Luís nasceu no Castelo de Poissy, próximo a Paris, França,
em 1214. Foi o quarto filho de Luís VIII, conhecido como “O Leão” pelo
seu zelo religioso e bravura marcial, e Branca de Castela, filha, sobrinha,
esposa, irmã e tia de reis. Os pais muito se esmeraram na sua educação,
proporcionando-lhe ótimos preceptores. Branca repetia a Luís: “Meu
filho, eu gostaria muito mais de ver-te na sepultura, do que maculado por um só
pecado mortal”.
Em 1226, voltando de uma campanha vitoriosa sobre os hereges
albigenses do sul da França, Luís VIII faleceu em Montpellier. Seus
últimos desejos incluíam que o filho, então com 12 anos, fosse coroado e a
esposa o tutelasse. Assim, a 30 de novembro deste ano, Luís IX herdou o
trono, e apesar da pouca idade já possuía bastante sabedoria. Como
regente, Branca teve que enfrentar as ameaças inglesas, as pretensões da
nobreza feudal francesa e uma nova revolta dos albigenses.
Em 1234, com 20 anos, Luís IX pôde assumir formalmente o
governo da França. Manteve, porém, Branca ao seu lado, obediente e
respeitoso. No ano seguinte casou-se com Margarida, filha de um conde, com
quem foi muito feliz e teve dez filhos, cinco meninos e cinco meninas.
Como os seus próprios pais, Luís IX teve todo o interesse na
educação dos filhos, instruindo-os pessoalmente no desprezo pelas vaidades e
prazeres do mundo e no amor a Deus. Normalmente os chamava ao seu
quarto à noite, depois da oração das Completas, educando-os na piedade.
Ensinou-lhes a rezar diariamente o Pequeno Ofício de
Nossa Senhora, os fazia ir às Missas de preceito e os explicava a necessidade
da mortificação e da penitência. Às sextas-feiras, não permitia que usassem
ornamentos na cabeça, pois foi o dia da coroação de espinhos de Nosso
Senhor. Manuscritos de instruções que deixou para sua filha Isabel,
futura rainha de Navarra, nada deixam a dever a nenhum esclarecido diretor
espiritual.
Luís era humilde e penitente, buscando a oração e a
caridade. Quando alguns nobres o criticavam por participar diariamente da Santa
Missa, respondia, não sem ironia: “Se eu dedicasse tempo dobrado
para os jogos ou para a caça, ninguém repreenderia!”
Seu governo foi tão excelente como a sua educação aos
filhos. Enquanto os demais reinos europeus e alhures passavam por convulsões, a
França teve o seu período mais pacífico e próspero da monarquia. Baniu
com sabedoria hábitos ruins, como a blasfêmia e os juramentos ímpios, e com tal
rigor que o Papa Clemente IV procurou atenuá-lo. Acabou também com os duelos,
os jogos de azar e as casas de prostituição. À sua irmã, a beata
Isabel, deu as terras de Longchamp para a construção de uma abadia das Irmãs de
Santa Clara.
Procurou pacificar e reconciliar conflitos, em particular
entre a França e a Inglaterra. Tinha cuidados especiais para com a boa
administração dos bens do Estado e a aplicação da Justiça. Por exemplo, os
juízes designados para as províncias do reino não podiam ali adquirir bens, nem
seus filhos serem por eles empregados, de modo a evitar injustiças locais.
E nomeava juízes extraordinários para examinar sua
conduta e rever seus julgamentos: em caso de desonestidade, primeiro punia-se
com severa penitência, como se fôra ele mesmo o responsável, e depois
aplicava uma punição também severa e adequada. Mas aos magistrados
honestos e honrados, premiava com largueza e promovia a funções mais altas.
Frequentemente exercia pessoalmente a justiça, sem demora ou burocracia, em
audiências abertas a todos após a Missa, sob um carvalho no bosque de
Vincennes, local que por isso ficou famoso.
Cuidava dos pobres com solicitude. Apoiou as corporações de
ofício, regulando os seus costumes, de modo a prover estrutura e
estabilidade às organizações do povo, valorizando a sua autonomia. Fundou
hospitais e mosteiros; a um monge tomado pela lepra, visitava regularmente,
levando alimentos melhores e ajudando-o a comer, dando-os na boca do enfermo.
Construiu a Sainte-Chapelle, santuário embelezado para receber relíquias,
sobretudo a Coroa de Espinhos de Jesus que adquiriu do imperador de
Constantinopla Balduíno II.
Junto a Robert de Sorbon, fundou em 1257 a
Universidade de Sorbonne, e acompanhou com grande atenção o acabamento da
Catedral de Notre-Dame. Convidava São Boaventura e São Tomás de Aquino para a
sua mesa, bem como São Domingos e São Francisco de Assis. Considerava
os religiosos instrumentos de Deus para combater as heresias, projeto ao qual
dedicou extremo zelo, aliado ao estabelecimento da Fé e da disciplina cristã.
Em meio às suas obrigações de Estado, recitava diariamente
as Horas Litúrgicas, lia assiduamente a Sagrada Escritura e os Padres
da Igreja. Confessava frequentemente, exigindo que o sacerdote o açoitasse com
um flagelo trazido por ele mesmo, e não permitia que este o chamasse de
“majestade”, pois neste Sacramento não era rei, mas filho, e o confessor não
lhe era súdito, mas pai.
Em 1245 Luís ficou gravemente doente. O povo,
que o amava, organizou vigílias, procissões e outros atos piedosos,
intercedendo a Deus pela sua recuperação. Ele fez o voto de, se curado, ir
resgatar a Terra Santa aos muçulmanos. E isto foi possível em 1248, com
o início da VII Cruzada. A armada chegou ao Egito em 1249, e a cidade de
Damietta foi capturada. Seguiram para o Cairo e depois Mansourah, defendida
pelos muçulmanos.
Um ataque precipitado de Robert de Artois, que liderava
parte das tropas, sem esperar o auxílio dos demais, e a sua decisão de
perseguir os inimigos dentro da cidade, onde os cruzados ficaram separados e
encurralados nas ruas estreitas, levou à derrota completa. Em Damietta,
cercados, sem reabastecimentos ou ajuda, a fome e depois a doença, provocada
pelo apodrecimento de grande quantidade de cadáveres, que acometeu também Luís,
levaram os cristãos a se renderem, e ele foi capturado.
Luís foi liberto mediante rico resgate, e permaneceu no
Oriente Médio por mais quatro anos, supervisionando a reforma de várias
fortificações cristãs. Em 1252, recebeu a notícia do falecimento da sua mãe e
voltou à França, onde chegou em 1254. Tratou então da administração e
organização do reino, conseguindo um acordo de paz com Henrique III da
Inglaterra em 1258.
A partir de 1267, com o apoio do Papa Clemente IV,
Luís iniciou a convocação para a VIII Cruzada. Em 1270 os combatentes chegaram
a Cartago, mas, mais uma vez, a falta de provisões, e de água potável, favoreceu
o surgimento de doenças, morrendo Jean Tristan, filho de Luís. O rei, também
doente, ainda procurou com esforço instruir os outros filhos que lá estavam,
especialmente o herdeiro Filipe.
Na véspera da sua morte, pediu a Sagrada Comunhão e quis ser
colocado no chão, sobre cinzas e com os braços em cruz. Faleceu em 25 de agosto
de 1270, após um mês de tormentos.
São Luís IX foi um dos primeiros leigos a ser canonizado, à
parte os mártires dos primeiros séculos. Em sua sepultura, foram
registrados milagres e curas. Ele é Padroeiro dos Terciários Franciscanos.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
São Luís IX é, em tudo, um modelo para os homens públicos de
todos os tempos, incluindo e enfatizando este nosso século. Naturalmente, antes
de ser um “homem público”, é um homem particular, isto é, suas qualidades
sociais são necessariamente fruto do seu empenho na santificação pessoal. Não
existe outo caminho para as relações humanas felizes. E a santificação começa,
também obrigatoriamente, pela humildade. Esta não significa um “apequenar-se”
medroso, por fraqueza, da pessoa, mas lidar responsavelmente com o que lhe cabe
fazer. Tanto um médico quanto um pedreiro, por exemplo, podem ser bons,
educados, honestos e competentes nas suas respectivas funções. Assim, São Luís
não deixou de exercer as suas prerrogativas – e obrigações – de autoridade, mas
a utilizou de forma correta e para os objetivos corretos. Sendo humilde,
submeteu-se, com o valor e esforço indispensáveis, aos ensinamentos de Deus,
através da Santa Igreja, acolhendo e obedecendo à graça. E por isso obteve o
resultado admirável, ficaríamos tentados a dizer quase milagroso, de dominar as
próprias paixões e manter a inocência e pureza de coração, em meio a todas as
honrarias e fáceis tentações de poder e prazer inerentes à sua condição de
monarca absoluto, num dos países mais ricos do mundo, e a quem não se costuma
ousar contradizer. Um exemplo disso é que, possuindo os mais altos títulos da
nobreza, assinava os documentos simplesmente com “Luís de Poissy”, cidade onde
recebera o Batismo. Ele considerava, e estava certo, que a sua maior dignidade
era a de ter sido batizado, remido da mancha do Pecado Original, e ter sido
recebido por amor gratuito na família dos filhos de Deus. Pela humildade,
obteve o governo de si próprio, dos filhos, do Estado. As consequências dessa
livre escolha estabeleceram na França um dos seus melhores períodos na
História, talvez o melhor. Em tudo Luís promoveu a equidade, paz e progresso:
na cultura, nas questões de trabalho, na justiça, na organização; na busca de
acordos conciliatórios e nas necessidades de guerra; na moralidade de
comportamento na corte e no país, no combate às heresias, no apoio às
necessidades da Igreja e na evangelização. Como base, investiu na
espiritualidade, na caridade, na convivência com santos. Parece significativo
que respeitasse particularmente as sextas-feiras, dia da coroação de espinhos
de Jesus, e obtivesse esta mesma Coroa. E, literalmente, em mais de um sentido.
Físico, como relíquia santa, e na participação dos sofrimentos, na cruz que
teve de suportar, exatamente por combater o bom combate na reivindicação da
Terra Santa. Mas não pereceu pela falta da água batismal ou do alimento
eucarístico; e por isso a sua morte não foi doença espiritual, mas experiência
de ressurreição.
Oração:
Ó Senhor da Glória, que tudo governais com perfeição,
concedei-nos pela intercessão de São Luís IX a humildade verdadeira e o desejo
de Vos servir, em tudo buscando discernir a Vossa vontade e priorizando as
necessidades e ensinamentos da Igreja, para realizar com maturidade espiritual
aquilo o que nos destinais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora.
Amém.