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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Qual papa você gosta mais?

Papa Francisco (Opus Dei)

Qual papa você gosta mais?

Dom Wilson Angotti
Bispo de Taubaté (SP)

Junho é o mês em que comemoramos São Pedro e o dia do Papa, sucessor de Pedro. Há pouco tempo, um jovem me perguntou qual Papa eu gostava mais? Uma pergunta que em outros tempos poderíamos responder tranquilamente; hoje, porém, devido a grupos ultraconservadores e até sede-vacantistas (que consideram vacante a sede petrina), temos que ter cautela. Há quem diga que esse ou aquele Papa não o representa. Diante da pergunta, respondi que gosto do Papa atual, pois só temos um Papa! Aproveitei a ocasião para mostrar que, do grupo dos apóstolos, Jesus escolheu aquele que ele quis. Quem sabe algum “rebelde contestador” daquela época tenha pensado: por que o Senhor não escolheu um dos escribas, que eram estudiosos e conhecedores da Sagrada Escritura? Ou um dos fariseus, que eram zelosos observantes da lei mosaica, e tinham o propósito de serem exemplos para os outros. Não seria melhor se Jesus tivesse escolhido uma pessoa influente da sociedade como Nicodemos ou alguém que se destacasse no judaísmo como um Sumo Sacerdote? Será que um desses não teria sido uma escolha melhor para Jesus colocar à frente de sua Igreja, ao invés de um rude e, talvez, iletrado pescador? Mas Jesus escolheu quem ele quis. Assim também o Senhor continua a escolher hoje, pela ação do Espírito Santo, prometido e enviado para assistir a Igreja. Não aceitar isso corresponde a negar que Deus conduza sua Igreja. A pessoa escolhida para dirigir a Igreja de Cristo não é alguém para agradar a esse ou a aquele grupo, mas é fruto da vontade divina, que conduz a história. A decisão dessa escolha, na Igreja, não se dá como fruto de uma campanha política. É fruto de um discernimento que se dá em um contexto de oração, diante de Deus, buscando identificar quem melhor poderá desempenhar a função e melhor responder aos desafios da época. Assim, o Senhor vai conduzindo sua Igreja, mediante as escolhas que são feitas, com o intuito de discernir a vontade de Deus, atentos às suas inspirações. 

Humanamente falando, qualquer que seja o papa escolhido pode mesmo agradar mais a uns que a outros; porém, nunca a ponto de fazer oposição a quem foi legitimamente escolhido ou a ponto de dizer “esse Papa não me representa”. Isso corresponde a contrapor-se a Deus. “Não vos arrisqueis em resistir ao próprio Deus” (At.5,39). Pessoas ou grupos que chegam a esse ponto já não se constituem como membros da Igreja. Com tal atitude, de fato, já se colocaram fora da comunhão eclesial. Quem não está com o sucessor de Pedro e sob ele, de fato, já não está na Igreja de Cristo. Ao longo da história da Igreja, num momento ou noutro, grupos desse tipo surgiram e desapareceram. Atualmente, existem grupos que contestam o Concílio do Vaticano II, convocado pelo papa São João XXIII, em 1962, e concluído com o papa São Paulo VI, em 1965. Alguns desses grupos são cismáticos, outros contestam alguns aspectos de mudanças introduzidas pelo Concilio. Concílio que foi o maior da história e reuniu mais de dois mil bispos de todas as partes do mundo. Após o período da cristandade, buscando responder aos desafios do nosso tempo, o Concílio Vaticano II buscou soluções fazendo a Igreja voltar-se ao essencial, buscando esses valores fundamentais em suas origens bíblica, litúrgica e patrística. Assim, a Igreja buscou superar elementos temporais, próprios de um ou outro momento histórico, a fim de redescobrir e valorizar o essencial de sua vida e missão. A Igreja não mudou seus valores, pelo contrário, voltou-se ao que era primordial. Esse foi o intuito do Concílio Vaticano II. Diante disso, alguns grupos se contrapuseram de maneira cismática, separando-se da Igreja; outros, sem se separar, contestaram aspectos do “aggiornamento” ou atualização da Igreja. Tais contestações se evidenciam especialmente em questões litúrgicas e em concepções sobre a Igreja e sua missão no mundo. Interessante é que essa “saudade do passado” se dá, sobretudo, entre aqueles que não viveram antes do Concílio. Em geral, são pessoas que têm saudade do que não conheceram nem viveram. Muitos deles são doutrinados por influenciadores digitais que divulgam suas concepções em cursos que se difundem e multiplicam pela internet. 

Ao contestarem o Magistério (ensinamento oficial) da Igreja, contrapondo-se a bispos, a conferências episcopais, a concílios e até mesmo ao papa entregam-se cegamente ao “magistério” que escolheram segundo suas próprias convicções. Não buscam o que é expressão de fidelidade ao Evangelho, à Tradição secular da Igreja, ao ensinamento Pontifício, mas ao que agrada aos próprios ouvidos. “Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, buscarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão ao que lhes agrada ouvir” (IITm.4,3-4). Rejeitam o Magistério oficial da Igreja (do Papa e dos bispos), estabelecido por Cristo e adotam para si um magistério particular de alguém que diz o que querem ouvir. Na raiz de tudo isso está a busca de si, da “verdade” pessoal, do que agrada a cada um. Relativiza-se a verdade enquanto a concepção de cada pessoa é elevada à verdade incontestável e absoluta. É nesse contexto que se coloca e se entende a extensão da pergunta: de qual papa você gosta mais? 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção (2)

BBC NEWS BRASIL

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção

  • Equipe de Jornalismo Visual da BBC News Brasil
  • 18 de dezembro de 2023
  • Brasil

O território brasileiro abriga hoje apenas 20% das estimadas 1.175 línguas que tinha em 1500, quando chegaram os europeus. E, ao contrário de outros países da região, como Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e até Argentina, o Brasil não reconhece como oficiais nenhuma de suas línguas indígenas em âmbito nacional.

Ainda assim, o Brasil é considerado um dos 10 países com o maior número de línguas no mundo e um dos que possuem maior diversidade linguística – ou seja, grande quantidade de famílias diferentes e de línguas isoladas.

Para dar uma ideia da diversidade linguística e cultural do país, a BBC News Brasil fez uma seleção com a ajuda de especialistas indígenas e não indígenas.

O resultado é este especial, no qual mostramos 10 das línguas indígenas faladas hoje no Brasil, de diferentes famílias e em distintas situações de preservação.

Parikwaki

a língua preservada em um povo multilíngue

Língua aruák

A língua do povo palikur-arukwayene, parikwaki, faz parte da grande família aruák, uma das maiores no Brasil. Essa era certamente uma das línguas faladas já quando os europeus chegaram ao continente, e permanece viva e utilizada até hoje.

Sabemos disso porque os primeiros registros dos palikur foram feitos ainda em 1513, por um viajante espanhol que os encontrou na foz do rio Amazonas — uma enorme sociedade chamada de parikura, de navegadores e guerreiros.

Os palikur eram um dos povos aruák que habitavam a região e hoje são os únicos representantes daquela ocupação. No século 17, eles tiveram que migrar para o interior do Amapá ao serem perseguidos por portugueses — temendo que eles comercializassem com outros europeus que passavam pela região.

Depois da definição da divisão entre Brasil e Guiana Francesa, no começo do século 20, a maioria dos palikur chegou a se mudar para o território francês, por serem mal tratados pelas autoridades brasileiras. Mas epidemias fizeram com que voltassem ao Amapá.

Hoje, os palikur se dividem em 15 aldeias, que podem ter desde apenas um núcleo familiar de sete pessoas até uma população de 670.

BBC NEWS BRASIL

Na região de Oiapoque, eles chegam a eleger, juntamente com outros povos indígenas que vivem ali, um terço da Câmara de vereadores local. Trabalham também no Fórum de Justiça, na Funai, são professores nas escolas em suas aldeias e agentes de saúde.

A língua ainda tem alto grau de transmissão entre os palikur. Um levantamento da linguista Elissandra Barros da Silva, da Universidade Federal do Amapá (Unifap), que trabalha com essa população há 15 anos, mostra que cerca de 33% deles são trilíngues (falam parikwaki, português e a língua crioula khéuol).

Mas isso não quer dizer que o futuro da língua não esteja ameaçado.

Apesar de falarem a língua, as crenças e as atitudes dos palikur em relação a ela são negativas.

Elissandra Barros - Linguista da Universidade Federal do Amapá

"Para eles, falar o parikwaki e não dominar o português está associado com sofrer preconceito na cidade, com terem perdido o domínio comercial na região, com terem dificuldade em alcançar cargos que outros povos conseguem", diz a pesquisadora.

As crianças palikur, segundo as pesquisas da linguista e de seus alunos, já entendem desde cedo que há ambientes específicos para cada língua, e que a língua "mais importante de aprender" é o português.

"O status da língua deles está cada vez mais associado à família. Isso é péssimo a longo prazo, porque a língua está perdendo espaços de uso. Dentro de uma geração, ela não vai mais ser transmitida", alerta.

Com uma eventual perda do palikur, se perderia também um dos sistemas numéricos mais únicos entre as línguas brasileiras. "É uma coisa maravilhosa, porque eles marcam no número a forma do objeto", explica Barros.

Em português, dizemos "um" tanto para uma banana como para um prato, por exemplo. Já os palikur contam com numerais diferentes para objetos compridos, circulares e outros tipos.

"Existem ao menos seis formas diferentes só para indicar o número um, de acordo com a forma das coisas. Isso faz com que as crianças palikur tenham certa dificuldade de aprender matemática na escola. Se a cartilha com o desenho manda somar cenouras e laranjas, elas não entendem como fazer essa contagem", diz a linguista.

Por exemplo, "um homem" é pahavwi awayg. Mas se o objeto contado tiver o formato chato como um prato (miruk), o mesmo número se transforma em pahak. Para "um lugar" (iwetrit), de formato pouco preciso, o número é paha. E para um côco (kuk), objeto redondo, pohow.

Ao menos um terço dos palikur falam, além de sua própria língua, kheuól e português | Foto: Cortesia Elissandra Barros

Para Barros, isso pode se relacionar com o fato de que os palikur são um povo "extremamente hierárquico".

"Eles gostam de classificar tudo. Se dividem em clãs, com suas características e suas origens. E ajuda muito saber a posição de cada pessoa para saber como lidar com ela", afirma.

Segundo Lenise Palikur, estudante e pesquisadora da Unifap, cada clã tinha seu dialeto, seu modo de viver, seu território, seus líderes. Seus nomes são dados de acordo com a função que exercem na organização do povo.

"No decorrer do tempo, muitos clãs foram extintos por guerras entre eles e com outros povos. Hoje temos seis clãs. Wakavunyene (gente da formiga preta) são os responsáveis pela administração da aldeia; Wadahyene (gente da lagartixa) são bons escaladores e ótimos caçadores; Paraymyene (gente do peixe bagre) são os pescadores, considerados também como bons nadadores. E assim por diante", explica.

Terena

a língua que resiste à proximidade com os não indígenas

Língua aruák

Os terena são descendentes modernos dos guaná-chané, o povo de língua aruák a migrar para mais longe a partir da Amazônia. Apesar do seu contato constante com não indígenas e grande presença nas cidades, a língua terena (emo'u têrenoe ou "fala dos Terena") continua sendo falada nas aldeias.

O aruák é uma das grandes famílias de línguas presentes no Brasil e uma das mais espalhadas pela geografia das Américas – em todo o continente, são cerca de 70 línguas, incluindo o taino, língua do povo que teve o primeiro contato com Cristóvão Colombo na ilha de Hispaniola, na atual República Dominicana.

O terena chama a atenção por sua gramática complexa, na qual um verbo simples pode ser acrescido de sufixos, formando um "superverbo" que carrega tanto sentido quanto uma frase inteira no português.

Também é comum usar partes do corpo como metáforas de posições no espaço. Para dizer que alguém vive "em meio a nós", por exemplo, os terena dizem hiyéuke ûti ou, "em nosso cabelo".

Sobre a superfície de algo vira inúku-ke, ou "na testa". Embaixo de algo é opéku-ke, ou "no osso". Na ponta de algo é kiríku-ke ou "no nariz". Assim, algo sobre a água está "na testa da água" o que está no centro do fogo está "no olho do fogo".

Terenas vivem tanto em terras indígenas demarcadas quanto nas que ainda não são oficiais | Foto: Getty

"Em muitas línguas se faz algo parecido, até no português. Dizemos 'no pé da montanha', por exemplo. Mas em algumas línguas isso fica tão automático, tão natural, que as expressões ficam mais generalizadas. Foi o que aconteceu com o terena", explica o linguista Fernando Orphão de Carvalho, do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os terena hoje se espalham principalmente pelo Mato Grosso do Sul.

Nos anos 1930, eles também foram levados pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) – órgão antecessor da Funai – para o interior de São Paulo, para ajudar na sedentarização do povo guarani.

"Como eles tinham uma tendência maior de sedentarização e de dedicação à agricultura, eles eram vistos de forma melhor pelo estado brasileiro, considerados 'mais civilizados'", afirma Orphão.

"Então houve algumas tentativas de usá-los para assentar os guarani, que eram mais nômades e para mediar a relação com os guaicurus, que eram mais belicosos."

Hoje, os terena são cerca de 26 mil, formando uma das maiores populações indígenas do Brasil.

Apesar de conhecida e falada pela maioria da população, a língua terena não é igualmente usada em todas as aldeias.

"Há terras indígenas, especialmente mais ao sul do Estado, onde basicamente não se fala mais a língua, eles estão muito cultural e fisicamente misturados com a população não indígena", diz Fernando Orphão.

"Em outras ainda há muitos falantes. Você ouve as crianças brincando em terena e muitos idosos são monolíngues em terena."

BBC NEWS BRASIL

Os terena, no entanto, são um dos casos de povos indígenas muito assimilados à sociedade não indígena, mesmo nas comunidades onde a língua está mais presente.

"Eles compram comida, cozinham em casa como a gente, têm ventilador, tem cama, bebem tereré como a população do Mato Grosso do Sul. A aldeia é organizada em termos de casas e ruas como qualquer pequena cidade do Brasil rural", diz o pesquisador.

Essa assimilação, que também foi uma estratégia de sobrevivência, segundo Orphão, coloca a língua terena em perigo.

"Quando os velhos falam com os jovens, eles entendem tudo, mas respondem em português e muitos assimilam todo tipo de preconceito da nossa sociedade contra os indígenas."

O pesquisador diz que é preocupante a falta de oportunidades de trabalho para os indígenas e que percebeu uma "dissolução gradativa do senso de comunidade". Mas ainda há esperança, segundo ele.

"Na primeira vez em que fui à aldeia de Cachoeirinha, em 2016, eu percebi os terena muito dependentes dos não indígenas. Na segunda vez, em 2018, já vi que as coisas estavam mudando. Eles estavam voltando a cultivar suas roças", diz.

Créditos:

Texto e reportagem: Camilla Costa
Design: Caroline Souza
Edição e design de vídeo: Daniel Arce
Desenvolvimento: Marta Martí Marques, Alex Nicholas, Matthew Taylor
Edição e coordenação: Carol Olona
Agradecimentos: Felipe Corazza, Marcos Gurgel, Holly Frampton, Denny Moore, Gustavo Godoy, Bruna Franchetto, Hein van der Voort, Kristina Balykova, Januacele Francisca da Costa, Elissandra Barros, Gasodá Suruí, Julien Meyer, Joana Autuori, Andrés Pablo Salanova, Fernando Orphão de Carvalho, Edison Melgueiro Baniwa, Francy Fontes Baniwa, Janina dos Santos, Maria do Carmo Martins, Esmeralda Maria Piloto, Keila Felicio Iaparrá, Kilia Sanumá, Kalepi Amarildo Sanumá, Cacique Djik Fulni-ô, Fábia Fulni-ô, Éxetina Aristides Terena, Aronaldo Júlio, todas as mulheres e homens indígenas que cederam seus vídeos.
Vídeos:
Ikolen - Falantes: Sena Kéré’áàp Gavião e Vása Séèp Gavião Participantes: Oliveira Gavião e Tarami Gavião Imagens e edição: Julien Meyer e Laure Dentel | Cortesia do Museu Emilio Goeldi Tradução: Denny Moore, João Cipiábíìt Gavião e Julien Meyer
Nheengatu - Falantes: Maria do Carmo Martins e Esmeralda Maria Piloto Imagens e tradução: Edilson Melgueiro Baniwa
Parikwaki - Falante, imagens e tradução: Keila Felicio Iaparrá
Terena - Falante: Éxetina Aristides Imagens e tradução: Aronaldo Júlio
Guató - Falante: Eufrásia Ferreira (Djariguka) Imagens: Kristina Balykova e Gustavo Godoy Edição e tradução: Kristina Balykova
Yaathê - Falante: Cacique Djik Fulni-ô (Cícero de Brito) Imagens: Fábia Fulni-ô Tradução: Januacele Francisca da Costa
Ka’apor - Falantes e sinalizantes: Jarara Pirã Ka'apor e Sypo Ruwy mãi (Joana Ka'apor) Imagens, edição e tradução: Gustavo Godoy
Kayapó - Falante: Nhàkture (Maria Eugênia) Imagens, edição e tradução: Andrés Pablo Salanova
Kheuól - Falante, imagens e tradução: Janina dos Santos
Sanöma - Falante: Kilia Sanumá Imagens: Kalepi Amarildo Isaac Sanumá Tradução: Joana Autuori

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-3a23b0c2-e594-4145-ad26-32fbee5e9203

Na alegre esperança de Cristo (2)

Na alegre esperança de Cristo (Opus Dei)

Na alegre esperança de Cristo

Deixar que o amor de Deus nos toque, deixar que Cristo olhe para nós. A esperança abre um mundo diante de nós, porque se fundamenta no que Deus quer fazer em nós.

04/12/2017

Deixar Cristo olhar para nós

Jesus Cristo é o rosto da Misericórdia de Deus, porque n’Ele Deus nos fala com uma linguagem à nossa medida: uma linguagem em escala humana que vem ao encontro da sede do amor fora de toda escala que Ele mesmo colocou em cada um de nós. “E você, já sentiu alguma vez pousar sobre você este olhar de amor infinito que, para além de todos os seus pecados, limitações e fracassos, continua a confiar em você e a olhar com esperança para a sua vida? Você está consciente do valor que tem diante de um Deus que, por amor, deu-lhe tudo? Como nos ensina São Paulo, assim “Deus demonstra o seu amor para conosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós” (Rom 5, 8). Mas compreendemos verdadeiramente a força destas palavras?”[8]

E VOCÊ, JÁ SENTIU ALGUMA VEZ POUSAR SOBRE VOCÊ ESTE OLHAR DE AMOR INFINITO QUE, PARA ALÉM DE TODOS OS SEUS PECADOS, LIMITAÇÕES E FRACASSOS, CONTINUA A CONFIAR EM VOCÊ E A OLHAR COM ESPERANÇA PARA A SUA VIDA? (PAPA FRANCISCO)

Para descobrir o rosto de Jesus, é necessário percorrer o caminho da adoração e da contemplação. “Que doce é estar diante de um crucifixo, ou de joelhos diante do Santíssimo e simplesmente ser diante de seus olhos! Quanto bem nos faz deixar que Ele volte a tocar nossa existência e nos lance a comunicar sua nova vida!”[9]. Trata-se, como dizia o Papa em outra ocasião, de “olhar Deus, mas acima de tudo [de] sentir-se olhado por Ele”[10]. Parece algo simples: deixar-se olhar, simplesmente ser na presença de Deus... Mas o certo é que, em um mundo hiperativo e saturado de estímulos como o nosso, isso nos custa terrivelmente. Por isso, é necessário pedir a Deus o dom de entrar no seu silêncio e de deixar que Ele olhe para nós: convencer-se, em suma, de que estar na sua presença já é uma oração maravilhosa e tremendamente eficaz, mesmo se não tirarmos dela nenhum propósito imediato. A contemplação do rosto de Cristo tem em si mesma um poder transformador que não podemos medir com os nossos critérios humanos. “Ponho sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita; não vacilarei. Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará seguro” (Sal 15, 8–9).

O rosto de Jesus é também o rosto do Crucificado. Ao constatar a nossa fraqueza, poderíamos pensar, com um critério exclusivamente humano, que o decepcionamos: que não podemos nos dirigir a Ele como se não tivesse acontecido nada. No entanto, essas objeções delineiam somente uma caricatura do Amor de Deus. “Há uma falsa ascética que apresenta o Senhor na Cruz enraivecido, rebelde. Um corpo retorcido que parece ameaçar os homens: vós me quebrantastes, mas eu lançarei sobre vós os meus pregos, a minha cruz e os meus espinhos. Esses não conhecem o espírito de Cristo. Ele sofreu tudo quanto pôde — e, por ser Deus, podia tanto! — . Mas amava mais do que padecia... E, depois de morto, consentiu que uma lança Lhe abrisse outra chaga, para que tu e eu encontrássemos refúgio junto ao seu Coração amabilíssimo.”[11]

Como São Josemaria compreendia o Amor que irradia o rosto de Jesus! Lá da Cruz Ele nos olha e nos diz: “Conheço você perfeitamente. Antes de morrer pude ver todas as suas debilidades e misérias, suas quedas e traições... E conhecendo você tão bem, tal como você é, julguei que vale a pena dar a vida por você”. O olhar de Cristo é amoroso, afirmativo, que vê todo o bem que existe em nós – o bem que nos somos – e que Ele mesmo nos concedeu ao chamar-nos à vida. Um bem digno de Amor, mais ainda, digno do Amor maior. (cfr. Jo 3,16; 15,13).

Caminhar com Cristo deixando sua marca no mundo

O olhar de Jesus nos ajudará a reagir com esperança diante das quedas, das escorregadelas, da mediocridade. E não é simplesmente porque sejamos bons do jeito que somos, mas também porque Deus conta com cada um de nós para transformar o mundo e enchê-lo do seu Amor. Também essa chamada está no olhar amoroso de Cristo. “Você me dirá: “Padre, mas eu sou muito limitado, sou pecador, que posso fazer?” Quando o Senhor nos chama, não pensa no que somos, no que éramos, no que fizemos ou deixamos de fazer. Ao contrário: No momento que nos chama, Ele está olhando tudo o que poderíamos dar, todo o amor que somos capazes de contagiar. Sua aposta sempre é no futuro, no amanhã. Jesus te projeta no horizonte, nunca em um museu.”[12]

O olhar de Cristo é um olhar do Amor, que afirma sempre a pessoa que está na sua frente e exclama: “É bom que você exista, que maravilha ter você aqui”![13] Ao mesmo tempo, conhecendo-nos perfeitamente, conta conosco. Descobrir essa dupla afirmação de Deus é o melhor modo de recuperar a esperança e de nos sentirmos novamente atraídos para cima, em direção ao Amor, e depois lançados ao mundo inteiro. Essa é, no fim das contas, nossa segurança mais firme: Cristo morreu por mim, porque acreditava que valia a pena fazer isso.

Cristo, que me conhece, confia em mim. Por isso o Apóstolo exclamava: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?" (Rom 8, 31-32).

Dessa segurança nascerá o nosso desejo de retomar o caminho, de lançar-nos ao mundo inteiro para deixar nele as marcas de Cristo. Sabendo que, muitas vezes, tropeçaremos, que, nem sempre, conseguiremos realizar o que nos propusermos... Mas, no fundo, não é isso o que conta. O que importa é seguir em frente, com o olhar fixo em Jesus: “expectantes beatam spem” acordados e atentos à sua alegre esperança[14]. É Ele que nos salva e conta conosco para encher o mundo de paz e de alegria. “Deus criou-nos para estarmos de pé. Existe uma bela canção que os alpinos cantam quando sobem. A canção diz assim: “na arte de subir, importante não é o não cair, mas não ficar caído”!”[15] Em pé, alegres. Seguros. A caminho. Com a missão de acender “todos os caminhos da terra com o fogo de Cristo” que levamos no coração[16].

Lucas Buch

Tradução: Mônica Diez


[8] Francisco, Mensagem, 15-VIII-2015.

[9] Francisco, Ex. Ap. Evangelii Gaudium (26-XI-2013), n. 264.

[10] S. Rubin, F. Ambrogetti, El Papa Francisco. Conversaciones con Jorge Bergoglio, Edições B, Barcelona 2013, p. 54.

[11] São Josemaria, Via Sacra, estação XII, nº 3.

[12] Francisco, Vigília de oração, 30-VII-2016.

[13] Cfr. J. Pieper, Las Virtudes fundamentales, Rialp, Madrid 2012, 435-444.

[14] Missal Romano, Rito de Comunhão.

[15] Francisco, Homilia, 24-IV-2016.

[16] Caminho, nº 1.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

O Papa na Ásia e Oceania. Cardeal Tagle: as pequenas Igrejas podem nos ensinar

Cardeal Luís Antonio Gokim Tagle (Vatican Media)

O pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização, em uma conversa com a Agência Fides, destaca também porque a viagem do Sucessor de Pedro é importante para toda a Igreja universal.

Por Gianni Valente e Fabio Beretta - Roma (Agência Fides)

Quatro nações em dois continentes, num total de quase 40 mil quilômetros a serem percorridos. O avião papal decolará do aeroporto de Fiumicino no dia 2 de setembro e dará início à mais longa e exigente visita apostólica do Papa Francisco, suspensa entre a Ásia e a Oceania. Mas o bispo de Roma não está deixando sua diocese para quebrar recordes. Sua viagem - sugere o cardeal Luis Antonio Gokim Tagle - é antes “um ato de humildade diante do Senhor que nos chama”. Um “ato de obediência à missão”. Enquanto se aproxima a viagem que levará o Papa Francisco à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Singapura, o pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização (Seção para a primeira evangelização e as novas Igrejas particulares), em conversa com a Agência Fides, sugere também porque a viagem do Sucessor de Pedro entre as Igrejas dos “pequenos rebanhos” é importante para toda a Igreja universal e pode interessar a todos aqueles que se preocupam com a paz no mundo.

Com quase 88 anos de idade, o Papa Francisco está prestes a realizar na mais longa e árdua viagem de seu pontificado. O que o leva a abraçar esse “tour de force”?

LUIS ANTONIO TAGLE: “Eu me lembro que, na verdade, essa viagem à Ásia e à Oceania já estava planejada em 2020. Eu tinha acabado de chegar a Roma, à Congregação para a Evangelização dos Povos, e lembro que já havia esse projeto. Então, a pandemia de Covid-19 interrompeu tudo. E fiquei muito surpreso com o fato de o Santo Padre ter retomado esse projeto. É um sinal de sua proximidade paternal com o que ele chama de “periferias existenciais”.  Digo a verdade: sou menos idoso que o Papa e sinto que essas longas viagens são pesadas. Para ele, abraçar até mesmo esse cansaço é um ato de humildade. Não se trata de um show para mostrar do que ainda é capaz. Como testemunha, digo que é um ato de humildade perante o Senhor que nos chama. Um ato de humildade e obediência à missão.

Alguns repetem: também essa viagem confirma que o Papa prefere o Oriente e negligencia o Ocidente...

CARDEAL TAGLE: Essa ideia de considerar as visitas apostólicas como um sinal de que o Santo Padre “prefere” um continente ou parte do mundo ou despreza outras partes é uma falsa interpretação das viagens papais. Depois dessa viagem, no final de setembro, o Papa planeja visitar Luxemburgo e Bélgica. Ele também visitou muitos países em muitas regiões da Europa. Parece-me que, com essas viagens, ele quer incentivar os católicos em todos os contextos. E também tenha em mente que uma grande parte da humanidade vive nessas áreas do mundo. A Ásia é o lar de dois terços da população mundial. A maioria dessas pessoas é pobre. E muitos batismos são realizados justamente entre os pobres. O Papa Francisco sabe que há muitas pessoas pobres lá, e entre os pobres há essa atração pela pessoa de Jesus e pelo Evangelho, mesmo em meio a guerras, perseguições e conflitos.

Outros apontam que os cristãos, em muitos países visitados pelo Papa, são em pequeno número em comparação com a população.

CARDENAL TAGLE: Antes de fazer suas viagens, o Papa recebeu convites não apenas das Igrejas locais, mas também de autoridades civis e líderes políticos que solicitaram formalmente a presença do Bispo de Roma em seus países. Eles querem a presença do Papa não apenas por motivos de fé, mas também por motivos de interesse para as autoridades civis. Para eles, o Papa continua sendo um símbolo poderoso para a coexistência humana em um espírito de fraternidade e para o cuidado com a Criação.

O senhor, como pastor pertencente à Igreja das Filipinas e depois Cardeal do Dicastério missionário, que experiências e encontros teve com os países e as Igrejas que o Papa visitará nos próximos dias?

CARDINAL TAGLE: Em Papua Nova Guiné, fiz a visita apostólica aos seminários a pedido do cardeal Ivan Dias, que era então prefeito da Congregação de Propaganda Fide. Fiz duas viagens em dois meses, visitando os seminários em Papua Nova Guiné e nas Ilhas Salomão. Também visitei a Indonésia e Cingapura, mas nunca estive em Timor Leste, embora tenha me encontrado muitas vezes com bispos, padres, religiosos e leigos desse país. Para mim, a Ásia é um “mundo composto de diversos mundos” e, como asiático, vejo que viajar pela Ásia abre a mente e o coração para vastos horizontes da humanidade, da experiência humana. O cristianismo também está incorporado na Ásia de maneiras que são surpreendentes para mim. Aprendo muito sobre a sabedoria e a criatividade do Espírito Santo. Sempre me surpreendo com as maneiras pelas quais o Evangelho é expresso e encarnado em meio a diferentes contextos humanos. Minha esperança é que o Papa e todos nós da comitiva papal, e até mesmo os jornalistas, possam ter essa nova experiência, a experiência da criatividade do Espírito Santo.

Quais são os dons e os pontos de conforto que as comunidades eclesiais visitadas pelo Papa em sua próxima viagem podem oferecer a toda a Igreja?

CARDENAL TAGLE: Nesses países, as comunidades cristãs são quase sempre uma minoria, um “pequeno rebanho”. Em lugares como a Europa, a Igreja, no entanto, desfruta de um certo “status” cultural, social e até mesmo civil de respeito. Mas também em muitos países do Ocidente voltamos a essa experiência da Igreja como um pequeno rebanho. E pode ser bom olhar para as Igrejas de muitos países do Oriente para ver como nos comportamos quando estamos em uma condição, em um estado de pequenez. A experiência dos primeiros apóstolos, dos discípulos de Jesus, se repete muitas vezes nesses países. Um pároco do Nepal me disse que o território de sua paróquia é do tamanho de um terço da Itália: ele tem apenas cinco paroquianos espalhados nesse grande território. Estamos em 2024, mas o contexto e a experiência se parecem com os Atos dos Apóstolos. E as pequenas igrejas do Oriente podem nos ensinar.

A primeira etapa da viagem papal é a Indonésia, o país com a maior população muçulmana do mundo.

CARDENAL TAGLE: A Indonésia é uma nação arquipélago, e há uma enorme diversidade de situações culturais, linguísticas, econômicas e sociais. É também o país do mundo com o maior número de habitantes de religião muçulmana. E a grande dádiva do Espírito Santo para a comunidade católica indonésia é a coexistência que não nega a diversidade. Espero que a visita do Papa leve um novo ímpeto à fraternidade entre os fiéis de diferentes religiões.

Em suas visitas, o senhor pôde vivenciar os sinais concretos dessa convivência fraterna?

CARDEAL TAGLE: Disseram-me que o terreno onde está a Universidade Católica é um presente do primeiro presidente. Uma mensagem forte, para mostrar que no povo indonésio todos são aceitos como irmãos e irmãs. Lembro-me também de quando participei do Dia da Juventude na Ásia. Devido ao baixo número de cristãos, havia também muitos jovens muçulmanos entre os voluntários envolvidos na organização. A Conferência Episcopal me deu dois assistentes, ambos muçulmanos, que vi realizando suas tarefas com grande reverência pela Igreja.

Segunda etapa: Papua Nova Guiné.

CARDINAL TAGLE: A Igreja em Papua Nova Guiné é uma Igreja jovem, mas já deu à Igreja universal um mártir, Peter To Rot, que também era catequista. Papua Nova Guiné também é um país multicultural, com várias tribos que ocasionalmente entram em conflito umas com as outras. Mas é um país onde a diversidade pode ser uma riqueza. Se suspendermos nossos preconceitos, mesmo em culturas tribais podemos encontrar valores humanos próximos aos ideais cristãos. E, em Papua Nova Guiné, há lugares onde a natureza é incontaminada. No ano passado, estive lá para a consagração de uma nova catedral. Perguntei ao bispo sobre a água, e ele disse: “podemos beber a água do rio, ela é potável”. Graças à sua sabedoria tribal, eles conseguiram manter a harmonia com a natureza e podem beber diretamente do rio. Algo que nós, nos chamados países desenvolvidos, não temos mais.

Terceira etapa: Timor Leste.

CARDEAL TAGLE: É significativo que o Papa toque a Indonésia e depois o Timor Leste. Dois países que têm uma história de luta e que agora estão em paz. Uma paz frágil, mas que, graças a ambos, parece duradoura. Lá, o relacionamento entre a Igreja local e o governo é muito bom. O governo local também apoia os serviços educacionais relacionados à Igreja. E me parece que a Igreja foi um dos pontos de referência para a população durante a guerra pela independência. O povo de Timor Leste diz que sua fé em Cristo os sustentou durante os anos de luta pela independência.

Quarta etapa, Cingapura.

CARDEAL TAGLE: É um dos países mais ricos do mundo, e é uma maravilha ver um povo que alcançou tal nível de profissionalismo e vanguarda tecnológica em apenas alguns anos e com recursos limitados, graças também ao seu senso de disciplina. O governo de Cingapura garante liberdade a todas as comunidades de crentes e as protege de ataques e atos desrespeitosos. As ofensas contra as religiões são severamente punidas. As pessoas vivem em segurança, assim como os turistas. Mas é necessário equilíbrio. A história nos ensina a ter cuidado para que a aplicação das leis não acabe contradizendo os próprios valores que as leis devem proteger.

Também nesses países - especialmente em Papua Nova Guiné - o trabalho apostólico é pontuado por histórias de missionários mártires. Mas, às vezes, o trabalho dos missionários continua a ser apresentado apenas como uma expressão do colonialismo cultural e político.

CARDEAL TAGLE: Existe essa tendência e essa tentação de ler a história, especialmente a história das missões, com os esquemas culturais de hoje e de impor nossas visões aos missionários que viveram séculos atrás. Em vez disso, a história deve ser lida com calma. Os missionários são um presente para a Igreja. Eles obedecem ao próprio Cristo, que disse aos seus que fossem até os confins da terra para proclamar o Evangelho, prometendo que sempre estaria com eles. Algumas vezes, alguns líderes de nações levaram missionários a diferentes lugares durante os processos de colonização. Mas esses missionários foram para evangelizar, não para serem manipulados e usados pelos colonizadores. Muitos sacerdotes, missionários e religiosos agiram contra as estratégias de seus governos e foram martirizados.

Qual é o elo misterioso que une sempre martírio e missão?

CARDENAL TAGLE: Há dois anos, foi publicado um estudo sobre liberdade religiosa. Havia um dado claro: nos países onde havia intimidação e perseguição, o número de batismos estava aumentando. Onde há uma possibilidade real de martírio, a fé se espalha. E mesmo aqueles que não são crentes se perguntam: de onde vem toda essa força que os leva a oferecer suas vidas? É o Evangelho em ação. E o nosso objetivo, também para o Dicastério para a Evangelização, é ajudar as Igrejas locais, não impor uma forma mentis ou uma cultura diferente da deles”. (Agenzia Fides 26/8/2024)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Mônica

Santa Mônica (A12)
27 de agosto
País: Argélia
Santa Mônica

Mônica nasceu em Tagaste, antiga cidade da Numídia. atual Argélia no norte da África, no ano de 332. Desde cedo dedicava-se ao cuidado dos pobres, que visitava frequentemente. Seus pais a casaram com Patrício, um pagão trabalhador mas colérico, infiel e dado ao jogo.

A sua sogra, também colérica, muito interferiu na vida do casal, tornando ainda mais infeliz a vida de Mônica, que tudo suportava pacientemente em Deus, pedindo em oração a conversão do esposo. Este, embora criticasse a caridade da esposa para com os necessitados, e a sua dedicação à oração, não a impedia, porém, de fazê-lo.

Com grande sabedoria, Mônica usou no seu casamento o que depois ficou conhecido num ditado popular: “quando um não quer, dois não brigam”; se ele estava de mau humor, ela procurava manter o bom humor; se ele gritava, ela se calava. Tal procedimento até hoje é receita para a manutenção da paz no lar. Assim evitava que o marido batesse nela, como era normal acontecer na época com outras mulheres.

Em 371, Patrício, após as muitas orações e sacrifícios de Mônica, converteu-se e se fez batizar, e também sua mãe. Um ano depois, ele morreu.

O casal tinha três filhos, Agostinho, Navígio e Perpétua, que veio a ser religiosa. Agostinho demonstrara desde a infância uma extraordinária inteligência, e por isso fôra enviado aos 16 para estudar Filosofia, Retórica e Literatura em Cartago. Quando Patrício morreu, Agostinho tinha 17 anos, e, por ter forte temperamento e nenhum apoio do pai para o lado religioso, que Mônica muito se esforçara para desenvolver, caíra já numa vida de vícios: jogo, mulheres, e adoção de uma seita maniqueísta. Mônica sofria muito com esta situação, chorava amargamente pelo filho no caminho da perdição eterna. Por ele, aumentava sempre mais as orações e penitências.

Em Cartago, Agostinho progredia como brilhante professor de Retórica. Incomodava-o porém as admoestações da mãe, e por isso, enganando-a, embarcou primeiro para Roma e depois para Milão, onde continuou seu trabalho docente. Mônica não desistiu, e foi encontrá-lo naquela cidade. Por este tempo, Agostinho já vivia numa união irresponsável com uma mulher e tinha um filho, Adeodato.

Querendo aperfeiçoar-se na arte da Retórica, Agostinho passou a ouvir os sermões de Santo Ambrósio. Este bispo, em conversa com Mônica, lhe dissera: “Continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas”. E, tocado pelas pregações de Ambrósio, Agostinho acabou por se converter ao Catolicismo da sua infância, sendo batizado, com Adeodato, na Páscoa de 387. Ele viria a ser um dos maiores santos do período Patrístico da Igreja.

Estava assim realizada a maior obra de Mônica, a conversão e salvação do filho. Reconciliados, e tendo Agostinho abandonado sua vida mundana, os dois, com Navígio, resolveram voltar para Tagaste. No porto de Óstia, perto de Roma, conversavam à espera do embarque, enlevados pelo pensamento da vida no Paraíso Celeste, quando Mônica comentou: “E a mim, o que mais pode me amarrar à Terra? Já obtive meu grande desejo, o ver-te cristão. Tudo o que desejava consegui de Deus”. Pouco depois foi acometida por uma febre que, agravando-se rapidamente, levou ao seu falecimento, em 27 de agosto de 387, com 56 anos. Antes, pediu aos dois filhos que não deixassem de rezar pela sua alma.

 Santa Mônica é padroeira das Mães Cristãs, que a invocam para a conversão de esposos e filhos.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Orações, choro, abnegação, sacrifício e penitência perseverantes – as manifestações da máxima caridade devem começar a partir da própria família, o que não impede outras ajudas, como provou Santa Mônica desde antes de se casar e durante o difícil casamento. Mas muitos querem “salvar o mundo” sem cuidar dos cônjuges, dos filhos, dos pais, dos avós, de parentes doentes… Grandes provas de amor não precisam ser por obras grandiosas, mas precisam ser, obrigatoriamente, a partir das obrigações de estado, e do próximo mais próximo. Embora a conversão de Santo Agostinho tenha sido a maior conquista de sua mãe, antes ela já havia conseguido a do esposo e da sogra, familiares que por natureza são anteriores aos filhos. Afirmou Santa Mônica que “Tudo o que desejava consegui de Deus”, o que já é em si admirável, mas consequente, pois o que for verdadeiramente bom Deus concederá certamente, se confiarmos; por isso esta declaração já é uma prova de santidade… mas, é preciso cuidado com o que desejamos. Deus também nos concederá a Sua ausência infinita, se o quisermos de modo consciente e definitivo. O inferno é a situação que Ele permite aos que desejam irrevogavelmente rejeitá-Lo, ao ponto de recusarem até o Seu perdão, como os demônios.

Oração:

Deus de amor infinito, que por nós tendes entranhas de mãe, concedei-nos por intercessão de Santa Mônica aceitarmos sem revolta as dificuldades, mas delas buscar em Vós as soluções, e embarcados na Nau de Pedro nunca desistirmos de fazer o bem ao próximo, para nela aportarmos no Paraíso. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção (1)

BBC NEWS BRASIL

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção

  • Equipe de Jornalismo Visual da BBC News Brasil
  • 18 de dezembro de 2023
  • Brasil

O território brasileiro abriga hoje apenas 20% das estimadas 1.175 línguas que tinha em 1500, quando chegaram os europeus. E, ao contrário de outros países da região, como Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e até Argentina, o Brasil não reconhece como oficiais nenhuma de suas línguas indígenas em âmbito nacional.

Ainda assim, o Brasil é considerado um dos 10 países com o maior número de línguas no mundo e um dos que possuem maior diversidade linguística – ou seja, grande quantidade de famílias diferentes e de línguas isoladas.

Para dar uma ideia da diversidade linguística e cultural do país, a BBC News Brasil fez uma seleção com a ajuda de especialistas indígenas e não indígenas.

O resultado é este especial, no qual mostramos 10 das línguas indígenas faladas hoje no Brasil, de diferentes famílias e em distintas situações de preservação.

Ikolen

uma língua em assovios

Língua tupi

A língua falada dos Ikolen – também chamados de gavião de Rondônia – é da macrofamília tupi e da subfamília tupi-mondé. Mas eles também têm a impressionante capacidade de se comunicarem através da fala assoviada. O tom e o prolongamento das sílabas são transmitidos no assovio, permitindo que o ouvinte adivinhe as palavras de acordo com o contexto. Essa língua é usada somente em ocasiões específicas.

"A língua de assovios é como a fala normal, mas você assovia em vez de usar as cordas vocais. Então a frequência do som é determinada pela altura em que a língua chega na boca", diz o linguista Denny Moore, do Museu Emílio Goeldi, que trabalha com os ikolen desde 1975.

"Ela não é usada para conversar sobre assuntos não imediatos. É usada na vida prática, especialmente quando é necessário que eles se espalhem por grandes distâncias na floresta, como a caça."

Durante as expedições, ao encontrar um bando de animais desejados, os caçadores se separam para cercá-los por trilhas diferentes. Nesse momento, falam uns com os outros por frases assoviadas que dizem coisas como: "aqui tem macaco preto".

Tanto a língua de assovios quanto os instrumentos musicais tradicionais dos ikolen imitam a língua falada | Foto: Cortesia Denny Moore

Nas aldeias, os assovios também são usados para chamar pessoas, pedir pequenos favores ou convidá-las para atividades como pescar, jogar futebol ou tomar banho no rio. As frases assoviadas também são usadas para sinalizar emergências e perigo.

Isso é possível porque a língua falada dos Ikolen tem características que são raras em línguas europeias. Em português diferentes sílabas são enfatizadas em cada palavra, mudando seu significado (por exemplo, a diferença entre sábiasabia e sabiá).

Já para os ikolen é o tom das sílabas que pode alterar o seu sentido – algo que também acontece em línguas como o mandarim chinês. Por exemplo, kap significa "gordo", mas káp, em tom mais alto, é "semente". As sílabas curtas ou prolongadas também provocam mudanças: aka é "matar", mas aakaa significa "vai".

"A fala tonal dos ikolen faz com que eles consigam, usando essa variação de tons e o prolongamento dos sons, dizer com o assovios o mesmo que diriam com as palavras", diz o linguista e especialista em bioacústica Julien Meyer, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França e colaborador do Museu Goeldi, autor de diversos trabalhos sobre o grupo.

É como se eles imitassem a melodia das palavras sílaba por sílaba.

Julien Meyer  - Centro Nacional de Pesquisa Científica da França

Esse tipo de língua foi identificado em cerca de 70 povos ao redor do mundo, principalmente do continente africano e do sudeste asiático. No entanto, a Amazônia é um dos raros locais onde diversas línguas – pelo menos 10 que já foram pesquisadas – ainda são expressadas em assovios. E novas estão sendo descobertas.

Os ikolen ainda mantém a prática viva no dia a dia das aldeias, algo que já não acontece em muitos grupos.

"Levei meu filho na aldeia central, e em dois dias ele já tinha um nome na fala assoviada. As crianças já o estavam chamando assim para brincar", conta Julien Meyer.

"Mas nas aldeias que ficam mais na fronteira da terra indígena, menos pessoas caçam, porque estão mais perto de áreas desmatadas. Por isso, os assovios são menos usados, acabam sendo dominados só pelos mais velhos."

A Terra Indígena Igarapé Lourdes, onde vivem os ikolen, foi homologada em 1983, mas o processo não considerou toda a área ocupada por eles, o que deixou antigas aldeias de fora.

BBC NEWS BRASIL

O ativismo de missionários religiosos, que chegaram à região nos anos 1960, também inibe a transmissão da cultura verbal tradicional (festas, músicas) dos ikolen para a geração mais nova, de acordo com os pesquisadores.

Especialmente no caso da tradição dos "instrumentos cantantes" – uma versão musical da língua, que usa o mesmo princípio dos assovios, de imitar os sons da fala.

"As músicas dos ikolen são baseadas em um conjunto tradicional de letras, que se referem à sua cosmogonia (teorias sobre a criação do universo). Mas os missionários que atuam na região tentam impedir as cerimônias com os instrumentos, por considerá-las uma afronta à religião cristã", explica Meyer.

Nheengatu

a primeira língua franca do país

Língua tupi

O nheengatu é o principal descendente ainda vivo da língua indígena falada por diversos povos ao longo da costa brasileira quando os portugueses chegaram.

Desde o início da colonização, a língua foi chamada de tupinambá (por causa do povo Tupinambá, um dos que vivia no litoral), tupi antigo e, eventualmente, língua geral brasílica – por causa do seu uso pelos portugueses para se comunicar com os indígenas.

Foi esse uso o que fez com que o tupi antigo fosse a língua mais bem documentada da América portuguesa, segundo a linguista Aline da Cruz, da Universidade Federal de Goiás, em artigo no livro Índio não fala só tupi (Editora 7Letras, 2021).

Além de ter sido objeto da primeira gramática de uma língua brasileira, escrita pelo padre José de Anchieta no século 16, o tupi antigo também foi usado em um dos tratados mais influentes sobre a fauna e a flora brasileiras no século 17 e deu nome científico a plantas como o maracujá (Passiflora murucuja) e animais como a jararaca (Bothrops jararaca).

Segundo Cruz, a difusão do tupi antigo fez com que a língua original ganhasse influências do português e fosse levada para os sertões do centro e sul, onde se tornou a "língua geral paulista", e para o interior do norte brasileiro, onde virou a "língua geral brasílica".

Para comprovar a colonização desses territórios aos espanhóis, a coroa portuguesa proibiu o uso da língua geral no país no século 18 em favor do português.

Ela caiu em desuso no século 19 e, a partir daí, foi chamada pelos indígenas de nheengatu, ou "língua boa" (nheen significa 'língua, falar' e katu '(ser) bom').

BBC NEWS BRASIL

O uso do nheengatu persistiu em grupos como os baré, os baniwa e os warekena, na região do Alto Rio Negro, no Amazonas, onde convive com as línguas originais desses povos.

Ela é considerada uma das línguas oficiais na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM) – o Brasil só tem línguas indígenas reconhecidas como oficiais em âmbito municipal.

"Avançamos muito após a co-oficialização da língua. Adicionamos aulas de nheengatu nas escolas indígenas. E também estamos levando a língua de volta para a região do Baixo Tapajós, no Pará", diz o linguista e professor Edilson Melgueiro, da etnia baniwa.

Segundo ele, entre povos nativos do Ceará e do Piauí também há uma tentativa de recuperar o tupi antigo, por meio do ensino do nheengatu.

"O mais importante dessa retomada é a autoestima. Vejo no fundo dos olhos, no fundo do coração, como é que em muitos de nós – que sofremos muito preconceito por causa das nossas línguas – a autoestima melhorou."

A gente se sente mais humano ao ter a nossa língua mais valorizada.

Edilson Melgueiro Baniwa - Linguista e professor

É possível reconhecer algumas expressões do português no nheengatu como porke (por que) e tenki (tem que), além da semelhança entre vários verbos.

Mas, se a estrutura do português é direta (sujeito, verbo e objeto), no nheengatu a maioria das frases tem sujeito oculto, explica o linguista.

"Se em português se diz 'eu gosto de você', no nheengatu se diz asaisu indé, ou 'gosto de você'. Só usamos o sujeito se queremos dar ênfase a ele."

"Nas línguas indígenas, em geral, o verbo é mais importante do que os pronomes. Acho que isso tem a ver com a nossa cosmovisão. Na nossa mitologia, os seres nos criaram com ações. Então para nós, as palavras são mais fortes quando se tratam de ações", afirma.

Após ser a primeira língua indígena brasileira a ter uma gramática, no século 16, o nheengatu é a primeira a ter uma tradução da Constituição | Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

Segundo estimativas da Unesco, há cerca de 6 mil falantes do nheengatu espalhados entre Brasil, Colômbia e Venezuela.

A antiga língua franca também se tornou a primeira indígena no Brasil a ter sua própria versão da Constituição, oficialmente publicada em cerimônia no final do último mês de julho.

"Essa notícia foi uma alegria imensa para os 23 povos do Rio Negro, porque finalmente a gente tem uma das nossas línguas escrita, reconhecida e sentida. Isso concretiza um desejo dos nossos pais, de nossas lideranças", diz a antropóloga Francy Fontes Baniwa.

Créditos:

Texto e reportagem: Camilla Costa
Design: Caroline Souza
Edição e design de vídeo: Daniel Arce
Desenvolvimento: Marta Martí Marques, Alex Nicholas, Matthew Taylor
Edição e coordenação: Carol Olona
Agradecimentos: Felipe Corazza, Marcos Gurgel, Holly Frampton, Denny Moore, Gustavo Godoy, Bruna Franchetto, Hein van der Voort, Kristina Balykova, Januacele Francisca da Costa, Elissandra Barros, Gasodá Suruí, Julien Meyer, Joana Autuori, Andrés Pablo Salanova, Fernando Orphão de Carvalho, Edison Melgueiro Baniwa, Francy Fontes Baniwa, Janina dos Santos, Maria do Carmo Martins, Esmeralda Maria Piloto, Keila Felicio Iaparrá, Kilia Sanumá, Kalepi Amarildo Sanumá, Cacique Djik Fulni-ô, Fábia Fulni-ô, Éxetina Aristides Terena, Aronaldo Júlio, todas as mulheres e homens indígenas que cederam seus vídeos.
Vídeos:
Ikolen - Falantes: Sena Kéré’áàp Gavião e Vása Séèp Gavião Participantes: Oliveira Gavião e Tarami Gavião Imagens e edição: Julien Meyer e Laure Dentel | Cortesia do Museu Emilio Goeldi Tradução: Denny Moore, João Cipiábíìt Gavião e Julien Meyer
Nheengatu - Falantes: Maria do Carmo Martins e Esmeralda Maria Piloto Imagens e tradução: Edilson Melgueiro Baniwa
Parikwaki - Falante, imagens e tradução: Keila Felicio Iaparrá
Terena - Falante: Éxetina Aristides Imagens e tradução: Aronaldo Júlio
Guató - Falante: Eufrásia Ferreira (Djariguka) Imagens: Kristina Balykova e Gustavo Godoy Edição e tradução: Kristina Balykova
Yaathê - Falante: Cacique Djik Fulni-ô (Cícero de Brito) Imagens: Fábia Fulni-ô Tradução: Januacele Francisca da Costa
Ka’apor - Falantes e sinalizantes: Jarara Pirã Ka'apor e Sypo Ruwy mãi (Joana Ka'apor) Imagens, edição e tradução: Gustavo Godoy
Kayapó - Falante: Nhàkture (Maria Eugênia) Imagens, edição e tradução: Andrés Pablo Salanova
Kheuól - Falante, imagens e tradução: Janina dos Santos
Sanöma - Falante: Kilia Sanumá Imagens: Kalepi Amarildo Isaac Sanumá Tradução: Joana Autuori

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-3a23b0c2-e594-4145-ad26-32fbee5e9203

O Papa convida você a experimentar a beleza de ter Jesus como amigo

Antoine Mekary | ALETEIA

I.Media - publicado em 25/08/24

O Papa Francisco garantiu aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro que quanto mais aderimos ao Evangelho e aos sacramentos, mais percebemos que Ele tem “palavras de vida eterna”.

“Não é fácil seguir o Senhor”, mas “quanto mais nos aproximamos Dele (…), mais experimentamos a beleza de tê-lo como amigo”, disse o Papa Francisco durante a oração do Angelus na janela do Vaticano. Palácio Apostólico em 25 de março. Agosto de 2024.

Voltando ao Evangelho deste 21º Domingo do Tempo Comum ( Jo 6,60-69 ), o Pontífice argentino evocou a resposta de São Pedro, que disse a Jesus: «Senhor, para quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).

Francisco recordou que Pedro pronunciou estas palavras “num momento crítico”, quando Jesus tinha sido abandonado por muitos dos seus discípulos. Mas os Doze permaneceram fiéis. “Ouviram-no pregar, viram os milagres que realizou e continuaram a partilhar com ele os momentos públicos e a intimidade da vida quotidiana”, dizem-nos os Evangelhos.

«Os discípulos nem sempre compreendem o que o Mestre diz e faz; às vezes é-lhes difícil aceitar os paradoxos do seu amor, as exigências extremas da sua misericórdia, a radicalidade com que se entrega a todos», reconheceu o Papa.

Com efeito, «as opções de Jesus muitas vezes ultrapassam a mentalidade comum, ultrapassam os próprios cânones da religião e das tradições institucionais, a ponto de criar situações provocativas e embaraçosas. Não é fácil segui-lo», explicou o Bispo de Roma.

Mas, apesar de tudo, os apóstolos só encontraram em Jesus «a resposta à sede de vida, de alegria e de amor que os move; só através dele experimentaram a plenitude de vida que procuram, para além dos limites do pecado e até da morte». " Referindo-se de passagem à traição de Judas, o Papa sublinhou que “todos menos um, apesar de muitas quedas e arrependimentos, permanecerão com Ele até ao fim”.

Salientando que ainda hoje “não é fácil seguir o Senhor, compreender o seu modo de agir, fazer nossos os seus critérios e os seus exemplos”. Mas Francisco garantiu aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro: “quanto mais aderirmos ao seu Evangelho, recebermos a sua graça nos sacramentos, permanecermos na sua companhia na oração, imitá-lo na humildade e na caridade, (…) mais nós perceba que somente Ele tem 'palavras de vida eterna'."

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/08/25/el-papa-invita-a-experimentar-la-belleza-de-tener-a-jesus-como-amigo

Do Comentário sobre o Evangelho de João, de Santo Tomás de Aquino, presbítero

O Bom Pastor (Pela Fé Católica)

Do Comentário sobre o Evangelho de João, de Santo Tomás de Aquino, presbítero

(Cap. 10, lect.3)      (Séc. XI)

O resto de Israel encontrará pastagens e repouso

Eu sou o bom Pastor (Jo 10,11). Que Cristo seja pastor, isto claramente lhe compete. Pois pelo pastor é conduzido e alimentado o rebanho, e os fiéis, por Cristo, são refeitos pelo alimento espiritual e ainda por seu corpo e sangue. Éreis outrora, diz o Apóstolo, como ovelhas sem pastor; mas agora vos voltastes para o pastor e guarda de vossas vidas (1Pd 2,25). E o Profeta: Como pastor apascentará o seu rebanho (Is 40,11).  

Cristo disse que o pastor entra pela porta e que ele é a porta. Aqui diz ser ele o pastor; é preciso então que ele entre por si mesmo. Entra, na verdade, por si mesmo porque se manifesta a si e por si mesmo conhece o Pai. Nós, porém, entramos por ele, porque por ele somos cumulados de beatitude.  

Contudo, atenta em que nenhum outro, exceto ele, é porta, porque nenhum outro é luz verdadeira, mas apenas por participação: Não era a luz, isto é, João Batista, mas veio para dar testemunho da luz (Jo 1,8). De Cristo, porém, diz: Era a luz verdadeira que ilumina a todo homem (Jo 1,9). Por este motivo ninguém diz ser porta; é propriedade exclusiva de Cristo. Quanto a ser pastor, comunicou-o a outros e deu a seus membros; Pedro é pastor, os outros apóstolos foram pastores e todos os bons bispos também. Dar-vos-ei, diz a Escritura, pastores segundo meu coração (Jr 3,15). Os prelados da Igreja, que são filhos,são todos pastores; no entanto diz no singular: eu sou o bom Pastor, para seguir a virtude da caridade. Ninguém é bom pastor, se não se tornar pela caridade um só com Cristo e membro do verdadeiro pastor.  

O múnus do bom pastor é a caridade, por isso diz: O bom pastor dá a vida por suas ovelhas (Jo 10,11). É de notar-se a diferença entre o bom pastor e o mau; o bom pastor preocupa-se com o bem do rebanho; o mau com o próprio.  

Em relação aos pastores terrenos, não se exige do bom pastor que se exponha à morte para defender o rebanho. Mas já que a salvação espiritual da grei tem mais importância que a vida corporal do pastor, cada pastor espiritual deve aceitar a perda de sua vida pela salvação do rebanho. É isto que o Senhor diz: O bom pastor dá a vida, a vida corporal, por suas ovelhas, pela autoridade e pela caridade. Ambas são exigidas: que lhe pertençam e que as ame; porque a primeira sem a segunda não basta.  

Desta doutrina, Cristo nos deu o exemplo: Se Cristo entregou a vida por nós, também nós temos de entregar a vida pelos irmãos (1Jo 3,16).

Responsório Ez 34,12b; Jo 10,28b

R. Visitarei minhas ovelhas
* E as reconduzirei de todos os lugares
pelos quais foram dispersas no dia de nuvens e trevas.
V. Não deixarei perecer minhas ovelhas
e ninguém vai roubá-las de mim. * E as reconduzirei.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/oficio-das-leituras-de-segunda-feira-da-21a-semana-do-tempo-comum/

Na alegre esperança de Cristo (1)

Na alegre esperança de Cristo (Opus Dei)

Na alegre esperança de Cristo

Deixar que o amor de Deus nos toque, deixar que Cristo olhe para nós. A esperança abre um mundo diante de nós, porque se fundamenta no que Deus quer fazer em nós.

04/12/2017

O que torna a vida valiosa? O que faz com que a minha vida seja valiosa? No mundo atual, a resposta a essa pergunta com frequência gira ao redor de dois polos: o sucesso que somos capazes de alcançar e a opinião que os outros têm de nós. É claro que não são questões banais: a opinião alheia tem consequências na vida familiar, social e profissional. O sucesso é a expectativa lógica daquilo que empreendemos. Ninguém faz alguma coisa com o objetivo de fracassar. No entanto, às vezes, aparecem pequenas ou não tão pequenas derrotas em nossa vida, ou outros podem formar uma opinião sobre nós em que não nos sentimos refletidos.

A experiência do fracasso, do desprestígio, ou a consciência da própria incapacidade – já não somente no mundo profissional, mas inclusive no esforço de viver uma vida cristã – podem levar-nos ao desânimo, ao desalento, e, em último termo, à desesperança.

Na atualidade, a pressão por ter sucesso em diferentes níveis, por ser alguém, ou, pelo menos, por podermos dizer que somos alguém é mais forte que em outras épocas. E, na realidade, em vez do que nós somos – filho, mãe, irmão, avó –, os holofotes estão colocados sobre o que somos capazes de fazer. Por isso, hoje estamos mais vulneráveis aos vários tipos de derrotas que a vida costuma trazer consigo: contratempos que antes se resolviam ou se suportavam com integridade, hoje causam com frequência uma tristeza ou frustração de fundo, desde idades muito precoces. Nesse mundo com tantas expectativas e desilusões, é possível então viver, como propunha São Paulo, “alegres na esperança” (Rom 12,12)?

NA ATUALIDADE, A PRESSÃO POR TER SUCESSO EM DIFERENTES NÍVEIS, POR SER ALGUÉM, OU, PELO MENOS, POR PODERMOS DIZER QUE SOMOS ALGUÉM É MAIS FORTE QUE EM OUTRAS ÉPOCAS

Na sua carta de fevereiro, o Prelado do Opus Dei dirige o olhar à única resposta verdadeiramente lúcida a essa pergunta. Uma resposta que se levanta com um sim decidido: “fazei, Senhor, que a partir da fé no vosso Amor vivamos cada dia com um amor sempre novo, numa alegre esperança”[1]. Ainda que, às vezes, a falta de esperança possa parecer “menos ingênua”, só será se fecharmos os olhos ao Amor de Deus e à sua permanente proximidade. O Papa Francisco nos recordava isso em uma das suas catequeses sobre a esperança: “A esperança cristã é sólida, eis porque não desilude. (...) Não está fundada sobre o que nós podemos fazer ou ser, e nem sequer naquilo em que podemos acreditar. O seu fundamento, ou seja, o fundamento da esperança cristã é o que de mais fiel e seguro pode existir, isto é, o amor que o próprio Deus alimenta por cada um de nós. É fácil dizer: Deus nos ama. Todos nós dizemos isso. Mas pensem um pouco: cada um de nós é capaz de dizer: estou convencido de que Deus me ama? Não é tão fácil dizê-lo. Mas é verdade”[2].

A grande esperança

Em sua pregação e em suas conversas, São Josemaria contemplava, muitas vezes, a vida dos primeiros cristãos. A fé era para eles, mais do que uma doutrina a aceitar ou um modelo de vida a realizar, o dom de uma vida nova: o dom do Espírito Santo, que havia sido derramado em suas almas depois da ressurreição de Cristo. Para os primeiros cristãos, a fé em Deus era objeto de experiência e não só de adesão intelectual: Deus era uma Pessoa realmente presente em seu coração. São Paulo escrevia aos fieis de Éfeso, referindo-se à sua vida antes de conhecer o Evangelho: “lembrai-vos de que naquele tempo estáveis sem Cristo, sem direito da cidadania em Israel, alheios às alianças, sem esperança da promessa e sem Deus, neste mundo” (Ef 2, 11–12). Com a fé, por outro lado, tinham recebido a esperança, uma esperança que “não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom 5, 5).

Ao longo de vinte séculos, Deus não deixa de chamar-nos a esta “grande esperança”, que relativiza todas as outras esperanças e decepções. “Precisamos de esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantenham a caminho. Mas, sem a grande esperança que deve superar tudo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir”[3].

AINDA QUE, ÀS VEZES, A FALTA DE ESPERANÇA POSSA PARECER “MENOS INGÊNUA”, SÓ SERÁ SE FECHARMOS OS OLHOS AO AMOR DE DEUS E À SUA PERMANENTE PROXIMIDADE

É bom considerar se estamos acostumados à realidade de um Deus que salva – um Deus que vem encher-nos de esperança –, até o ponto de, às vezes, ver isso apenas como uma ideia, que não tem força real na nossa vida. A Cruz, que parecia um grande fracasso aos olhos dos que tinham esperança em Jesus, se converteu, com a Ressurreição, no triunfo mais decisivo da história. Decisivo, porque não se trata de um êxito só de Jesus: com Ele todos vencemos. “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” no Ressuscitado. Os discípulos de Emaús olhavam o passado com saudades. “Nós esperávamos”, diziam (Lc 24, 21): não sabiam que Jesus caminhava com eles, que abria para eles um futuro apaixonante, à prova de qualquer outro desengano. “Aviva a tua fé. – Cristo não é uma figura que passou. Não é uma recordação que se perde na história. Vive! ‘Jesus Christus heri et hodie: ipse et in saecula!’, diz São Paulo. Jesus Cristo ontem e hoje e sempre!”[4]

Deixar-nos tocar pelo amor de Deus

São Paulo descrevia assim a raiz da vida cristã: “... Pela fé, eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu. É Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gal 2,19-20). Para o Apóstolo, o cristianismo consiste, em primeiro lugar, na realidade de que Cristo morreu por nós, ressuscitou e, do Céu, enviou a nossos corações o seu Espírito Santo, que nos transforma e abre os nossos olhos para uma vida nova. “Quem é atingido pelo amor começa a intuir em que consistiria propriamente ‘vida’. Começa a intuir o significado da palavra esperança”[5]. Como para a samaritana, Maria Madalena, Nicodemos, Dimas, os discípulos de Emaús, Jesus nos dá um novo modo de olhar: de olhar-nos a nós mesmos, os outros e Deus. E somente a partir deste novo olhar que Deus nos dá, o esforço por melhorar e a luta por imitá-lo têm sentido: vistos por si mesmos, estas duas coisas seriam “vaidade e vento que passa” (Ecl. 2,11), um empenho inútil.

Ao morrer na Cruz “por nós homens e pela nossa salvação”[6], Cristo nos livrou de uma vida de relação com Deus concentrada em preceitos e limites negativos. Libertou-nos para uma vida feita de Amor: “vos revestistes do homem novo, que vai se renovando constantemente à imagem daquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento”. (Cl 3,10). Trata-se, então, de conhecer o Amor de Deus e de deixar-se tocar por Ele, para retomar – a partir dessa experiência – o caminho para a santidade. Encontrar Deus e deixar-nos transformar por Ele é o essencial. Pouco depois de sua eleição, o Prelado do Opus Dei nos recordava: “quais são as prioridades que Nosso Senhor nos apresenta neste momento histórico do mundo, da Igreja e da Obra? A resposta é clara: em primeiro lugar, cuidar da nossa união com Deus com delicadeza de apaixonados, partindo da contemplação de Jesus Cristo, rosto da Misericórdia do Pai. O programa de São Josemaria será sempre válido: ‘Que procures Cristo. Que encontres Cristo. Que ames a Cristo’“[7]. A união com Deus nos permite viver a Vida que Ele nos oferece. Procurar o rosto de Cristo, e deixar-nos olhar por Ele é um caminho esplêndido para aprofundar nessa vida de Amor.

Lucas Buch

Tradução: Mônica Diez


[1] F. Ocáriz, Carta pastoral, 14-II-2017, n. 33.

[2] Francisco, Audiência, 15-II-2017.

[3] Bento XVI, Enc. Spe Salvi (30-XI-2007), n. 31.

[4] São Josemaria, Caminho, n. 584

[5] Bento XVI, Enc. Spe Salvi (30-XI-2007), n. 27.

[6] Missal Romano, Símbolo niceno-constantinopolitano.

[7] F. Ocáriz, Carta pastoral, 14-II-2017, n. 30 (cfr. Caminho, n. 382).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF