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quarta-feira, 24 de julho de 2024

Hoje é celebrado São Charbel Makhlouf, exemplo de vida consagrada e mística

São Charbel Makhlouf (ACI Digital)

24 de julho

São Charbel Makhlouf

Por Redação central

São Charbel Makhlouf foi um asceta e religioso do Líbano pertencente ao rito maronita e o primeiro santo oriental canonizado desde o século XIII.

Este santo nasceu em 8 de maio de 1828 em Beqaa-Kafra, o lugar habitado mais alto do Líbano. Cresceu com o exemplo dos seus tios, ambos eremitas. Aos 23 anos, deixou sua casa em segredo e entrou no mosteiro de Nossa Senhora de Mayfuq, tomando o nome de uma mártir sírio: Charbel.

Fez os votos solenes em 1853 e foi ordenado sacerdote em 1859 por dom José Al Marid, sob o patriarcado de Paulo I Pedro Masad. Fixou como sua residência o mosteiro de São Maron, em Annaya, que se encontra a 1067 metros acima do nível do mar.

Padre Charbel viveu nessa comunidade por 15 anos, sendo um monge exemplar, dedicado à oração, ao apostolado e à leitura espiritual.

Tempos depois, sentiu o chamado à vida eremita e, em 13 de fevereiro de 1875, recebeu a autorização para colocá-la em prática. Desde esse momento até a sua morte em 1898, dedicou-se à oração (rezava 7 vezes por dia a Liturgia das Horas), à ascese, à penitência e ao trabalho manual. Comia uma vez por dia e permanecia em silêncio.

A única perturbação à sua oração vinha pela quantidade de visitantes que chegavam atraídos por sua reputação de santidade. Esses buscavam conselho, a promessa de oração ou algum milagre.

Foi beatificado pelo papa Paulo VI em 5 de dezembro de 1965, durante o encerramento do Concílio Vaticano II, e sua canonização aconteceu em 9 de outubro de 1977, durante o Sínodo Mundial dos Bispos.

Sua devoção se estendeu no Líbano, mas também cruzou fronteiras até a América.

Fonte: https://www.acidigital.com/

CATEQUESE: A missa como sacrifício

A Santa Missa (Cléofas)

A missa como sacrifício

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Na Missa, Jesus não é “morto de novo e de novo”, como alguns críticos reivindicam, mas Ele é oferecido continuamente, numa oblação pura, desde o nascer até o pôr do sol.

Sabemos que ainda não somos dignos do céu. É por isso que somos dependentes do cálice que recebemos na Missa, o sangue de Jesus, cujo “sangue aspergido… fala mais misericordiosamente do que o sangue de Abel”. O sangue de Cristo, o cálice do Seu sangue, purifica os pecadores arrependidos e é, para eles, um cálice de bênção e de perdão.

A Igreja Católica ensina que a Sagrada Comunhão remove todos os pecados veniais da alma do pecador. Através de nosso contato com Jesus tornamo-nos, pela graça, o que Ele é por natureza. Participamos de Sua natureza. Ele é todo puro, todo santo, e por isso, Seu toque nos purifica. O que Ele diz ao leproso é igualmente válido para nós: “Eu quero, fica purificado” (Mt 8,3).

Na Antiga Aliança, os israelitas ofereciam sacrifícios para expiar os pecados, mas agora, Cristo se tornou o sacrifício plenamente suficiente. Por Sua morte, Ele cumpriu o que muitos milhões de oferendas do mundo antigo jamais puderam cumprir. Vejamos a Epístola aos Hebreus: “De fato, se o sangue de bodes e touros e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santificam, realizando a pureza ritual dos corpos, quanto mais sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo” (Hb 9,13-14). A morte e ressurreição de Cristo marcam um sacrifício “de uma vez por todas”: “somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (Hb 10,10).

A morte e ressurreição de Jesus aconteceram apenas uma vez na história, mas Ele quis que todas as pessoas, das diversas épocas, participassem daquele sacrifício. E a forma desejada por Deus é a Missa, que é em si, o sacrifício de Jesus Cristo. Ele não é “morto de novo e de novo”, como alguns críticos reivindicam, mas Ele é oferecido continuamente, numa oblação pura, desde o nascer até o pôr do sol.

O sacrifício de Cristo não anula o nosso, mas faz com que seja possível. Com efeito, foi Jesus quem ordenou a Seus ministros sacerdotes para que participassem de Seu ato sacrificial, pois foi Ele quem disse: “Fazei isto em memória de mim”. Os Seus Apóstolos, como todos os sacerdotes católicos subsequentes, não submetiam a Jesus, mas antes, O representam e participam de Seu sacerdócio.

Os primeiros cristãos viviam num mundo onde o sacrifício era parte integrante de uma religião. Se tivessem se convertido do Judaísmo, conheceriam os sacrifícios do Templo de Jerusalém. Se tivessem vindo do paganismo, conheceriam os sacrifícios dos deuses pagãos. Mas agora, todos esses sacrifícios deram lugar ao rito habitualmente chamado de “o sacrifício”. A Carta aos Hebreus cita o Salmo 50,23 para incentivar um contínuo “sacrifício de louvor” (Hb 13,15) na Igreja. Paulo, comumente, usa uma linguagem com palavras próprias de um culto de sacrifício, tais como: leutourgia (liturgia; por exemplo, Rm 15,16), eucaristia (ação de graças, eucaristia; por exemplo, 2Cor 9,11), thusia (sacrifício; por exemplo, Fl 4,18); hierougein (serviço sacerdotal; por exemplo, Rm 15,16); e prosphoron (oferenda; por exemplo, Rm 15,16). Pedro fala de toda a Igreja como um sacerdócio chamado de “a oferta dos sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pd 2,5).

Essa linguagem sacrifical aparece também nos escritos cristãos dos discípulos dos Apóstolos. Um livro antigo, chamado Didaqué, repetidamente usa a palavra “sacrifício” para descrever a Eucaristia: “E no dia do Senhor, reuni-vos para partir o pão e dar graças, primeiramente confessando suas transgressões, para que o seu sacrifício seja puro”. Santo Inácio de Antioquia, escrevendo apenas alguns anos depois da morte dos Apóstolos, habitualmente se referia à Igreja como o “lugar do sacrifício”.

No Antigo Testamento, os sacrifícios iniciavam ou restauravam a comunhão entre Deus e o homem; e assim o faz a Missa, no Novo Testamento, só que de forma mais perfeita. Para Santo Inácio e seus contemporâneos em 105 d. C., a Igreja estava unida em comunhão pela Eucaristia. Isso eles tinham aprendido bem de São Paulo, que disse: “Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, esclareceu esta doutrina para qualquer um que pudesse estar em dúvida: “Acautelai-vos, então, de ter, porém, uma Eucaristia. Porque há uma só carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, e um cálice para manifestar a unidade do seu sangue; um altar, como há um só bispo, juntamente com os sacerdotes e diáconos, meus companheiros no serviço”. E, Inácio, definia como hereges aqueles que se abstém da Eucaristia e da oração, porque não confessam que a Eucaristia é a carne de Nosso Salvador Jesus Cristo, o qual sofreu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, O ressuscitou”.

Pelo fato de não crescermos ao redor de cultos de sacrifício, como os primeiros cristãos faziam, não estamos acostumados à linguagem que Inácio utiliza a todo o momento, uma linguagem de sacrifício, ao falar de um altar, por exemplo, e da oferenda da carne. Numa outra carta sua, ele mesmo se compara a uma oferenda de trigo e de pão. Para cada culto sacrifical, fosse em Israel, na Grécia ou em Roma, era necessário um sacerdote. Esse, por definição, é alguém que oferece o sacrifício (ver Hb 8,3). Santo Inácio reconhece o sacerdócio de todos os fiéis, como São Pedro; mas ele também reconhece, como São Paulo, que alguns homens são separados para presidir os ritos da Igreja. Inácio escreveu aos cristãos de Esmirna: “Que a Eucaristia só seja considerada válida se for celebrada na presença do bispo ou daquele a quem ele tiver confiado à celebração”.

No Apocalipse, o livro do Novo Testamento que os católicos consideram um “ícone da liturgia”, Cristo aparece como um cordeiro do sacrifício (Ap 5,6). É o sangue desse Cordeiro, dado em sacrifício, que “tira os pecados do mundo” (Jo 1,29).

Agora a oferenda está no céu, exatamente onde João a viu, mas o céu toca a terra na Missa. Os Padres da Igreja gostavam de citar o Profeta Isaías quando falavam sobre o sacrifício Eucarístico e seu poder de apagar os nossos pecados: “Um dos serafins voou para mim segurando, com uma tenaz, uma brasa tirada do altar. Com ela tocou meus lábios dizendo: ‘Agora que isto tocou os teus lábios, tua culpa está sendo tirada; teu pecado, perdoado” (Is 6,6-7). Para os primeiros cristãos, a “queima com carvão” prefigurava o Santíssimo Sacramento, o Pão que desceu do altar de Deus para purificar a Igreja em oração.

Retirado do livro: “Razões Para Crer”. Scott Hahn. Ed. Cléofas.

Fonte: https://cleofas.com.br/

Uma personalidade que se identifique com Cristo (2)

Crédito: Opus Dei

Uma personalidade que se identifique com Cristo

Começamos uma série de editoriais sobre a formação do caráter e a maturidade cristã. Como influi a personalidade na vida diária? As pessoas podem mudar? Qual é o papel da graça?

13/03/2020

Maturidade humana e sobrenatural

A palavra "maturidade" significa primeiramente estar maduro, pronto, e por extensão refere-se à plenitude do ser. Implica também o cumprimento da tarefa em si. Por isso, na vida do Senhor encontraremos o melhor paradigma. Contemplá-la nos Evangelhos e ver como Cristo trata as pessoas, sua fortaleza ante o sofrimento, a decisão com que empreendeu a missão recebida do Pai, tudo isso nos dá o critério da maturidade.

Ao mesmo tempo, nossa fé incorpora todos os valores nobres que se encontram nas diversas culturas, e por isso também é útil assimilar, purificando-os, os critérios clássicos de maturidade humana. É algo que se fez ao longo da história da espiritualidade cristã, em maior ou menor grau, de forma mais ou menos explícita.

O mundo clássico greco-romano, por exemplo (que foi tão sabiamente cristianizado pelos Padres da Igreja), colocou no centro do ideal da maturidade humana especialmente a "sabedoria" e a "prudência", entendidas com diversos matizes. Os filósofos e teólogos cristãos daquela época enriqueceram esta concepção observando a primazia das virtudes teologais, de modo especial a caridade como vínculo da perfeição[8] , em palavras de São Paulo, e que dá forma a todas as virtudes.

Atualmente, o estudo sobre a maturidade humana se completou com diversas perspectivas oferecidas pelas ciências modernas. Suas conclusões são úteis na medida em que partem de uma visão do homem aberta à mensagem cristã.

Assim, alguns costumam distinguir três campos fundamentais na maturidade: intelectual, emotiva e social. Traços significativos de maturidade intelectual podem ser: um adequado conceito de si mesmo (proximidade entre o que uma pessoa pensa que é, e o que realmente é; a sinceridade consigo mesmo influi decisivamente nisso); uma filosofia correta da vida; estabelecer pessoalmente metas e fins claros, porém com horizontes abertos e ilimitados (em amplitude, profundidade e intensidade); um conjunto harmonioso de valores; uma clara certeza ético-moral; um realismo sadio ante o próprio mundo e alheio; a capacidade de reflexão e análise serena dos problemas; a criatividade e a iniciativa; etc.

Entre os traços de maturidade emotiva, sem nenhuma pretensão de exaustividade, cabe distinguir: saber reagir proporcionalmente ante os acontecimentos da vida, sem deixar-se abater pelo fracasso nem perder o realismo no sucesso; a capacidade de controle flexível e construtivo de si mesmo; o saber amar, ser generosos e dar-se aos outros; a segurança e firmeza nas decisões e compromissos; a serenidade e capacidade de superação ante os desafios e as dificuldades; o otimismo, a alegria, a simpatia e o bom humor.

Finalmente, como parte da maturidade social encontramos: o afeto sincero pelos outros, o respeito a seus direitos e o desejo de descobrir e aliviar suas necessidades; a compreensão da diversidade de opiniões, valores ou traços culturais, sem preconceitos; a capacidade de crítica e independência perante a cultura dominante, o ambiente, os grupos de pressão ou as modas; uma naturalidade no comportamento que leva a atuar sem convencionalismos; a ser capazes de ouvir e compreender; a disposição a colaborar com outros.

Um caminho para a maturidade

Poderíamos resumir essas características dizendo que a pessoa madura é capaz de desenvolver um projeto elevado, claro e harmonioso de sua vida, e possui as disposições positivas necessárias para realizá-lo com facilidade.

Em qualquer caso, a maturidade é um processo que requer tempo, e passa por diferentes momentos e etapas. Costumamos crescer de uma maneira gradual, embora na história pessoal possa haver acontecimentos que levam a dar grandes saltos. Por exemplo: para alguns, o nascimento do primeiro filho é um marco divisório, ao perceber o que implica esta nova responsabilidade; ou, depois de passar por sérias dificuldades econômicas, uma pessoa pode aprender a reconsiderar quais são as coisas verdadeiramente importantes na vida; etc.

Neste caminho para a maturidade a força transformadora da graça faz-se presente. Basta um olhar sobre a vida das santas e dos santos mais conhecidos para detectar neles os ideais elevados, a certeza de suas convicções, a humildade – que é o mais adequado conceito sobre si mesmo -, sua criatividade e iniciativa, sua capacidade de entrega e amor feita realidade, seu otimismo contagioso, sua abertura – seu empenho apostólico, em última análise eficaz e universal.

Podemos encontrar um exemplo claro na vida de São Josemaria que desde a juventude notava que a graça trabalhava nele consolidando uma personalidade madura. Percebia dentro de si mesmo, no meio das dificuldades, uma estabilidade de ânimo fora do comum: Creio que o Senhor pôs na minha alma outra característica: a paz: ter a paz e dar a paz, como vejo acontecer em pessoas com quem me relaciono ou que dirijo[9]. Podiam ser aplicadas a ele, com toda justiça, aquelas palavras do salmo: Super senes intellexi quia mandata tua quaesivi[10]sou mais sensato do que os anciãos, porque observo os vossos preceitos. O que não exclui que, muitas vezes, adquire-se a maturidade com o tempo, os fracassos e os sucessos, que estão previstos pela Providência Divina.

Contar com a graça e o tempo

Embora seja possível observar que, em algum momento uma pessoa chegou a um estágio de maturidade em sua vida, a tarefa de trabalhar sobre o próprio modo de ser projeta-se ao longo da nossa caminhada terrena.

O autoconhecimento e a aceitação do próprio caráter darão paz para não desanimar nesta tarefa. Isto não significa ceder ao conformismo. Quer dizer reconhecer que o heroísmo da santidade não exige possuir uma personalidade perfeita agora, nem aspirar a um modo de ser idealizado, pois a santidade requer a luta paciente de cada dia, sabendo reconhecer os erros e pedir perdão.

As verdadeiras biografias dos heróis cristãos são como as nossas vidas: lutavam e ganhavam, lutavam e perdiam. E então, contritos, voltavam à luta[11]. O Senhor conta com o esforço sustentado ao longo do tempo para aperfeiçoar o próprio modo de ser. É significativo, por exemplo, aquilo que uma pessoa comentava sobre a serva de Deus Dora Del Hoyo já no final de sua:«–Dora, quem te viu e quem te vê. Olha que é outra! Riu. Sabia muito bem do eu que falava» [12]. Tinha observado como, com os anos, seu caráter tinha atingido uma estabilidade de ânimo que conseguia moderar as reações de seu gênio.

Nesta tarefa contamos sempre com a ajuda do Senhor e os cuidados maternos de Santa Maria :«Nossa Senhora realiza precisamente isto em nós, ajuda-nos a crescer humanamente e na fé, a ser fortes e a não ceder à tentação de ser homens e cristãos de modo superficial, mas a viver com responsabilidade, a tender sempre cada vez mais para o alto»[13].

Nos próximos editoriais abordaremos diversos elementos envolvidos na formação do caráter. Destacaremos algumas das principais características da maturidade cristã. Contemplaremos o edifício que o Espírito Santo, com a colaboração ativa de cada um, procura construir no interior da alma, e consideraremos as características dos alicerces, o que fazer para garantir a firmeza da estrutura, e como remediar a aparição de alguma fissura.

Forjar uma personalidade capaz de refletir claramente a imagem de Jesus Cristo é um desafio realmente entusiasmante!

J. Sesé


[8] Cl 3, 14

[9] São Josemaria, Apontamentos íntimos n. 1095, citado em Andrés Vázquez de Prada, O fundador do Opus Dei, Quadrante, p. 513

[10] Salmo 118

[11] É Cristo que passa, n. 76

[12] Lembranças de Rosalía López, Roma 29-IX-2006 (AGP, DHA, T-1058), citado en Javier Medina, Una luz encendida. Dora del Hoyo, Palabra, Madrid 2012, p. 115.

[13] Francisco, palavras após a oração do rosário na basílica de Santa Maria Maior, 4/05/2013

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

A experiência da oração: Abraão, Moisés, Esther, Ana

Abraão: o pai da fé (Ambigutravel)

A EXPERIÊNCIA DA ORAÇÃO: ABRAÃO, MOISÉS, ESTHER, ANA

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA) 

Neste ano no processo de preparação ao Ano Jubilar (2025) fomos convidados a refletir sobre a oração. «Peço-vos que intensifiqueis a vossa oração, a fim de nos prepararmos para viver bem este acontecimento de graça e experimentar nele a força da esperança de Deus. […] Um ano dedicado a redescobrir o grande valor e a necessidade absoluta da oração na vida pessoal, na vida da Igreja e no mundo» (Francisco. Angelus, 21 de janeiro de 2024). Na Sagrada Escritura encontramos muitas referências sobre a experiência da oração.  Vale a pena refletir sobre alguns casos! 

A oração de Abraão: súplica pela Misericórdia 

A primeira referência de oração na Bíblia aparece no quarto capítulo do livro do Gênesis, mas não tem conteúdo. Diz o autor sagrado que Enós, filho de Set e neto de Adão e Eva, “foi o primeiro a invocar o nome de Javé” (Gn 4,26). Apesar de ser apresentado como um homem justo, obediente, íntegro e bondoso diante da sua geração não menciona oração de Noé (cf. Gn 6,9.22). A primeira oração explícita é feita por Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, ao apresentar e abençoar a oferta do pão e do vinho a Abrão, dizendo: «Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os inimigos a você» (Gn 14,19-20). É uma oração de louvor a Deus Criador e fonte das vitórias. Em seguida encontramos a breve oração de Agar, serva de Sara, que ao engravidar invocou o nome de Javé dizendo: “Tu és o Deus-que-me-vê, pois eu vi Aquele-que-me-vê» (Gn 16,14). Agar reconhece a Deus como aquele que vê os humilhados! 

Em Gênesis 18,20-32, encontramos o orante Abraão em pleno diálogo com Deus suplicando misericórdia em favor dos justos que moravam em Sodoma e Gomorra.  Diz a Bíblia que os habitantes de Sodoma e Gomorra eram grandes criminosos e pecavam contra Javé (cf. Gn 13,13); desprezavam o valor sagrado da hospitalidade aos visitantes e estrangeiros (cf. Gn 19,2-3); eram libertinos e adotavam práticas homossexuais (cf. Judas 1,7; Gn 19,2-5). Considerando esse contexto histórico a oração de Abrão ganha um profundo sentido fazendo brilhar a intercessão pela misericórdia divina. 

Abraão nos é apresentado com um homem que dialoga com Deus (cf. Gn 18,23-33); trata-se de um diálogo franco, sincero, honesto, sem interesses pessoais, humilde (“sou pó e cinza” – cf. Gn 18,27) e centrado no reconhecimento da grandeza de Deus, Juiz e senhor do mundo (cf. Gn 18,25-31). No final da história a justiça divina é preservada: os inocentes foram salvos e maus condenados (cf. Gn 19,29).     

 Moisés: oração na liderança 

Moisés era um homem que orava pela vitória do seu povo.  À medida que Moisés mantinha suas “mãos para o alto” (em oração) os israelitas venciam; quando as abaixava, venciam os inimigos (cf. Ex 17,8-13). A narração nos sugere que nossas vitórias nem sempre dependem dos nossos investimentos técnicos: estudos, dinheiro, armas, projetos, técnicas… Mas, sobretudo, da nossa capacidade de oração que nos sustenta e anima a conservar nossa integridade, nossa paz interior, nossa retidão moral.  

Às vezes, é nas “batalhas” contra os “inimigos” da vida que recorremos a meios ilícitos. Apesar de sempre contar com a participação humana, é Deus quem garante a vitória! (cf. Pr 21,31). Não basta a técnica, é necessária a fé, pois é ela que alimenta nossas forças! A luta nos cansa, mas é a motivação interior que nos mantém perseverantes. Como Moisés, também conosco acontece a mesma coisa: a qualidade da nossa vida (nossas vitórias) depende das nossas mãos erguidas.  

O perfil orante de Moisés também aparece em outras passagens. “Javé falava com Moisés face a face como um homem fala com um amigo” (Ex 33,11); sentindo o peso da liderança do povo no deserto ele vai ao encontro de Deus; certa vez levantou-se de madrugada e subiu ao monte Sinai, levando consigo as tábuas de pedra e lá permaneceu com Deus (cf. Ex 34,4-5). A oração é uma necessidade pessoal e deve ser alimentada pela Palavra de Deus.  No encontro com Deus, Moisés implora clemência: “caminha conosco, embora este povo seja de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua” (Ex 34,9). A oração de Moisés é carregada de sensibilidade pastoral.  

 Esther: diversos aspectos da oração  

Outra referência de oração muito significativa encontramos na história da rainha Esther. A narração nos convida a meditar sobre a força da oração. A rainha Esther contempla o drama do seu povo oprimido e, temendo o perigo de morte, busca refúgio no Senhor (cf. Est 4,17ss). A atitude de fé de Esther nos convida a pensar numa série de elementos importantes da oração. 

A oração é autêntica quando temos fé e buscamos refúgio em Deus, porque o reconhecemos como o Senhor da história, a fonte da nossa segurança, nossa esperança, nosso defensor (cf. Est 4,17q). A oração é estimulada pelo reconhecimento da nossa pequenez, vulnerabilidade, solidão, falta de perspectivas humanas (4 vezes aparecem a confissão da sua solidão (cf. Est 4,17l,t). 

Na oração de Esther estão as suas necessidades pessoais e ameaças, mas também as necessidades dos outros; há uma íntima relação entre oração e solidariedade; o intimismo não é a oração, é egoísmo. Esther nos ensina a colocar as necessidades dos outros nas nossas orações; e que, diante dos problemas sociais, é necessário estimular a comunidade para a oração. A oração tem uma dimensão comunitária. Ela orava com suas servas (cf. Est 4,17p). 

A nossa oração é estimulada pela memória da benevolência de Deus para conosco. A oração cheia de Esperança de Ester é alimentada pela recordação de que Deus manifestou a sua misericórdia aos seus antepassados (cf. Est 4,17p-r). O Papa Francisco nos alerta para não nos deixarmos contagiar pelo mal do “Alzheimer espiritual”, que é o esquecimento da misericórdia de Deus. 

Na oração, Esther não só suplica o fim dos males, mas também a transformação do coração do opressor. Em sua oração Esther, não pede a brusca transformação da realidade, mas se oferta como instrumento, como intercessora, por isso diz: “põe em meus lábios um discurso atraente”… para falar com o Rei. Não basta suplicar na oração, é preciso que também nós renovemos a consciência da nossa responsabilidade diante das mudanças necessárias, sejam pessoais, quanto sociais. Enfim, a oração de Esther é experiência de esperança, por isso termina dizendo: “Transforma nosso luto em alegria” (Es 4,17). A oração nos livra do pessimismo e do derrotismo! 

 Ana: louvor e ação de graças  

Ana era estéril, vivia sendo humilhada, mas suplicou a Deus por um filho, foi atendida e seu filho foi chamado Samuel (cf. 1Sm 1-2). O conteúdo da oração de Ana é muito rico e vai ao encontro de algumas atitudes comuns dos autênticos orantes.  Reconhecendo tão grande graça, Ana consagrou seu filho a Deus (cf. 1Sm 1,26-28). Movida pelo sentimento de alegria e gratidão, Ana louva a Deus em oração.  Na oração há liberdade de expressão dos nossos sentimentos a Deus que transforma nossa realidade nos proporcionando sentimentos de alegria (cf. 1Sm 2,1-2).  

Na oração há o reconhecimento da grandeza e do poder de Deus que em nada se compara ao poder dos nossos inimigos (cf. 1Sm 2,2-4); o fiel orante contempla a bondade transcendente de Deus que tudo transforma: dando pão aos famintos, fecundando as estéreis, exaltando os humilhados, restaurando os fracos e os indigentes, guardando seus fiéis, protegendo os justos (cf. 1Sm 2,5-9). A autêntica oração se concentra na contemplação das qualidades divinas que fortalece o orante! 

PARA A REFFLEXÃO PESSOAL: 

O que lhe chamou atenção nesses exemplos? 

O que há de comum nessas experiências de oração? 

Por que a oração gera conforto e alegria no fiel orante? 

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Unidade na fé, pluralismo de culturas (2)

Dolan em frente à Catedral de São Patrício, em 15 de abril de 2009, dia em que tomou posse da diocese de Nova York [© Associated Press/LaPresse] | 30Giorni

Unidade na fé, pluralismo de culturas

Encontro com Timothy Michael Dolan, novo arcebispo metropolitano de Nova York

Entrevista com o Arcebispo Timothy Michael Dolan por Giovanni Cubeddu

Isso quer dizer?
DOLAN: A arquidiocese pode funcionar de forma harmoniosa e eficiente e por isso quero elogiar o Cardeal Egan, e também o Cardeal O'Connor, porque a estatura moral da Igreja é elevada. Os políticos recorrem a ele em busca de incentivo, os vizinhos recorrem a ele em busca de ajuda, os educadores recorrem a ele em busca de apoio. Um ex-prefeito de Nova York, Edward Koch, que foi um grande e bem-sucedido prefeito, costumava dizer que a Igreja aqui é como a "cola" que mantém tudo unido, graças às nossas obras católicas de caridade, aos refeitórios pobres , às escolas, às paróquias. É o que dá coesão. E é a estrutura “bem oleada” da arquidiocese que faz tudo isso de forma tão bela. A Igreja está verdadeiramente viva, vibrante e em crescimento. Quando vou à missa aos domingos de manhã no Saint Patrick, encontro-a sempre cheia. Na missa festiva só há lugares em pé... Portanto, nas paróquias precisamos de novos edifícios, de novas escolas... Ele não vive segundo os números, mas vive no espírito. Certamente temos problemas, tantos como outras dioceses, se não mais; Contudo, a Arquidiocese de Nova Iorque ainda representa um microcosmo da vitalidade da Igreja americana.

Dir-se-ia que o pluralismo de Nova Iorque também vive em casa, todos na casa de Nossa Mãe. E, portanto, é correto dizer que no pluralismo da Igreja americana existem experiências muito diferentes, mas, em essência, estamos unidos. E tem dois lugares onde isso acontece...
Quais?
DOLAN: Primeiro, para a missa de domingo; segundo, no Yankee Stadium para o jogo de beisebol, quando todos cantamos juntos o hino nacional, mesmo que os Yankees estejam jogando contra o Boston!

Talvez até mesmo os seus colegas bispos e cardeais americanos pudessem se sentir unidos no Yankee Stadium…
DOLAN: Difícil… sem comentários [risos, ed. ]. Realizámos a reunião dos bispos em Junho e, como sabemos, as dificuldades e os desafios para a Igreja Católica americana são numerosos. Mas bispo após bispo se levantaram, dizendo que, graças a Deus, estamos unidos nas coisas que importam. Podemos discordar na abordagem das questões, no estilo, no método, mas quando se trata disso, estamos juntos. Santo Agostinho repetiu: “Unidade nas coisas essenciais, diversidade nas não essenciais, caridade em tudo”. E isto pode ser aplicado seriamente aos bispos dos Estados Unidos.

Qual foi a sua reação à encíclica social e como foi saudada num país que criou uma grande crise económica e financeira e que agora luta para recuperar?
DOLAN: As pessoas aqui estão aprendendo abruptamente que a nossa economia não pode continuar como está, que a reforma é necessária e que a forma como tratamos o comércio, os negócios, a política, o investimento e as trocas deve ser guiada por valores e virtudes bíblicas. A encíclica do Papa Bento XVI será bem recebida, como uma luz.

Como historiador, você terá examinado a perene questão da identidade da Igreja Americana. A que conclusões você chegou, se houver?
DOLAN: A questão da identidade da Igreja Católica nos Estados Unidos é seriamente crucial. O falecido padre Richard John Neuhaus – vocês o conhecem, um esplêndido teólogo e um observador muito atento da religião na América – costumava dizer que a maior questão que enfrentamos é se devemos chamar-nos “católicos americanos” ou “católicos americanos”. Ele teria gostado que nos chamássemos de “católicos americanos”. Não somos americanos católicos, somos católicos que vivem nos Estados Unidos. O bem normativo nas nossas vidas deve ser a nossa fé católica: as decisões que tomamos, os valores que nos preocupam, as prioridades na vida, a forma de pensar, de sonhar, de planear devem ser supremamente moldados pela nossa fé católica. Agora, isto é ideal, claro, porque também sabemos que o maior desafio que enfrentamos é que a cultura que nos rodeia tem mais valor normativo do que a nossa fé. E você na Europa também tem que lidar com isso, né? Se você tem uma cultura secular que não ajuda a fé, então a nossa alma pode estar em perigo. Naturalmente na Europa, na Itália, deveria existir uma cultura que fosse, pelo menos tradicionalmente, mais aliada aos valores da fé. Por exemplo, a festa dos Santos Pedro e Paulo em Roma é considerada um feriado e não apenas um feriado católico. E como você mantém um calendário católico, isso deve ajudá-lo a preservar a cultura católica. Nos Estados Unidos não podemos, e alguns dizem que já não temos uma cultura cristã. Discordo e acredito que ainda mantemos essa cultura entre o nosso povo – embora por vezes este não seja o caso dos políticos, das universidades e da indústria do entretenimento. As pessoas ainda têm valores cristãos muito básicos embutidos nelas.

Obama com sua filha Sasha [© Associated Press/LaPresse] | 30Giorni

Então, como é ser “católico” e “americano”?
DOLAN: A principal questão na história da Igreja Católica nos Estados Unidos é como ser um bom católico e um patriota americano. Os líderes católicos sempre dizem que não só é possível ser um bom católico e um bom americano, mas também é natural, porque em sua essência os valores americanos são baseados na lei natural, na fé e na moralidade judaico-cristã. Portanto, alguém pode ser um cidadão americano leal e um católico bom e sincero: uma aliança deveria existir aqui. E essa sempre foi a tradição e o desafio, a esperança e o sonho dos católicos nos Estados Unidos. Mas sabemos também que devemos decidir o que é essencial para a nossa fé, para não a comprometer, e o que não o é, que podemos portanto acolher ou transformar, adaptando-nos à cultura envolvente. Temos que fazer adaptações, assimilar, mudar algumas coisas, sem que isso acabe tocando a essência da fé. Temos que determinar o que é essencial e o que não é, e às vezes isso é complicado, um pouco difícil.

Existe um diálogo contínuo entre a Igreja e o mundo. Recordemos a Ecclesiam Suam de Paulo VI .
DOLAN: É verdade, e naturalmente essa intuição de Paulo VI na Ecclesiam Suam teria sido retomada pelo Papa João Paulo II e Bento XVI; este último afirma que os nossos valores católicos não nos abstraem das responsabilidades civis, mas as fortalecem, para que a Igreja Católica na sua expressão máxima reafirme e revigore o que há de mais nobre, honesto, virtuoso e libertador no projeto humano. João Paulo II repetia isso o tempo todo. O Papa Bento XVI diz que a Igreja dá o seu melhor quando diz “sim, sim” e não “não, não”... Então dizemos “sim” ao que há de mais belo na sociedade, dizemos “sim” ao que é precioso e libertador e traz de volta à dignidade os esforços humanos. E isto acontece naturalmente quando a Igreja é a luz do mundo, o sal da terra, o fermento da massa. Isto é o que somos chamados a ser. A história dos católicos americanos tem sido conturbada, porque tudo isto não faz parte da cultura dos Estados Unidos...

Onde a Igreja é abraçada pela livre escolha individual...
DOLAN: Em países com tradição católica, a fé às vezes é tida como certa, mas este não é o caso nos Estados Unidos. Você tem que escolher, porque todos os dias você está em um ambiente que desafia a sua fé e a coloca em dúvida. Então, você tem que escolher, abraçar, amar, aprender de novo. Não estou dizendo que seja sempre assim, porque parte dos nossos problemas reside no fato de que mesmo nas famílias tradicionalmente católicas, a fé às vezes é tida como certa e depois desaparece. Talvez você esteja familiarizado com os resultados recentemente alcançados pelo Pew Center, na Filadélfia, uma instituição altamente respeitada no campo da pesquisa sobre questões religiosas. Esses analistas dizem que as chamadas “religiões herdadas” estão sofrendo. O que são religiões herdadas? Judaísmo, Catolicismo, Ortodoxia e Islamismo. Sobre estas últimas não se fala muito porque não têm estatísticas, mas as religiões herdadas hoje vêem os seus fiéis partirem. Geralmente acontecia que, se alguém nascesse católico, nunca abandonaria a Igreja. Ele poderia parar de praticar, mas sempre se identificaria como católico. E o mesmo ocorreu com os nascidos judeus. Tudo isso não existe mais. Hoje ouvimos o nosso povo dizer: “Posso ter sido criado como católico, mas agora deixei a Igreja, não sou mais católico e abracei outra religião”. É um enorme desafio pastoral para nós, porque a Igreja é uma mãe que se desfaz em lágrimas quando os filhos saem de casa. Ela os quer de volta.

Arquivo 30Dias – 06/07 – 2009

Fonte: http://www.30giorni.it/

Missionária do Kivu do Norte: não sabemos o que acontecerá amanhã

Irmã Agnieszka Gugała (Vatican Media)

Há muito tempo, os voluntários humanitários foram dispensados, enquanto as missionárias permanecem porque as pessoas necessitam delas. "Partiremos apenas com aqueles que temos sob nossos cuidados", afirmou a irmã Agnieszka Gugała. A missionária polonesa trabalha no Kivu do Norte, onde há quase três décadas ocorre uma das guerras mais sangrentas da África.

Beata Zajączkowska – Cidade do Vaticano

A irmã Agnieszka foi para a África há 20 anos. Como ela recorda, percebeu sua vocação missionária ainda no ensino médio. "Pode-se dizer que foram as missões que me conduziram à Congregação das Irmãs dos Anjos", confessou. Nos primeiros anos de sua vida religiosa, trabalhou ensinando catequese nas escolas, cuidando de crianças e jovens. Recebeu permissão para ir à África após os votos perpétuos. Primeiro foi para Ruanda, depois veio a vez da República Democrática do Congo. Há uma década, ela gerencia um hospital e um centro nutricional para crianças no vilarejo de Ntamugenga. A missionária brinca dizendo ser o homem da casa: suas ocupações vão desde a compra de torneiras, sabonetes e medicamentos, pagamento dos funcionários, reparo do telhado, até a busca de panelas e colchões para os refugiados, além das arriscadas viagens a Goma, a única cidade da região onde pode adquirir os medicamentos necessários, alimentos e leite para as crianças que perderam suas mães. Durante essas expedições, é preciso passar por vários postos de controle que estão nas mãos dos rebeldes. Em quase todos, precisa negociar para poder seguir com sua missão.

Matérias-primas ensanguentadas

Os anos de trabalho da irmã Agnieszka no Kivu do Norte são marcados por sucessivos conflitos que, embora enfraqueçam, nunca terminam. "Enquanto as crianças forem testemunhas de crimes e tiverem que interromper os estudos, não haverá paz neste país", declarou a missionária, que tem o futuro dos pequenos no coração. A região está desestabilizada por mais de uma centena de grupos diferentes que buscam controlar os depósitos de cobalto, coltan e nióbio, necessários para a produção de telefones celulares. Esses minerais são mais valiosos que ouro e diamantes, que os rebeldes também saqueiam. A população civil é a que mais sofre, não vendo nem mesmo as migalhas dessas riquezas que sua terra esconde. As pessoas são forçadas a abandonar suas casas e campos devido à violência. Há mais de 5,6 milhões de deslocados internos no Congo.

Irmã Agnieszka Gugała entre os refugiados congoleses (Vatican Media)

A missão de paz das Nações Unidas, cujo custo anual supera a renda nacional de todo o Congo, não consegue mudar a situação. Os missionários não interferem na política, mas tentam enfrentar a poderosa crise humanitária que destrói o Kivu do Norte. "Todos os dias as pessoas morrem de fome e de doenças comuns. Nossa presença dá encorajamento às pessoas e garante sua segurança. Eles nos chamam de ‘nossas irmãs’, o que significa que estamos muito próximas deles", contou a irmã Agnieszka.

A pobreza diária no Kivu (Vatican Media)

Frágil em sua aparência física, nas atuais condições de guerra, a religiosa é o ponto de referência para milhares de pessoas necessitadas. Ela é corajosamente apoiada por duas irmãs do Ruanda e do Congo. "Vivemos apenas pela Providência de Deus; as bombas caíam ao redor do nosso mosteiro, poucos metros de diferença e estaríamos mortas. Trouxeram-nos os feridos, as paredes estavam vermelhas de sangue", relatou ao contar sobre um dos confrontos na região.

A área da missão torna-se um refúgio em tempos de conflito (Vatican Media)

"Outros refugiados chegaram à missão e o hospital gerido pelas irmãs estava lotado, tentando atender 5.000 pacientes, muitos dos quais feridos. Atualmente, a frente de batalha se afastou da missão, mas a situação ainda é muito turbulenta".

O mosteiro como local de refúgio

As missionárias são um ponto de referência, especialmente para as mulheres com crianças que, ao primeiro sinal de perigo, se refugiam em seu mosteiro. Quando o cenário está mais calmo, a irmã Agnieszka abastece seus recursos e busca obter o máximo de ajuda possível do exterior. Sua antecipação frequentemente salvou vidas. "Em circunstâncias normais, obter assistência médica beira o milagroso; quando a situação piora, torna-se impossível", afirmou a missionária. As Irmãs dos Anjos mantêm um ponto de alimentação que, apesar do conflito, opera ininterruptamente. "Quase metade das crianças menores de cinco anos nesta região sofre de desnutrição crônica. A tuberculose e a malária permanecem um grande desafio. Esta última é a doença que mais mata por aqui" – confidenciou a irmã Agnieszka.

A desnutrição afeta metade das crianças (Vatican Media)

Quando questionada sobre os sonhos das missionárias, como muitos habitantes da região, ela repete: "paz duradoura. Esta terra é fértil e as pessoas poderiam viver aqui com segurança e dignidade", declarou a religiosa. No entanto, como se os infortúnios sofridos até agora não fossem suficientes, jihadistas ligados ao chamado Estado Islâmico, vindos da vizinha Uganda, estão começando a se fazer presentes na região. Multiplicam-se as notícias de massacres de pessoas indefesas e estupros de mulheres e crianças. A missionária lembra o apelo do Papa Francisco para tirar as mãos da África. E enfatiza que a visita do Papa ao Congo foi uma oportunidade para lançar luz sobre este canto esquecido do mundo e direcionar ajuda humanitária tão necessária. Junto com outras Irmãs dos Anjos, ela pede orações para que tenham força e saúde para continuar sua missão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 23 de julho de 2024

Diáconos Permanentes da Arquidiocese de Brasília participam de Retiro Canônico

Retiro dos Diáconos Permanentes de Brasília (arqbrasilia)

O Retiro Canônico dos Diáconos Permanentes da Arquidiocese de Brasília, que contou com a participação das esposas dos Diáconos e do Padre Miguel Alon, Vigário Episcopal para o Diaconato, foi realizado neste último fim de semana, dos dias 19 a 21 de julho, na Casa de Convivência Sagrada Família, localizada no Incra 7.

  • julho 22, 2024

O Retiro começou com a Celebração da Santa Missa presidida por Dom José Francisco Falcão de Barros, Bispo Auxiliar do Ordinariado Militar do Brasil, na sexta-feira (19/07). Logo após, todos jantaram e tiveram um momento de confraternização e acolhimento, direcionado pelo padre Miguel Alon, Vigário Episcopal para o Diaconato.

No sábado (20/07), o dia teve início com a Celebração Eucarística presidida por Denilson Geraldo, SAC, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília. O Bispo permaneceu no retiro e ministrou as palestras de formação ao longo do dia.

A Santa Missa de encerramento do Retiro Canônico foi presidida pelo Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, na manhã de domingo. Na ocasião, o Bispo destacou a Missão do Diácono e de suas esposas na Família e nas comunidades.

“Conto muito com vocês neste caminho em que a Igreja quer que todos se doem com alegria. O Arcebispo deve ser o primeiro a se doar com alegria, juntamente com os Bispos Auxiliares, os nossos amados padres, os Diáconos e suas esposas, e o povo de Deus. A igreja vai se tornando cada vez mais bonita, evangelizadora e missionária quando todos se doam com alegria. Por isso, é tão importante que todos participem das reuniões, dos cursos e retiros que são oferecidos. É tão bonito ver a família diaconal reunida. O ministério do Diácono deve ser exercido junto com a esposa e a família. Você é o Diácono, mas a Igreja valoriza cada vez mais a presença do ministério da mulher na Igreja, muito focada no olhar que tem para Maria, e ressalta o papel fundamental das mulheres nas nossas comunidades. A Igreja segue o seu caminho sendo direcionada pelo Espírito, que suscita aquilo que Deus quer realizar em cada um de nós. Juntos, caminhamos com alegria!”, disse o Cardeal.     

Durante o evento, o Diácono Barbosa fez o lançamento do livro de sua autoria sobre a Catequese e a Pastoral do Evangelho de São Marcos. No total, 61 Diáconos Permanentes e 24 esposas participaram do Retiro Canônico. Encerrando o momento de partilha e confraternização, os Diáconos prepararam uma surpresa para celebrar o aniversário natalício do Cardeal.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Da amizade pessoal à fraternidade sem fronteiras

Dia do Amigo (Calendarr)

DA AMIZADE PESSOAL À FRATERNIDADE SEM FRONTEIRAS

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

No dia 20 de julho de 1969 o homem chegava a lua, tendo por primeira vez uma visão do planeta Terra desde uma perspectiva inteiramente universal. O dentista argentino Enrique Febbraro compreendeu bem esse acontecimento com toda a relevância que possuía, propondo estabelecer para comemorar essa data o Dia Internacional do Amigo.  

Onde muitos viam o triunfo da inventividade tecnológica ou mesmo da evolução da ciência, Enrique via a vocação a ser uma só família, superando barreiras e divisões, para unir os povos e nações numa fraternidade universal. Iniciou-se com uma comemoração oficial em Buenos Aires, com o decreto nº235/79, e lhe valeu a indicação como candidato ao prêmio Nobel por duas vezes.  

Assim como o poeta da Divina Comédia Dante Alighieri afirmava que o amor movia todo o universo, Enrique sustentava  que a amizade nos seus diversos tempos, modos e expressões era o que fazia crescer e amadurecer a humanidade. Aquilo que de forma magistral, Bento XVI ensinou na Encíclica Caritas in Veritate, que o amor era o motor de todo desenvolvimento humano integral, solidário e sustentável.  

Precisamos de muitos Enriques, que nos despertem para a vivência da amizade, já seja pessoal, social ou mundial, acreditando que todos somos irmãos e irmãs, inquilinos e residentes numa única Casa Comum.  

A Igreja mais que qualquer outra instituição pelo seu carisma e missão, partilhará sempre cordialmente as Palavras de nosso Mestre e Salvador Jesus Cristo : “Já não vos chamo servos mas amigos” e “ Ninguém ama mais que Aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”, edificando juntos a civilização do amor, da paz e da concórdia, da dádiva e misericórdia.  

Por isso neste ano que a Campanha da Fraternidade teve como foco a amizade social ,e que foi sugerido nas diretrizes de ação a celebração do Dia do Amigo, aproveitemos esta bela iniciativa.  Nesta Data tão oportuna para exercitar a cura dos relacionamentos, aproximar pessoas e ventilar nossas práticas afetivas, abracemos não só aos nossos amigos pessoais, mas com um coração generoso e magnânimo a todas as pessoas e criaturas, com o mesmo olhar e sentimentos que o nosso querido Pai. Deus seja louvado!  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Uma personalidade que se identifique com Cristo (1)

Crédito: Opus Dei

Começamos uma série de editoriais sobre a formação do caráter e a maturidade cristã. Como influi a personalidade na vida diária? As pessoas podem mudar? Qual é o papel da graça?

13/03/2020

Por que reajo deste modo? Por que sou assim? Sou capaz de mudar? São algumas das perguntas que alguma vez podem assaltar-nos. Às vezes, as consideramos em relação aos outros: por que tem esse modo de ser?... Vamos refletir sobre estas questões, olhando para o nosso objetivo: ser cada vez mais parecidos com Jesus Cristo, deixando-o operar em nossas vidas.

Este processo abarca todas as dimensões da pessoa, que ao divinizar-se conserva os traços do autenticamente humano, elevando estas características de acordo com a vocação cristã. Porque Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: perfectus Deus, perfectus homo. NEle contemplamos a figura realizada do ser humano, pois «Cristo Redentor (...) revela plenamente o homem ao próprio homem. Esta é — se assim é lícito exprimir-se — a dimensão humana do mistério da Redenção. Nesta dimensão o homem reencontra a grandeza, a dignidade e o valor próprios da sua humanidade[1] ».

A nova vida que recebemos no Batismo está chamada a crescer até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo[2].

O divino, o sobrenatural, é o elemento decisivo na santidade pessoal, que une e harmoniza todas as facetas do homem, mas não podemos esquecer que isto inclui, como algo intrínseco e necessário, o elemento humano: Se aceitamos a nossa responsabilidade de filhos de Deus, devemos ter em conta que Ele nos quer muito humanos. Que a cabeça toque o céu, mas os pés assentem com toda a firmeza na terra. O preço de vivermos cristãmente não é nem deixarmos de ser homens nem abdicarmos do esforço por adquirir essas virtudes que alguns têm, mesmo sem conhecerem Cristo. O preço de cada cristão é o Sangue redentor de Nosso Senhor, que nos quer - insisto - muito humanos e muito divinos, diariamente empenhados em imitá-lo, pois Ele é perfectus Deus, perfectus homo, perfeito Deus, perfeito homem[3].

A tarefa de formar o caráter

A ação da graça nas almas está unida ao crescimento da maturidade humana, o aperfeiçoamento do caráter. Por isso, ao mesmo tempo em que cultiva as virtudes sobrenaturais, um cristão que busca a santidade procurará alcançar os hábitos, modos de fazer e de pensar que caracterizam uma pessoa madura e equilibrada. O fim das suas ações será refletir a vida de Cristo, e não um simples empenho de perfeição. Por isso, São Josemaria anima a fazer exame de consciência: —Filho, onde está o Cristo que as almas buscam em ti? Na tua soberba? Nos teus desejos de impor-te aos outros? Nessas mesquinhezes de caráter que não queres vencer? Nessa caturrice?... Está aí Cristo? - Não!! A resposta nos dá una chave para empreender esta tarefa: —De acordo: deves ter personalidade, mas a tua personalidade tem de procurar identificar-se com Cristo![4]

Na própria personalidade influi tanto o que se herda e se manifesta desde o nascimento, que costuma chamar-se temperamento, como os aspectos que se vão adquirindo pela educação, as decisões pessoais, o trato com os outros e com Deus, e muitos outros fatores, que inclusive podem ser inconscientes.

Deste modo, existem diferentes tipos de personalidades ou caráter extrovertidos ou tímidos, vivazes ou reservados, despreocupados ou apreensivos, etc. , que se expressam no modo de trabalhar, de relacionar-se com os outros, de considerar os acontecimentos diários.

Estes elementos influem na vida moral, pois facilitam o desenvolvimento de certas virtudes, mas também podem facilitar o aparecimento de defeitos, se faltar o empenho por moldar o temperamento. Por exemplo, uma personalidade empreendedora pode ajudar a cultivar a laboriosidade, desde que ao mesmo tempo se viva uma disciplina que evitará o defeito da inconstância e do ativismo.

Deus conta com nossa personalidade para levar-nos por caminhos de santidade. O modo de ser de cada um é como uma terra fértil que precisa ser cultivada: basta tirar com paciência e alegria as pedras e as ervas daninhas que impedem a ação da graça, e começará a dar frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um[5].

Cada um pode fazer render os talentos que recebeu das mãos de Deus, se se deixa transformar pela ação do Espírito Santo, forjando uma personalidade que possa refletir o rosto de Cristo, sem que isto tire nada de suas próprias características, pois diferentes são os santos do Céu, que têm cada um as suas notas pessoais e especialíssimas[6].

Temos de reforçar e aperfeiçoar a personalidade para ajustar-se a um estilo cristão, mas não se pode pensar que o ideal seria converter-se em uma espécie de "super-homem" Na verdade, o modelo é sempre Jesus Cristo, que possui uma natureza humana igual à nossa, porém perfeita em sua normalidade e elevada pela graça.

Naturalmente, encontramos um exemplo sublime também na Virgem Maria: Nela se dá a plenitude do humano… e da normalidade. A proverbial humildade e simplicidade de Maria, talvez suas virtudes mais valorizadas em toda a tradição cristã, unidas à proximidade, afeto e ternura com todos os seus filhos que são virtudes de uma boa mãe de família , são a melhor confirmação deste fato: a perfeição de uma criatura  Mais que tu, só Deus![7] , tão plenamente humana, tão encantadoramente mulher: a Senhora por excelência!

J. Sesé


[1] São João Paulo II, Enc. Redemptor Hominis, n. 10.

[2] Ef, 4, 13

[3] Amigos de Deus, n. 75

[4] Forja, 468

[5] Mt 13, 8

[6] Caminho, 947

[7] Caminho, n. 496

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Oito refugiados participarão dos Jogos Paralímpicos de Paris

Atletas da equipe de refugiados do COI que irão às Olimpíadas (Vatican News)

Oito atletas refugiados participarão dos Jogos Paralímpicos que serão realizados na França, de 28 de agosto a 8 de setembro. Eles competirão em seis modalidades paraolímpicas, incluindo atletismo, levantamento de peso e esgrima.

Giampaolo Mattei - Cidade do Vaticano

A 37 dias da abertura dos Jogos Paralímpicos de Paris – marcados para 28 de agosto – o Comitê Paralímpico Internacional anunciou os nomes dos oito atletas que farão parte da equipe de refugiados. Foram apenas dois no Rio de Janeiro em 2016 e seis em Tóquio em 2021. Com 36 atletas na equipe olímpica, um total de 45 refugiados competirão nos Jogos.

Representando mais de 100 milhões de refugiados e todas as pessoas com deficiência, os atletas paraolímpicos vêm do Afeganistão, Síria, Irã, Colômbia e Camarões. Eles foram acolhidos na Alemanha, Áustria, França, Reino Unido, Grécia e Itália. Eles competirão em seis modalidades paraolímpicas: atletismo, levantamento de peso, tênis de mesa, taekwondo, triatlo e esgrima. O chefe de missão da equipe é Nyasha Mharakurwa, uma tenista cadeirante que representou o Zimbábue nos Jogos de Londres de 2012.

Perseverança e determinação inacreditáveis

Para Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, embora “todos os atletas paralímpicos demonstrem uma resiliência incrível, as histórias de refugiados que sobreviveram à guerra e à perseguição são extraordinárias”. É um fato, acrescenta Andrew Pearsons, que “hoje, muitas pessoas deslocadas à força vivem em condições terríveis. Estes atletas demonstraram inacreditável perseverança e determinação para chegar aos Jogos de Paris 2024 e dar esperança a todos os refugiados, enquanto a Equipe Paraolímpica de Refugiados destaca os efeitos benéficos do desporto na vida e nas sociedades.

Filippo Grandi, alto comissário da Agência da ONU para Refugiados, que monitoriza de perto a equipe, afirmou:

Pelos terceiros Jogos Paraolímpicos consecutivos, uma equipe de atletas refugiados determinados e inspirados mostrará ao mundo o que podem realizar se tiverem oportunidade. Os refugiados podem prosperar quando lhes é dada a oportunidade de usar e mostrar as suas competências e talentos, seja no desporto ou em muitas outras áreas da vida. O desporto é essencial para o seu bem-estar mental e físico, bem como para a sua inclusão e integração nas comunidades que os acolhem.

Mulheres e homens de paz segundo o Papa Francisco

O desporto do ponto de vista dos atletas refugiados com deficiência é muito caro ao Papa Francisco. No prefácio do livro 'Giochi di pace. L'anima delle Olimpiadi e delle Paralimpiadi' ("Jogos de paz, a alma dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos"), publicado pela Livraria Editoria Vaticano por iniciativa da Athletica Vaticana, o Papa encoraja precisamente esta experiência desportiva inclusiva: “Penso nos atletas com deficiência. Sempre fico impressionado vendo suas performances e ouvindo suas palavras. O objetivo do movimento paralímpico não é apenas celebrar um grande evento, mas demonstrar o que as pessoas – feridas pela vida – conseguem fazer quando têm condições de fazê-lo. E se isto se aplica ao desporto, também deve aplicar-se à vida quotidiana.

O Papa acrescenta no prefácio: “Penso nos atletas refugiados que contam as suas histórias de mudança, de esperança (...). Não são “apenas” desportistas e desportistas. São mulheres e homens de paz, protagonistas de uma esperança tenaz e da capacidade de se levantar depois de um momento difícil."

A cidade de Paris sediará os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2024 (Vatican News)

O testemunho de Ibrahim

Em Giochi di pace há também o testemunho de Ibrahim Al Hussein, sírio, que participará pela terceira vez dos Jogos Paralímpicos na seleção de refugiados - foi porta-bandeira nos jogos de 2016 no Rio de Janeiro - passando da natação para a triatlo (e que confidencia que juntar o dinheiro necessário para adquirir “o equipamento para competir na modalidade triatlo” não é uma tarefa fácil).

Ele diz no livro: em 2012, “eu corria em direção a um futuro melhor – nasci em 1988 em Deir el-Zor, na Síria – quando um amigo foi atingido por um atirador. Ele estava no chão e gritando. Eu sabia que se fosse em seu auxílio eu também poderia ser atingido. Mas eu nunca teria me perdoado por deixá-lo no chão. Alguns segundos depois, uma bomba explodiu perto de mim. Perdi a parte inferior da perna direita e a esquerda também foi afetada."

Ibrahim era um excelente nadador, mas na tragédia da guerra e com a amputação de uma perna, a sua paixão pelo desporto parece ter desaparecido:

Consegui chegar a Istambul e lá conheci pessoas generosas que me deram uma prótese que não era muito funcional, mas era melhor que nada: tinha que repará-la a cada 300 metros. Então, na noite de 27 de fevereiro de 2014 — foi o dia em que minha “segunda vida” começou — atravessei o Mar Egeu num bote de borracha até a Ilha de Samos, na Grécia.

Pessoas generosas lhe ofereceram trabalho e lhe deram uma prótese de verdade. E Ibrahim voltou a nadar para recuperar a vida, acabando por se classificar para os Jogos Paraolímpicos de 2016.

Dois afegãos e três iranianos

Zakia Khudadadi – a única mulher da equipa – já participou nos Jogos de Tóquio em 2021, depois de ter fugido do Afeganistão de forma inacreditável na sequência da “proibição olímpica” imposta pelos talibãs. Hoje mora em Paris e conquistou o Campeonato Europeu de Taekwondo de 2023 (categoria 47 kg), dedicando sua vitória às mulheres de seu país.

Hadi Hassanzada, outro afegão da equipe, viveu a tragédia de ser deslocado diversas vezes em busca de uma vida melhor, e enfrentou situações difíceis nas rotas de refugiados pela Turquia. Ele agora mora na Áustria. Apesar da amputação do braço direito, o taekwondo ajuda-o a “transformar dificuldades em oportunidades”.

Três iranianos que vivem na Alemanha viajarão para os Jogos Paraolímpicos de Paris 2024. Salman Abbariki participa dos Jogos Paraolímpicos pela segunda vez, depois de competir no arremesso de peso em Londres em 2012. Hadi Darvish passou dois anos de sua vida como refugiado. acampará com sua esposa e filhos e competirá como levantador de peso. Por fim, Sayed Amir Hossein Pour estará entre os competidores do tênis de mesa.

Um camaronês com deficiência visual

O camaronês Guillaume Junior Atangana, velocista com deficiência visual residente no Reino Unido, correrá com o seu guia e concidadão Donard Ndim Nyamjua, também refugiado, nas provas de 100 e 400 metros. Ele ficou em quarto lugar nos Jogos de Tóquio, perdendo por pouco a medalha dos 400 metros. Em junho passado, durante o Grande Prêmio de Paraatletismo de Nottwil, ele ficou em primeiro lugar nos 400 metros e em segundo nos 100 metros.

Por fim, o esgrimista Amelio Castro Grueso, de origem colombiana mas residente em Itália, pode se beneficiar de um treino de alto nível em Roma com Daniele Pantoni, treinador do clube desportivo da polícia nacional.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF