma súplica dos voluntários feita em pleno galpão onde está armazenada a carga à espera de partir em 6 de julho.

Andressa Collet - Vatican News

"A gente sentiu a necessidade que estava faltando alguma coisa em relação a gente levar a oração lá para dentro, do espaço onde a gente estava trabalhando e onde estão todas as doações: levar a oração como forma de proteção, como forma de força, de coragem e motivação. Só que a gente não conseguiu ir lá nesses dias, então, foi ontem que a gente conseguiu carona para poder ir até lá. Quando a gente chegou lá, fez a oração, ajoelhados, levei a Bíblia, li o Salmo 91 lá dentro, oramos e pedimos a intercessão divina ali dentro."

Flávio e Luiz, os idealizadores gaúchos da campanha "SOS RS - Itália" (Vatican Media)

Assim Luiz Henrique Correa da Silva, gaúcho de Cruz Alta, um dos idealizadores da campanha "SOS RS - Italia", para envio de roupas de inverno da Itália para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, testemunha o chamado de Deus para "concretizar o que ainda faltava" para coroar a mobilização dos brasileiros. E Flavio Augusto Acunha Boriolo, natural de Uruguaiana, complementa sobre a demonstração de fé de quarta-feira (19/06):

"Aí eu peguei um óleo ungido, dado por uma das voluntárias, e comecei uma oração pedindo proteção e agradecendo por todas as doações. E, enquanto eu orava, eu passava o óleo ungido em cada bancada pronta, agradecia, pedia proteção e falava: 'Senhor, isso aqui não é nada nosso, isso aqui é obra Tua, isso aqui tudo é Teu. Então, envia Teus anjos para proteger tudo isso aqui'. E eu ficava arrepiado enquanto eu falava e fazia a oração. E quando a gente estava indo embora, peguei meu telefone e vi uma mensagem de uma pessoa me dizendo que era para entrar em contato que eles iam nos ajudar a fazer o pagamento do que estava faltando do transporte dos contêiners."

“Foi mais uma prova de que Deus está operando. Isso aqui é um propósito de Deus. É tudo obra de Deus.”

Faltava essa demonstração de fé, comenta convicto Flavio, "porque a fé precisa ser renovada todos os dias através da Bíblia e escutando a Palavra de Deus. Esse foi um grande milagre que Deus fez para esse propósito". 

Flavio e Luiz são os idealizadores da campanha que envolveu várias regiões da Itália (Vatican Media)

Os desafios da ação humanitária

Um testemunho que traz alívio para o grupo de voluntários mobilizado à frente da campanha, uma campanha de caráter internacional e com grandes compromissos logísticos e financeiros. Na reta final, quando estava tudo catalogado para fazer o carregamento dos 2 contêiners, o desafio veio com as altas despesas do envio em via marítima das doações da Itália até o Brasil. "Perdemos a data do dia 18 de junho, por falta de pagamento, e aí intensificamos a divulgação da campanha, criamos uma rifa solidária e conseguimos mostrar a nossa ação humanitária na mídia", comentou Flavio.

O apelo foi atendido prontamente e, em menos de uma semana, a campanha conseguiu o valor total de cerca de 6.500 euros para envio das doações, principalmente de roupas de inverno, em dois contêiners, entre 15 e 20 toneladas. Flavio e Luiz não se cansam de agradecer primeiramente a Deus, a quem sempre escutaram o chamado e por quem foram firmes até o final; a todos que colaboraram com a rifa solidária, que terá sorteio ao vivo em data a ser divulgada pela conta oficial da campanha no Instagram; a um grupo de investidores do Vêneto e à Maior Campanha Solidária do RS (@vakinha@badincolono e @pretinhobasico).

A campanha que começou em 13 de maio, após período de arrecadação, triagem e catalogação, envolvendo na maioria brasileiros residentes na Itália, teve um final feliz: a carga de dois contêiners parte do porto da cidade de Livorno, na Itália, em 6 de julho, para chegar ao porto mais perto do Rio Grande do Sul, o de Itapoá, em Santa Catarina. A previsão de chegada em território brasileiro é em 3 de agosto para depois seguir de caminhão até o RS.

Em solo gaúcho, segundo um comunicado oficial da campanha, as doações chegarão diretamente no Centro de Arrecadação localizado em Novo Hamburgo. Dali serão distribuídas para cinco instituições, que são: Grupo Aconchego SOS Enchentes, de São Leopoldo; Liga de Combate ao Câncer, de Bom Retiro; Rotary Club, de Estância Velha; e, em Porto Alegre, para a Instituição de Educação Infantil Pingo de Mel e Educandário São João Batista.

A carga com 2 contêiners chega no Brasil no início de agosto (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Bernadino Realino

São Bernadino Realino (A12)
02 de julho
São Bernadino Realino

Bernardino nasceu na ilha de Capri, Itália, em 1530, de rica e nobre família. Recebeu formação católica e na juventude destacou-se pela inteligência. Com 12 anos, terminou os estudos clássicos na famosa Academia de Modena; em 1548, com 18, formou-se em Filosofia, Medicina, Direito Civil e Direito Eclesiástico na também famosa Universidade de Bolonha. Doutorou-se em Direito Civil e Eclesiástico em 1556.

Aos 25 anos, por indicação do cardeal e governador de Milão, amigo de sua família, iniciou uma muito bem sucedida carreira administrativa, política e social: sucessivamente, foi prefeito de Felizzano de Monferrato, advogado fiscal de Alexandria, prefeito de Cassine, prefeito de Castel Leone, e, em Nápoles, auditor e lugar-tenente a serviço do marquês Francesco Ferdinando d’Avalos, vice-rei da Sicília. Ao longo destes dez anos, sempre ajudou os pobres.

Mas em 1564, já com enorme sucesso, ficou gravemente doente. Acamado, dedicou-se mais à oração, e teve uma visão de Nossa Senhora com o Menino Jesus ao colo, o que o impactou enormemente. Procurou a orientação e direção espiritual de um frade jesuíta, discernindo a vontade de Deus para a sua vida e, com 35 anos, foi ordenado sacerdote da Companhia de Jesus

Intensificou então o seu trabalho junto aos pobres, além de se tornar um grande pastor e evangelizador. Recebendo os dons da cura e do bom conselho, passou a ser procurado por religiosos, por nobres e pelo povo em geral: o Papa Paulo V, o Imperador Rodolfo II do Sacro Império Romano-Germânico, o rei Henrique IV de França, os Duques da Baviera, Mântua, Parma e Módena. São Roberto Belarmino ajoelhou-se diante dele.

Em 1574 Bernardino foi enviado para Lecce a fim de fundar um colégio jesuíta, e lá permaneceu por 42 anos, marcando de forma tão profunda e benéfica a cidade que, muito adoentado e prestes a morrer, recebeu o pedido direto do conselho municipal para ser o seu padroeiro e interceder a Deus por ela, quando estivesse na Glória do Pai, um fato inédito na Igreja Católica e o reconhecimento da sua santidade, já em vida… pedido que ele aceitou de viva voz.

 Bernardino faleceu aos 86 anos, em 2 de julho de 1616. É padroeiro de Lecce (mesmo antes de ter sido canonizado!) e depois também de Capri.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Bernardino, antes do sacerdócio, legitimamente trabalhava com êxito na vida leiga, nada fazendo de especialmente condenável. Seria este também um caminho santificação, digno aos olhos de Deus. Mas há dois detalhes que o alavancaram para um patamar espiritual superior. Recebeu formação católica… boa formação, certamente, dado que era honesto no trabalho e aproveitava corretamente o dom de inteligência que recebera; e sempre ajudava os pobres… portanto, não esquecido dos necessitados pelo próprio sucesso, praticava constantemente a caridade. Com tais disposições, Deus lhe propôs ainda mais: “Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 5,29). Daí a Providência de uma enfermidade, que o levou a rezar mais, e preparar assim a alma para uma revelação; depois da qual, sensatamente buscou autêntica orientação espiritual. A partir da qual, por fim, consagrou-se mais perfeitamente a Deus. E como religioso foi simplesmente um bom pastor, evangelizando: Deus lhe deu, a mais, os dons da cura e do bom conselho. Educação católica, caridade. Realidades possíveis e até comuns. Caro leitor, qual etapa do roteiro de vida de São Bernardino estaria tão inacessível aos católicos normais, que tenham como ele se iniciado no conhecimento da Doutrina e, por consequência necessária, buscado praticar habitualmente a caridade? Católicos como nós... Que trabalhamos, vivendo a vida usual. Também a nós Deus quer santos. Talvez que nas doenças e adversidades, não nos conformemos… nãos busquemos com mais vontade a oração… que vejamos Nossa Senhora e Jesus em visões de sonhos, mas não na realidade… que não busquemos adequada direção espiritual. Deus sempre nos provê com muitos dons; mas se não os aproveitamos para enriquecer a Ele, ao espírito (querendo enriquecer mais o corpo) e ao próximo, se nem ao menos os identificarmos, ficaremos tão pobres deles, que por fim nada teremos. O mundo se encarregará de no-los tirar – incluindo a vida, perecível no físico. Temos dons, para recebermos ainda mais; é este o plano de Deus. São Bernardino é para nós a evidência clara de que a santidade faz parte da normalidade, que pode ser alcançada nos contextos mais comuns. Queremos? “Pedi e vos será dado, procurai e achareis, batei na porta e ela se abrirá para vós” (Mt 7,7).

Oração:

Senhor, que desde a eternidade nos quer felizes, e portanto santos, concedei-nos por intercessão de São Bernardino Realino o bom conselho de, como ele, “não nos contentarmos com este mundo”, ainda no que é legítimo, para não perdermos o que de maior nos quereis dar, que é Vós mesmo; que ele ajude, como fez na Terra, ao que há de mais pobre, o nosso pobre coração, com a cura espiritual. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Arcebispos brasileiro recebem o Pálio das mãos do Papa Francisco

O Papa Francisco faz entrega dos Pálios aos arcebispos brasileiros (Vatican Media)

ARCEBISPOS BRASILEIROS RECEBEM O PÁLIO ARQUIEPISCOPAL DAS MÃOS DO PAPA FRANCISCO

Cinco arcebispos brasileiros, nomeados para o governo de arquidioceses desde julho do ano passado, receberam o Pálio das mãos do Papa Francisco, no último sábado, durante a celebração da Solenidade de São Pedro e São Paulo, na Basílica de São Pedro. São eles: o arcebispo de Natal (RN), dom João Santos Cardoso; o arcebispo de Fortaleza (CE), dom Gregório Ben Lâmed Paixão; o arcebispo de Aracaju (SE), dom Josafá Menezes da Silva; o arcebispo de Maceió (AL), dom Carlos Alberto Breis Pereira; e arcebispo de Cascavel (PR), dom José Mário Scalon Angonese. No total, foram 42 arcebispos de todo o mundo que receberam a insígnia.

O Pálio

Derivado do latim pallium, manto de lã, o Pálio é uma vestimenta litúrgica usada na Igreja Católica e consiste de uma faixa de pano de lã branca que é colocada sobre ombros dos arcebispos. Essa lã é abençoada todos os anos na Festa de Santa Inês (21 janeiro).

Tradicionalmente durante a Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, em 29 de junho, o Pálio é abençoado pelo Santo Padre e entregue aos arcebispos. Posteriormente, o núncio apostólico faz a imposição a cada um dos novos arcebispos nas suas respectivas arquidioceses e na presença dos fiéis.

Este pano representa a ovelha que o pastor carrega nos ombros, assim como fez Cristo com a ovelha perdida. Desta forma podemos dizer que o palio é o símbolo da missão pastoral do bispo. O Pálio é também a prerrogativa dos arcebispos metropolitanos, como símbolo de jurisdição em comunhão com a Santa Sé.

Os Pálios (Vatican Media)

Abrir as portas

Em sua homilia, na celebração, o Papa Francisco recordou o exemplo dos apóstolos Pedro e Paulo, que fizeram a experiência de graça: “Tocaram a obra de Deus, que lhes abriu as portas da sua prisão interior e também das prisões reais onde estavam encerrados por causa do Evangelho. E abriu-lhes, igualmente, as portas da evangelização, para que pudessem experimentar a alegria do encontro com os irmãos e irmãs das comunidades nascentes e levar a todos a esperança do Evangelho”.

Aos novos arcebispos metropolitanos, Francisco disse que “são chamados a ser pastores zelosos, que abrem as portas do Evangelho e que, com o seu ministério, ajudam a construir uma Igreja e uma sociedade de portas abertas”.

https://youtu.be/gdweL8XVE0I

Com informações e fotos de Vatican News e Vatican Media

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A centralidade do Domingo – Dies Domini

Santa Missa da Ressurreição do Senhor presidida pelo Papa Francisco no Domingo de Páscoa (31/03/2024) (Vatican Media)

"O domingo constitui o núcleo elementar do ano litúrgico. O surgimento do domingo (Dies Domini – Dia do Senhor) está diretamente relacionado ao evento pascal de Cristo desde o início da Igreja."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Para nós, cristãos, o centro do dia do Senhor, o domingo, é a Eucaristia, que significa “ação de graças”. É o dia para dizer a Deus: Senhor, obrigado pela vida, pela sua misericórdia, por todos os teus dons. O domingo não é o dia para anular os outros dias, mas para os recordar, bendizer e fazer as pazes com a vida. Quantas pessoas têm muitas possibilidades de se divertir, e não estão em paz com a vida! O domingo é o dia para fazer as pazes com a vida, dizendo: a vida é preciosa; não é fácil, às vezes é dolorosa, mas é preciosa. (Papa Francisco - Audiência Geral de 5 de setembro de 2018)”

O domingo recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo, escreveu São João Paulo II na Carta Apostólica Dies Domini "É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da «nova criação». É o dia da evocação adorante e grata do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração, vivida na esperança, do «último dia», quando Cristo vier na glória e renovar todas as coisas".

Já Bento XVI, no Regina Coeli de 15 de abril de 2012, explicava que "aquele dia, chamado depois de “domingo”, “dia do Senhor”, é o dia da assembleia, da comunidade cristã que se reúne para seu culto próprio, isto é, a Eucaristia, culto novo e diferente daquele judaico do sábado. De fato - enfatizou - a celebração do Dia do Senhor é uma prova muito forte da Ressurreição de Cristo, porque somente um acontecimento extraordinário e envolvente poderia levar os primeiros cristãos a iniciar um culto diferente em relação ao do sábado hebraico."

"A centralidade do Domingo – Dies Domini", é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:

"A Constituição Sacrosanctum Concilium – que fala sobre a Sagrada Liturgia - aponta sobre as celebrações nos mais variados tempos litúrgicos e sobretudo que o Mistério Pascal seja acentuado na Liturgia cristã, valorizando o Domingo como dia consagrado ao Senhor, de escuta da Palavra e participação da Eucaristia. O Concílio Vaticano II, na SC nº 106, fiel à tradição cristã e apostólica, afirma que o domingo, “Dia do Senhor”, é o fundamento do Ano Litúrgico, pois nele a Igreja celebra o mistério central de nossa fé, na páscoa semanal que, devido à tradição apostólica, se celebra a cada oitavo dia. O Concílio, dentro das preocupações da reforma da liturgia, propõe uma revalorização do domingo. O domingo constitui o núcleo elementar do ano litúrgico. O surgimento do domingo (Dies Domini – Dia do Senhor) está diretamente relacionado ao evento pascal de Cristo desde o início da Igreja. Como escreve o frade José Ariovaldo da Silva, doutor em Teologia pelo Pontifício Santo Anselmo: “O primeiro dia da semana se tornou, para os cristãos, um dia memorável, inesquecível, por causa da impressionante novidade da ressurreição”[1].

O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das nações. Todo o Novo Testamento está impregnado dessa verdade substancial, quando enfatiza a ressurreição no primeiro dia da semana (Cf. Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24,1; Jo 20,1; como também At 20,7 e Ap 1,10). Como o Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor derrama para todo o Ano Litúrgico a eficácia redentora de Cristo, assim também, igualmente, o domingo derrama para toda a semana a mesma vitalidade do Cristo Ressuscitado. O domingo é, na tradição da Igreja, na prática cristã e na liturgia, o “dia que o Senhor fez para nós” (Cf. Sl 117(118),24), dia, pois, da jubilosa alegria pascal.

São João Paulo II, em 1998, antes do terceiro milênio, na sua Carta Apostólica DIES DOMINI, afirma dessa maneira: “A sua importância fundamental, reconhecida continuamente ao longo de dois mil anos de história, foi reafirmada vigorosamente pelo Concílio Vaticano II: «Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina do Senhor ou domingo». Paulo VI ressaltou novamente a sua importância, quando aprovou o novo Calendário Geral romano e as Normas universais que regulam o ordenamento do Ano Litúrgico. A iminência do terceiro milênio, ao solicitar os crentes a refletirem, à luz de Cristo, sobre o caminho da história, convida-os também a redescobrir, com maior ímpeto, o sentido do domingo: o seu «mistério», o valor da sua celebração, o seu significado para a existência cristã e humana” (DDm, n.3.)

O domingo é um dia de festa primordial que deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fiéis, de modo que seja sempre um dia de alegria, de descanso do trabalho, de participação na comunidade paroquial. Diz assim os padres conciliares, na SC, número 106, pelo texto literal: “O domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso. Não deve ser sacrificado a outras celebrações que não sejam de máxima importância, porque o domingo é o fundamento e o centro de todo o ano litúrgico”.  Traduzindo as palavras dos padres conciliares, entenda-se claramente que nenhuma celebração que não seja o Dia do Senhor, no Domingo, seja maior que essa festa de alegria e de maior importância. O restante deve ficar em segundo plano, salvo exceções que as circunstâncias exigem. Mesmo a festa do padroeiro de uma comunidade, igreja ou paróquia deveria ter a direção de enfocar o Cristo Ressuscitado, mistério principal da vida cristã, para o qual o santo em destaque ofertou sua vida. O Domingo, por se tratar de um dia de alegria, nem na quaresma não se faz jejum. É um dia de festa, de esperança, de muito entusiasmo, pois Cristo ressuscitou e nos deu Vida Nova. É um dia de descanso, de júbilo, sem nenhum trabalho árduo, como se fosse um dia qualquer da semana. O domingo, na família e na comunidade, será sempre um dia de festa e explosão de alegria pela grande notícia de Cristo Ressuscitado.

Nenhuma liturgia de qualquer santo poderá ter proeminência sobre o Dies Domini, o Dia do Senhor. É logico que o santo padroeiro da localidade será comemorado normalmente num domingo, possibilitando a participação popular de todo o Povo de Deus. Salvo a festa do padroeiro ou padroeira, que poderá ser celebrado no domingo, as celebrações menores permanecem em segundo plano. A Ressurreição do Senhor, celebrada no Domingo, extensão da Páscoa, é colocado em destaque em todo o ano litúrgico e não somente no Tempo Pascal. A festa dos Santos, as devoções populares, não tem primazia sobre a festa máxima do Senhor Vitorioso do sepulcro. Prime-se por exaltar a maior festa do Cristão celebrada no Domingo, Dia do Senhor (Dies Domini), dia de preceito, dia de descanso, dia da Palavra e dia da Eucaristia. O Domingo, por excelência, é dia da Celebração da vitória de Cristo, devendo ter destaque todo especial na liturgia."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
________________
[1] DA SILVA. José Ariovaldo. O domingo páscoa semanal dos cristãos. São Paulo: Paulus, 1998, p. 14.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

'A língua que falamos determina como pensamos' (2)

O pai de Caleb, Daniel Everett, foi para a Amazônia como missionário, mas acabou virando linguista (Daniel Everett)

'A língua que falamos determina como pensamos': americano que cresceu com indígenas na Amazônia explica relação.

  • Autor, Daniel Gallas
  • Role, Da BBC News Brasil em Londres

22 junho 2024

BBC: Na Amazônia, o que você descobriu que sustenta essa ideia de que as pessoas pensam diferente porque falam diferente?

Everett: Uma forma pela qual as línguas dessa região produziram insights é como as pessoas pensam sobre o tempo.

Em inglês e em muitas línguas, temos a tendência, por exemplo, de usar metáforas em que o futuro está na nossa frente e o passado está atrás de nós.

Mas existem alguns grupos na Amazônia que não falam sobre o tempo dessa forma.

Há um caso famoso de língua Tupi Kawahib, onde eles nem falam sobre tempo em termos de espaço.

Quando uma língua como o inglês tem três tempos, algumas línguas têm até sete tempos. Elas dividem o tempo de maneiras muito diferentes.

Então não se trata apenas de coisas superficiais, como “eles falam sobre plantas e animais de forma diferente”.

E isso é verdade até certo ponto. Mas o que mais me interessa, e o foco do livro, são esses aspectos fundamentais do pensamento humano.

Como pensamos sobre as quantidades, como pensamos sobre o espaço, como pensamos sobre o tempo e como os humanos desenvolvem essas capacidades, e como isso parece variar em alguns aspectos entre culturas.

BBC: No seu livro, você dá o exemplo de uma frase em inglês com muitas referências ao tempo: “Na segunda-feira passada eu corri por meia hora, como eu faço todas as semanas”. Você disse que algumas das línguas que estuda não têm todos os recursos para enquadrar o tempo dessa forma. Já outras têm sete tempos verbais. Essas línguas são menos ou mais sofisticadas do que as que estamos acostumados?

Everett: Você vê idiomas que talvez prestem atenção ao tempo e às maneiras que nós não fazemos.

Se você tiver na sua língua apenas passado, presente ou futuro, quando você estiver falando, basta indicar se foi em um desses três tempos.

Mas se você tem sete tempos que podem incluir algo como passado muito distante ou um futuro muito distante, então você deve prestar atenção a esses aspectos temporais e talvez a formas mais sutis.

BBC: Em que idioma foi isso?

Everett: É uma linguagem chamada yagua [falada na Amazônia peruana]. Embora existam muitas línguas que possuem cinco ou seis tempos, há algumas que não possuem nenhum tempo verbal.

Uma das línguas que trabalhei na Amazônia, Karitiana, tem dois tempos: futuro e não futuro. Essa é uma língua falada no Estado de Rondônia. Esse é um sistema de tempo bastante comum. Mas o exemplo que você lembrou, sobre uma corrida que fiz de 30 minutos ontem ou na semana passada. Vamos pensar sobre essa frase. O que são 30 minutos? Minutos é algo muito definido cultural e linguisticamente. O minuto vem de um sistema numérico de base 60 que remonta à Mesopotâmia, e é por isso que dividimos a nossa hora 60 — e depois dividimos novamente para ter segundos. São coisas culturais muito arbitrárias que aprendemos, e parecem naturais para nós à medida que aprendemos a contar as horas.

Mas é realmente antinatural para muitas pessoas.

Então você pode imaginar se estiver conversando com um amazônico que nunca topou com o conceito de horas, minutos ou semana, que também é culturalmente construída. Há tantas tradições culturais muito específicas incorporadas apenas nessa frase que impactam como pensamos.

Pense no quanto o seu dia é ditado olhando os relógios e pensando onde você tem que estar em um determinado horário e em determinados minutos. Isso tudo é arbitrário.

Muitas culturas prescindem completamente destas noções. Estas coisas são codificadas na linguagem aprendida pelas crianças desde cedo, que moldam a forma como pensamos sobre a passagem do tempo. E isso parece totalmente natural para nós até que você seja confrontado com alguém para quem esses conceitos sejam totalmente antinaturais e você percebe "este é um humano inteligente e eles não precisam desses conceitos.”

Isso não quer dizer que eles sejam inúteis. Acho que são muito úteis, mas são úteis no nosso contexto cultural. E são apenas uma maneira diferente de pensar sobre o mundo. Eles não são “a” maneira de pensar sobre o mundo.

BBC: Vamos pegar, por exemplo, o idioma que você mencionou que tem sete tempos. O que você percebe que é diferente na maneira como eles pensam ou na forma como sua sociedade é?

Everett: Parte disso, eu diria, é arbitrário.

Mas o que alguns pesquisadores tentaram fazer é um teste experimental: será que estas diferenças linguísticas têm impacto na forma como as pessoas pensam sobre o tempo em geral, mesmo quando não estão falando?

E há uma boa quantidade de evidências agora de que isso acontece.

Como no exemplo do futuro estando à sua frente no passado, atrás de você.

Há uma boa quantidade de evidências experimentais agora de que, mesmo quando as pessoas nessas línguas estavam, o passado está à sua frente e o futuro está atrás de você, há uma boa quantidade de evidências de que as pessoas pensam sobre o tempo de maneira diferente, mesmo quando elas não estão falando.

Experiências básicas mostraram que quando as pessoas falam sobre o futuro em algumas destas línguas, elas apontam para trás, e quando falam sobre o passado, apontam para a frente, enquanto os falantes de inglês fazem o inverso.

Tendemos a pensar que estamos caminhando em direção ao futuro, enquanto para muitas dessas culturas é o contrário. E se você pensar bem, faz sentido. Porque você pode ver o passado. Você vê o que comeu no café da manhã. Você sabe o que aconteceu ontem. Mas o futuro é meio desconhecido para nós, então esse tipo de metáfora básica de visão e ver o passado, não ver o futuro, é a base de como as pessoas pensam sobre o tempo. E algumas dessas culturas e essa forma de pensar sobre o tempo surge mesmo em contextos não linguísticos.

BBC: Você teve uma infância muito interessante e inusitada, tendo passado grande parte do tempo com indígenas no Brasil. Como foi essa experiência?

Everett: Tenho boas lembranças da minha infância e do Brasil. Passei grande parte da minha infância na aldeia pirahã com minhas duas irmãs e meus pais.

Mas também passei um tempo em escolas públicas brasileiras, indo e voltando e ocasionalmente visitando os EUA.

Minha infância foi uma mistura de estar na aldeia no meio da selva, estar em cidades brasileiras e depois estar ocasionalmente em cidades americanas.

Em Porto Velho, em Campinas e em São Paulo, porque meu pai acabou fazendo doutorado na Unicamp.

As memórias de estar na selva são geralmente muito boas. Eu olho para trás agora e penso que nunca faria isso com meu filho (risos), quando penso nos riscos que corremos. Todos nós contraímos malária. É fácil olhar para trás com carinho quando todos sobreviveram.

Mas porque todos nós sobrevivemos e eu tenho boas lembranças de estar na aldeia nadando no rio com meus amigos indígenas, de caçar ou pescar com minhas irmãs, mas também alguns dos aspectos negativos, como a exploração dos indígenas por comerciantes locais.

No geral, foi uma infância muito positiva e tenho ótimas lembranças de estar na selva.

BBC: Você mencionou a língua pirahã e esse tem sido um debate bastante famoso no mundo linguístico entre seu pai e o famoso linguista americano Noam Chomsky. Esse debate intelectual chegou a ser bastante feroz na troca de palavras. O seu trabalho parece estar muito relacionado a essa questão que é central no mundo da linguística. Como você vê esse debate tão polêmico?

Everett: É um debate muito polêmico. Gosto de pensar que, de certa forma, a ciência superou alguns desses debates e o campo se tornou mais empírico. Meu pai foi certamente uma das pessoas que contribuiu para isso. Muitos pesquisadores nas últimas décadas trouxeram dados de diferentes idiomas na Austrália, na Amazônia e na África, que não parecem estar de acordo com os modelos que Chomsky e que outros promoveram nas décadas de 60 e 70. E esses modelos se tornaram muito influentes.

Na defesa desses modelos, eles parecem ter funcionado muito bem no começo. Mas na medida em que surgem mais e mais exceções, as coisas simplesmente não parecem se encaixar. E você tem que perguntar qual é a utilidade desse modelo?

O modelo é baseado, em grande parte, no inglês.

A nova safra de pesquisadores — a minha geração e a geração seguinte — não está muito satisfeita com os modelos dos anos 60 e 70. E isso não é um insulto.

Isso acontece em muitos campos. As coisas evoluem.

E agora acho que já ultrapassamos isso de uma forma que não é mais o debate central da linguística.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF