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quarta-feira, 17 de julho de 2024

'Meu pai se matou, e hoje sou padre e especialista em suicídio' (3)

Pe. Lívio | VITOR SERRANO/BBC NEWS BRASIL

'Meu pai se matou, e hoje sou padre e especialista em suicídio'

Author, Mariana Alvim

Role, Da BBC News Brasil em São Paulo

Twitter,@marianaalvim

28 fevereiro 2024

*Esse texto é o primeiro da série "Suicídio & Fé" da BBC News Brasil, que abordará nas próximas semanas o tabu religioso com o suicídio, com foco nas religiões com mais adeptos no Brasil. Acompanhe as publicações no nosso site e redes sociais.

Suicídios de padres

Desde 2016, Licio voltou a conviver mais de perto com notícias de mortes por suicídio: ele tem se dedicado a fazer um levantamento detalhado de padres que tiraram a própria vida.

Licio afirma que os dados de mortes entre sacerdotes são ainda mais alarmantes do que na população geral.

Para isso, o especialista compara a média de mortes de padres que ele registrou em relação ao total de padres no Brasil com a taxa de mortes por suicídio na população brasileira — embora esses números não resultem de uma mesma metodologia.

De acordo com os dados mais recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, houve 8 suicídios para cada 100 mil habitantes no Brasil.

Em 2022, Licio registrou 5 suicídios de padres. Considerando que o país tinha naquele ano cerca de 21,8 mil padres, segundo a Comissão Nacional de Presbíteros, isso daria aproximadamente 23 suicídios a cada 100 mil padres.

De 2016 a 2022, o pesquisador contabilizou um total de 33 mortes de padres por suicídio, com média de 4,7 por ano.

Os anos em que mais mortes foram registradas foram 2017 e 2021, com 10 suicídios de padres cada um.

Licio reúne esses dados a partir de informações divulgadas por dioceses, pela imprensa ou por fontes da internet.

As dioceses, segundo ele, estão cada vez mais publicando a causa da morte quando há um suicídio comprovado, embora ainda haja muito "mistério" em torno desses dados.

O pesquisador conta que nunca passou pela situação de conhecer pessoalmente algum padre que tenha se matado, mas diz que já foi procurado por dois amigos padres que pediram ajuda por questões de saúde mental, a quem Licio recomendou tratamento psicológico e psiquiátrico.

Mesmo não conhecendo pessoalmente os padres que se mataram, Licio diz que se sente abatido ao documentar as mortes de colegas.

"Por exemplo, um caso de um padre jovem. Isso me impacta porque é alguém que tem uma vida pessoal e uma vida no sacerdote inteira pela frente. Sempre me impacta", desabafa.

Licio afirma que a escolha do sacerdócio "não imuniza" os padres de lutas internas e desafios pessoais.

Licio Vale se dedica desde 2016 a contabilizar mortes de padres por suicídio/ VITOR SERRANO/BBC NEWS BRASIL

Licio Vale se dedica desde 2016 a contabilizar mortes de padres por suicídio/ VITOR SERRANO/BBC NEWS BRASIL

Há particularidades dessa ocupação que afetam a saúde mental, aponta Licio, como o excesso de trabalho, a solidão e a cobrança excessiva.

"A vida do padre é muito mais complicada do que a gente imagina", ele diz.

"Vou te fazer uma pergunta: onde você vai passar o Natal de 2030? Se eu estiver aqui na paróquia em 2030, às 18h vou ter uma missa numa comunidade e às 20 horas eu tenho missa aqui. Eu já tenho compromisso assumido para daqui a sete anos."

O padre afirma que a solidão é outro fator de risco grande para o suicídio no clero, principalmente os diocesanos — que estão vinculados a uma diocese e não a uma ordem religiosa, como os franciscanos e beneditinos.

"Um padre às vezes mora sozinho na casa paroquial, fica longe da família, tem poucos amigos verdadeiros que gostem da pessoa e não do padre", diz Licio.

"E a gente se cobra em termos de sermos coerentes com aquilo que pregamos, com aquilo que vivemos. O povo nos cobra posturas, comportamentos. A própria Igreja nos cobra posturas e comportamentos."

Licio alerta que o número de suicídios entre padres pode ser muito maior por conta da subnotificação — a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que, para cada morte por suicídio confirmada, há provavelmente mais de 20 tentativas.

