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domingo, 21 de julho de 2024

Francisco: A guerra é uma derrota! Que haja trégua nos conflitos durante as Olimpíadas

Papa Francisco durante o Angelus deste domingo, 21 de julho   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Após a oração do Angelus, o Papa volta a invocar a paz, especialmente em vista dos Jogos Olímpicos de Paris: "que os atletas sejam mensageiros de paz e sinal de uma sociedade inclusiva". O Pontífice também volta seu olhar para a martirizada Ucrânia, Palestina, Israel, Mianmar e por tantos outros países em guerra.

Antonella Palermo - Cidade do Vaticano

As palavras do Papa após a oração mariana do Angelus deste domingo foram em prol da paz. O Pontífice, com o seu olhar voltado para os iminentes Jogos Olímpicos de Paris, que começarão na próxima semana, e que serão seguidos pelos Jogos Paralímpicos, reitera a importância de uma trégua olímpica. Francisco também não esquece os cenários das regiões onde ainda reina a destruição das guerras.

Que os atletas sejam mensageiros de paz

Na capital francesa, chegarão, para as competições programadas de 26 de julho a 11 de agosto, 11.475 atletas de 205 delegações (russos e bielorrussos competirão como neutros). Esta será a 33ª edição da era moderna, a primeira sem as fortes limitações causadas pela Covid-19, a pandemia que em 2020 provocou o adiamento em um ano da edição de Tóquio. Segundo Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, o diferencial deste ano é a equipe olímpica dos refugiados. Para este evento mundial tão aguardado, o Papa renova sua esperança:

“O esporte também tem uma grande força social, capaz de unir pacificamente pessoas de culturas diferentes. Espero que este evento possa ser um sinal do mundo inclusivo que queremos construir e que os atletas, com seu testemunho esportivo, sejam mensageiros de paz e modelos válidos para os jovens. Em particular, de acordo com a antiga tradição, que as Olimpíadas sejam uma ocasião para estabelecer uma trégua nas guerras, demonstrando uma sincera vontade de paz.”

A mensagem de Francisco ao arcebispo Ulrich para os Jogos Olímpicos que serão realizados na capital francesa de 26 de julho a 11 de agosto: “que sejam oportunidades de harmonia ...

A guerra é uma derrota

Francisco faz novamente seu incansável apelo pelo fim dos conflitos, e recorda "a martirizada Ucrânia, a Palestina, Israel, Mianmar e tantos outros países que estão em guerra."

“Não esqueçamos, não esqueçamos, a guerra é uma derrota!”

Na Ucrânia, as forças russas lançaram durante a noite um ataque com 5 mísseis e aproximadamente quarenta drones, mas as defesas de Kyiv repeliram em grande parte a ofensiva na aérea de Moscovo. No Oriente Médio, a situação continua com o conflito se expandindo para o Líbano, um ataque israelense em uma cidade no sul do País dos Cedros neste domingo (21/07), visou um depósito de munições. Em Mianmar, o intensificar dos combates na guerra civil levou a um aumento significativo dos ataques destrutivos contra as escolas.

Milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro (Vatican Media)

Saudações aos grupos de peregrinos

Durante as saudações finais, na conclusão do Angelus, o Papa se dirigiu à Equipe Notre Dame da diocese de Quixadá, no Brasil, à Associação “Assumpta Science Center Ofekata”, envolvida em projetos solidários e formativos para a África, aos Silenciosos Operários da Cruz e ao Centro "Voluntários do Sofrimento", reunidos em memória do fundador, o Beato Luigi Novarese. Por fim, Francisco saudou as aspirantes e as jovens professas do Instituto das Missionárias da Realeza de Cristo e também os jovens do grupo vocacional do Seminário Menor de Roma, que percorreram o caminho de São Francisco de Assis.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Padre Cícero, admirado por Lampião e banido pela Igreja, agora pode virar santo (2)

Padre Cícero, em foto do início do século 20, de autoria desconhecida (CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO/WIKICOMMONS)

Padre Cícero, admirado por Lampião e banido pela Igreja, agora pode virar santo

  • Author, Edison Veiga
  • Role,De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

19 julho 2024

Encrencas com a cúpula da Igreja

A repercussão do suposto milagre, contudo, não caiu bem para o sacerdote responsável pela missa. Quando a notícia se espalhou, formou-se uma comissão na diocese para investigar o ocorrido — com a participação de dois médicos e um farmacêutico.

Em outubro de 1891, o grupo apresentou um relatório alegando que não havia explicação natural para o fenômeno.

Não satisfeito, o então bispo do Ceará Joaquim José Vieira (1836-1917) nomeou outra comissão — para alguns biógrafos, com integrantes “de cartas marcadas”. O novo relatório concluiu que tudo não havia passado de embuste.

Padre Cícero foi suspenso do sacerdócio, impedido de celebrar missas e de ministrar sacramentos. A pena imputada a Maria de Araújo foi viver em clausura até o fim da vida.

O sacerdote chegou a ir até o Vaticano para buscar uma absolvição diretamente com o papa Leão 13 (1810-1903). De acordo com Lira, seu banimento era restrito à diocese do Ceará e, em qualquer outro local, “com a permissão do bispo, ele poderia exercer o sacerdócio”.

O pesquisador reconhece que “boa parte das controvérsias” em torno de Padre Cícero têm origem nesse episódio do suposto milagre. Ele argumenta que a primeira comissão, que atestou o fato como fora das explicações naturais, contava com dois médicos e um farmacêutico, além de dois religiosos. Já a segunda, constituída por insatisfação do bispo, tinha apenas dois padres.

“Como essa era a pretensão do bispo, ele aceitou o segundo e menos técnico parecer e decretou que se Padre Cícero não negasse aqueles fatos ele estaria suspenso”, explica Lira. “Foi o que ocorreu.”

“Padre Cícero ainda tentou se explicar com o bispo. Não adiantou e ele foi a Roma e foi reabilitado, mas a Igreja local, nos moldes do Direito Canônico da época, não aceitou a reabilitação e Padre Cícero permaneceu suspenso.”

Lira ressalta que ele esteve “suspenso, mas obediente”. “Aceitou a punição, embora injusta, e ficou até o fim da vida usando sua batina sacerdotal e assistindo a missas como leigo. É um grande exemplo”, afirma.

O pesquisador argumenta que Cícero “teria prestígio para fundar um movimento religioso, mas preferia orientar seus amigos — ele chamava a todos de ‘amiguinhos’ — a seguirem as orientações do papa e da Igreja.”

“Apesar dessas imposições da Santa Sé, ele continuou dando o seu testemunho de fé e de pregação, colocando-se a serviço da comunidade e zelando de seus fiéis. Com o passar do tempo, tornou-se respeitado e venerado ainda em vida por todos, sendo aclamado, pelo povo, um santo vivo. São milhares de fiéis que a ele acorrem, pedindo a sua intercessão e agradecendo pelas graças recebidas”, diz Alves.

Para o teólogo, Padre Cícero representa “uma figura emblemática dessas idiossincrasias entre uma postura dogmática da Igreja e a devoção popular”.

“Tudo isso cria uma atmosfera fértil para polêmicas e controvérsias”, afirma.

“Além disso, o fato de se envolver em questões de política local e sua relação com figuras como cangaceiros e coronéis polariza a discussão tanto no campo dogmático quanto sociopolítico e cultural.”

Filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC), Padre Cícero foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado se tornou município independente.

Em 1926, ainda seria eleito deputado federal — mas acabou não assumindo o cargo. Ele também chegou a ser nomeado vice-presidente do Ceará, equivalente atual a vice-governador, mas não exerceu a função.

Na década de 1910, acabou sendo o artífice do acordo que ficou conhecido como “pacto dos coronéis”, em que a elite da região se comprometeu a apoiar o governo estadual cearense.

Conservador, ele chegou a dar uma entrevista em 1931 em que afirmou que “o comunismo foi fundado pelo demônio, Lúcifer é o seu nome e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus”.

Em 1926, quando a Coluna Prestes estava na região de Juazeiro e havia um esforço do governo federal de combatê-la, muitas vezes arregimentando mercenários e cangaceiros, Padre Cícero se encontrou com Lampião e outros 49 integrantes do seu bando. Eram todos seus admiradores e devotos.

Lampião, em foto da década de 1920, de autoria desconhecida | CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO/ WIKICOMMONS

Conforme o jornalista e escritor Lira Neto conta no livro Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão, Padre Cícero carrega sobre suas costas o fato de que seus “detratores jogam [sobre ele] a responsabilidade pela concessão da patente de capitão ao mais feroz de todos os bandoleiros nordestinos”, Lampião, “em troca do compromisso para que o ‘Rei dos Cangaceiros’ enfrentasse, em 1926, a célebre Coluna Prestes em sua passagem pelo sertão”.

“Como indultar um clérigo que, mesmo antes disso, em 1914, teria benzido rifles, punhais e bacamartes, aparato bélico entregue à jagunçada para promover uma revolução armada, uma sedição que envolveu saques violentos a várias cidades interioranas, provocou a morte de centenas de inocentes e resultou na derrubada de um governo legal?”, questiona Lira Neto. “Como redimir a penalidade de um sacerdote que se transformou em líder político […] e arquitetou um pacto histórico entre os poderosos coronéis do sertão?”

“O fato de ele ter mantido relações com os cangaceiros é um ponto sensível, pois pode ser visto tanto como uma tentativa de mediação e pacificação, quanto como um envolvimento problemático”, comenta Alves. “É preciso avaliar esses aspectos de sua vida à luz de seu impacto positivo na fé, na espiritualidade e na comunidade, sem ignorar as complexidades históricas e sociais, devidamente situadas em seu contexto vital.”

O pesquisador e professor Lira tem uma opinião um pouco diferente. “Ele não foi político nem amigo de cangaceiros. Mas recebia a políticos e autoridades que o buscavam, do mesmo modo que recebia o sofrido homem do campo, a ele dando conforto espiritual e até ajuda financeira, na medida de suas posses”, afirma.

O teólogo e escritor Alves lembra que é preciso entender, “por exemplo, que o cangaço e o coronelismo foram fenômenos históricos no Nordeste do Brasil”.

“O primeiro desafiava a ordem estabelecida e o segundo detinha o poder econômico e político”, pontua. “Há que considerar, também, que Padre Cícero viveu em uma região assolada por secas severas, migração em massa, fome e miséria, falta de políticas públicas.”

“Foi nesse contexto complexo, conflituoso e sofrido que viveu e exerceu a sua ação social e pastoral, sua liderança religiosa e política, que consistia em mediar conflitos e prover as necessidades de sua comunidade. Os sertanejos encontravam nele esperança e apoio para a sua luta em busca de melhores condições de vida e trabalho.”

Assim, Alves conclui que se houve conivência ou manipulação, estes são pontos que permanecem “sensíveis e controversos” na biografia de Padre Cícero.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c25lvk9rz1lo

Papa no Angelus: "Devemos estar atentos à ditadura do fazer"

Angelus de 21/07/2024 com o Papa Francisco (Vatican News)

Durante a oração mariana deste domingo, 21 de julho, Francisco fez um alerta para a nossa sociedade frequentemente prisioneira da pressa e do ativismo: "somente se o nosso coração não estiver consumido pela ansiedade de fazer, receberemos, no silêncio da adoração, a Graça de Deus".

https://youtu.be/-AukWGhssr4

Thulio Fonseca – Vatican News

“Do Evangelho aprendemos que essas duas realidades, descanso e compaixão, estão interligadas: só quando aprendemos a descansar podemos ter compaixão”. Este foi o cerne da reflexão do Papa Francisco na alocução que precedeu a oração do Angelus, deste domingo, 21 de julho, para os milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

A liturgia de hoje (Mc 6,30-34), introduziu o Papa, narra que os apóstolos, ao retornar da missão, se reuniram ao redor de Jesus e lhe contaram o que haviam feito; então, Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. As pessoas, no entanto, percebem seus movimentos e, quando descem da barca, Jesus encontra a multidão que o esperava, e sentindo compaixão, Ele começa a ensinar.

Não perder de vista o essencial

Francisco sublinhou que, de um lado, temos o convite ao descanso e, de outro, a compaixão pela multidão, e completou, “parecem duas coisas inconciliáveis, mas, na verdade, elas se complementam”:

“Jesus se preocupa com o cansaço dos discípulos. Talvez Ele perceba um perigo que também pode afetar nossas vidas e nosso apostolado, quando, por exemplo, o entusiasmo em realizar a missão, assim como as responsabilidades e as tarefas que nos são confiadas, nos tornam vítimas do ativismo, excessivamente preocupados com as coisas a fazer e com seus resultados.”

Fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro (Vatican Media)

Segundo o Papa, tais comportamentos impostos pela sociedade e pelo trabalho nos deixam agitados e assim perdemos de vista o essencial, arriscando esgotar nossas energias e cair no cansaço do corpo e do espírito:

“Este é um alerta importante para nossas vidas, para a nossa sociedade frequentemente prisioneira da pressa, mas também para a Igreja e para o serviço pastoral: devemos estar atentos à 'ditadura do fazer'!”

"Irmãos e irmãs, vamos tomar cuidado com a ditadura do fazer! Isso pode acontecer por necessidade, também nas famílias, quando, por exemplo, o pai, para ganhar o pão, é obrigado a se ausentar para trabalhar, sacrificando assim o tempo que poderia dedicar à família. Muitas vezes ele sai de manhã cedo, quando as crianças ainda estão dormindo, e volta tarde da noite, quando já estão na cama. E isso é uma injustiça social. Nas famílias, o pai e a mãe deveriam ter tempo para compartilhar com os filhos, para cultivar esse amor familiar e não cair na ditadura do fazer. Pensemos no que podemos fazer para ajudar as pessoas que são obrigadas a viver assim."

Um olhar compassivo em direção ao próximo

Ao mesmo tempo, o descanso proposto por Jesus não é uma fuga do mundo, uma retirada para o bem-estar pessoal, recordou o Pontífice, pelo contrário, diante da multidão perdida, Ele sente compaixão:

“De fato, é possível ter um olhar compassivo, que consegue perceber as necessidades do outro, somente se o nosso coração não estiver consumido pela ansiedade de fazer, se soubermos parar e, no silêncio da adoração, receber a Graça de Deus.”

Descansar no Espírito

O Papa então propôs aos fiéis alguns questionamentos para uma reflexão pessoal: “Eu sei parar durante os meus dias? Sei dedicar um momento para estar comigo mesmo e com o Senhor, ou estou sempre tomado pela pressa das tarefas a realizar? Sabemos encontrar um pouco de 'deserto' interior em meio aos ruídos e às atividades de cada dia?"

Que a Virgem Santa nos ajude a “descansar no Espírito” mesmo em meio a todas as atividades cotidianas, e a sermos disponíveis e compassivos com os outros, concluiu o Papa Francisco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Lourenço de Brindisi

São Lourenço de Brindisi (A12)
21 de julho
São Lourenço de Brindisi

Júlio César Russo nasceu em 1559 na cidade de Brindisi, Itália, recebendo dos fervorosos pais ótimas raízes religiosas. Já na primeira infância demonstrava piedade incomum, possuindo também inteligência acima da média.

Por isso, a admiração dos franciscanos, mesmo os mais observantes, do convento de São Paulo Eremita em Brindisi, para onde foi encaminhado aos quatro anos para receber sólida formação, diante da sua seriedade, compenetração e brilhantismo nos estudos.

Com apenas seis anos, memorizava e declamava várias páginas de textos, iniciando o estudo da Bíblia. Também repetida com exatidão, desembaraço e espírito os sermões ouvidos, e por tal motivo frequentemente os frades o chamavam para pregar nos Capítulos do convento. Por sua fama, quis ouvi-lo o Arcebispo Dom Francisco Alcander, disfarçando-se entre os fiéis para deixá-lo à vontade.

Ao final da prédica, encantado com a sabedoria e desenvoltura do menino, abençoou-o e lhe concedeu ampla licença para pregar em toda a diocese, especialmente no púlpito da catedral, para isso convocando o povo pelo toque dos sinos.

Aos oito anos entrou para a escola dos meninos oblatos, espécie de pequeno seminário dos frades franciscanos, pouco depois da morte do pai. Ali também os seus dons o destacavam, mas seus sábios formadores não o enalteciam publicamente, para evitar-lhe a vaidade. Aprendeu as ciências humanas e a divina, incluindo a humildade, saindo naturalmente de uma pregação para fazer serviços como varrer o pátio e esfregar o assoalho.

Com o falecimento da mãe teve que se mudar para Veneza com 14 anos, aos cuidados de um tio virtuoso, Pedro Rossi, que dirigia uma escola particular preparatória à Universidade de São Marcos, e o incentivou para uma vida de santificação. Júlio decidiu-se a entrar no convento dos freis capuchinhos, e para já se exercitar neste tipo de vida consagrada e austera intensificou a vida de piedade e penitência.

Jejuava três vezes por semana, dormia pouco e sobre tábuas, usava cilício e disciplinava-se frequentemente. Foi admitido como noviço em Verona, um período que lhe trouxe provações espirituais e físicas, com várias doenças, mas sofria com serenidade por amor a Deus e a Nossa Senhora, a Quem fizera sua consagração.

Estudou profundamente Latim, Hebraico, Grego, História, Filosofia e Teologia, e chegou a memorizar toda a Bíblia. Foi encarregado de pregar antes mesmo da sua ordenação sacerdotal, conseguindo muitas conversões tanto antes quanto depois. Estudou Filosofia na Universidade de Pádua para receber com 23 anos a ordem presbiteral, que ocorreu em 1582.

Em 1586 foi para Veneza como mestre dos noviços da Ordem; em 1587, foi eleito Guardião (Superior do Convento) de Bassano del Grappa; em 1590, Vigário, ou Guardião, Provincial da Toscana e depois de Veneza; em 1596, Definidor, ou Vigário, Geral da Ordem (um dos mais elevados cargos); e como Provincial da Suíça visitou as províncias transalpinas da mesma.

Nesta função, viajou a pé, por vezes mais de 40 quilômetros por dia, sob sol, chuva ou neve, durante um ano, na França, Holanda e Espanha. Zelou então energicamente pela austeridade tradicional da Ordem, especialmente na questão da pobreza. No Império Austro-Húngaro, enfrentou o fraco imperador Rodolfo e seus auxiliares protestantes, que pretendiam expulsar os missionários franciscanos de lá, conseguindo fundar três conventos, em Praga, Viena e Gratz.

Como Capelão das tropas imperiais e conselheiro do chefe do exército romano, Filipe Emanuel de Lorena, na guerra contra a invasão dos turcos muçulmanos, levava apenas uma cruz de madeira com várias relíquias incrustadas, animando a todos e pregando, e realizando milagres (com testemunhos oculares), como fazer voltar as balas inimigas contra eles próprios, fazendo o Sinal da Cruz.

Como embaixador do Papa Paulo V intermediou a paz entre vários governantes católicos, evitando guerras fratricidas, e por isso recebeu do Sumo Pontífice em 1606 permissão oficial para pregar em qualquer lugar sem necessidade da autorização dos bispos locais. E de fato convertia multidões, como em Nápoles, Mântua, Gênova, Pádua, Verona, Milão, etc.; por falar perfeitamente Hebreu, converteu também muitos judeus de Roma.

Lourenço foi fundamental na formação de uma Liga Católica, obtendo a adesão de vários governantes católicos, para combater a Liga Protestante. Polemizando com os hereges, escreveu um manual extraordinariamente bem feito, a partir dos textos originais gregos e hebreus da Bíblia, em confronto com as obras de Lutero, demolindo suas ideias.

Suas atividades eram muito frequentemente acompanhadas de milagres: curas de cegos, paralíticos, surdos, esterilidade. Até lenços tocados por ele tinham poder de curar. Constam 97 milagres em vida no seu processo de canonização.

Suas duas maiores devoções eram: Nossa Senhora, de Quem afirmava: “...aquele que se confia a Maria, que se entrega a Maria, não será jamais abandonado, nem neste mundo nem no outro”, e para Quem escreveu um livro, Mariae, do qual se disse ser o melhor e mais completo sobre a Virgem; e a Sagrada Eucaristia, “o centro não somente de sua vida espiritual, mas de toda sua existência”.

Frequentemente entrava em Êxtase na celebração da Missa, e em qualquer lugar que fosse garantia que pudesse celebrá-la. Mesmo nos seus últimos anos, sofrendo muito com a gota, fazia questão de celebrar, e durante este tempo conseguia ficar de pé. Terminando, voltavam as dores e era preciso ser carregado de volta ao leito.

Faleceu em 21 de julho de 1619, data do seu aniversário de 60 anos, após um ataque agudo de gota e febre, quando estava em missão na cidade de Lisboa, Portugal.

Sua obra é gigantesca: pregador, administrador, diplomata, cruzado, apologista, taumaturgo, escritor, arauto de paz entre os governantes católicos e paladino contra os hereges e muçulmanos, bem querido por regentes eclesiásticos e civis, foi venerado ainda em vida como santo.

Depois da morte, passou a ser chamado de Lourenço de Brindisi para não causar confusão com São Lourenço mártir. Foi proclamado Doutor da Igreja.

Colaboração: : José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

As realizações de São Lourenço de Brindisi são tão imensas quanto o seu coração. Recebeu dons excepcionais, mas os complementou literalmente ao longo de toda a vida através da ascética, do estudo e principalmente pelo entrelaçamento entre humildade e as duas devoções mais típicas dos santos (recomendadas com ênfase da Igreja para todos), à Nossa Senhora e à Eucaristia. Com este amplo e sólido suporte, pôde se destacar na pregação, nos escritos, nas batalhas – espirituais, contra as heresias por exemplo, e em campo, armado de Deus. Entre as inúmeras graças que lhe foram concedidas, está a de ter tido santos mestres. O cuidado que tiveram em lhe prevenir desde cedo a vaidade, não exagerando nos elogios a uma criança, ainda que genial, é uma prova. E é exatamente pelo orgulho que o diabo mais facilmente corrompe, com especial facilidade a quem é concedida destacada inteligência. Para São Lourenço, ainda outra forte via de tentação para a soberba poderia ter sido o reconhecimento do povo em geral, pois era comumente recebido nas diversas localidades por multidões entusiasmadas. Este entusiasmo é sem dúvida bom como reconhecimento da santidade de alguém, mas sempre perigoso. Ainda pior quando as aclamações são por atividades mundanas, que o digam as figuras públicas, os governantes, os artistas, os desportistas, etc., que sem a santidade de Lourenço muitas vezes agem com a pretensão de deuses. Os ídolos são adorados por idólatras… sobre o que seria espiritualmente salutar (ideal, não resistindo ao jogo de palavras) que as massas de “fãs” (fanáticos…) procurassem meditar. São Lourenço combateu o bom combate na época do Renascimento, movimento pagão. Hoje devemos nos movimentar para combater o renascimento do paganismo. Os pagãos adoravam ídolos como os deuses mitológicos, por exemplo, mas atualmente estes deuses são mais conceituais, ideológicos, e portanto mais sutis e perigosos. Rezemos ao Senhor, sempre providente, que suscite por toda a parte santos como Lourenço, humildemente preparados para vencer o combate espiritual e em campo, munidos da Eucaristia e nas legiões de Nossa Senhora.

Oração:

Senhor Deus, cujas obras maravilhosas se manifestam na grandeza dos Vossos santos, e em todas as épocas protege os Vossos filhos, concedei-nos pela intercessão de São Lourenço de Brindisi a graça da sua mesma humildade, sem a qual não poderemos limpar o assoalho imundo das nossas almas, pisadas pelo pecado, nem pacificar as disputas fratricidas das ambiciosas paixões no coração; e igualmente a memória viva de Vós, para podermos recitar na vida prática as virtudes, e na vida celeste o Glória em Vossa honra. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

 Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 20 de julho de 2024

Padre Cícero, admirado por Lampião e banido pela Igreja, agora pode virar santo (1)

Padre Cícero, em foto do início do século 20, de autoria desconhecida | CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO/ WIKICOMMONS

Padre Cícero, admirado por Lampião e banido pela Igreja, agora pode virar santo

  • Author, Edison Veiga
  • Role,De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
  • 19 julho 2024

Graças a uma guinada na alta cúpula do Vaticano, o religioso brasileiro Cícero Romão Batista (1844-1934), conhecido simplesmente como Padre Cícero ou Padim Ciço, pode se tornar santo em breve.

Uma santidade, aliás, já reconhecida pelo catolicismo popular, sobretudo do Nordeste brasileiro. Ali, é comum que o sacerdote, que morreu há 90 anos, seja invocado em rezas e promessas. Não raras vezes com o epíteto de “santo”. Santo Padre Cícero.

A reviravolta da Santa Sé é curiosa porque Padre Cícero não só ainda não foi canonizado como, de quebra, em vida foi banido pela própria Igreja.

Admirado por Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), vulgo Lampião, e por outros cangaceiros, o religioso se tornou político — foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, no Ceará —, era próximo dos coronéis que ali atuavam e tem uma biografia recheada de controvérsias.

O que não impediu que a fé popular o venerasse. Em Juazeiro há uma estátua de 30 metros em sua homenagem, inaugurada em 1969. O local recebe 2,5 milhões de peregrinos por ano.

“Falar de romarias na Diocese de Crato e em Juazeiro do Norte é falar do querido padre Cícero Romão Batista. Este sacerdote dinamizou a espiritualidade católica na região do Cariri, sendo responsável pela espiritualidade de todo o povo nordestino até os dias de hoje”, afirma o padre Aureliano Gondim, em nota publicada no site da Diocese de Crato.

Para o pesquisador e hagiólogo José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia e professor na Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Ceará, “há muita incompreensão e distorção sobre a figura do Padre Cícero”.

“Ele não foi expulso do sacerdócio. Por não aceitar testemunhar contra os fatos que presenciou em Juazeiro, foi suspenso da ordem”, diz ele, à BBC News Brasil.

“Padre Cícero foi suspenso das ordens sacerdotais, por causa do ‘milagre da hóstia’, que teria sangrado na boca de uma beata. Tal fato foi questionado severamente pela Igreja, que o proibiu de exercer seu ministério sacerdotal”, afirma à BBC News Brasil o teólogo e escritor J. Alves, autor do livro ‘Os Santos de Cada Dia’.

Em entrevista à BBC News Brasil, o antropólogo e sociólogo Joaquim Izidro do Nascimento Junior, especialista em religiosidades populares e professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), atribui à trajetória de Padre Cícero as controvérsias que recaem sobre ele.

“Um padre do nordeste brasileiro, de uma Igreja católica do século 19, que acreditou na manifestação de Jesus Cristo na boca de uma mulher pobre e negra e enfrentou a Igreja”, ressalta ele, lembrando que o religioso “passou sua vida tentando o apoio e o reconhecimento dessa manifestação, por parte da Igreja Católica” e “optou por se tornar político para demonstrar influências e conseguir reverter sua suspensão na própria Igreja”.

“São elementos que reforçam um acontecimento único e controverso por si só”, analisa o antropólogo. “O crescimento da cidade e, consequentemente, das peregrinações, abriram um fosso entre uma trajetória de um padre sertanejo e uma Igreja romana europeia, o que deu contornos dramáticos.”

O suposto milagre

Em 1º de março de 1889, Padre Cícero era um homem prestes a completar 45 anos e já gozava de experiência no sacerdócio — havia sido ordenado em 1870.

Popular pela eficaz e contagiante oratória, ferramenta de inflamados sermões, e pelo trabalho pastoral então inédito naquele carente sertão nordestino, ele celebrava missa em Juazeiro.

Na hora da comunhão, a hóstia recebida pela religiosa Maria de Araújo (1861-1914) alegadamente se transformou em sangue — na boca da mulher. Na visão dos que acreditam: a prova de que aquele pão é o corpo de Jesus.

Seria um milagre.

Cabem aqui parênteses para explicar quem era essa mulher. Nascida do povoado de Tabuleiro Grande, ficou órfã logo cedo e teve uma adolescência difícil, trabalhando no artesanato e em uma olaria. Aos 22 anos, decidiu usar hábito como se fosse uma freira — para o povo, ela acabou sendo reconhecida como uma beata.

Acabou sendo acolhida pelo Padre Cícero, residindo em sua casa. De acordo com Gondim, o fato milagroso se repetiria “por mais 138 vezes, num período de quase dois anos”.

Padre Cícero, em foto do início do século 20, de autoria desconhecida | CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO/ WIKICOMMONS

O sacerdote enfatiza que aquela missa do dia 1º de março exigiu preparação especial. Segundo ele, antes “houve horas de oração e jejum por ocasião da quaresma” e da celebração participavam “moças que viviam da caridade, auxiliando a catequese daquele povo”.

Estudiosa do fenômeno, a historiadora e escritora Dia Nobre busca trazer o protagonismo de volta para Maria de Araújo. “Não considero que ela participa do milagre. A partir dos relatos [da época], ela é o próprio instrumento divino para a realização desses fenômenos extraordinários na cidade de Juazeiro”, diz ela à BBC News Brasil.

No fim do mês, Nobre lança o livro Incêndios da Alma, que traz a história dessa mulher e a contextualiza dentro desse ambiente nordestino de catolicismo popular do fim do século 19.

“Não eram somente a transubstanciação das hóstias [a transformação delas em sangue], outros fenômenos também aconteciam, como viagens espirituais, viagens ao purgatório, profecias… Ela recebia estigmas da crucificação”, elenca a pesquisadora. “Ela e outras mulheres se colocavam como protagonistas desses fenômenos, como representantes do próprio Jesus na Terra, dispensando a mediação da Igreja, dos padres. Isso foi uma afronta muito grande à hierarquia do próprio catolicismo.”

“As mulheres foram protagonistas da transformação de Juazeiro em espaço sagrado”, ressalta ela.

Para Nascimento Junior, “no século 19 não havia [na Igreja] nenhum espaço para o reconhecimento de uma manifestação envolvendo a ‘presença’ do próprio Jesus Cristo na boca de uma mulher pobre e negra”.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c25lvk9rz1lo

Santa Maria Madalena: a apóstola dos apóstolos

Cristo Ressuscitado (Diocese de Marabá)

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Santa Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos é festejada no dia vinte e dois
de Julho, pelo calendário litúrgico romano. Ela foi a grande discípula do Senhor Jesus, a
primeira a ver o Ressuscitado e proclamá-lo para os outros apóstolos, de modo que ela
mereceu o título de ser a apóstola dos apóstolos. Santo Agostinho interpretou esta
missão de Santa Maria Madalena, para anunciar aos outros o Ressuscitado, como graça
grandiosa dada pelo Senhor à uma mulher para servir de modelo para todas as pessoas
seguidoras do Senhor Jesus.

O anúncio de Maria Madalena aos apóstolos.

Maria Madalena anunciou aos apóstolos que o Senhor fora retirado do sepulcro
(cf. Jo 20, 2). Os apóstolos foram até lá, no sepulcro e encontraram os panos de linho
com que o corpo tinha sido envolvido. Pedro e João ficaram numa atitude de
observação. Desta forma, os discípulos voltaram para o lugar onde moravam e de onde
saíram pois eles correram para o sepulcro (cf. Jo 20,5-10) 1 .

Maria continuou no sepulcro.

Enquanto os dois apóstolos voltaram para casa, Maria permaneceu no sepulcro,
estando do lado de fora, chorando (cf. Jo 20,11). Os seus olhos procuravam o Senhor
sem encontrá-lo dando-se em lágrimas, segundo o relato do Evangelho de São João, que
para Santo Agostinho os olhos de Madalena eram mais aflitos por Ele ter sido retirado
do sepulcro do que por ter sido morto no lenho, pois tinha presente em Jesus o grande
Mestre, cuja vida lhes fora subtraída 2 .

A dor pelo choro de Maria Madalena.

Maria retinha uma dor junto ao sepulcro, estando numa situação de choro. No
entanto ela inclinou-se para o interior do sepulcro (Jo, 20,11b). Segundo Santo
Agostinho ela não ignorava que não se achava ali Aquele a quem procurava, uma vez
que ela própria anunciou aos discípulos que o corpo do Senhor dali tinha sido retirado e
vindo até o sepulcro, procuraram o corpo do Senhor e não o encontraram 3 . Qual seria o
significado do choro? Será que não dava crédito aos seus olhos? Ou seria ela movida
por uma inspiração divina? Ela olhou dentro e viu dois anjos, sentados no lugar onde o
corpo de Jesus fora colocado , um à cabeceira e outro aos pés (cfr. Jo 20,12) 4 .

A palavra dos anjos.

“Por que choras?” (Jo 20, 13). Os anjos censuraram as lágrimas de Maria
Madalena, segundo Santo Agostinho, porque de certo modo eles anunciavam a alegria
futura, o encontro com o Jesus Ressuscitado 5 . Ela respondeu aos anjos que as pessoas
levaram seu Senhor embora, indicando a parte pelo todo, assim como os fieis
confessaram que Jesus Cristo é Verbo, alma, carne, Ele foi crucificado, sepultado, sendo
apenas a sua carne que foi sepultada e ela, Maria Madalena e outras pessoas não sabiam
onde o puseram. (cf. Jo 20, 13) 6 . Essa era segundo o bispo de Hipona a causa da dor,
pois ela não sabia aonde ir para consolar aquela dor. No entanto a alegria sucederia aos
choros, já anunciada pelos anjos que a ela censuravam o pranto 7 .

Ela viu Jesus.

Ela voltou-se e viu Jesus de pé, mas não o reconheceu, de modo que Jesus lhe
disse: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”(Jo 20,15). Pensando que fosse o
jardineiro ela queria saber onde tinha sido colocado o corpo do Senhor. Mas Jesus lhe
disse: “Maria!” e ela lhe disse: “Rabbuni, que dizer: Mestre!” (Jo 20,16). O bispo de
Hipona afirmou que Ela honrava um homem e Deus a quem suplicava um benefício e
na qual tinha aprendido a discernir as realidades humanas e divinas. Ela chamava de
Senhor, aquele do qual não era escrava para chegar por meio Dele, a quem era de fato,
seu Senhor. Ela disse Rabbuni ao perceber o seu corpo, mas também o reconheceu com
o coração, o Senhor 8 .

A palavra de Jesus.

“Jesus lhe disse: ‘Não me toques, pois ainda não subi ao meu Pai. Vai, porém, a
meus irmãos e dize-lhes Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus’” (Jo
20,17). Para Santo Agostinho existe um ensinamento muito importante nas palavras de
Jesus para Maria Madalena. Jesus lhe ensinou a fé para aquela mulher, que o chamou de
Mestre, e Aquele jardineiro, o Senhor, que sendo o Ressuscitado semeava no coração
dela, assim como em seu jardim, o grão de mostarda que deveria crescer pelas virtudes 9 .
Ele pediu para Maria Madalena para não o tocar pois Jesus quis que se cressem n’Ele
assim, daquela forma, que tocando-o espiritualmente pois Ele próprio e o Pai são um (Jo
17, 21. A palavra de Jesus para não tocá-lo, aludia também à fé no seguidor e na
seguidora de Cristo, reconhecendo-o igual ao Pai 10 .

A continuação do diálogo com Maria Madalena.

Jesus disse a ela que Ele não tinha subido ao seu Pai e ao Pai dela, para lá sem o
tocar, quando ela crer Jesus como Deus, não desigual em relação ao Pai, mas sim igual a
Ele 11 . Jesus disse ao meu Deus e vosso Deus: “Meu tem o significado por natureza, vosso, por graça” 12 . Jesus falou de sua condição humana e divina: “é meu Deus, sob o

qual eu também sou homem, e é vosso, porque entre Ele e vós, sou Mediador” 13 . Jesus é
reconhecido na sua ressurreição como homem e como Deus, o verdadeiro e único
Mediador entre Deus e a humanidade.

“Vi o Senhor” (Jo 20,18): A Apóstola dos Apóstolos.

Maria Madalena foi enviada por Jesus para dizer aos apóstolos que ela viu o
Senhor ressuscitado e contou o que Ele lhe havia dito (cfr. Jo 20,18) 14 . Maria Madalena
tornou-se a grande anunciadora de Jesus Ressuscitado entre os discípulos do Senhor, a
qual ela é considerada a Apóstola dos Apóstolos, a primeira pessoa, mulher a ver o
Jesus Ressuscitado e o anunciou aos outros, aos discípulos.

Nós somos chamados a ser como Maria Madalena, anunciadores da ressurreição
do Senhor em nossas vidas de seguidores e de seguidoras do Senhor Jesus Cristo. Ao
longo da vida nós temos momentos de oração, de convívio com o Ressuscitado pela
eucaristia e outros sacramentos e também somos chamados a fazer obras de caridade,
ajudando às pessoas necessitadas, pobres. Nós vivamos a alegria e o amor do Senhor
que está em nosso meio e em todas as pessoas que lutam pela justiça, pela fraternidade,
pelo amor neste mundo e um dia viver para sempre com o Senhor e com todas as
pessoas que assumiram o mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo,
assim como fez Santa Maria Madalena.

11 Cfr. Homilia 121, 1. In: Santo Agostinho. Comentários a São João – II. Evangelho – Homilias 50-124.
Primeira Epístola. São Paulo: Paulus, 2022, pg. 531.
2 Cfr. Idem, pg. 531.
3 Cfr. Ibidem, pgs. 531-532.
4 Cfr. Ibidem, pg. 532.

5 Cfr. Ibidem, pg. 532.

6 Cfr. Ibidem, pg. 532.
7 Cfr. Ibidem, pgs. 532-533.
8 Cfr. Ibidem, pgs. 533-534.
9 Cfr. Ibidem, pg. 534.
10 Cfr. Ibidem, pg. 535.
11 Cfr. Ibidem, pg. 535.

 Fonte: https://diocesedemaraba.com.br/

Papa: divulgados os logotipos e lemas da viagem apostólica à Bélgica e Luxemburgo

Os logotipos da viagem do Papa à Bélgica e Luxemburgo (Vatican News)

O Papa estará nos dois países europeus de 26 a 29 de setembro próximo. Nas frases que acompanham os gráficos das visitas, o valor do serviço da Igreja à humanidade e o convite a caminhar juntos no caminho da esperança.

Vatican News

O fulgor da arte gráfica para resumir um compromisso e a alma que o está construindo. Há sempre isso em cada logotipo que conta, por meio de imagens, uma viagem apostólica em preparação. Os dois logotipos e os lemas para as duas visitas que o Papa fará a Luxemburgo e à Bélgica, em setembro próximo, foram divulgados nesta terça-feira (25/06).

Logotipo e lema da visita a Luxemburgo

A primeira etapa, em 26 de setembro, é narrada pela silhueta branca contornada de azul, que retrata Francisco que abençoa num fundo amarelo redondo, no qual se destaca a catedral luxemburguesa de Notre Dame. Junto com o amarelo com contorno branco - as cores da bandeira do Vaticano – dominam os tons azuis que alude, explica a nota de apresentação, "à veneração mariana profundamente arraigada na história do catolicismo" do pequeno país. No canto inferior direito, o lema da Viagem Apostólica: "Pour servir", refere-se a Cristo, que veio "não para ser servido, mas para servir". "Assim, seguindo o exemplo de seu Mestre", encerra a breve nota, "a Igreja é chamada a estar a serviço da humanidade.

Logotipo  da visita a Luxemburgo (L'Osservatore Romano)

Logotipo e lema da visita à Bélgica

Em 26 de setembro, Francisco irá à Bélgica, cujo mapa estilizado em azul escuro é a estrutura básica do logotipo. O mapa é atravessado por uma estrada na qual, também estilizada, caminham algumas pessoas de diferentes tamanhos, simbolizando as idades, e de cores diferentes, indicando as culturas. No centro de uma pequena multidão emerge, de branco, a figura do Papa. Abaixo do logotipo está escrito o lema: “En route, avec Espérance” (No caminho, com esperança), que “ressoa – explica a nota de apresentação – como um chamado a caminharmos juntos na estrada que é a história do país, mas é também o Evangelho, o caminho de Jesus Cristo, nossa Esperança”.

Logotipo da visita à Bélgica (L'Osservatore Romano) (L'Osservatore Romano)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

CATEQUESE: Os Cinco Mandamentos da Igreja

Os Cinco Mandamentos da Igreja (Cléofas)

Os Cinco Mandamentos da Igreja

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Uma coisa que muitos católicos não sabem – e por isso não cumprem – é que existem os “Cinco Mandamentos da Igreja”, além dos Dez Mandamentos.

Eles não foram revogados pela Igreja com o novo Catecismo de João Paulo II (1992). É preciso entender que Mandamento é algo obrigatório para todos os católicos, diferente de recomendações, conselhos, etc.

Cristo deu poderes à Sua Igreja para estabelecer normas para a salvação do povo. Ele disse aos Apóstolos:

“Quem vos ouve a mim ouve, quem vos rejeita a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,16).

“Em verdade, tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a terra, será também desligado no Céu” (Mt 18,18).

Então, a Igreja legisla com o “poder de Cristo”, e quem não a obedece, não obedece a Cristo, e em consequência, ao Pai.

Para a salvação do povo, então, a Igreja estabeleceu Cinco obrigações que todo católico têm de cumprir, conforme ensina o Catecismo da Igreja. Ele diz:

“Os mandamentos da Igreja situam-se nesta linha de uma vida moral ligada à vida litúrgica e que dela se alimenta. O caráter obrigatório dessas leis positivas promulgadas pelas autoridades pastorais tem como fim garantir aos fiéis o mínimo indispensável no espírito de oração e no esforço moral, no crescimento do amor de Deus e do próximo” (§2041).

Note que o Catecismo diz que isto é o “mínimo indispensável” para o crescimento na vida espiritual; podemos e devemos fazer muito mais, pois isto é apenas o mínimo obrigado pela Igreja. Ela sabe que como Mãe, tem filhos de todos os tipos e condições, portanto, fixa, sabiamente, apenas o mínimo necessário, deixando que cada um, conforme a sua realidade, faça mais. E devemos fazer mais.

1. Primeiro mandamento: “Participar da missa inteira nos domingos e outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho”

Ordena aos fiéis que santifiquem o dia em que se comemora a ressurreição do Senhor, e as festas litúrgicas em honra dos mistérios do Senhor, da santíssima Virgem Maria e dos santos, em primeiro lugar participando da celebração eucarística, em que se reúne a comunidade cristã, e se abstendo de trabalhos e negócios que possam impedir tal santificação desses dias (CDC, cân. 1246-1248). (§2042)

Os Dias Santos – com obrigação de participar da missa, são esses, conforme o Catecismo:

“Devem ser guardados [além dos domingos] o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania (domingo no Brasil), da Ascensão (domingo) e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi), de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro), de sua Imaculada Conceição (8 de dezembro) e Assunção (domingo), de São José (19 de março), dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo (domingo), e por fim, de Todos os Santos (domingo)” (CDC, cân. 1246,1; n. 2043 após nota 252). (§2177)

2. Segundo mandamento: “Confessar-se ao menos uma vez por ano”

Assegura a preparação para a Eucaristia pela recepção do sacramento da Reconciliação, que continua a obra de conversão e perdão do Batismo (CDC, cân. 989).

É claro que é pouco se Confessar uma vez ao ano, seria bom que cada um se Confessasse ao menos uma vez por mês, fica mais fácil de se lembrar dos pecados e ter a graça para vencer os pecados.

3. Terceiro mandamento: “Receber o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa da ressurreição”

O período pascal vai da Páscoa até festa da Ascenção, e garante um mínimo na recepção do Corpo e do Sangue do Senhor em ligação com as festas pascais, origem e centro da Liturgia cristã (CDC, cân. 920).

Também é muito pouco Comungar ao menos uma vez ao ano. A Igreja recomenda (não obriga) a Comunhão diária.

4. Quarto mandamento: “Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe de Igreja” (No Brasil é na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa)

Este jejum consiste de um leve café da manhã, um almoço leve e um lanche leve à tarde, sem mais nada no meio do dia, nem o cafezinho. Quem desejar pode fazer um jejum mais rigoroso; o obrigatório é o mínimo. Os que já tem mais de sessenta anos estão dispensados da obrigatoriedade, mas podem fazer se desejarem.

Diz o Catecismo que o jejum “Determina os tempos de ascese e penitência que nos preparam para as festas litúrgicas; contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração (CDC, cân. 882)”.

5. Quinto mandamento: “Ajudar a Igreja em suas necessidades”

Recorda aos fiéis que devem ir ao encontro das necessidades materiais da Igreja, cada um conforme as próprias possibilidades (CDC, cân. 222). Não é obrigado que o dízimo seja de 10% do salário, nem o Catecismo e nem o Código de Direito Canônico obriga isto, mas é bom e bonito. O importante é, como disse São Paulo, dar com alegria, pois “Deus ama aquele que dá com alegria” (cf. 2Cor 9, 7). Esta ajuda às necessidades da Igreja pode ser dada um parte na paróquia e em outras obras da Igreja.

Nota: Conforme preceitua o Código de Direito Canônico, as Conferências Episcopais de cada pais, podem estabelecer outros preceitos eclesiásticos para o seu território (CDC, cân. 455).(§2043)

Demos graças a Deus pela Santa Mãe Igreja que nos guia. O Papa Paulo VI disse que “quem não ama a Igreja não ama Jesus Cristo”.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

«A Igreja é uma comunhão»

A Trindade , Andrei Rublëv, do Mosteiro da Trindade de São Sérgio, Galeria Tretyakov, Moscou | 30Giorni

«A Igreja é uma comunhão»

Quando nós, cristãos, dizemos comunhão, designamos antes de tudo o mistério da comunhão, que é a própria vida da Trindade. E dizemos também que nesta comunhão participamos do corpo e do sangue de Cristo. Uma contribuição do prior da comunidade monástica de Bose.

por Enzo Bianchi

Enzo Bianchi [© Contrasto] | 30Giorni

No oficial relatório final do Sínodo dos Bispos de 1985 foi dito que “a ideia central e fundamental nos documentos do Concílio Vaticano II deve ser identificada na eclesiologia da comunhão ”, e esta observação é agora amplamente partilhada na Igreja Católica. : podemos dizer que houve muitas contribuições teológicas sobre o assunto, entre as quais as de Jean Jérôme Hamer, Jean-Marie Roger Tillard, Ioannis Zizioulas, Walter Kasper parecem decisivas...

Mas uma teologia autêntica é capaz de gerar também uma espiritualidade ou melhor, uma teologia autêntica é sempre espiritual, pneumática, isto é, capaz de impactar a vida e a experiência interior do cristão e da comunidade. Por outro lado, a palavra koinonía no Novo Testamento indica antes de tudo a vida da Igreja nascida da descida do Espírito Santo, aquela vida " epì tò autò " ( Atos 2, 44), perseverante na didaché apostólica , na fração do pão, na oração. A palavra koinonía resume as perseveranças essenciais da Igreja nascente e dá-lhe um rosto, de modo que a Igreja é a epiphàneia da koinonía trinitária, uma koinonía participada na dinâmica do Espírito Santo através da comunhão apostólica (ver 1 João 1, 3.6) , uma koinonía que é cumprimento da salvação anunciada pelo Evangelho.

Quando nós, cristãos, dizemos comunhão, designamos antes de tudo o mistério eterno da comunhão que é a própria vida de Deus, mas também dizemos - já que somos syn-koinonòi , coparticipantes (ver Fl 1,7; Ap 1,9). ) - que participemos nesta comunhão no corpo de Cristo, no sangue de Cristo: koinonia é portanto a “essência”, não a “nota” da Igreja. E se a vida do cristão e da Igreja é vida segundo o Espírito Santo, isto é, proveniente do Espírito, e vida em Cristo, então a espiritualidade só pode ser uma espiritualidade de comunhão. Por outras palavras: a vida do cristão e da Igreja deve ser moldada pela comunhão, que não é opcional, não é uma descoberta recente da teologia, mas uma realidade constitutiva.

 Koinonia é forma Ecclesiae! Certamente, a comunhão dos cristãos entre si e com Deus na peregrinação da Igreja rumo ao Reino será sempre frágil, continuamente posta à prova e muitas vezes até contradita; será uma comunhão que tende a ser plena, mas que nunca o será, exceto no Reino eterno. Além disso, vemos que ela está ferida, ofendida, já na Igreja primitiva, como nos testemunha o Novo Testamento (cf.1Jo 2, 18; 3Jo 9-10…); no entanto, tanto então como agora, na Igreja é salvaguardada e perseguida a vontade de Deus que exige incessantemente a realização da comunhão visível do corpo de Cristo, sendo um ( en èinai ) como o Pai e o Filho são um ( Jo 17 , 11 ).

Contudo, devemos perguntar-nos: os cristãos estão conscientes desta necessidade radical da comunhão como forma da sua vida e da vida eclesial? A este respeito, parece-me importante que no Novo millennio ineunte o Papa João Paulo II tenha conseguido não só indicar a força da koinonía , mas apelou a uma espiritualidade de comunhão , especificando-a nas suas manifestações e realizações e retomando o léxico caro aos Padres medievais que falavam da comunidade cristã como “casa de comunhão”, portanto capaz de ser “escola de comunhão” ( Novo millennio ineunte 43). Sim, porque a eclesiologia de comunhão deve materializar-se em instrumentos e estruturas! Mas isto só é possível e autêntico se se segue um caminho espiritual , só se se consegue estabelecer uma espiritualidade de comunhão no tecido quotidiano das Igrejas.

E na sua carta apostólica João Paulo II delineia esta espiritualidade: deve ser contemplada antes de tudo no mistério da Trindade de Deus que vive em nós e faz de nós cristãos a sua morada. Trata-se portanto, diz João Paulo II, de fazer nascer e desenvolver a capacidade de sentir o irmão na fé (mesmo o irmão com quem a comunhão não é plena) como membro do corpo de Cristo, um irmão meu, com quem deve haver conhecimento e partilha mútuos. No espaço cristão, de fato, o outro não é “inferno” (como afirmou Jean-Paul Sartre), mas é “dom de Deus”, “presente para mim”; é o que me falta e o que me revela a minha insuficiência.

Não, não é possível ser cristão e não só não querer a unidade, mas não fazer todo o possível pela comunhão. Quem age e vive para a comunhão com Cristo não pode, simultaneamente, deixar de agir e viver para a reconciliação e a comunhão com os seus irmãos, membros do seu próprio corpo. A estas indicações que o Novo millennio ineunte nos deixou gostaria de acrescentar algumas urgências para uma espiritualidade de comunhão verdadeiramente inspirada na Ecclesiae primitivae forma . Em primeiro lugar, a necessidade de a comunhão ser plural . Nunca esqueçamos que a pluralidade e a diversidade são atestadas pelos e nos escritos fundadores da nossa fé. Do único Senhor Jesus Cristo – “o mesmo ontem, hoje e eternamente” ( Hb. 13, 8) – foram-nos dados quatro Evangelhos, ou seja, quatro anúncios diferentes, porque não é a fixidez de um livro, de um escrito, mas sim o dinamismo do Espírito Santo que está na origem do cristianismo. Desde o início houve uma pluralidade de expressões bíblicas, de eclesiologias, de concepções cristológicas, de práticas litúrgicas, de testemunhos e formas de missio , de acentos espirituais... Esta pluralidade - que reflete a policromia, a sophia multicolorida de Deus (cf. Ef 3, 10) e a inesgotabilidade do mistério de Cristo acolhido nas diferentes culturas - é uma riqueza de dons, mas é também a negação de todo o fundamentalismo e de todo o fundamentalismo cristão.

Sim, se a diversidade for acolhida como um dom e não for considerada uma anomalia, se a Igreja “ católica ” souber acolher a particularidade das Igrejas locais, se souber agradecer pelas riquezas e pelos tesouros que são trazidos ao pelas diversas culturas e tradições, e consegue realizar o intercâmbio destas riquezas entre as Igrejas particulares, então torna-se verdadeiramente a Igreja na qual brilha «a multiforme sabedoria de Deus» ( Ef 3,10), «a multiforme graça de Deus" ( 1Pd 4, 10).

Por outro lado, a teologia, a liturgia, a espiritualidade e o direito não podem ser desenvolvidos e conhecidos apenas a partir de um único centro, mas devem ser laboratórios nos quais se reúnem os contributos da experiência das diferentes Igrejas locais: vividos, partilhados e também corretos no diálogo e comparação entre as Igrejas, animadas pelo Espírito de comunhão.

É claro que aqui também surge um problema significativo: existe um limite para a diversidade, que conhecemos como riqueza, mas às vezes também como uma possível tentação que leva à divisão, à oposição mútua? Uma questão delicada – reconhece o Metropolita Zizioulas – que diz respeito sobretudo ao problema ecuménico. E declara sabiamente que “a condição mais importante da diversidade é que ela não destrua a unidade”. Esta é, aliás, a aplicação eclesial da paranésia paulina sobre a unidade do corpo, sobre a possibilidade de escandalizar um membro, sobre a caridade que deve sempre prevalecer: a relação “um-muitos”, “unidade-diversidade” é sempre ser vivida na obediência do único corpo e da diversidade dos dons do Espírito Santo (não há vida “ en Christò ” sem a koinonía do Espírito Santo). Para usar a linguagem de São Máximo, o Confessor, a “diferença” ( diaphorìa ) é positiva, mas nunca deve tornar-se “divisão” ( diàiresis ).

Certamente – deve ser reiterado com força – esta suposição de diversidade e alteridade não abre espaço para o relativismo se for aceito que em cada encontro e confronto, Jesus Cristo, o Kyrios , reina como o terceiro salvador . É ele, o Kyrios , que une ao mesmo tempo que distingue, que une ao mesmo tempo que personaliza, que conduz todos para o Reino vindouro. E nesta espiritualidade de comunhão o reconhecimento de Kyrios lembra e garante que a diversidade dos dons se faz também na oração : oração uns pelos outros, oração comum, verdadeira epiclese de uma única Eucaristia. É na oração que trazemos tudo o que somos e também tudo o que ainda não somos, mas que devemos nos tornar conforme a vontade e o chamado do Senhor.

A oração que devemos fazer com insistência é que o Senhor nos permita viver esta comunhão plural, para que a descrição do corpo eclesial que nos foi deixada por Anselmo de Havelberg (século XII) nos seus Diálogos encontre autêntica realização :

Unum corpus Ecclesiae,
quod Spiritu Sancto vivificatur ,
regitur et gubernatur…
unum corpus Ecclesiae un Spiritu Sancto vivificari…
sempre unum una fide, sed multiformiter distintosum
multiplici vivendi varietate (Diálogos)

Arquivo 30Dias – 08/09 - 2010

Fonte: http://www.30giorni.it/

As esperanças da Planície de Nínive, dilacerada pelo Daesh

(Viagem do Papa a Mossul, Iraque. Photo by AFP/Vincenzo Pinto)  (AFP or licensors)

Dez anos depois da devastação causada pelo Daesh na histórica região da Alta Mesopotâmia, o arcebispo caldeu de Mossul testemunha uma tímida restabelecimento da confiança entre os habitantes da Planície de Nínive. Apesar das marcas deixadas pela ideologia islâmica em certas mentes, chegou agora o momento de a recuperação econômica permitir um regresso mais tangível das famílias que fugiram do EI.

Delphine Allaire - Cidade do Vaticano

Junho de 2014, Mosul e a Planície de Nínive, no norte do Iraque, são conquistadas pelo grupo Estado Islâmico, que semeia morte e destruição por onde passa. Um quarto da população, principalmente cristãos e yazidis, fugiu da cidade.

A memória permanece dolorosa, mesmo com a libertação três anos mais tarde. Uma década depois, o livro do êxodo ainda não foi concluído para os moradores da região. Apesar dos receios que permanecem, um lento movimento de regresso está acontecendo. Com o retorno da ordem e da segurança às ruas de Mosul, os residentes estão finalmente conseguindo respirar. O arcebispo caldeu da cidade, dom Michael Najeeb - que acolheu um Papa pela primeira vez na história em março de 2021 -, testemunha o renascimento das esperanças nesta cidade mesopotâmica, emblema histórico de paz e coexistência, na encruzilhada de culturas e religiões.

Dez anos depois, quais são as cicatrizes e feridas ainda abertas da batalha de Mosul?

Desde a libertação da Planície de Nínive das garras dos jihadistas, o regresso das famílias cristãs continua tímido em Mossul, mas é bastante grande e significativo na Planície de Nínive. Esta catástrofe atingiu todos os residentes, não apenas os cristãos. Aqueles que permaneceram em Mosul durante o período do Daesh também pagaram um preço elevado.

Uma verdadeira mudança está ocorrendo hoje. Após a libertação, as pessoas começaram a respirar um pouco mais e a infraestrutura da cidade de Mosul e da Planície de Nínive foi restaurada, assim como a ordem nas ruas, nos prédios e, acima de tudo, na segurança. As pessoas podem caminhar à meia-noite, duas ou três da manhã sem problemas. Não há uma criminalidade aparente. Existem pequenos problemas em torno de Mosul de forma geral, mas continuam a ser menores. A falta de trabalho é mais gritante. Com o desemprego, sem rendimentos, muitas pessoas recorrem à violência. No entanto, ainda deploramos as consequências ideológicas.

Que motivos impedem o regresso das famílias?

Os obstáculos são numerosos, mas acima de tudo trata-se de uma questão financeira. As pessoas perderam quase tudo. Eles ficaram sem nada quando foram forçados a deixar Mosul e a Planície de Nínive quase de mãos vazias e com o mínimo de roupa. Tudo o que eles tinham foi saqueado. Essas pessoas têm que começar do zero.

Na verdade, as pessoas, apesar de todos os progressos realizados em termos de segurança e infraestruturas, continuam preocupadas e hesitantes. Eles compartilham comigo suas incertezas: “Monsenhor, não podemos retornar a Mosul ou à Planície de Nínive sem garantias”. No entanto, ninguém pode dar-lhes garantias. Nem mesmo a Igreja, que também perdeu tudo. As famílias não podem reinvestir na sociedade sem um apoio, especialmente do governo.

Este último apenas começou timidamente a restaurar algumas igrejas, algumas casas, para compensar um pouco, mas isso continua a ser muito pouco. Contamos desde o início, desde a libertação da Planície de Nínive, com ONGs francesas como L'Œuvre d'Orient, europeias ou estadunidenses como a USAID, para apoiar tanto as populações como a construção de casas, para ajudar nas obras.

Além de financeiro, o obstáculo está na falta de confiança no futuro. Algumas pessoas nos recordam que se na primeira vez conseguiram fugir com os filhos e sem bens materiais, quem lhes garantirá que desta vez não perderão os filhos?

Que vitalidade espiritual e pastoral emerge das ruínas de uma sociedade?

Uma árvore não pode ser salva sem as suas raízes. As raízes dão vida. Em um de nossos povoados caldeus, famoso pelas suas vinhas, a cerca de trinta quilômetros de Mosul, no final de 2016, na libertação, já não havia vida. Todas as plantações e casas foram queimadas. As brasas ainda ardiam. Um campo de ruínas, sem pássaros, abelhas, qualquer fauna e flora. Tudo estava morto. Hoje aquele povoado está renovado, há árvores, vinhas, casas e lojas. A vida recomeça.

Constatei que a fé, mesmo entre crianças, adultos e adolescentes, tornou-se cada vez mais forte. As atividades pastorais aumentaram enormemente graças às ONGs que também apoiaram a vida espiritual e pastoral. É um sinal de esperança há quatro anos.

Também celebramos juntos as festividades muçulmanas. Já não pensamos em termos de rótulos e categorias como antes, na era do Daesh ou da Al-Qaeda: “Ele é cristão, é muçulmano, é yazidi”. Todos vivem em fraternidade com respeito mútuo.

Nos quatro anos em que estou em Mosul, nunca ouvimos falar de qualquer dano causado pelos nossos muçulmanos. Pelo contrário, mesmo nas mesquitas, às sextas-feiras, quando pregam, as palavras que nos ferem ou nos humilham, como “os ímpios”, “os politeístas”, “pessoas que não respeitam a lei”, “cristãos vão todos para o inferno” não são mais usados. Aqueles que prejudicam os cristãos são condenados pela lei.

Até as casas habitadas por pessoas da Al-Qaeda ou do Daesh e dos seus apoiadores “foram libertadas” pelo governo. A confiança está renascendo gradualmente. Afinal, o patrimônio e a arte nos unem. Os jovens têm muito a ver com isso. Plantam árvores nas ruas, voluntários limpam as ruas. Nem tudo é cor de rosa. A ideologia prejudicial do Daesh e da Al-Qaeda permanece na mente de alguns, mas está sendo gradualmente curada.

Na esteira do Papa, depois do sua viagem histórica realizada em 2021, que passos o senhor vê no diálogo inter-religioso com os muçulmanos?

No Oriente é sempre um monólogo (risos). Aquele que fala, e a quem os outros devem ouvir, é geralmente o que fala mais alto. A palavra “diálogo” relaciona-se mais com o pensamento cartesiano europeu. Aqui estamos habituados ao mais forte: a religião dominante deve falar, as outras devem calar-se ou, no máximo, ouvir, dar a sua opinião sem ser diretamente contrária à dominante. A religião oficial é o Islã, ponto final. Apesar disso, há visitas recíprocas, encontros, às vezes até brincamos entre nós, mulás, bispos e padres, sem nos ofendermos. Podemos dizer a verdade uns aos outros e partilhar as nossas ideias sem que alguém puxe uma arma ou uma Kalashnikov. Existe esta abertura, porque a lei pune aqueles que prejudicam os outros. Isto também visa os fundamentalistas. É claro que não existe um diálogo real que mude os conceitos e o modo de viver. Por exemplo, não existe liberdade religiosa como na Europa ou mesmo no Líbano, que é muito mais avançado do que o resto dos países árabes em termos de liberdade de religião e de expressão.

Mossul será capaz de restaurar sua vocação histórica de paz e coexistência religiosa?

Mossul é a cidade de Jonas, a cidade que deu muitos profetas. Hoje, muitos muçulmanos, cristãos, yazidis e shabaks estão fazendo um retorno à sua própria história para a mostrar. A assiriologia nos níveis linguístico, histórico e arquitetônico está voltando ao primeiro plano.

As muralhas de Nínive, por exemplo, começaram a ser restauradas. Os jovens universitários são atraídos pelos símbolos dos impérios assírio e babilônico, pelas imagens desta antiga Mesopotâmia, berço da escrita e da humanidade. É algo muito bonito que se manifesta através da arte, dos monumentos, do urbanismo. Voltamos a colocar estátuas nas ruas, voltamos a falar do rei Nabucodonosor, o que há algum tempo era impensável por motivos de idolatria.

Vemos cada vez menos pessoas ideologicamente fechadas. Ando pelas ruas com meu hábito vermelho e preto de arcebispo, as pessoas me cumprimentam, tomamos chá, conversamos livremente com as pessoas, sem qualquer humilhação ou violência.

Como explicar esta clara melhoria no diálogo e na fraternidade?

“Quando vemos a morte, aceitamos o mal ou a doença”, diz um dos nossos provérbios. As pessoas têm visto tanto mal nas ações do Daesh, contra o próprio Islã e o Islã pagou caro em nome destes criminosos, que há um regresso à humanidade. A visita do Santo Padre não é estranha a isto. O Papa em Mosul derrubou os preconceitos que existiam contra os cristãos. Vimos milhares de crianças, adultos, estudantes universitários, nas ruas com a bandeira do Vaticano e a bandeira do Iraque, foi muito comovente. As pessoas jogavam doces em direção ao Santo Padre, no carro dele. Ninguém se esqueceu desta visita. A cidade foi tão preparada, pavimentada e cuidada para a visita do Papa que as pessoas dizem esperar que o Papa venha todos os anos para nos incentivar a trabalhar melhor. Outros dizem que querem um presidente como o Papa para o Iraque.

Isto mudou muito as mentalidades, mesmo que no terreno ainda precisemos de solidariedade porque muitas infraestruturas foram demolidas. Apelo aos governos e às ONGs para não se esquecerem do Iraque em meio a tantos conflitos no planeta, mesmo que exista a Ucrânia, a Palestina, a Terra Santa, o Iêmen...

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF