Flávia Júlia Helena nasceu em meados do século III na
Bitínia, província do Império Romano no Golfo da Nicomédia (hoje,
Turquia), provavelmente na cidade de Drepamin (posteriormente
Helenópolis, em sua honra). Era de família plebeia e pagã, trabalhando
como estabulária, ou seja, a estalajadeira encarregada dos estábulos.
Casou-se com Constâncio Cloro, um tribuno militar, que a levou para Dardânia,
nos Bálcãs.
Em 272 nasceu Constantino, filho do casal, em Naissus, atual
Sérvia. Constâncio participou como corregente, junto com Galério (“Césares”),
da Tetrarquia de Dioclesiano e Maximiano (“Augustos”), que governou Roma neste
período, mas para isso teve que se divorciar de Helena e casar-se com
Teodora, enteada de Maximiano, pois a lei romana não reconhecia o casamento
entre nobres e plebeus. Helena permaneceu humildemente em segundo
plano, fiel ao esposo, e pôde ter contato com e influência sobre o
filho, que fazia carreira no exército e foi elevado à corte de Diocleciano.
No ano 312, após vária mudanças políticas na Tetrarquia,
Constantino derrotou Maximiano II (Magêncio, Maxêncio, ou Maximino,
filho do tetrarca Maximiano), na batalha do rio Tibre em Roma, tornando-se
imperador único e absoluto. Neste confronto, estava em desvantagem,
mas teve antes a visão de uma cruz luminosa no céu, com as palavras “Com este
sinal vencerás". Mandou pintar a cruz nas suas bandeiras, e milagrosamente
venceu. Constantino, como Helena, era contrário à perseguição aos
cristãos; após este acontecimento, o imperador passou a apoiá-los, e no ano
seguinte, com o famoso Edito de Milão de 313, concedeu a liberdade
religiosa aos católicos, encerrando a perseguição em todo o império. Helena
se fez logo batizar, mas Constantino, apesar de ser considerado o primeiro
imperador romano cristão, só quis ser batizado próximo da sua morte, em 337.
Helena, mãe do imperador Constantino Magno, recebeu dele
primeiro o título de “Mulher Nobilíssima”, e depois o de “Augusta”, honraria
maior do império. Passou a viver na corte e se dedicar à expansão do
Cristianismo, promovendo a evangelização, construindo igrejas e mosteiros,
e patrocinando obras assistenciais para pobres e enfermos, bem como intercedeu
pela libertação de presos e o retorno de exilados. Ela não se deixou
contaminar pelos faustos imperiais, e consta que participava das celebrações
religiosas modestamente vestida, confundindo-se com a população, e que
servia pessoalmente a pessoas com fome, as quais convidava para as refeições.
Já idosa, com quase 80 anos, fez uma peregrinação à Terra
Santa, um grande desejo seu. Lá hospedou-se num convento, onde participava
piedosamente das orações, e mandou construir vários mosteiros. Empenhou-se
particularmente em descobrir as relíquias da Santa Cruz de Cristo, auxiliando
nas escavações que fazia o bispo Macário. Por fim, no Gólgota foram encontradas
três cruzes, sob um templo pagão que ela mandara derrubar.
Um milagre apontou qual delas era a de Cristo: segundo uma
versão, um morto ressuscitou ao ser colocado sobre ela, e não sobre as outras
duas; outra versão relata a cura de uma mulher agonizante, pelo mesmo
processo. Os três cravos que prenderam Jesus ao Madeiro foram levadas para
Constantino, e uma delas foi encastoada na Coroa de Ferro, hoje na catedral
de Monza, para lembrar a submissão que devem ter todos os governantes ao Rei
dos reis. As Santas Relíquias são conservadas na basílica de Santa Cruz
de Jerusalém.
A descoberta de Santa Helena foi registrada pelos escritores
Sulpicius Severus e Rufinus no século IV. Mas ela procurou ainda o
local do nascimento de Jesus e o local no Monte das Oliveiras onde o Cristo
falou aos Apóstolos antes da Ascensão. Em cada um dos lugares construiu uma
igreja, respectivamente a Basílica da Natividade em Belém e a da Ascensão no
Monte das Oliveiras, a qual recebeu mais tarde o seu nome.
Voltando a Roma, já pressentindo a morte, Helena faleceu
em 329 ou 330, com 80 anos, assistida pelo imperador seu filho.
Há uma ilha isolada no sul do Oceano Atlântico chamada
Santa Helena (onde foi exilado, por ter somente costas rochosas sem
praias, o imperador francês Napoleão Bonaparte, lá falecido em 1821),
descoberta em 1502 pelo navegador galego João da Nova no dia 18 de agosto,
festa da santa, e que por isso recebeu o seu nome.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Mãe plebeia de um Imperador, Santa Helena tem, sob este
aspecto, alguma semelhança com Nossa Senhora… e nós também, pela Eucaristia,
nos tornamos de barro sem valor em portadores da nobreza divina, unidos mesmo
fisicamente a Deus num mesmo organismo, como na mãe que gesta um filho. Como
esposa fiel mesmo na humilhação, e mãe dedicada ao filho, deu exemplo de
verdadeiro amor abnegado. Tão logo encontrou a Cristo, fez-se batizar, e, como
“Augusta”, não se deixou corromper pelos chamarizes da vida frívola e fácil,
mas usou sua influência e posses para o bem dos mais carentes, as necessidades
da Igreja e a evangelização. Mesmo idosa, dispôs-se a mais se aproximar de Deus
na valorização das Suas Santas Relíquias, as quais são vínculos físicos,
encarnados, com o Sagrado, o Transcendental. As relíquias da Santa Igreja e os
seus lugares santos evidenciam que o Catolicismo não é um mito, produto da
imaginação, mas que Deus de fato Se fez homem num tempo e local históricos; que
pisou um solo sobre o qual hoje também podemos andar, tocou paredes e objetos
que hoje também podemos tocar; a Encarnação deu à matéria uma nova e mais alta
dignidade, e ao corpo humano, que não é um mero “recipiente” da alma, mas sim
parte do único tipo de ser formado pela união de corpo material e alma imortal,
imagem e semelhança de Deus, o vínculo necessário a Jesus para com Ele
ressuscitar. As relíquias dos santos testemunham o santo real, não apenas uma
memória, colocando-nos em contato factual com ele e sua santidade. São de
alguma forma sacramentais, pelos quais, de acordo com a nossa Fé, podem se
realizar milagres. E nos lembram que nós igualmente devemos nos santificar em
corpo e alma, ambos capazes da plena união com Deus, o que é, de fato, o seu
objetivo nesta e para a outra vida, futura e infinita. Contudo, se as relíquias
sagradas são sacramentais aos quais devemos respeito e veneração, e dar crédito
de fé, quanto mais nos devemos aproximar e buscar, com amor, tremor e santo
temor, do Sacramento vivo da Eucaristia, Jesus presente em Corpo, Sangue, Alma
e Divindade, não para um simples toque, mas para verdadeiramente vivermos Nele
e com Ele!!
Oração:
Senhor, que pelos cravos da Cruz de Vosso Filho pregastes
ferreamente nos reinados deste mundo a verdadeira nobreza, do Espírito,
concedei-nos pela intercessão de Santa Helena a graça de escavarmos nas nossas
almas até lá Vos achar, pois nunca nos abandonas, e construir, edificar as
nossas vidas sobre a santidade localizada em Cristo; e assim vencendo as
tentações e o mal sob o signo, o sinal da Cruz, nos elevarmos definitivamente
para Vós apoiados na rocha de fé e virtudes que é Santa Helena, em meio a este
mar revolto da inconstância do mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa
Senhora. Amém.