A reportagem também buscou dados sobre suicídios entre líderes religiosos — não só católicos — a partir do DataSUS, sistema mantido pelo Ministério da Saúde, mas especialistas consultados afirmaram não ser possível obter informações confiáveis com esse recorte.

A BBC News Brasil procurou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para obter um posicionamento oficial da Igreja Católica no Brasil sobre o cuidado com a saúde mental de padres e a doutrina acerca do suicídio de forma geral.

A CNBB respondeu que não foi encontrado bispo "com disponibilidade para atender à demanda".

Segundo a OMS, mais de 700 mil pessoas morrem a cada ano por suicídio no mundo.

'Fala de culpabilização ligada à religião pode causar muita dor'

De acordo com a organização, a ligação entre suicídio e distúrbios mentais — notadamente a depressão e o alcoolismo — já foi bem demonstrada, mas esse tipo de morte também ocorre após crises pontuais, como términos de relacionamentos e problemas financeiros.

Taxas de suicídio tendem a ser maiores também em cenários de abuso, violência, desastres e vulnerabilidade social — como entre refugiados e migrantes, prisioneiros e pessoas LGBTQIA+.

Um outro estudo, publicado na revista científica The Lancet Regional Health Américas, calculou que, entre 2011 e 2022, a taxa de suicídios a cada 100 mil habitantes cresceu em média 3,7% ao ano no Brasil.

Em 2011, a taxa era de 5 por 100 mil, chegando a 7,3 por 100 mil em 2022.

Todas as regiões brasileiras tiveram aumento nas taxas. Entre jovens (10 a 24 anos), o crescimento foi de 6%, significativamente maior do que na população geral.

No mundo, considerando dados da OMS de 2019, a taxa média de suicídios foi de 9 por 100 mil habitantes.

Neste relatório, o Brasil aparece abaixo da média global, com 6,4 suicídios por 100 mil habitantes.

Brasil foi o 8º país na América do Sul com a maior taxa de suicídios em 2019

Taxa a cada 100 mil habitantes

Fonte: OMS, Estimativas Globais de Saúde de 2000-2019

A estimativa considera tanto homens como mulheres. Dados foram padronizados por idade: para facilitar comparação, um padrão de distribuição etária da população é aplicado para todos os países.

A psicóloga Karen Scavacini, fundadora e diretora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, afirma que as religiões — não apenas o catolicismo — podem ter um papel ambíguo na prevenção e na posvenção do suicídio.

"Os estudos mostram que [a religião] é um fator de proteção, e é, na maioria das vezes", diz Scavacini.

"Até o medo de ir para o inferno, de ir para o umbral, embora muitas religiões não falem mais sobre isso, pode fazer com que a pessoa não se mate. Então, acaba protegendo.”

A sensação de pertencimento a uma comunidade religiosa é outro fator protetor contra o suicídio, aponta a psicóloga.

"Quando a gente põe na balança, a espiritualidade tem um fator mais de proteção do que de risco, porém — e esse é o grande porém —, quando ela se torna um fator de risco, pode ser um risco importante."

Scavacini, que é doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que o tabu religioso pode ser danoso em vários estágios relacionados ao suicídio.

"Começando pela prevenção, o que a gente escuta de mais comum é a relação de vergonha quando uma pessoa está pensando em se matar", diz.

"Isso piora toda a situação, porque a pessoa pensa: 'Puxa, além de tudo, eu sou um pecador, porque eu estou pensando em me matar."

A psicóloga cita também casos de pessoas cuja sexualidade não é bem aceita em sua religião, o que agrava o quadro de saúde mental.

Também há aquelas que deixam de procurar ajuda especializada depois que "foram falar com o pastor, com o padre, e a resposta foi de que estava faltando Deus, que estava faltando oração, que psicólogo não resolvia nada, que o que resolve é a igreja".

"Há ainda o caso das pessoas que tentaram [se suicidar]. Então, entram as questões de pecado, de culpabilização, de falta de reza, de estar possuído, e isso de novo vai ser um fator de risco", diz Scavacini.

"Pode ser um gatilho, pode ocasionar um isolamento dessa pessoa da comunidade religiosa, que no geral é um fator de proteção."

A psicóloga lembra também dos enlutados, cenário em que a questão religiosa talvez se torne ainda mais "delicada".

Ela diz ser comum estas pessoas ouvirem, inclusive em velórios, que alguém que elas perderam para o suicídio vai para um lugar de sofrimento após a morte.

"O impacto da fala de um religioso para uma família enlutada é muito grande. O tabu religioso não está só na figura religiosa, ele está em toda uma sociedade."

"Para quem está de luto, que está buscando uma resposta, muitas vezes em choque, que pode estar naquela culpa que é própria do luto por suicídio, uma fala de culpabilização ligada a religião tem um peso muito grande e pode causar muita dor."

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*Caso seja ou conheça alguém que apresente sinais de alerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:

- O Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opção de conversa por chat, e-mail e busca por postos de atendimento ao redor do Brasil;

- Para jovens de 13 a 24 anos, a Unicef oferece também o chat Pode Falar;

- Em casos de emergência, outra recomendação de especialistas é ligar para os Bombeiros (telefone 193) ou para a Polícia Militar (telefone 190);

- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo telefone 192;

- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) 24h;

- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimento em saúde mental gratuito em todo o Brasil.

- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e grupos de apoio.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ceq4xl2ppqqo

S. LEÃO IV, PAPA

S. Leão IV, Basílica de São Paulo fora dos muros

17 julho

S. Leão IV, Basílica de São Paulo fora dos muros 

Sobre a vida do Papa Leão IV, sabemos que nasceu em Roma, mas era de origem lombarda. Seu pai chamava-se Ridolfo, mas não se sabe qual o nome que deu ao filho no Batismo. Contudo, era um homem de comprovada pureza e integridade interior: era monge do mosteiro beneditino de São Martinho, mas o Papa Gregório IV quis que estivesse ao seu lado, como parte integrante do clero romano. Assim, tornou-se Papa, em 847, por aclamação popular.

Desastres naturais e calamidades humanas

Quando iniciou seu Pontificado, a situação em Roma era bastante dramática: no ano anterior, ocorreu a invasão dolorosa dos Sarracenos. Por isso, a sua eleição foi rápida, sem esperar a aprovação imperial. O imperador não se importou porque, provavelmente, se sentia culpado por não apoiar a cidade contra os árabes. Porém, o que mais preocupou Leão IV foi uma série de desastres naturais: primeiro, um terremoto assolou Roma, fazendo desabar uma parte do Coliseu; a seguir, um incêndio destruiu a área do Burgo, poupando a vizinha Basílica de São Pietro, graças à intervenção espiritual do Papa. Este acontecimento foi imortalizado pelo artista Rafael, em um afresco conhecido como "O incêndio do Burgo", conservado no Museu do Vaticano.

Liga contra os Sarracenos

A ameaça dos Sarracenos voltou à gala. No entanto, Leão IV não foi preso de surpresa: desatendendo a estreita relação com o imperador, fez acordos com os soberanos dos Ducados vizinhos, como Amalfi, Gaeta, Nápoles e Sorrento. Assim, promoveu uma liga naval, depois denominada “Liga Campana”, liderada pelo napolitano, Cesário Consule, encarregada de defender os dois territórios: a Campânia e o Lácio. A ameaça ocorreu no verão de 849, quando na batalha, que passou para a história como “Batalha de Óstia”, os Sarracenos foram derrotados. Esta vez, o acontecimento também foi imortalizado em um afresco de Rafael, com o mesmo nome da batalha, mantido nas Salas do Museu Vaticano.

O "restaurador de Roma"

Entretanto, os empreendimentos, que levaram Leão IV a receber o título de "restaurador de Roma", foram outros. Avantajado pela sua capacidade espiritual, mas também pelos sentimentos de culpa do imperador, o Papa conseguiu obter de Lotário uma enorme soma de dinheiro para fazer várias reformas. A primeira e mais importante de todas foi a construção de uma muralha, mais extensa que a construída na época por Aureliano, que abrangia toda a colina do Vaticano. Seguiram-se as reformas das Basílicas de São Pedro e São Paulo, a fortificação do Porto marítimo e a reconstrução das antigas “Centumcellae”, na atual cidade de Civitavecchia, além de Tarquínia, Orte e Amélia. Mas o "restaurador" não parou: dedicou-se também à ajuda pessoal da população mais vulnerável, com a distribuição de gêneros alimentícios.

Concílios e Sínodos

Leão IV era, sobretudo, um pastor e, como tal, dedicou seu Pontificado à corroboração da disciplina do clero. Por isso, convocou dois Concílios especiais: o de Pavia, em 850, e o de Roma, em 853. Neste último, trabalhou com afinco para reafirmar a pureza da fé e os costumes do povo. No entanto, com o mesmo objetivo, multiplicaram-se os Sínodos em toda a Europa: em Mainz, Limoges, Lyon, Paris e Inglaterra. Durante os Concílios, foi resolvida a questão disciplinar sobre a excomunhão de Anastácio, Cardeal de São Marcelo, com ideia de antipapa, que, sem levar em conta os apelos do Pontífice, havia deixado a sua diocese para morar em outro lugar.

Relação com os soberanos cristãos

As relações entre Leão IV e o império não foram ruins, tanto que, no dia da Páscoa de 850, Lotário pediu-lhe para coroar seu filho Ludovico como imperador. Após cinco anos, porém, acontece alguma coisa que correu o risco de comprometer, seriamente, a estabilidade das relações bilaterais: Daniel, o magister militum do Império em Roma, acusou Graciano, comandante da milícia, muito próxima do Papa, de tramar um meio para aproximar o Papado e ao Império do Oriente. Então, Ludovico foi, pessoalmente, a Roma, para um confronto direto, do qual resultaram infundadas as acusações contra Leão IV. Desde então, foram muitos os soberanos dos reinos cristãos europeus a pedir para serem coroados pelo Pontífice, com o objetivo de obter, assim, o reconhecimento da sua soberania "por graça divina".

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 16 de julho de 2024

Santuário Nacional de Aparecida acolhe o jubileu de 50 anos do Caminho Neocatecumenal

50 anos do Caminho Neocatecumenal no Santuário Nacional de Aparecida (cn.org)

SANTUÁRIO NACIONAL DE APARECIDA ACOLHE O JUBILEU DE 50 ANOS DO CAMINHO NEOCATECUMENAL

POST 16 DE JULHO DE 2024 C. N. BRASIL

O Caminho Neocatecumenal viveu um dia de louvor e ação de graças a Deus, no domingo, 14 de julho de 2024. Aproximadamente 40 mil pessoas, pertencentes às comunidades neocatecumenais de todo o País, celebraram na Basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, os 50 anos do início desta iniciação cristã no Brasil.

50 anos do Caminho Neocatecumenal no Santuário Nacional de Aparecida (cn.org)

A Celebração da Palavra teve início às 15h e foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo. Entre os presentes estavam o Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, além de arcebispos e bispos de diversas dioceses, presbíteros, seminaristas dos Seminários Arquidiocesanos Missionários Redemptoris Mater das Arquidioceses de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Belém do Pará.

Entre os membros do Caminho Neocatecumenal, destaca-se a presença das pessoas que participaram das catequeses para a formação das primeiras comunidades neocatecumenais, realizadas no Brasil em 1974, nas dioceses de Toledo (Palotina) e Umuarama (PR), dioceses de Franca e Jaboticabal (SP).

Outra presença significativa foi a dos espanhóis pertencentes às comunidades do Padre José Folqué, de Raúl Viana e de Antonia María (Tonha) Cendán, missionários que formam a equipe de catequistas responsável pelo Caminho Neocatecumenal no Brasil, e da comunidade de Padre Joaquín Antón Carrazoni, da equipe corresponsável.

Ao apresentá-los, Padre José destacou que aqueles que partem em missão são os “pés” do anúncio do Evangelho, mas isso só é possível se, por trás, houver uma comunidade que seja o “coração”, que impulsiona, reza, apoia e acompanha a missão.

Celebração da Palavra

Pe. José | Foto: Gabriel Rocha

A Celebração da Palavra foi marcado pelo anúncio do Querigma, feito por Padre José Folqué. Este é o anúncio do amor de Deus em Jesus Cristo, que se entregou para a redenção de toda a humanidade:

“É através deste amor de Cristo que os homens se tornam capazes de amar como Cristo nos amou”,

Anunciou Padre José.

O presidente da celebração, Cardeal Odilo Pedro Scherer, destacou a importância de viver o Evangelho no dia a dia. Ele afirmou:

“O que Jesus diz é o Evangelho. Eu sei que vocês têm grande amor pelo Evangelho, pela Palavra. É muito edificante saber que aos domingos vocês rezam os salmos em família, introduzem os filhos na escuta amorosa da Palavra, e os iniciam na fé. A exemplo dos pais, as crianças se sentem parte e depois passam a fazer parte da pequena comunidade, da comunidade paroquial e da grande comunidade que é a Igreja”

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Cardeal Odílio Pedro Scherer | Foto: Marcos Paiva

Ao dizer isso, Dom Odilo se refere às laudes dominicais nas quais os pais transmitem a fé aos filhos.

Após as palavras do Cardeal, houve um momento marcante: a chamada vocacional para moços, moças, e famílias que aceitassem o chamado de se colocar à disposição da evangelização para serem enviadas pela Igreja para qualquer lugar do mundo. Assim, levantaram-se, em sinal de responder “sim” a este chamado, aproximadamente 200 moços, 130 moças e 80 famílias. A Celebração terminou com o canto do Te Deum, antigo hino de ação de graças entoado pela Igreja em celebrações solenes.

Saudações

Foto: Gabriel Rocha

No início da celebração, por uma chamada telefônica, Francisco (Kiko) Argüello, iniciador junto com a Serva de Deus Carmen Hernández do Caminho Neocatecumenal, saudou os presentes:

“Deem graças a Virgem Maria que lhes deu uma comunidade cristã para viver a fé. Ânimo”.

Kiko Argüello

O Núncio Apostólico do Brasil, Giambattista Diquattro, enviou uma carta com uma mensagem do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, falando em nome do Papa Francisco:

“Com grande alegria o Santo Padre celebra os 50 anos da presença do Caminho Neocatecumenal em terras brasileiras. Neste meio século, o Caminho tem sido uma fonte de renovação espiritual, de comunhão fraterna e de evangelização, tocando a vida de inúmeras pessoas e famílias. (…) O sucessor de Pedro reza para que este jubileu seja um tempo de renovação da fé e do compromisso missionário, e que a luz de Cristo resplandeça cada vez mais através de suas vidas e comunidades”.

Cardeal Pietro Parolin

A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também enviou uma carta de congratulação:

“Na alegria da celebração dos 50 anos do início das Comunidades do Caminho Neocatecumenal no Brasil, a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vem manifestar sua gratidão e reconhecimento pelo trabalho de evangelização em mais de 1800 comunidades espalhadas em todo país. (…) Por isso, manifestamos nosso agradecimento pelo serviço da educação permanente à fé, dentro do espírito que o Concilio Vaticano II propôs como evangelização”.

Celebração eucarística

Foto: Marcos Paiva

Em seguida da Celebração da Palavra, todos permaneceram para a Eucaristia das 18h do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, que teve nas intenções a ação de graças pelos 50 anos do Caminho Neocatecumenal no Brasil. Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, presidiu a Eucaristia.

“Hoje, nós ouvimos falar tanto de evangelizar nas periferias geográficas e existenciais, e o início do Caminho Neocatecumenal foi assim, na favela de Palomeras Altas, em Madri. Jubileu significa recomeço, tempo de relembrarmos a necessidade de renovar nossa missão. Olhar para o Caminho nos próximos anos é olhar para seus inícios, nas periferias. No mundo de hoje, a comunidade que celebra a presença de Jesus em seu meio faz a diferença em nossas dioceses, em nosso País. Retomamos aqui todo o fervor, todo o amor do nosso início e, com Maria, vamos aprender a dizer sempre sim à vontade do Senhor”,

disse Dom Orani.

História

O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida foi escolhido como local para esta celebração de ação de graças pois foi a Virgem Maria que inspirou o início do Caminho Neocatecumenal, e sempre esteve à frente desta obra de evangelização.

Em 8 de dezembro de 1959, o espanhol Kiko Argüello teve, da parte da Virgem a inspiração:

“Há que fazer comunidades cristãs como a Sagrada Família de Nazaré que vivam em humildade, simplicidade e louvor. O outro é Cristo”

Na década de1960, Kiko foi viver entre os pobres na favela de Palomeras Altas, periferia de Madri, à exemplo de São Charles de Foucauld, para ali, encontrar com Cristo crucificado. Em Palomeras, conheceu a Serva de Deus Carmen Hernández e, neste ambiente, nasceu a primeira comunidade neocatecumenal.

Com o apoio do Arcebispo de Madri, na época, Dom Casimiro Morcillo, e também dos Sumos Pontífices, o Caminho Neocatecumenal foi chegando às dioceses de todo o mundo. Em 1974 chegou ao Brasil, na cidade de Palotina e Umuarama, no Paraná, e depois no Estado de São Paulo, em Franca e Jaboticabal. Atualmente, no Brasil, o Caminho Neocatecumenal está presente em 105 dioceses, com 1800 comunidades que fazem este itinerário de iniciação cristã inseridas em 450 paróquias.

Conforme define os Estatutos aprovados em 2008, o Caminho Neocatecumenal é um itinerário de iniciação cristã pós-batismal está a serviço da Igreja para a Nova Evangelização, anunciando o amor de Jesus Cristo para todas as nações.

Foto: Angela Barbour
Foto: Marcos Paiva
Foto: Angela Barbour
Foto: Marcos Paiva

Caminho Neocatecumenal no Brasil
Assessoria de Comunicação

Acesse

Site oficial internacional: neocatechumenaleiter.org

Site oficial nacional: cn.org.br

Site oficial sobre a Serva de Deus Carmen Hernández: carmenhernandez.org

 Fonte: https://cn.org.br/portal

Cuidar uns dos outros: um chamado à comunhão e à coragem

A humanidade precisa aprender a cuidar uns dos outros (Canção Nova)

CUIDAR UNS DOS OUTROS: UM CHAMADO À COMUNHÃO E À CORAGEM

Dom Jailton Oliveira Lino
Bispo de Teixeira de Freitas/ Caravelas (BA)

Queridos irmãos e irmãs consagrados, sacerdotes e religiosos, 

Recentemente, ao meditar sobre as palavras do Santo Padre, o Papa Francisco, fui tocado pela sua reflexão sobre a coragem necessária para pensarmos como povo. Ele nos lembra que cuidar uns dos outros vai além de um simples ato de bondade; é um chamado profundo à comunhão e à solidariedade. 

O Papa Francisco nos exorta a sermos corajosos ao adotarmos uma mentalidade de povo. Isto é, não apenas um grupo de indivíduos, mas uma comunidade unida pela fé, pela esperança e pelo amor. Este chamado é especialmente relevante para nós, que fomos consagrados a servir ao Senhor e ao Seu povo. 

A Coragem de Servir e de Amar 

Ser consagrado significa ter respondido a um chamado especial de Deus para viver em total dedicação a Ele e ao próximo. No entanto, muitas vezes, essa vocação exige uma coragem que ultrapassa os desafios do cotidiano. Precisamos estar dispostos a enfrentar as dificuldades e a superar as barreiras que nos impedem de nos ver como uma verdadeira comunidade de fé. 

O Papa nos lembra que cuidar uns dos outros requer uma entrega radical, uma disposição para viver a fraternidade genuína. Isso significa estar atento às necessidades dos nossos irmãos e irmãs, especialmente os mais vulneráveis, e agir com amor e compaixão. 

Comunhão como Testemunho 

Nossas comunidades religiosas são chamadas a ser um testemunho vivo dessa comunhão que o Papa Francisco tanto preza. Devemos ser exemplos de unidade e de serviço mútuo, mostrando ao mundo que é possível viver em harmonia e paz, mesmo em meio às adversidades. 

Devemos também ser promotores de uma cultura de encontro e de diálogo. Em um mundo cada vez mais dividido, nossa missão é ser pontes que conectam, e não muros que separam. É nossa responsabilidade ouvir com atenção, acolher com generosidade e agir com justiça. 

Um Chamado à Ação 

Portanto, convido todos vocês, meus irmãos e irmãs consagrados, a refletirem profundamente sobre as palavras do Papa Francisco. Que possamos redescobrir a beleza e a força da nossa vocação, não apenas como indivíduos, mas como membros de um corpo eclesial que vive em comunhão. 

Que tenhamos a coragem de pensar e agir como povo, de cuidar uns dos outros com um amor genuíno e uma dedicação incansável. Que nossas ações diárias, por mais simples que pareçam, sejam sempre direcionadas para a construção de uma comunidade mais justa, mais solidária e mais fraterna. 

Em Cristo, 

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

'Meu pai se matou, e hoje sou padre e especialista em suicídio' (2)

Pe. Lício (VITOR SERRANO/BBC NEWS BRASIL)

'Meu pai se matou, e hoje sou padre e especialista em suicídio'

*Esse texto é o primeiro da série "Suicídio & Fé" da BBC News Brasil, que abordará nas próximas semanas o tabu religioso com o suicídio, com foco nas religiões com mais adeptos no Brasil. Acompanhe as publicações no nosso site e redes sociais.

Como a rígida doutrina católica mudou

O que aconteceu com o pai de Licio, de não ter tido as missas funerárias tradicionais, era parte de uma longa tradição doutrinária na Igreja Católica.

Do século 6 ao final do século 20, a orientação formal da Igreja Católica era não fazer os rituais funerários normais para um fiel que morresse por suicídio, segundo a pesquisadora americana Ranana Dine — nem o funeral cristão, nem enterro em espaços sagrados ou missas.

Dine, que é judia e faz doutorado em Ética Religiosa na Universidade de Chicago, estuda desde a faculdade questões religiosas com o olhar da filosofia.

No mestrado na Universidade de Cambridge, ela analisou as doutrinas católica e judaica sobre o suicídio.

Uma das origens da histórica posição católica sobre o suicídio está nos Dez Mandamentos, cuja base está no Antigo Testamento.

Um destes mandamentos afirma: "Não matarás". A interpretação que vingou por muito tempo é que se matar é uma violação desse princípio.

"Grande parte do problema com o suicídio é que ele era visto como alguém querendo agir intencionalmente contra Deus e o domínio de Deus sobre a vida", explica Dine.

Especialistas apontam também que contribui para a aversão ao assunto no cristianismo o relato de que, segundo os evangelhos canônicos (aqueles reconhecidos como autênticos pela Igreja Católica), Judas Iscariotes, traidor de Jesus Cristo, se suicidou.

As primeiras discussões acerca do suicídio surgiram nos sínodos, reuniões convocadas por uma autoridade da Igreja Católica, do século 5.

A formalização de uma postura punitiva quanto ao ato não demorou a aparecer.

No século 6, durante o Conselho de Braga de 563, um grupo de bispos promulgou alguns decretos, entre eles a proibição de que suicidas recebessem grandes cerimônias ou fossem enterrados dentro de igrejas.

Ao longo da Idade Média, outros documentos reafirmaram essa posição.

Na Europa, isso se combinou com costumes da época. No artigo Christianity and Suicide, os pesquisadores Nils Retterstøl e Øivind Ekeberg afirmam que, em muitas partes do continente, "o corpo [de um suicida] era arrastado pelas ruas e enterrado em uma encruzilhada, com uma estaca cravada e uma pedra colocada sobre o rosto".

O artigo aponta que o Iluminismo, movimento marcado pelo valorização da racionalidade, trouxe no século 18 uma visão menos condenatória do suicídio e mais crítica ao catolicismo — que, no entanto, ainda demoraria alguns séculos para mudar sua posição sobre o assunto.

O Código de Direito Canônico de 1917 reforçou mais uma vez o caráter pecaminoso do suicídio.

Uma das normas desse código afirmava que "a menos que tenham dado sinal de arrependimento antes da morte", aqueles que "se mataram de maneira deliberada" estavam entre aqueles "privados de um sepultamento eclesiástico" — assim como excomungados e pecadores manifestos.

Nas décadas recentes, após séculos de postura rígida, Igreja Católica tem apresentado discurso mais empático sobre o suicídio/ VITOR SERRANO/BBC NEWS BRASIL

Esse trecho foi retirado na revisão do código em 1983.

"O contexto externo [da mudança] era o desenvolvimento da ideia da depressão e de outras doenças mentais como patologias tais quais a doenças físicas, que não eram culpa do indivíduo", explica a pesquisadora Ranana Dine.

O Código de Direito Canônico, na avaliação de Dine, é o "documento mais importante" de normas da Igreja Católica.

Mas há outros documentos relevantes que também demonstram mudanças na conduta católica sobre o suicídio, como o Catecismo de 1992 — que tem um caráter mais de orientação e educação do que uma função normativa como o código.

Um trecho do Catecismo afirma que o "suicídio contraria a inclinação natural do ser humano para conservar e perpetuar a sua vida" e é "contrário ao amor do Deus vivo".

"Ofende igualmente o amor do próximo, porque quebra injustamente os laços de solidariedade com as sociedades familiar, nacional e humana [...]", diz o documento.

Mas um trecho seguinte reconhece que "perturbações psíquicas graves, a angústia ou o temor grave duma provação, dum sofrimento, da tortura, são circunstâncias que podem diminuir a responsabilidade do suicida".

Por isso, o documento conclui: "Não se deve desesperar da salvação eterna das pessoas que se suicidaram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, oferecer-lhes a ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida".

Padre afirma que a consideração do suicídio como um pecado ou não depende da intenção da vítima/ VITOR SERRANO/BBC NEWS BRASIL

Em um discurso de outubro de 2021, no Dia Mundial da Saúde Mental, o papa Francisco defendeu o acolhimento a pessoas que se suicidaram e às suas famílias.

"Gostaria de lembrar dos nossos irmãos e irmãs afetados por distúrbios mentais e também as vítimas, frequentemente jovens, do suicídio", disse o papa.

"Vamos rezar por eles e por suas famílias, para que eles não sejam deixados sozinhos ou sejam discriminados, mas sim bem recebidos e apoiados."

Dine avalia que a doutrina sobre o suicídio não é algo que divida diferentes alas da Igreja Católica tal qual outras questões controversas como, por exemplo, o casamento gay e o aborto.

A pesquisadora vê de forma positiva as mudanças recentes na abordagem católica ao assunto, mas diz compreender o posicionamento anterior.

"Fico satisfeita que a Igreja tenha mudado sua posição sobre o enterro de suicidas, mas acho que as normas anteriores vinham de uma abordagem teológica sincera", afirma.

Dine argumenta que, por haver razões teológicas para a Igreja Católica ser contra o suicídio, faz sentido dentro do catolicismo o suicídio ser visto como um pecado.

"Acho que alguém como [Santo] Agostinho e outras pessoas realmente acreditavam que Deus tem o domínio do mundo, dos nossos corpos, e negar isso a Deus realmente vai contra grandes princípios do cristianismo."

Na sua avaliação, a Igreja Católica ainda considera o suicídio um pecado — mas não um "pecado mortal", aquele em que não há qualquer esperança de salvação da alma.

"Ainda há o sentido de pecado, de falha, mas envolto nessa postura de compaixão, com a ideia de que a pessoa não sabia o que estava fazendo. Então, é um pecado de natureza diferente", avalia Dine.

O padre Licio Vale também não firma uma definição.

A gente diz que é um mal moral', diz o padre Licio Vale sobre o suicídio/ VITOR SERRANO/BBC NEWS BRASIL

"O suicídio continua sendo pecado nesse sentido de que ninguém pode matar a si mesmo, ter a intenção de se matar. Porque a vida pertence unicamente a Deus, então, nesse sentido, a gente diz que é um mal moral", afirma o padre.

"Mas o conceito de pecado tem a ver com intenção. A maioria dos estudos diz que a maioria das pessoas que se mata não tem essa intenção. Por isso, a gente evita dizer hoje que é pecado."

Licio reconhece que o tabu com o suicídio de fundo religioso ainda é "muito presente" na cultura popular.

Durante a apuração dessa reportagem, por exemplo, uma fonte deu um relato que não pôde ser confirmado pela BBC News Brasil de que vizinhos faziam o sinal da cruz toda vez que passavam na frente da casa de uma mãe que perdeu a filha para o suicídio.

"Ainda existe essa cultura errônea de que quem se mata vai para o inferno. Por isso, é importante que a gente fale que não é mais assim, que a Igreja não pensa mais assim", diz o padre.

"A doutrina continua a mesma, ninguém pode se matar, mas ela evoluiu no sentido de que o suicida não quer, não tem a intenção, segundo a ciência, de pecar. Ele quer matar a dor emocional."

Por isso, o padre afirma que a decisão pela salvação da alma de um suicida ficaria a cargo de um "Deus misericordioso".

Perguntado se a Igreja Católica tem responsabilidade nesse tabu persistente, o padre consente.

"Claro, uma doutrina que foi ensinada durante mais de 900 anos, quase mil anos, é óbvio que vai levar muito tempo para que essa doutrina possa ser definitivamente esclarecida", avalia Licio.

"Mas a Igreja Católica, institucionalmente, está aprendendo a lidar com o fenômeno."

Apesar de ainda ser o maior, o segmento católico está diminuindo seu percentual na população desde o primeiro Censo, de 1872.

Por outro lado, no período mais recente, de 2000 para 2010, houve aumento do percentual de espíritas, evangélicos e pessoas sem religião.

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*Caso seja ou conheça alguém que apresente sinais de alerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:

- O Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opção de conversa por chat, e-mail e busca por postos de atendimento ao redor do Brasil;

- Para jovens de 13 a 24 anos, a Unicef oferece também o chat Pode Falar;

- Em casos de emergência, outra recomendação de especialistas é ligar para os Bombeiros (telefone 193) ou para a Polícia Militar (telefone 190);

- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo telefone 192;

- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) 24h;

- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimento em saúde mental gratuito em todo o Brasil.

- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e grupos de apoio.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ceq4xl2ppqqo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF