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segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Algo grande e que seja amor (11): Frutos da fidelidade (1)

O Farol (Crédito: Opus Dei)

Algo grande e que seja amor (11): Frutos da fidelidade

A certeza de saber-nos sempre com Deus é uma fonte viva de esperança, da qual brotam mananciais de alegria e paz, que fecundam as nossas vidas e as vidas das pessoas que convivem conosco.

20/08/2019

O livro dos Salmos começa com um canto à fecundidade de quem procura ser fiel a Deus e à sua lei, e não se deixa levar pelo ambiente que os ímpios promovem: “Será como uma árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera” (cf. Sal 1,1-3). Na verdade, trata-se de um ensinamento constante nas Escrituras: “Aquele que é fiel será muito louvado” (Prov. 28,20); “o que semeia justiça receberá uma recompensa certa” (Prov. 11,18). Todas as obras de Deus são fecundas, assim como as vidas das pessoas que respondem ao seu chamado. O Senhor recordou-o aos apóstolos na última ceia: “eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16). A única coisa que Ele nos pede é que permaneçamos unidos a Ele como os ramos à videira, porque “quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto” (Jo 15,5).

Ao longo dos séculos, os santos também experimentaram a generosidade de Deus. Santa Teresa, por exemplo, escreveu: “E não costuma Sua Majestade pagar mal a pousada, quando Lhe dão boa hospedagem”[1]. Ele prometeu àqueles que são fiéis que serão recebidos em seu Reino, com palavras cheias de carinho: “Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!” (Mt 25,21). No entanto, Deus não espera o Céu para dar o prêmio aos seus filhos, nesta vida Ele já os vai introduzindo na alegria divina com muitas bênçãos, com frutos de santidade e virtudes, fazendo com que cada pessoa e os seus talentos tenham o melhor rendimento possível. Ajuda-nos a não prestar muita atenção à nossa fragilidade e a confiarmos cada vez mais no poder de Deus. Além disso, por meio de seus filhos, o Senhor também abençoa as pessoas que estão ao seu redor. Deus se alegra com isso: “nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito fruto” (Jo 15,8).

Nestas páginas, vamos rever alguns frutos que a nossa fidelidade produz, tanto na nossa vida como na dos outros. Queira Deus que esses frutos, e muitos outros que só Ele conhece, nos animem a nunca interromper a ação de graças pelos seus cuidados e pela sua proximidade. Assim, nós também aprenderemos a nos beneficiarmos desse amor cada dia mais.

Um céu dentro de nós

Poucas semanas antes de ir para o Céu, São Josemaria dizia a alguns de seus filhos: “O Senhor quis depositar em nós um tesouro riquíssimo. (…) Em nós habita Deus, Senhor Nosso, com toda a sua grandeza. Em nossos corações há habitualmente um Céu”[2]. O Senhor havia prometido aos apóstolos: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a Ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). Este é o principal dom que Deus nos oferece: a sua amizade e a sua presença em nós.

Deus não espera o Céu para dar o prêmio aos seus filhos, nesta vida Ele já os vai introduzindo na alegria divina com muitas bênçãos

Todos os dias podemos contemplar na oração com olhos novos esta verdade da presença divina em nós, e cultivá-la em nossa memória. Repletos de assombro e agradecimento procuraremos corresponder como bons filhos ao carinho imenso que Deus tem por nós. Porque “não é para ficar no cibório de ouro que Ele desce do céu todos os dias, mas para encontrar um outro céu, infinitamente mais querido que o primeiro, o céu da nossa alma, feito à sua imagem, o templo vivo da adorável Trindade”[3]. Somente com este presente divino podemos sentir-nos infinitamente recompensados e também seguros da alegria que damos a Deus com a nossa fidelidade.

Quando chega o cansaço físico ou moral, quando os abalos e dificuldades aumentam, é hora de lembrar outra vez que, “se Deus mora na nossa alma, tudo o mais, por muito importante que pareça, é acidental, transitório. Em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente”[4]. A certeza de que Deus está comigo, em mim e de que eu estou n’Ele (cfr. Jo, 6,56) é fonte de uma segurança interior e uma esperança impossíveis de explicar humanamente. Esta convicção vai nos tornando cada vez mais simples – como crianças – e nos dá uma visão ampla e confiada, um interior descontraído e alegre. Do fundo da alma brotam então a alegria e a paz, como frutos naturais da fidelidade e da entrega. Esses frutos são tão importantes, têm tanta força evangelizadora que São Josemaria os pedia diariamente ao Senhor na santa Missa, para ele e para todos os seus filhos e filhas[5].

Temos um Céu dentro de nós para levá-lo a todos os lugares: à nossa casa, ao lugar de trabalho, ao descanso, às reuniões com nossos amigos... “Nos nossos dias, em que se nota frequentemente uma forte ausência de paz na vida social, no trabalho, na vida familiar… é cada vez mais necessário que os cristãos sejam, com expressão de São Josemaria, ‘semeadores de paz e de alegria’”[6]. Sabemos por experiência que essa paz e essa alegria não são nossas. Por isso procuramos cultivar a presença de Deus em nossos corações, para que Ele preencha a nossa vida e para que seja Ele que comunique os seus dons aos que nos rodeiam. E a eficácia dessa simples semeadura é certa, ainda que o seu alcance seja imprevisível: “A paz do mundo depende talvez mais das nossas disposições pessoais, habituais e perseverantes, por sorrir, perdoar e não nos darmos importância, do que das grandes negociações entre os Estados, por muito importantes que sejam”[7].

Coração firme e misericordioso

Quando deixamos que a presença de Deus crie raízes e frutifique em nós – de certo modo, a fidelidade é isso – gradualmente adquirimos uma “firmeza interior” com a qual se torna possível ser pacientes e mansos diante das contrariedades, dos imprevistos, das situações desagradáveis, dos nossos próprios limites e dos limites dos outros. São João Maria Vianney dizia que “as nossas falhas são grãos de areia ao lado da grande montanha da misericórdia de Deus”[8]. Essa convicção nos permite reagir de uma forma cada vez mais parecida a como Deus reage às mesmas pessoas e circunstâncias, com mansidão e misericórdia, sem nos preocuparmos quando não respondem às nossas previsões e gostos imediatos. Descobrimos, em suma, que todos os acontecimentos são de alguma forma “veículos da vontade divina e devem ser recebidos com respeito e amor, com alegria e paz”[9]. Desta forma, pouco a pouco, adquirimos uma facilidade maior para rezar, desculpar e perdoar, como o Senhor faz, e se perdermos a paz, logo a recuperamos.

Deus transforma nosso pobre coração em um manso e misericordioso, a medida do seu

Às vezes, pode parecer uma fraqueza essa disposição de cultivar a mansidão e a misericórdia em nossos corações diante das misérias alheias que nos parecem denunciáveis ou diante da malícia de alguns que querem nos fazer mal. Lembremo-nos, no entanto, de como Jesus repreende os discípulos quando eles sugerem enviar um castigo do céu aos samaritanos que não O recebem (cf. Lc 9,55). “O programa do cristão — o programa do bom Samaritano, o programa de Jesus — é ‘um coração que vê’. Este coração vê onde há necessidade de amor, e atua em consequência”[10].

A nossa paciente misericórdia, que não se irrita nem reclama diante da contrariedade, torna-se assim um bálsamo com que Deus cura os contritos do coração, cura as suas feridas (cf. Sal 147,3) e lhes torna mais fácil e mais suportável o caminho de conversão.

Pablo Edo

Tradução: Mônica Diez


[1] Santa Teresa de Jesus, Caminho de perfeição, cap. 34.

[2] Cfr. S. Bernal, Mons. Josemaria Escrivá de Balaguer. Perfil do Fundador do Opus Dei, Quadrante, São Paulo, 1978, p. 420.

[3] Santa Teresa de Lisieux, História de uma alma, cap. 5.

[4] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 92.

[5] Cfr. J. Echevarría, Recordações sobre Mons. Escrivá, São Paulo, Quadrante.

[6] F. Ocáriz, F. Ocáriz, Homilia, 12/05/2017.

[7] Ibidem.

[8] Citado em G. Bagnard, «El Cura de Ars, apóstol de la misericordia», Anuario de Historia de la Iglesia 19 (2010) p. 246.

[9] São Josemaria, Instrucción maio-1935 - 14-IX-1950, n. 48.

[10] Bento XVI, Enc. Deus Caritas est (25/12/2005), n. 31.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/algo-grande-e-que-seja-amor-frutos-da-fidelidade/

Você sabe como se forma uma preciosa pérola no interior de uma ostra?

A preciosa pérola de uma ostra (Crédito: Ed. Cléofas)

Você sabe como se forma uma preciosa pérola no interior de uma ostra?

 Por Prof. Felipe Aquino*

Ela é o produto da dor, resultado da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior da ostra, como um parasita ou um grão de areia. A parte interna da concha de uma ostra contém uma substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de areia penetra, as células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, a linda pérola é formada.

Uma ostra que não foi ferida, de algum modo, não produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.

Todos nós somos feridos de muitas maneiras pelas palavras dos outros; às vezes de ciúme, de ódio, de vingança, de inveja, de calúnia, maledicência… Às vezes nossas ideias são rejeitadas e até menosprezadas e, algumas vezes mal interpretadas.

Não se agite, não revide; não pague o mal com o mal; não, faça como a ostra e produza uma pérola no seu interior, no mesmo lugar da ferida que sangrou. Cubra suas mágoas e as rejeições sofridas com camadas e camadas de amor, paciência, bondade, delicadeza, oração…

“Não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça” (Eclo 2,2-3)

Não adianta ficar blasfemando contra a vida, contra as pessoas e contra Deus; nada resolve e ainda piora o estado de sua alma. É melhor acender um fósforo do que maldizer a escuridão. Uma simples chama de alegria ilumina uma grande escuridão.

Prof. Felipe Aquino

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*Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.

Fonte: https://cleofas.com.br/voce-sabe-como-se-forma-uma-preciosa-perola-no-interior-de-uma-ostra/

Hoje é celebrado o beato Inocêncio XI, papa

Beato Inocêncio XI (ACI Digital)

Hoje é celebrado o beato Inocêncio XI, papa

Por Redação central

12 de agosto de 2024

O beato Inocêncio XI foi o papa número 240 da Igreja, entre 1676 e 1689, e é considerado por alguns como o pontífice mais importante do século XVII.

Nasceu em 16 de maio de 1611, no norte da Itália, em Como. Realizou seus primeiros estudos na mesma cidade, com os jesuítas e, depois, na universidade La Sapienza de Roma e na Universidade da Nápoles, doutorando-se nesta última em direito civil e direito canônico (1639).

Não se tem dados sobre sua vocação e sua ordenação sacerdotal. Em 1645, o papa Inocêncio X o nomeou cardeal diácono de são Cosme e Damião.

Durante seu pontificado, teve vários problemas com cardeais franceses e com o rei Luiz XIV da França, pois não respeitava os direitos da Igreja. Este último convocou em assembleia o clero francês determinando que a Igreja passaria a ser uma instituição submissa ao Estado. Por isso, o pontífice decidiu excomungar o clero.

Inocêncio XI foi um homem asceta, bondoso e generoso com os pobres, lutou fortemente contra o nepotismo do clero, embora esta prática acabaria logo no pontificado de Inocêncio XII, em 1692.

Além disso, reformou a administração da cúria e ordenou as finanças do Vaticano.

Também escreveu sobre a Eucaristia, matéria de moral e de sistemas morais, assim como do sigilo da confissão.

Após uma longa enfermidade, morreu em 12 de agosto de 1689, no Palácio do Quirinal, o que gerou tristeza em todo o povo romano; foi sepultado em São Pedro.

Inocêncio XI foi beatificado por Pio XII em 7 de outubro de 1956. Sua festa é celebrada hoje (12), aniversário de sua morte. 

A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/

O sábado e o Domingo na visão de Ratzinger

Dia do Senhor’(Ap 1,10), o dia no qual Ele (Jesus) entrava entre os seus e os seus iam ao seu encontro." | Vatican News

"Nos três primeiros séculos de perseguição na Igreja primitiva, os cristãos não tinham o direito público do domingo e tal celebração externa não podia ter lugar. Quando Constantino, a partir do século IV, transforma o Cristianismo em religião do Império, encontramos em diversas fontes a celebração dos dois dias."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

No livro "Chi ci aiuta a vivere? Su Dio e l’uomo" ("Quem nos ajuda a viver? Sobre Deus e o homem"), Joseph Ratzinger escreve que aproximadamente no ano 110 d.C. Inácio, bispo de Antioquia, era levado de navio da Síria para Roma para ser devorado pelas feras. Durante esta viagem, com as mãos acorrentadas, escreveu sete cartas às comunidades cristãs que estavam ao longo do seu itinerário. Em uma destas cartas está a frase: «Nós não celebramos mais o sábado, mas vivemos observando o dia do Senhor (o domingo), no qual surgiu também a nossa vida...» (Magn. 9, 1).

Ou seja, os cristãos são formalmente descritos como pessoas que vivem de acordo com o domingo. A observância do domingo determina o seu ritmo de vida, caracteriza a sua íntima forma de vida. O domingo é para eles, por assim dizer, o lugar na trama do tempo onde se chega à própria vida, se experimenta o que a vida realmente significa.

Esta experiência de vida autêntica continua durante toda a semana. Permanece, por assim dizer, o tom fundamental que persiste no ruído da semana e cujo eco nos permite reencontrar sempre a saída, em direção à luz.

Depois de "Domingo, maior do que o Dia do Sábado Judaico", Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "O sábado e o Domingo na visão de Ratzinger":

"Joseph Ratzinger, em seu livro Obras Completas (Volume XI), que aborda sobre a Teologia da Liturgia – O Fundamento Sacramental da Existência Cristã, descreve sobre o sábado e o domingo, tema que estamos aprofundando. Santo Inácio de Antioquia diz que “aquele que da vida nos antigos ordenamentos chegou à novidade, à esperança, não é mais um homem do sábado, mas vive segundo o Dia do Senhor". Ratzinger diz que “o ritmo sabático e a vida segundo o Dia do Senhor se contrapõem, portanto, como dois estilos de vida fundamentalmente diferentes: de uma parte, o ser colocados estavelmente sobre determinados trilhos normativos; de outra, o viver com base no que há de vir, com base na esperança. O teólogo alemão, que se tornou Papa Bento XVI, faz uma pergunta: Como se desenvolveu concretamente da observância do sábado para a celebração do domingo?

E responde: “Podemos considerar, por certo, que, já na época apostólica, o dia da Ressurreição se impôs por si mesmo como dia da Assembleia Cristã: era o ‘Dia do Senhor’(Apc 1,10), o dia no qual Ele(Jesus) entrava entre os seus e os seus iam ao seu encontro. Assembleia em torno do Ressuscitado significa que Ele partia de novo o pão para os seus (cf. Lc 24,30.35). Era um encontro com o Cristo presente, um encaminhar-se em direção a sua vinda final e em tudo isso, ao mesmo tempo, estava a presença da Cruz como a sua verdadeira elevação, como o evento do seu amor que se distribui em dom. O Novo Testamento, como, também, os escritos mais antigos do século II, confirmam muito claramente: o Domingo é o dia do culto dos cristãos”. Ratzinger embasa esses dados em outro teólogo alemão Willy Rordorf, em sua obra “Sabbat e Sonntag in der Alten Kirche, ou seja, o “Sabbat (judaico) e o Domingo na Igreja Antiga”[1].

O grande teólogo Joseph Ratzinger diz que a Ressurreição conecta criação e restauração, início e fim e cita o Hino Cristológico de São Paulo na Carta aos Colossenses. Afirma assim: “Mas o nexo com a temática da criação, que para o Sábado é essencial, era implícito, mesmo de uma forma mudada, na data do primeiro Dia da semana, isto é, o dia no qual teve início a criação: a Ressurreição conecta início e fim, criação e restauração. No grande hino Cristológico da Epístola aos Colossenses, Cristo vem chamado, seja o primogênito da criação (cf. Cl 1,15), seja o primogênito dos mortos (cf. Cl1,18), pelo qual Deus quer reconciliar todos consigo. Aqui encontramos, precisamente, a síntese que estava veladamente presente na data do primeiro dia e que, em seguida, deveria determinar a teologia do Domingo Cristão para o futuro. Nesse sentido, todo o conteúdo teológico do Sábado, embora de modo renovado, podia passar na celebração cristã do Domingo. Antes, a passagem do Sábado para o Domingo reflete, precisamente, a continuidade e a novidade da realidade Cristã”.

Nos três primeiros séculos de perseguição na Igreja primitiva, os cristãos não tinham o direito público do domingo e tal celebração externa não podia ter lugar. Quando Constantino, a partir do século IV, transforma o Cristianismo em religião do Império, encontramos em diversas fontes a celebração dos dois dias.  Ratzinger menciona também as Constituições Apostólicas, aqui já referendadas, citando dois textos interessantes. Um texto diz: “Transcorreis o sábado e o Dia do Senhor na alegria festiva, porque o primeiro, é o memorial da criação, e o outro aquele da Ressurreição”. Nessas Constituições Apostólicas, um pouco mais adiante, se lê: “Eu, Paulo, e eu, Pedro, ordenamos: escravos devem trabalhar cinco dias, no sábado e no domingo devem ter tempo para instrução catequética na igreja. O sábado, de fato, tem o seu fundamento na criação, o Dia do Senhor na Ressurreição”.

A mesma orientação encontramos em São Gregório de Nissa quando diz que esses dois dias tornam-se irmãos. Sobre essa fraternidade dos dois dias, já falávamos que São João Paulo II, na Carta Apostólica Dies Domini, disse que não faltaram, inclusive, setores da cristandade em que o sábado e o domingo foram observados como «dois dias irmãos»”[2]. Gregório de Nissa até faz uma pergunta: “Com qual olho vês o Dia do Senhor, tu que não tiveste em honra o sábado? Ou não sabes que esses dois dias são irmãos?”[3].

Mas conclui Ratzinger, referendando Willy Rordorf, que o dia espiritual pode ser ”colocado em um único dia, e naquele caso, o dia de Jesus Cristo, que é, ao mesmo tempo, o terceiro, o primeiro e o oitavo dia, expressão da novidade cristã, como também da síntese cristã, de todas as realidades, deve ter, necessariamente, a precedência”.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] RATZINGER, Joseph. Obras completas, Volume XI, Teologia da Liturgia – Fundamento Existencial da Vida Cristã, Edições CNBB, 2019, p. 229.
[2] JOÃO PAULO II, Dies Domini, 23.
[3] RATZINGER, Joseph. Obras completas, Volume XI, Teologia da Liturgia – Fundamento Existencial da Vida Cristã, Edições CNBB, 2019, p. 231, nota do rodapé.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 11 de agosto de 2024

Dia dos Pais: Seis pais de família católicos que alcançaram a santidade

Santos católicos pais de família (ACI Digital)

Dia dos Pais: Seis pais de família católicos que alcançaram a santidade

Por Redação central*

11 de agosto de 2024

Na Igreja Católica, houve homens que, em diferentes épocas, deram testemunho de uma verdadeira e santa paternidade. Por ocasião do Dia dos Pais, apresentamos alguns pais de família que alcançaram a santidade:

1. São José

Deus encomendou a são José uma grande responsabilidade e privilégio: ser o pai adotivo de Jesus Cristo e casto esposo da Virgem Maria.

São José era carpinteiro e descendente do rei Davi. Quando foi a Belém com Maria para se registrar no censo, ela deu à luz Jesus em um estábulo e, em seguida, tiveram que fugir para o Egito para evitar que o Menino fosse assassinado por ordem do rei Herodes.

São José educou Cristo e lhe ensinou o ofício de carpinteiro. É conhecido como “Padroeiro da Boa Morte”, porque, segundo a tradição, morreu acompanhado e consolado por Jesus e Maria.

Em um discurso, o papa Francisco destacou que são José soube descansar em Deus na oração, levantar-se com Jesus e Maria e ser uma voz profética em meio ao mundo.

2. São Luís Martin

São Luís Martin foi esposo de santa Zélia Guérin e pai de cinco filhas, entre as quais se destacam santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja, e Leônia, cuja causa de beatificação foi aberta em 2015.

Quando era jovem, Luís quis ser religioso da Congregação Hospitaleira do Grande São Bernardo, mas não foi admitido porque não sabia latim. Aprendeu o ofício de relojoeiro e se estabeleceu em Alençon (França), onde conheceu sua futura esposa.

Luís e Zélia se casaram em 12 de julho de 1858 e tiveram nove filhos, dos quais cinco mulheres sobreviveram. O casal tinha uma intensa vida espiritual e formou as meninas para que fossem boas católicas e cidadãs respeitáveis.

Zélia morreu de câncer em 1877. Luís cuidou de suas filhas e se mudaram para Lisieux. Com o passar dos anos, todas abraçaram a vida religiosa. O santo padecia de uma doença que foi o consumindo até que perdeu suas faculdades mentais. Morreu em 1894.

Em outubro de 2015, Luís e sua esposa Zélia foram o primeiro casal a ser canonizados juntos. Sua festa é celebrada em 12 de julho, dia de seu aniversário de casamento.

3. São Tomás More

São Tomás More nasceu em Londres em 1477 e, em 1505, casou-se com Jane Colt, com que teve um filho e três filhas. Entretanto, sua esposa morreu e ele contraiu um novo matrimônio com Alice Middleton.

São João Paulo II indicou que More foi “um marido e pai afetuoso e fiel, cooperando intimamente na educação religiosa, moral e intelectual dos filhos. A sua casa acolhia genros, noras e netos”.

Sua excelente carreira como advogado o levou ao parlamento inglês e, anos mais tarde, chegou a ocupar postos importantes do governo, depois que seu livro “Utopia” chamou a atenção do rei Henrique VIII.

Foi preso por se opor aos desejos do monarca de repudiar sua esposa para se casar com outra mulher e separa-se da Igreja Católica para formar a Igreja Anglicana.

Sua filha Margarida o visitava na prisão frequentemente e rezavam juntos. Por se manter forme em suas convicções, foi declarado traidor e decapitado em 6 de julho de 1535.

4. Santo Isidro Lavrador

Desde pequeno, Santo Isidro trabalhou lavrando, cultivando e na colheita em campos na Espanha.

Casou-se com uma camponesa que também se tornou santa: Maria da Cabeça. Ambos tiveram um filho que, segundo a tradição, caiu em um poço com uma cesta. Rezaram com fervor e, então, as águas começaram a subir até que o pequeno apareceu ileso.

Aos domingos à tarde, costumavam passear com sua família pelos campos. Depois de ter criado seu filho, santo Isidro e santa Maria da Cabeça decidiram se separar para ter uma vida entregue totalmente a Deus. Ele ficou em Madri e ela partiu para uma ermida.

Santo Isidro passou o resto de sua vida lavrando os campos e rezando. Morreu em 30 de novembro de 1172.

5. São Luís da França

Luís IX nasceu em 1214 e foi coroado rei dos franceses aos doze anos, sob a regência de sua mãe, que costumava lhe dizer: “Filho, prefiro te ver morto a ver-te em desgraça de Deus pelo pecado mortal”.

Em 1234, foi declarado maior de idade e assumiu suas funções de monarca. Casou-se com a virtuosa Margarida de Provença, que lhe ajudaria a alcançar a santidade. Ambos tiveram 11 filhos.

O rei se distinguiu por sua bondade, justiça, caridade e piedade. Educou seus filhos assim como sua mãe fez com ele.

Participou das cruzadas para recuperar os lugares santos e frear as invasões muçulmanas. Na segunda cruzada, ficou doente de disenteria perto de Cartago (norte da África). Morreu em agosto de 1270.

Deixou um “testamento espiritual” ao filho que o sucederia, o futuro Felipe III, no qual deu instruções para ser um governante sábio, justo e santo.

6. Santo Estêvão da Hungria

Santo Estêvão foi rei da Hungria, esposo da beata Gisela da Baviera e pai de santo Américo.

Teve um grande carinho pela Igreja e procurava ser um exemplo de piedade para seus súditos. Costumava se disfarçar para sair à noite para ajudar quem precisava.

Educou eu filho com esmero e lhe deixou escritos vários conselhos sobre as virtudes que um monarca deve cultivar.

Juntos, defenderam o reino do ataque de Conrado II, imperador do Sacro Império Romano Germânico. Entretanto, o jovem faleceu durante uma caça. Ao receber a notícia, Estêvão exclamou: “O Senhor o deu a mim, o Senhor o tirou de mim. Bendito seja Deus”.

O rei nomeou como sucessor seu sobrinho Pedro Orseolo. O santo morreu em 15 de agosto de 1038, dia da solenidade da Assunção da Virgem Maria, de quem foi grande devoto.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/52824/dia-dos-pais:-seis-pais-de-familia-catolicos-que-alcancaram-a-santidade

As crises no caminho da fé

As crises no caminho da fé (Arquidiocese de Passo Fundo)

As crises no caminho da fé 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

A leitura do capítulo 6 do Evangelho de São João (1 Reis 19,4-8, Salmo 33, Efésios 4,30-5,2 e João 6,41-51), que nos acompanha nestes domingos da Liturgia dominical, iniciou meditando sobre a milagrosa multiplicação do cinco pães e dois peixes. O evangelista registra que uma multidão se alimentou. A seguir, Jesus convida a quantos tinha saciado a esforçarem-se em buscar um alimento que permanece para a vida eterna. Quer ajudar a multidão a compreender o significado daquele prodígio que realizou saciando a fome física e depois prepara a multidão para aceitar o segundo anúncio: “Eu sou o pão que desceu do céu”. Comer deste pão significa alimentar-se para a vida eterna.  

A multiplicação do pão para saciar a fome gerou euforia a ponto de quererem proclamar Jesus rei. Mas, o segundo convite “eu sou o pão que desceu do céu” gerou murmurações a respeito de Jesus. No contexto bíblico, murmurar é uma atitude de um povo descrente. A motivação da murmuração é a pretensão satânica de querer impor a Deus a própria lógica humana, de enquadrá-lo nos esquemas construídos pelos humanos. “A incredulidade agora se direciona contra a encarnação do Cristo, contra o escândalo da sua humanidade que contradiz e torna absurda a sua proposta divina de ser “o pão descido do céu”. A visibilidade da carne e da humanidade que deveria ser um instrumento de graça, uma transparência da presença amorosa de Deus no meio dos homens, torna-se para os olhos incrédulos um obstáculo que impede de intuir no “filho de José” o Filho de Deus. O escândalo da encarnação e da cruz, porém, são a força que derrota a sabedoria humano “murmuradora” (Cardeal Gianfranco Ravasi).  

O Livro dos Reis medita a crise vivida por Elias. Ele começa a sua missão de profeta de forma triunfal, segundo a compreensão humana, e pensa que isto converterá todo o povo para Deus. Mas isto não se confirma e passa a ser perseguido pela rainha. Foge para o deserto e pede a Deus: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais”. Esta fuga para o deserto torna-se uma peregrinação para o início do povo de Deus. Alimentado duas vezes pelo anjo, lhe é dito: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”. Coloca-se quarenta dias pelo caminho até chegar ao monte Horeb, também conhecido por Monte Sinai, onde Deus, por mediação de Moisés, estabeleceu aliança com o Povo através dos dez mandamentos. Elias alimentado com o pão, a água e a Palavra de Deus renasce como profeta, no mesmo lugar onde nasceu o povo de Deus. 

A Carta aos Efésios convida “não contristeis o Espírito Santo”, isto é, não tornar muito triste o Espírito Santo pela incredulidade e o pecado. “Toda amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias, tudo isto deve desaparecer no meio de vós, como toda espécie de maldade”.  A vida divina oferecida pelo Espírito Santo, o pão descido do céu e a Palavra de Deus são o fundamento da ética cristã. “Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor”.  

Somos peregrinos no mundo rumo a Deus. Uma peregrinação na qual estamos sujeitos a crises inesperadas, também no âmbito da fé. Porém a divina providência oferece “o pão vivo descido do céu” para não desanimarmos. A exortação a Elias vem dirigida a nós: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa: verdadeira fé e oração abrem a mente e o coração, não os fecham

++ O Papa, ataques e assassinatos seletivos não são uma solução ++ (ANSA)

Fechar-se na fortaleza impenetrável das convicções e esquemas rígidos, realizando práticas religiosas que apenas servem para confirmar o que já se pensa, impede um diálogo sincero, uma aproximação entre irmãos e de encontrar verdadeiramente o Senhor", foi o que disse em síntese o Papa Francisco em sua alocução antes de rezar o Angelus neste XIX Domingo do Tempo Comum.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Silenciar e colocar-se à escuta de Deus, acolhendo a sua voz para além dos nossos esquemas e superando os medos com a sua ajuda.

Antes de rezar o Angelus com os peregrinos reunidos na Praça São Pedro sob um calor de 36°C, o Papa comentou o Evangelho de João proposto pela liturgia do XIX Domingo do Tempo Comum, que fala da reação dos judeus à afirmação de Jesus: “Desci do céu”, e "se escandalizam"!

Estar atentos aos preconceitos e à presunção

Eles se perguntam como é possível que um filho de um carpinteiro, cuja mãe e parentes são pessoas comuns, conhecidas, normais, como tantos outros, poderia ter "descido do céu". Em outras palavras, de "como Deus poderia se manifestar de forma tão comum?". E Francisco explica:

Eles estão bloqueados na própria fé, pelo preconceito, bloqueados pelo preconceito em relação às suas origens humildes e também bloqueados pela presunção, portanto, de não terem nada a aprender d’Ele. Os preconceitos e a presunção, quanto mal nos fazem! Impedem um diálogo sincero, uma aproximação entre irmãos. Estejamos atentos aos preconceitos e à presunção. Eles têm seus próprios esquemas rígidos e não há espaço em seus corações para o que não tem a ver com eles, para o que não conseguem catalogar e arquivar nas estantes empoeiradas de suas seguranças.

O fechamento do coração

No entanto - observou o Papa - "são pessoas que observam a lei, dão esmolas, respeitam os jejuns e os momentos de oração". E mesmo Cristo tendo realizado vários milagres, isso "não os ajuda a reconhecer n’Ele o Messias". Por quê?

Porque realizam as suas práticas religiosas não tanto para ouvir o Senhor, mas para encontrar nelas a confirmação do que pensam. São fechados à Palavra do Senhor e buscam uma confirmação para os próprios pensamentos. Isto é demonstrado pelo fato de sequer se preocuparem em pedir uma explicação a Jesus: limitam-se a murmurar entre si a respeito dele, como que para se tranquilizarem, uns aos outros, sobre aquilo de que estão convencidos, e se fecham, são fechados como que em uma fortaleza impenetrável. E assim não conseguem acreditar. O fechamento do coração, quanto mal faz, quanto mal faz!

A verdadeira fé e oração, quando verdadeiras, abrem a mente e o coração

E isso - observou o Papa - pode acontecer também a nós, na nossa vida de fé e na nossa oração:

Pode acontecer-nos, isto é, que em vez de ouvirmos verdadeiramente o que o Senhor tem para nos dizer, nós buscamos d’Ele e dos outros somente uma confirmação daquilo que pensamos, uma confirmação das nossas convicções, nossos juízos, que são pré-conceitos. Mas este modo de nos dirigirmos a Deus não nos ajuda a encontrar Deus verdadeiramente, nem a abrir-nos ao dom da sua luz e da sua graça, para crescer no bem, para fazer a sua vontade e para superar os fechamentos e as dificuldades.

“A fé e oração, quando são verdadeiras, abrem a mente e o coração, não os fecham. Quando encontras uma pessoa que na mente, na oração, são fechadas, essa fé e essa oração não são verdadeiras”

Então, o convite do Santo Padre a nos perguntarmos:

Na minha vida de fé, sou capaz de realmente fazer silêncio dentro de mim e de me colocar na escuta de Deus? Estou disposto a acolher a sua voz para além dos meus esquemas e superar também, com a sua ajuda, os meus medos?

Que Maria - disse ao concluir - nos ajude a ouvir com fé a voz do Senhor e a fazer com coragem a sua vontade.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O que torna a Igreja sempre jovem (2)

Jesus Ressuscitado com Tomé e os outros apóstolos, mosaico, Basílica de Sant'Apollinare Nuovo, Ravenna | 30Giorni

O que torna a Igreja sempre jovem

Um diálogo com o Cardeal Ersilio Tonini: «As orações matinais, das quais as nossas mães tinham inveja, creio que foram a salvação da Igreja. Temos que recuperá-los. Se nós, bispos, lançássemos este programa, em vez de grandes reuniões..."

por Lorenzo Cappelletti e Giovanni Cubeddu

A Igreja deve ser capaz de ser atraente...

TONINI: Está claro. Se ele não sabe atrair, o que está fazendo? Porque a Igreja é amor e o amor é atração. Repetimos coisas “em nome de Cristo Senhor”, mas até que ponto eu e Cristo Senhor, os dois És, o Eu e o Tu, nos amamos pessoalmente? Cristo não veio para fazer homens honestos, Sócrates foi suficiente. Para admirar o homem, para falar bem de sua espiritualidade, bastaram Sócrates e os grandes pensadores. É diferente. Cristo Jesus é uma amostra de Deus, esse é o argumento. E a vida que Deus viveu no corpo do homem Cristo quer viver dentro de nós. É ele quem quer trabalhar dentro de nós e por isso me pede para me entregar a ele e permitir que ele inspire e guie. Quando li Simone Weil que num determinado momento grita: «Por que é bom que eu esteja aí e não apenas Deus? », senti uma reação negativa, como um choque. E às vezes repito para mim mesmo: “Por que é bom que eu esteja aí e não apenas Deus?”. Evidentemente porque tenho uma tarefa, a tarefa de amar, que é esta: permitir que Cristo ame os outros em mim. Depois disso fica claro que você vê as coisas de forma diferente, você as vê com os olhos de Cristo.

A questão é aquele amor pessoal por Jesus que o próprio Jesus gera, de acordo com a experiência de muitos místicos. A pequena Teresa de Lisieux dizia: «Quando sou caridosa, só Jesus age em mim»...

TONINI: Devemos distinguir a mística explosiva daquela outra mística oculta que abunda na Igreja. Como quando minha mãe me disse quando eu tinha oito anos: “Prepare-se, menino, porque o Senhor tem coisas boas para você fazer”. Ou quando, aos quatorze ou quinze anos, ao me ver com uma revista missionária na mão, minha tia me disse: «Você não quer ser missionário? Você sabe que seus pais são pobres e estão endividados. O que eles farão sem você?"; e a minha mãe, no dia seguinte, conta-me que a irmã, a tia, lhe tinha contado tudo, e diz: «Filho, não lhe dês ouvidos. Somos pobres, mas o que o Senhor quer de vocês nós também queremos”. Ele havia entendido tudo. Como quando, poucos dias antes de sua morte, eu lhe disse - queria enganá-la: "Mãe, volte para casa daqui a alguns dias e daqui a cinco anos, quando eu for padre, você virá comigo", e ela responde: “Não vou chegar lá, sabe, não sou digna disso”. E então, na noite anterior à sua morte, ele disse ao meu pai: “Vamos rezar o Rosário, porque amanhã à noite eu morro”. Aconteceu, diante dos seus cinco filhos, com total serenidade. Olha Você aqui.

Tonini aos três anos nos braços da mãe | 30Giorni

Mais que místico…

TONINI: Mais que místico! Quantas pessoas simples, que talvez nem saibam o que é, veem no confessionário (aprendi muito no confessionário) que a graça de Deus funciona, o prazer de Deus funciona. A graça é esse prazer através do qual Deus então se torna saboroso, se torna saboroso. um bem infinito. Então você olha as coisas como Ele as olha, os gostos de Deus chegam até você, e então você se sente o mais fraco e o mais pobre como se fosse seu.

Quem não gostaria de ter um coração maior?

TONINI: Talvez não percebamos que no primeiro artigo do Credo (“Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra”) recordamos o nascimento do mundo e o nosso próprio nascimento. As orações matinais, das quais as nossas mães tinham inveja, creio que foram a salvação da Igreja. Devemos recuperar, relançar este programa (se nós, bispos, lançássemos este programa, em vez de grandes reuniões...): orações matinais. O que significa acordar e renascer como da primeira vez. Acordo e tenho vontade de gritar: estou aqui, vejo, ouço! Ainda não me acostumei a estar lá. Foi minha mãe quem me ensinou a surpreender. Às vezes, quando calço as meias, olho para as minhas veias e digo: “Olha só isso!” Enquanto lavo a cabeça, depois de saber que existem 40 bilhões de neurônios no cérebro humano, digo: “Tem 40 bilhões de neurônios aqui dentro!”. Que lindas são essas páginas da obra de Péguy, Véronique! Gostaria de dar a conhecer essas primeiras páginas ao mundo inteiro. A aparência do nascimento. Sempre digo aos pais: “É verdade ou não que quando você teve um filho, nascido de você, mas não feito por você, foi o maior espetáculo do mundo?” Perdemos o apreço, a surpresa de estar ali.

Tonini como jovem seminarista | 30Giorni

Uma última coisa: a esperança, o que Péguy chama de virtude infantil. Virtude infantil porque a criança é esperança, a criança confia completamente. No momento em que confiamos totalmente em Deus, como uma criança, então temos a maior honra imaginável e é o que mais toca o coração de Deus. O filho pródigo, quando retorna, tem esperança misturada com medo, que o pai imediatamente nega, porque faz. ele entenda que tê-lo de volta é um ganho, não uma perda. Acreditar neste amor de Deus que me considera a sua glória... Por outro lado não é poesia, é Jesus quem o diz no capítulo XVII do Evangelho de João. Teilhard de Chardin disse que cada vez que você toma a palavra do Evangelho em suas mãos, você deve fazer duas coisas. Primeiro, lembre-se que estes são fatos verdadeiros. Em segundo lugar, que você está em jogo. Quando consagro durante a Missa digo: “Este é o meu corpo”, e faço-o mecanicamente, sem perceber que estou envolvido, sou... porteiro, nada mais.
Outra questão delicada, que deve ser bem exposta para não gerar polêmica, é o lugar da hierarquia. Receio que, por ser um cardeal, as pessoas pensem que sou bem sucedido. Temo-o imensamente porque, em vez disso, estou aqui para testemunhar. O Senhor concedeu-me uma grande graça, mas se sou bispo não é que tenha conseguido mais que os outros. Estou mais sobrecarregado de responsabilidades, isso é certo. Mesmo que, neste momento, devido ao peso crescente dos meios de comunicação de massa, ser cardeal não valha nada se se disser banalidades. Uma empregada poderia dizer coisas que tocam mais a alma do que um cardeal. Mas, além disso, o carreirismo é muito perigoso na atitude do pastor, do bispo e muito mais. E por onde entra, destrói tudo. Santo Agostinho diz que “quem procura na Igreja algo que não seja Deus é mercenário”. Somos testemunhas. Pelo contrário, devemos sempre cuidar para que haja a capacidade de amar, o desejo de dizer de cada pessoa que encontro: «Este é um filho de Deus, o que posso fazer por ele?».

Arquivo 30Dias 11 – 2004

Fonte: http://www.30giorni.it/

Reflexão para o XIX Domingo do Tempo Comum (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Alimentados pelo Senhor, sempre transmitiremos segurança, paz, credibilidade e estaremos testemunhando o poder de Deus, que é soberano a qualquer mal.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

A primeira leitura de hoje possui uma frase que, certamente, já foi dita muitas vezes por nós, em situações de extremo cansaço e desânimo: “Basta, não aguento mais!” O Profeta Elias amarga dura perseguição e agora, extremamente cansado por causa das discussões e disputas quer entregar a luta, sair de cena.  Tudo isso porque desafiou a rainha Jezabel, que queria destruir o culto e a fé em Deus.

Nessa situação, o Senhor possibilitou a ele a sombra de uma árvore, sob a qual encontrou comida e sob a qual fez uma sesta, descansando e restaurando suas energias. Ao acordar, Deus lhe diz que sua missão não terminou e que possui longa tarefa pela frente. Elias, confiante, seguiu em frente e, conduzido por Deus, chegou ao monte Horeb, o Sinai.

Deus não abandonou seu profeta, mas o alimentou com um alimento misterioso que o fortificou por toda essa caminhada e o fez chegar ao lugar do encontro.

Também nós temos, na vida, uma missão. Contudo as contrariedades do dia a dia, as surpresas negativas e outros dissabores poderão nos tirar a alegria de viver, mas Deus vela por nós e deseja que completemos nossa tarefa de modo integral. Para isso ele nos dá também um alimento misterioso, divino.

Vejamos o Santo Evangelho deste domingo. Nele Jesus se nos apresenta como o verdadeiro maná, o verdadeiro que desceu do céu e fala de nossa necessidade de comê-lo. Não podemos nos antecipar e ver aí, a dimensão eucarística. Neste momento Jesus apenas está se referindo à necessidade de assimilarmos sua pessoa. Em sua globalidade, em aceitá-lo como dom do Pai.      Colocar em prática o Evangelho é comer a Palavra vinda do Céu.

A segunda leitura, um trecho da Carta de Paulo aos Efésios, nos fala de afastarmos de nossa vida tudo que for “amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias” e, ao mesmo tempo, de incluirmos nela a compaixão, o perdão recíproco, a imitação de Deus. Ora, isso só será possível se estivermos alimentados pela Palavra de Deus, assimilada em um encontro com Ele, na oração, na reflexão, na meditação. Aí teremos força para enfrentar todas as contrariedades que a vida nos propor.

Alimentados pelo Senhor, sempre transmitiremos segurança, paz, credibilidade e estaremos testemunhando o poder de Deus, que é soberano a qualquer mal.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Clara

Santa Clara (A12)
11 de agosto
País: Itália
Santa Clara

Clara (Chiara) d’Offreducci nasceu em Assis, Itália, no ano de 1193. Sua família era rica e nobre, seu pai um conde. Teve dois irmãos e duas irmãs, as quais mais tarde, junto com a mãe já viúva, se tornariam religiosas franciscanas. A família se mudou para Corozano; e depois para Perugia, fugindo dos tumultos de uma revolução.

Desde jovem Clara era conhecida por sua religiosidade e recolhimento. Aos 18 anos, ouvindo uma pregação quaresmal de São Francisco de Assis, ela entendeu intensamente a sua vocação e lhe pediu ajuda para viver também como ele “segundo o modo do Santo Evangelho". Mas a família desejava para Clara um casamento vantajoso, e assim ela fugiu de casa com uma amiga, Felipa de Guelfuccio, para encontrar com São Francisco na capela de Santa Maria dos Anjos em Porciúncula (onde nasceram as Ordens de São Francisco – Franciscanos – e de Santa Clara – Clarissas).

Ali ela fez os primeiros votos da fraternidade menor dos franciscanos, tendo os cabelos cortados pelo próprio São Francisco como sinal do voto de pobreza e exigência da vida religiosa, na tarde do domingo de Ramos de 1211. Monaldo, tio de Clara, foi enviado pela família para buscá-la, mas diante da sua recusa e da condição indicada pelos seus cabelos cortados, desistiu.

Clara foi encaminhada para um mosteiro das beneditinas. Vendeu seus pertences, incluindo o dote de casamento, e distribuiu o valor aos pobres. São Francisco se tornou seu diretor espiritual, e em 1212 ambos fundaram a segunda Ordem franciscana, ou Clarissas, para as mulheres.

Catarina, irmã de Clara, fugiu também para o convento, com 15 anos, e Monaldo foi outra vez enviado para buscar uma sobrinha. Chegou a amarrá-la com a intenção de a carregar, mas Clara, vendo o sofrimento da irmã, pediu ao Senhor que interviesse, e Catarina ficou tão pesada que ninguém conseguia movê-la. Monaldo, novamente, desistiu.

As Clarissas ficaram temporariamente no convento de Santo Ângelo de Panço, mudando-se definitivamente para o Santuário de São Damião em Assis. Um breve relato do estilo de vida franciscano ficou registrado pelo bispo Santiago de Vitry: um grande número de homens e mulheres de todas as classes sociais, que “deixando tudo por Cristo, escapavam ao mundo. Chamavam-se frades menores e irmãs menores e são tidos em grande consideração pelo senhor Papa e pelos cardeais… As mulheres… moram juntas em diferentes abrigos não distantes das cidades.

Não recebem nada; vivem do trabalho de suas mãos. E lhes dói e preocupa profundamente que sejam honradas mais do que gostariam, por clérigos e leigos. Clara preocupou-se especialmente com a radicalidade da pobreza material associada à confiança plena na Providência divina. Por este motivo obteve do Papa o Privilegium Paupertatis, pelo qual as clarissas de São Damião não podiam possuir nenhuma propriedade material. Esta extraordinária concessão do direito canônico da época foi uma confirmação do quanto era reconhecida a santidade de vida destas clarissas.

A invasão muçulmana à Europa gerou carências também em Assis. Houve uma situação em que restava apenas um pão para as 50 irmãs do convento. Clara mandou a cozinheira dividi-lo em 50 pedaços e confiar em Deus – e surgiram dezenas de pães que sustentaram a comunidade por vários dias: “Aquele que multiplica o pão na Eucaristia, o grande mistério da Fé, por acaso Lhe faltará o poder para abastecer com pão Suas esposas pobres?”, comentou Clara. Metade dos pães foi enviado aos frades.

Os Papas Inocêncio III e Inocêncio IV a visitavam, bem como cardeais e bispos, para lhe pedir conselho.

Numa das visitas do Papa Inocêncio III ao seu convento, este pediu que ela abençoasse os pães da refeição, o que ela fez traçando sobre eles o sinal da Cruz mesmo a contragosto, pois pensava que este ato era um direito do Papa. Imediatamente cada pão ficou marcado com uma Cruz.

O maior milagre de Santa Clara em vida, porém, talvez tenha sido o da expulsão dos muçulmanos sarracenos que tentaram invadir o convento. Ela se apresentou diante deles com o Santíssimo Sacramento no Ostensório, diante do qual eles foram tomados de pânico e fugiram, sem fazer mal algum.

Já muito doente, e depois da morte de São Francisco, Clara desejou ir a uma Missa na igreja que recebera o nome do santo, mas sua condição de saúde a impedia. A celebração então foi como que projetada na parede da sua cela, de modo a que ela a pudesse acompanhar. O seu relato deste fato foi confirmado por pessoas presentes à referida Missa, da qual Clara reproduziu detalhadamente as palavras do sermão e outras ocorrências durante a cerimônia.

Mesmo acamada, Clara rezava, bordava e costurava, sem cessar. Faleceu em 11 de agosto de 1253 no convento de São Damião, após 27 anos de doença e 60 de idade. É a primeira e única mulher na Igreja a escrever uma Regra para uma Ordem religiosa. As Clarissas já se tinham espalhado em grande número nesta data. Sua canonização foi extraordinariamente rápida, depois de somente dois anos.

 Santa Clara de Assis é a Padroeira da Televisão, por causa da Missa que lhe foi miraculosamente projetada na parede.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Desde a infância, Clara teve a salutar experiência de fugir das revoluções deste mundo, para buscar a estabilidade de uma vida fixada em Deus. Como São Francisco, não o fez senão com esforço evangélico, abandonando a casa, a família e os bens: “Quem ama pai ou mãe mais do que a Mim não é digno de Mim. Quem ama filho ou filha mais do que a Mim não é digno de Mim. Quem não toma sua cruz e não Me segue não é digno de Mim” (Mt 10,37-38). A seriedade com que assumiu esta decisão, e que a levou ao privilégio de nada possuir… a não ser Cristo, é admirável e inspiradora. Mas certamente não todos têm vocação franciscana ou a das clarissas, então, como seguir este exemplo maravilhoso e verdadeiro? Trata-se de, mesmo possuindo bens, não se apegar a eles. A capacidade de se desapegar das coisas e dos interesses materiais pode ser vivida e cultivada por qualquer pessoa, com a graça de Cristo, ainda que isto seja um esforço constante – e esta perseverança também leva à santidade. Muitos ou poucos bens, o saber partilhá-los é que tem valor diante de Deus. De nada adianta ter por exemplo um só par de calçados, se o dono tem a disposição e intenção de matar um irmão para não os perder… Nada pode ser mais significativo para a nossa vida espiritual, e se for o caso também para a física, do que imitar o seu gesto de afugentar o inimigo com a Eucaristia! É uma bela e prática síntese da vida católica, estar em comunhão com Deus, e nesta vida não existe outra forma de proximidade maior com Jesus do que no Santíssimo Sacramento. Missa, Comunhão frequente e Adoração Eucarística habitual são o centro da vida na Igreja, e nunca serão suficientemente enfatizadas a sua importância e necessidade vitais. Que a lembrança de Santa Clara diante dos sarracenos nos torne sempre mais empenhados em buscar o Senhor, Transubstanciado sob as espécies do pão e do vinho, ao longo da vida, dia a dia. Deus quer abençoar todas as atividades humanas, incluindo as suas invenções. Por isso Clara é padroeira da Televisão, e pode-se dizer, por extensão, de outros veículos de imagem semelhantes. Mas o que oferecemos por meio deles? As primeiras atividades televisivas no Brasil, que não ocupavam como hoje 24 horas de transmissão, iniciavam-se às 18h00, hora do Angelus, justamente com esta oração. Será preciso comentar sobre o conteúdo televisivo atual? Muito poucas são as emissoras católicas (e nem todas as suas programações estão isentas de críticas sérias, particularmente a postura de certos clérigos), e em geral poucos são os programas que não oferecem um conteúdo com visões morais ambíguas ou frívolas, para dizer o mínimo. A grande maioria se inspira no mundano (e no diabólico, com maior ou menor disfarce). Ora, que o mundo ofereça a sua podridão, não é novidade ou espanto; mas que muitas pessoas que se dizem de fé não tenham discernimento e os assistam, permitindo e incentivando inclusive que também as crianças o façam, é assustador. Programas não assistidos não serão mais produzidos. Há muitas atividades que enriquecem a vida e distraem saudavelmente; este tipo de podridão mundana é um dos “bens” dos quais é preciso se desapegar, porque absolutamente não há como conciliá-los com a busca da Verdade e da santidade.

Oração:

Senhor, que projetas para nós a Salvação e não a condenação infinita, concedei-nos por intercessão de Santa Clara ficarmos inamovíveis para tudo o que nos quer afastar de Vós, e que o peso da confiança na Vossa Providência nos leve a entregar sem medo e com tranquilidade todas as nossas necessidades, de pão material e principalmente do Pão Eucarístico, em Vossas amorosas, sábias e protetoras Mãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF