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domingo, 11 de agosto de 2024

Santa Clara

Santa Clara (A12)
11 de agosto
País: Itália
Santa Clara

Clara (Chiara) d’Offreducci nasceu em Assis, Itália, no ano de 1193. Sua família era rica e nobre, seu pai um conde. Teve dois irmãos e duas irmãs, as quais mais tarde, junto com a mãe já viúva, se tornariam religiosas franciscanas. A família se mudou para Corozano; e depois para Perugia, fugindo dos tumultos de uma revolução.

Desde jovem Clara era conhecida por sua religiosidade e recolhimento. Aos 18 anos, ouvindo uma pregação quaresmal de São Francisco de Assis, ela entendeu intensamente a sua vocação e lhe pediu ajuda para viver também como ele “segundo o modo do Santo Evangelho". Mas a família desejava para Clara um casamento vantajoso, e assim ela fugiu de casa com uma amiga, Felipa de Guelfuccio, para encontrar com São Francisco na capela de Santa Maria dos Anjos em Porciúncula (onde nasceram as Ordens de São Francisco – Franciscanos – e de Santa Clara – Clarissas).

Ali ela fez os primeiros votos da fraternidade menor dos franciscanos, tendo os cabelos cortados pelo próprio São Francisco como sinal do voto de pobreza e exigência da vida religiosa, na tarde do domingo de Ramos de 1211. Monaldo, tio de Clara, foi enviado pela família para buscá-la, mas diante da sua recusa e da condição indicada pelos seus cabelos cortados, desistiu.

Clara foi encaminhada para um mosteiro das beneditinas. Vendeu seus pertences, incluindo o dote de casamento, e distribuiu o valor aos pobres. São Francisco se tornou seu diretor espiritual, e em 1212 ambos fundaram a segunda Ordem franciscana, ou Clarissas, para as mulheres.

Catarina, irmã de Clara, fugiu também para o convento, com 15 anos, e Monaldo foi outra vez enviado para buscar uma sobrinha. Chegou a amarrá-la com a intenção de a carregar, mas Clara, vendo o sofrimento da irmã, pediu ao Senhor que interviesse, e Catarina ficou tão pesada que ninguém conseguia movê-la. Monaldo, novamente, desistiu.

As Clarissas ficaram temporariamente no convento de Santo Ângelo de Panço, mudando-se definitivamente para o Santuário de São Damião em Assis. Um breve relato do estilo de vida franciscano ficou registrado pelo bispo Santiago de Vitry: um grande número de homens e mulheres de todas as classes sociais, que “deixando tudo por Cristo, escapavam ao mundo. Chamavam-se frades menores e irmãs menores e são tidos em grande consideração pelo senhor Papa e pelos cardeais… As mulheres… moram juntas em diferentes abrigos não distantes das cidades.

Não recebem nada; vivem do trabalho de suas mãos. E lhes dói e preocupa profundamente que sejam honradas mais do que gostariam, por clérigos e leigos. Clara preocupou-se especialmente com a radicalidade da pobreza material associada à confiança plena na Providência divina. Por este motivo obteve do Papa o Privilegium Paupertatis, pelo qual as clarissas de São Damião não podiam possuir nenhuma propriedade material. Esta extraordinária concessão do direito canônico da época foi uma confirmação do quanto era reconhecida a santidade de vida destas clarissas.

A invasão muçulmana à Europa gerou carências também em Assis. Houve uma situação em que restava apenas um pão para as 50 irmãs do convento. Clara mandou a cozinheira dividi-lo em 50 pedaços e confiar em Deus – e surgiram dezenas de pães que sustentaram a comunidade por vários dias: “Aquele que multiplica o pão na Eucaristia, o grande mistério da Fé, por acaso Lhe faltará o poder para abastecer com pão Suas esposas pobres?”, comentou Clara. Metade dos pães foi enviado aos frades.

Os Papas Inocêncio III e Inocêncio IV a visitavam, bem como cardeais e bispos, para lhe pedir conselho.

Numa das visitas do Papa Inocêncio III ao seu convento, este pediu que ela abençoasse os pães da refeição, o que ela fez traçando sobre eles o sinal da Cruz mesmo a contragosto, pois pensava que este ato era um direito do Papa. Imediatamente cada pão ficou marcado com uma Cruz.

O maior milagre de Santa Clara em vida, porém, talvez tenha sido o da expulsão dos muçulmanos sarracenos que tentaram invadir o convento. Ela se apresentou diante deles com o Santíssimo Sacramento no Ostensório, diante do qual eles foram tomados de pânico e fugiram, sem fazer mal algum.

Já muito doente, e depois da morte de São Francisco, Clara desejou ir a uma Missa na igreja que recebera o nome do santo, mas sua condição de saúde a impedia. A celebração então foi como que projetada na parede da sua cela, de modo a que ela a pudesse acompanhar. O seu relato deste fato foi confirmado por pessoas presentes à referida Missa, da qual Clara reproduziu detalhadamente as palavras do sermão e outras ocorrências durante a cerimônia.

Mesmo acamada, Clara rezava, bordava e costurava, sem cessar. Faleceu em 11 de agosto de 1253 no convento de São Damião, após 27 anos de doença e 60 de idade. É a primeira e única mulher na Igreja a escrever uma Regra para uma Ordem religiosa. As Clarissas já se tinham espalhado em grande número nesta data. Sua canonização foi extraordinariamente rápida, depois de somente dois anos.

 Santa Clara de Assis é a Padroeira da Televisão, por causa da Missa que lhe foi miraculosamente projetada na parede.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Desde a infância, Clara teve a salutar experiência de fugir das revoluções deste mundo, para buscar a estabilidade de uma vida fixada em Deus. Como São Francisco, não o fez senão com esforço evangélico, abandonando a casa, a família e os bens: “Quem ama pai ou mãe mais do que a Mim não é digno de Mim. Quem ama filho ou filha mais do que a Mim não é digno de Mim. Quem não toma sua cruz e não Me segue não é digno de Mim” (Mt 10,37-38). A seriedade com que assumiu esta decisão, e que a levou ao privilégio de nada possuir… a não ser Cristo, é admirável e inspiradora. Mas certamente não todos têm vocação franciscana ou a das clarissas, então, como seguir este exemplo maravilhoso e verdadeiro? Trata-se de, mesmo possuindo bens, não se apegar a eles. A capacidade de se desapegar das coisas e dos interesses materiais pode ser vivida e cultivada por qualquer pessoa, com a graça de Cristo, ainda que isto seja um esforço constante – e esta perseverança também leva à santidade. Muitos ou poucos bens, o saber partilhá-los é que tem valor diante de Deus. De nada adianta ter por exemplo um só par de calçados, se o dono tem a disposição e intenção de matar um irmão para não os perder… Nada pode ser mais significativo para a nossa vida espiritual, e se for o caso também para a física, do que imitar o seu gesto de afugentar o inimigo com a Eucaristia! É uma bela e prática síntese da vida católica, estar em comunhão com Deus, e nesta vida não existe outra forma de proximidade maior com Jesus do que no Santíssimo Sacramento. Missa, Comunhão frequente e Adoração Eucarística habitual são o centro da vida na Igreja, e nunca serão suficientemente enfatizadas a sua importância e necessidade vitais. Que a lembrança de Santa Clara diante dos sarracenos nos torne sempre mais empenhados em buscar o Senhor, Transubstanciado sob as espécies do pão e do vinho, ao longo da vida, dia a dia. Deus quer abençoar todas as atividades humanas, incluindo as suas invenções. Por isso Clara é padroeira da Televisão, e pode-se dizer, por extensão, de outros veículos de imagem semelhantes. Mas o que oferecemos por meio deles? As primeiras atividades televisivas no Brasil, que não ocupavam como hoje 24 horas de transmissão, iniciavam-se às 18h00, hora do Angelus, justamente com esta oração. Será preciso comentar sobre o conteúdo televisivo atual? Muito poucas são as emissoras católicas (e nem todas as suas programações estão isentas de críticas sérias, particularmente a postura de certos clérigos), e em geral poucos são os programas que não oferecem um conteúdo com visões morais ambíguas ou frívolas, para dizer o mínimo. A grande maioria se inspira no mundano (e no diabólico, com maior ou menor disfarce). Ora, que o mundo ofereça a sua podridão, não é novidade ou espanto; mas que muitas pessoas que se dizem de fé não tenham discernimento e os assistam, permitindo e incentivando inclusive que também as crianças o façam, é assustador. Programas não assistidos não serão mais produzidos. Há muitas atividades que enriquecem a vida e distraem saudavelmente; este tipo de podridão mundana é um dos “bens” dos quais é preciso se desapegar, porque absolutamente não há como conciliá-los com a busca da Verdade e da santidade.

Oração:

Senhor, que projetas para nós a Salvação e não a condenação infinita, concedei-nos por intercessão de Santa Clara ficarmos inamovíveis para tudo o que nos quer afastar de Vós, e que o peso da confiança na Vossa Providência nos leve a entregar sem medo e com tranquilidade todas as nossas necessidades, de pão material e principalmente do Pão Eucarístico, em Vossas amorosas, sábias e protetoras Mãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 10 de agosto de 2024

O que torna a Igreja sempre jovem (1)

Cardeal Ersílio Tonini | 30Giorni

O que torna a Igreja sempre jovem

Um diálogo com o Cardeal Ersilio Tonini: «As orações matinais, das quais as nossas mães tinham inveja, creio que foram a salvação da Igreja. Temos que recuperá-los. Se nós, bispos, lançássemos este programa, em vez de grandes reuniões..."

por Lorenzo Cappelletti e Giovanni Cubeddu

O encontro com o cardeal acontece na Cappellette di San Luigi, o antigo palácio Rospigliosi próximo a Santa Maria Maggiore, tradicionalmente nomeado em homenagem à antiga sede dos Missionários Imperiais, onde muitas crianças romanas nos últimos dois séculos se prepararam para a Primeira Comunhão (entre estes Pio XII, em 1886 simplesmente Eugenio Pacelli). E onde viveram muitos sacerdotes santos: do próprio Francesco Maria Imperiali a São Giovanni Battista De Rossi, de Giuseppe Rinaldi a Pirro Scavizzi.

O cardeal chega de trás em passo acelerado (vem da gravação de um programa de televisão) e só depois se lembrará com prazer que se trata de um lugar que lhe é familiar, que na altura não tinha reconhecido. Ele elogia a sua bela transformação num lugar de hospitalidade austera, ainda cheio do encanto e da vivacidade da fé católica que ainda pode ser sentido em algumas partes de Roma. 

O diálogo começa com o que temos diante dos olhos: uma descristianização inimaginável, para citar as palavras do Cardeal Ratzinger há alguns anos atrás... 

TONINI: Os momentos mais trágicos da Igreja são os momentos da juventude da Igreja. Santo Agostinho está quase obcecado com a destruição de Roma. Em primeiro lugar porque é Roma e, em segundo lugar, porque os pagãos atribuíram a culpa dessa destruição aos cristãos. No início de Cidade de Deus, ele diz: “Mas você acredita mesmo que a Igreja, o Evangelho, não ganha impulso com isso?”. Diz que a juventude da Igreja coincide com a crucificação de Jesus Cristo: «Haec iuventus Ecclesiae». Aqui, neste momento, enquanto estamos desorientados e chocados e nos parece que o mundo caminha para a destruição total, estou intimamente convencido de que desta tragédia... o que resultará dela? Pois bem, o tempo das divisões e dos contrastes está chegando ao fim e o tempo da identificação está começando. Ou seja, as nações desaparecem, a história passada perde peso e percebemos que isso está acontecendo como o povo judeu, que precisava de deportações para voltar a entender. O grande desafio, olhando para o futuro, está aqui mesmo: se poderemos estar juntos ou não, como diz o grande livro de Alain Touraine, Pourrons-nous vivre ensemble? Égaux et diferentes.

A história, ao contrário do que diziam os gregos, não é circular, mas é uma flecha que se move em direção ao futuro. A Igreja é para o futuro, o Evangelho está todo no futuro. Ou não? Agora digo: a Igreja é mãe neste sentido, a tarefa da Igreja, cada vez mais, especialmente depois do Concílio, é ser responsável pelas ações que virão. Nem mesmo de propósito, a Igreja possui o título de “católica”, “kathólou”, “todos juntos”. Agostinho já tinha compreendido que a batalha era contra aqueles que queriam que a Igreja fosse apenas africana [o cardeal refere-se naturalmente à longa disputa com os donatistas, ed.

A abside da Basílica de San Vitale em Ravenna | 30Giorni

O que ele disse no início sobre a Igreja traz à mente a Ecclesiam Suam de Paulo VI , que este ano marca o quadragésimo aniversário da sua publicação. O que você acha?

TONINI: Esta encíclica tem um tom tão suave! O Papa aparece quase pedindo desculpas, na ponta dos pés, fala de si mesmo com suavidade, é extremamente doce e gentil, trêmulo e ao mesmo tempo ousado. E ele entende muito bem que o Papa tem o futuro nas mãos. Como na outra encíclica sobre a economia mundial, Populorum Progressio. Nenhum pontificado deve ser comparado a outro. Alguém quis chamar o Papa reinante de “Magno”.

Pessoalmente espero que ele não aceite. São fórmulas que eram boas há séculos, hoje não servem mais, hoje devemos ser humildes, simples, tremer pela nossa própria posição. Minha mãe me disse: “Salve sua alma, menino!”. A mãe de monsenhor Tettamanzi, ao receber a notícia de que seu filho havia sido nomeado arcebispo de Milão, disse: “Esperemos que a vaidade não o atinja”. Estas são coisas formidáveis.

Hoje não nos damos conta de que está em jogo o primeiro artigo do Credo, o bem de Deus está em jogo, o homem está sequestrando o bem de Deus. O pesquisador americano Gregory Stock, autor de Redesigning Humans (“Redesenhando os seres humanos”). , propõe utilizar os genes das plantas, dos animais e do homem para criar um ser totalmente novo, que não será mais um homem e que, segundo Stock, «nos libertará da escravidão a que a natureza nos condenou até agora». Há alguém que gostaria de fazer desaparecer o ser criado por Deus. Deus ficaria privado da sua criação. O mistério da Encarnação também está em jogo, porque se a natureza humana for destruída, é um fracasso da Encarnação, por assim dizer. Dentro de dez ou vinte anos estes grandes problemas explodirão. Será que as crianças que chegam agora chegarão preparadas para o acontecimento mais extraordinário da história do mundo, quando os parlamentos decidirão se o bem de Deus merece respeito ou não, se pode ser transmutado ou não? É por isso que a Igreja deve perguntar-se como recuperar a atratividade que teve no século passado. Antigamente o menino podia contar com o exemplo dos pais, com a pressão deles, e então sempre havia o senso de obediência. Agora o menino só segue sua atratividade.

Arquivo 30Dias 11 – 2004

Fonte: http://www.30giorni.it/

Liberdade religiosa

Liberdade religiosa (Texto para Blog)

Liberdade religiosa

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

 Finalmente reconheceram que houve abuso e desrespeito ao sentimento religioso cristão. “Organizadores pedem desculpas pela paródia de ‘A última Ceia’ na abertura das Olimpíadas”, e ainda, diz o texto: organizadores pediram desculpas a grupos cristãos católicos pela cerimônia de abertura. Exatamente com este título, foi veiculada notícia num dos jornais mais lidos no Brasil. 

Em que pese o diretor artístico da cerimônia de abertura, afirmar que seu desejo não “é ser subversivo nem zombar, escandalizar”, foi o que aconteceu. Apesar da tentativa de atribuir o quadro ofensivo referindo-o à obra do artista Jan van Bijlert, intitulada “A Festa dos Deuses”, a evidência da zombaria foi clara. É uma constante o deboche dos símbolos e ícones da fé cristã nos países do Ocidente. Já no Oriente, é perseguição mesmo, ao cristianismo. Nunca foram assassinados tantos cristãos como no século XX afirmou  João Paulo II. 

De onde vem este desrespeito á liberdade religiosa? Principalmente no caso em questão, acontecido na França, que deu o tom no progresso dos direitos humanos, com a proclamação dos valores da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”? Se a liberdade é  propriedade essencial do homem moderno, um valor fundamental da existência do indivíduo na sociedade, por que este desrespeito à liberdade religiosa? 

A declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 no seu artigo 8 diz ”Todas as pessoas tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e religião”. Por isso se deve respeitar a religião. Proibir que se prejudique alguém por suas opiniões religiosas. A incredulidade, a irreligião e o ateísmo, só se podem entender em relação à religião e à fé, na liberdade de pensamento e consciência. No respeito ao sentimento religioso de quem o tem. 

O concílio Vaticano II na Declaração “Dignitatis Humanae” afirma o direito `a liberdade religiosa, e fundamenta-o na dignidade da pessoa humana, como patrimônio de todos os homens. É um direito civil porque pertence a qualquer autoridade civil tutelar e promover os direitos humanos. Mas qual a explicação para a violação do direito à liberdade religiosa através do desrespeito e desmoralização do cristianismo? 

É patente que estamos em uma crise antropológica que marca nossa mudança de época. Esta crise é marcada pela secularização e negação da ética. Quando o dinheiro governa em vez de servir, olha-se com desprezo para a ética. Ética que não sendo ideologizada, permite criar uma ordem social mais humana e solidária. 

Assistimos o crescimento enorme do poder humano através das novas tecnologias. Mas o que não acompanhou esse crescimento foi seu potencial ético. Tudo se tornou relativo, sem referência ao bem, ao mal e muito menos à verdade. Aliás estamos em uma época de “pós-verdade”, na qual se troca a razão pela paixão e os valores judaico-cristãos e a lei natural grega, pelo hedonismo individualista. O  subjetivismo moral é a regra para ser “politicamente correto”. 

“Nossa civilização sobreviveu e prosperou por um tempo. Então começou a morrer, de dentro para fora. Ela está corroída pelas contradições internas, comunidades desprovidas de valores e indivíduos vazios…e o desejo de silenciar os que pensam diferente tem atingido novos e tenebrosos níveis”(Bem Shapiro). 

Como um doente que recusa o remédio, vomitando-o, assim acontece com a recusa e descarte de Jesus Cristo, do qual pode vir a salvação. É ele e seus seguidores, o perigo para o império do Mercado, que sem escrúpulo, destrói indivíduos e Nações! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Brasil tem 6,2 mil diáconos permanentes

Diáconos na missa da festa de São Lourenço 2023. | Crédito: Arquidiocese de Maringá (PR). (ACI Digital)

Brasil tem 6,2 mil diáconos permanentes e vocação cresce no país

Por Nathália Queiroz*

10 de agosto de 2024

A Igreja celebra hoje (10) o dia de são Lourenço e, por causa dele, o dia dos diáconos. A vocação ao diaconato permanente cresce anualmente em todo o mundo. No Brasil há cerca de 6,2 mil diáconos, segundo dados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e muitas ordenações marcadas para o segundo semestre.

A palavra diácono vem do grego “diáconos” que significa servidor, sua missão principal é o serviço da caridade, mas também da Palavra e da liturgia. Estabelecido pelos apóstolos, como conta o livro dos atos dos Apóstolos (6, 1-6), a vocação de diácono permanente caiu em desuso. O diaconato tornou-se apenas um estágio no caminho para a ordenação sacerdotal. O papa são Paulo VI propôs a retomada dessa vocação em 1967, e ela foi codificada pelo Código de Direito Canônico de 1983, editado por são João Paulo II.

Para ser diácono permanente é preciso ter mais de 35 anos e vida matrimonial estável. Solteiros religiosos também podem ser ordenados. Só podem ser admitidos candidatos que participem ativamente da comunidade. A mulher do candidato deve concordar com a ordenação.

Algumas dioceses estão com as ordenações agendadas até o fim do ano. O bispo de Divinópolis (MG), dom Geovane Luis da Silva, ordenou oito diáconos permanentes no sábado (2), os primeiros na diocese. O arcebispo de Fortaleza (CE), dom Gregório Paixão, OSB, ordenará hoje (10), 16 diáconos permanentes. A arquidiocese de Maringá ordenará 40 diáconos permanentes, entre eles o irmão Rafael Rosário Carregosa, superior-regional da Congregação dos Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora.

O carisma de sua comunidade é cuidar dos enfermos, Carregosa tem 26 anos de vida religiosa e é presidente do Hospital Santa Casa de Maringá. Ele contou à ACI Digital que sentiu o chamado para ser diácono para poder servir melhor. “O diaconato tem muito a ver com o meu carisma de estar a serviço”, disse. “Como diácono posso abrir mais o leque de missão. Só vai agregar aos serviços”.

“Quero estar sempre a serviço do projeto de Deus, da igreja e da minha congregação! Quero poder contribuir mais para a construção do Reino de Deus na minha vida e das pessoas e exercer a missão de diácono dentro do hospital”, disse.

Os diáconos permanentes, segundo o Catecismo da Igreja Católica, podem distribuir a comunhão, dar bênçãos, dar a bênção do Santíssimo Sacramento, assistir e abençoar casamentos, fazer batizados, celebrar exéquias, funerais, fazer homilias, ler o Evangelho na missa, presidir sacramentais e dedicar-se a diversos serviços de caridade.

Paulo Cezar Teixeira da Silva, de 60 anos, também será ordenado diácono na arquidiocese de Maringá (PR). É casado e tem duas filhas. Ele contou à ACI Digital que sempre foi muito ativo nas pastorais, é ministro da eucaristia e há seis anos foi convidado a fazer a formação para o diaconato.

“Com o sacramento da ordem, que será o diferencial na minha vida a partir da ordenação, eu espero poder servir mais. Quando as pessoas precisam, a gente precisa estar ali apoiando, ouvindo, aconselhando”, disse ele. “Estarei junto ao pároco para prestar o serviço, ser companheiro e vou ajudar nas atividades do dia a dia”.

O sacramento da ordem possui três graus: ordem episcopal, o presbiterado e o diaconato, portanto, o diácono permanente faz parte do clero.

Segundo Silva, o apoio de sua família é fundamental na sua resposta à vocação diaconal.

As Diretrizes para o Diaconato Permanente, da CNBB, dizem que “a família do diácono, Igreja doméstica, constitui o primeiro campo da sua ação ministerial”. “O diácono casado não descuidará do seu lar sob o pretexto do exercício do ministério” e “estará sempre atento para que os trabalhos diaconais não o afastem da necessária convivência com a esposa e os filhos”.

Por poderem casar, os diáconos são os únicos católicos que podem receber todos os sete sacramentos: batismo, eucaristia, confirmação, casamento, ordem, penitência e unção dos enfermos. O batismo, a confirmação e a ordem, conferida a diáconos, presbíteros e bispos, são os sacramentos que só se pode receber uma vez. Eles imprimem caráter, isto é, uma marca espiritual, que nunca se apaga.

*Nathália Queiroz de Carvalho Lima é certificada em espanhol pelo Instituto Cervantes, trabalha como tradutora há sete anos na ACI Digital. Tem experiência em redação de conteúdo religioso para mídias católicas em português e espanhol.

Fonte: https://www.acidigital.com/

53º Congresso Eucarístico Internacional

53º Congresso Eucarístico Internacional (CNBB)

53º Congresso Eucarístico Internacional ocorre em Quito, no Equador, no próximo mês

Entre os dias 8 e 15 de setembro, a cidade de Quito, no Equador, vai receber pessoas de todo o mundo para o 53º Congresso Eucarístico Internacional, momento proposto pela Igreja para aprofundar o mistério de Cristo, Pão vivo descido do céu.

As conferências episcopais de todo o mundo foram orientadas a nomear delegados para a participação no evento. Aqui no Brasil, a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nomeou o bispo de São João da Boa Vista (SP), dom Eugênio Barbosa Martins, como delegado. O prelado é religioso da Congregação dos Padres Sacramentinos, fundada pelo santo que inspirou a criação dos Congressos Eucarísticos Internacionais – São Pedro Julião Eymard.

Além dos bispos, o congresso vai receber leigos, religiosos, pessoas consagradas e sacerdotes. A programação terá apresentações, depoimentos, oficinas e debates, e também celebração da Eucaristia em igrejas patrimoniais do Centro Histórico de Quito. Na abertura do evento, no dia 8 de setembro, cerca de mil e quinhentas crianças receberão o sacramento da Eucaristia pela primeira vez.

Fraternidade humana

Com o tema “Fraternidade para curar o mundo”, o 53º Congresso Eucarístico Internacional propõe-se a refletir sobre a Eucaristia e vivê-la como lugar de fraternidade capaz de curar o planeta. No texto-base preparado para auxiliar as reflexões que antecedem o encontro, é apresentada a ideia de que a fraternidade humana não seja somente um sonho, mas que encontre “uma maneira de se concretizar a partir da celebração eucarística”.

“O dom pascal do Senhor Ressuscitado, que está no coração de cada Missa e do culto eucarístico da qual adquire o seu significado, ao mesmo tempo que sara as nossas feridas, ajuda-nos a cuidar de cada irmão e irmã”, escreveu dom Alfredo José Espinoza Mateus, arcebispo de Quito e primaz do Equador.

A escolha do local

A arquidiocese de Quito foi escolhida para sediar este Congresso Eucarístico Internacional por ocasião do 150º aniversário da Consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus (25 de março de 1874). Na cidade, em 1886, já se tinha realizado o primeiro Congresso Eucarístico Nacional.
O texto-base do Congresso Eucarístico utiliza a imagem da tenda, também presente nas reflexões do Sínodo sobre a Sinodalidade, para abordar a acolhida aos participantes do Congresso e a proposta reconciliadora e curativa a partir da Eucaristia:

“Na plenitude dos tempos, Deus Pai deu-nos o seu Filho Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, que se ofereceu até à cruz pela nossa redenção, vencendo o pecado e a morte e tornando-se ao mesmo tempo pão e pastor das nossas vidas. Cristo é o pão de Deus que nos irmana e nos reconcilia para que quem caminha conosco deixe de ser um estranho no caminho, mas seja reconhecido como próximo e companheiro de viagem. E desde a tenda da Eucaristia, da oferta da vida para que outros tenham vida, do perdão aos verdugos, precisamente, onde se consuma a sua violência, a presença do Senhor gera comunidades cristãs onde se aprende sempre de novo a promover o diálogo, a reconciliação e a paz, o caminho para curar este mundo ferido pelo ódio, a inimizade e o egoísmo”

E continua:

“Localizada na latitude zero, no ‘meio do mundo’, estende a sua tenda até se tornar numa imensa tenda eucarística onde todos são convidados a partilhar este grande sonho de uma fraternidade redimida e curada pelo amor total de Cristo”.

Acesse o texto-base aqui.

Simpósio Teológico

Nos dias que antecedem o Congresso Eucarístico, acontece o Simpósio Teológico, um momento voltado a teólogos e acadêmicos especializados em teologia sacramental e teologia pastoral, formadores de seminários ou casas de formação, bem como a pessoas interessadas no estudo da Eucaristia e na relação da fé cristã com a realidade social, numa chave de fraternidade.

Será uma oportunidade para refletir sobre a relação intrínseca que existe entre Eucaristia e Fraternidade no contexto de um mundo ferido e procurará aprofundar o documento base do Congresso e dotar a Igreja Universal de um contributo teológico que permita o desenvolvimento da Teologia Eucarística na sua riqueza teórica e no seu exigente compromisso com a construção de uma fraternidade universal.

Haverá a oportunidade de envio de contribuições acadêmicas dos participantes. Os interessados ​​em preparar e escrever um pequeno ensaio para aprofundar algum dos temas do Simpósio, a partir de sua própria realidade eclesial, social e cultural, podem enviar seus trabalhos até o dia 20 de agosto.

Saiba mais no site do evento.

Por Luiz Lopes Jr

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Com a palavra, sobrevivente da bomba atômica em Hiroshima

Michiko Kono, voluntária pela paz em Hiroshima e testemunha direta da explosão da bomba atômica. (Vatican News)

Michiko Kono fala ao Vatican News sobre sua vida como sobrevivente da explosão da bomba atômica em Hiroshima, 79 anos atrás, e exorta especialmente os jovens a se informar o quão terrível e cruel foi a bomba atômica: "Comecem a pensar na possibilidade de acabar com as armas nucleares".

Francesca Merlo - Vatican News

Michiko tinha apenas quatro meses em 6 de agosto de 1945. Naquele dia, de 79 anos atrás, o avião estadunidense B-29 lançava a bomba atômica, conhecida como “Little Boy”, sobre sua cidade natal, Hiroshima.

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Eram 8h15 da manhã e Michiko e seus pais estavam na estação de Hiroshima, onde sua mãe acabara de colocá-la em um banco de madeira para trocar a fralda.

Pouco depois, a apenas 2 km de distância e a 2.000 pés de altitude, ocorreu a detonação da bomba “Little Boy”. 80.000 pessoas morreram instantaneamente. O calor da explosão atingiu a estação e, embora seus pais estivessem gravemente queimados, Michiko teve sorte em seu banco de madeira: o encosto a protegeu do calor e ela saiu ilesa. 1,6 km ao sul da cidade, em casa, sua avó ficou viúva.

Michiko tinha apenas quatro meses na época, por isso não se lembra do acontecimento, mas sabe como é ter passado toda a sua vida como sobrevivente, dedicada a difundir uma mensagem de paz e esperança às gerações mais jovens.

A sua voz está em perfeita harmonia com a do Papa Francisco, que visitou os locais dos atentados de Hiroshima e Nagasaki, bombardeados apenas três dias depois do de Hiroshima de Michiko.

Seguindo os passos de seu antecessor, João Paulo II, que visitou os locais em 1989, o Papa Francisco esteve no Memorial da Paz de Hiroshima trinta anos mais tarde, e fez um discurso histórico no qual denunciou o uso e a posse de armas atômicas como "imoral."

Naquela ocasião, o Papa destacou que 'o uso da energia atómica para fins bélicos é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas contra qualquer possibilidade de futuro na nossa casa comum (...). E seremos julgados por isso".

Tempo ganho

A Sra. Kono acredita que a voz dos líderes influentes são também vozes de paz e esperança. “Agora as pessoas estão mais conscientes do que aconteceu. Dos perigos da bomba atômica”, disse ela ao Vatican News.

Ela está na Itália para assegurar-se disso, já que frequenta a Tornalestate International Summer University. Este ano, a Universidade foca no tema "O tempo expirado”, e Michiko Kono participa de uma jornada intitulada “É um sinal de grande carácter ter sempre esperança”.

Uma infância à sombra da bomba

O Museu da Paz de Hiroshima, visitado pelo Papa Francisco e onde Michiko Kono é agora voluntária, foi inaugurado em 1955, dez anos depois da explosão atômica.

Michiko precisou de 40 anos para criar coragem e visitar o museu. “Minha mãe me levou quando eu tinha dez anos, mas eu tinha muito medo de entrar”, diz ela. Em 2001, “percebi que era meu dever como sobrevivente contar minha história”.

Foi assim no museu que percebeu a "sorte" que teve.

"Quando criança, morei nos subúrbios de Hiroshima, onde ia na escola. Não via tantas consequências da radiação por lá. No museu aprendi sobre suas consequências e sobre as crianças que morreram na escola primária por leucemia e outras doenças causadas pela bomba."

Havia 350 mil pessoas na cidade e até o final do ano 140 mil haviam morrido. Mais da metade dos mortos foram instantaneamente transformados em cinzas, que agora estão na cripta do memorial.

Muitas pessoas sofreram as consequências da radiação. Várias delas morreram e, até hoje, muitas mais continuam a sofrer os efeitos da radiação.

Em 2005, Michiko integrou-se ao sistema de sucessão de legados do museu. Lá conheceu Mitsuo Kodamo, com quem passou dois anos conversando e aprendendo. Tinha 16 anos quando a bomba atômica caiu e conviveu com os graves efeitos da radiação até sua morte, aos 66 anos. Agora, a Sra. Kono viaja pelo mundo contando sua história e seu legado.

Efeitos colaterais?

Embora tendo sobrevivido, Michiko Kono e seus familiares tiveram experiências estranhas enquanto cresciam.

"Em junho do ano seguinte à explosão, adoeci, com febre alta e diarreia. Meu médico achou que eu iria morrer. Meu pai teve sangramento nas gengivas por um certo tempo após a explosão, enquanto minha mãe teve febre baixa continuamente. Lembro-me que quando eu tinha cerca de nove anos, tive muitos furúnculos na parte inferior do corpo. Ainda não sei o que os causou”, diz ela. “Assim, quando eu era adolescente e estava no ensino médio, sofria de exaustão no verão. Isso também pode ter sido um efeito da radiação. E na faculdade, quando eu estava cansada, às vezes meus dedos inchavam. "Sempre me perguntei se era da radiação."

Mas Michiko não sabe se foi a radiação ou se outras pessoas também experimentaram coisas estranhas que não conseguiram explicar. “Naquela época não havia informações sobre os efeitos colaterais da radiação. Não era muito comentado na mídia, então não percebíamos e não podíamos comparar”.

Nos anos após a guerra, o Japão foi ocupado pelos Aliados, liderados pelos Estados Unidos. Durante 7 anos, até ao fim da ocupação em 1951, a cobertura mediática e o material de informação e investigação sobre a bomba atômica foram restringidos.

Todo cidadão do mundo deveria saber 

Agora, diz Kono, “acredito que mais pessoas estão começando a aprender sobre a bomba atômica”. Ela fala dos líderes mundiais que visitam o Museu da Paz de Hiroshima e se inteiram do "quão poderosa e terrível foi a bomba atômica".

Mas não é suficiente, continua ela: “Todos os cidadãos do mundo deveriam saber quão cruel foi a bomba atômica”.

Aos jovens, ela diz: "Por favor, informem-se. Venham a Hiroshima e Nagasaki e aprendam quão terrível e cruel foi a bomba atômica. Comecem a pensar na possibilidade de acabar com as armas nucleares." Isto, conclui ela, “é necessário para um mundo em paz”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Lourenço

São Lourenço (A12)
10 de agosto
País: Espanha
São Lourenço

Lourenço nasceu em Huesta, reino de Aragão (atual Espanha), em 225, recebendo dos pais cristãos excelente formação. Em função dela, decidiu mudar para Roma, centro do Catolicismo, embora esta ainda estivesse numa fase de transição entre o passado idólatra e a realidade da Cátedra de Pedro. Seu santo zelo o destacou aos olhos do Papa São Sisto II, que o tornou diácono e seu auxiliar, responsável por um centro dedicado aos pobres.

Logo foi nomeado arquidiácono, o principal entre os sete da igreja em Roma. O diaconato, desde o tempo dos Apóstolos (cf. At 6,1-6), implica na administração de bens da Igreja, como o dinheiro necessário para a vida dos clérigos e auxílio aos necessitados, o cuidado dos paramentos e objetos de culto, e ações como a distribuição da Eucaristia, isto é, um cargo de alta responsabilidade, ao qual Lourenço correspondia com rara prudência e vigilância, humildade e honestidade absoluta. Não muito depois de assumir tais funções, o imperador Valeriano I iniciou uma duríssima perseguição aos cristãos, em 257.

No ano seguinte, o Papa Sisto II foi martirizado, por decapitação. A Tradição conta que, ante a sua condenação, Lourenço falou: “Meu pai, vais sem levar o teu diácono?”. E o Papa respondeu: “Meu filho, em poucos dias me seguirás”.

De fato, três dias depois do seu martírio, Valeriano exigiu que a Igreja lhe entregasse todos os seus bens. Lourenço teria então reunido os pobres e lhos apresentado, dizendo: “Estes são os bens e o tesouro da Igreja”. Foi então preso e condenado à tortura, na tentativa de apostasia. Na prisão, recuperou milagrosamente a vista de um cego, o que levou à conversão de Hipólito, o oficial romano responsável pelo cárcere. No dia seguinte, foi colocado sobre um cavalete, onde o esticaram de modo a lhe deslocar os ossos, e o açoitaram com cordas acrescidas de bolas de chumbo nas extremidades.

A serenidade de Lourenço durante o suplício levou à conversão de um soldado imperial, de nome Romano, que também foi martirizado pouco depois. Valeriano decidiu então queimar Lourenço vivo. Colocaram-no sobre uma grelha de ferro com carvão aceso por baixo, mas depois de certo tempo o diácono, sorrindo, disse aos torturadores: “Já podeis virar-me, desta lado já estou bem assado”. Diante dessa sua heroica serenidade e bom humor, ainda muitos dos presentes se converteram, fato narrado por São Prudêncio, seu contemporâneo, enquanto Valeriano, sempre mais colérico, mandou aumentar a intensidade do fogo.

 Por fim, Lourenço faleceu sobre a grelha, em 10 de agosto de 258. Ele é o padroeiro dos diáconos e da cidade de Huesca, na Espanha. São Lourenço tem a honra de ser mencionado na Liturgia da Santa Missa (Oração Eucarística I) e na Ladainha de Todos os Santos.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Destacar-se aos olhos dos santos, especialmente de Deus Santo, e se colocar a Seu serviço, é evidência de um grande privilégio e direção certa nos caminhos desta vida. E este serviço não está direta ou obrigatoriamente relacionado a alguma função eclesiástica, é acessível em qualquer atividade ou situação da vida humana. Todos podemos e devemos servir a Deus e ao próximo, varrendo lixo ou governando, doentes ou saudáveis, jovens ou idosos. Mas sem dúvida os vocacionados religiosos estão no campo mais rico de trabalho espiritual, e os frutos que nele plantam e colhem devem ser os mais abundantes. O diaconato, possível também aos leigos, conforme a sua origem apostólica, é importantíssima no auxílio dos sacerdotes, de modo a que estes tenham tempo e condições para se dedicar ao que lhes é único, próprio, e fundamental, a administração dos Sacramentos; talvez falte a muitas paróquias quem possa administrar seus bens de modo a não sobrecarregar os padres com os cuidados materiais, o que, conforme as palavras bíblicas, “não está certo” (cf. At 6,2). São Lourenço se destaca também pelo bom humor, sempre agradável a Deus. Seu comentário sobre a grelha é prova disso, bem como a apresentação dos pobres ao imperador. Humor cheio de pureza e verdade, não malícia: de fato, os pobres são um tesouro da Igreja… mas é preciso compreender o sentido profundo desta ideia, atualmente muitíssimo deturpada ideológica e hereticamente. Os pobres, necessitados, que precisam da caridade e solicitude da Igreja somos todos nós, pois todos precisamos da ajuda de Deus. Sofremos, com maior ou menor intensidade, da chamada “pobreza de espírito”, um modo popular de se referir à mediocridade espiritual. Verdade é que as aparências chamem mais atenção para as necessidades materiais, e obviamente o cuidado destas é dever de todo católico; mas a pobreza material não significa falta de santidade, enquanto que a de espírito significa a ida para o inferno. A igreja não tem por missão resolver os problemas materiais do mundo, mas sim trazer a Salvação das almas, obra máxima do amor de Deus. Por este amor, derivatimamente, deve-se expressar a caridade material para com os pobres; mas isto é consequência, não causa da missão da Igreja, como muitos, confusa e/ou desonestamente, querem fazer crer. O fogo que nos deve consumir é o do Espírito Santo, que nos conduz prioritariamente para as necessidades de vida infinita do espírito, e não o do inferno, que aumenta de intensidade por meio daqueles que se preocupam acima de tudo com os bens materiais. “Lourenço”, do Latim Laureamtenens (“coroa feita de louro”), faz referência aos atletas vencedores da Antiguidade, cuja premiação era uma coroa trançada com as folhas desta planta. Lourenço foi vitorioso pela coroa do seu martírio, conforme ensina São Paulo: “Não sabeis que, nas corridas do estádio, todos correm, mas só um recebe o prêmio? Correi para receber o prêmio. Todo atleta se priva de tudo para ter uma coroa que se acaba; mas nós, para termos uma coroa que dura para sempre. (…) Mas castigo o meu corpo e o domino para que eu mesmo não venha a ser reprovado depois de ter pregado aos outros” (1Cor 9,25-28).

Oração:

Senhor, que nunca deixais de recompensar quem Vos coloca como prioridade nesta vida, concedei-nos pela intercessão de São Lourenço esticarmos sempre mais os nossos esforços para o bem dos irmãos, açoitando as tentações e concupiscências que nos querem cremar, e acendendo a Vós o incenso de toda boa obra, de modo a que sejamos laureados com vida no Paraíso, junto de Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Há mais padres, mas vocações sacerdotais no Brasil têm diminuído

Ordenação de oito novos sacerdotes na catedral de Brasília, em 3 de agosto | Facebook/Arquidiocese de Brasília | ACI Digital/(arqbrasilia)

Há mais padres, mas vocações sacerdotais no Brasil têm diminuído, diz presidente da Comissão Nacional de Presbíteros

Por Monasa Narjara*

9 de agosto de 2024

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) dedicou a primeira semana de agosto, mês das vocações, à vocação do sacerdote. A Igreja do Brasil tinha 22.164 padres, segundo o mais recente último levantamento, feito em 2023 pela Comissão Nacional de Presbíteros (CNP) da CNBB. O número indica um crescimento de 1,62% no número de padres em comparação ao levantamento, feito em 2021, que contabilizou 21.812 padres.

Como a população brasileira diminuiu quase 4,8% e chega hoje a 203.080.756 pessoas, o aumento é ligeiramente mais significativo.

Mesmo assim, são poucos padres, e muitos lugares do Brasil têm grande carência de sacerdotes.

“Se nós olharmos num contexto geral, acredito eu que, infelizmente, tem diminuído o número de vocações”, disse à ACI Digital o presidente da Comissão Nacional de Presbíteros, padre André Luís do Vale.

Para o padre, não é simples diagnosticar as causas dessa diminuição. “A própria conjuntura atual do mundo, da sociedade, tem dificultado”, diz. “Diante de tantas vozes do mundo a pessoa às vezes tem dificuldade em ouvir a voz de Deus, o chamado de Deus. E alguns ouvindo o chamado de Deus, também têm dificuldade em dizer sim, dar esse passo para uma entrega radical a Cristo Nosso Senhor”.

“O papa Bento XVI já disse que o testemunho gera vocações”, destacou o presidente da CNP da CNBB. Assim, é preciso “transmitir esta alegria, dar um bom testemunho da vida presbiteral, da alegria de ser presbítero, da alegria de ser padre”.

O padre cita o Evangelho de Mt 9,38 que diz: "Pedi ao Senhor da messe que envie operários. Porque a messe é grande e os trabalhadores são poucos". Assim, é preciso “primeiramente rezar pelas vocações, pedir ao dono da messe”.

No início de agosto, algumas arquidioceses ordenaram novos sacerdotes. Maringá (PR) ordenou um padre em 2 de agosto, e ordenará mais três a cada sexta-feira, até o dia 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Glória, padroeira da cidade. Em Brasília (DF), o arcebispo, cardeal Paulo Cezar Costa, ordenou oito novos sacerdotes no dia 3.

Em sua homilia, dom Paulo Cezar disse aos neossacerdotes que “o segredo” para a vida presbiteral é se envolver com o povo, como fez Jesus e não ser “indiferente diante de quem sofre ou que se aproxima com fé, porque no coração de Jesus tudo é amor, tudo é misericórdia”.

Novas ordenações no mês de agosto

As arquidioceses de Mariana (MG) e Fortaleza (CE) também terão novas ordenações neste mês vocacional. Em Mariana, acontecerá uma amanhã (10), às 10h, no poliesportivo da escola estadual Dom Óscar de Oliveira, em Pedra Bonita (MG); e mais duas no dia 24 de agosto, às 10h, na basílica São José Operário, em Barbacena (MG). Em Fortaleza, a ordenação de 11 novos padres acontecerá no dia 23 de agosto, às 19h, na catedral.

*Monasa Narjara é jornalista da ACI Digital desde 2022 e foi jornalista na Arquidiocese de Brasília entre 2014 a 2015.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/58723/ha-mais-padres-mas-vocacoes-sacerdotais-no-brasil-tem-diminuido-diz-presidente-da-comissao-nacional-de-presbiteros

Reflexões éticas sobre a mentira na era digital

A era dos Fake News (Cancaonova)

Reflexões éticas sobre a mentira na era digital 

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

A mentira é tão antiga quanto a própria comunicação humana, pois o ato de falar implica dizer a verdade ou mentir. Desde os primórdios da filosofia, a verdade e a mentira foram questões centrais no debate ético e moral. Clássicos como Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e Immanuel Kant abordaram a questão de formas distintas, cada um trazendo contribuições valiosas para a compreensão do fenômeno. Hoje, em meio à revolução digital e ao fenômeno das fake news, essas reflexões ganham nova relevância, mostrando-se atuais e necessárias. 

Santo Agostinho, em suas obras “Contra a Mentira” e “Sobre a Mentira,” é rigoroso ao tratar do tema. Para ele, a mentira é sempre um pecado, pois implica uma falsidade deliberada que corrompe a alma. Agostinho distingue diferentes tipos de mentira, mas mantém que qualquer forma de falsidade é moralmente repreensível. Ele enfatiza a necessidade de aderir à verdade como uma obrigação moral absoluta, independente das consequências. 

Santo Tomás de Aquino, na “Suma Teológica” (Secunda Secundae, Tratado sobre a Justiça, Questão 110), aborda a mentira como um pecado que vai contra a justiça e a caridade. Ele classifica as mentiras em três categorias principais: mentiras prejudiciais, mentiras oficiosas e mentiras jocosas (ou piadas). 1. Mentiras Prejudiciais: são ditas com a intenção de causar dano a outra pessoa, seja em sua reputação, bens ou vida. Santo Tomás destaca que essas mentiras são especialmente graves porque têm como objetivo prejudicar deliberadamente o próximo. Ele também inclui mentiras contra Deus, como aquelas que distorcem a verdade da fé, considerando-as ainda mais severas devido ao seu impacto espiritual. 2. Mentiras Oficiosas: são contadas para obter algum benefício ou evitar um dano, como mentir para proteger alguém ou para evitar uma situação desconfortável. Apesar de não serem contadas com a intenção de prejudicar, Santo Tomás ainda as considera moralmente erradas porque vão contra a obrigação de comunicar a verdade. No entanto, ele reconhece que a culpa dessas mentiras é menor do que a das mentiras prejudiciais. 3. Mentiras Jocosas: são ditas para divertir ou entreter, sem a intenção de enganar de forma maliciosa. Embora possam ser consideradas menos graves, pois geralmente não causam dano direto, Santo Tomás as considera moralmente inadequadas por desviar-se da verdade. 

Enfim, segundo Santo Tomás, a mentira, independentemente de sua intenção ou gravidade, é sempre moralmente errada porque contraria a natureza racional do ser humano, que é orientada para a verdade. Ele argumenta que as palavras são sinais naturais das ideias, e usar esses sinais para transmitir algo contrário ao que se pensa é uma desordem moral. Pois, só pode mentir quem conhece a verdade e, deliberadamente, mente para enganar ou tirar algum proveito dela. Portanto, mesmo as mentiras com boas intenções não escapam da condenação moral, pois comprometem a verdade, que é essencial para a comunicação humana e a confiança social. 

Immanuel Kant, em seu ensaio “Sobre um Pretenso Direito de Mentir por Amor à Humanidade,” é igualmente rigoroso. Para Kant, a veracidade é um dever incondicional, essencial para a base da justiça e dos contratos sociais. Ele argumenta que, mesmo uma mentira dita para evitar um mal maior, como mentir para proteger alguém de um assassino, não é justificada, pois compromete a universalidade do dever moral e a confiança nos contratos sociais. 

Com a revolução digital e o advento da internet, o conceito de verdade foi significativamente alterado. A disseminação de fake news exemplifica o que caracteriza a “pós-verdade,” onde as emoções e crenças pessoais se sobrepõem aos fatos objetivos. As fake news são frequentemente construídas a partir de fragmentos de verdade, manipulados para reforçar determinadas crenças e ideologias, criando narrativas que visam desinformar e desestabilizar o sistema de verdade compartilhado. 

Esse fenômeno apresenta um desafio ético significativo, pois a manipulação da verdade pode levar à desinformação massiva e à polarização social. A cultura digital, ao democratizar a produção e disseminação de informações, deu voz a todos, mas também abriu espaço para a desinformação. A educação para o pensamento crítico e a ética na comunicação são de suma importância para lidar com esses desafios. 

As reflexões clássicas de Agostinho, Tomás de Aquino e Kant continuam sendo fundamentais para a compreensão ética sobre a verdade e a mentira. Em tempos de fake news e pós-verdade, é fundamental revisitar esses ensinamentos e aplicá-los ao contexto contemporâneo, promovendo uma cultura baseada na verdade e na responsabilidade na comunicação. A busca pela verdade deve ser um compromisso contínuo, tanto na esfera privada quanto na pública, garantindo que a informação seja usada para o bem comum e para a construção de uma sociedade mais justa e informada. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

ORIENTE CRISTÃO: O rosário e a oração de Jesus (2)

Lava-pés, mosaico na capela Redemptoris Mater, Cidade do Vaticano. Os mosaicos da capela Redemptoris Mater foram criados pelo Padre MarKo Ivan Rupnik, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Ezio Aletti. | 30Giorni

ORIENTE CRISTÃO. Entrevista com o Cardeal Tomás Spidlík

O rosário e a oração de Jesus

«No Oriente a grande renovação ocorreu entre os séculos XIX e XX com a chamada “oração de Jesus”: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!”. É uma oração semelhante à do rosário latino. E quando falo do rosário, sempre digo que precisamos aprender a recitá-lo assim como a oração de Jesus é recitada no Oriente”. Encontro com um dos maiores especialistas na espiritualidade do Oriente cristão.

por Pierluca Azzaro

Na sua opinião, a recitação do terço, para a qual o Papa chamou todos os fiéis este ano, pode ser considerada um exemplo de oração dos simples?

SpidlÍk: No Oriente a grande renovação ocorreu entre os séculos XIX e XX com a chamada “oração de Jesus”: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!». É uma oração semelhante à do rosário latino. E quando falo do rosário sempre digo que precisamos aprender a recitá-lo assim como a oração de Jesus é recitada no Oriente. Lembro-me de um pastor protestante na Holanda que queria fazer tudo conosco, católicos, menos recitar o rosário. rosário, porque, disse ele, esta é a oração em que se pode distrair-se livremente, já que ninguém consegue acompanhar mentalmente toda a recitação. Ou seja, sempre se quer compreender, compreender com o intelecto; em vez disso, o intelecto pode servir para desenvolver o verdadeiro sentimento do coração.

Parece compreender-se que, para ela, esta mesma redescoberta da “fé dos simples” pode representar o remédio mais eficaz – talvez o único – capaz de contrariar o que ela chama de “a mais grave heresia contra a qual a Igreja teve lutar desde o início de sua existência": o gnosticismo, que - cito seu livro Espiritualidade Russa - "reduz a revelação de Jesus Cristo a simples ideias abstratas".

SpidlÍk: Os antigos concílios escreveram: símbolo de fé. O homem moderno diz: definição de fé. Não é o mesmo. O Credo não é a definição de fé, o Credo é o símbolo da fé; e nesse símbolo devo compreender minha própria fé. Além disso, digo que, num certo sentido, falsificámos o Credo . Não com o Filioque , mas com vírgula.

Com vírgula?

SpidlÍk: Sim, porque cantamos: «Eu acredito em unum Deum» vírgula e depois «Patrem omnipotentem». Naquela época não havia ateus, mas a primeira regra de fé era “Creio em um só Deus Pai”. Acredito que Deus é pai, esta é a profissão de fé; paternidade, e conversamos com o pai. «Acredito no unum Deum» por si só também pode significar outra coisa, porque também posso acreditar que Deus é uma ideia ou uma lei do mundo. Em vez disso, a verdade cristã é “Creio que Deus é pai”. Portanto, a primeira fonte é a oração ao Pai.

Eminência, hoje o diálogo ecuménico parece viver um dos seus momentos de dificuldade...

SpidlÍk: Tenho muitos amigos no Oriente e quando vou à Roménia, por exemplo, ao regressar perguntam-me: “Como é que os ortodoxos o receberam?”. E eu respondo: «Olha, nunca fui visitar os ortodoxos, fui visitar amigos, e os amigos me receberam bem!». No ecumenismo, deve ser dada prioridade aos contatos pessoais em detrimento das discussões. Porque a amizade pessoal é algo verdadeiramente valioso. Veja a nossa chamada “Casa Aletti”. Nestes dez anos tivemos aqui mais de mil pessoas, intelectuais cristãos, tanto católicos como ortodoxos. O estranho é que o mundo não os conhece e por isso fica-se com a impressão de que não existem, que os contatos já não existem, porque não se fala destas coisas. É preciso quebrar essa ilusão dos jornais que só falam de escândalos e resistências. No Aletti Center não há sermão nem aula. Se as pessoas vêm aqui, elas simplesmente vêm para se encontrar. Durante a missa então, na capela, não se pergunta a ninguém se é católico ou ortodoxo, nada se diz, não sabemos, e receber a comunhão é uma circunstância deixada à liberdade de todos. Um russo, por exemplo, queria comungar, mas seu pai espiritual o proibiu; depois continuou a vir, sempre fazendo o sinal da cruz diante da Eucaristia. É a comunhão espiritual, que a autoridade reconhece.

A Igreja Ortodoxa Grega, por si só, é ainda mais dura porque não reconhece oficialmente a validade dos sacramentos latinos. Esta é a teoria. Mas quando o Papa esteve em Constantinopla, deu o cálice ao Patriarca com quem celebrou; e o Patriarca fez um gesto simbólico: colocou a estola episcopal sobre os ombros do Papa. Assim, reconheceu-o como um bispo válido. O que isso significa? Significa que não devemos levar muito a sério o que é dito, nem as chamadas posições oficiais. Em vez disso, devemos descobrir os fiéis verdadeiramente fiéis, e quando os “fiéis-fiéis” se descobrem, tornam-se amigos. O que importa na amizade é a sinceridade. A sinceridade deve ser a base da amizade.

Em que sentido você baseia tudo na sinceridade?

SpidlÍk: Um grande amigo valdense me disse: «Você faria a liturgia eucarística conosco?». Eu respondi: «Não! Parecer-me-ia contra a caridade, visto que a minha fé na Eucaristia é diferente da sua, não sacramental; bem, fazer essa liturgia seria uma falta de sinceridade”. Os amigos devem ser honestos uns com os outros, dizer uns aos outros no que acreditam e no que não acreditam; mas não devemos fazer amigos fictícios, fingindo ser um quando não o somos. Somos amigos quando recitamos os Salmos? Bem, então vamos recitar os Salmos juntos. O ecumenismo requer muita sinceridade. As uniões fictícias são tão sensacionais quanto prejudiciais.

Lendo a sua biografia, chama imediatamente a atenção o grande número de línguas para as quais as suas obras foram traduzidas...

SpidlÍk: Há muitas traduções, é verdade, mas não é minha culpa! O meu último livrinho, um livro sobre oração, foi publicado em árabe, em Bagdad, com a permissão de Saddam Hussein. Naquela época, para traduzi-lo, era necessária autorização do governo, que a concedeu. Depois, com a guerra, o correio parou, mas agora finalmente chegaram os dois primeiros exemplares. Três outros livros foram publicados no Egito, de modo que no total pelo menos quatro dos meus livros foram publicados em árabe. Os manuais são traduzidos para o neo-grego, enquanto os romenos traduzem praticamente tudo. Antes, professores e alunos utilizavam meus livros didáticos em francês, como segunda língua; depois os jovens passaram a falar inglês, mas agora traduzem-no para o romeno. E em breve, em Moscou, serão publicados os Evangelhos de cada dia .

Precisamente sobre Moscovo gostaria de lhe fazer uma pergunta: pela sua biografia também fica claro como o valor do seu trabalho, para além da esfera académica, foi também reconhecido pela esfera política.

SpidlÍk: Mais uma vez digo: precisamos aumentar as relações pessoais. Há alguns anos estive uma hora com o Patriarca e conversamos sobre coisas espirituais, com grande amizade e sem tocar em nenhum assunto político. Se também falamos de política depende de cada indivíduo. Nem mencionamos a possível visita do Papa, deixamos essas coisas de lado. Conversamos sobre espiritualidade e no final o Patriarca me abraçou e me deu uma medalha de ouro.

Na sua opinião, os Estados também podem fazer algo para encorajar a aproximação entre a Igreja Oriental e a Igreja Ocidental?

SpidlÍk: Eu realmente não sei. A questão é complicada e não se torna menos genérica se falamos de nações. A Itália, por exemplo, o que pode fazer? Na verdade, temos uma Itália de direita, uma Itália de esquerda e depois uma Itália central. Mais do que qualquer outra coisa, precisamos ver o que os homens em particular podem fazer.

Falando de personalidades individuais: dentro de alguns dias o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, estará em visita de Estado a Roma. Por ocasião da conclusão das celebrações dos 700 anos da Universidade La Sapienza, a Universidade concedeu-lhe um título honorário , como havia feito para João Paulo II no início das celebrações. Como pessoa que sempre trabalhou pelo diálogo entre as duas Igrejas, que desejos sente pelo ilustre novo médico?

SpidlÍk: Recebi um diploma honorário da Universidade Ortodoxa de Cluj, na Romênia. Bem, o que isso significa? Significa que amigos reconheceram meu trabalho. Então, sem especular muito, o título honorário significa reconhecimento. Graduação honoris causa , em certo sentido, é o monsenhor e cardinalato leigo. O valor do trabalho realizado é reconhecido.

Arquivo 30Dias 11/2003

Fonte: http://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF