Clara (Chiara) d’Offreducci nasceu em Assis, Itália, no
ano de 1193. Sua família era rica e nobre, seu pai um conde. Teve dois
irmãos e duas irmãs, as quais mais tarde, junto com a mãe já viúva, se
tornariam religiosas franciscanas. A família se mudou para Corozano; e
depois para Perugia, fugindo dos tumultos de uma revolução.
Desde jovem Clara era conhecida por sua religiosidade e
recolhimento. Aos 18 anos, ouvindo uma pregação quaresmal de São
Francisco de Assis, ela entendeu intensamente a sua vocação e lhe
pediu ajuda para viver também como ele “segundo o modo do Santo
Evangelho". Mas a família desejava para Clara um casamento
vantajoso, e assim ela fugiu de casa com uma amiga, Felipa de Guelfuccio, para
encontrar com São Francisco na capela de Santa Maria dos Anjos em Porciúncula
(onde nasceram as Ordens de São Francisco – Franciscanos – e de Santa Clara –
Clarissas).
Ali ela fez os primeiros votos da fraternidade menor dos
franciscanos, tendo os cabelos cortados pelo próprio São Francisco como
sinal do voto de pobreza e exigência da vida religiosa, na tarde do domingo de
Ramos de 1211. Monaldo, tio de Clara, foi enviado pela família para
buscá-la, mas diante da sua recusa e da condição indicada pelos seus cabelos
cortados, desistiu.
Clara foi encaminhada para um mosteiro das
beneditinas. Vendeu seus pertences, incluindo o dote de casamento, e
distribuiu o valor aos pobres. São Francisco se tornou seu diretor
espiritual, e em 1212 ambos fundaram a segunda Ordem franciscana, ou
Clarissas, para as mulheres.
Catarina, irmã de Clara, fugiu também para o convento, com
15 anos, e Monaldo foi outra vez enviado para buscar uma sobrinha.
Chegou a amarrá-la com a intenção de a carregar, mas Clara, vendo o sofrimento
da irmã, pediu ao Senhor que interviesse, e Catarina ficou tão pesada
que ninguém conseguia movê-la. Monaldo, novamente, desistiu.
As Clarissas ficaram temporariamente no convento de Santo
Ângelo de Panço, mudando-se definitivamente para o Santuário de São
Damião em Assis. Um breve relato do estilo de vida franciscano ficou registrado
pelo bispo Santiago de Vitry: um grande número de homens e mulheres de
todas as classes sociais, que “deixando tudo por Cristo, escapavam ao mundo.
Chamavam-se frades menores e irmãs menores e são tidos em grande consideração pelo
senhor Papa e pelos cardeais… As mulheres… moram juntas em diferentes abrigos
não distantes das cidades.
Não recebem nada; vivem do trabalho de suas mãos. E
lhes dói e preocupa profundamente que sejam honradas mais do que gostariam, por
clérigos e leigos. Clara preocupou-se especialmente com a radicalidade
da pobreza material associada à confiança plena na Providência divina. Por
este motivo obteve do Papa o Privilegium Paupertatis, pelo qual as clarissas de
São Damião não podiam possuir nenhuma propriedade material. Esta
extraordinária concessão do direito canônico da época foi uma confirmação do
quanto era reconhecida a santidade de vida destas clarissas.
A invasão muçulmana à Europa gerou carências também em
Assis. Houve uma situação em que restava apenas um pão para as 50 irmãs do
convento. Clara mandou a cozinheira dividi-lo em 50 pedaços e confiar em
Deus – e surgiram dezenas de pães que sustentaram a comunidade por vários
dias: “Aquele que multiplica o pão na Eucaristia, o grande mistério
da Fé, por acaso Lhe faltará o poder para abastecer com pão Suas esposas
pobres?”, comentou Clara. Metade dos pães foi enviado aos
frades.
Os Papas Inocêncio III e Inocêncio IV a visitavam, bem
como cardeais e bispos, para lhe pedir conselho.
Numa das visitas do Papa Inocêncio III ao seu convento, este
pediu que ela abençoasse os pães da refeição, o que ela fez traçando
sobre eles o sinal da Cruz mesmo a contragosto, pois pensava que este ato era
um direito do Papa. Imediatamente cada pão ficou marcado com uma Cruz.
O maior milagre de Santa Clara em vida, porém, talvez tenha
sido o da expulsão dos muçulmanos sarracenos que tentaram invadir o
convento. Ela se apresentou diante deles com o Santíssimo Sacramento no
Ostensório, diante do qual eles foram tomados de pânico e fugiram, sem fazer
mal algum.
Já muito doente, e depois da morte de São Francisco, Clara
desejou ir a uma Missa na igreja que recebera o nome do santo, mas sua condição
de saúde a impedia. A celebração então foi como que projetada na parede
da sua cela, de modo a que ela a pudesse acompanhar. O seu relato deste
fato foi confirmado por pessoas presentes à referida Missa, da qual
Clara reproduziu detalhadamente as palavras do sermão e outras ocorrências
durante a cerimônia.
Mesmo acamada, Clara rezava, bordava e costurava, sem
cessar. Faleceu em 11 de agosto de 1253 no convento de São Damião, após
27 anos de doença e 60 de idade. É a primeira e única mulher na Igreja a
escrever uma Regra para uma Ordem religiosa. As Clarissas já se tinham
espalhado em grande número nesta data. Sua canonização foi extraordinariamente
rápida, depois de somente dois anos.
Santa Clara de Assis é a Padroeira da Televisão, por
causa da Missa que lhe foi miraculosamente projetada na parede.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Desde a infância, Clara teve a salutar experiência de fugir
das revoluções deste mundo, para buscar a estabilidade de uma vida fixada em
Deus. Como São Francisco, não o fez senão com esforço evangélico, abandonando a
casa, a família e os bens: “Quem ama pai ou mãe mais do que a Mim não é digno
de Mim. Quem ama filho ou filha mais do que a Mim não é digno de Mim. Quem não
toma sua cruz e não Me segue não é digno de Mim” (Mt 10,37-38). A seriedade com
que assumiu esta decisão, e que a levou ao privilégio de nada possuir… a não
ser Cristo, é admirável e inspiradora. Mas certamente não todos têm vocação
franciscana ou a das clarissas, então, como seguir este exemplo maravilhoso e
verdadeiro? Trata-se de, mesmo possuindo bens, não se apegar a eles. A
capacidade de se desapegar das coisas e dos interesses materiais pode ser
vivida e cultivada por qualquer pessoa, com a graça de Cristo, ainda que isto
seja um esforço constante – e esta perseverança também leva à santidade. Muitos
ou poucos bens, o saber partilhá-los é que tem valor diante de Deus. De nada
adianta ter por exemplo um só par de calçados, se o dono tem a disposição e
intenção de matar um irmão para não os perder… Nada pode ser mais significativo
para a nossa vida espiritual, e se for o caso também para a física, do que
imitar o seu gesto de afugentar o inimigo com a Eucaristia! É uma bela e
prática síntese da vida católica, estar em comunhão com Deus, e nesta vida não
existe outra forma de proximidade maior com Jesus do que no Santíssimo
Sacramento. Missa, Comunhão frequente e Adoração Eucarística habitual são o
centro da vida na Igreja, e nunca serão suficientemente enfatizadas a sua
importância e necessidade vitais. Que a lembrança de Santa Clara diante dos
sarracenos nos torne sempre mais empenhados em buscar o Senhor,
Transubstanciado sob as espécies do pão e do vinho, ao longo da vida, dia a
dia. Deus quer abençoar todas as atividades humanas, incluindo as suas
invenções. Por isso Clara é padroeira da Televisão, e pode-se dizer, por
extensão, de outros veículos de imagem semelhantes. Mas o que oferecemos por
meio deles? As primeiras atividades televisivas no Brasil, que não ocupavam
como hoje 24 horas de transmissão, iniciavam-se às 18h00, hora do Angelus,
justamente com esta oração. Será preciso comentar sobre o conteúdo televisivo
atual? Muito poucas são as emissoras católicas (e nem todas as suas
programações estão isentas de críticas sérias, particularmente a postura de
certos clérigos), e em geral poucos são os programas que não oferecem um conteúdo
com visões morais ambíguas ou frívolas, para dizer o mínimo. A grande maioria
se inspira no mundano (e no diabólico, com maior ou menor disfarce). Ora, que o
mundo ofereça a sua podridão, não é novidade ou espanto; mas que muitas pessoas
que se dizem de fé não tenham discernimento e os assistam, permitindo e
incentivando inclusive que também as crianças o façam, é assustador. Programas
não assistidos não serão mais produzidos. Há muitas atividades que enriquecem a
vida e distraem saudavelmente; este tipo de podridão mundana é um dos “bens”
dos quais é preciso se desapegar, porque absolutamente não há como conciliá-los
com a busca da Verdade e da santidade.
Oração:
Senhor, que projetas para nós a Salvação e não a condenação
infinita, concedei-nos por intercessão de Santa Clara ficarmos inamovíveis para
tudo o que nos quer afastar de Vós, e que o peso da confiança na Vossa
Providência nos leve a entregar sem medo e com tranquilidade todas as nossas
necessidades, de pão material e principalmente do Pão Eucarístico, em Vossas
amorosas, sábias e protetoras Mãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa
Senhora. Amém.