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sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Reflexões éticas sobre a mentira na era digital

A era dos Fake News (Cancaonova)

Reflexões éticas sobre a mentira na era digital 

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

A mentira é tão antiga quanto a própria comunicação humana, pois o ato de falar implica dizer a verdade ou mentir. Desde os primórdios da filosofia, a verdade e a mentira foram questões centrais no debate ético e moral. Clássicos como Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e Immanuel Kant abordaram a questão de formas distintas, cada um trazendo contribuições valiosas para a compreensão do fenômeno. Hoje, em meio à revolução digital e ao fenômeno das fake news, essas reflexões ganham nova relevância, mostrando-se atuais e necessárias. 

Santo Agostinho, em suas obras “Contra a Mentira” e “Sobre a Mentira,” é rigoroso ao tratar do tema. Para ele, a mentira é sempre um pecado, pois implica uma falsidade deliberada que corrompe a alma. Agostinho distingue diferentes tipos de mentira, mas mantém que qualquer forma de falsidade é moralmente repreensível. Ele enfatiza a necessidade de aderir à verdade como uma obrigação moral absoluta, independente das consequências. 

Santo Tomás de Aquino, na “Suma Teológica” (Secunda Secundae, Tratado sobre a Justiça, Questão 110), aborda a mentira como um pecado que vai contra a justiça e a caridade. Ele classifica as mentiras em três categorias principais: mentiras prejudiciais, mentiras oficiosas e mentiras jocosas (ou piadas). 1. Mentiras Prejudiciais: são ditas com a intenção de causar dano a outra pessoa, seja em sua reputação, bens ou vida. Santo Tomás destaca que essas mentiras são especialmente graves porque têm como objetivo prejudicar deliberadamente o próximo. Ele também inclui mentiras contra Deus, como aquelas que distorcem a verdade da fé, considerando-as ainda mais severas devido ao seu impacto espiritual. 2. Mentiras Oficiosas: são contadas para obter algum benefício ou evitar um dano, como mentir para proteger alguém ou para evitar uma situação desconfortável. Apesar de não serem contadas com a intenção de prejudicar, Santo Tomás ainda as considera moralmente erradas porque vão contra a obrigação de comunicar a verdade. No entanto, ele reconhece que a culpa dessas mentiras é menor do que a das mentiras prejudiciais. 3. Mentiras Jocosas: são ditas para divertir ou entreter, sem a intenção de enganar de forma maliciosa. Embora possam ser consideradas menos graves, pois geralmente não causam dano direto, Santo Tomás as considera moralmente inadequadas por desviar-se da verdade. 

Enfim, segundo Santo Tomás, a mentira, independentemente de sua intenção ou gravidade, é sempre moralmente errada porque contraria a natureza racional do ser humano, que é orientada para a verdade. Ele argumenta que as palavras são sinais naturais das ideias, e usar esses sinais para transmitir algo contrário ao que se pensa é uma desordem moral. Pois, só pode mentir quem conhece a verdade e, deliberadamente, mente para enganar ou tirar algum proveito dela. Portanto, mesmo as mentiras com boas intenções não escapam da condenação moral, pois comprometem a verdade, que é essencial para a comunicação humana e a confiança social. 

Immanuel Kant, em seu ensaio “Sobre um Pretenso Direito de Mentir por Amor à Humanidade,” é igualmente rigoroso. Para Kant, a veracidade é um dever incondicional, essencial para a base da justiça e dos contratos sociais. Ele argumenta que, mesmo uma mentira dita para evitar um mal maior, como mentir para proteger alguém de um assassino, não é justificada, pois compromete a universalidade do dever moral e a confiança nos contratos sociais. 

Com a revolução digital e o advento da internet, o conceito de verdade foi significativamente alterado. A disseminação de fake news exemplifica o que caracteriza a “pós-verdade,” onde as emoções e crenças pessoais se sobrepõem aos fatos objetivos. As fake news são frequentemente construídas a partir de fragmentos de verdade, manipulados para reforçar determinadas crenças e ideologias, criando narrativas que visam desinformar e desestabilizar o sistema de verdade compartilhado. 

Esse fenômeno apresenta um desafio ético significativo, pois a manipulação da verdade pode levar à desinformação massiva e à polarização social. A cultura digital, ao democratizar a produção e disseminação de informações, deu voz a todos, mas também abriu espaço para a desinformação. A educação para o pensamento crítico e a ética na comunicação são de suma importância para lidar com esses desafios. 

As reflexões clássicas de Agostinho, Tomás de Aquino e Kant continuam sendo fundamentais para a compreensão ética sobre a verdade e a mentira. Em tempos de fake news e pós-verdade, é fundamental revisitar esses ensinamentos e aplicá-los ao contexto contemporâneo, promovendo uma cultura baseada na verdade e na responsabilidade na comunicação. A busca pela verdade deve ser um compromisso contínuo, tanto na esfera privada quanto na pública, garantindo que a informação seja usada para o bem comum e para a construção de uma sociedade mais justa e informada. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

ORIENTE CRISTÃO: O rosário e a oração de Jesus (2)

Lava-pés, mosaico na capela Redemptoris Mater, Cidade do Vaticano. Os mosaicos da capela Redemptoris Mater foram criados pelo Padre MarKo Ivan Rupnik, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Ezio Aletti. | 30Giorni

ORIENTE CRISTÃO. Entrevista com o Cardeal Tomás Spidlík

O rosário e a oração de Jesus

«No Oriente a grande renovação ocorreu entre os séculos XIX e XX com a chamada “oração de Jesus”: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!”. É uma oração semelhante à do rosário latino. E quando falo do rosário, sempre digo que precisamos aprender a recitá-lo assim como a oração de Jesus é recitada no Oriente”. Encontro com um dos maiores especialistas na espiritualidade do Oriente cristão.

por Pierluca Azzaro

Na sua opinião, a recitação do terço, para a qual o Papa chamou todos os fiéis este ano, pode ser considerada um exemplo de oração dos simples?

SpidlÍk: No Oriente a grande renovação ocorreu entre os séculos XIX e XX com a chamada “oração de Jesus”: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!». É uma oração semelhante à do rosário latino. E quando falo do rosário sempre digo que precisamos aprender a recitá-lo assim como a oração de Jesus é recitada no Oriente. Lembro-me de um pastor protestante na Holanda que queria fazer tudo conosco, católicos, menos recitar o rosário. rosário, porque, disse ele, esta é a oração em que se pode distrair-se livremente, já que ninguém consegue acompanhar mentalmente toda a recitação. Ou seja, sempre se quer compreender, compreender com o intelecto; em vez disso, o intelecto pode servir para desenvolver o verdadeiro sentimento do coração.

Parece compreender-se que, para ela, esta mesma redescoberta da “fé dos simples” pode representar o remédio mais eficaz – talvez o único – capaz de contrariar o que ela chama de “a mais grave heresia contra a qual a Igreja teve lutar desde o início de sua existência": o gnosticismo, que - cito seu livro Espiritualidade Russa - "reduz a revelação de Jesus Cristo a simples ideias abstratas".

SpidlÍk: Os antigos concílios escreveram: símbolo de fé. O homem moderno diz: definição de fé. Não é o mesmo. O Credo não é a definição de fé, o Credo é o símbolo da fé; e nesse símbolo devo compreender minha própria fé. Além disso, digo que, num certo sentido, falsificámos o Credo . Não com o Filioque , mas com vírgula.

Com vírgula?

SpidlÍk: Sim, porque cantamos: «Eu acredito em unum Deum» vírgula e depois «Patrem omnipotentem». Naquela época não havia ateus, mas a primeira regra de fé era “Creio em um só Deus Pai”. Acredito que Deus é pai, esta é a profissão de fé; paternidade, e conversamos com o pai. «Acredito no unum Deum» por si só também pode significar outra coisa, porque também posso acreditar que Deus é uma ideia ou uma lei do mundo. Em vez disso, a verdade cristã é “Creio que Deus é pai”. Portanto, a primeira fonte é a oração ao Pai.

Eminência, hoje o diálogo ecuménico parece viver um dos seus momentos de dificuldade...

SpidlÍk: Tenho muitos amigos no Oriente e quando vou à Roménia, por exemplo, ao regressar perguntam-me: “Como é que os ortodoxos o receberam?”. E eu respondo: «Olha, nunca fui visitar os ortodoxos, fui visitar amigos, e os amigos me receberam bem!». No ecumenismo, deve ser dada prioridade aos contatos pessoais em detrimento das discussões. Porque a amizade pessoal é algo verdadeiramente valioso. Veja a nossa chamada “Casa Aletti”. Nestes dez anos tivemos aqui mais de mil pessoas, intelectuais cristãos, tanto católicos como ortodoxos. O estranho é que o mundo não os conhece e por isso fica-se com a impressão de que não existem, que os contatos já não existem, porque não se fala destas coisas. É preciso quebrar essa ilusão dos jornais que só falam de escândalos e resistências. No Aletti Center não há sermão nem aula. Se as pessoas vêm aqui, elas simplesmente vêm para se encontrar. Durante a missa então, na capela, não se pergunta a ninguém se é católico ou ortodoxo, nada se diz, não sabemos, e receber a comunhão é uma circunstância deixada à liberdade de todos. Um russo, por exemplo, queria comungar, mas seu pai espiritual o proibiu; depois continuou a vir, sempre fazendo o sinal da cruz diante da Eucaristia. É a comunhão espiritual, que a autoridade reconhece.

A Igreja Ortodoxa Grega, por si só, é ainda mais dura porque não reconhece oficialmente a validade dos sacramentos latinos. Esta é a teoria. Mas quando o Papa esteve em Constantinopla, deu o cálice ao Patriarca com quem celebrou; e o Patriarca fez um gesto simbólico: colocou a estola episcopal sobre os ombros do Papa. Assim, reconheceu-o como um bispo válido. O que isso significa? Significa que não devemos levar muito a sério o que é dito, nem as chamadas posições oficiais. Em vez disso, devemos descobrir os fiéis verdadeiramente fiéis, e quando os “fiéis-fiéis” se descobrem, tornam-se amigos. O que importa na amizade é a sinceridade. A sinceridade deve ser a base da amizade.

Em que sentido você baseia tudo na sinceridade?

SpidlÍk: Um grande amigo valdense me disse: «Você faria a liturgia eucarística conosco?». Eu respondi: «Não! Parecer-me-ia contra a caridade, visto que a minha fé na Eucaristia é diferente da sua, não sacramental; bem, fazer essa liturgia seria uma falta de sinceridade”. Os amigos devem ser honestos uns com os outros, dizer uns aos outros no que acreditam e no que não acreditam; mas não devemos fazer amigos fictícios, fingindo ser um quando não o somos. Somos amigos quando recitamos os Salmos? Bem, então vamos recitar os Salmos juntos. O ecumenismo requer muita sinceridade. As uniões fictícias são tão sensacionais quanto prejudiciais.

Lendo a sua biografia, chama imediatamente a atenção o grande número de línguas para as quais as suas obras foram traduzidas...

SpidlÍk: Há muitas traduções, é verdade, mas não é minha culpa! O meu último livrinho, um livro sobre oração, foi publicado em árabe, em Bagdad, com a permissão de Saddam Hussein. Naquela época, para traduzi-lo, era necessária autorização do governo, que a concedeu. Depois, com a guerra, o correio parou, mas agora finalmente chegaram os dois primeiros exemplares. Três outros livros foram publicados no Egito, de modo que no total pelo menos quatro dos meus livros foram publicados em árabe. Os manuais são traduzidos para o neo-grego, enquanto os romenos traduzem praticamente tudo. Antes, professores e alunos utilizavam meus livros didáticos em francês, como segunda língua; depois os jovens passaram a falar inglês, mas agora traduzem-no para o romeno. E em breve, em Moscou, serão publicados os Evangelhos de cada dia .

Precisamente sobre Moscovo gostaria de lhe fazer uma pergunta: pela sua biografia também fica claro como o valor do seu trabalho, para além da esfera académica, foi também reconhecido pela esfera política.

SpidlÍk: Mais uma vez digo: precisamos aumentar as relações pessoais. Há alguns anos estive uma hora com o Patriarca e conversamos sobre coisas espirituais, com grande amizade e sem tocar em nenhum assunto político. Se também falamos de política depende de cada indivíduo. Nem mencionamos a possível visita do Papa, deixamos essas coisas de lado. Conversamos sobre espiritualidade e no final o Patriarca me abraçou e me deu uma medalha de ouro.

Na sua opinião, os Estados também podem fazer algo para encorajar a aproximação entre a Igreja Oriental e a Igreja Ocidental?

SpidlÍk: Eu realmente não sei. A questão é complicada e não se torna menos genérica se falamos de nações. A Itália, por exemplo, o que pode fazer? Na verdade, temos uma Itália de direita, uma Itália de esquerda e depois uma Itália central. Mais do que qualquer outra coisa, precisamos ver o que os homens em particular podem fazer.

Falando de personalidades individuais: dentro de alguns dias o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, estará em visita de Estado a Roma. Por ocasião da conclusão das celebrações dos 700 anos da Universidade La Sapienza, a Universidade concedeu-lhe um título honorário , como havia feito para João Paulo II no início das celebrações. Como pessoa que sempre trabalhou pelo diálogo entre as duas Igrejas, que desejos sente pelo ilustre novo médico?

SpidlÍk: Recebi um diploma honorário da Universidade Ortodoxa de Cluj, na Romênia. Bem, o que isso significa? Significa que amigos reconheceram meu trabalho. Então, sem especular muito, o título honorário significa reconhecimento. Graduação honoris causa , em certo sentido, é o monsenhor e cardinalato leigo. O valor do trabalho realizado é reconhecido.

Arquivo 30Dias 11/2003

Fonte: http://www.30giorni.it/

Nicarágua manda sete sacerdotes para o exílio em Roma

Procissão em homenagem a São Domingos de Guzmán em Manágua (ANSA) 

Após as prisões dos últimos dias, o governo da Nicarágua exilou 7 sacerdotes, enviando-os para Roma.

Vatican News

Do grupo de sacerdotes detidos na Nicarágua, sete deles foram exilados na quarta-feira, 7 de agosto, e enviados a Roma, onde chegaram ontem à tarde: são os sacerdotes Víctor Godoy, Jairo Pravia, Silvio Romero, Edgar Sacasa, Harvin Torres, Ulises Vega e Marlon Velázquez.

A informação foi confirmada no mesmo dia à tarde pelo Governo da Nicarágua por meio de um comunicado de imprensa: “7 sacerdotes nicaraguenses deixaram a Nicarágua com destino a Roma, Itália”. Os sacerdotes pertencem às Dioceses de Matagalpa e Estelí e foram detidos no Seminário Nuestra Señora de Fátima, em Manágua.

Segundo a mídia nicaraguense, entre os expulsos do país não está o administrador da Diocese de Estelí, padre Frutos Valle, preso em 26 de julho.

Este seria o quinto exílio de grupos de sacerdotes da Nicarágua: em outubro de 2022 e fevereiro de 2023 para os Estados Unidos; em outubro de 2023 e em janeiro de 2024 para Roma, outros dois grupos de sacerdotes juntamente com dois bispos: Rolando Álvarez e Isidoro Mora. E nesta quinta-feira, 8 de agosto, os 7 sacerdotes que também chegaram à Itália.

Enquanto isso, o ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos (OEA) Arturo McFields Yescas, confirmou na quarta-feira que o Governo presidido por Daniel Ortega ordenou a expulsão do embaixador do Brasil na Nicarágua, Breno de Souza Brasil Días da Costa, por não comparecer ao evento de celebração dos 45 anos da revolução sandinista em 19 de julho, para o qual foi convidado.

Por sua vez, o Governo do Brasil decidiu nesta quinta-feira expulsar a embaixadora da Nicarágua, Fulvia Castro, em “reciprocidade” à medida semelhante adotada pelas autoridades de Manágua.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Teresa Benedita da Cruz

Santa Teresa Benedita da Cruz (A12)
08 de agosto
País: Alemanha
Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)

Edith Theresa Hedwing Stein, nasceu em 12 de outubro de 1891 em Breslávia na Alemanha. Pertencia a uma família judia onde sua mãe uma mulher forte e de muita fé, educou os onze filhos num clima de respeito e liberdade responsável.

No ano de 1911 Edith entrou para a Universidade de Breslávia, onde estudou alemão e história. Era uma aluna brilhante sempre buscava a verdade e procurava respostas para às questões relativas à sua crença o que acabou a levando a ser tornar ateia.

Motivada por um impulso interior pelo sentido da vida, formou-se em filosofia, tornando-se Doutora. Encontrou na Fenomenologia do filósofo Husserl, do qual foi assistente na Universidade de Freiburg, que a levou a aprofundar o tema da empatia, mas também encontrou na leitura da vida de Santa Teresa de Ávila, o sentido da vida que tanto procurava, converteu-se ao cristianismo.

Foi batizada em 1922, recebendo o nome de Teresa e mudando completamente o seu modo de viver. A partir daí, Teresa dedicava-se ao aprofundamento da doutrina cristã, ao ensinamento, ao apostolado e publicações de estudos científicos, numa intensa vida interior nutrida pela palavra de Deus e a oração.

Em 1933 decidiu então se dedicar a Deus, entrando para a Congregação das Carmelitas Descalças e adotando o nome de Teresa Benedita da Cruz, exprimindo assim, também com este nome, o ardente amor a Jesus Crucificado e especial devoção a Santa Teresa de Ávila. Manifestou regularmente o voto de pobreza, obediência e castidade e, para realizar a sua consagração, caminhou com Deus na via da santidade.

Quando na Alemanha o Nazismo intensificou a perseguição contra os judeus, os superiores da Beata enviaram-na, por precaução, para o Carmelo de Echt, na Holanda. Os Bispos holandeses protestaram energicamente com uma Carta pastoral, e Hitler, por vingança, incluiu no programa de extermínio também os judeus que se converteram a fé católica.

No dia 02 de gosto, oficiais nazistas levaram Edith e sua irmã Rosa do Carmelo. Neste dia, outros duzentos e quarenta e dois judeus católicos foram deportados para os campos de concentração em Auschwitz. Comovida pela compaixão para com os seus irmãos judeus, não hesitou em oferecer-se a Deus como vítima, para suplicar a paz e a salvação para o seu povo, para a Igreja e para o mundo

No dia 09 de agosto de 1942, Edith Stein juntamente com sua irmã e centenas de homens, mulheres e crianças foram mortas na câmara de gás e tiveram seus corpos queimados.

Os pensamentos e a fé de Edith Stein estão reunidos em suas obras, sobretudo, em "Ser finito e Ser eterno". Trata-se de uma síntese de filosofia e misticismo, da qual emerge o sentido do homem, a sua singularidade e unicidade em relação ao Criador.

Foi beatificada no dia 1 de maio de 1987, pelo Papa João Paulo II e canonizada em 11 de Outubro de 1998 pelo mesmo Papa, recebendo o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz. Foi ainda em 1999, proclamada co-padroeira da Europa.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

O Papa João Paulo II no dia da beatificação de Edith Stein falou: “Beata Edith Stein representa a síntese dramática das feridas do nosso século. E, ao mesmo tempo, proclama a esperança de que é a cruz de Jesus Salvador que ilumina a história”. Além disso, a vida de Edith nos mostra uma mulher que buscou no seu interior um sentido para a vida reconhecendo assim o valor da vida cristã, como uma resposta para o mundo. Edith foi reconhecida pela sua inteligência, sua determinação, sua calma, seu autocontrole, seu consolo e compaixão.

Oração:

Senhor, Deus de nossos pais, Tu conduziste a Santa Teresa Benedita à plenitude da ciência da Cruz ao momento de seu martírio. Enche-nos com o mesmo conhecimento; e, por sua intercessão, permite-nos sempre seguir em busca de ti, que és a suprema Verdade, e permanecer fiéis até a morte à aliança de amor ratificada pelo sangue de teu Filho pela salvação de todos os homens e mulheres. Te pedimos por nosso Senhor, Amém!

Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

ORIENTE CRISTÃO: O rosário e a oração de Jesus (1)

Tomás Spidlík beija a mão do Papa depois de receber o chapéu de cardeal durante o consistório de 21 de outubro de 2003 | 30Giorni

ORIENTE CRISTÃO. Entrevista com o Cardeal Tomás Spidlík

O rosário e a oração de Jesus

«No Oriente a grande renovação ocorreu entre os séculos XIX e XX com a chamada “oração de Jesus”: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!”. É uma oração semelhante à do rosário latino. E quando falo do rosário, sempre digo que precisamos aprender a recitá-lo assim como a oração de Jesus é recitada no Oriente”. Encontro com um dos maiores especialistas na espiritualidade do Oriente cristão.

por Pierluca Azzaro

Tomás Spidlík foi professor de gerações de estudantes em muitas universidades, incluindo a Gregoriana e o Pontifício Instituto Oriental, onde lecionou por mais de quarenta anos. Nascido em 1919 em Boskovice, Morávia, vive e trabalha desde 1991 no Centro Ezio Aletti, casa da Companhia de Jesus onde se estuda a tradição do Oriente cristão na sua relação com o mundo contemporâneo e onde a convivência entre ortodoxos e Os católicos são promovidos do rito latino e oriental. A obra do padre jesuíta Spidlík, criado cardeal no último consistório, é o resultado de anos e anos de diligente pesquisa e reflexão, combinadas com uma grande sensibilidade artística para a cultura contemporânea. O Padre Spidlík propagou amplamente estes dons, introduzindo, como pioneiro, a espiritualidade e a teologia oriental.

Eminência, é unanimemente reconhecido como um dos maiores especialistas da teologia e da espiritualidade do Oriente cristão, cujos traços essenciais vê na beleza da liturgia - considerada um excelente método apostólico para a conversão dos corações - e depois na própria noção de coração que se expressa na oração dos simples. Neste sentido, gostas muitas vezes de recordar Serafim de Sarov, talvez o maior místico russo do século XIX, cuja canonização, em 1903, ocorreu na presença de uma multidão imensa…

TomÁs Spidlík: O maior… é melhor não dar prémios. Quem é maior diante de Deus? Pode ser a mãe que criou cinco filhos. O certo é que Serafim de Sarov era um homem simples e, por exemplo, gostava de repetir incessantemente uma simples oração: “Meu Deus, tem piedade de mim, pecador”; e aos que cada vez mais vinham pedir-lhe conselhos, ele, já idoso e com um sorriso “incompreensivelmente radiante” - como lemos nas suas biografias -, depois de os ter recebido com uma saudação pascal - “Bom dia, minha alegria! Cristo ressuscitou!" –, recomendou as práticas mais simples: oração, contrição, comunhão frequente, temor de Deus, perdão das ofensas, obras de misericórdia. Mas sobre este tema há outra coisa que gostaria de dizer, que diz respeito ao meu cardinalato...

Por favor, Eminência...

Spidlík: Respondi ao Papa com muita sinceridade. Quanto à minha pessoa, eu disse a ele, você não vê por que deveria receber este título, porque não posso mais liderar a Igreja. Por isso pedi dispensa de ser ordenado bispo. Mas, por outro lado, agradeci muito sinceramente por esta, digamos, aprovação por parte da Igreja universal da espiritualidade que estou propagando. E da mesma forma fui aceito no Oriente também. Quantas coisas recebo deles, quantas vezes me dizem que esta espiritualidade faz parte da espiritualidade da Igreja universal.

Eminência, pode-se dizer então que um dos motivos dominantes do seu ensinamento durante muitos anos é precisamente a esperança de que a espiritualidade ocidental redescubra a espiritualidade oriental?

SpidlÍk: No Ocidente, a mentalidade técnica levou ao racionalismo e, como reação, apareceu o oposto: a espiritualidade irracional. No final, o Papa teve de escrever uma encíclica sobre o uso saudável da razão. A espiritualidade do coração deve ser um remédio, um remédio contra aquele racionalismo que leva ao irracionalismo. Tive que brigar muito pela noção do coração, pela oração do coração. A princípio, entre estes homens racionais, essa noção encontrou alguma dificuldade. Mas agora é aceito, e em breve a tradução do francês de um dos meus livros sobre a oração do coração será publicada pela Editora Vaticano. Agradeço, portanto, verdadeiramente à Igreja este sinal que nos deu, deixando claro que o trabalho que realizamos é útil. E relativamente a este trabalho, no contexto da espiritualidade do coração, sublinho muitas vezes o valor da arte.

Você quer dizer arte de ícone?

SpidlÍk: A arte que se manifesta em ícones, imagens sagradas e liturgia. Quando a doutrina da fé é ensinada apenas com conceitos racionais, evidentemente o mistério é sempre muito limitado. Em vez disso, o símbolo deixa toda a riqueza de significados. O símbolo não deve ser entendido como um atributo decorativo. A palavra símbolo deve ser entendida literalmente, como um sinal visível e imediatamente perceptível da realidade que indica. Por isso Jesus sempre falou por parábolas, por símbolos; e a liturgia oriental está cheia de símbolos, é um ícone vivo. Uma vez, em São Petersburgo, tivemos uma exposição de pinturas do Padre Marko Ivan Rupnik [diretor do centro, ed. ] e de um artista russo; e falei no Museu Nacional e disse: “Vivemos no tempo da imagem e as pessoas não sabem ler imagens que expressam coisas espirituais”. Devemos aprender com os ícones, não imitá-los servilmente, mas ser inspirados por eles para fazer algo muito semelhante. Ora, respirar com dois pulmões não significa discutir o que é melhor, se o ocidental ou o oriental, mas saber tirar o que em certos aspectos é melhor no Oriente ou no Ocidente. E sobretudo digo: agora os novos povos que se convertem, os africanos, os asiáticos e assim por diante, não se perguntam o que é a teologia italiana ou alemã, mas o que é a teologia europeia; em mil anos, que coisas positivas trouxe a Europa? Ainda não fizemos esta síntese. Devemos, portanto, resumir a espiritualidade europeia, ou seja, os melhores valores que a Europa deve proporcionar. Porque cada nação e cada cultura traz algo de novo à Igreja, à revelação que progride.

Arquivo 30Dias 11/2003

Fonte: http://www.30giorni.it/

NAZARENO: A prisão (o beijo de Judas, a espada de Pedro) - (53)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 53 - A prisão (o beijo de Judas, a espada de Pedro)

Os soldados se aproximam e entram no Getsêmani. Jesus chama os seus discípulos e, em voz alta, diz: "Basta! A hora chegou! Eis que o Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que o meu traidor está chegando”. Judas os conduz.

Judas aproxima-se do Mestre e o beija chamando-o “Rabi”. É o sinal combinado. Jesus respondeu-lhe: “Amigo, para que estás aqui?". Tinha vindo para traí-lo, e acabara de ouvir ser chamado de "amigo". Imediatamente, os guardas do templo cercam o Nazareno.

Pedro reage impetuosamente, como sempre. Desembainha uma pequena espada do alforje e ataca um homem alto e robusto. É Malco, o servo do Sumo Sacerdote. Ele o golpeia com um estalo, decepando sua orelha direita. O homem cai no chão segurando a cabeça e tentando estancar o fluxo de sangue com a mão. Jesus grita para Pedro parar: então Jesus se aproxima de Malco, que continua a soluçar de dor. Recolhe a sua orelha cortada e a recoloca, curando a ferida. O servo do sumo sacerdote permanece ajoelhado no chão, paralisado. Os guardas o abordam e amarram suas mãos nas costas com uma corda forte. Puseram uma corrente em seu pescoço e o levaram para fora do Jardim das Oliveiras. Então todos os discípulos, abandonando-o fugiram.

Caminham em um ritmo acelerado, empurrando o prisioneiro e zombando dele. De tempos em tempos, eles lhe dão alguns golpes. Jesus sofre inerme, em silêncio.

Nesse meio tempo Pedro e João retornaram e seguiram o pequeno séquito de guardas a uma distância segura. Eles os veem entrar na cidade e irem em direção ao palácio dos sumos sacerdotes, que naquela noite estava iluminado por tochas em todo seu redor. O Nazareno foi conduzido primeiro à Ananias, chamado "Anás", sogro de Caifás. O Sumo Sacerdote interrogou Jesus e se compreende que querem condená-lo a todo custo.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/08/08/12/138195782_F138195782.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Domingos de Gusmão

São Domingos de Gusmão (A12)
08 de agosto
País: Espanha
São Domingos de Gusmão

Domingos nasceu na pequena vila de Caleruega, região da Velha Castela, hoje Espanha, em 1170. Seu nome foi em homenagem a São Domingos de Silos, a quem sua mãe Joana d’Aza fez uma novena durante a gravidez, no sétimo dia da qual este apareceu a ela dizendo que seu filho viria a ser santo. A família de Domingos era nobre, rica e muito católica: sua mãe Joana, e seu irmão Manes, foram beatificados, e seu outro irmão, Antônio, faleceu em odor de santidade.

Dos seis aos 13 anos estudou com um tio, padre e reitor de uma igreja em Gumyel (Gumiel de Izán, município na província de Burgos, comunidade autônoma de Castela e Leão), onde aprendeu as primeiras letras e as funções de coroinha e acólito. Em seguida foi para Valência, estudando Filosofia, Retórica e Teologia na sua universidade. Praticava a piedade, incluindo severas penitências, e a caridade para com os pobres e doentes, viúvas e órfãos, as únicas pessoas que visitava. Em certa ocasião de grande fome, vendeu seus pergaminhos (caros, e que na época eram a opção escrita anterior aos livros impressos) para poder alimentá-los. De outra vez, ofereceu-se como resgate para outro jovem que fora capturado pelos mouros. Dedicava-se também à pregação: assim converteu-se um colega, Conrado, mais tarde monge cisterciense e cardeal.

Aos 24 anos foi ordenado sacerdote pelo bispo de Osma, e como cônego pregou em diversas províncias espanholas, obtendo a conversão de Reiniers, um conhecido herege, que posteriormente foi frade dominicano. O rei Afonso VII acabou por convidar Domingos a missões diplomáticas, função que exerceu igualmente para a Santa Sé.

A desastrosa heresia dos cátaros ou albigenses, desta época, particularmente na região do Languedoc no sul da França, que pregava a dualidade de um Deus bom e outro mau, a reencarnação e uma suposta casta de “escolhidos” com uma “pureza superior”, necessitava de uma resposta, e o Papa Inocêncio III envio o bispo Diego de Aceber e Domingos a esta região. Tiveram o auxílio de 12 abades cistercienses, mas não durante muito tempo; por fim, Domingos ficou sozinho, numa missão dificílima e perigosa, já que os cátaros causaram muitas devastações e perseguições. A constatação da inconstância dos auxiliares levou Domingos a amadurecer a ideia de fundar uma Ordem religiosa dedicada à pregação.

A difícil tarefa de Domingos teve sucesso, e segundo a tradição Nossa Senhora lhe teria aparecido e indicado a recitação dos Salmos como forma de vencer a batalha espiritual; daí teria surgido o Rosário, isto é, a recitação das 150 Ave-Marias relacionadas aos momentos da vida de Jesus, em substituição aos Salmos, na época de difícil acesso aos católicos leigos (seja pela falta de manuscritos como também porque poucos na população europeia da época sabiam ler).

Assim, em 1216 Domingos fundou a Ordem dos Pregadores (Ordem de São Domingos ou Ordem Dominicana), até hoje conhecidos como “Guardiões do Santo Rosário”. Domingos foi seu primeiro superior, no convento inicial em Toulouse, e seu irmão Manes juntou-se à congregação. Os principais carismas da Ordem são o espírito de oração, a competência científica e a pregação muito bem fundamentada nas Sagradas Escrituras.

Em 1217 surgiu o primeiro mosteiro da Ordem Segunda para as mulheres. Neste mesmo ano o fundador determinou que as casas da Ordem fossem construídas nas principais cidades universitárias da Europa, a começar por Bolonha e Paris, para atrair a juventude acadêmica. Ele mesmo se fixou em Bolonha, e em Roma conheceu e tornou-se amigo de São Francisco de Assis. Em 1220 e 1221 presidiu aos dois primeiros Capítulos Gerais. A Ordem cresceu por toda a França, e na Itália, Espanha, Alemanha e Inglaterra; ele chegou a enviar pessoalmente emissários para a Irlanda, Noruega, Palestina e Ásia.

São Domingos faleceu em 8 de agosto de 1221, aos 51 anos. É o Padroeiro Perpétuo e Defensor de Bolonha, Itália.

 Muitos santos ilustram a Ordem dos Pregadores: São Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Santa Catarina de Sena, São Vicente Ferrer, o Papa São Pio V. O conhecimento científico, unido à Fé e à Piedade, toma o seu verdadeiro sentido, e este conjunto harmonioso é sabedoria para enfrentar heresias e desvios doutrinários.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Os males de todos os tempos são sempre combatidos com base na oração, no estudo (formação), na evangelização e na vida de caridade. As questões específicas de cada tempo também têm suas necessidades atendidas especificamente – por exemplo, a necessidade da fundação de alguma Ordem religiosa com determinado carisma – e a trajetória de Domingos de Gusmão está perfeitamente dentro deste contexto. Mas uma espetacular singularidade relativa a ele é a oração do Rosário. A partir da recitação dos Salmos, houve uma evolução histórica com as adaptações necessárias para o formato atual, com a recitação dos Pai-Nossos e Ave-Marias associados aos Mistérios da vida do Senhor. Esta fórmula, de extrema simplicidade e eficácia espiritual, é hoje a melhor oração popular, enriquecida com promessas de Nossa Senhora e por Ela explicitamente pedida e recomendada em mais de uma ocasião como arma real contra as ameaças às almas e à Igreja. De fato, Ela reiterou as promessas feitas a São Domingos de Gusmão quando revelou ao beato Alano de Rupe (dominicano, 1428-1475) que seriam necessários volumes imensos para registrar todos os milagres obtidos por meio do Terço (até o século XX, o Rosário era rezado em três grupos de Mistérios, Gozosos, Dolorosos e Gloriosos, sendo então acrescentados por São João Paulo II os Luminosos; de modo que, a rigor, se os rezamos separadamente, estamos nos referindo a “Quartos”, à quarta parte). O nome Rosário, do Latim Rosarius, é relativo às rosas com que popularmente se coroavam a Santíssima Virgem ao final da recitação dos 150 Salmos. Em 1917, Maria, nas aparições em Fátima, Portugal, explicitou que diante dos desafios modernos a recitação diária do Rosário – completo – era o meio mais eficaz para evitar o Mal e obter as curas, conversões e paz necessárias à Igreja e ao mundo. Talvez que Seu pedido esteja sendo negligenciado… não é fácil rezar o Rosário completo todos os dias, mas também não é impossível, e se a exigência, isto é, o sacrifício para fazê-lo é maior, também maiores serão os méritos para cada fiel e maiores as graças alcançadas: para seguir a Deus, nada é muito fácil, mas tudo vale a pena, pois é preciso “tomar a cruz de cada dia” (cf. Lc 9,23), mas “… o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve” (Mt 11,30). Também atual é a preocupação de São Domingos com a formação espiritual para a área acadêmica, pois é nos centros de estudo que são formados os líderes da sociedade, ou pelo menos dos seus pensadores e teóricos. E ideias que não esteja de acordo com a Doutrina levam inevitavelmente ao materialismo, mundanismo, apostasia, tibieza da fé. Inúmeros são os testemunhos dos que perderam a Fé católica ao entrar na universidade, ou já antes, nos colégios… a Educação é evidentemente um alvo prioritário dos inimigos de Deus, e não pode ser negligenciada pelos fiéis e pela Igreja. E por isso é obrigação cuidar dela dentro da família, em primeiro lugar, e nas paróquias, antes mesmo da idade escolar das crianças. Os pais e catequistas que se acomodam ou são indiferentes, ou ainda que não se preparam como é devido para estas suas missões, têm responsabilidade direta no futuro das almas dos que estão sob seus cuidados; e mais ainda os sacerdotes e religiosos, cuja formação dos fiéis na Verdade é parte essencial da sua vocação, e dos quais o Senhor há de cobrar com rigor o zelo do ensino.

Oração:

Deus Pai de sabedoria, que continuamente nos ensina o que necessitamos para a nossa salvação, concedei-nos pela intercessão de São Domingos de Gusmão o seu mesmo espírito de oração, conhecimento sólido e apostolado consciente, e particularmente a devoção e prática diária do Santo Rosário, para que, obedecendo aos pedidos e esclarecimentos de Nossa Senhora, realizemos a nossa parte necessária para o bem e salvação das almas, o amor à Igreja e a paz no mundo tão atacado pelos inimigos da Fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora do Rosário. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Semana Nacional da Família 2024

Semana Nacional da Família 2024

Semana Nacional da Família 2024: “Família e Amizade” 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

Entre os dias 11 e 17 de agosto de 2024, a Igreja no Brasil celebra a Semana Nacional da Família, uma ocasião especial para refletir, fortalecer e renovar os laços familiares à luz da fé cristã. O tema deste ano, “Família e Amizade”, e o lema “Amizade, uma forma de vida com sabor do Evangelho”, estão em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2024, que convida todos os fiéis a viver a fraternidade de maneira concreta e autêntica. 

A família é o núcleo fundamental da sociedade, onde os valores e princípios são transmitidos de geração em geração. É no seio da família que aprendemos o significado do amor, do respeito, da solidariedade e da fé. No entanto, em um mundo cada vez mais globalizado e digitalizado, as relações familiares e de amizade muitas vezes são desafiadas por uma série de fatores, como a falta de tempo, o estresse cotidiano e a influência das redes sociais. 

O tema “Família e Amizade” nos chama a atenção para a importância de cultivar relações saudáveis e genuínas dentro e fora do ambiente familiar. A amizade, vista como uma forma de vida com sabor do Evangelho, é um convite a viver o mandamento do amor de maneira concreta, partilhando, apoiando e caminhando juntos na fé e na vida. 

O lema “Amizade, uma forma de vida com sabor do Evangelho” nos lembra das palavras de Jesus: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (João 15,13). A verdadeira amizade, conforme ensinada por Cristo, é caracterizada pelo amor abnegado, pela confiança mútua, pelo apoio nos momentos difíceis e pela alegria compartilhada nas conquistas. 

Nesta Semana Nacional da Família, somos convidados a refletir sobre como podemos viver a amizade de acordo com os ensinamentos de Jesus. Isso inclui sermos mais presentes na vida de nossos familiares e amigos, dedicando tempo de qualidade a eles, escutando com atenção, oferecendo apoio e encorajamento, e sendo testemunhas do amor de Cristo em nossas relações diárias. 

Durante a Semana Nacional da Família, paróquias e comunidades em todo o Brasil promoverão uma série de atividades para envolver as famílias e incentivar a vivência do tema proposto. Algumas dessas atividades incluem: 

Missas e Celebrações Eucarísticas: Enfatizando a importância da família e da amizade à luz do Evangelho. 

Palestras e Encontros: Com temas relacionados à construção de relações familiares e de amizade saudáveis e cristãs. 

Dinâmicas e Oficinas: Para fortalecer os laços entre pais e filhos, irmãos e amigos. 

Momentos de Oração e Adoração: Pedindo a Deus a graça de viver o amor e a amizade verdadeira. 

Ações de Caridade e Solidariedade: Encorajando as famílias a praticarem obras de misericórdia juntos. 

A Semana Nacional da Família 2024 é uma oportunidade preciosa para redescobrirmos o valor da família e da amizade em nossas vidas. Ao viver o lema “Amizade, uma forma de vida com sabor do Evangelho”, somos chamados a ser testemunhas do amor de Cristo, cultivando relações autênticas e duradouras que refletem a bondade e a misericórdia de Deus. 

Que possamos aproveitar este tempo de graça para renovar nossos compromissos familiares e de amizade, e que, inspirados pelo Evangelho, possamos construir uma sociedade mais justa, amorosa e fraterna. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Menos de 5% dos cardeais eleitores foram nomeados por João Paulo II

MÍDIA VATICANO/AFP
Na Basílica Saint Pierre de Rome, consistório de 27 de agosto de 2022.

 I.Media - publicado em 06/08/24

Com o 80º aniversário do cardeal tanzaniano Policarpo Pengo, em 5 de agosto, o Colégio dos Cardeais perde automaticamente um eleitor em caso de conclave. A saída do prelado africano elevado à púrpura em 1998 por João Paulo II eleva para 6 o número de cardeais nomeados pelo pontífice polaco que ainda têm idade para votar, ou seja, menos de 5% do colégio. O Papa Francisco, por sua vez, criou quase três quartos dos cardeais com direito de voto em caso de conclave.

Agora existem apenas seis cardeais eleitores – entre eles cinco europeus – escolhidos por João Paulo II para fazer parte do Sacro Colégio. Se um conclave fosse realizado amanhã, o Cardeal Schönborn (Áustria), o Cardeal Puljić (Bósnia-Herzegovina), o Cardeal Turkson (Gana), o Cardeal Bozanić (Croácia), o Cardeal Barbarin (França) e o Cardeal Erdö (Hungria) seriam os únicos cardeais da era de João Paulo II que podiam votar num novo Papa. Naturalmente, seriam também os únicos a beneficiar da experiência de dois conclaves, uma vez que cada um participou na eleição de Bento XVI em 2005 e depois na de Francisco em 2013.

Desde a decisão do Papa Paulo VI em 1970, o colégio dos cardeais eleitores evoluiu não só com base na morte dos seus membros, mas sobretudo com base na sua idade. O Papa, “após longa e madura reflexão”, decidiu “para o bem maior da Igreja” retirar o direito de voto aos cardeais com mais de 80 anos. Em 1975, estabeleceu também um limite teórico de 120 cardeais eleitores, limite muitas vezes ultrapassado, mas que, no entanto, serve de referência.

Hoje, dos 235 cardeais do Sacro Colégio, 111 não podem mais votar porque têm mais de 80 anos*. Criticada na época, especialmente pelos cardeais mais velhos, a regra de Paulo VI obrigava os seus sucessores a renovar periodicamente o Colégio, cuja composição fica ao seu exclusivo critério.

A regra dos 80 anos reforçou a representação excessiva de cardeais nomeados por João Paulo II durante o conclave de 2005. Em pouco mais de 26 anos de pontificado, o polaco criou 113 dos 115 cardeais que depositaram um voto nas urnas. Entre os dois únicos cardeais eleitores nomeados por Paulo VI estava um certo cardeal Joseph Ratzinger.

No conclave de 2013, os cardeais eleitores criados por Bento XVI durante os seus oito anos de pontificado representavam 3/5 do colégio. Hoje, mais de 1/5 dos eleitores foram nomeados pelo pontífice alemão. Este limite de idade significa também que 42% dos atuais cardeais deixarão de ser eleitores dentro de 5 anos, uma vez que 53 dos 124 cardeais têm entre 75 e 80 anos.

Dois “pesos pesados” escolhidos por João Paulo II

Entre os seis “veteranos” do colégio eleitoral nomeados por João Paulo II, dois se destacam como “pesos pesados”: o Cardeal Arcebispo de Viena Christoph Schönborn e o Cardeal Arcebispo de Budapeste Peter Erdö. Este último, de 72 anos, é por vezes apresentado pelos meios de comunicação como um “ pabile ”, ou seja, um bispo que tem todos os votos para receber o voto dos seus pares e tornar-se Papa.

Considerado uma das principais encarnações do conservadorismo esclarecido no Colégio Cardinalício, este húngaro, preocupado com a unidade da Igreja e a defesa da liberdade religiosa, foi o mais jovem cardeal a participar no conclave académico e intelectual de 2005 – como Bento XVI. -, este administrador tem sido leal a Francisco desde o início do seu pontificado, apesar das diferenças nas prioridades e no estilo pastoral. Prova da estima que o Papa tem por ele, é o único cardeal não italiano que recebeu duas vezes o Papa Francisco na sua diocese, em 2021 e 2023.

Outra figura altamente respeitada na Igreja Católica, o Cardeal Christoph Schönborn atua como ponte entre os pontificados de João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Em 2005, participou no conclave que viu o seu “amigo” Joseph Ratzinger ascender ao trono de Pedro. Em 2023, confessou ter escrito uma nota ao cardeal alemão encorajando-o a aceitar o cargo caso os cardeais o elegessem.

Em 2013, votou no cardeal Bergoglio. Emergiu então como um dos grandes defensores das reformas levadas a cabo pelo pontífice argentino, desempenhando um papel activo durante os sínodos sobre a Família (2014-2015) para encontrar um compromisso sobre a controversa questão de conceder ou não a comunhão aos certos divorciados e casados ​​novamente.

Como sinal da confiança que o Papa Francisco deposita nele, ele continua a liderar a arquidiocese de Viena, apesar da sua saúde debilitada e de ter ultrapassado em muito a idade teórica de reforma dos bispos, fixada em 75 anos. Se um conclave fosse realizado antes do seu 80º aniversário, em Janeiro próximo, Christoph Schönborn desempenharia, sem dúvida, um papel fundamental nos debates sob os frescos da Capela Sistina.

Cardeal Turkson, menos centro das atenções a partir de 2022

Dos outros quatro cardeais criados por João Paulo II que ainda podem votar, apenas o cardeal Peter Turkson não se aposentou. O nome do prelado ganense circulou durante o conclave de 2013, mas especialmente entre as casas de apostas, já que só obteve dois votos na primeira votação, segundo o vaticanista Gerard O'Connell.

Criado cardeal por João Paulo II em 2003, foi eleito por Bento XVI presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz em Roma em 2009. Com Francisco, foi um dos arquitetos da encíclica Laudato Si ' sobre ecologia integral. O Papa argentino confiou-lhe as rédeas de um dos maiores dicastérios da Cúria Romana, o do Serviço para o Desenvolvimento Humano Integral.

Mas em abril de 2022, num momento em que este dicastério atravessava turbulências internas ligadas à delicada fusão das entidades do Vaticano, o Papa argentino nomeou o Chanceler Ganense das Pontifícias Academias de Ciências e Ciências Sociais. Embora seja um cargo de prestígio, não tem a mesma dimensão estratégica no governo da Igreja Católica.

Três cardeais se aposentaram, mas ainda com direito de voto

O cardeal Philippe Barbarin, também criado cardeal no consistório de 2003, o último de João Paulo II, teve a sua renúncia à arquidiocese de Lyon aceite pelo Papa Francisco em 2020, aos 69 anos.

Pouco antes, ele havia sido absolvido pela justiça francesa num julgamento em que foi acusado de não denunciar as atividades pedófilas do ex-padre Bernard Preynat, e já havia se aposentado da sua diocese. Aos 73 anos, aquele que continua a ser uma das figuras mais importantes da Igreja na França nos últimos 25 anos, agora vive na diocese de Rennes, onde é capelão da Casa Mãe das Irmãzinhas dos Pobres.

Depois de mais de 30 anos de serviço à frente da comunidade católica de Vrhbosna – antigo nome de Sarajevo -, o cardeal Vinko Puljić entregou o cargo de arcebispo em 2022. Eleito cardeal pelo Papa polonês no consistório de 1994, o bósnio é o membro mais antigo do colégio eleitoral.

Finalmente, o cardeal croata Josip Bozanić, 75 anos, aposentou-se no ano passado por motivos de saúde. Nascido na República Socialista da Iugoslávia, foi nomeado arcebispo de Zagreb em 1997, diocese onde serviu por quase 26 anos.

*Por decisão do Papa Francisco, o Cardeal Becciu, 76 anos, perderá o direito de voto em 2020.

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/08/06/menos-del-5-de-los-cardenales-electores-fueron-nombrados-por-juan-pablo-ii

A experiência da oração nos profetas

Profata Isaías (Crédito: IHU)

A experiência da oração nos profetas

Dom Antônio Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA) 

Na Sagrada Escritura é muito forte a experiência de Deus na vida dos profetas; eles estão continuamente em diálogo com Deus, ouvindo, interpretando seus oráculos e transmitindo-os ao povo. Mas essa atenção à voz de Deus não é passiva e nem neutraliza a humanidade deles. Os profetas sentem angústias, sofrem, vivem fortes tensões, passam por momentos de crises, questionam a Deus diante do mistério do mal, sentem-se frágeis, impotentes e por isso, também silenciam, oram, retiram-se, dialogam com Deus! Falar da oração nos profetas bíblicos é um desafio por causa da diversidade dos sujeitos, da variedade dos contextos históricos e da abundância literária deles; tudo isso não nos permite pretender uma reflexão exaustiva. Por isso, consideremos apenas alguns aspectos.  

 Oração, vocação e missão  

Nos profetas há uma íntima relação entre oração, consciência vocacional e missão. No profeta Isaías a primeira referência sobre a oração está relacionada ao seu chamado vocacional. É através da oração que o profeta descobre sua vocação e responde com generosidade (cf. Is 6,8). A apresentação da missão assusta o profeta, mas através da oração sente-se consolado e responde: «Eu te agradeço, Javé, porque estavas irado contra mim, mas a tua ira se acalmou e me consolaste. Sim, Deus é a minha salvação! Eu confio e nada tenho a temer… “ (Is 6,9). 

A relação entre oração, vocação e missão aparece também com muita clareza nos cânticos do servo sofredor (cf. Is 42,1-4; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-15). A intimidade com Deus gera uma profunda consciência mística que o sustenta e o mantém resiliente. A experiência do drama da missão é ocasião para renovação da fidelidade e do reconhecimento do chamado de Deus, assim declara Jeremias num contexto de sofrimento missionário: “Tu me seduziste, Javé, e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu e venceste” (Jr 20,7). É após uma angustiante experiência de oração, que o profeta Jonas redimensiona sua resposta ao chamado de Deus e assume sua missão (cf. Jn 2;3,1-4). A dimensão teológica da vocação e da missão é aprofundada através da experiência da oração. 

No drama da missão, o profeta reconhece a fonte da sua esperança: “Javé, tem piedade de nós, pois esperamos em ti! Sê nosso braço pela manhã e nossa salvação no perigo” (Is 26,2). Na oração o profeta reconhece sua pequenez e fragilidade, não é superior aos outros. “Javé, tu és o nosso pai; nós somos o barro, e tu és o nosso oleiro; todos nós somos obra de tuas mãos… Vê! Todos nós somos o teu povo” (Is 64,7-8).
Essa mesma consciência de carência também é evidenciada na oração do profeta Jeremias: “Javé, eu sei que o homem não é dono do próprio caminho; que não pertence ao homem que caminha dirigir seus próprios passos. Javé, corrige-me…” (Jr 10,23-24).  A oração é experiência educativa!  

Em oração Jeremias se questiona sobre o avanço do mal: “Por que o caminho dos ímpios prospera e os traidores vivem todos em paz? (…) crescem e produzem frutos. Tu estás (…) longe do coração deles. Mas tu, Javé, me conheces e me vês, e sabes que o meu coração está contigo” (Jr 12,2-3). Esse mesmo drama também é vivido pelo profeta Habacuque quando em oração se questiona: “Até quando, Javé, vou pedir socorro, sem que me escutes? Até quando clamarei a ti: «Violência!» sem que tu me tragas a salvação? Por que me fazes ver o crime e contemplar a injustiça? (…) O ímpio cerca o justo, e o direito aparece distorcido” (Hab 1,2-4). 

A oração é também tempo para apresentar a Deus o propósito de mudança pessoal renovando a confiança e esperança, mesmo que persista o mistério do mal: “Ainda que a figueira não brote e não haja fruto na parreira; ainda que a oliveira negue seu fruto e o campo não produza colheita; ainda que as ovelhas desapareçam do curral e não haja gado nos estábulos eu me alegrarei em Javé e exultarei em Deus, meu salvador. Meu Senhor Javé é a minha força, ele me dá pés de gazela e me faz caminhar pelas alturas” (Hab 3,17-19). 

 Sensibilidade social na Oração 

A oração dos profetas é marcada pela sensibilidade social. Aquilo que o povo vive repercute profundamente sobre os sentimentos do profeta e condiciona o conteúdo da sua oração. Profundamente entristecido diante dos males sofrido por seu povo, o profeta Jeremias lamenta em oração: “transformaram minha propriedade querida num deserto desolado; dela fizeram um lugar devastado, e a deixaram em estado deplorável; está desolada diante de mim: o país inteiro foi devastado, ninguém se preocupa com isso (…), e não há paz para ninguém” (Jr 12,10-12). “Tu bem sabes! Javé, lembra-te de mim, ajuda-me e vinga-me de meus perseguidores. Por tua paciência não me deixes perecer! Olha como suporto insultos por tua causa” (Jr 15,15).  

Na oração do profeta está o presente o contexto histórico em que ele e o povo vivem, seus males e esperanças, por isso, tudo o que toca a vida do povo também é objeto da sua oração: a injustiça, a escravidão, a fome, a violência, a tortura, a humilhação, a falta de perspectivas, as doenças, a exploração, a idolatria, a corrupção, a indiferença etc. Os males são motivos de múltiplas súplicas! Jeremias sentindo a dureza da missão profética em meio a tantos males do povo (cf. Jr 2-7) tende a entrar em depressão e verbaliza: “O sofrimento me acabrunha e meu coração desfalece, pois ouço de longe os gritos da capital do meu povo: «Será que Javé não está mais em Sião? (…). Eu também fiquei ferido por causa do ferimento da capital do meu povo; fiquei deprimido, e a solidão me agarrou” (Jr 8,18.21). E sentiu a necessidade de um retiro: “Quem poderia dar-me no deserto um abrigo de viajantes? Então eu deixaria o meu povo e iria para longe deles, pois todos eles são adúlteros, um bando de traidores” (Jr 9,1).  

Está na oração também as reações dos perseguidores à missão do profeta, por isso,  Jeremias apresenta Deus as intenções maldosas e perversas dos seus perseguidores; mas sem medo deles, renova a confiança no seu defensor (cf. Jr 15,18-23; Jr 20,14-20). A experiência de oração não é simplesmente espaço para desabafo e súplica, mas também oportunidade de conforto e alívio que vem da escuta da palavra de Deus: “Quando recebi as tuas palavras, eu as devorava. A tua palavra era festa e alegria para o meu coração, porque eu levava o teu nome, ó Javé, Deus dos exércitos” (Jr 15,16). 

Oração, memória e pedido de perdão 

No livro das Lamentações e nas páginas do profeta Baruc, contemporâneo do profeta Jeremias, vemos que a oração tem uma profunda relação com a memória do passado seja para a gratidão como para o pedido de perdão. Na oração deve estar presente a nossa história: “Ai de nós, porque pecamos! Lembra-te, Javé, do que aconteceu; olha bem, para ver a vergonha que passamos! Nossa herança passou para estrangeiros, nossas casas são agora de gente estranha. Agora somos todos órfãos, pois perdemos nosso pai; nossas mães ficaram viúvas. Temos que comprar a água que bebemos e pagar a lenha que usamos” (Lm 5,1-4).  

Em sua oração o profeta Baruc faz da memória do passado, um veemente pedido de perdão. “Nós pecamos, não guardamos respeito, praticamos a injustiça, ó Senhor, nosso Deus, contra todos os teus mandamentos; afasta de nós a tua ira, pois nos tornamos um pequeno resto entre as nações por onde nos espalhaste.  Ouve, Senhor, a nossa prece e a nossa súplica, libertando-nos por causa da tua honra. Faz com que ganhemos o favor daqueles que nos exilaram, a fim de que a terra fique sabendo que tu és o Senhor nosso Deus, pois o teu nome foi invocado sobre Israel e seus descendentes” (Br 2,12-15; cf. Br 2,16-35). 

Também o profeta Daniel contemplando as desgraças do povo confessa dizendo: «Ah! Senhor, Deus imenso e terrível, cumpridor da aliança e do amor para com os que te amam e observam os teus mandamentos! Pecamos, praticamos crimes e impiedades, fomos rebeldes e nos desviamos dos teus mandamentos e das tuas sentenças. Não quisemos escutar os profetas, teus servos, que em teu nome falavam aos nossos reis e autoridades, aos nossos pais e a todos os cidadãos” (Dn 9,4-6).  

Com o profeta Daniel nos deparamos com uma atitude de inabalável fé em Deus, como o Senhor que dirige a história, por isso, apesar dos sofrimentos e do fracasso das perspectivas humanas, «que o nome do Senhor seja louvado, desde agora e para sempre, pois a ele pertencem a sabedoria e o poder, Ele modifica os tempos e estações, depõe e entroniza os reis, dá sabedoria aos sábios e ciência aos inteligentes” (Dn 2,19-21). Ele é o único Deus que merece louvor para sempre por seu ser e por todas as suas obras (cf. Dn 3,24-90).  

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Os profetas não são meros relatores de Deus, mas sentem a necessidade da oração. Por quê? 

O que a sensibilidade social da oração dos profetas nos ensina?  

Por que a memória do passado é importante na oração? 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF