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terça-feira, 20 de agosto de 2024

Catequistas orantes e anunciadores da alegria e beleza do Reino

Dia dos catequistas (Catequizar)

Catequistas orantes e anunciadores da alegria e beleza do Reino

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ) 

Dia 21 de agosto celebramos o Dia Nacional do Catequista no Marco do mês das vocações 2024, que nos desafia a ser uma Igreja que se realiza como uma verdadeira sinfonia vocacional. Certamente ser catequista é fruto de um chamado na Igreja e para a Igreja, para tornar-se um servo, educador e profeta da Palavra, anunciando-a com entusiasmo e ardor.  

Fazer a experiência de deixar-se fecundar pelo Verbo Divino, para encantado e apaixonado pela Pessoa do Senhor, testemunhar com a vida e com palavras a mensagem que nos foi dada. Por isso um catequista é um cristão orante que escuta e guarda a Palavra como Maria a Primeira discípula e catequista do Reino.  

Sem esta disponibilidade e abertura total para a Palavra não poderá anuncia-la e faze-la ressoar em todos os ambientes, pessoas e criaturas. Claro que não se trata de uma tarefa pontual e acabada, mas um processo permanente, que inicia um caminho de transformação e amadurecimento na fé em cada cristão. Ministério matricial e comunitário, que se integra sempre num verdadeiro mutirão de fé que acompanha de forma catecumenal aos que foram atraídos e convocados e desejam pertencer ao Corpo de Cristo.  

Temos muitas referências de catequistas que foram exímios anunciadores da Palavra que liberta, cura e restaura, mas apresentamos dois pelo seu perfil emblemático: Santa Clélia Barbieri, jovem canonizada por São Paulo II em 1989, dedicada a catequese entre os pobres e abandonados e fundou uma comunidade religiosa de catequistas leigas com o carisma de viver o Evangelho e levar seus ensinamentos aos pobres e desamparados.  

E nosso Padroeiro São José de Anchieta, pelo dom de línguas, conhecedor profundo dos idiomas indígenas, ajudou no processo de inculturação da fé, e tornou-se um missionário incansável da dignidade da pessoa humana. Nossa profunda gratidão e admiração de tantos catequistas que oferecem suas vidas para que a Palavra de Jesus, seja amada e acolhida. Deus seja louvado! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Cardeal Bo: Papa dará novo impulso às Igrejas na Ásia, que vivem desafios

O cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon, em Mianmar (Vatican Media)

Em vista da viagem do Papa em setembro à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Cingapura, o presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia oferece uma visão interna do significado da próxima visita: “o Santo Padre poderá tocar a diversidade dinâmica das Igrejas asiáticas e a fé inabalável do seu povo”. O tema do cuidado da criação é importante: “os efeitos da mudança climática são devastadores na Ásia”.

Deborah Castellano Lubov - Vatican News

“Muitas das nossas igrejas estão cheias durante as missas de domingo. Muitos dos asiáticos que emigram para outros países mantêm sua fé viva”. Em uma ampla entrevista à mídia vaticana, o cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon (Mianmar) e presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), faz um retrato dos fiéis da Ásia e da Oceania que o Papa Francisco encontrará durante a viagem apostólica à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Cingapura. A visita está programada para o período de 2 a 13 de setembro e marca a 45ª viagem apostólica internacional de Jorge Mario Bergoglio, uma das muitas na Ásia durante seu pontificado. O Cardeal Bo fala de uma Igreja vibrante e diversificada que, apesar dos desafios políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, e do fato de que “nem sempre é fácil viver a fé cristã em algumas partes da Ásia”, “continua não apenas viva, mas também dinâmica de diferentes maneiras”.

O Papa Francisco está prestes a fazer sua 45ª viagem apostólica à Ásia e à Oceania. Como o senhor avalia a importância dessa visita?

Muitas pessoas na Ásia só ouvem falar do Papa e o “veem” com a ajuda da mídia digital. Mas para a população em geral, o Papa é uma figura um tanto “distante”. Portanto, a vinda do papa à Ásia não apenas empolga, mas também desperta um zelo e um senso de fé renovados, pois mostra que os povos asiáticos não estão distantes da mente e do coração do Papa. O que é mais encorajador é o fato de o Papa Francisco ter escolhido visitar países menores, pouco conhecidos pelo mundo, como Papua Nova Guiné e Timor Leste, criando assim uma oportunidade para o mundo conhecer as Igrejas dessas terras.

Estamos falando de países muito diferentes: a opulência de Cingapura e a pobreza de Papua Nova Guiné, a Indonésia de maioria muçulmana e a maioria católica da antiga colônia portuguesa do Timor Leste. Como a diversidade dos países asiáticos torna essa visita particularmente significativa? O que é interessante observar?

A singularidade da Ásia está justamente em sua diversidade, em termos de culturas, religiões e tradições. Embora os cristãos sejam uma minoria na maioria dos países asiáticos, com exceção das Filipinas e do Timor Leste, vemos uma fé crescente. As Igrejas na Ásia, embora pequenas, são vibrantes e vivas. O Santo Padre pode experimentar a diversidade dinâmica das Igrejas asiáticas e a fé do seu povo. Seja rico ou pobre, maioria ou minoria, a fé do povo permanece firme apesar da diversidade de desafios em diferentes países.

O que a Igreja universal pode aprender com a Igreja na Ásia?

Três palavras me vêm à mente: paz e harmonia e, em seguida, o que torna a paz e a harmonia uma realidade, ou seja, o diálogo. Apesar dos muitos desafios enfrentados pelas Igrejas na Ásia, nossa meta é buscar a paz e a harmonia. Todos buscam a paz e a harmonia, e é por isso que, diante da opressão política, da pobreza, da devastação climática e de muitas outras situações, a Igreja deve trabalhar com outros para restaurar a paz e a harmonia na vida das pessoas diretamente afetadas. Na Ásia, aprendemos a cooperar, dialogar e respeitar uns aos outros. Mas, acima de tudo, aprendemos a coexistir como irmãos e irmãs, apesar das dificuldades. Acredito que os caminhos da paz e da harmonia por meio do diálogo são o que a Ásia pode oferecer à Igreja universal.

Papa Francisco com o cardeal Bo durante a viagem a Mianmar em 2017 (Vatican Media)

O que pode nos dizer sobre o testemunho da Igreja asiática?

As igrejas na Ásia estão vivas e vibrantes. Basta ver que muitas de nossas igrejas estão cheias durante as missas de domingo. Você perceberá que muitos dos asiáticos que emigram para outros países mantêm sua fé viva. Eles são nossos missionários nessas igrejas antigas. Eles trazem uma esperança e um zelo renovados para esses seus “novos lares”. Também somos testemunhas de muitas igrejas perseguidas na Ásia. Nem sempre é fácil viver a fé cristã em algumas partes do continente. Apesar desses desafios - políticos, econômicos, sociais e culturais - sua fé continua não apenas viva, mas também dinâmica de diferentes maneiras.

O que é necessário para a Igreja na Ásia ou em cada uma dessas quatro Igrejas que o Papa visitará?

É difícil para mim dizer o que cada uma das Igrejas precisa, mas minha oração é que a visita do Santo Padre leve a um zelo renovado pela fé e a uma maior abertura para vivermos em paz e cuidarmos uns dos outros como irmãs e irmãos, cada um cuidando do outro independentemente das diferenças que possamos ter.

Em sua opinião, qual será a importância do tópico de cuidados climáticos e ambientais, já que essa parte do continente está sendo cada vez mais afetada por desastres naturais causados pela crise climática?

Os efeitos da mudança climática estão sendo sentidos de forma devastadora na Ásia. Como a questão do cuidado com o clima está próxima do coração do Santo Padre, tenho certeza de que ele abordará esse tópico. Não podemos mais ser espectadores, mas devemos nos envolver ativamente na promoção do cuidado com o clima para o bem comum de todos. A Igreja na Ásia também deve desempenhar um papel de liderança na promoção dessa mudança na região e no mundo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Bernardo de Claraval, monge cisterciense e doutor da Igreja

© FR LAWRENCE LEW CC
20 de agosto
País: França
São Bernardo de Claraval

Por Dom Orani João Tempesta - publicado em 20/08/23

Cardeal Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ)

Os mosteiros cistercienses produziram grandes místicos. O mais importante deles foi São Bernardo de Claraval

São Bernardo de Claraval, celebrado no dia 20 de agosto, é monge cisterciense e doutor da Igreja. Ele, a justo título, pode ser considerado cofundador da Ordem Cisterciense – depois de São Roberto, Santo Alberico e Santo Estêvão Harding, dado o seu empenho por revitalizá-la num tempo de grande crise de vocações – e também o pai do movimento místico que, com segurança, podemos chamar de Escola Cisterciense de Espiritualidade. Estes pontos, fundamentado em grandes autoridades sobre o nosso santo, dão o escopo deste artigo.

O Papa Bento XVI é quem nos apresenta uma síntese simples, mas também abarcante sobre a vida de São Bernardo nos albores de sua busca religiosa: “Não conhecemos os pormenores dos anos da sua infância; sabemos, contudo, que ele nasceu, em 1090, em Fontaines na França, numa família numerosa e discretamente abastada. Ainda jovem, prodigalizou-se no estudo das chamadas artes liberais – especialmente da gramática, da retórica e da dialética – na escola dos Cônegos da igreja de Saint-Vorles, em Châtillon-sur-Seine e amadureceu lentamente a decisão de entrar na vida religiosa. Por volta dos vinte anos, entrou em Cîteaux, uma fundação monástica nova, mais ativa em relação aos antigos e veneráveis mosteiros de então e, ao mesmo tempo, mais rigorosa na prática dos conselhos evangélicos. Alguns anos mais tarde, em 1115, Bernardo foi enviado por Santo Estêvão Harding, terceiro Abade de Cîteaux, para fundar o mosteiro de Claraval (Clairvaux). Aqui o jovem Abade, que tinha apenas vinte e cinco anos, pôde apurar a própria concepção da vida monástica, e empenhar-se em pô-la em prática. Olhando para a disciplina de outros mosteiros, Bernardo recordou, com decisão, a necessidade de uma vida sóbria e comedida, tanto à mesa como no vestuário e nos edifícios monásticos, recomendando o sustento e a atenção aos pobres. No entanto, a comunidade de Claraval tornava-se cada vez mais numerosa, e multiplicava as suas fundações” (Audiência geral, 21/10/2009, on-line). Para uma leitura rápida, porém escrita com maestria, além das obras citadas neste artigo, o leitor interessado em melhor conhecer nosso santo pode recorrer a Daniel Rops. “Bernardo de Claraval: testemunha do seu tempo perante Deus”, da conceituada Editora Quadrante, de São Paulo.

Gostaríamos também de enfatizar a ideia de que o santo de Claraval pode ser considerado o cofundador da Ordem Cisterciense. Por quê? – Porque certo tempo após o glorioso 1098, quando São Roberto, Santo Alberico, Santo Estêvão Harding e mais 21 companheiros, fundam Cister com a intenção de voltar ao primitivo rigor da Regra de São Bento, o mosteiro começa a sentir a falta de vocações. Por um lado, devido à peste que ceifara a vida de não poucos monges e por outro pela própria falta de candidatos. Deus, no entanto, no abaciado de Santo Estêvão Harding, chamou, em 1113, para a Ordem, o jovem Bernardo, depois mundialmente conhecido como “de Claraval”, com mais 30 amigos. Ocorre, então, um crescimento estupendo da Ordem Cisterciense. 

Eis o que sobre isso pôde escrever Dom Luís Alberto Ruas Santos, O. Cist.: “Houve um momento em que a Europa foi cisterciense: uma rede de mosteiros desta ordem monástica estendia-se por todo o continente, de Portugal à Estônia, da Noruega à Sicília. O século XII marcou o apogeu dos cistercienses, um ramo do grande tronco beneditino, que procurou dar novo vigor aos valores tradicionais do monaquismo, busca de Deus na solidão e no silêncio, no quadro de uma comunidade fraterna, ascetismo liberador das melhores energias espirituais do ser humano, despojamento e simplicidade em todas as coisas, da liturgia e arquitetura ao vestuário e alimentação. Essa era a época da Reforma Gregoriana, em que se buscava uma maior autenticidade evangélica e cristã em todos os aspectos da vida da Igreja, seja nas estruturas hierárquicas, livrando-a de ingerências seculares, seja na própria vida religiosa que era então predominantemente monástica” (Os cistercienses. Documentos primitivos. São Paulo: Musa/Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1997, p. 7). Ainda que, infelizmente, esse avanço muito tenha se retraído na Europa, foi possível aos cistercienses chegarem e se estabelecerem no Brasil, no século XX, com a graça de Deus, e aqui levarem avante o carisma da Ordem a serviço da Igreja.

Passamos, agora, a outro ponto. Durante longo tempo, alguns grandes mestres da Espiritualidade e Mística, como Pe. Adolphe Tanquerey e Frei Antonio Royo Marín, por exemplo, inseriram, sem mais, os cistercienses na mesma escola de Espiritualidade dos nossos irmãos beneditinos. Tal inserção é, de si, legítima, uma vez que a Regra de São Bento e a tradição beneditina são suportes de base ou alicerces da vida cisterciense. Somos gratos devedores dos beneditinos em tudo o que nos legaram de suas raízes profundas. No entanto, mais recentemente, começou, sem romper com a base, a se perceber um fato notório, conforme anota Dom Luís Alberto Ruas Santos, O. Cist: “Os mosteiros cistercienses produziram grandes místicos. O mais importante deles foi São Bernardo de Claraval. Há muitos outros nomes, sobretudo no século XII, como Guilherme de Saint-Thierry, Elredo de Rievaulx ou Isaac de Estrela, para citar apenas os mais conhecidos. Todos eles escreveram sobre sua experiência mística pessoal. O florescimento da escola cisterciense é o grande atestado de sucesso da aventura espiritual vivida nos mosteiros da Ordem. Esses autores oferecem em suas obras riquezas espirituais que guardam, ainda hoje, todo o seu valor, não só para os monges, mas para todos os cristãos. Talvez não tenha havido na Igreja uma escola de espiritualidade tão uniforme na temática e com tantos autores como a cisterciense” (Bernardo de Claraval. Vida e obra do último dos padres. Campinas: Ecclesiae, p. 47).

Essa espiritualidade comporta “uma síntese feliz e atraente dos três elementos que predominavam nos movimentos de reforma monástica. Os mosteiros da Ordem ofereciam um alto grau de solidão, seja pelo afastamento da sociedade e da trama de seus relacionamentos, seja pela estrita disciplina de silêncio que neles vigorava, com longas horas dedicadas à lectio – leitura orante e meditada da Palavra de Deus – e à oração privada, e ao mesmo tempo o consolo de uma comunidade fraterna. Por outras palavras, havia na vida cisterciense uma boa dose de eremitismo dentro de um quadro de comunhão fraterna própria ao cenobitismo e ao ideal de vida apostólica. Enfim, os cistercienses quiseram ser pauperes Christi, pobres de Cristo, ou seja, pobres com o Cristo pobre e, com isso, encontraram a terceira tendência do monaquismo reformado do século XI” (idem, p. 44).

Outro monge, desta vez um trapista, arremata este tópico da exposição com estas palavras: “Existe uma ‘espiritualidade cisterciense’ (fé levada à vida com uma forma determinada), distinguível das outras espiritualidades, inclusive monástica. Alguns dos elementos dessa espiritualidade seriam: a importância da experiência pessoal e comunitária, a afetividade, a Regra de São Bento sem acréscimos, a caridade cenobita e contemplativa, a unanimidade, a amizade, a santa Humanidade de Jesus Cristo, a devoção mariana… Não faltam os que opinam que não se pode falar de uma espiritualidade propriamente cisterciense (J. Lecrercq). Mas, existe sim, graças aos cistercienses, e sobretudo a São Bernardo de Claraval, uma ‘teologia da espiritualidade ou da mística’” (Dom Bernardo Olivera, OCSO. Introducción a los Padres e Madres cistercienses de los siglos XII e XIII. Burgos: Fonte & Monte Carmelo, 2020, p. 45). Louvemos, pois, nosso santo por inaugurar, com seu pensamento, suas pregações e escritas e suas ações concretas (que foram muitas!) em favor da Igreja, essa Escola de Espiritualidade tão profícua que tanto bem fez e faz ao Povo de Deus.

Com grande honra, celebramos também São Bernardo como Doutor da Igreja, ou seja, o (a) santo(a) que preenche as três notas necessárias para tal: a) ortodoxia ou retidão da doutrina; b) santidade de vida que tanto os contemporâneos quanto os posteriores reconheçam; c) aprovação da Igreja – não necessariamente de modo explícito – a partir do que ensinou pela palavra oral ou escrita (cf. Pergunte e Responderemos n. 429, p. 87-91). Mais ainda: nosso santo mereceu entre os santos doutores o destacável apelativo de Doutor Melífluo, isto é, aquele que tem palavras doces como mel (cf. Pr 16,24). 

Com efeito, declarado Doutor da Igreja, em 23 de julho de 1830, pelo Papa Pio VIII, no Breve Quod unum, São Bernardo de Claraval mereceu, em 24 de maio de 1953, por ocasião do oitavo centenário de sua morte, estas palavras do Santo Padre Pio XII: “O doutor melífluo, ‘último dos padres, mas certamente não inferior aos primeiros’ (Mabillon, Bernardi Opera, Praef. generalis, n. 23; PL 182, 26), distinguiu-se por tais dotes de mente e de espírito, enriquecidos por Deus com dons celestes, que pareceu dominar totalmente nas múltiplas e turbulentas vicissitudes da sua era, por santidade, sabedoria, suma prudência e conselho na ação. Por isso, não só os romanos pontífices e escritores da Igreja católica, mas também não raramente os próprios hereges lhe tributam grandes louvores. E nosso predecessor de feliz memória Alexandre III, quando o inseriu, com universal júbilo, no catálogo dos santos, assim escreveu com veneração: ‘...Evocamos a santa e venerável vida do mesmo bem-aventurado: pois que ele, amparado por singular prerrogativa da graça, não só resplandeceu em santidade e religião, mas também irradiou, em toda a Igreja de Deus, a luz da sua fé e doutrina. Na verdade, não há ninguém, por assim dizer, em toda a cristandade que ignore o fruto que ele produziu na casa de Deus com sua palavra e exemplo, visto que difundiu as instituições da nossa santa religião até às terras estrangeiras e bárbaras... e fez voltar uma infinita multidão de pecadores... à reta prática da vida espiritual’ (Carta Apost. Contigit olim, 17 de janeiro de 1174). ‘Ele foi com efeito como escreve o Cardeal Barônio – homem verdadeiramente apostólico, autêntico apóstolo enviado por Deus, poderoso em obras e palavras, tornando célebre em toda a parte e em todas as coisas o seu apostolado com os prodígios que o acompanhavam, de maneira que se deve dizer que em nada foi inferior aos grandes apóstolos... ornamento e ao mesmo tempo amparo de toda a Igreja católica’ (Annal. t. XII, An. 1153, p. 385)” (Encíclica Doctor Mellifluus, 1953, n. 1).

Pio XII usa, logo de início, como se vê, uma citação que é bela, porém emblemática. Sim, diz o seguinte: “O doutor melífluo, ‘último dos padres, mas certamente não inferior aos primeiros’”. Como entender isto? – Comecemos por esclarecer que “Padres da Igreja são escritores (não necessariamente presbíteros ou bispos) que, nos primeiros séculos, contribuíram para a exata elaboração e a precisa formulação das verdades da fé em tempos de debates teológicos com escolas heréticas” (Dom Estêvão Bettencourt, OSB. História da Igreja. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2012, p. 16). Pois bem, mas se esses Padres estão nos primeiros séculos da Igreja, como São Bernardo, vivendo no século XII, pode ser considerado um deles? – É o Papa Bento XVI quem nos esclarece desta vez: “Hoje gostaria de falar de São Bernardo de Claraval, chamado ‘o último dos Padres’ da Igreja, porque no século XII, mais uma vez, renovou e tornou presente a grande teologia dos Padres” (Audiência geral, 21/10/2009, on-line). 

Peçamos, pois, que o nosso grande São Bernardo de Claraval, monge dedicado a Deus e, por conseguinte, à Igreja e a cada homens e mulher com quem tomava contato, interceda junto à Trindade Santíssima por todos nós a fim de que saibamos, em pleno século XXI, ouvir, discernir e corresponder ao chamado do Senhor em nossas vidas. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2023/08/20/sao-bernardo-de-claraval-monge-cisterciense-e-doutor-da-igreja

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

A ação evangelizadora em São Gregório de Nazianzo

Ação evengelizadora (Diocese de Marabá)

A ação evangelizadora em São Gregório de Nazianzo

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

A Igreja nos primeiros séculos, através dos padres, os primeiros escritores cristãos, refletiu o Evangelho de Jesus Cristo e o anunciou aos outros com fé, com esperança e com caridade. A sua ação esteve ligada ao Evangelho e por isso levou uma boa mensagem ao mundo familiar, comunitário e social num meio alheio, muitas vezes à mensagem evangélica, porque o contexto era politeísta, com muitos deuses. A palavra proferida na Igreja e também na objetividade teve um grande valor porque influenciou a vida em geral das pessoas e a concretização do mandamento da lei do Senhor Jesus, no amor a Deus, ao próximo como a si mesmo (cfr. Mc 12,30). A seguir vejamos como a ação evangelizadora em São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV alude a atual ação em nossas comunidades missionárias, nas pastorais, nos movimentos e nos serviços.  

Não condenar a pessoa

São Gregório de Nazianzo afirmou a importância do discernimento para não condenar a pessoa na evangelização, no pastoreio por parte de seus responsáveis, mas ele convidava à uma atitude de conversão pastoral, na demonstração de humildade, pois a sua condenação ou o desprezo levariam a pessoa ao afastamento de Cristo (1). O fato era que a ação evangelizadora impulsiona a pessoa e as comunidades a amar mais a Cristo, a sua palavra do que o seu afastamento. A pastoral leva as pessoas a viver o mandamento do amor do Senhor, sobretudo com as pessoas mais necessitadas.  

A boa semente e o joio

O Bispo teve presente a parábola da boa semente e o joio (cfr. Mt 13,24-30) na qual o semeador semeou o trigo e veio o inimigo para semear no meio dele o joio, a má semente. Algumas pessoas desejariam logo a separação das sementes, mas a ação evangelizadora anda na paciência das coisas porque tirando o joio, como dizia a parábola, arrancar-se-ia também o trigo de modo que só no final haverá a separação pelo próprio Senhor. O importante é que a vida cristã colabore com a boa semente na paz e no amor das pessoas e das comunidades.  

A correção com amor

A correção na evangelização dar-se-á com caridade, com amor, a exemplo do médico que corta a dor da doença de modo que a pessoa perceba a sua própria debilidade (2). A pessoa é chamada a notar bem as suas coisas, antes mesmo de condenar alguém sem o devido motivo na evangelização. Em tempos de sinodalidade como o Papa Francisco deseja de toda a Igreja, é preciso a vivencia da correção fraterna em vista da unidade na diversidade na evangelização.  

O julgamento dado com a mesma medida

São Gregório de Nazianzo disse que a pessoa é imagem de Deus, conforme a Sagrada Escritura diz (cfr. Gn 1,26) de modo que não é possível julgar os outros porque a pessoa também será julgada com a mesma medida que ela julgou as pessoas (cfr. Mt 7, 1-2). Desta forma o rigor humano demais consigo mesmo não serve, disse o bispo para que assim a parte boa não haja dano, mas a pessoa corrija e exorta a si mesmo e aos outros pela caridade (cfr. 2 Tm 4,2) (3).

Discipulado em Cristo

São Gregório percebeu a importância do discipulado em Cristo Jesus pela ação evangelizadora, de modo que a pessoa seja mansa, e cheia de amor para com os outros a exemplo de Jesus que foi humilde de coração e amou os seres humanos até o fim (cfr. Jo 13, 1), que carregou sobre si s nossas debilidades (4). São Gregório seguiu a palavra do Senhor pela correção fraterna na qual a pessoa, quando ofender a outra, é corrigida em particular, depois por duas ou mais testemunhas, e por fim pela comunidade (cfr. Mt 18,15-17). No tempo do bispo, a correção ocorreria pela confissão, humilhação em público, pelo comportamento humilde da penitência pública (5).  

O perfume do óleo

São Gregório teve presente a importância do sacramento da crisma na vida da comunidade. A pessoa que foi ungida pelo crisma espiritual, dada pelo dom do Espírito Santo, comunica para os outros o perfume que a pessoa carrega dentro de si para os outros. A sua doença, segundo o bispo São Gregório é um cheiro repugnante que talvez será superado e eliminado pelo bom perfume da pessoa, o seu testemunho de vida, ligado ao de Jesus (6).  

O corte do mal, não das pessoas 

São Gregório ensinou que a ação evangelizadora leve em conta o corte do mal em si, do egoísmo, da falta de fraternidade, não das pessoas, porque estas são passiveis de conversão. Assim a bondade demonstrada na vida particular e à vida nas comunidades influenciarão a prática do amor, a fim de que a ação evangelizadora dada com alegria e com caridade, ganhe o outro, as comunidades para que não se perca nenhum ser humano aos olhos de Deus, porque são todos membros nas quais Cristo sofreu, morreu e ressuscitou dos mortos (7). 

A ação evangelizadora é a vida da pessoa seguidora de Jesus no seu profundo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. O Evangelho pregado, meditado e vivido traz frutos se acompanhado pelas ações caritativas. São Gregório de Nazianzo viveu a dimensão da evangelização e ele contribui com fé, com esperança e com caridade no seu tempo e na vida da Igreja e no mundo de hoje.  

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1 Cfr. Gregório di Nazianzo. Discorsos sulla moderazione nel disputare, 29-31. In: La Teologia dei Padri,
Volume IV. Roma: Città Nuova Editrice. 1982, pg. 126.
2 Cfr. Idem, pg. 126.

3 Cfr. Ibidem, pg. 126.
4 Cfr. Ibidem, pg. 126.
5 Cfr. Ibidem, pg. 126.
6 Cfr. Ibidem, pg. 126.
7 Cfr. Ibidem, pg. 126.

Fontes: https://www.cnbb.org.br/   -  https://diocesedemaraba.com.br/

Papa: em tempos de crise, buscar o essencial, a fé em Jesus

Papa Francisco (Vatican Media)

Francisco, por meio do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, enviou uma mensagem ao 45º Encontro para a Amizade entre os Povos, em Rimini, Itália. O Pontífice destaca a urgência de focar no essencial, especialmente em tempos de grandes desafios e incertezas, e reflete "sobre a importância de buscar o que realmente importa na vida".

Thulio Fonseca - Vatican News

Em mensagem enviada pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, o Papa Francisco expressou seus votos e reflexões por ocasião do 45º Encontro para a Amizade entre os Povos, que se realiza em Rimini, na Itália, de 20 a 25 de agosto, com o tema: "Se não estamos em busca do essencial, então o que estamos procurando?". Na mensagem, o Pontífice sublinha a urgência de focar no que realmente importa, especialmente em tempos de grandes desafios e incertezas.

A busca pelo essencial em tempos difíceis

Na carta, Francisco destaca que a atualidade é marcada por diversas crises e desafios que podem gerar sentimento de impotência e desânimo, levando as pessoas a perderem o sentido da vida. Nesse contexto, o Papa reforça a importância de procurar o que é essencial para não se deixar levar pela superficialidade e pelo efêmero. O Santo Padre incentiva os participantes do encontro a buscarem com paixão e entusiasmo aquilo que traz à tona a verdadeira beleza da vida.

O Papa também adverte sobre o perigo de perder a paixão pela vida, uma característica que, segundo Francisco, é muito comum nos dias de hoje, até mesmo entre os jovens. E ao abordar temas como guerra, injustiça, violência, desigualdade e a crise climática, faz um chamado à reflexão sobre o que realmente vale a pena viver e esperar.

Um apelo à ação e ao amor

Desde o início de seu pontificado, recorda Parolin, o Santo Padre tem enfatizado a importância de se concentrar no que dá sentido à vida. E ao comparar essa busca à de um alpinista que, para escalar uma montanha, precisa se livrar do peso desnecessário, o Papa destaca que o valor da vida humana não reside em posses materiais ou conquistas, mas na relação de amor com Deus e com o próximo.

Francisco ressalta ainda que retornar ao essencial, que é Jesus Cristo, não significa fugir da realidade, mas sim enfrentá-la com coragem e disposição para amar, mesmo quando as circunstâncias são adversas, e expressa seu apreço pelo propósito do Encontro, que busca inspirar os participantes a transformarem suas vidas em instrumentos de amor, misericórdia e compaixão.

Uma missão de esperança

Ao concluir a mensagem, o Papa exorta todos a se tornarem protagonistas do necessário e urgente processo de mudança, colaborando com a missão da Igreja para criar espaços onde a presença de Cristo possa ser sentida e experimentada. Francisco sublinha que esse compromisso coletivo pode gerar um mundo novo, onde o amor, manifestado em Cristo, prevaleça e transforme o planeta em um templo de fraternidade.

Por fim, o Pontífice expressa seu desejo de que o programa diversificado do evento inspire muitos a buscar o essencial e a espalhar a paixão pelo Evangelho, que liberta e transforma a humanidade. E com sua bênção de coração a todos os organizadores, voluntários e participantes, Francisco pede, como sempre, que não se esqueçam de rezar por ele.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

IGREJA: Vestígios da história (2)

Pio IX , Antoine Chatelaine, Galeria de Arte Moderna do Palazzo Pitti, Florença | 30Giorni

Vestígios da história

Por um amor saudável à pátria, sem triunfalismo por um lado e com alegria sincera por outro, o dia 20 de setembro poderia ser proclamado feriado nacional do Risorgimento unificado.

por Benedetto Cottone

Porém, algumas dúvidas começam a aparecer no mundo eclesiástico em relação à atitude ausente adotada pela Igreja e o próprio Papa Leão XIII faz seis perguntas a Monsenhor Geremia Bonomelli, bispo de Cremona, sobre a possibilidade de mudar o comportamento da Igreja. Bonomelli, depois de ter examinado as questões colocadas, conclui que os católicos italianos pan>(...)

Com a era Giolitiana e com o novo Papa Pio Em 1904, Pio suspenderá então, embora não totalmente, o non expedit e nomeará o conde Vincenzo Ottorino Gentiloni presidente da União Eleitoral Católica Italiana, para que os três primeiros "deputados católicos" sejam eleitos no Parlamento; e finalmente dará o seu parecer favorável ao chamado “Pacto de Gentiloni” de 1913, que teria permitido aos eleitores católicos votar a favor dos candidatos liberais que aceitaram publicamente, mas também secretamente, os famosos sete pontos propostos por Gentiloni. Em 1906, Monsenhor Geremia Bonomelli publicou a pastoral A Igreja e os novos tempos que contém algumas reflexões luminosas: «Chega de proteções, chega de convenções, protocolos, concordatas, que estipulavam hoje, amanhã se desfazem». Quando o prefeito Ernesto Nathan organiza uma série de flagrantes manifestações anticlericais em Roma, o Papa Pio e Giolitti não atende. Estourou a Primeira Guerra Mundial e o novo Papa Bento XV fez o protesto tradicional, mas muito brando; condena o nacionalismo; declara a neutralidade da Igreja, mas deixa os católicos italianos livres para defenderem a sua pátria com armas, e o católico Filippo Meda, que foi ministro das Finanças no gabinete Boselli, parte para a frente. Quando Bento XV define então a guerra como “um massacre inútil”, não há reação do governo italiano. Terminada a guerra, as negociações de conciliação foram retomadas em segredo: Francesco Saverio Nitti manteve numerosas conversas com o cardeal Gasparri, seu amigo pessoal; Vittorio Emanuele Orlando conversou repetidamente com Monsenhor Cerretti e finalmente preparou um projeto de tratado e concordata; mas infelizmente a proposta falha. Dom Luigi Sturzo passou para a esfera eclesiástica e fundou o Partido Popular Italiano (PPI), independente das hierarquias e não confessional. Surge o fascismo e o seu líder, Benito Mussolini, inicia uma política de aproximação com a Igreja. O novo Papa, Pio XI, é um conciliador convicto.

Pio XI, pela primeira vez depois de 1870, abençoa a multidão na loggia de San Pietro.
Dom Luigi Sturzo, intransigente com o fascismo, é convidado pela Cúria Papal a não continuar com os ataques ao regime e, no final, lembra que é padre, renuncia ao Partido e vai para o exílio voluntário.

Neste período, muitas pessoas populares aderiram ao fascismo e as negociações com a Igreja foram retomadas.

O Cardeal Gasparri, através do Senador Santucci, reúne-se com o Ministro da Justiça fascista Alfredo Rocco, mas o Papa Pio XI desiste do projeto proposto por Santucci.
O próprio Mussolini acabou por substituir o Cardeal Gasparri e, em 11 de Fevereiro de 1929, o Tratado, a Concordata e o Acordo Financeiro foram assinados em Roma.

É apenas lamentável que a Igreja tenha celebrado estes acordos com um incrédulo, que assinou aqueles documentos solenes apenas com o objectivo de fortalecer o seu regime e que, apenas dois meses depois, trovejou em Montecitório que «no Estado a Igreja não é soberana e nem mesmo de graça."

Sem querer enumerar todos os outros infelizes acontecimentos de conflito com a Igreja ocorridos durante o período fascista, basta concluir aqui que a atormentada história do conflito entre o Estado e a Igreja está hoje definitiva e definitivamente encerrada.
A Providência supera o que “parecem dificuldades e são oportunidades”: assim disse o filósofo Giambattista Vico.

Durante muitos anos, de facto, a Igreja Católica permaneceu convencida de que tinha sofrido uma iniquidade com a perda do poder temporal, e que esse acontecimento era uma “infelicidade” para ela, e por isso os protestos eram necessários e justos.

Vittorio Emanuele II , anônimo, Museu Cívico Fattori, Livorno | 30Giorni

Mas foi precisamente um Papa quem tirou a máscara daquela “provação” e fez com que ela parecesse uma “oportunidade”: João XXIII, que, por ocasião do centenário da unificação da Itália em 1961, abençoa o acontecimento e fala de um plano da Providência “motivo de celebração em ambas as margens do Tibre”. No ano seguinte, o cardeal Giovanni Battista Montini, que mais tarde se tornaria Papa Paulo VI, afirmou no Capitólio que: «A Providência, quase agindo dramaticamente nos acontecimentos, tirou do papado o cuidado do poder temporal para que este pudesse cumprir melhor o seu espiritual missão no mundo”.
É, portanto, reconhecido com autoridade que o 20 de Setembro aliviou a Igreja de um fardo que já não era sustentável.

Na verdade, se a Igreja tivesse continuado a exercer o poder temporal, como poderia ter dado respostas aos pedidos que a consciência do mundo moderno inevitavelmente faria? Respostas que só podem ser dadas com reformas?

Como poderia um papa temporal decidir conceder “liberdade de ensino”, “liberdade de consciência”, “liberdade de culto religioso”? E muitas outras leis que estão agora em vigor em muitos estados ao redor do mundo?

A Igreja, aliás, não podia deixar de sentir o espírito dos novos tempos e, de facto, agiu prontamente em consequência: o Concílio Vaticano II anulou o Syllabus com todas as suas 80 proposições, uma das quais condenava a liberdade de discussão, e hoje o A Igreja Católica é “a Igreja do diálogo”; houve até um católico militante, padre Balducci, que chegou a propor à Igreja ritos de expiação pelo “antigo erro do poder temporal”.

Já se passaram 137 anos e, com a conciliação entre Estado e Igreja, fica evidente que não é tanto o Estado que garante a liberdade da Igreja, mas sim a Igreja que reconhece a liberdade, a autonomia e a laicidade do Estado.

E por isso é justo que, por um amor saudável à pátria, sem triunfalismo por um lado e com alegria sincera por outro, o dia 20 de Setembro seja proclamado feriado nacional do Risorgimento unificado.

Arquivo 30Dias – 10/2007

Fonte: http://www.30giorni.it/

Presidente do Malawi com o Papa no Vaticano

Sr. Lazarus McCarthy Chakwera e Papa Francisco (Vatican Media)

Na pauta do encontro do Papa com o chefe de Estado africano, Lazarus McCarthy Chakwera, que na sequência encontrou o cardeal Parolin e o arcebispo Gallagher, a situação no país e o cenário internacional.

Vatican News

Malawi, uma pequena nação, mas com uma das maiores densidades populacionais do continente africano, com a expectativa de vida da população por volta dos 35 anos. Ademais, o país vive um bom desenvolvimento socioeconômico, com transformações em curso também em nível eclesial. Fato é, que no mês passado chegou a notícia de que o Malawi, a Zâmbia e o Zimbabué estão se organizado para uma entidade episcopal autônoma em nível regional.

Esta é o quadro de um país que nesta segunda-feira, 19 de agosto, viu o seu máximo representante institucional, o presidente da República Lazarus McCarthy Chakwera, manter uma conversa de cerca de vinte minutos com o Papa Francisco, para então encontrar-se com os expoentes da Secretaria de Estado.

Presidente do Malawi atualiza o Papa sobre a situação no país (Vatican Media)

Diálogo e reconciliação

Precisamente durante “cordiais colóquios” com o cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin e o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais, foram destacadas “as boas relações entre a Santa Sé e o Malawi - informa uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé - com as partes concentrando-se em alguns aspectos da política e da situação socioeconômica do país, especialmente na colaboração com a Igreja Católica no âmbito da saúde, da educação e da formação profissional".

A conversa, conclui a nota, envolveu também “uma troca de opiniões sobre questões regionais e internacionais, tendo sido destacada a importância de promover o diálogo e a reconciliação entre os povos”.

Presidente da República do Malawi com o cardeal secretário de Estado (Vatican Media)

A troca de presentes

No momento da troca de presentes, Francisco ofereceu ao presidente do Malawi uma peça em bronze, representando duas mãos trêmulas, tendo no fundo a Colunata de São Pedro, com uma mulher com uma criança e um navio de migrantes e as palavras "Enchamos as mãos com outras mãos”, juntamente com uma cópia da Mensagem para a Paz deste ano e o livro da LEV sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020.

Momento da troca de dons (Vatican Media)

O Sr. McCarthy Chakwera, por sua vez, presenteou Francisco com um relevo de madeira esculpido por artesãos locais, representando o mapa do Malawi com o principais cidades e animais que habitam o país marcados.

Momento da troca de dons (Vatican Media)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São João Eudes

São João Eudes (A12)
19 de agosto
País: França
São João Eudes

João Eudes nasceu no vilarejo de Ry perto de Argentan, na Baixa-Normandia (norte da França), em 1601. Seus pais, já idosos, suplicaram a Deus a graça de uma prole, consagrando o primeiro filho, de antemão, à Nossa Senhora. João foi o primogênito de sete irmãos, criados em ambiente profundamente religioso. A partir dos 12 anos, procurava comungar com frequência, ao contrário do costume de então de só fazê-lo na Páscoa.

Fez seus primeiros estudos com os jesuítas, em Caen, preferindo rezar na capela a brincar durante os recreios. Aos 14 anos fez o voto de perpétua virgindade. Em 1618 entrou para a Congregação Mariana do colégio, aprofundando a sua devoção a Nossa Senhora.

Em 1623, vencendo a resistência do pai, entrou em Paris na Congregação do Oratório de Jesus, do futuro cardeal Bérulle. Este percebeu seus dons de pregador e antes mesmo da sua ordenação em 1625, aos 24 anos, o encarregou de missões populares, ocasiões em que obtinha inúmeros frutos de piedade; dizia-se que desde São Vicente Ferrer (1350-1419) a França não tivera maior pregador.

Os encontros da Congregação, destinada à educação, formação e aprofundamento do clero, nos mesmos moldes daquela fundada por São Felipe Néri em 1575 na Itália, ocorriam semanalmente na residência de uma nobre francesa, surgindo daí uma elite conhecida como escola francesa de espiritualidade, que viria a reformar o clero francês no século XVII.

Em 1627 João assistiu aos enfermos da peste negra na Normandia. Visitou quase todos os locais afetados, especialmente os mais afastados e esquecidos, levando cuidados físicos e espirituais aos doentes e seus familiares. Não tinha medo da contaminação, e brincava que “até a peste tinha medo de sua pele”. Mas para evitar ser meio de propagação, dormia isolado num barril velho, ao lado de um paiol da própria casa.

Depois disso dedicou-se inteiramente à evangelização do povo, destacando-se nos três problemas fundamentais para a Igreja francesa da época: a evangelização das regiões rurais, a boa formação do clero e a necessidade de maior espiritualidade, no caso centrada na devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria.

Principalmente nas regiões afastadas dos grandes centros urbanos, era lamentável a condição espiritual da população. Por isso João se indignava, dizendo: “Que fazem em Paris tantos doutores e tantos bacharéis, enquanto as almas perecem aos milhares por falta de quem lhes estenda a mão para tirá-las da perdição e preservá-las do fogo eterno?”. Suas pregações atraiam e convertiam multidões, por vezes milhares de uma só vez, e incluíam a administração dos Sacramentos, especialmente a Confissão. Há registro de impressionantes 110 das suas missões, cada uma de um ou dois meses, abrangendo vastos territórios como Bretanha, Bolonha, Normandia. Em Versailles, diante do rei Luís XIV e da rainha Ana d’Áustria, recriminou com termos severos a má conduta dos soberanos, que, reconhecendo os erros, passaram a apoiá-lo.

Nas suas inúmeras viagens pastorais, João constatou o mal causado pela heresia jansenista, que propunha a salvação para apenas certo número de eleitos e com isso levando o povo a perder a fé na misericórdia de Deus – e como consequência afastar-se da Igreja e se deixar levar pelos vícios. Contra esta “indignidade” que não permitia a participação nos Sacramentos, João ensinava a correta Doutrina do amor e do perdão de Deus pelos arrependidos, mesmo os que tivessem cometidos os mais graves pecados.

Entre 1641 e 1643, João foi forçado a um repouso absoluto por motivo de grave e súbita doença. “Deus me deu estes dois anos para empregá-los no retiro, para vagar na oração, na leitura de livros de piedade e em outros exercícios espirituais, a fim de preparar-me melhor para as missões”. Voltando ao trabalho ativo, constatou com tristeza que os frutos das evangelizações eram apenas temporários, e concluiu que isto se dava pela falta de sacerdotes piedosos e cultos, capazes de manter o fervor dos missionários. Esta situação, por sua vez, resultava da carência de seminários que bem preparassem os futuros padres, conforme as orientações do Concílio de Trento. Viu ele a necessidade da fundação de seminários, uma tarefa contudo difícil e exigente.

Mas seu propósito foi favorecido pelo auxílio de Maria de Vallées, uma virgem que conheceu em meados de 1643 na cidade de Coutances, e que havia se oferecido a Deus como vítima expiatória pelos pecados do mundo: sua extraordinária vida incluiu a possessão demoníaca do corpo, mas nunca a da alma e da vontade; por dois anos sofreu espiritualmente os suplícios do inferno, e durante 12 participou dos tormentos de Cristo. Por 15 anos ela auxiliou João com orações e conselhos, e assim ele se dedicou a fundar uma ordem religiosa destinada à formação do clero nos seminários, e uma congregação de religiosas cuja missão seria a regeneração das mulheres arrependidas: “O projeto é sumamente agradável a Deus, e foi o próprio Deus Quem o inspirou”, disse ela depois de muitas orações.

Para realizar estes trabalhos, João teve que se desligar da Congregação do Oratório, um processo muito custoso e ao longo do qual enfrentou muitas oposições e acusações injustas. Mas em 1643 fundou a Congregação de Jesus e Maria (ou Padres Eudistas), para a formação doutrinal e espiritual do clero e continuidade das missões paroquiais, e em 1651 a Congregação Nossa Senhora da Caridade do Refúgio (Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, ou Irmãs do Bom Pastor), destinada a socorrer tanto mulheres que se prostituíam por causa da pobreza como crianças abandonadas, para que não se perdessem no futuro. Fundou também a Sociedade do Coração da Mãe Mais Admirável, que se assemelha às Ordens Terceiras de São Francisco e São Domingos, para leigos que desejavam viver uma vida de perfeição.

Em todas estas iniciativas, começou a propagar a devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria (antes das revelações deste Coração Divino a Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690)). Dedicou as capelas de seus seminários de Caen e Coutances aos Sagrados Corações, estabelecendo neles confrarias em Sua honra, e compôs um Ofício para o Sagrado Coração de Maria. Esta devoção era uma necessária e providencial reação ao jansenismo, inspirando amor e confiança na Misericórdia Divina, e naturalmente tem base teológica. João demonstrou com argumentos que o Coração de Jesus e o de Maria não têm diferenças entre Si, mas constituem, pela união existente entre Ambos, um só e mesmo Coração. Em 1648 celebrou pela primeira vez o culto litúrgico (Missa e Ofício, compostos por ele mesmo), aprovado pela Igreja, da festa do Imaculado Coração de Maria, e a do Sagrado Coração de Jesus no ano 1672. Essas celebrações fazem parte agora do Calendário Litúrgico normal.

João Eudes e os missionários da Congregação de Jesus e Maria pregaram milhares de missões populares, e justamente onde eles estiveram o povo melhor resistiu à perseguições antirreligiosas da Revolução Francesa (1789-1799).

No final da vida, vários foram os sofrimentos de João. Doenças, morte de amigos e benfeitores, calúnias, murmurações – não apenas dos jansenistas, mas também de católicos, acusando-o de zelo indiscreto –, a publicação de um libelo difamatório, e intrigas para o desacreditarem junto ao Papa e ao rei da França, Luís XIV. Em 1680, renunciou ao cargo de superior-geral da sua própria congregação. E faleceu no mesmo ano em Caen, norte da França, aos 19 de agosto, com a idade de 79 anos.

 São João Eudes é o fundador de duas congregações religiosas e seis seminários. Além de extraordinário pregador popular, escreveu enorme número de obras ascéticas e místicas de grande valor teológico. É o “Autor do Culto Litúrgico do Sagrado Coração de Jesus e do Santo Coração de Maria” (Papa Leão XIII) e “pai, doutor [pelo seu embasamento teológico] e apóstolo” deste mesmo culto (Papa São Pio X).

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São João Eudes foi um homem de oração, estudo e ação, muito harmoniosamente distribuídas e interrelacionadas na sua vida. Seguindo uma vocação eclesiástica, de início naturalmente fica mais enfatizada a sua busca espiritual e preparação/aprofundamento intelectual, na Congregação do Oratório de Jesus, embora já iniciasse uma admirável atividade de pregador antes mesmo da sua ordenação. Logo porém dedica-se às vítimas da peste, onde conhece a dura realidade do abandono, também espiritual, das populações rurais: “É de partir o coração de piedade ver um grande número desta pobre gente vinda de três ou quatro lugares, apesar dos maus caminhos, pedir, entre lágrimas, para ser atendida em Confissão, e que permanece de seis a oito dias sem poder ser atendida, dormindo à noite nos pórticos e nos mercados, qualquer que seja o tempo”. Pode então, com conhecimento de causa, criticar os que se dedicam só à teoria em conhecimento, mas não à prática da caridade… carência espiritual esta exacerbada pela heresia jansenista, o que o motiva, em meio à ação, a aprofundar-se no estudo, pela oração, à devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, sendo precursor desta devoção. Desenvolve aí o conteúdo teológico da Sua união como um só, em espírito, sentimento e afeição, ele mesmo mantendo vínculos místicos próximos com Cristo e Maria. Deus lhe concede um período de descanso, doença e maior espiritualidade, durante o qual percebe a necessidade de novas propostas de fundações religiosas, que efetiva não sem trabalho e incompreensões. A congregação dos Eudistas, voltada para a boa e necessária formação do clero, mantém, totalmente, a sua atualidade, em vista das modernas confusões doutrinais, heresias nem tão disfarçadas e mediocridade de e no ensino… e as das Irmãs do bom Pastor oferecendo um trabalho de viés social mais de acordo com a perspectiva espiritual e caritativa da Igreja, e não misturada ou substituída por ideologias políticas. Todos estes esforços asseguraram, entre outras coisas, a melhor resistência dos católicos aos desmandos da monstruosa e assassina Revolução Francesa, que proporcionou só a liberdade, igualdade e fraternidade de homicídios e perseguições a todos os que não fossem ateus e materialistas, num prenúncio da propaganda mentirosa e da práxis destruidora do comunismo condenado por Nossa Senhora em 1917, e que, como Ela avisou, continua a “espalhar seus males pelo mundo”, com o mesmo molde de propaganda enganosa e assolação, tanto de pensamento quanto material. Como é marca de todos os que seguem Cristo de perto, sofreu muito tanto física quanto moralmente antes de passar para a glória celeste, ao longo do tempo desenvolvendo ainda robusta obra literária de espiritualidade. Da trindade oração-estudo-ação que marcou a sua vida, destacam-se respectivamente a devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, a formação do clero e a pregação evangelizadora. Mas também atual, e que deve verdadeiramente nos incomodar, é uma sua outra constatação: “Algo deplorável até às lágrimas de sangue é ver que, dentre o tão grande número de homens que povoam a Terra, que foram batizados e, em consequência, admitidos na condição de filhos de Deus, membros de Jesus Cristo e templos vivos do Espírito Santo, portanto obrigados a levar uma vida conforme a estas divinas qualidades, muito mais numerosos são os que vivem como animais, como pagãos e até mesmo como demônios; quase não há quem se comporte como verdadeiro cristão”. Não há qualquer motivo para desânimo ou pessimismo diante das maiores dificuldades, se somos verdadeiramente católicos, porque sabemos perfeitamente que até a morte foi vencida por Jesus, e que, particularmente pela Eucaristia, estamos unidos a Ele na Sua vitória sobre o mundo. Necessário, sim, é simplesmente viver de fato como Ele nos ensinou, para mudar em Bem o que está mal. Como fez São João Eudes.

Oração:

Deus eterno, que desde sempre Vos quisestes unir inteiramente a nós em alma, corpo e coração, concedei-nos pela intercessão e admirável exemplo de São João Eudes equilibrarmos na santidade, como ele, nossas orações, formação e ações, de modo a mais perfeitamente vivermos a Caridade que nos propusestes, e por fim iniciarmos plena e infinitamente a comunhão Convosco, com Maria e com todos os santos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 18 de agosto de 2024

O Perdão na Vida Familiar

Família (Crédito: Oremos)

O Perdão na Vida Familiar

Por Joao S. Atualizado em: 6 de agosto de 2024 Família

Tempo de leitura: 7 minutos

Perdoar não é apenas um ato isolado de misericórdia; é uma força transformadora que pode reestruturar a dinâmica de qualquer família. Imagine uma casa onde os membros convivem com mágoas e ressentimentos acumulados ao longo dos anos. As tensões se tornam palpáveis, e cada pequena discussão se transforma em uma grande briga. No entanto, ao introduzir o perdão na equação, algo mágico acontece. As feridas começam a cicatrizar, os laços se fortalecem, e o amor flui mais livremente.

A Força Transformadora do Perdão

Quando falamos de perdão, não estamos apenas tratando de um simples “me desculpe“. Perdoar envolve um profundo entendimento e empatia pelas falhas humanas. É reconhecer que todos somos suscetíveis a erros e que, ao oferecer perdão, estamos também aceitando nossa própria humanidade. A Bíblia nos guia nesse processo, como em Mateus 6:14: “Porque, se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará.” Este versículo não só nos encoraja a perdoar, mas também promete uma reciprocidade divina ao fazê-lo.

Os Benefícios do Perdão na Família

Os benefícios do perdão vão muito além do simples alívio emocional. Estudos mostram que pessoas que praticam o perdão têm melhor saúde mental, menos estresse e relacionamentos mais saudáveis. No contexto familiar, esses benefícios são ainda mais evidentes.

Redução do Estresse e Ansiedade

Quando guardamos rancor, nosso corpo reage como se estivesse em constante estado de alerta. Esse estresse crônico pode levar a uma série de problemas de saúde, desde insônia até doenças cardíacas. Ao perdoar, liberamos essa tensão acumulada, permitindo que nosso corpo e mente relaxem e se recuperem.

Fortalecimento dos Laços Familiares

perdão cria um ambiente de confiança e segurança dentro da família. Quando os membros sabem que podem cometer erros e ainda serem amados e aceitos, isso fortalece os laços e promove uma comunicação aberta e honesta. Em vez de se esconderem atrás de máscaras de perfeição, os membros da família se sentem livres para serem vulneráveis e autênticos.

Desenvolvimento Emocional

Crianças que crescem em ambientes onde o perdão é praticado tendem a desenvolver uma maior inteligência emocional. Elas aprendem a lidar com conflitos de maneira saudável, a reconhecer e expressar suas emoções e a resolver problemas de forma construtiva. Isso não só melhora as relações familiares, mas também prepara essas crianças para interações sociais mais positivas ao longo da vida.

O Desafio do Perdão

Apesar de todos os benefícios, o perdão não é um caminho fácil. É um processo que muitas vezes exige tempo, reflexão e esforço consciente. É comum que as pessoas sintam que, ao perdoar, estão minimizando a gravidade da ofensa ou permitindo que o ofensor “saia impune”. No entanto, é crucial entender que perdoar não significa esquecer ou justificar o comportamento inadequado. Perdoar é libertar-se do peso do ressentimento.

O Orgulho como Obstáculo

Um dos maiores obstáculos ao perdão é o orgulho. Muitas vezes, o orgulho nos impede de reconhecer nossas próprias falhas e de pedir desculpas. Admitir que estamos errados e pedir perdão requer humildade e coragem. Da mesma forma, perdoar alguém que nos feriu profundamente pode ser visto como uma concessão de fraqueza. No entanto, é justamente o oposto. Perdoar exige uma força interior tremenda e uma disposição para colocar o amor e a harmonia acima do ego.

O Processo de Cura

perdão é um processo de cura que pode levar tempo. Não é algo que acontece de um dia para o outro. Envolve a aceitação da dor, o entendimento do que aconteceu, e, eventualmente, a liberação do ressentimento. Em alguns casos, pode ser necessário buscar ajuda profissional, como terapia, para trabalhar através das emoções e traumas associados à ofensa.

Exemplos Práticos de Perdão na Família

Para ilustrar como o perdão pode transformar a vida familiar, vamos considerar alguns exemplos práticos.

O Perdão entre Cônjuges

Imagine um casal que passou por uma crise de infidelidade. A traição é uma das dores mais profundas que alguém pode experimentar em um relacionamento. No entanto, muitos casais conseguem superar essa dor e reconstruir seu casamento através do perdão. Esse processo envolve um compromisso mútuo de trabalhar na relação, muitas vezes com a ajuda de um conselheiro matrimonial, e uma disposição para abrir o coração e a mente ao outro.

O Perdão entre Pais e Filhos

Os conflitos entre pais e filhos são comuns e muitas vezes inevitáveis. Desde pequenas desavenças sobre tarefas domésticas até grandes disputas sobre escolhas de vida, essas tensões podem criar um abismo entre membros da família. No entanto, o perdão pode ajudar a fechar esse abismo. Quando pais perdoam os erros de seus filhos e vice-versa, eles estão construindo uma base sólida de amor e respeito mútuo.

O Perdão entre Irmãos

Os relacionamentos entre irmãos podem ser complicados. Rivalidades, ciúmes e mal-entendidos podem criar ressentimentos que duram anos. No entanto, a reconciliação entre irmãos pode ser uma das experiências mais gratificantes. Ao perdoar, os irmãos não apenas curam antigas feridas, mas também fortalecem a união familiar, criando uma rede de apoio que durará por toda a vida.

Dicas para Praticar o Perdão na Vida Familiar

Perdoar não é uma habilidade inata; é algo que pode ser aprendido e praticado. Aqui estão algumas dicas para ajudar a cultivar o perdão na vida familiar.

Pratique a Empatia

Tente ver a situação do ponto de vista da outra pessoa. Isso pode ajudá-lo a entender suas ações e motivações, facilitando o perdão. Pergunte a si mesmo como você se sentiria se estivesse na mesma posição e como gostaria de ser tratado.

Comunique-se Abertamente

A comunicação aberta e honesta é crucial para o perdão. Expresse seus sentimentos de maneira clara e respeitosa, e esteja disposto a ouvir a perspectiva do outro. Muitas vezes, a simples comunicação pode resolver mal-entendidos e abrir caminho para a reconciliação.

Esteja Disposto a Pedir Desculpas

Reconhecer seus próprios erros e pedir desculpas é uma parte importante do processo de perdão. Isso mostra humildade e uma disposição para melhorar o relacionamento. Lembre-se de que pedir desculpas não é um sinal de fraqueza, mas de força e maturidade emocional.

Busque Ajuda Profissional

Em alguns casos, pode ser útil buscar a ajuda de um terapeuta ou conselheiro para trabalhar através de sentimentos de mágoa e ressentimento. Um profissional pode fornecer ferramentas e técnicas para facilitar o processo de perdão e ajudar a restaurar a harmonia familiar.

Pratique o Autocuidado

Cuidar de si mesmo é crucial durante o processo de perdão. Isso pode incluir atividades como meditação, exercícios físicos, hobbies e tempo de qualidade com amigos e entes queridos. O autocuidado ajuda a manter o equilíbrio emocional e a perspectiva positiva, tornando o processo de perdão mais manejável.

O Poder do Perdão

perdão é uma ferramenta poderosa que pode transformar a vida familiar. Embora o caminho do perdão possa ser desafiador, os benefícios para a saúde mental, emocional e relacional são imensuráveis. Ao praticar o perdão, estamos não apenas seguindo os ensinamentos bíblicos de Mateus 6:14, mas também criando um ambiente de amor, respeito e compreensão dentro de nossa família.

Pontos Importantes para Lembrar:

  • perdão reduz o estresse e melhora a saúde mental.
  • Fortalece os laços familiares e promove uma comunicação aberta.
  • Desenvolve a inteligência emocional em crianças e adultos.
  • perdão é um processo de cura que exige tempo e esforço.
  • Pratique a empatia, a comunicação e esteja disposto a pedir desculpas.
  • Busque ajuda profissional se necessário e pratique o autocuidado.
Fonte: https://oremos.com.br/perdao-na-vida-familiar/

IGREJA: Vestígios da história (1)

A violação da Porta Pia , Carlo Ademollo, Museu do Risorgimento, Milão | 30Giorni

Vestígios da história

Por um amor saudável à pátria, sem triunfalismo por um lado e com alegria sincera por outro, o dia 20 de setembro poderia ser proclamado feriado nacional do Risorgimento unificado.

por Benedetto Cottone

O dia 20 de setembro de 1870 marca dois grandes acontecimentos históricos: 1. a conclusão da unificação da Itália com Roma como capital, o sonho de muitas gerações de italianos; 2. a queda do poder temporal da Igreja.

A chamada “brecha da Porta Pia”, em termos de armas, não se pode dizer que tenha sido uma grande batalha: durou pouco mais de quatro horas (das 5h15 às 9h40) e depois os tiros de canhão cessaram. Houve 56 mortos e 141 feridos pelos Bersaglieri e pela infantaria italiana e 20 mortos e 49 feridos pelas tropas papais.

O Papa Pio IX protestou imediatamente ao mundo que ele era um prisioneiro no seu próprio estado: assim surgiu a chamada “Questão Romana”.

Já dez anos antes, o conflito entre a Igreja e o Estado eclodiu quando as legações papais (Romagna, Marche e Umbria) foram anexadas ao Reino da Itália. Pio IX escreveu a Vittorio Emanuele II para recuperá-los, mas o rei, que também tinha devoção filial ao Papa, respondeu que as legações tinham pedido espontaneamente a anexação ao seu Reino, e certamente não poderia rejeitar um voto daquelas populações.

Abre-se o conflito histórico entre Igreja e Estado e, na verdade, a Igreja, a partir desse momento, assume uma atitude protestante e ausente face ao Estado italiano: «Nem eleito nem eleitor», são as palavras de Dom Giacomo Margotti, fundador da o jornal L'Armonia , órgão do catolicismo intransigente.

O génio do maior político italiano, Camillo Benso di Cavour, compreendeu imediatamente o drama da situação, que prontamente fez a primeira tentativa de conciliação, recorrendo a dois intermediários, o teólogo Padre Carlo Passaglia e o médico das Marcas Diomede Pantaleoni, mas o A hostilidade do Vaticano a qualquer negociação é clara, para grande e sincera tristeza de Cavour.

As tentativas de conciliação repetem-se e já Bettino Ricasoli, sucessor de Cavour, prepara uma carta a ser enviada ao Papa através do governo francês, mas este recusa-se a transmiti-la.

Napoleão III também tenta agir como pacificador e garante, em caso de acordo, a retirada da guarnição francesa de Roma, mas o Vaticano responde que não.

O Papa Pio IX declara então que a Igreja “pode ceder à violência, mas nunca aderir à injustiça”.

Os católicos abstêm-se de eleições políticas, mas passam a participar nas provinciais e municipais, e mais tarde haverá também uma tentativa de estabelecer um partido católico conservador, mas o novo Papa, Leão XIII, opor-se-á ("non expedit, proibitionem importat» ) chegou a considerar exilar-se voluntariamente em Viena, mas a corte dos Habsburgos aconselhou-o a não se mudar de Roma. (Durante o seu longo pontificado, o Papa Leão XIII fez 62 protestos!).

Em Setembro de 1964 chegou a convenção ítalo-francesa: a Itália, por um lado, comprometeu-se a não atacar o Estado Papal, a prevenir ataques contra ele e a transferir a capital de Turim para Florença; A França, por outro lado, compromete-se a retirar as suas tropas de Roma.

Mas o Vaticano não ficou nada tranquilo e, pouco mais de dois meses depois, Pio IX manifestou a sua intransigência com a encíclica Quanta cura e o Syllabus anexo .
Contudo, a publicação do Syllabus não impediu Pio IX, pouco depois, consolado por Dom Bosco, de tomar a iniciativa pessoal junto a Vittorio Emanuele II de preencher os famosos bispados então vagos; o rei concorda e envia o honorável Francesco Saverio Vegezzi a Roma, mas a missão falha.

Apesar de tudo, porém, a tendência conciliadora começou a ganhar espaço na Igreja: o padre beneditino Luigi Tosti escreveu o panfleto La Conciliazione em 1887 , cujo protagonista era Don Pacifico, ao qual o intransigente polemista antiliberal Don Davide Albertario respondeu imediatamente com o seu Don Belligero.

Em 66, outra tentativa de conciliação fracassou por iniciativa de Ricasoli, que enviou a Roma o Conselheiro de Estado Michelangelo Tonello, apoiado pela Sra. McKnight, bastante conhecida e estimada no Vaticano.

O governo italiano reage com as famosas leis de liquidação do “eixo eclesiástico”; e a reação do Vaticano torna-se imediata e violenta, com a excomunhão de quaisquer compradores de bens da Igreja.

A guerra franco-prussiana irrompe e chega o fatídico dia de Sedan, com a queda de Napoleão III e a retirada das tropas francesas de Roma. Poucos dias depois, a 20 de Setembro de 1870, a Porta Pia foi rompida e Pio IX, como foi dito, protestou imediatamente.
Em dezembro, Giovanni Lanza, chefe do governo, fez votar no Parlamento a Lei das Garantias, posteriormente reconhecida como a obra-prima jurídica do liberalismo italiano. Mas o Papa Pio IX protesta com a encíclica Ubi nos , e recusa tanto as Garantias como a dotação anual de 3.225 mil liras.

A direita histórica cai, mas a esquerda que assume segue basicamente a mesma política.
Durante o período Crispi, marcado por um acalorado anticlericalismo, o próprio Crispi procurou uma forma de entendimento com o seu compatriota, bem como com o seu orgulhoso adversário, o Cardeal Rampolla, mas mais uma vez, como vimos, o Papa Leão XIII interveio com o seu « non expedit», e esta tentativa também falha.

O Papa Leão XIII reagiu ao acalorado anticlericalismo de Crispi acentuando o tom dos seus protestos...

Arquivo 30Dias – 10/2007

Fonte: http://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF