Lourenço nasceu em Huesta, reino de Aragão (atual
Espanha), em 225, recebendo dos pais cristãos excelente formação. Em
função dela, decidiu mudar para Roma, centro do Catolicismo, embora esta ainda
estivesse numa fase de transição entre o passado idólatra e a realidade da
Cátedra de Pedro. Seu santo zelo o destacou aos olhos do Papa São Sisto II,
que o tornou diácono e seu auxiliar, responsável por um centro dedicado aos
pobres.
Logo foi nomeado arquidiácono, o principal entre os sete da
igreja em Roma. O diaconato, desde o tempo dos Apóstolos (cf. At 6,1-6), implica
na administração de bens da Igreja, como o dinheiro necessário para a vida dos
clérigos e auxílio aos necessitados, o cuidado dos paramentos e objetos de
culto, e ações como a distribuição da Eucaristia, isto é, um cargo de alta
responsabilidade, ao qual Lourenço correspondia com rara prudência e
vigilância, humildade e honestidade absoluta. Não muito depois de
assumir tais funções, o imperador Valeriano I iniciou uma duríssima
perseguição aos cristãos, em 257.
No ano seguinte, o Papa Sisto II foi martirizado, por
decapitação. A Tradição conta que, ante a sua condenação, Lourenço falou: “Meu
pai, vais sem levar o teu diácono?”. E o Papa respondeu: “Meu
filho, em poucos dias me seguirás”.
De fato, três dias depois do seu martírio, Valeriano exigiu
que a Igreja lhe entregasse todos os seus bens. Lourenço teria então reunido os
pobres e lhos apresentado, dizendo: “Estes são os bens e o tesouro
da Igreja”. Foi então preso e condenado à tortura, na tentativa de
apostasia. Na prisão, recuperou milagrosamente a vista de um cego, o que levou
à conversão de Hipólito, o oficial romano responsável pelo cárcere. No dia
seguinte, foi colocado sobre um cavalete, onde o esticaram de modo a lhe
deslocar os ossos, e o açoitaram com cordas acrescidas de bolas de chumbo
nas extremidades.
A serenidade de Lourenço durante o suplício levou à
conversão de um soldado imperial, de nome Romano, que também foi
martirizado pouco depois. Valeriano decidiu então queimar Lourenço vivo. Colocaram-no
sobre uma grelha de ferro com carvão aceso por baixo, mas depois de certo tempo
o diácono, sorrindo, disse aos torturadores: “Já podeis virar-me,
desta lado já estou bem assado”. Diante dessa sua heroica
serenidade e bom humor, ainda muitos dos presentes se converteram, fato
narrado por São Prudêncio, seu contemporâneo, enquanto Valeriano,
sempre mais colérico, mandou aumentar a intensidade do fogo.
Por fim, Lourenço faleceu sobre a grelha, em 10 de
agosto de 258. Ele é o padroeiro dos diáconos e da cidade de Huesca,
na Espanha. São Lourenço tem a honra de ser mencionado na Liturgia da Santa
Missa (Oração Eucarística I) e na Ladainha de Todos os Santos.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Destacar-se aos olhos dos santos, especialmente de Deus
Santo, e se colocar a Seu serviço, é evidência de um grande privilégio e
direção certa nos caminhos desta vida. E este serviço não está direta ou
obrigatoriamente relacionado a alguma função eclesiástica, é acessível em
qualquer atividade ou situação da vida humana. Todos podemos e devemos servir a
Deus e ao próximo, varrendo lixo ou governando, doentes ou saudáveis, jovens ou
idosos. Mas sem dúvida os vocacionados religiosos estão no campo mais rico de
trabalho espiritual, e os frutos que nele plantam e colhem devem ser os mais
abundantes. O diaconato, possível também aos leigos, conforme a sua origem
apostólica, é importantíssima no auxílio dos sacerdotes, de modo a que estes
tenham tempo e condições para se dedicar ao que lhes é único, próprio, e
fundamental, a administração dos Sacramentos; talvez falte a muitas paróquias
quem possa administrar seus bens de modo a não sobrecarregar os padres com os
cuidados materiais, o que, conforme as palavras bíblicas, “não está certo” (cf.
At 6,2). São Lourenço se destaca também pelo bom humor, sempre agradável a
Deus. Seu comentário sobre a grelha é prova disso, bem como a apresentação dos
pobres ao imperador. Humor cheio de pureza e verdade, não malícia: de fato, os
pobres são um tesouro da Igreja… mas é preciso compreender o sentido profundo
desta ideia, atualmente muitíssimo deturpada ideológica e hereticamente. Os
pobres, necessitados, que precisam da caridade e solicitude da Igreja somos
todos nós, pois todos precisamos da ajuda de Deus. Sofremos, com maior ou menor
intensidade, da chamada “pobreza de espírito”, um modo popular de se referir à
mediocridade espiritual. Verdade é que as aparências chamem mais atenção para
as necessidades materiais, e obviamente o cuidado destas é dever de todo
católico; mas a pobreza material não significa falta de santidade, enquanto que
a de espírito significa a ida para o inferno. A igreja não tem por missão
resolver os problemas materiais do mundo, mas sim trazer a Salvação das almas,
obra máxima do amor de Deus. Por este amor, derivatimamente, deve-se expressar
a caridade material para com os pobres; mas isto é consequência, não causa da
missão da Igreja, como muitos, confusa e/ou desonestamente, querem fazer crer.
O fogo que nos deve consumir é o do Espírito Santo, que nos conduz
prioritariamente para as necessidades de vida infinita do espírito, e não o do
inferno, que aumenta de intensidade por meio daqueles que se preocupam acima de
tudo com os bens materiais. “Lourenço”, do Latim Laureamtenens (“coroa feita de
louro”), faz referência aos atletas vencedores da Antiguidade, cuja premiação
era uma coroa trançada com as folhas desta planta. Lourenço foi vitorioso pela
coroa do seu martírio, conforme ensina São Paulo: “Não sabeis que, nas corridas
do estádio, todos correm, mas só um recebe o prêmio? Correi para receber o
prêmio. Todo atleta se priva de tudo para ter uma coroa que se acaba; mas nós,
para termos uma coroa que dura para sempre. (…) Mas castigo o meu corpo e o domino
para que eu mesmo não venha a ser reprovado depois de ter pregado aos outros”
(1Cor 9,25-28).
Oração:
Senhor, que nunca deixais de recompensar quem Vos coloca
como prioridade nesta vida, concedei-nos pela intercessão de São Lourenço
esticarmos sempre mais os nossos esforços para o bem dos irmãos, açoitando as
tentações e concupiscências que nos querem cremar, e acendendo a Vós o incenso
de toda boa obra, de modo a que sejamos laureados com vida no Paraíso, junto de
Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.