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quinta-feira, 11 de julho de 2024

São Bento de Nórcia

São Bento de Nórcia ( A12)
11 de julho
São Bento de Nórcia

A principal fonte sobre a vida de São Bento é o livro II dos “Diálogos” de São Gregório Magno, totalmente dedicado a ele. Bento nasceu por vota do ano 480 em Núrcia (Norcia, em Italiano), província de Perúgia, região da Úmbria na Itália central. Tinha uma irmã gêmea, Escolástica, também canonizada. Os pais provavelmente tinham boa condição social e financeira, e por isso Bento teve a oportunidade de ir estudar em Roma.

A época era difícil, de decadência, desagregação e confusão, pois todo o território do antigo Império Romano ainda sofria com as sucessivas invasões de variados povos bárbaros. Roma apresentava desorganização e mediocridade moral. Também na Igreja a situação era difícil, incluindo um cisma de três anos após a morte do Papa Anastácio II em 498, que foi seguida pela disputa entre Símaco, Papa legítimo, e Lourenço, antipapa. Neste ambiente, corrompido por barbárie e antiga cultura decante, ficou evidente para Bento que seus desejos de busca elevada e sobrenatural não poderiam ser alcançados.

De fato, mesmo moço, já tinha a personalidade sedimentada numa profunda maturidade: assim São Gregório se refere a ele, “Houve um varão de vida venerável, bento por graça e por nome, dotado desde sua mais tenra infância de uma cordura de ancião. Com efeito, antecipando-se por seus costumes à idade, jamais entregou seu espírito a qualquer prazer (…), desprezou o mundo com suas flores, como se estivessem murchas”.

Portanto abandonou os bens, a casa e os estudos, escolhendo viver na erma aldeia de Efide (atual Affile), a aproximadamente 50 km de Roma, nas montanhas de Sabina, em recolhimento e oração. Sua antiga governanta não se quis separar dele e o acompanhou, servindo-o nos afazeres domésticos.

Veio a ocorrer que esta mulher, por descuido, deixou cair e quebrar uma jarra de argila emprestada de uma vizinha. Bento a encontrou chorando pelo acontecido, e, compadecido, juntou os pedaços e rezou sobre eles, que se reconstituíram de forma perfeita. Este foi o primeiro milagre por sua intercessão, que logo lhe trouxe muita fama e popularidade; ele, que “desejava mais os desprezos que os louvores deste mundo” (São Gregório Magno), retirou-se, agora sozinho, para as montanhas de Subíaco.

Ali, por volta de 505, refugiou-se numa gruta, tendo antes encontrado com um monge chamado Romão (ou Romano) de um mosteiro próximo. Romão o ajudou baixando diariamente, por uma corda, o pão que durante certo tempo foi o único alimento do jovem eremita; também forneceu a Bento um hábito monástico.

Durante três anos, entregue à direção do Espírito Santo, viveu Bento, sofrendo muito as tentações do diabo. Em relação à pureza, em ocasião particularmente intensa, encontrou como recurso o expediente de, para não fraquejar, retirar as vestes e atirar-se nu nas moitas de espinhos e urtigas, nas quais arrastou-se, de modo que todo o corpo ficou ferido, e a dor substituiu o desejo. Depois do episódio, não mais foi tentado pela luxúria.

Estando com cerca de 30 anos, a comunidade de um mosteiro próximo, em Vicaro, insistiu para que ele se tornasse o abade. Estes monges, tíbios e insinceros, logo se arrependeram, pois Bento os queria conduzir para a perfeição, através da observância estrita da regra monástica e do dever, o que não desejavam; decidiram então matá-lo, colocando veneno no seu vinho.

Ao abençoar Bento a bebida, com o sinal da Cruz, o recipiente se quebrou, e o santo abade descobriu as suas intenções. Abandonando o mosteiro, Bento voltou para a sua gruta (conhecida depois como Sacro Speco, “gruta sagrada”, e que foi protegida para preservação com a construção do Mosteiro de São Bento na montanha de Subíaco).

Mesmo na solidão a sua fama de santidade se espalhou, e surgiram discípulos em número crescente. De Roma chegavam nobres varões, e filhos de muitos patrícios desejosos de que Bento os ensinasse e formasse. Entre eles estavam por exemplo os futuros São Mauro e São Plácido, importantíssimos na História da Ordem e da Igreja. Houve a necessidade de Bento fundar 12 mosteiros nas proximidades, no vale do rio Aniene, cada qual com 12 monges dirigidos por um abade sob sua supervisão.

Na prática, estava fundada assim a Ordem Beneditina. Em paz e harmonia, dedicando-se à oração e ao trabalho, a comunidade prosperava, e os milagres, a doutrina e santidade de Bento despertavam numerosas vocações.

Muitos foram os milagres de São Bento ali. Curou doentes, salvou pessoas de perigos, expulsou demônios, fez um monge andar sobre as águas, ressuscitou um menino morto. Um dos mais famosos foi ter feito brotar água de um ponto alto na montanha, para abastecer três dos mosteiros, cujos monges tinham grande dificuldade em subir e descer para consegui-la.

A fonte permanece abundante até hoje. Bento recebeu também o dom de saber o que se passava com os seus filhos espirituais, sem vê-los, à distância; assim pôde corrigir, por exemplo, dois monges que indevidamente tinham bebido e comido fora do mosteiro, e outro que, também indevidamente, aceitara um presente das monjas de um mosteiro próximo, ao qual Bento lhe mandara dar assistência espiritual.

Como é comum, tais maravilhas despertam inveja, e o pároco de uma igreja nas vizinhanças de Subíaco, de nome Florêncio, iniciou uma campanha de difamação dos beneditinos e seu abade, procurando afastar deles as pessoas. Não tendo sucesso, presenteou São Bento com um pão envenenado. Ora, todo dia o santo oferecia pão a um corvo que vinha na hora da refeição.

Bento ordenou-lhe que levasse o pão envenenado para longe, onde não pudesse fazer mal a ninguém, e assim aconteceu. Florêncio então tentou corromper os outros monges, fazendo entrar no quintal do mosteiro sete moças nuas para despertar a sua luxúria. Bento, sabendo que era ele próprio o motivo desta perseguição, resolveu ir embora com alguns poucos irmãos, depois de organizar a direção da comunidade. Florêncio contemplava satisfeito a partida do abade, sobre um terraço, quando só esta parte da construção ruiu, e o matou… São Bento, avisado, chorou pelo inimigo. A data aproximada era 529.

Bento chegou com seus companheiros a Cassinum, uma antiga vila fortificada romana, entre Roma e Nápoles. Reformando a fortaleza e o antigo templo pagão do lugar, transformou-os na célebre Abadia de Monte Cassino, de onde a Ordem Beneditina se espalhou por toda a Europa. Realmente foi a sua influência de comunidade verdadeiramente católica, de governo sábio e organizado, baseado nas diretrizes do Evangelho, que se tornou o exemplo iluminado para os costumes espirituais e materiais, tanto no âmbito público como no privado, de toda uma época, sendo igualmente referência para todos os tempos.

Um dos aspectos essenciais deste sucesso é a famosíssima Regra que São Bento aí escreveu (ao menos na sua redação atual) para os seus monges, um farol de sensatez, equilíbrio e sabedoria espiritual e prática, que permite “aos fortes progredirem a aos fracos não desanimarem”. É uma leitura obrigatória para todo católico, religioso ou leigo, que queira aprofundar e desenvolver a sua vida espiritual, sob o benefício da equidade.

Como esclarece o erudito bispo e teólogo Bossuet, do século XVII, a Regra de São Bento é “uma suma de cristianismo, um douto compêndio de toda a doutrina do Evangelho, de todas as instituições dos Santos Padres, de todos os conselhos de perfeição. Nela sobressaem eminentemente a prudência e a simplicidade, a humildade e o valor, a severidade e a mansidão, a liberdade e a dependência; nela a correção desdobra todo o seu vigor, a condescendência todo o seu atrativo, a autoridade a sua robustez, a sujeição a sua tranqüilidade, o silêncio a sua gravidade, a palavra as suas graças, a força o seu exercício, e a debilidade o seu sustentáculo”.

O seu objetivo é afastar do coração humano as trivialidades, facilitando a alma a elevar-se sem obstáculos a Deus, serena e permanentemente focando na vida infinita do Paraíso, e o seu modus operandi é o conhecido aforismo Ora et Labora, “reza e trabalha”, que harmoniza – na ordem certa – as atividades vitais do ser humano, a oração e a ação.

A obra civilizadora de São Bento e sua Regra foram a resposta de Deus ao caos do período, trazendo obediência e beleza, cultura e espiritualidade – os fundamentos da vida humana comunitária – para as sociedades medievais e posteriores.

Monte Cassino e São Bento passaram a ser procurados e visitados por bispos, abades, reis, príncipes, nobres, pessoas comuns, em busca de conselho, conforto, orientação e aprendizado. Da mesma forma, posteriormente, outros mosteiros beneditinos passaram a ser o centro de núcleos de civilização e progresso, em torno dos quais os países europeus fixaram as bases do seu desenvolvimento, que só é possível com paz e estabilidade.

Santa Escolástica, irmã gêmea de São Bento, promoveu o desenvolvimento do ramo feminino da Ordem. Encontravam-se anualmente numa casa pertencente ao mosteiro de Monte Cassino, relativamente próxima do mosteiro feminino. No ano de 547, sabendo que sua morte estava próxima, e tendo passado como sempre aquela data especial em elevada conversação com o irmão, Escolástica pediu que ele ali ficasse e tivessem ainda a noite para falar das coisas de Deus. Bento recusou energicamente, pois disciplinadamente queria passar a noite no mosteiro.

Ela então abaixou a cabeça, rezando por alguns momentos, e quando a ergueu de novo o tempo, límpido, transformou-se numa tempestade tão absurdamente violenta que água e raios impediam completamente que o abade e seus poucos monges acompanhantes saíssem da casa.

“— Que Deus Todo-Poderoso te perdoe, irmã! O que fizeste?

— Supliquei a ti e não quiseste atender-me. Roguei ao meu Senhor e Ele me ouviu. Agora sai, se podes, e regressa ao mosteiro…”

São Bento entendeu, e passaram a noite em vigília. Três dias depois, ele viu a alma da irmã, sob a forma de pomba, subir ao Paraíso. Mandou recolher o seu corpo e o sepultou no local que havia aprontado para si. Bento faleceu provavelmente no mesmo ano, 547, em 21 de março.

Tendo conhecimento do que ia acontecer, mandou preparar a sepultura ao lado da irmã com seis dias de antecedência. Logo foi tomado de febre, com a condição piorando rapidamente. No dia previsto, fez questão de ser levado ao oratório, onde, apoiado nos braços dos irmãos, recebeu a Santíssima Comunhão e morreu, de pé, com a alma erguida diante do Senhor.

Após sua morte, a Ordem Beneditina continuou a crescer, especialmente a partir da Abadia de Cluny, na França do século X: chegaram estar subordinados a ela 17 mil mosteiros. Nações inteiras foram convertidas ao Catolicismo sob a influência beneditina; muitas e famosas universidades, como Paris, Cambridge, Bolonha, Oviedo, Salamanca e Salzburgo tiveram origem a partir de colégios beneditinos; mais de 30 Papas adotaram sua Regra; incontáveis mártires, cardeais, bispos, santos, discípulos, partilharam e partilham desta espiritualidade.

São Bento é o Fundador e Patriarca do monaquismo do Ocidente, e primeiro Patrono da Europa, atualmente junto com santos Metódio e Cirilo e santas Brígida, Catarina de Sena e Tereza Benedita da Cruz.

 Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Absolutamente notável é a vida e a figura de São Bento, bem como a sua obra. Claro, muitos são os santos que tiveram vidas e missões particularmente excepcionais, e também com obras imensas. O alcance do que fez e o legado que deixou é que o torna um destaque mesmo entre eles. O equilíbrio da Regra Beneditina, de profundíssima espiritualidade a par com um bom senso “divinamente humano”, e uma praticidade chã e elevada ao mesmo tempo a torna verdadeiramente acessível a potencialmente qualquer um, religioso ou leigo. É uma receita de santidade palpável e universal, uma solução direta às aspirações do “como viver”, e bem, do ser humano. Tem, neste sentido, a catolicidade da própria Igreja. Sua própria vida incluiu harmoniosamente milagres estrondosos e a mais normal rotina de oração, trabalho, estudo, lazer e descanso, dando exemplo da maior elevação espiritual em todos os aspectos que compõem a vida humana, de forma simples e realmente praticável, tanto individual quanto comunitariamente. Isto de fato é tão inusitado quanto grandioso: as vidas e obras de outros gigantes de santidade não apresentam todos estes aspectos juntos. São conhecidos muitos que passaram por exemplo por experiências, místicas ou humanas, de exigência extrema, grandes taumaturgos, grandes doutores, grandes missionários, grandes penitentes…uma lista incontável; mas o aspecto individualíssimo das suas vivências, situações e desdobramentos na vida dos povos e da Igreja, principalmente considerando todos os aspectos em conjunto, não abarca ou pode incluir na sua proposta de santidade um número tão grande de almas como é possível pela espiritualidade beneditina. Não quer dizer que todos tenham gosto, propensão, vocação específica para ela, mas sim que ela pode de alguma forma ser praticada por qualquer um, porque é maleável o suficiente para se adaptar a circunstâncias diferentes, sem perder o conteúdo. Traz sempre um equilíbrio acessível. E isto, em outras palavras, é possibilitar que se torne individual a salvação universal de Cristo, num mesmo âmbito de comunhão: a própria essência da unidade na diversidade desejada pela Igreja.

Oração:

“Escuta, filho, os preceitos do mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa eficazmente o conselho de um bom pai para que voltes, pelo labor da obediência, Àquele de Quem te afastaste pela desídia da desobediência. A ti, pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando às próprias vontades, empunhas as gloriosas e poderosíssimas armas da obediência para militar sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei” (Início do Prólogo da Regra de São Bento). Ó Deus de amor e sabedoria, concedei-nos que, por intercessão de São Bento, como ele reformemos a dura fortaleza e antigo templo mundano da nossa própria alma, pela vivência humilde da regra de Salvação que nos destes na Palavra da Vossa Igreja, ouvindo e obedecendo ao Mestre a Quem queremos voltar. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

 Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 10 de julho de 2024

As lições da experiência de um acampamento

Acampamento (Crédito: Revista Direcional Escola)

AS LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA DE UM ACAMPAMENTO

Dom Antônio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

De modo geral, a experiência dos acampamentos juvenis, de caráter pastoral, gera uma profunda atração nos jovens; para que possamos compreender esse fenômeno é necessário considerarmos a realidade que vivem milhões de jovens atualmente, sobretudo no contexto urbano das grandes cidades.   

Os jovens urbanos, respeitando a variedade de contextos, estão de modo geral, cada vez mais confinados em suas estruturas domésticas e tem pouca experiência de amizades e interação social; sentem-se movidos pela forte atração e ou dependência tecnológica, que os levam ao distanciamento do divertimento coletivo e a viverem uma vida artificializada, distantes da natureza. Sentem forte estresse nas relações familiares, oprimidos para terem bons resultados nos estudos e muitos vivem solitários na família. Fenômenos como a drogadição, a automutilação, o vazio existencial, a criminalidade são consequências de muitos fatores. No último acampamento do qual participei um jovem me disse: “isto para mim é uma espécie de experiência de paraíso!”  

 Os jovens e a experiência do acampamento  

O Setor Juventude da Arquidiocese de Belém promoveu o III Acampamento Juvenil Arquidiocesano nos dias 04-07 de julho (2024) para jovens de 15 a 29 anos. Vale a pena recordarmos os números dos participantes e refletir sobre eles: no I Acampamento (2022) participaram 470 jovens; no II 1170 e no III 1672. Essa significativa expressão numérica crescente nos convida à reflexão. Uma pergunta é inevitável: por que os jovens gostam desse tipo de evento?  

Antes de tudo, porque eles estão de férias; isso significa que o dinamismo da pastoral juvenil deve levar em conta também a disponibilidade de tempo dos jovens; o tempo de férias dos jovens nos oferece a possibilidade da pastoral juvenil planejar e oferecer-lhes atividades pastorais extraordinárias. Em muitos ambientes décadas atrás, era comum a promoção das colônias de férias; houve uma crise dessas atividades, mas se sente hoje a necessidade da reproposição delas. A sensibilidade pastoral e pedagógica da catequese deve também saber servir-se dos tempos de férias das crianças e dos adolescentes. 

Os jovens gostam da experiência do acampamento porque a sua programação não está presa à rotina do cotidiano, mas lhes oferece experiências extraordinárias de novas aprendizagens através de atividades festivas, lúdicas, esportivas, culturais, religiosas; a atratividade dos acampamentos nos fala da necessidade de levarmos em conta a sensibilidade juvenil nas nossas propostas pastorais; isso se refere à linguagem, modos de relacionamento, tempos de atenção, ambientes educativos… A psicologia juvenil exige da pastoral juvenil uma visão mais aberta, dinâmicas criativas, metodologias ativas e envolventes, encontro com a natureza; gostam porque os jovens apreciam o desafio da adaptabilidade, da ação conjunta e competitiva e estão abertos a aprendizagem através de novas experiências.  

 Interessantes referências bíblicas 

Na Bíblia encontramos muitas referências sobre acampamentos; de modo particular encontramos duas categorias: há os acampamentos estratégicos enquanto agrupamento de combatentes em tempos de guerra e os acampamentos enquanto ambiente de convivência de um processo de deslocamento e libertação. Assim Abraão respondendo positivamente ao chamado de Deus, pôs-se a caminho rumo a Terra Prometida, parando “de acampamento em acampamento” (cf. Gn 12,9). Essa mesma dinâmica encontramos também no processo de saída do Egito. O processo libertário após a travessia do Mar Vermelho aconteceu também através de etapas, passo a passo, pouco a pouco, de acampamento em acampamento, atravessando territórios; algumas vezes na amizade com povos diferentes, outras vezes em graves conflitos.  

A experiência do acampamento com as tendas no deserto, são metáforas da nossa existência humana, porque movidos pela fé, estamos em busca da pátria eterna. Neste mundo tudo é provisório e, por isso, não temos estruturas definitivas, mas somente tendas. A imagem da tenda e do acampamento nos chama a atenção para a consciência da provisoriedade da vida neste mundo e para a necessidade do olhar para frente porque estamos caminhando e não devemos nos apegar a nada que nos impeça de chegar ao santuário celeste nossa pátria definitiva. De fato, é isso que nos diz a Carta aos Hebreus: movidos pela fé, confessamos que somos estrangeiros e peregrinos sobre a terra e estamos a caminho da nossa pátria definitiva (cf. Hb 11,13-14). Estamos acampados neste mundo e a qualquer momento nossa tenda pode ser desfeita! 

O acampamento nos apresenta a ideia de que a nossa vida de fé não é uma corrida imediatista, instantânea, isolada, mas é uma experiência comunitária, que implica fases e processo de amadurecimento com seus desafios, tentações, conquistas, conflitos e perdas. No deserto, apesar da grande preocupação de Moisés e seus colaboradores com a higiene física, moral e religiosa dos acampamentos, também neles aconteciam coisas desagradáveis (cf. Ex 32; Nm 14-16). No acampamento aparecem também as marcas das fragilidades humanas como em toda comunidade, sociedade e instituição. Em todas as dinâmicas humanas o “joio e o trigo” estão sempre presentes (cf. Mt 13,24-30).  

Mas o acampamento era sobretudo, lugar da experiência de Deus (cf. Gn 32,3; Dt 23,15); acompanhando os homens o acampamento se torna também a casa de Deus, ambiente das suas múltiplas manifestações. O acampamento é espaço no qual se manifesta a generosa bondade da Providência Divina que conforta, fortalece, alimenta o seu povo (cf.  Ex 16,13; Nm 11,9). O acampamento também é lugar de convocação, de chamada vocacional, de serviço e também de espaço para profecias (cf. Nm 11,26-27); o acampamento é lugar da experiência da convivência fraterna e da santidade (cf. Dt 23,15).  

O sentido bíblico do acampamento nos convida a pensar na vida de fé como peregrinação, processos, caminhada, desenvolvimento, esforço virtuoso para superar limitações e as tentações do estacionamento; o sentido bíblico do acampamento nos estimula a crescer na virtude da adaptabilidade encarando desafios, abraçando sacrifícios, acolhendo o novo, cultivando o otimismo, conservando a liberdade, reforçando a vida fraterna. 

Algumas questões importantes

A experiência da participação dos jovens no III Acampamento Juvenil Arquidiocesano (Belém) foi muito bem avaliado por seus participantes, colaboradores e nos ofereceu alguns dados dignos de reflexões para a pastoral juvenil.   

·         A qualidade de um evento pastoral depende primordialmente da seriedade e da clareza do seu projeto e da sintonia de todos os seus colaboradores envolvidos; 

·         Não basta assegurar a qualidade técnica de um evento pastoral é necessário que haja uma forte dimensão socioafetiva, motivação, diversidade de conteúdos e experiências, leveza na programação, articulação de lideranças, ousadia pedagógico-pastoral;  

·         Não basta movimentos, é necessário dar tempo para a escuta, meditação e oração, por isso é de extrema importância a disponibilidade do maior número possível de confessores e orientadores (psicólogos) antenados com a psicologia juvenil; o acampamento também é espaço para a experiência da orientação espiritual, do discernimento moral, de tomadas de decisão, conversão, provocação vocacional, estímulo ao sentido da vida. 

·         É bom que o acampamento seja uma experiência aberta a todos e não somente para os bonzinhos, porque tem como finalidade a promoção da formação humana e da evangelização; essa abertura propicia a participação de jovens de outras Igrejas e são muitos os jovens evangélicos que estão buscando amparo na Igreja Católica em processo de conversão.  

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Você já participou de algum acampamento, como foi a experiência? 

Por que, muitas vezes, temos medo de ousar pastoralmente? 

Como podemos crescer na propositividade pastoral em relação ao tempo de férias do nossos adolescentes e jovens?  

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Alma sacerdotal, Alma de Cristo

Crédito: Opus Dei

Alma sacerdotal, Alma de Cristo

Todas as manhãs, no início do dia, podemos dizer ao Senhor que queremos que o dia também seja para ele, que lhe oferecemos nossas vidas, nossos corações, nosso trabalho... Esta oferta é possível porque cada cristão tem uma alma sacerdotal.

19/01/2012

Uma das perguntas daquele catecismo que em alguns lugares servia para preparar as crianças para a Primeira Comunhão era: para que Deus fez os homens? A resposta era simples e fácil de memorizar: "Deus criou os homens para que O amemos e obedeçamos na terra e sejamos felizes com Ele no céu".

Aí está a essência do nosso destino na terra. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica atual explicita, porém, um aspecto importante: "o homem foi criado para conhecer, servir e amar a Deus, para lhe oferecer neste mundo toda a criação em ação de graças e para ser elevado à vida com Deus no céu" (1).

Pertence, na verdade, ao sentido geral da criação do homem, ao seu chamado à existência, o dirigir a Deus toda sua atividade e oferecer toda a criação em ação de graças. De certo modo, uma vez que Deus a associou à sua obra criadora, toda a atividade humana deve ter por objetivo cooperar e refletir a bondade e a beleza da ação de Deus. «Criado à imagem de Deus, o homem recebeu o mandato de governar o mundo em justiça e santidade, submetendo a si a terra e o que ela contém, e orientar a própria pessoa e o universo inteiro para Deus, reconhecendo Deus como o criador de tudo»(2).

“UMA VEZ QUE DEUS A ASSOCIOU À SUA OBRA CRIADORA, TODA A ATIVIDADE HUMANA DEVE TER POR OBJETIVO COOPERAR E REFLETIR A BONDADE E A BELEZA DA AÇÃO DE DEUS”.

Mas, após o pecado original, essa tarefa de colaboração com o projeto divino encontrou um obstáculo intransponível: a falta de retidão do coração do homem. Como narra a Bíblia, ao invés de cooperar com Deus na construção do cosmos, estávamos comunicando-lhe nossa própria desordem, estávamos construindo um mundo egoísta. Então, por sua grande misericórdia, Deus enviou seu Filho para recolocar novamente na criação a retidão de vida, a justiça de coração, as palavras e ações que Lhe agradaram realmente. E nós, os cristãos fomos associados a essa obra de redenção prevista por Deus eternamente. O sacrifício e a graça de Cristo nos devolveram para Deus e fizeram possível que nossas obras pudessem cooperar na salvação das criaturas.

O espírito do Opus Dei enfatiza essa chamada a cooperar com Cristo no trabalho criador e redentor. Além disso, propõe um caminho específico: realizar com perfeição o trabalho de todos os dias, o trabalho ordinário, a vida familiar, as relações sociais. Oferecer a Deus o ordinário de cada dia, a vida corrente, até chegar a reconhecer Sua presença em mil pequenos detalhes.

Isso exige uma disposição interior profunda: o desejo sobrenatural de servir a Deus no que fazemos, de levar a Ele as pessoas com quem nos relacionamos, de glorificá-Lo e, para isso, de livrar-nos das misérias que têm as suas raízes no pecado. É como um sedimento que a ação do Espírito Santo vai deixando gradualmente na alma com a nossa correspondência; uma maneira de ser que procede de Cristo e nos liga ao seu Sacerdócio.

A alma sacerdotal é característica de todos os cristãos, pois, pelo Batismo, nós somos constituídos sacerdotes da nossa própria existência (...), para fazer cada uma das nossas ações no espírito de obediência à vontade de Deus (3). Por conseguinte, todas as manhãs, no início do dia, dizemos ao Senhor que queremos que o novo dia seja também para Ele, oferecemos-Lhe nossas vidas, nossos corações, nosso trabalho, todo o nosso ser.

ESTABELECIDA NA GRAÇA

Podemos agradar a Deus e fazer com que nossas obras reflitam a caridade e a bondade divinas, não em virtude do nosso mérito, mas pela graça de Cristo que nos torna justos por dentro. Porque, como disse São Paulo, o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (4).

Por esse motivo, a alma sacerdotal nasce do alto (5), da nossa condição de filhos de Deus: estende no cristão a vida de Cristo, eterno sacerdote. Atuar com alma sacerdotal exigirá superar-se com frequência e exceder os limites de dedicação e do esforço que parecem razoáveis; exigirá ignorar ou resolver dificuldades causadas pela natureza ou pelas circunstâncias, porque vemos que algo convém para a glória de Deus ou o bem do nosso próximo; exigirá encontrar o tempo necessário para fazer o bem, ou superar o medo de não ser capaz de fazê-lo.

Temos de exercitar-nos diariamente nesse ponto, procurando obter pequenos êxitos, expandindo a generosidade com algum pormenor, evitando desânimos ao verificar que não pudemos ou não conseguimos; é assim que poderemos dar uma base cada vez mais profunda à nossa vida interior. A nossa generosidade e a nossa correspondência nunca nos parecerão suficientes se olharmos para esse objetivo que está sempre além: se olharmos no espelho da vida de Jesus.

A alma sacerdotal de Cristo é bem apresentada na breve declaração sobre o significado da sua vinda: o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (6). É como se, nestas palavras, Jesus tivesse querido expressar a sua disponibilidade de exceder todo limite a fim de livrar muitos dos pecados e dar-lhes vida, para que o Pai seja glorificado com a salvação dessas pessoas.

Nesta terra, fora Jesus, a única pessoa de que podemos ter certeza de não ter nunca dito “basta” é a Virgem, guiada pelo seu desejo de ser em todas as circunstâncias a serva do Senhor. Ela acompanhou Jesus crucificado mais do que nenhuma outra pessoa, e o Senhor a associou ao seu sacerdócio de um modo especialíssimo e superior ao dos outros homens.

Santa Maria pôde exercer a alma sacerdotal com tal perfeição pela sua particular plenitude da graça do Espírito Santo. Não podemos, portanto, contemplar seu exemplo com visão meramente humana: inundar-se-ia nossa imaginação com a dificuldade que tanta renúncia e sacrifício supõem; julgaríamos que esse caminho é impossível para nós e nos conformaríamos com buscar, consciente ou inconscientemente, caminhos mais confortáveis.

“NESTA TERRA, FORA JESUS, A ÚNICA PESSOA DE QUE PODEMOS TER CERTEZA DE NÃO TER NUNCA DITO «BASTA» É A VIRGEM”.

A liturgia da Igreja disse do Espírito Santo – que nos foi dado – que é o «Pai dos pobres, Doador de dons, Luz dos corações» (7). Se formos fiéis e confiarmos nEle, obteremos também todos seus dons: «o prêmio da virtude, a realidade da salvação, a alegria perene» (8). E, assim, encher-nos-ão de alegria todas as ocasiões de exercitar a alma sacerdotal. Precisamente quando custar, sentiremos inexplicavelmente uma alegria maior, que procede de dentro, dessa fonte de água que salta até a vida eterna (9).

COMMUNICATIO CHRISTI

Tenhais entre vós, diz são Paulo, os mesmos sentimentos que teve Jesus Cristo (10). O Evangelho deixa-nos ver frequentemente muito dos desejos e do modo de pensar do Senhor. Percebe-se que o primeiro lugar de sua alma é sempre para Deus Pai: consome-lhe o desejo de fazer o que pede que o Pai, devora-lhe o zelo pela casa de Deus... Um zelo que se manifestou quando sentiu no Templo a imperiosa necessidade de ocupar-se das coisas de seu Pai. Anos mais tarde, afirmaria que essa Vontade era a substância do seu viver, seu alimento, e que sentia verdadeiras ânsias de ver cumprido o plano divino (11).

Empurrado por este desejo, Nosso Senhor Jesus desejava profundamente a conversão dos homens, que se abrissem ao amor de Deus, à caridade uns com os outros. Podia descobrir nos corações essa sede de felicidade, acorrentada muitas vezes pelas correntes do pecado: Zaqueu, a samaritana, a adúltera, são testemunhos eloquentes.

As necessidades humanas, a indigência e a dor comoviam profundamente seu Coração amabilíssimo. A ressurreição de seu amigo Lázaro, da filha de Jairo – um dos chefes da sinagoga –, do filho da viúva da Naim; a miséria daqueles leprosos, do cego de nascimento, da hemorroíssa enferma e arruinada.

Cristo apreciava a pureza do coração das crianças, a humildade da cananeia, a nobreza de seus discípulos. Sentia profundamente a amizade dos seus, a alegria de vê-los crescer na fé e de compartilhar seus afãs. Vós sois, disse-lhes: os que ficaram ao meu lado nas minhas tribulações... (12). Doer-Lhe-ia profundamente a traição de Judas, a apostasia daqueles que o abandonariam, a perseguição de seus inimigos. Jesus chorou ante o destino duro que Lhe aguardava em Jerusalém.

A alma de Cristo atrai-nos porque nela encontramos as principais manifestações da alma sacerdotal que todo cristão deve possuir, participação daquela vontade de Redenção que levou Jesus morrer por nós na Cruz. A alma sacerdotal leva a cumprir, em todo momento, a Vontade divina, oferecendo-se a Deus Pai, em união com Cristo, graças ao Espírito Santo; é ter, no nosso coração, sentimentos que o Espírito Santo deposita, que é, como dizia Santo Irineu, communicatio Christi, comunicação de Jesus, transmissão da sua intimidade, dos seus pensamentos e afãs que se fazem cada vez mais nosso. «A Igreja é morada do Espírito Santo, quer dizer, a comunicação de Cristo» (13).

Na oração, fomentamos nossos desejos de que isso aconteça. Com frequência, ajudar-nos-á a leitura do Evangelho, colocando empenho em ser um personagem a mais em cada cena e fixarmo-nos em Jesus, no que Ele quer nos comunicar, no que leva em seu coração. Ainda que talvez tenhamos de começar dizendo-Lhe que estamos com poucas idéias, ou frios, ou insensíveis..., ou rogando-Lhe que nos conceda ao menos aqueles desejos de ter desejos de santidade, que São Josemaria insistia em pedir. Se o fizermos com humildade, é certo que estamos solicitando o melhor, o Senhor terá compaixão de nossa pobreza, premiará nossa fé e realizará milagres em nós: seu poder divino, que transformou a vida dos personagens que aparecem no Evangelho, imprimirá em nossa alma Seus sentimentos redentores.

E assim, olhando o mundo, as pessoas, a nossa vida, com os olhos que Cristo nos concede, vamos pedir-Lhe humildemente que nos ajude a acertar, a fazer o que Lhe agrada, a servir-Lhe nas tarefas que nos ocupam, a levar-Lhe as pessoas que nos rodeiam sem medo de desgastarmo-nos.

“A ALMA SACERDOTAL CONSISTE EM TER OS MESMOS SENTIMENTOS DE CRISTO SACERDOTE, BUSCANDO CUMPRIR EM TODO MOMENTO A VONTADE DIVINA”.

Nos momentos de oração – e sempre em nossa vida – voltemos nossos olhos para Maria, nossa Mãe, e lhe peçamos que estas ambições santas cresçam impetuosamente no coração de todos os cristãos, que nos deixemos transformar pela Alma de Cristo para chegar, assim, a ser verdadeiramente conforme à imagem de seu filho, afim de que ele seja primogênito entre muitos irmãos (14).

R. Ducay

* * *.

1. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 67.

2. Conc. Vaticano II, Const. Past. Gaudium et Spes, n. 31.

3. São Josemaria, É Cristo que passa, n. 96.

4. Rm 5, 5.

5. Cfr. Jn 3, 3.5

6. Mc 10, 45.

7. Sequência Veni Sancte Spiritus.

8. Ibid.

9. Jn 4, 14

10. Flp 2, 5.

11. Cfr. Jn 4, 34; Lc 12, 49-50.

12. Lc 22, 28.

13. Santo Irineu de Lyon, Adversus haereses, III, 24, 1.

14. Rm 8, 29.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Papa: proibir armas autônomas letais e proteger a dignidade humana

Francisco envia mensagem a líderes religiosos reunidos em Hirochima (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Francisco envia mensagem a encontro de líderes religiosos em Hiroshima, no Japão, que visa promover o desenvolvimento ético da inteligência artificial. O grupo assinou o "Apelo de Roma por uma Ética da IA", iniciativa elogiada pelo Papa já que "somente juntos podemos construir a paz, graças também a tecnologias ao serviço da humanidade e no respeito de nossa casa comum”.

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco lançou uma mensagem na manhã desta quarta-feira (10/07) na rede social X em referência às palavras dirigidas a representantes religiosos do mundo inteiro reunidos em Hiroshima, no Japão, desde terça-feira (09/07): são mais de 150 participantes de 13 diferentes nações e 11 as religiões representadas no Encontro "Ética da Inteligência Artificial para a Paz".

“Os líderes das religiões do mundo assinaram em Hiroshima o Apelo de Roma por uma Ética da IA. Somente juntos podemos construir a #paz, graças também a tecnologias ao serviço da humanidade e no respeito de nossa casa comum.”

apelo foi lançado pela Pontifícia Academia para a Vida em fevereiro de 2020, juntamente com a Microsoft, a IBM, a FAO e o governo italiano. O documento visa fomentar uma abordagem ética da IA e promover, entre as organizações, governos e instituições, um sendo de responsabilidade compartilhada, a fim de moldar um futuro em que a inovação digital e o progresso tecnológico estejam a serviço da genialidade e da criatividade humanas, preservando e respeitando a dignidade de cada indivíduo, bem como a do planeta.

O grupo de líderes religiosos em Hiroshima, então, assinou o apelo conjunto em favor de um uso ético da IA em favor da paz e para proteger a dignidade humana, reforçando a mensagem do Pontífice ao recordar que "a inteligência artificial e a paz são dois temas de absoluta importância", como teve a oportunidade de enfatizar também aos líderes políticos do G7 na cúpula de 14 de junho na cidade italiana de Borgo Egnazia. Em discurso pronunciado no painel sobre IA naquela ocasião, Francisco alertou sobre a importância estratégica de uma escolha que pode afetar a vida de muitas pessoas: "a máquina faz uma escolha técnica", enquanto que "o ser humano, pelo contrário, não só escolhe como, no seu coração, é capaz de decidir". Assim, "devemos ter bem claro que a decisão deve ser sempre deixada ao ser humano, mesmo sob os tons dramáticos e urgentes com que, às vezes, se apresenta na nossa vida". E o Papa continua a mensagem ao encontro de Hiroshima, reforçando a reflexão já feita ao G7:

"Condenaríamos a humanidade a um futuro sem esperança se retirássemos às pessoas a capacidade de decidir sobre si mesmas e sobre as suas vidas, obrigando-as a depender das escolhas das máquinas. Precisamos garantir e proteger um espaço de controle significativo do ser humano sobre o processo de escolha dos programas de inteligência artificial: está em jogo a própria dignidade humana." 

Os participantes do encontro na cidade japonesa de Hiroshima (Vatican Media Divisione Foto)

O encontro na simbólica Hiroshima

O Papa destaca a "importância simbólica" do encontro ser realizado em Hiroshima para se falar sobre inteligência artificial e a paz, já que foi uma das duas cidades atingidas por bombas atômicas no final da II Guerra Mundial, em 1945, num momento histórico de uso de armas nucleares durante uma guerra e contra alvos civis. E, já que "em meio aos atuais conflitos que abalam o mundo" se ouve falar dessa tecnologia, o evento que termina nesta quarta-feira (10/07) é de "extraordinária importância", reitera o Pontífice, ao acrescentar:

“Ao elogiar essa iniciativa, peço que mostrem ao mundo que, unidos, exigimos um compromisso proativo para proteger a dignidade humana nesta nova temporada de uso das máquinas.”

A proibição das armas letais autônomas

Ao finalizar a mensagem aos representantes religiosos, Francisco reforça sobre a capacidade de união dos líderes mundiais no compromisso a uma "gestão sábia da inovação tecnológica" e reza "para que cada um de nós possa se tornar instrumento de paz para o mundo". E, como fez à cúpula do G7, o Papa também insiste aos participantes do encontro de Hiroshima sobre a proibição de armas letais autônomas:

"É fundamental que, unidos como irmãos, possamos lembrar ao mundo que: num drama como o dos conflitos armados, é urgente repensar o desenvolvimento e o uso de dispositivos como as chamadas 'armas autônomas letais', a fim de banir a sua utilização, começando desde já pelo compromisso efetivo e concreto de introduzir um controlo humano cada vez mais significativo. Nenhuma máquina, em caso algum, deveria ter a possibilidade de optar por tirar a vida a um ser humano."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Érico

Santo Érico (A12)
10 de julho
Santo Érico

Santo Érico (em Sueco, Erik den helige, Erik Jedvardsson, Sankt Erik), filho de um nobre chamado Jedvard, nasceu na cidade de Uppsala, província de Uppsala, a leste da região de Svealand, no centro-sul da Suécia. Em 1150 foi eleito rei desta província, enquanto que no resto do território sueco reinava Suérquero I. Com o assassinato deste, em 1156, Érico tornou-se soberano de todo o país, e fundou a Casa de Érico, uma das dinastias reais suecas.

As suas principais ações governamentais estão relacionadas ao aspecto religioso católico. Facilitou a evangelização do reino, atuando ele mesmo como missionário na conversão de pagãos; terminou a construção da Igreja da Velha Uppsala e a consagrou; enviou Henrique de Uppsala (na verdade de nacionalidade inglesa), bispo, santo e mártir, para cristianizar a Finlândia, em 1155.

Esta iniciativa permitiu o catolicismo e a regência sueca neste país até o século XIX, dentro do espírito da época, ou seja, não o de governo tirânico, mas de evangelizar. Além disso dirigiu sabiamente a Suécia, e defendeu os direitos das mulheres.

Assistia à Missa diariamente. No dia da Ascensão do Senhor, 18 de maio de 1160, saindo da igreja de Velha Uppsala, foi abordado e derrubado do cavalo por vários homens, que o mataram com espadas e punhais. Acredita-se que os assassinos eram ligados à Casa de Suérquero, em busca de retomar o controle do país.

Entre os milagres atribuídos a Érico está a da fonte que surgiu no local onde seu sangue foi derramado, provavelmente correspondente à de Slottkäla, próxima à Catedral de Uppsala. O rei e mártir ficou conhecido como "o Santo", "o Legislador", "Érico Jedvardsson" ou "Santo Érico". É o padroeiro da Suécia e de Estocolmo, capital do país; o escudo de armas desta cidade apresenta a sua efígie. Sua festa é citada também para o dia 18 de maio.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O reinado, ou governo da nossa vida, deve ser de Cristo e para Cristo. Só assim conquistaremos territórios de santidade, promovendo o verdadeiro bem dos irmãos, particularmente aqueles pelos quais somos diretamente responsáveis. A ambição pelos meros poderes e bens terrenos fazem com que assassinemos Aquele que é o soberano legítimo da nossa alma, caindo do que nos transporta a Deus para nos trespassar rasteiramente com as lâminas do pecado. O pecado nos afasta da fonte de água viva que brota a partir do sangue do Salvador, presente unicamente no Seu Corpo Místico, a Igreja Católica; o pecado nos impede de acessar a fonte que nos salva; o pecado nos faz separar-nos do Corpo a que pertencemos. E sair da Igreja é morrer. Sábio é não desejar o controle das nações, mas o serviço da Pátria Celeste. O que nos trará a nobreza verdadeira, e a única que importa, a do espírito, é colocar no nosso brasão a efígie de Cristo.

Oração:

Senhor Deus, Rei do Universo e Rei dos Reis, por intercessão de Santo Érico concedei a todos os homens a vassalagem ao Vosso divino Coração; e a todos os que governam neste mundo a graça da permanente conversão, para se conduzirem, e levar aos que conduzem, somente para Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 9 de julho de 2024

Em um dia 9 de julho como hoje o Império Otomano perpetrou um massacre contra cristãos

Massacre do Império Otomano contra cristãos maronitas (Crédito: Cléofas)

Hoje (9) é recordado um dos massacres de cristãos mais cruéis da história contemporânea, no qual morreram mais de 20 mil fiéis em Damasco, Sìria, pelas mãos do Império Otomano.

No contexto da guerra civil de 1860 no Monte Líbano, que começou no norte como uma rebelião dos camponeses maronitas contra os drusos e cuja luta se espalhou e terminou na cidade de Damasco, ocorreu um dos massacres de cristãos mais cruéis da história contemporânea, com o apoio de autoridades militares, soldados turcos, grupos drusos e grupos paramilitares sunitas.

O terrível ato de violência durou três dias, de 9 a 11 de julho; no entanto, o dia 9 de julho é lembrado como a data mais sangrenta, quando milhares de cristãos foram mortos e muitas igrejas, conventos, escolas missionárias e vilas inteiras foram destruídas e queimadas. O massacre terminou com a fuga de milhares de pessoas e a ocupação da Síria por um exército francês.

No livro chamado Santoral de Galicia: Cincuenta Semblanzas Hagiográficas o historiador José Ramón Hernández Figueiredo, doutor em História Eclesiástica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e especialista em Arquivística pela Escola de Paleografia, Diplomática e Arquivística da Cidade do Vaticano, explicou a razão do terrível massacre contra os cristãos. Além disso, coletou importantes dados e testemunhos dos cristãos que sofreram o ataque.

"Na paz de Paris, assinada em 30 de março na Crimeia, a assembleia francesa exigiu certas reformas do Império Otomano, principalmente no que diz respeito à tolerância das minorias cristãs", disse Hernández.

"Como naquele ano, o sultão emitiu um decreto pelo qual todos os súditos do império tinham os mesmos direitos em impostos e ocupação de cargos públicos, os maometanos ficaram indignados já que consideravam os cristãos como 'guetos' de raças inferiores excluídas da lei durante doze séculos", explicou.

Nesse sentido, o conflito culminou no terrível massacre "porque o governador de Beirute [capital do Líbano], Pasha Khursud, havia incitado muçulmanos na Síria a tal ponto que a revolta começou em Bait Mari, devido a um litígio entre um druso e um jovem cristão maronita”.

Segundo narra o historiador, "as primeiras vítimas ocorreram nos povoados maronitas do centro e sul do Líbano, com quase 6 mil cristãos sendo mortos, mutilados ou abusados". Em seguida, no meio da manhã de 9 de julho, "os drusos chegaram a Damasco durante a vigília do Ramadã e começaram o assassinato de cristãos".

Durante o terrível ato, “o bairro cristão de Arat-el-Nassara foi atacado, com suas 3.800 casas e os conventos europeus de jesuítas, Paulinos, Filhas da Caridade e Franciscanos. As vítimas do crime atingiram, em três dias, o número de cerca de três mil mortos”, afirmou.

Infelizmente, "o governador, Pasha Ahmed, não impediu a matança"; no entanto, "o emir argelino Abb-al-Kadar, um grande defensor do Islã, deu asilo a 1.500 cristãos, incluindo alguns europeus".

Entre os refugiados estavam religiosos jesuítas, paulinos, Filhas da Caridade e Franciscanos; no entanto, eles não deixaram o convento e foram torturados por uma violenta multidão de beduínos e metolanos, explicou Hernández.

“Os franciscanos foram objeto de ludibrio e escárnio, atormentados com o facão dos beduínos e com as baionetas dos turcos. Cada assassinato era recebido com imensa alegria por aquela multidão, ansiosa por exterminar", afirmou.

Hernández disse que os criminosos primeiro "pretendiam que renunciassem à fé cristã e prestassem culto a Alá e seu profeta Maomé. Como eles se recusavam, ofereceram-lhes riquezas. Como se recusaram novamente, entregaram-lhes ao martírio. Todos morreram naquele instante”, com exceção de dois sacerdotes, que morreram no dia seguinte, entre os quais o padre Engelbert.

O beato padre Engelbert "manifestou seu amor sem limites pela religião de seus pais, ‘opondo-se de forma decidida e tenaz a pisar na cruz do Redentor, protestando em língua árabe contra os atos de selvageria dos partidários de Maomé presenciados por ele, suportando e perdoando como Deus manda perdoar os inimigos da Igreja'”, concluiu.

Segundo os dados do historiador, no início de 1860 havia 30 mil cristãos e 140 mil muçulmanos em Damasco. Atualmente, a Igreja Católica reconhece um número significativo de santos e beatos mártires por causa do terrível massacre ocorrido.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF