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segunda-feira, 22 de julho de 2024

O Domingo como um dom – antes de um preceito

"Comunidade e comunitário exprimem a dimensão popular da liturgia e a sua pertença ao povo de Deus, que resplandecem, exprimem-se e florescem na Eucaristia dominical”.   (AFP or licensors)

"Acolher um dom implica uma reconsideração profunda do preceito, que, por séculos, caracterizou a participação na sinaxe dominical e que hoje, à luz da sensibilidade contemporânea, deve ser proposto e compreendido não tanto como obrigação de santificar um dia, mas justamente como ocasião para redescobrir o valor do Dies Domini, o seu significado teológico e as suas potencialidades pastorais”. Todo o povo de Deus é destinatário desse Dom maravilhoso que Deus ofereceu."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Por que ir à Missa aos domingos?”, era a pergunta que o Papa Francisco nos convidava a fazer, na Audiência Geral de 13 de dezembro de 2017, no contexto do ciclo de catequeses sobre a Missa.

“Não é suficiente responder que é um preceito da Igreja – afirmou. Isto ajuda a preservar o seu valor, mas sozinho não basta. Nós, cristãos, temos necessidade de participar na Missa dominical, porque só com a graça de Jesus, com a sua presença viva em nós e entre nós, podemos pôr em prática o seu mandamento, e assim ser suas testemunhas credíveis.”

De fato, “a celebração dominical da Eucaristia está no centro da vida da Igreja. Nós, cristãos, vamos à Missa aos domingos para encontrar o Senhor Ressuscitado, ou melhor, para nos deixarmos encontrar por Ele, ouvir a sua palavra, alimentar-nos à sua mesa e assim tornar-nos Igreja, isto é, seu Corpo místico vivo no mundo.”

Depois de “Os santos venerados na perspectiva de Cristo, centro da fé”, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão “O Domingo como um dom – antes de um preceito”:

"O volume 12 da Coleção "Cadernos do Concílio" trata do Domingo, tema presente na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, e é de autoria do Pe. Giuseppe Midili, diretor do Escritório Litúrgico da Diocese de Roma e professor de liturgia pastoral no Pontifício Ateneu e Colégio Santo Anselmo, em Roma. Atendendo ao pedido do Papa Francisco, o Dicastério para a Evangelização tomou a iniciativa de elaborar subsídios ágeis e eficazes em preparação para o Jubileu de 2025. Assim nasceu a Coleção "Cadernos do Concílio", que reúne 34 volumes produzidos por teólogos, estudiosos da Sagrada Escritura e jornalistas que procuram redescobrir as quatro grandes Constituições do Concílio Vaticano II.

Na introdução do subsídio de número 12 – Cadernos do Concílio - o autor diz assim: “a ligação entre o domingo e a Eucaristia – que a Lumen Gentium não trata, remetendo a Sacrosanctum Concilium – é reiterada no número 42 da Constituição litúrgica, na qual, com linguagem daquela época, diz-se que o sentido da comunidade paroquial floresce sobretudo na celebração comunitária da missa dominical. Comunidade e comunitário - adjetivo derivado etimologicamente - exprimem a dimensão popular da liturgia e a sua pertença ao povo de Deus, que resplandecem, exprimem-se e florescem na Eucaristia dominical”.

Giuseppe Midili, padre diretor do Gabinete Litúrgico da Diocese de Roma, comenta no caderno que o próprio Papa Francisco, no número 65 da carta Apostólica Desiderio Desideravi, que diz: “No decurso do tempo feito novo pela Páscoa, em cada oito dias a Igreja celebra no domingo o acontecimento da salvação. O domingo, antes de ser um preceito, é um dom que Deus faz ao seu povo (por esse motivo a Igreja o guarda como um preceito). A celebração dominical oferece à comunidade cristã a possibilidade de ser formada pela Eucaristia. De domingo em domingo, a Palavra do Ressuscitado ilumina a nossa existência, querendo realizar em nós aquilo para que foi mandada (cf. Is 55, 10-11). De domingo em domingo, a comunhão no Corpo e no Sangue de Cristo quer fazer também da nossa vida um sacrifício agradável ao Pai, na comunhão fraterna que se faz partilha, acolhimento e serviço. De domingo em domingo, a força do Pão partido nos sustenta no anúncio do Evangelho no qual se manifesta a autenticidade da nossa celebração”.

O Papa Francisco diz com clareza que o domingo, antes de ser um preceito, é um dom que Deus faz ao seu povo e, por esse motivo, a Igreja o guarda como um preceito, justamente, porque, antes de tudo é um dom maravilhoso para a Igreja, o batizado, o filho de Deus. Giuseppe, na página 9 da introdução, comenta esta afirmativa do Papa Francisco da Eucaristia e do Domingo ser um dom dizendo assim: “apresentar o domingo como dom reenvia a celebração eucarística na qual Cristo se oferece, isso é, quando cumpre a doação de si ao Pai e associa esse ato de amor à humanidade inteira, tornando atual a prática de culto que constitui a característica da Igreja. Acolher um dom implica uma reconsideração profunda do preceito, que, por séculos, caracterizou a participação na sinaxe dominical e que hoje, à luz da sensibilidade contemporânea, deve ser proposto e compreendido não tanto como obrigação de santificar um dia, mas justamente como ocasião para redescobrir o valor do Dies Domini, o seu significado teológico e as suas potencialidades pastorais”. Todo o povo de Deus é destinatário desse Dom maravilhoso que Deus ofereceu.

Em relação ao domingo, onde o povo se reúne para celebrar a ressurreição do Senhor, o autor italiano nesse caderno do Concilio também recupera um texto do Papa João Paulo II, na Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente que trata sobre a preparação para o Jubileu do Ano 2000, datada de 10 de novembro de 1994. Dizia assim São João Paulo II, nessa Carta Apostólica na preparativa do novo milênio: “O significado do rito é claro: põe em evidência que Cristo é o Senhor do tempo; é o seu princípio e o seu cumprimento; cada ano, cada dia e cada momento ficam abraçados pela sua Encarnação e Ressurreição, reencontrando-se assim na «plenitude do tempo». Por isso, também a Igreja vive e celebra a liturgia no espaço do ano. O ano solar fica assim permeado pelo ano litúrgico, que, em certo sentido, reproduz todo o mistério da Encarnação e da Redenção, começando do primeiro domingo do Advento para terminar na solenidade de Cristo Rei, Senhor do universo e da história. Cada domingo recorda o dia da ressurreição do Senhor”."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Maria Madalena

Santa Maria Madalena (A12)
22 de julho
Santa Maria Madalena

origem desta Maria é Magdala, pois o apelido “Madalena” significa “aquela que veio de Magdala”, que por sua vez significa “torre”. Esta cidade, às margens do Lago de Genesaré, perto de Cafarnaum na Terra Santa, de fato tem indícios arqueológicos do que parece ter sido um farol.

No tempo de Jesus era localidade importante, com indústrias de barcos e peixes em conserva, e tintureiros e pescadores possuíam lá bairros específicos. Certa qualidade de excelente lã era ali muito vendida.

De Maria Madalena sabe-se com certeza apenas que foi curada por Jesus de possessão demoníaca, seguindo depois o Senhor e O auxiliando com suas posses (Lc 8,2). Deve ter sido abastada – Magdala era um centro próspero –, não só por esta indicação, mas também porque providenciou os unguentos aromáticos para o corpo de Cristo (Mc 16,1), e estes eram muito caros.

Mas sua heroica fidelidade a Jesus é destacada no relato da Sua Paixão: está junto à Cruz no Calvário, com Nossa Senhora e outras duas mães (Mt 27, 56), enquanto os demais Apóstolos tinham fugido; permaneceu atenta durante Seu sepultamento (Mc 15,40.47), para verificar como poderia depois encontrar e cuidar do Seu corpo; comprou o que era preciso para isso (Mc 16,1) e depois do sábado foi lá com esta intenção, e diligentemente, porque bem cedo (Mt 28,1).

Em seguida, avisou imediatamente a Pedro e João sobre o sumiço do corpo (Jo 20,2). Voltou ao sepulcro e chorava pelo acontecido (Jo 20,11), e ali estando teve a recompensa de saber da Ressurreição, pelo próprio Jesus (Jo 20,12-16). Por fim recebeu Dele a missão de avisar aos Apóstolos (Jo 20,17-18). A Tradição atesta que Maria Madalena foi uma grande anunciadora do Evangelho, depois de Pentecostes.

 É padroeira dos pecadores arrependidos, dos convertidos, das mulheres, das pessoas ridicularizadas por sua piedade e dos fabricantes de perfumes.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Maria Madalena, com frequência associada sem qualquer comprovação à mulher acusada de adultério (Jo 8,3-11) e à pecadora que lhe perfumou os pés (Lc 7,36-38), foi a primeira testemunha ocular da Ressurreição de Jesus mencionada na Bíblia; há base teológica para crer que Ele tenha Se mostrado primeiro à Virgem Maria, mas isto não está registrado em nenhum texto. Excetuando-se Nossa Senhora, então, por que este privilégio a Maria Madalena, e não, por exemplo, a São Pedro? De fato, foi ela quem avisou aos Apóstolos que Cristo ressuscitara, e por isso foi chamada por São Tomás de Aquino de Apóstola dos Apóstolos. O que ela fez de tão particular para ser a primeira a ver a glória celeste de Jesus? Ora, depois de ter sido curada por Ele, tudo o que é mencionado de Maria Madalena é exemplar. Antes desta cura, era atormentada por sete demônios, agindo de acordo com a vontade deles. A palavra inspirada dos Evangelhos faz questão de indicar que eram sete. Este número, na Bíblia, é usado como sinal de “perfeição, plenitude”, em geral no bom sentido. Mas aqui pode ser entendido como uma referência de posse total ao demônio, isto é, a nossa condição antes do Batismo. Só depois de batizados é que podemos, como ela, seguir Jesus e servi-Lo com os nossos bens, ou seja, as nossas riquezas individuais, os dons, que Deus nos dá. Maria Madalena representa a todos nós, todos os batizados, a quem Deus quer igualmente Se manifestar. Não a alguém privilegiadamente (Nossa Senhora, evidentemente, tem outra condição e não se enquadra neste contexto), mas a toda a Humanidade, que é chamada por Ele à vida celeste – e por isso a necessidade absoluta do nosso apostolado, que ela igualmente exemplificou e sem o qual não seremos salvos. Depois de ter sido buscada por Deus, pois é Ele sempre que nos procura primeiro como ensina a Doutrina, Maria Madalena passou então a unicamente seguir a Cristo – é só o que se registra da sua vida – e O acompanhou até a Sua morte, estando aos pés da Cruz. Continuou atenta a aonde Ele foi, para vê-Lo, isto é, estar com Ele, com a intenção de continuar a servi-Lo com os aromas. Que no futuro se possa também registrar de nós que nesta vida unicamente seguimos a Cristo, buscando-O atentamente mesmo quando ocultado, não morto!, para lhe oferecer no Seu Corpo Místico o perfume das nossas obras! Santa Maria Madalena de fato nos representa, como exemplo do que devemos ser. E de como devemos agir: buscar Jesus, para vê-Lo e servi-Lo. Mas não apenas individualmente, pois no exemplo bíblico de Maria Madalena ela está acompanhada em diferentes passagens, especialmente por Nossa Senhora. Como Igreja, e indispensavelmente com a Virgem Maria, é que servimos Jesus. Este serviço inclui, como já mencionado, anunciá-Lo. Mesmo que não acreditem. Mesmo que debochem. Santa Maria Madalena é padroeira das pessoas ridicularizadas pela sua piedade, um patronato até certo ponto surpreendente, porque, sendo a primeira evangelizadora da vitória de Cristo sobre a morte, recebeu como imediata reação dos apóstolos a incredulidade, e por um motivo que sugere alguma ironia: “Mas eles achavam que essas palavras eram delírio e não acreditaram” (Lc 24,11-12). Muitos católicos fervorosos conhecem bem a pressão de ambientes que desfazem de tudo referente à Igreja, através de zombaria mais ou menos educada e/ou agressiva. Mas ela anunciou e manteve o anúncio; e Pedro e João, apesar da reação inicial, logo correram ao sepulcro. Só Deus sabe as consequências da evangelização nas almas, e nunca podemos deixar de fazê-lo por respeitos humanos ou desânimo. A evangelização tem que ser fiel à Verdade – naturalmente. No encontro de Jesus com Maria Madalena, fora do sepulcro, Ele lhe disse: "Noli Me tangere", “não Me retenhas” (cf. Jo 20,17), porque devia subir ao Pai. Anunciamos o Cristo vivo, fora do sepulcro, que leva nossa humanidade redimida para o Céu: não podemos deturpar esta mensagem, apresentando quaisquer outras interpretações particulares que queiramos forjar sectariamente e egoisticamente, hereticamente. Não é o ser humano que “segura” Deus nas suas mãos, para literalmente manuseá-Lo como quiser, mas é Deus que tem o universo nas mãos, incluindo o cosmo imensurável de cada alma. Enfim, Maria Madalena é a figura e o exemplo dos batizados, o que pode ser resumido em: buscar e servir a Cristo, com Nossa Senhora. Por isso é a ela que Jesus glorificado aparece em primeiro lugar, e que seu nome está entre os primeiros na Ladainha de Todos os Santos.

Oração:

Deus Pai, que nos procurastes primeiro, pelo dom da existência, da vida e da Salvação, concedei-nos por intercessão de Santa Maria Madalena viver exatamente o seu exemplo de Batismo, fiel e amorosamente buscando Jesus para vê-Lo, servi-Lo e anunciá-Lo, abrigados na Torre de Davi que é Nossa Senhora, e, deixando enterrados no passado os pecados, alcançarmos o farol da luz divina no Paraíso. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 21 de julho de 2024

Reflexão para o XVI Domingo do Tempo Comum (B)

Evangelho do domingo  (@ BAV Vat. lat. 39, f. 67v)

Que nada em nossa vida fique sem ser passado pelo filtro da fé, da caridade e que nossa presença seja propiciadora da amizade das pessoas entre si e com Deus.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

A primeira leitura nos mostra a repreensão que Deus, através do Profeta Jeremias, fez aos últimos reis de Israel daquele tempo, Joaquim e Sedecias, por não terem cuidado do povo que então foi levado, como escravo, para a Babilônia.

Como sempre, desde o Gênesis, Deus não se deixa derrotar pelas más ações humanas e o amor vence. Imediatamente após a chamada e atenção e ao aviso do castigo, o Senhor anuncia a vinda de pastores de verdade, que zelem pelo rebanho e vai mais além, o Senhor vai suscitar um rei dentre os descendentes de Davi. Esse rei “fará valer a justiça e a retidão na terra”.

Isso aconteceu com a vinda de Jesus Cristo, não trazendo de volta o esplendor de Salomão, mas a transformação dos corações.    Aí está o diferencial dos novos pastores, não dando primazia àquilo que poderá corromper os humanos e que passa, mas àquilo que os tornará filhos de Deus e irmãos de todos, àquilo que é eterno.

Também nós deveríamos, em um exame de consciência, verificar se não traímos a confiança em nós depositada por Deus, pela família, pelos amigos e até por nós mesmos, quando fomos infiéis aos nossos propósitos.

Para sabermos que estamos no bom caminho, se a autoridade, seja ela qual for, tem aprovação divina ou não, deveremos examinar o que é feito em favor da justiça e do direito, se a liderança é usada para servir, mesmo perdendo privilégios.

No Evangelho, São Marcos nos dá uma grande lição: a necessidade de terminarmos um trabalho, fazermos sua avaliação à luz de Deus. É isso que significa os discípulos voltarem realizados de suas atividades pastorais e relatarem para Jesus o que havia acontecido. É necessário que o agente pastoral, que o leigo cristão, não sucumba no ativismo, mas o que fizer seja fruto da oração, que tenha escutado Deus. Não basta uma simples reflexão humana, é preciso rezar, dialogar com o Senhor e ouvir o que nos diz, em nossa mente e em nosso coração, de nossas atividades. Também é importante sentir, na oração, a comunidade, a família.

Após o exame com Jesus e um breve descanso, os discípulos voltam ao trabalho. É assim nossa vida?

A segunda leitura nos traz São Paulo falando aos Efésios, dizendo que de dois povos, Jesus fez um só, “estabelecendo a paz”. Não existe mais judeus e pagãos.

O bom pastor busca e leva à unidade. Ele reconcilia os homens entre si e com Deus. E isso deve ser buscado sempre, mesmo com sacrifícios, pois Jesus a realizou em sua cruz. Nela ele destruiu a inimizade.

Que nada em nossa vida fique sem ser passado pelo filtro da fé, da caridade e que nossa presença seja propiciadora da amizade das pessoas entre si e com Deus. Sejamos bons pastores, conduzamos a ovelhas a nós confiadas ao prado da alegria, da justiça e da caridade. Que elas se sintam realizadas!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Acolha o Senhor que te procura

Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro (cancaonova)

ACOLHA O SENHOR QUE TE PROCURA 

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Na vida todos nós temos compromissos, projetos, amigos e sonhos que gostaríamos de ver realizados. Mas a vida também é feita de um dia após o outro, e é nessa pequena fração do dia, que se renova a cada manhã, que a vida vai acontecendo com todas as conquistas, dissabores e glórias. Mas nenhuma vida será completa sem a presença dos outros, porque é no encontro com os outros, que nós aprendemos a valorizar o que temos de bom e a corrigir aquilo que nos prejudica no relacionamento com Deus e com os irmãos. 

Como cristãos, devemos renovar a nossa adesão ao Evangelho, no seguimento do Mestre, a cada manhã, a cada momento, como os primeiros discípulos às margens do mar da Galileia. Precisamos compreender, a cada dia, que seguir o Mestre é descobrir ou encontrar nos outros a imagem do amor de Deus, tendo presente que, se na vida não buscarmos o Deus de Jesus Cristo, será impossível anunciarmos um Deus misericordioso e fiel a todas as pessoas que encontrarmos.  

Viver o discipulado é ser um peregrino que está sempre em busca da estrada que leva ao encontro do Mestre. E quando o encontra, não deixa de caminhar com ele, porque sabe que Ele é o caminho, a verdade e a vida que conduz ao Pai. Por isso, é importante esse começar a cada dia, contando com a graça de Deus. Quando fecho o meu coração, numa vida de autossuficiência, como cristão perfeito, que não precisa mais ouvir a palavra de Deus nem participar dos sacramentos ou da vida da comunidade, é um sinal de que não sou mais discípulo, e preciso colocar-me novamente a caminho, para encontrar e acolher Jesus como Senhor da minha vida. 

No tempo e na história, o Senhor Jesus continua visitando a humanidade, passando pelos nossos caminhos, visitando cada pessoa, pedindo hospitalidade no seu coração, na sua vida, na sua família. Talvez você ande tão ocupado, com tantos afazeres, que não tenha tempo para acolher o Senhor, para escutar o que Ele tem a dizer, no silêncio do seu coração, ou não tenha tempo para falar com Ele.  

O Senhor Jesus se faz presente na vida de cada um de nós, mas é preciso que tenhamos a capacidade de discernir esse momento e de reconhecer a sua presença. Ele passa pela nossa vida e bate com insistência à porta do nosso coração pedindo hospitalidade, mas, talvez com o passar do tempo, as tantas ocupações do mundo acabaram apagando do nosso coração a sensibilidade de discernir a voz do Senhor, que pede para ser acolhido. Quando é acolhido, o Senhor enche de vida nova o nosso ser, e a sua luz ilumina o nosso caminho no silêncio, assim como a terra silenciosa acolhe a semente, dá força, nutre e dá estabilidade interior às plantas.

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Francisco: A guerra é uma derrota! Que haja trégua nos conflitos durante as Olimpíadas

Papa Francisco durante o Angelus deste domingo, 21 de julho   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Após a oração do Angelus, o Papa volta a invocar a paz, especialmente em vista dos Jogos Olímpicos de Paris: "que os atletas sejam mensageiros de paz e sinal de uma sociedade inclusiva". O Pontífice também volta seu olhar para a martirizada Ucrânia, Palestina, Israel, Mianmar e por tantos outros países em guerra.

Antonella Palermo - Cidade do Vaticano

As palavras do Papa após a oração mariana do Angelus deste domingo foram em prol da paz. O Pontífice, com o seu olhar voltado para os iminentes Jogos Olímpicos de Paris, que começarão na próxima semana, e que serão seguidos pelos Jogos Paralímpicos, reitera a importância de uma trégua olímpica. Francisco também não esquece os cenários das regiões onde ainda reina a destruição das guerras.

Que os atletas sejam mensageiros de paz

Na capital francesa, chegarão, para as competições programadas de 26 de julho a 11 de agosto, 11.475 atletas de 205 delegações (russos e bielorrussos competirão como neutros). Esta será a 33ª edição da era moderna, a primeira sem as fortes limitações causadas pela Covid-19, a pandemia que em 2020 provocou o adiamento em um ano da edição de Tóquio. Segundo Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, o diferencial deste ano é a equipe olímpica dos refugiados. Para este evento mundial tão aguardado, o Papa renova sua esperança:

“O esporte também tem uma grande força social, capaz de unir pacificamente pessoas de culturas diferentes. Espero que este evento possa ser um sinal do mundo inclusivo que queremos construir e que os atletas, com seu testemunho esportivo, sejam mensageiros de paz e modelos válidos para os jovens. Em particular, de acordo com a antiga tradição, que as Olimpíadas sejam uma ocasião para estabelecer uma trégua nas guerras, demonstrando uma sincera vontade de paz.”

A mensagem de Francisco ao arcebispo Ulrich para os Jogos Olímpicos que serão realizados na capital francesa de 26 de julho a 11 de agosto: “que sejam oportunidades de harmonia ...

A guerra é uma derrota

Francisco faz novamente seu incansável apelo pelo fim dos conflitos, e recorda "a martirizada Ucrânia, a Palestina, Israel, Mianmar e tantos outros países que estão em guerra."

“Não esqueçamos, não esqueçamos, a guerra é uma derrota!”

Na Ucrânia, as forças russas lançaram durante a noite um ataque com 5 mísseis e aproximadamente quarenta drones, mas as defesas de Kyiv repeliram em grande parte a ofensiva na aérea de Moscovo. No Oriente Médio, a situação continua com o conflito se expandindo para o Líbano, um ataque israelense em uma cidade no sul do País dos Cedros neste domingo (21/07), visou um depósito de munições. Em Mianmar, o intensificar dos combates na guerra civil levou a um aumento significativo dos ataques destrutivos contra as escolas.

Milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro (Vatican Media)

Saudações aos grupos de peregrinos

Durante as saudações finais, na conclusão do Angelus, o Papa se dirigiu à Equipe Notre Dame da diocese de Quixadá, no Brasil, à Associação “Assumpta Science Center Ofekata”, envolvida em projetos solidários e formativos para a África, aos Silenciosos Operários da Cruz e ao Centro "Voluntários do Sofrimento", reunidos em memória do fundador, o Beato Luigi Novarese. Por fim, Francisco saudou as aspirantes e as jovens professas do Instituto das Missionárias da Realeza de Cristo e também os jovens do grupo vocacional do Seminário Menor de Roma, que percorreram o caminho de São Francisco de Assis.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Padre Cícero, admirado por Lampião e banido pela Igreja, agora pode virar santo (2)

Padre Cícero, em foto do início do século 20, de autoria desconhecida (CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO/WIKICOMMONS)

Padre Cícero, admirado por Lampião e banido pela Igreja, agora pode virar santo

  • Author, Edison Veiga
  • Role,De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

19 julho 2024

Encrencas com a cúpula da Igreja

A repercussão do suposto milagre, contudo, não caiu bem para o sacerdote responsável pela missa. Quando a notícia se espalhou, formou-se uma comissão na diocese para investigar o ocorrido — com a participação de dois médicos e um farmacêutico.

Em outubro de 1891, o grupo apresentou um relatório alegando que não havia explicação natural para o fenômeno.

Não satisfeito, o então bispo do Ceará Joaquim José Vieira (1836-1917) nomeou outra comissão — para alguns biógrafos, com integrantes “de cartas marcadas”. O novo relatório concluiu que tudo não havia passado de embuste.

Padre Cícero foi suspenso do sacerdócio, impedido de celebrar missas e de ministrar sacramentos. A pena imputada a Maria de Araújo foi viver em clausura até o fim da vida.

O sacerdote chegou a ir até o Vaticano para buscar uma absolvição diretamente com o papa Leão 13 (1810-1903). De acordo com Lira, seu banimento era restrito à diocese do Ceará e, em qualquer outro local, “com a permissão do bispo, ele poderia exercer o sacerdócio”.

O pesquisador reconhece que “boa parte das controvérsias” em torno de Padre Cícero têm origem nesse episódio do suposto milagre. Ele argumenta que a primeira comissão, que atestou o fato como fora das explicações naturais, contava com dois médicos e um farmacêutico, além de dois religiosos. Já a segunda, constituída por insatisfação do bispo, tinha apenas dois padres.

“Como essa era a pretensão do bispo, ele aceitou o segundo e menos técnico parecer e decretou que se Padre Cícero não negasse aqueles fatos ele estaria suspenso”, explica Lira. “Foi o que ocorreu.”

“Padre Cícero ainda tentou se explicar com o bispo. Não adiantou e ele foi a Roma e foi reabilitado, mas a Igreja local, nos moldes do Direito Canônico da época, não aceitou a reabilitação e Padre Cícero permaneceu suspenso.”

Lira ressalta que ele esteve “suspenso, mas obediente”. “Aceitou a punição, embora injusta, e ficou até o fim da vida usando sua batina sacerdotal e assistindo a missas como leigo. É um grande exemplo”, afirma.

O pesquisador argumenta que Cícero “teria prestígio para fundar um movimento religioso, mas preferia orientar seus amigos — ele chamava a todos de ‘amiguinhos’ — a seguirem as orientações do papa e da Igreja.”

“Apesar dessas imposições da Santa Sé, ele continuou dando o seu testemunho de fé e de pregação, colocando-se a serviço da comunidade e zelando de seus fiéis. Com o passar do tempo, tornou-se respeitado e venerado ainda em vida por todos, sendo aclamado, pelo povo, um santo vivo. São milhares de fiéis que a ele acorrem, pedindo a sua intercessão e agradecendo pelas graças recebidas”, diz Alves.

Para o teólogo, Padre Cícero representa “uma figura emblemática dessas idiossincrasias entre uma postura dogmática da Igreja e a devoção popular”.

“Tudo isso cria uma atmosfera fértil para polêmicas e controvérsias”, afirma.

“Além disso, o fato de se envolver em questões de política local e sua relação com figuras como cangaceiros e coronéis polariza a discussão tanto no campo dogmático quanto sociopolítico e cultural.”

Filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC), Padre Cícero foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado se tornou município independente.

Em 1926, ainda seria eleito deputado federal — mas acabou não assumindo o cargo. Ele também chegou a ser nomeado vice-presidente do Ceará, equivalente atual a vice-governador, mas não exerceu a função.

Na década de 1910, acabou sendo o artífice do acordo que ficou conhecido como “pacto dos coronéis”, em que a elite da região se comprometeu a apoiar o governo estadual cearense.

Conservador, ele chegou a dar uma entrevista em 1931 em que afirmou que “o comunismo foi fundado pelo demônio, Lúcifer é o seu nome e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus”.

Em 1926, quando a Coluna Prestes estava na região de Juazeiro e havia um esforço do governo federal de combatê-la, muitas vezes arregimentando mercenários e cangaceiros, Padre Cícero se encontrou com Lampião e outros 49 integrantes do seu bando. Eram todos seus admiradores e devotos.

Lampião, em foto da década de 1920, de autoria desconhecida | CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO/ WIKICOMMONS

Conforme o jornalista e escritor Lira Neto conta no livro Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão, Padre Cícero carrega sobre suas costas o fato de que seus “detratores jogam [sobre ele] a responsabilidade pela concessão da patente de capitão ao mais feroz de todos os bandoleiros nordestinos”, Lampião, “em troca do compromisso para que o ‘Rei dos Cangaceiros’ enfrentasse, em 1926, a célebre Coluna Prestes em sua passagem pelo sertão”.

“Como indultar um clérigo que, mesmo antes disso, em 1914, teria benzido rifles, punhais e bacamartes, aparato bélico entregue à jagunçada para promover uma revolução armada, uma sedição que envolveu saques violentos a várias cidades interioranas, provocou a morte de centenas de inocentes e resultou na derrubada de um governo legal?”, questiona Lira Neto. “Como redimir a penalidade de um sacerdote que se transformou em líder político […] e arquitetou um pacto histórico entre os poderosos coronéis do sertão?”

“O fato de ele ter mantido relações com os cangaceiros é um ponto sensível, pois pode ser visto tanto como uma tentativa de mediação e pacificação, quanto como um envolvimento problemático”, comenta Alves. “É preciso avaliar esses aspectos de sua vida à luz de seu impacto positivo na fé, na espiritualidade e na comunidade, sem ignorar as complexidades históricas e sociais, devidamente situadas em seu contexto vital.”

O pesquisador e professor Lira tem uma opinião um pouco diferente. “Ele não foi político nem amigo de cangaceiros. Mas recebia a políticos e autoridades que o buscavam, do mesmo modo que recebia o sofrido homem do campo, a ele dando conforto espiritual e até ajuda financeira, na medida de suas posses”, afirma.

O teólogo e escritor Alves lembra que é preciso entender, “por exemplo, que o cangaço e o coronelismo foram fenômenos históricos no Nordeste do Brasil”.

“O primeiro desafiava a ordem estabelecida e o segundo detinha o poder econômico e político”, pontua. “Há que considerar, também, que Padre Cícero viveu em uma região assolada por secas severas, migração em massa, fome e miséria, falta de políticas públicas.”

“Foi nesse contexto complexo, conflituoso e sofrido que viveu e exerceu a sua ação social e pastoral, sua liderança religiosa e política, que consistia em mediar conflitos e prover as necessidades de sua comunidade. Os sertanejos encontravam nele esperança e apoio para a sua luta em busca de melhores condições de vida e trabalho.”

Assim, Alves conclui que se houve conivência ou manipulação, estes são pontos que permanecem “sensíveis e controversos” na biografia de Padre Cícero.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c25lvk9rz1lo

Papa no Angelus: "Devemos estar atentos à ditadura do fazer"

Angelus de 21/07/2024 com o Papa Francisco (Vatican News)

Durante a oração mariana deste domingo, 21 de julho, Francisco fez um alerta para a nossa sociedade frequentemente prisioneira da pressa e do ativismo: "somente se o nosso coração não estiver consumido pela ansiedade de fazer, receberemos, no silêncio da adoração, a Graça de Deus".

https://youtu.be/-AukWGhssr4

Thulio Fonseca – Vatican News

“Do Evangelho aprendemos que essas duas realidades, descanso e compaixão, estão interligadas: só quando aprendemos a descansar podemos ter compaixão”. Este foi o cerne da reflexão do Papa Francisco na alocução que precedeu a oração do Angelus, deste domingo, 21 de julho, para os milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

A liturgia de hoje (Mc 6,30-34), introduziu o Papa, narra que os apóstolos, ao retornar da missão, se reuniram ao redor de Jesus e lhe contaram o que haviam feito; então, Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. As pessoas, no entanto, percebem seus movimentos e, quando descem da barca, Jesus encontra a multidão que o esperava, e sentindo compaixão, Ele começa a ensinar.

Não perder de vista o essencial

Francisco sublinhou que, de um lado, temos o convite ao descanso e, de outro, a compaixão pela multidão, e completou, “parecem duas coisas inconciliáveis, mas, na verdade, elas se complementam”:

“Jesus se preocupa com o cansaço dos discípulos. Talvez Ele perceba um perigo que também pode afetar nossas vidas e nosso apostolado, quando, por exemplo, o entusiasmo em realizar a missão, assim como as responsabilidades e as tarefas que nos são confiadas, nos tornam vítimas do ativismo, excessivamente preocupados com as coisas a fazer e com seus resultados.”

Fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro (Vatican Media)

Segundo o Papa, tais comportamentos impostos pela sociedade e pelo trabalho nos deixam agitados e assim perdemos de vista o essencial, arriscando esgotar nossas energias e cair no cansaço do corpo e do espírito:

“Este é um alerta importante para nossas vidas, para a nossa sociedade frequentemente prisioneira da pressa, mas também para a Igreja e para o serviço pastoral: devemos estar atentos à 'ditadura do fazer'!”

"Irmãos e irmãs, vamos tomar cuidado com a ditadura do fazer! Isso pode acontecer por necessidade, também nas famílias, quando, por exemplo, o pai, para ganhar o pão, é obrigado a se ausentar para trabalhar, sacrificando assim o tempo que poderia dedicar à família. Muitas vezes ele sai de manhã cedo, quando as crianças ainda estão dormindo, e volta tarde da noite, quando já estão na cama. E isso é uma injustiça social. Nas famílias, o pai e a mãe deveriam ter tempo para compartilhar com os filhos, para cultivar esse amor familiar e não cair na ditadura do fazer. Pensemos no que podemos fazer para ajudar as pessoas que são obrigadas a viver assim."

Um olhar compassivo em direção ao próximo

Ao mesmo tempo, o descanso proposto por Jesus não é uma fuga do mundo, uma retirada para o bem-estar pessoal, recordou o Pontífice, pelo contrário, diante da multidão perdida, Ele sente compaixão:

“De fato, é possível ter um olhar compassivo, que consegue perceber as necessidades do outro, somente se o nosso coração não estiver consumido pela ansiedade de fazer, se soubermos parar e, no silêncio da adoração, receber a Graça de Deus.”

Descansar no Espírito

O Papa então propôs aos fiéis alguns questionamentos para uma reflexão pessoal: “Eu sei parar durante os meus dias? Sei dedicar um momento para estar comigo mesmo e com o Senhor, ou estou sempre tomado pela pressa das tarefas a realizar? Sabemos encontrar um pouco de 'deserto' interior em meio aos ruídos e às atividades de cada dia?"

Que a Virgem Santa nos ajude a “descansar no Espírito” mesmo em meio a todas as atividades cotidianas, e a sermos disponíveis e compassivos com os outros, concluiu o Papa Francisco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Lourenço de Brindisi

São Lourenço de Brindisi (A12)
21 de julho
São Lourenço de Brindisi

Júlio César Russo nasceu em 1559 na cidade de Brindisi, Itália, recebendo dos fervorosos pais ótimas raízes religiosas. Já na primeira infância demonstrava piedade incomum, possuindo também inteligência acima da média.

Por isso, a admiração dos franciscanos, mesmo os mais observantes, do convento de São Paulo Eremita em Brindisi, para onde foi encaminhado aos quatro anos para receber sólida formação, diante da sua seriedade, compenetração e brilhantismo nos estudos.

Com apenas seis anos, memorizava e declamava várias páginas de textos, iniciando o estudo da Bíblia. Também repetida com exatidão, desembaraço e espírito os sermões ouvidos, e por tal motivo frequentemente os frades o chamavam para pregar nos Capítulos do convento. Por sua fama, quis ouvi-lo o Arcebispo Dom Francisco Alcander, disfarçando-se entre os fiéis para deixá-lo à vontade.

Ao final da prédica, encantado com a sabedoria e desenvoltura do menino, abençoou-o e lhe concedeu ampla licença para pregar em toda a diocese, especialmente no púlpito da catedral, para isso convocando o povo pelo toque dos sinos.

Aos oito anos entrou para a escola dos meninos oblatos, espécie de pequeno seminário dos frades franciscanos, pouco depois da morte do pai. Ali também os seus dons o destacavam, mas seus sábios formadores não o enalteciam publicamente, para evitar-lhe a vaidade. Aprendeu as ciências humanas e a divina, incluindo a humildade, saindo naturalmente de uma pregação para fazer serviços como varrer o pátio e esfregar o assoalho.

Com o falecimento da mãe teve que se mudar para Veneza com 14 anos, aos cuidados de um tio virtuoso, Pedro Rossi, que dirigia uma escola particular preparatória à Universidade de São Marcos, e o incentivou para uma vida de santificação. Júlio decidiu-se a entrar no convento dos freis capuchinhos, e para já se exercitar neste tipo de vida consagrada e austera intensificou a vida de piedade e penitência.

Jejuava três vezes por semana, dormia pouco e sobre tábuas, usava cilício e disciplinava-se frequentemente. Foi admitido como noviço em Verona, um período que lhe trouxe provações espirituais e físicas, com várias doenças, mas sofria com serenidade por amor a Deus e a Nossa Senhora, a Quem fizera sua consagração.

Estudou profundamente Latim, Hebraico, Grego, História, Filosofia e Teologia, e chegou a memorizar toda a Bíblia. Foi encarregado de pregar antes mesmo da sua ordenação sacerdotal, conseguindo muitas conversões tanto antes quanto depois. Estudou Filosofia na Universidade de Pádua para receber com 23 anos a ordem presbiteral, que ocorreu em 1582.

Em 1586 foi para Veneza como mestre dos noviços da Ordem; em 1587, foi eleito Guardião (Superior do Convento) de Bassano del Grappa; em 1590, Vigário, ou Guardião, Provincial da Toscana e depois de Veneza; em 1596, Definidor, ou Vigário, Geral da Ordem (um dos mais elevados cargos); e como Provincial da Suíça visitou as províncias transalpinas da mesma.

Nesta função, viajou a pé, por vezes mais de 40 quilômetros por dia, sob sol, chuva ou neve, durante um ano, na França, Holanda e Espanha. Zelou então energicamente pela austeridade tradicional da Ordem, especialmente na questão da pobreza. No Império Austro-Húngaro, enfrentou o fraco imperador Rodolfo e seus auxiliares protestantes, que pretendiam expulsar os missionários franciscanos de lá, conseguindo fundar três conventos, em Praga, Viena e Gratz.

Como Capelão das tropas imperiais e conselheiro do chefe do exército romano, Filipe Emanuel de Lorena, na guerra contra a invasão dos turcos muçulmanos, levava apenas uma cruz de madeira com várias relíquias incrustadas, animando a todos e pregando, e realizando milagres (com testemunhos oculares), como fazer voltar as balas inimigas contra eles próprios, fazendo o Sinal da Cruz.

Como embaixador do Papa Paulo V intermediou a paz entre vários governantes católicos, evitando guerras fratricidas, e por isso recebeu do Sumo Pontífice em 1606 permissão oficial para pregar em qualquer lugar sem necessidade da autorização dos bispos locais. E de fato convertia multidões, como em Nápoles, Mântua, Gênova, Pádua, Verona, Milão, etc.; por falar perfeitamente Hebreu, converteu também muitos judeus de Roma.

Lourenço foi fundamental na formação de uma Liga Católica, obtendo a adesão de vários governantes católicos, para combater a Liga Protestante. Polemizando com os hereges, escreveu um manual extraordinariamente bem feito, a partir dos textos originais gregos e hebreus da Bíblia, em confronto com as obras de Lutero, demolindo suas ideias.

Suas atividades eram muito frequentemente acompanhadas de milagres: curas de cegos, paralíticos, surdos, esterilidade. Até lenços tocados por ele tinham poder de curar. Constam 97 milagres em vida no seu processo de canonização.

Suas duas maiores devoções eram: Nossa Senhora, de Quem afirmava: “...aquele que se confia a Maria, que se entrega a Maria, não será jamais abandonado, nem neste mundo nem no outro”, e para Quem escreveu um livro, Mariae, do qual se disse ser o melhor e mais completo sobre a Virgem; e a Sagrada Eucaristia, “o centro não somente de sua vida espiritual, mas de toda sua existência”.

Frequentemente entrava em Êxtase na celebração da Missa, e em qualquer lugar que fosse garantia que pudesse celebrá-la. Mesmo nos seus últimos anos, sofrendo muito com a gota, fazia questão de celebrar, e durante este tempo conseguia ficar de pé. Terminando, voltavam as dores e era preciso ser carregado de volta ao leito.

Faleceu em 21 de julho de 1619, data do seu aniversário de 60 anos, após um ataque agudo de gota e febre, quando estava em missão na cidade de Lisboa, Portugal.

Sua obra é gigantesca: pregador, administrador, diplomata, cruzado, apologista, taumaturgo, escritor, arauto de paz entre os governantes católicos e paladino contra os hereges e muçulmanos, bem querido por regentes eclesiásticos e civis, foi venerado ainda em vida como santo.

Depois da morte, passou a ser chamado de Lourenço de Brindisi para não causar confusão com São Lourenço mártir. Foi proclamado Doutor da Igreja.

Colaboração: : José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

As realizações de São Lourenço de Brindisi são tão imensas quanto o seu coração. Recebeu dons excepcionais, mas os complementou literalmente ao longo de toda a vida através da ascética, do estudo e principalmente pelo entrelaçamento entre humildade e as duas devoções mais típicas dos santos (recomendadas com ênfase da Igreja para todos), à Nossa Senhora e à Eucaristia. Com este amplo e sólido suporte, pôde se destacar na pregação, nos escritos, nas batalhas – espirituais, contra as heresias por exemplo, e em campo, armado de Deus. Entre as inúmeras graças que lhe foram concedidas, está a de ter tido santos mestres. O cuidado que tiveram em lhe prevenir desde cedo a vaidade, não exagerando nos elogios a uma criança, ainda que genial, é uma prova. E é exatamente pelo orgulho que o diabo mais facilmente corrompe, com especial facilidade a quem é concedida destacada inteligência. Para São Lourenço, ainda outra forte via de tentação para a soberba poderia ter sido o reconhecimento do povo em geral, pois era comumente recebido nas diversas localidades por multidões entusiasmadas. Este entusiasmo é sem dúvida bom como reconhecimento da santidade de alguém, mas sempre perigoso. Ainda pior quando as aclamações são por atividades mundanas, que o digam as figuras públicas, os governantes, os artistas, os desportistas, etc., que sem a santidade de Lourenço muitas vezes agem com a pretensão de deuses. Os ídolos são adorados por idólatras… sobre o que seria espiritualmente salutar (ideal, não resistindo ao jogo de palavras) que as massas de “fãs” (fanáticos…) procurassem meditar. São Lourenço combateu o bom combate na época do Renascimento, movimento pagão. Hoje devemos nos movimentar para combater o renascimento do paganismo. Os pagãos adoravam ídolos como os deuses mitológicos, por exemplo, mas atualmente estes deuses são mais conceituais, ideológicos, e portanto mais sutis e perigosos. Rezemos ao Senhor, sempre providente, que suscite por toda a parte santos como Lourenço, humildemente preparados para vencer o combate espiritual e em campo, munidos da Eucaristia e nas legiões de Nossa Senhora.

Oração:

Senhor Deus, cujas obras maravilhosas se manifestam na grandeza dos Vossos santos, e em todas as épocas protege os Vossos filhos, concedei-nos pela intercessão de São Lourenço de Brindisi a graça da sua mesma humildade, sem a qual não poderemos limpar o assoalho imundo das nossas almas, pisadas pelo pecado, nem pacificar as disputas fratricidas das ambiciosas paixões no coração; e igualmente a memória viva de Vós, para podermos recitar na vida prática as virtudes, e na vida celeste o Glória em Vossa honra. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

 Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 20 de julho de 2024

Padre Cícero, admirado por Lampião e banido pela Igreja, agora pode virar santo (1)

Padre Cícero, em foto do início do século 20, de autoria desconhecida | CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO/ WIKICOMMONS

Padre Cícero, admirado por Lampião e banido pela Igreja, agora pode virar santo

  • Author, Edison Veiga
  • Role,De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil
  • 19 julho 2024

Graças a uma guinada na alta cúpula do Vaticano, o religioso brasileiro Cícero Romão Batista (1844-1934), conhecido simplesmente como Padre Cícero ou Padim Ciço, pode se tornar santo em breve.

Uma santidade, aliás, já reconhecida pelo catolicismo popular, sobretudo do Nordeste brasileiro. Ali, é comum que o sacerdote, que morreu há 90 anos, seja invocado em rezas e promessas. Não raras vezes com o epíteto de “santo”. Santo Padre Cícero.

A reviravolta da Santa Sé é curiosa porque Padre Cícero não só ainda não foi canonizado como, de quebra, em vida foi banido pela própria Igreja.

Admirado por Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), vulgo Lampião, e por outros cangaceiros, o religioso se tornou político — foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, no Ceará —, era próximo dos coronéis que ali atuavam e tem uma biografia recheada de controvérsias.

O que não impediu que a fé popular o venerasse. Em Juazeiro há uma estátua de 30 metros em sua homenagem, inaugurada em 1969. O local recebe 2,5 milhões de peregrinos por ano.

“Falar de romarias na Diocese de Crato e em Juazeiro do Norte é falar do querido padre Cícero Romão Batista. Este sacerdote dinamizou a espiritualidade católica na região do Cariri, sendo responsável pela espiritualidade de todo o povo nordestino até os dias de hoje”, afirma o padre Aureliano Gondim, em nota publicada no site da Diocese de Crato.

Para o pesquisador e hagiólogo José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia e professor na Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Ceará, “há muita incompreensão e distorção sobre a figura do Padre Cícero”.

“Ele não foi expulso do sacerdócio. Por não aceitar testemunhar contra os fatos que presenciou em Juazeiro, foi suspenso da ordem”, diz ele, à BBC News Brasil.

“Padre Cícero foi suspenso das ordens sacerdotais, por causa do ‘milagre da hóstia’, que teria sangrado na boca de uma beata. Tal fato foi questionado severamente pela Igreja, que o proibiu de exercer seu ministério sacerdotal”, afirma à BBC News Brasil o teólogo e escritor J. Alves, autor do livro ‘Os Santos de Cada Dia’.

Em entrevista à BBC News Brasil, o antropólogo e sociólogo Joaquim Izidro do Nascimento Junior, especialista em religiosidades populares e professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), atribui à trajetória de Padre Cícero as controvérsias que recaem sobre ele.

“Um padre do nordeste brasileiro, de uma Igreja católica do século 19, que acreditou na manifestação de Jesus Cristo na boca de uma mulher pobre e negra e enfrentou a Igreja”, ressalta ele, lembrando que o religioso “passou sua vida tentando o apoio e o reconhecimento dessa manifestação, por parte da Igreja Católica” e “optou por se tornar político para demonstrar influências e conseguir reverter sua suspensão na própria Igreja”.

“São elementos que reforçam um acontecimento único e controverso por si só”, analisa o antropólogo. “O crescimento da cidade e, consequentemente, das peregrinações, abriram um fosso entre uma trajetória de um padre sertanejo e uma Igreja romana europeia, o que deu contornos dramáticos.”

O suposto milagre

Em 1º de março de 1889, Padre Cícero era um homem prestes a completar 45 anos e já gozava de experiência no sacerdócio — havia sido ordenado em 1870.

Popular pela eficaz e contagiante oratória, ferramenta de inflamados sermões, e pelo trabalho pastoral então inédito naquele carente sertão nordestino, ele celebrava missa em Juazeiro.

Na hora da comunhão, a hóstia recebida pela religiosa Maria de Araújo (1861-1914) alegadamente se transformou em sangue — na boca da mulher. Na visão dos que acreditam: a prova de que aquele pão é o corpo de Jesus.

Seria um milagre.

Cabem aqui parênteses para explicar quem era essa mulher. Nascida do povoado de Tabuleiro Grande, ficou órfã logo cedo e teve uma adolescência difícil, trabalhando no artesanato e em uma olaria. Aos 22 anos, decidiu usar hábito como se fosse uma freira — para o povo, ela acabou sendo reconhecida como uma beata.

Acabou sendo acolhida pelo Padre Cícero, residindo em sua casa. De acordo com Gondim, o fato milagroso se repetiria “por mais 138 vezes, num período de quase dois anos”.

Padre Cícero, em foto do início do século 20, de autoria desconhecida | CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO/ WIKICOMMONS

O sacerdote enfatiza que aquela missa do dia 1º de março exigiu preparação especial. Segundo ele, antes “houve horas de oração e jejum por ocasião da quaresma” e da celebração participavam “moças que viviam da caridade, auxiliando a catequese daquele povo”.

Estudiosa do fenômeno, a historiadora e escritora Dia Nobre busca trazer o protagonismo de volta para Maria de Araújo. “Não considero que ela participa do milagre. A partir dos relatos [da época], ela é o próprio instrumento divino para a realização desses fenômenos extraordinários na cidade de Juazeiro”, diz ela à BBC News Brasil.

No fim do mês, Nobre lança o livro Incêndios da Alma, que traz a história dessa mulher e a contextualiza dentro desse ambiente nordestino de catolicismo popular do fim do século 19.

“Não eram somente a transubstanciação das hóstias [a transformação delas em sangue], outros fenômenos também aconteciam, como viagens espirituais, viagens ao purgatório, profecias… Ela recebia estigmas da crucificação”, elenca a pesquisadora. “Ela e outras mulheres se colocavam como protagonistas desses fenômenos, como representantes do próprio Jesus na Terra, dispensando a mediação da Igreja, dos padres. Isso foi uma afronta muito grande à hierarquia do próprio catolicismo.”

“As mulheres foram protagonistas da transformação de Juazeiro em espaço sagrado”, ressalta ela.

Para Nascimento Junior, “no século 19 não havia [na Igreja] nenhum espaço para o reconhecimento de uma manifestação envolvendo a ‘presença’ do próprio Jesus Cristo na boca de uma mulher pobre e negra”.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c25lvk9rz1lo

Santa Maria Madalena: a apóstola dos apóstolos

Cristo Ressuscitado (Diocese de Marabá)

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Santa Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos é festejada no dia vinte e dois
de Julho, pelo calendário litúrgico romano. Ela foi a grande discípula do Senhor Jesus, a
primeira a ver o Ressuscitado e proclamá-lo para os outros apóstolos, de modo que ela
mereceu o título de ser a apóstola dos apóstolos. Santo Agostinho interpretou esta
missão de Santa Maria Madalena, para anunciar aos outros o Ressuscitado, como graça
grandiosa dada pelo Senhor à uma mulher para servir de modelo para todas as pessoas
seguidoras do Senhor Jesus.

O anúncio de Maria Madalena aos apóstolos.

Maria Madalena anunciou aos apóstolos que o Senhor fora retirado do sepulcro
(cf. Jo 20, 2). Os apóstolos foram até lá, no sepulcro e encontraram os panos de linho
com que o corpo tinha sido envolvido. Pedro e João ficaram numa atitude de
observação. Desta forma, os discípulos voltaram para o lugar onde moravam e de onde
saíram pois eles correram para o sepulcro (cf. Jo 20,5-10) 1 .

Maria continuou no sepulcro.

Enquanto os dois apóstolos voltaram para casa, Maria permaneceu no sepulcro,
estando do lado de fora, chorando (cf. Jo 20,11). Os seus olhos procuravam o Senhor
sem encontrá-lo dando-se em lágrimas, segundo o relato do Evangelho de São João, que
para Santo Agostinho os olhos de Madalena eram mais aflitos por Ele ter sido retirado
do sepulcro do que por ter sido morto no lenho, pois tinha presente em Jesus o grande
Mestre, cuja vida lhes fora subtraída 2 .

A dor pelo choro de Maria Madalena.

Maria retinha uma dor junto ao sepulcro, estando numa situação de choro. No
entanto ela inclinou-se para o interior do sepulcro (Jo, 20,11b). Segundo Santo
Agostinho ela não ignorava que não se achava ali Aquele a quem procurava, uma vez
que ela própria anunciou aos discípulos que o corpo do Senhor dali tinha sido retirado e
vindo até o sepulcro, procuraram o corpo do Senhor e não o encontraram 3 . Qual seria o
significado do choro? Será que não dava crédito aos seus olhos? Ou seria ela movida
por uma inspiração divina? Ela olhou dentro e viu dois anjos, sentados no lugar onde o
corpo de Jesus fora colocado , um à cabeceira e outro aos pés (cfr. Jo 20,12) 4 .

A palavra dos anjos.

“Por que choras?” (Jo 20, 13). Os anjos censuraram as lágrimas de Maria
Madalena, segundo Santo Agostinho, porque de certo modo eles anunciavam a alegria
futura, o encontro com o Jesus Ressuscitado 5 . Ela respondeu aos anjos que as pessoas
levaram seu Senhor embora, indicando a parte pelo todo, assim como os fieis
confessaram que Jesus Cristo é Verbo, alma, carne, Ele foi crucificado, sepultado, sendo
apenas a sua carne que foi sepultada e ela, Maria Madalena e outras pessoas não sabiam
onde o puseram. (cf. Jo 20, 13) 6 . Essa era segundo o bispo de Hipona a causa da dor,
pois ela não sabia aonde ir para consolar aquela dor. No entanto a alegria sucederia aos
choros, já anunciada pelos anjos que a ela censuravam o pranto 7 .

Ela viu Jesus.

Ela voltou-se e viu Jesus de pé, mas não o reconheceu, de modo que Jesus lhe
disse: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”(Jo 20,15). Pensando que fosse o
jardineiro ela queria saber onde tinha sido colocado o corpo do Senhor. Mas Jesus lhe
disse: “Maria!” e ela lhe disse: “Rabbuni, que dizer: Mestre!” (Jo 20,16). O bispo de
Hipona afirmou que Ela honrava um homem e Deus a quem suplicava um benefício e
na qual tinha aprendido a discernir as realidades humanas e divinas. Ela chamava de
Senhor, aquele do qual não era escrava para chegar por meio Dele, a quem era de fato,
seu Senhor. Ela disse Rabbuni ao perceber o seu corpo, mas também o reconheceu com
o coração, o Senhor 8 .

A palavra de Jesus.

“Jesus lhe disse: ‘Não me toques, pois ainda não subi ao meu Pai. Vai, porém, a
meus irmãos e dize-lhes Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus’” (Jo
20,17). Para Santo Agostinho existe um ensinamento muito importante nas palavras de
Jesus para Maria Madalena. Jesus lhe ensinou a fé para aquela mulher, que o chamou de
Mestre, e Aquele jardineiro, o Senhor, que sendo o Ressuscitado semeava no coração
dela, assim como em seu jardim, o grão de mostarda que deveria crescer pelas virtudes 9 .
Ele pediu para Maria Madalena para não o tocar pois Jesus quis que se cressem n’Ele
assim, daquela forma, que tocando-o espiritualmente pois Ele próprio e o Pai são um (Jo
17, 21. A palavra de Jesus para não tocá-lo, aludia também à fé no seguidor e na
seguidora de Cristo, reconhecendo-o igual ao Pai 10 .

A continuação do diálogo com Maria Madalena.

Jesus disse a ela que Ele não tinha subido ao seu Pai e ao Pai dela, para lá sem o
tocar, quando ela crer Jesus como Deus, não desigual em relação ao Pai, mas sim igual a
Ele 11 . Jesus disse ao meu Deus e vosso Deus: “Meu tem o significado por natureza, vosso, por graça” 12 . Jesus falou de sua condição humana e divina: “é meu Deus, sob o

qual eu também sou homem, e é vosso, porque entre Ele e vós, sou Mediador” 13 . Jesus é
reconhecido na sua ressurreição como homem e como Deus, o verdadeiro e único
Mediador entre Deus e a humanidade.

“Vi o Senhor” (Jo 20,18): A Apóstola dos Apóstolos.

Maria Madalena foi enviada por Jesus para dizer aos apóstolos que ela viu o
Senhor ressuscitado e contou o que Ele lhe havia dito (cfr. Jo 20,18) 14 . Maria Madalena
tornou-se a grande anunciadora de Jesus Ressuscitado entre os discípulos do Senhor, a
qual ela é considerada a Apóstola dos Apóstolos, a primeira pessoa, mulher a ver o
Jesus Ressuscitado e o anunciou aos outros, aos discípulos.

Nós somos chamados a ser como Maria Madalena, anunciadores da ressurreição
do Senhor em nossas vidas de seguidores e de seguidoras do Senhor Jesus Cristo. Ao
longo da vida nós temos momentos de oração, de convívio com o Ressuscitado pela
eucaristia e outros sacramentos e também somos chamados a fazer obras de caridade,
ajudando às pessoas necessitadas, pobres. Nós vivamos a alegria e o amor do Senhor
que está em nosso meio e em todas as pessoas que lutam pela justiça, pela fraternidade,
pelo amor neste mundo e um dia viver para sempre com o Senhor e com todas as
pessoas que assumiram o mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo,
assim como fez Santa Maria Madalena.

11 Cfr. Homilia 121, 1. In: Santo Agostinho. Comentários a São João – II. Evangelho – Homilias 50-124.
Primeira Epístola. São Paulo: Paulus, 2022, pg. 531.
2 Cfr. Idem, pg. 531.
3 Cfr. Ibidem, pgs. 531-532.
4 Cfr. Ibidem, pg. 532.

5 Cfr. Ibidem, pg. 532.

6 Cfr. Ibidem, pg. 532.
7 Cfr. Ibidem, pgs. 532-533.
8 Cfr. Ibidem, pgs. 533-534.
9 Cfr. Ibidem, pg. 534.
10 Cfr. Ibidem, pg. 535.
11 Cfr. Ibidem, pg. 535.

 Fonte: https://diocesedemaraba.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF