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sexta-feira, 5 de julho de 2024

Por que tantos asiáticos estão abandonando suas religiões?

Budistas oram em cerimônia na Coreia do Sul (GETTY IMAGES) |BBC

Por que tantos asiáticos estão abandonando suas religiões?

  • Author,Lebo Diseko
  • Role,Correspondente de religião global do BBC World Service
  • Twitter,@lebo_diseko
  • 2 julho 2024

Joon (nome fictício) foi criado em um lar cristão na Coreia do Sul. Mas, como muitas pessoas em seu país natal, suas crenças religiosas são agora muito diferentes de quando ele era criança.

Ele se identifica hoje como agnóstico.

"Não sei o que há por aí. Deus pode existir, ou talvez não seja exatamente Deus — algo sobrenatural", diz ele, por telefone, de Seul.

Os pais de Joon ainda são cristãos convictos, e ele acredita que sentiriam uma "tristeza profunda" se soubessem que ele não era mais cristão.

Ele não quer chatear os pais, então pediu para usar um nome diferente.

A experiência de Joon reflete as conclusões de um novo estudo do think tank americano Pew Research Center, que mostra que os países do Leste Asiático apresentam uma das taxas mais elevadas tanto de pessoas que abandonam quanto de pessoas que trocam de religião no mundo.

Mais de 10 mil pessoas foram entrevistadas sobre suas crenças, e muitas disseram que agora possuem uma identidade religiosa diferente daquela na qual foram criadas.

Países do Leste Asiático apresentam uma das taxas mais elevadas de pessoas que abandonam e que trocam de religião, segundo pesquisa (na foto, Seul) (GETTY IMAGES) |BBC

Hong Kong e a Coreia do Sul estão no topo da lista, com 53% dos entrevistados em cada país afirmando que mudaram sua identidade religiosa, incluindo abandonar completamente a religião.

Em Taiwan, 42% das pessoas mudaram de crença religiosa; e no Japão, 32%.

Para efeito de comparação, um levantamento de 2017 na Europa não encontrou nenhum país onde a taxa de mudança excedesse 40%.

Nos EUA, dados coletados em 2023 revelaram que apenas 28% dos adultos já não se identificam com a fé em que foram criados.

No Brasil, a taxa usada para comparação fica um pouco acima de 10%.

Para Joon, a mudança de perspectiva coincidiu com o momento em que saiu de casa e foi exposto a novas ideias.

Enquanto crescia, sua família "acordava todas as manhãs por volta das 6h, e todos liam e compartilhavam versículos bíblicos".

Todas as manhãs "era como um pequeno culto de devoção", relembra.

Ele saiu de casa aos 19 anos e começou a frequentar uma das maiores igrejas de Seul — uma megaigreja com milhares de membros.

Ela adotava uma interpretação muito literal da Bíblia, rejeitando, por exemplo, a teoria da evolução. Isso era incompatível com a teoria científica que Joon havia aprendido. Sua visão de mundo também mudou de outras maneiras.

"Acho que o Cristianismo tem uma noção muito clara de preto no branco, certo ou errado. Mas depois de observar a sociedade e conhecer pessoas de diferentes origens, comecei a pensar que o mundo consiste em mais zonas cinzentas."

Joon diz que cerca de metade dos seus amigos já não acredita na fé na qual foram criados, especialmente aqueles que foram criados como cristãos.

E não é só o cristianismo que está perdendo adeptos ao seu redor: 20% das pessoas que foram criadas como budistas já abandonaram a religião. Em Hong Kong e no Japão, esse percentual é de 17%.

Crianças monges sul-coreanas participando de evento no Templo Jogye em Seul (GETTY IMAGES) |BBC

Há pessoas na região que optam por adotar uma nova fé. Na Coreia do Sul, por exemplo, 12% dos cristãos eram recém-chegados à religião, enquanto os novos devotos do budismo representavam 5%.

Em Hong Kong, os novos adeptos do cristianismo e do budismo somavam 9% e 4%, respectivamente.

No entanto, o maior grupo entre aqueles que mudam sua identidade religiosa é formado por aqueles que não se identificam com nenhuma, e este número é mais alto nos países do Leste Asiático do que em outras partes do mundo.

No total, 37% das pessoas em Hong Kong e 35% das pessoas na Coreia do Sul disseram que esta era sua experiência, em comparação com 30% na Noruega ou 20% nos EUA.

Mas apesar do que parece ser uma crescente secularização, um grande número de pessoas em toda a região afirma que ainda participa de rituais e práticas espirituais.

Em todos os países pesquisados, mais da metade das pessoas sem religião disseram ter participado de rituais para homenagear seus antepassados ​​nos últimos 12 meses.

E a maioria das pessoas entrevistadas em toda a região afirma acreditar em deuses ou seres invisíveis.

Nada disso surpreende Se-Woong Koo, especialista em estudos religiosos em Seul.

Em conversa com a BBC, ele diz que a capacidade de adotar partes de diferentes religiões está em sintonia com a história da região.

"Historicamente falando, no Leste Asiático havia menos foco no que se poderia chamar de identidade religiosa exclusiva. Se você fosse taoísta, isso não significava que não pudesse ser budista ao mesmo tempo ou confucionista. Estas fronteiras eram muito menos claramente demarcadas do que no Ocidente."

O catolicismo está perdendo fiéis em países asiáticos (GETTY IMAGES) |BBC

Só no século 19, após o aumento do contato e das interações com o Ocidente, que o conceito de religião que temos hoje foi levado para o Leste Asiático.

E ser capaz de adotar múltiplas identidades e tradições foi algo que nunca desapareceu na região, explica Koo.

Ele também viu isso de perto. O especialista afirma que sua mãe mudou de religião em diversas ocasiões.

"No fim de semana passado, ela se registrou como membro de uma Igreja Católica na nossa região. E eu tinha certeza de que ela iria para lá no domingo."

Mas então ela disse a ele que, na verdade, estava "indo para uma sessão de oração e cura" em uma igreja evangélica local.

Koo perguntou: "O que aconteceu com a Igreja Católica, mãe?"

E ela respondeu que, naquele momento, precisava "mais de cura do que qualquer outra coisa".

Sua mãe "queria ir para a Igreja Católica porque ela costumava ser católica. Mas de alguma forma, quando se trata de receber um tipo específico de intervenção física que ela acredita precisar, ela recorre a outra tradição".

 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

NAZARENO: "Estive com fome, preso, nu..." (Aquilo pelo qual seremos julgados) (48)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 48 - "Estive com fome, preso, nu..." (Aquilo pelo qual seremos julgados)

Na noite daquela terça-feira, 4 de abril, Pedro, Tiago, João e André, depois de terem jantado, não tinham vontade de dormir. Eles o alcançam. Conta-lhes a parábola das virgens prudentes, que, ao contrário das insensatas, tinham estocado óleo para as lâmpadas e estavam vigiando enquanto esperavam o noivo que as levaria para o casamento.

Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora.

Nem o dia nem a hora...

Contou outra parábola, para nos lembrar mais uma vez que os dons recebidos devem ser colocados na prática, "negociados", frutificados.

Quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória. E serão reunidas em sua presença todas as nações e ele separará os homens uns dos outros... Então dirá o rei aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e vieste ver-me’. Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando é que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e te servimos?’ Ao que lhes responderá o rei: ‘Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes’. Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. Fui forasteiro e não me recolhestes. Estive nu e não me vestistes, doente e preso e não me visitastes’. Então também eles responderão: ‘Senhor, quando é que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos?’. E ele responderá com estas palavras: ‘Em verdade vos digo: todas as vezes que o deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer’. E irão estes para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.

Os quatro apóstolos olham uns para os outros em silêncio enquanto Jesus ergue o olhar para o céu por alguns instantes. Eles haviam entendido o significado do mandamento do amor. Pedro diz sussurrando: "Então seremos julgados por isso? Será essa a porta para entrar em seu reino?". Jesus olha nos olhos do apóstolo: “Sim, Pedro... tudo o que fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”.

O frio tornava-se intenso, e do fogo que haviam acendido restavam apenas brasas. Jesus se levanta e, olhando para os seus amigos, diz: "Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado”.

Enquanto isso, em Jerusalém, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo congregaram-se no pátio do Sumo Sacerdote, que se chamava Caifás, e decidiram juntos que prenderiam a Jesus por um ardil e o matariam.

A decisão foi tomada. Jesus de Nazaré deve ser condenado à morte....

 https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/07/04/15/138106840_F138106840.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O que acontece com o cérebro quando rezamos (2)

Alguns especialistas dizem que o relacionamento com nossos cuidadores pode ter um efeito sobre como vemos outros relacionamentos, incluindo aquela que temos (ou não) com um deus (GETTY IMAGES)

O que acontece com o cérebro quando rezamos

28 junho 2024

Relação com Deus

Para algumas pessoas que crescem em ambientes fortemente religiosos, o relacionamento com um deus pode refletir nas relações emocionais com pessoas do entorno, disse à BBC o pesquisador Blake Victor Kent, sociólogo do Westmont College, na Califórnia.

"A oração pode ser benéfica, mas você tem que levar em conta diferentes fatores, especialmente como você se conecta com Deus emocionalmente."

Blake era pastor e hoje estuda o impacto que a religião tem na vida das pessoas.

"Se você vem de um ambiente onde há dificuldade em confiar nos outros, rezar com certeza será mais difícil para você."

Para entender o que ele diz sobre Blake, devemos falar sobre a teoria do apego, da psicologia: é a ideia de que a relação que os seres humanos têm com seus cuidadores primários define o tipo de relacionamento que eles terão no futuro.

A teoria diz que se você teve um cuidador presente e confiável quando criança, com certeza formará laços adultos "seguros". Se teve um cuidador inconsistente, como Blake, será difícil estabelecer relações de confiança quando adulto – a confiança é fundamental para o desenvolvimento da fé. Isso pode tornar muito difícil para alguns gerar um relacionamento íntimo com Deus e, se vivem em um ambiente muito religioso, podem se sentir culpados por não serem capazes de desenvolvê-lo.

"Para mim", diz Blake, "rezar parece vazio, arriscado, incerto".

Blake se define como uma pessoa ansiosa que sofreu muito durante sua carreira como pastor porque sentia que havia algo que ele não fazia bem quando rezava.

"E acho que o mesmo acontece com muitas pessoas em congregações religiosas, o que as faz sentir que estão fazendo algo errado ou que Deus está chateado com elas", quando rezam e veem que não obtêm os mesmos resultados que todos ao seu redor.

Embora ter uma relação de insegurança com Deus possa ser prejudicial, Blake diz que entender de onde essa insegurança vem pode ajudar. Além disso, os vínculos podem ser modificados por meio da psicoterapia, algo que pode ser positivo para a saúde mental de maneira geral.

Atividades criativas

Alguns especialistas dizem que o relacionamento com nossos cuidadores pode ter um efeito sobre como vemos outros relacionamentos, incluindo aquela que temos (ou não) com um deus (GETTY IMAGES)

Segundo o neurocientista Andrew Newberg, sua pesquisa revela que há outros tipos de momentos em que as imagens do cérebro são notavelmente semelhantes às da oração profunda em ressonâncias magnéticas.

"Houve estudos muito interessantes de músicos muito bem treinados que, quando começam a improvisar, diminuem a atividade de seus lobos frontais, e é quase como se a música chegasse até eles da mesma forma que certas pessoas sentem que Deus vem até elas", disse ele.

"A criatividade pode ser uma prática profundamente espiritual para muitas pessoas, tenham elas uma vida religiosa ou não. E acho que as duas coisas estão relacionadas, porque o cérebro não tem uma área designada apenas para religião."

Newberg explica que os centros emocionais de nossos cérebros são estimulados por meio de experiências transcendentais, seja falando com Deus ou ouvindo a Nona Sinfonia de Beethoven.

"E, claro, com práticas religiosas e espirituais está mais do que provado que funcionam, se considerarmos a enorme quantidade de tempo que têm sido usadas por humanos e como elas persistem para além de mudanças políticas ou tradições culturais."

Depois de ouvir os especialistas, Hillary disse à BBC que consegue entender melhor suas experiências e como elas se relacionam umas com as outras.

"Consigo reconhecer que tenho uma experiência parecida, mas diferente, através de todas essas atividades. Quando eu rezo, tenho uma conexão com Deus. Mas quando eu canto e tenho uma sensação semelhante, é uma conexão com a música."

"Posso dizer que tanto quando falo com Deus, quanto quando canto com o coral, sinto como algo espiritual."

Esta é uma adaptação do programa Crowdscience da BBC, apresentado por Caroline Steel e produzido por Jo Glanville. O episódio original pode ser ouvido aqui.

Fonte: https://www.bbc.com/

No túmulo de Paulo, as origens do cristianismo romano

Junto do túmulo de Paulo, rumo ao Jubileu (Vatican Media)

Uma laje romana com a inscrição “Paulo apostolo mart”; uma área de sepultamento de uma grande comunidade cristã; pesquisas científicas recentes indicam um homem vivido entre os séculos I e II; os restos mortais encontrados dentro de um sarcófago de mármore bruto. Estes são os dados materiais que atestam a presença do Apóstolo dos Gentios sob o altar da Basílica de São Paulo fora-dos-muros. Um local rico em fé, história e mistério.

https://youtu.be/6F2awGyyl3g

Paolo Ondarza – Città del Vaticano

Início dos anos 2000. Surge um interesse renovado em torno da figura de Paulo de Tarso. Sensacionais descobertas trazem à luz o mais antigo retrato do Apóstolo dos Gentios nas Catacumbas Romanas de Santa Tecla, sucessivamente um sarcófago de mármore bruto sob o altar papal da Basílica que remonta ao autor das treze epístolas do Novo Testamento.

Nave central da Basílica São Paulo fora-dos-muros (Vatican Media)

Reconhecimento científico

A confirmação foi dada com profunda emoção no dia 29 de junho de 2009, durante as Primeiras Vésperas de encerramento do Ano Paulino, por Bento XVI. Naquela ocasião, o então Pontífice comunicou os resultados da detalhada análise científica realizada no túmulo, dois mil anos depois do nascimento de Paulo: uma sonda especial introduzida no sarcófago revelou traços de um precioso tecido de linho de cor púrpura, laminado com ouro puro, de uma pano azul com filamentos de linho, grãos de incenso vermelho e de substâncias proteicas e calcárias. Também foram identificados pequenos fragmentos ósseos, submetidos a testes de carbono 14 realizados por especialistas, que desconhecem a sua origem, mas remontam a uma pessoa que viveu entre os séculos I e II. “Isto parece confirmar a tradição unânime e indiscutível de que estes são os restos mortais do apóstolo Paulo”, comentou Bento XVI.

Uma reprodução da laje acima da tumba (Vatican Media)

Um túmulo nunca aberto

Quinze anos depois desse anúncio, fomos ao túmulo acompanhados pelo padre Lodovico Torrisi, mestre de noviços da Abadia de São Paulo fora-dos-muros, dirigida desde o século VIII por monges beneditinos. “O túmulo nunca foi aberto - explica ele - porque as vibrações para retirar a tampa, o contato com a luz e o oxigênio poderiam destruir, desintegrar, o que restava do corpo de Paulo”.

O sarcófago de São Paulo (Vatican Media)

Aos pés do altar, sob o maravilhoso tabernáculo criado em 1285 pelo famoso escultor Arnolfo di Cambio, são visíveis as pedras do sarcófago trazidas à luz em 2006 pelos pesquisadores. Uma pequena chama arde continuamente, dia e noite, para indicar a sacralidade do local. Ao lado, é claramente visível uma urna de bronze e vidro contendo a corrente da prisão romana do Apóstolo, presente na basílica desde o século IV e levada em procissão para o interior da Sala a cada 29 de junho, Solenidade dos Santos Pedro e Paulo.

A chama paulina colocada nas proximidades do túmulo e das correntes do apóstolo Paulo (Vatican Media)

Através de uma grade é possível ver, abaixo do nível do pavimento, uma laje de mármore composta por duas peças, medindo 2,12 x 1,27 metros. Nela se destaca a inscrição PAULO APOSTOLO MART e possui três orifícios: um redondo e dois quadrados. Remonta aos séculos IV-V e testemunha o culto que passou a existir no local desde as suas origens, antes ainda da construção de uma igreja. Os orifícios tinham a função de obter relíquias de contato, ou seja, tiras de tecido que eram inseridas até tocarem o túmulo.

A laje de mármore com a inscrição PAULO APOSTOLO MART (Vatican Media)

Martírio fora dos muros

“A decapitação de São Paulo - continua o padre Lodovico Torrisi - ocorreu muito perto do local da sepultura. A cerca de quatro quilômetros da Basílica, nas Acque Salvie, onde hoje está a Abazia delle Tre Fontane (Abadia das Três Fontes). Paulo foi conduzido até este local após ser retirado do Cárcere Marmetino, onde foi mantido prisioneiro. Os historiadores ainda não entenderam por que o martírio ocorreu ali." Foi decapitado fora das Muralhas Aurelianas, em um local caracterizado pelo ar insalubre, perto da Via Ostiense entre 65 e 67, sob o imperador Nero.

A Abadia delle Tre Fontane (Três Fontes) (Vatican Media)

As Três Fontes

Ao cair no chão, a cabeça saltou três vezes e, segundo a tradição, três fontes surgiram milagrosamente nesses três pontos: a primeira quente, a segunda morna, a terceira fria. No caminho que acompanha lateralmente a abadia trapista, foi reconstruído em tempos bastante recentes um pavimento semelhante aos da Roma Antiga, para recordar o caminho percorrido pelo Santo antes da sua execução.

Uma inscrição em mármore na fachada da Igreja de San Paolo al Martirio, construída no século V e renovada em 1599 pelo arquiteto Giacomo Della Porta, e parte do complexo da abadia, diz: “S. Pauli Apostoli martyrii locus ubi tres fontis mirabiliter eruperunt”. No interior do templo são claramente visíveis três edículas construídas sobre cada uma das fontes, alinhadas à mesma distância, mas em níveis diferentes. Desde 1950, na sequência da urbanização e da consequente poluição do aquífero, o fluxo de água foi interrompido, com o fim de sua distribuição aos fiéis.

A igreja do martírio de São Paulo nas Três Fontes (Vatican Media)

A espada

Tendo sido preso pelos judeus, Paulo chegou a Roma no ano 61 para ser julgado como cidadão romano. Nascido judeu com o nome de Saulo, gozava da cidadania romana como todos os habitantes de Tarso, sua cidade de origem, na Cilícia, ao sul da atual Turquia. Tendo se mudado para Jerusalém, tornou-se um homem de confiança do Sinédrio e mais tarde um feroz perseguidor dos cristãos. No caminho para Damasco, em 36, ocorreu sua conversão.

A conversão de Paulo no afresco da Capela Paulina, obra de Michelangelo (Vatican Media)

“São Paulo – observa padre Ludovico – é representado com a espada para indicar como defendeu a Palavra de Deus. Por defender o Evangelho morreu então por uma espada, em uma morte atroz, como um valente lutador”.

A coluna do martírio em Tre Fontane (Vatican Media)

As cabeças de Pedro e Paulo

“Diz-se que depois da decapitação uma matrona romana cristã cuidou do corpo, colocou-o num sarcófago e foi sepultado na Via Ostiense”, acrescenta o padre Torrisi. Segundo narrativas que chegaram até nós, esta mulher chamava-se Lucina: a três quilômetros das Acque Salvie era proprietária de uma sepultura dentro de um cemitério pagão que tinha cerca de 5 mil túmulos. Escavações confirmaram a existência desta necrópole com nichos funerários e sepulturas para os pobres e escravos libertos. A cabeça de Paulo foi encontrada em um segundo momento e está preservada acima do tabernáculo da Basílica de São João de Latrão junto com a de Pedro, sepultado nas Grutas do Vaticano. Segundo o Martirológio Romano, os dois foram mortos no mesmo dia.

Uma das edículas construída em Tre Fontane (Vatican Media)

Os seus restos mortais também estão ligados porque durante as perseguições ambos estiveram abrigados nas Catacumbas de São Sebastião, como documentado por alguns grafites e ex-voto encontrados no sítio arqueológico da Via Appia. Posteriormente, os restos mortais dos dois santos padroeiros de Roma foram levados de volta aos seus cemitérios originais.

Às origens da Igreja de Roma

O local da sepultura de Paulo tornou-se imediatamente um destino de peregrinação para os fiéis que aqui vinham rezar e em homenagem ao Santo construíram uma cella memoriae. Desde os primeiros anos, numerosos batizados decidiram ser sepultados nas redondezas e a necrópole pagã foi gradualmente transformada em cristã.

O claustro da Abadia de São Paulo fora-dos-muros (Vatican Media)

“Muitos escolheram por colocar o próprio túmulo perto daquele do Apóstolo”, recorda o abade beneditino, mostrando-nos as numerosas epígrafes em latim, grego e hebraico afixadas nas paredes do claustro da Abadia de São Paulo fora-dos-muros, concebido e decorado por Pietro Vassalletto.

O lapidário no claustro de São Paulo fora-dos-muros (Vatican Media)

“Durante os diversos trabalhos de reconstrução, escavação ou reforço das fundações, foram encontrados muitos artefatos arqueológicos, túmulos pagãos e cristãos. Provavelmente eram pessoas de certa posição social. O cristianismo romano nasceu precisamente nesta área." Entre os artefatos mais valiosos encontrados nesta zona em 1838 destaca-se o Sarcófago Dogmático, do século IV, hoje conservado nos Museus Vaticanos.

Sarcófago dogmático, mármore branco, 325-250, encontrado em 1838 nas fundações do baldaquino de S.P aolo fora-dos-muros.; na Basílica até 1854. © Museus do Vaticano (Vatican Media)

As três Basílicas

Sancionada a liberdade de culto em 313 DC. com o Edito de Milão, o imperador Constantino quis honrar dignamente a memória do Apóstolo dos Gentios, monumentalizando o local da sua primeira sepultura com uma Basílica em 324, cuja base ainda hoje é visível aos pés do altar papal. O corpo do Santo foi primeiro fechado em um caixão de cobre. O templo, inicialmente não muito grande, foi posteriormente ampliado pelos imperadores Teodósio, Arcádio e Valentiniano II, tornando-se assim uma basílica de grandes dimensões, com cinco naves conhecida como "Teodósia" ou "dos três imperadores".

Tabernáculo de Arnolfo di Cambio (Vatican Media)

As obras-primas que sobreviveram ao incêndio

Entre os séculos XII e XIII, ali trabalharam grandes personalidades artísticas como Pietro Cavallini, cujos afrescos infelizmente foram perdidos, e Arnolfo di Cambio, autor do cibório que sobreviveu, juntamente com o valioso candelabro para o Círio Pascal de Vassalletto, ao devastador incêndio que em julho de 1823, em uma única noite, destruiu a Basílica Teodósia.

Detalhe do candelabro para o Círio Pascal (Vatican Media)

O incêndio e a reconstrução

As causas do incêndio são desconhecidas, alguns atribuem-no a uma tocha que talvez tenha sido deixada por descuido pelos operários que trabalhavam na reparação do telhado. No dia seguinte à catástrofe, os romanos foram em massa ver o que restava da igreja. O cenário era desolador e comovente. Testemunha excepcional, o escritor francês Stendhal descreveu-o como “um dos maiores espetáculos” já vistos: “Tive uma impressão de beleza severa, tão triste quanto a música de Mozart. Os dolorosos e terríveis vestígios do desastre ainda estavam vivos; a igreja ainda estava cheia de vigas fumegantes, meio queimadas; os fustes das colunas, fendidos em todo o seu comprimento, ameaçavam cair a qualquer momento.”

Em 25 de janeiro de 1825, com a Encíclica “Ad plurimas”, Leão XII lançou um apelo aos fiéis para a reconstrução do templo: será reconstruído de forma idêntica, reaproveitando as peças salvas do incêndio para preservar a tradição cristã do origens e, consagrada por Pio IX em 10 de dezembro de 1854. Em São Paulo fora-dos-muros ganhou corpo naqueles anos o mais impressionante canteiro de obras da Igreja de Roma do século XIX. A Basílica que resultou deste trabalho é exatamente aquela que se apresenta aos nossos olhos hoje.

São Paulo e os fiéis de todos os lugares

Não só os católicos, mas o mundo inteiro respondeu em massa ao apelo de Leão XII: blocos de malaquite e lápis-lazúli foram doados pelo czar Nicolau I, tal como colunas e janelas de alabastro muito fino vieram do rei Fouad I do Egito. Paulo de Tarso foi assim confirmou naquela ocasião como ponto de referência universal para crentes e gentios.

Evocativos da coralidade das pessoas reunidas em torno deste gigante do cristianismo são os painéis de mármore nas paredes da ábside onde estão gravados os nomes dos numerosos cardeais e bispos presentes no dia da consagração. Estavam em Roma para a proclamação do Dogma da Imaculada Conceição. Celebraram juntamente com o Sucessor de Pedro, simbolicamente sob o olhar de todos os Papas da história retratados em mosaicos nos grandes medalhões que decoram as naves da Sala.

A capa do L'Osservatore Romano do dia em que João XXIII comunicou aos cardeais a sua intenção de convocar o Concílio Vaticano II (Vatican Media)

O apóstolo da unidade cristã

Como se sabe, o apostolado de Paulo estendeu-se dos judeus a todos os povos: na Arábia, na Ásia Menor, Macedônia, Chipre e Grécia, fundou numerosas comunidades cristãs. Emblemática das andanças do Apóstolo dos Gentios é a relíquia do cajado utilizado durante as suas viagens, conservada no Museu da Basílica Romana.

A relíquia do cajado de São Paulo (Vatican Media)

“Paulo é venerado pela população mundial, tanto cristã como não-cristã - observa padre Lodovico Torrisi. Ele é uma figura fundamental para a unidade dos cristãos”.

Celebrações e eventos ecumênicos são realizados na Basílica. Episódios e objetos particularmente significativos deste ponto de vista estão ligados a este lugar. Ali, no apartamento do Abade, no dia 25 de Janeiro de 1959, João XXIII anunciou aos cardeais a sua intenção de convocar o Concílio Ecumênico Vaticano II.

As correntes do Apóstolo na Basílica de São Paulo fora-dos-muros (Vatican Media)

Além disso, em 2006 Bento XVI realizou o desejo de São João Paulo II de doar dois elos das correntes do Apóstolo dos Gentios ao Patriarca de Atenas Christodoulos.

A Porta Santa da Basílica de São Paulo fora-dos-muros (Vatican Media)

São Paulo e o Jubileu

Finalmente, no caminho para a plena comunhão entre os cristãos, um lugar de destaque é ocupado pela Porta Santa da Basílica de São Paulo, que será aberta no dia 5 de janeiro:

Detalhe da Porta Santa (Vatican Media)

“Tem um valor muito importante. Foi construída em Constantinopla e doada em 1070. Originalmente foi colocada na entrada principal. O fogo danificou-a, reduzindo o seu tamanho. Foi assim transferida para uma entrada lateral. Em vista do Jubileu – conclui padre Ludovico – esperamos que fiéis, peregrinos e turistas de todo o mundo vivam aqui uma bela experiência de profunda conversão e fé, de união e de encontro com o Senhor por meio do testemunho do Apóstolo Paulo”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Antônio Maria Zacarias

Santo Antônio Maria Zacarias (A12)
05 de julho
Santo Antônio Maria Zacarias

Antônio Maria nasceu em 1502 em Cremona, Itália, na nobre família Zaccaria. Seu pai faleceu quando tinha dois anos, e sua mãe recusou outros casamentos para se dedicar totalmente a ele. Desde pequeno era muito inteligente, e caridoso, sendo comum voltar do colégio sem seu manto de lã, que dera a algum mendigo.

Com 18 anos, decidiu deixar tudo o que seria sua herança com a própria mãe (que por toda a vida aceitou a solidão de modo a não atrapalhar a vocação do filho), indo estudar Filosofia em Pávia, e posteriormente Medicina em Pádua, onde se doutorou. Durante este tempo levou vida austera, simples e humilde, afastando-se das turbulências comuns à vida universitária. Já formado e tendo abandonado as roupas luxuosas, trocadas por vestes simples, dedicou-se a tratar principalmente dos mais necessitados, curando as doenças físicas mas também oferecendo conforto e esperança com a palavra de Deus. Por fim, em 1528, decidiu tornar-se sacerdote, mudando-se para Milão.

Fundou nesta cidade, com o auxílio de Tiago Morigia e Bartolomeu Ferrari, a Congregação dos Clérigos Regulares de São Paulo, cujos membros ficaram conhecidos como “barnabitas”, porque a primeira Casa da Ordem foi construída ao lado da igreja de São Barnabé. Posteriormente, fundou a Congregação Feminina das Angélicas de São Paulo, auxiliado pela condessa de Guastalla, Ludovica Torelli, e o Grupo de Casais para os leigos.

A ideia destas fundações era a verdadeira reforma dos religiosos e leigos, naquele momento em grande decadência moral, em oposição à mal denominada “Reforma” protestante do herético Lutero (este não fez qualquer reforma no Catolicismo, pois uma reforma mantém as bases e corrige os erros; Lutero simplesmente criou outra religião, na medida em que pretendeu mudar ou eliminar, não reformar, os próprios fundamentos do Catolicismo, como a Eucaristia e demais Sacramentos, o entendimento da Bíblia, a noção de santidade, etc.).

Antônio foi assim um dos líderes da chamada (também inadequadamente) Contrarreforma, que uniu vários santos da Igreja no preparo do famosíssimo Concílio de Trento (1545-1563), fundamental para o esclarecimento dos erros dos protestantes e da afirmação das verdades da Doutrina e da Liturgia Católica. Outra dificuldade da época combatida por Antônio foi a ideia de incompatibilidade entre Fé e ciência, atualmente também em voga e de novo refutada pela Igreja (por exemplo na Encíclica de São João Paulo II Fides e Ratio, “Fé e Razão”: tanto a Fé quanto a Razão, e por consequência a Ciência que dela se desenvolve, vêm de Deus, e não podem por isso estar em oposição, pois Deus não age contra Si mesmo).

Foi um grande promotor da devoção eucarística, e por isso instituiu as hoje muito conhecidas 40 horas de Adoração ao Santíssimo Sacramento como eficaz exercício espiritual. Propunha-se igualmente a tocar os sinos da igreja diariamente às 15h00, em homenagem e recordação ao momento da morte de Jesus na Sua Paixão.

Em 1539, contraiu uma epidemia numa das suas numerosas missões de pregação e oração, e sendo médico, soube que não resistiria a ela. Voltou então para a casa materna, onde nascera, para aí nascer para a vida definitiva no Paraíso. Faleceu com menos de 37 anos nos braços da sua mãe terrena, despertando nos braços da Mãe do Céu.

 Santo Antônio Maria Zaccaria é considerado o pioneiro da Pastoral Familiar na Igreja Católica.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O resumo de toda a obra de Santo Antônio Maria Zaccaria é a reforma, verdadeira reforma, que corrige sem mudar a essência, do comportamento do clero e dos leigos, reaproximando-os dos legítimos preceitos cristãos. Nada mais atual. No seu caso, ele o fez pelo exemplo de vida, pelo ensino da sã Doutrina e pelo esclarecimento dos erros. Para nós, nada mais atual… Ele teve boa fé e razão de protestar contra as heresias, nós vemos hoje a heresia de se protestar sem razão contra a fé boa. É hora de tocarmos os sinos das nossas consciências e nos braços de Nossa Senhora acordarmos para os seus avisos em Fátima, 1917. Se o luteranismo deu início a uma inaudita fragmentação dos cristãos, em grupos cada vez mais numerosos e com cada vez menos seguidores ao longo do tempo, as ideias materialistas e ateístas das quais a Virgem Maria nos preveniu na Cova da Iria estão com mais seguidores em menos grupos cada vez mais unificados, e tais propostas, massificas na cultura em geral, exigem dos católicos o movimento de concílio de forças espirituais na santidade, para que seja sim reformada a realidade para a Verdade de Deus. Como bom médico, do corpo e da alma, Santo Antônio sabia identificar doenças e buscar a cura. A patologia mundana universal precisa, ontem, hoje e sempre, do divino Cura, em proporção católica. Busquemo-Lo com confiança, na certeza do Seu poder e bondade, pois “Eu venci o mundo” (Jo 16,33). E vamos encontrá-Lo na Adoração, meio eficaz daquela boa reforma individual e social, a medicação espiritual de quarentena (40, o número bíblico indicativo de preparação – 40 anos no deserto antes da chegada à Terra Prometida, 40 dias de oração antes da manifestação pública de Jesus…) em face da enfermidade materialista. Disse Santo Antônio Maria que “É próprio dos grandes corações dispor-se ao serviço dos outros e, sem recompensa, combater não em vista do pagamento”. Não apenas ele se pôs a serviço; sua mãe, em grande união de alma e coração com ele, aceitou uma vida de solidão para não atrapalhar sua vocação, o que foi para ela uma proposta de vida também santificante. “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem não toma a sua cruz e vem após Mim não é digno de Mim” (Mt 10,37). O peso desta cruz materna foi a densidade de um ambiente vazio. Porém rico de amor ao próximo, e por isso pleno de Deus. Apoiar os caminhos que o Senhor indica aos demais, mesmo que com ônus pessoal, é grande obra de caridade.

Oração:

Senhor Deus, que apascentas o Vosso rebanho com plena solicitude, concedei-nos por intercessão de Santo Antônio Maria Zaccaria realizar a sua proposta para a pastoral familiar, levando o Bom Pastor ao núcleo das sociedades: as famílias constituídas como Vos as criastes, de modo a reformar todo o orbe para vossa Adoração infinita num único povo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF