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terça-feira, 3 de setembro de 2024

'Se seus filhos têm celular, quem manda neles são as redes sociais' (1)

Pediatra e ativista pela infância, como se autodefine, Daniel Becker tem se tornado uma das principais vozes quando o assunto é o bem-estar de crianças e adolescentes (Crédito,Marco Weyne/Divulgação)

'Se seus filhos têm celular, quem manda neles são as redes sociais', diz pediatra Daniel Becker

31 agosto 2024

Ele tem mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, rede social que utiliza para falar, dentre outras coisas, que crianças não deveriam estar ali.

Pediatra e ativista pela infância, como se autodefine, Daniel Becker tem se tornado uma das principais vozes quando o assunto é o bem-estar das crianças.

Ele defende cuidados simples, como a interação com elas, brincadeiras ao ar livre, acolhimento e criação de intimidade com os filhos.

Parece algo básico, mas a vida agitada e especialmente o uso excessivo do celular estão distanciando os adultos das crianças, causando uma série de efeitos, alerta Becker.

Para o pediatra, o celular se interpõe entre o olhar dos cuidadores e das crianças, tornando-se uma barreira para a criação de vínculo, afeto e intimidade.

Isso gera o que ele chama de "parentalidade distraída", o que pode ter até mesmo consequências catastróficas.

Estamos tão apegados a esse aparelho, que, segundo o médico, que é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e é mestre em saúde pública, até a televisão é melhor que o celular.

Ao menos você tem maior poder de escolha sobre o que assistir na TV e não fica submetido aos algoritmos, diz Becker, de seu consultório no Rio de Janeiro, nesta entrevista realizada por videochamada.

Mas, embora o celular seja o meio de propagação de conteúdos "viciantes" e comparáveis ao "lixo" que está nas redes sociais, o pediatra diz que dá para estabelecer uma relação minimamente saudável para crianças e adolescentes com ele.

BBC News Brasil - Este é um ano de eleições municipais, mas o debate entre os candidatos passa longe de temas voltados para a infância. O que um bom plano de governo voltado à infância deveria ter, na sua opinião?

Daniel Becker - Proteger a criança e promover a saúde e a qualidade de vida dela significa cuidar das famílias também, especialmente das mães. Existem muitas políticas que são municipais e que estão fora do radar, como a cobertura de creches.

O Brasil tem a meta de ter 50% de cobertura de creche [ou seja, ter creche para ao menos metade das crianças de 0 a 3 anos], mas existem municípios onde não há praticamente nenhuma creche. E, sem creche, você tem uma mãe completamente assoberbada que não tem onde deixar a criança, ou vai deixar sob cuidados precários.

No plano da saúde, é importante o investimento na saúde da família, que envolve, dentre outras coisas, a vacinação, algo que depende muito do município. O apoio à amamentação, crucial para o bebê e para a mãe, também precisa ser bem desenvolvido.

Todo médico de atenção básica e todo médico de família deveria ser treinado para dar apoio à amamentação. Temos uma política aqui no Brasil maravilhosa que são os bancos de leite, mas o município sequer divulga isso, muitas vezes.

Outra atividade muito bacana são os grupos de gestantes e os grupos de puérperas, que podem ser formados por meio da atenção básica da saúde. Os programas municipais de infância estão trabalhando algo também importantíssimo, que são os programas de educação parental.

Na maioria das vezes, as famílias, especialmente as mais pobres, não têm noção da importância, por exemplo, do estímulo ao desenvolvimento, do carinho e do afeto na criação dos filhos.

Isso inclui orientações sobre uma boa alimentação também. As pessoas não sabem que miojo não faz mal, que dar salgadinho e refrigerante para o bebê faz mal. Hoje, 80% das crianças acima de 8 meses já provaram coisas açucaradas, inclusive refrigerantes.

Tem outra política que considero especialmente importante e que é muito benéfica para toda a sociedade: a cidade amiga da criança.

Ou seja, manter as praças bem cuidadas, acessíveis, iluminadas, seguras, com bons brinquedos, com sombra, arborizar as calçadas. A brincadeira no espaço público é o melhor benefício possível para uma criança: vai beneficiar saúde física, mental, espiritual, emocional, melhora a imunidade, reduz problemas de comportamento, melhora o apetite.

Além disso, ativa o turismo e o comércio, aumenta a arrecadação da prefeitura.

BBC News Brasil - O senhor fala muito da importância de brincar em meio à natureza, no parque, na areia. Mas esses espaços, os parques, geralmente não estão nas periferias. Ou seja, as crianças da periferia, mais uma vez, são privadas dessa convivência.

Becker - Isso se chama racismo ambiental ou injustiça ambiental ou injustiça recreativa também.

BBC News Brasil - O uso do celular por crianças e adolescentes é um tema, mas queria perguntar antes sobre o uso pelos adultos. O senhor usa um nome para as consequências disso, "parentalidade distraída". Do que se trata?

Becker - O celular tem um apelo viciante muito mais profundo do que a televisão, e o adulto se perde nas redes sociais, deixando de olhar para a criança.

O celular acaba se interpondo entre o olhar do pai e do filho. O olhar é fundamental para a criança, porque é nesse olhar que ela vai encontrar o afeto, o carinho e o vínculo.

É na interação com a gente, por exemplo, que a linguagem se desenvolve. Não existe desenvolvimento da linguagem olhando para tela ou vídeo.

A precarização desse vínculo gera um empobrecimento de relação, e isso vai afetar a autoestima da criança. Ela vai perceber que aquele negócio na mão do pai é mais importante do que ela. Não é apenas o desenvolvimento em geral que está em risco. Acidentes estão acontecendo.

Canso de ouvir que filho não vem com manual. Mas o manual está ali dentro dos olhos dos seus filhos. Olhe para eles. Ninguém precisa passar duas horas brincando com a criança no chão para desenvolver intimidade. São ações simples, é o convívio simples, é acordar a criança, dar o café da manhã, dar um banho, contar uma história, jantar junto, brincar um pouquinho. Contar histórias na hora de dormir, que é um gesto simples, mas marca a criança pelo resto da vida dela de forma positiva.

Esse convívio gera uma coisa chamada intimidade, que é a chave da educação. Quem consegue intimidade com seus filhos não precisa apelar nem para a permissividade excessiva, nem para o castigo, para a palmada, para coisas piores. Castigo e palmada não fazem ninguém aprender nada.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c5yd0d2vplno

A Palavra de Deus nos Santos Padres

Rezar a Deua (CNBB Norte 2)

A Palavra de Deus nos Santos Padres

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)  

A Palavra de Deus possui uma validade que não passa, é eterna a sua normalidade porque ela provém de Deus Uno e Trino na qual ela visa à conversão das pessoas e dos povos. Tudo o que sai da boca do Senhor e vem a este mundo não volta para Deus sem dar o seu devido fruto (cf. Is 55,11). Jesus é a Palavra eterna do Pai em comunhão com o Espírito Santo. Ele nos revelou o Pai: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Nós estamos prestes a iniciar o mês bíblico, onde refletiremos a importância da Palavra de Deus nas nossas comunidades eclesiais em vista da conversão de vida e pela necessidade de realizar práticas de amor. Os primeiros escritores cristãos, os santos padres perceberam a Palavra de Deus como compromisso para uma vida de santidade no mundo para que assim o Reino de Deus crescesse sempre mais pelas suas atuações junto às suas comunidades, às pessoas necessitadas e pobres. 

As duas alianças 

Santo Ireneu de Lião, bispo, nos séculos II e III, afirmou que todos os apóstolos ensinaram a existência de duas alianças para dois diversos povos; no entanto único e idêntico é Deus que os concedeu para a utilidade dos seres humanos e à medida que as pessoas creram em Deus (1). O Antigo Testamento foi dado ao serviço divino, para o louvor próprio do Senhor e esse era ao mesmo tempo um símbolo das realidades celestes, pois o ser humano ainda não podia ver as coisas de Deus senão pelo seu Filho, Jesus Cristo, vindo a este mundo, fundamentando o Novo Testamento (2). 

O Antigo Testamento cumpriu-se em Cristo Jesus

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V teve presentes as idades que se cumpriram para a vinda de Cristo Jesus de modo que o Antigo Testamento deu o seu cumprimento no enviado do Pai, o Messias. A primeira idade iniciou com a criação do gênero humano e foi até Noé, pois com o dilúvio, ele construiu a arca (3). O segundo período foi até Abraão na qual ele foi chamado pai de todos os povos, de modo que o imitaram na fé. Ele também estava ligado ao futuro povo de Israel, antes mesmo que os povos acolhessem a fé cristã para que toda a terra adorasse o Deus verdadeiro e da qual Cristo, o Redentor, viria da sua descendência segundo a carne (4). Para Santo Agostinho estas duas etapas são percebidas com toda a clareza já nos livros do Antigo Testamento. O Evangelho de Mateus (cf. Mt 1,17) afirmou a descendência corpórea do Senhor Jesus Cristo na realidade humana afirmada no Antigo Testamento (cf. Is 7,14) (5). 

Jesus Cristo revelou o Novo Testamento

O bispo de Hipona ainda disse que Jesus Cristo revelou o Novo Testamento da hereditariedade eterna, na qual o ser humano novamente criado pela graça de Deus é chamado a viver uma vida nova no amor do Senhor. Ele também mostrou que os patriarcas, os profetas, as pessoas justas no Antigo Testamento almejavam em ver o Messias, o Salvador da humanidade (cf. Mt 13,17).  Assumindo a realidade humana, como a fome, a sede, o sofrimento, a dor, a cruz, Ele chegou à glória da ressurreição, para desta forma elevá-la até a divina, em vista da redenção de todas as pessoas junto de Deus (6).  

Jesus Cristo é a salvação das pessoas justas do Antigo Testamento

São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV disse que no Antigo Testamento, muitas pessoas justas, profetas sofreram perseguições, foram mártires ou mesmo viveram bem a lei do Senhor Deus acreditando na promessa divina da salvação, como dom em unidade com Cristo Jesus. O caso dos Macabeus (cf. 2 Mc 7) que sofreram o martírio, passaram a paixão de Cristo, não a teriam assumido se não fosse pela morte de Cristo por toda a humanidade. Eles imitaram o Senhor, mesmo não o conhecendo antes. Desta forma nenhum deles teriam alcançado a perfeição, sem a fé  e a caridade em Cristo Jesus. O Logos, Jesus Cristo foi anunciado de uma forma posterior, mas também isso antes ocorreu pelas almas das pessoas justas. Se eles não conheceram a cruz de Cristo, no entanto viveram conformidade à cruz do Senhor e na unidade da sua ressurreição (7).  

O Antigo Testamento em função do Novo Testamento

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V afirmou que o Antigo Testamento fosse lido em função do Novo Testamento. Para o bispo é fundamental a palavra de São Paulo que diz que “Quando virá o que é perfeito, será abolido aquilo que é imperfeito” (1 Cor 13,10). Isto valeu pelo Antigo Testamento por causa do Novo Testamento, não que ele fosse imperfeito, mas a antiga aliança apontou para a nova aliança. Desta forma, o Senhor exige de seu novo povo frutos e dons maiores que o povo da antiga aliança, por causa da vinda do Messias, do Salvador. Deus, em Jesus Cristo não prometeu mais ao ser humano uma terra onde fluía leite e mel, nem uma longa idade, abundância de pão e de vinho, mas acompanhadas por obras de caridade, o Senhor promete ao ser humano o céu, o paraíso, os bens celestes, a dignidade de ser filhos e filhas adotivos no Pai, irmãos e irmãs no Filho Unigênito, iluminados pelo Espírito Santo, participantes da sua gloria e do seu Reino (8). 

A Palavra de Deus é sempre viva e eficaz para a nossa vida de seguidores e de seguidoras de Jesus Cristo, de sua Igreja e de seu Reino. Ela não irá passar (cf. Mt 24,25) porque ela é vida eterna em vista da conversão do ser humano e de sua salvação.  

______________

Notas:

1 Cfr. Ireneu de Lião. IV,32,2. Paulus, São Paulo, 1995, pg. 470.
2 Cfr. Idem, pg. 470.
3 Cfr. Agostino. Come catecchizzare i principianti, 2, 39-40. In: La Teologia dei Padri, Volume IV. Roma:
Città Nuova Editrice. 1982, pg. 197.
4 Cfr. Idem, pg. 197.
5 Cfr. Ibidem, pg. 197.

6 Cfr. Ibidem, pg. 198.
7 Cfr. Gregorio di Nazianzo. Discorso in lode dei Maccabei, 15,1-2. In: Ibidem, pg. 197.
8 Cfr. Giovanni Crisostomo. Commento al Vagelo di San Matteo, 16,4-5. In: Ibidem, págs. 190-191.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Transmitir a fé (I) (2)

Foto: Mhonpoo (cc).| Opus Dei

Transmitir a fé (I)

É na própria família que se forja o caráter, a personalidade, os costumes... e também se aprende a conviver com Deus. Uma tarefa que cada dia é mais necessária, como se assinala neste artigo.

03/01/2012

O MISTÉRIO DA LIBERDADE

Ao utilizar a liberdade pessoal, as pessoas nem sempre fazem o que mais lhes convém, ou o que pareceria previsível tendo em conta os meios empregados. Às vezes, as coisas são bem feitas mas não saem como se esperava – pelo menos, aparentemente – e pouco serve culpar-se por esses resultados ou atribuir a culpa a outros.

O mais sensato é pensar como educar cada vez melhor e como ajudar outros a fazerem o mesmo; não há, neste âmbito, fórmulas mágicas. Cada um tem o seu próprio modo de ser, que o leva a explicar e a encarar as coisas de modo diverso. O mesmo se pode dizer dos educandos que, embora vivam num ambiente semelhante, possuem interesses e sensibilidades diversas.

Essa variedade não é, no entanto, um obstáculo. Aliás, amplia os horizontes educativos: por um lado, possibilita que a educação se enquadre, realmente, no quadro de uma relação única, alheia a estereótipos; por outro, a relação com os temperamentos e caráteres dos diversos filhos favorece a pluralidade de situações educativas.

Foto: More Good Foundation (cc). | Opus Dei

Por isso, se bem que o caminho da fé seja o mais pessoal que existe – pois faz referência ao mais íntimo da pessoa, a sua relação com Deus –, podemos ajudar a percorrê-lo; e isso é a educação. Se considerarmos com calma na nossa oração pessoal o modo de ser de cada pessoa, Deus dar-nos-á luzes para acertar.

Transmitir a fé não é tanto uma questão de estratégia ou de programação, mas é facilitar que cada um descubra o desígnio de Deus para a sua vida. Ajudá-lo a que veja, por si próprio, que deve melhorar e em quê, porque nós, de fato, não mudamos ninguém, eles mudam porque querem.

DIVERSOS ÂMBITOS DE ATENÇÃO

Há diversos aspetos que têm grande importância para transmitir a fé. Um primeiro é talvez a vida de piedade na família, a proximidade a Deus na oração e nos sacramentos. Quando os pais não a “escondem” – às vezes involuntariamente –, esse convívio com Deus manifesta-se em ações que O tornam presente na família, de um modo natural e que respeita a autonomia dos filhos. Abençoar as refeições, ou rezar com os filhos pequenos as orações da manhã ou da noite, ou ensinar-lhes a recorrer aos Anjos da Guarda ou a ter manifestações de carinho com Nossa Senhora, são modos concretos de favorecer a virtude da piedade nas crianças, tantas vezes dando-lhes recursos que os acompanharão por toda a vida.

Outro meio é a doutrina; uma piedade sem doutrina é muito vulnerável perante o assédio intelectual que sofrem ou sofrerão os filhos ao longo da vida; necessitam de uma formação apologética profunda e, ao mesmo tempo, prática.

Logicamente, também neste campo é importante saber respeitar as peculiaridades próprias de cada idade. Muitas vezes, falar sobre um tema de atualidade ou de um livro poderá ser uma ocasião de ensinar a doutrina aos filhos mais velhos (isto, quando não sejam eles próprios que se nos dirijam para nos perguntarem).

Com os menores, a formação catequética que podem receber na paróquia ou na escola é uma ocasião ideal. Rever com eles as lições que receberam ou ensinar-lhes de modo sugestivo aspectos do Catecismo que talvez tenham sido omitidos, fará com que as crianças entendam a importância do estudo da doutrina de Jesus, graças ao carinho que os pais demonstram por ela.

Outro aspecto relevante é a educação nas virtudes. Quando há piedade e doutrina, mas faltam virtudes, os filhos acabarão pensando e sentindo como vivem, e não como lhes dite a razão iluminada pela fé, ou a fé assumida, porque pensada. Formar as virtudes requer salientar a importância da exigência pessoal, do empenho no trabalho, da generosidade e da temperança.

Educar nesses bens eleva o ser humano acima dos desejos materiais; torna-o mais lúcido, mais apto para entender as realidades do espírito. Aqueles que educam os filhos com pouca exigência – nunca lhes dizem que “não” a nada e procuram satisfazer todos os seus desejos – fecham-lhes as portas do espírito.

É uma condescendência que pode nascer do carinho, mas também do querer poupar o esforço que exige educar melhor, pôr limites aos apetites, ensinar a obedecer ou a esperar. E como a dinâmica do consumismo é de per si insaciável, cair nesse erro leva as pessoas a estilos de vida caprichosos e volúveis e introduzem-nos numa espiral de procura de comodidade que implica sempre um déficit de virtudes humanas e de interesse pelos outros.

Crescer num mundo em que todos os caprichos são saciados é uma pesada carga para a vida espiritual, que incapacita a alma – quase na raiz – para a doação e o compromisso.

Outro aspeto importante é o ambiente, pois tem uma grande força de persuasão. Todos conhecemos jovens educados na piedade que se viram arrastados por um ambiente que não estavam preparados para superar. Por isso, é preciso estar pendentes de onde se educam os filhos e criar ou procurar ambientes que facilitem o crescimento da fé e da virtude. É algo parecido ao que ocorre num jardim: nós não fazemos crescer as plantas, mas podemos sim proporcionar os meios – adubo, água, etc. – e o clima adequados para que cresçam.

Como aconselhava São Josemaria aos pais: "procurai dar-lhes bom exemplo, procurai não esconder a vossa piedade, procurai ser puros na vossa conduta: então aprenderão e serão a coroa da vossa maturidade e da vossa velhice" [5].

A. Aguiló

[5] São Josemaria Escrivá, Tertúlia, 12-11-1972, em "Educação dos filhos"

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/transmitir-a-fe-i/

“Vivemos com naturalidade” (3)

Fiéis lotam a igreja principal da Administração Apostólica na missa dominical | Davi Corrêa / ACI Digital

“Vivemos com naturalidade”, dizem católicos nascidos e criados no rito romano antigo em Campos.

Por Natalia Zimbrão*

31 de agosto de 2024

A vida paroquial

O padre Ivoli Latrônico é pároco do Imaculado Coração de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Campos dos Goytacazes, maior cidade do Estado do Rio de Janeiro em área, com mais de 4 mil km², e o quinto maior em população, com 483.540 pessoas.

“Os paroquianos têm uma vida muito corrida no sentido de trabalho, coisas de uma cidade grande”, diz o padre Ivoli. “A questão da frequência é um pouco diferente de uma paróquia do interior, por exemplo, onde o acesso é mais fácil, por conta de uma proximidade da igreja”.

Padre Ivoli coloca o sal bento na boca de bebê durante a celebração do batismo na igreja principal da Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

Mas “a vida dos paroquianos, da paróquia em si, é muito sadia”, ressaltou o padre. “É uma paróquia normal. Embora pertença à Administração Apostólica e tenha a peculiaridade do rito na forma antiga, mas temos movimentos, pastorais, pastoral da acolhida, pastoral dos jovens, associações como Apostolado da Oração, Congregação Mariana, catequese, Cruzada Eucarística. Então, é uma vida muito normal, como outras paróquias, sendo que temos aquela característica da forma mais antiga da celebração dos sacramentos e a orientação mais tradicional da Igreja”, disse.

O casal Rafael Ferreira e Ana Cristina de Souza cresceu fazendo parte dessas atividades paroquias e hoje incentivam os filhos a seguir o mesmo caminho. “Desde novos, sempre fizemos parte de grupos e associações. Nós fizemos parte da Cruzada Eucarística, e as crianças hoje fazem parte da Cruzada Eucarística. Eu fui coroinha e o Tadeu também faz parte dos coroinhas. Ana é professora de catequese, fez parte da Pia União das Filhas de Maria. Eu faço parte da Congregação Mariana e ela hoje faz parte do Apostolado da Oração. E hoje nós somos o casal de apoio do grupo de jovens”, contou Rafael.

Integrantes da Pia União das Filhas de Maria fazem a coroação de Nossa Senhora no dia da Assunção de Maria, 15 de agosto. Davi Corrêa / ACI Digital

Para Luzia Salvatte Zanon, a participação na vida paroquial “vai além da participação da santa missa”. Há festa junina, almoço, festa com jovens, encontro de jovens, passeios, excursões. “Estamos aí, vivos, para quem quiser acompanhar a gente”, diz ela. 

O padre Ivoli contou que muitas pessoas acabam se aproximando “da paróquia porque se identificam com o carisma, digamos assim, da Administração Apostólica, do canto gregoriano, do silêncio da igreja e, sobretudo, da missa tradicional”, e acabam integrando a comunidade paroquial. Segundo ele, essas pessoas “têm o desejo de uma espiritualidade mais profunda, sobretudo litúrgica”, o que é favorecida na missa no rito romano antigo com “o canto, o incenso, a liturgia, que são muito ricos”.

O sacerdote disse que muitas famílias participam das missas com seus filhos. “Uma missa dominical tem 100, 120 crianças”, disse. A missa dominical com maior presença de crianças é a das 9h15. Depois, vem a catequese. “Enquanto as crianças vão para o catecismo de acordo com as faixas etárias, temos um momento de formação para os pais. Isso tudo ajuda muito a frequência”, disse.

Crianças da catequese na igreja principal da Administração Apostólica, depois da missa dominical. Davi Corrêa / ACI Digital

O pároco contou que, ao visitar os paroquianos em suas casas, observa “essa espiritualidade que é também vivida em suas vidas de oração, as famílias rezam juntas, frequentam ambientes que são mais católicos, evitam aqueles que são mais mundanos, o modo de falar, de se comportar, de se vestir, a questão da oração pessoal”. “Então, é uma característica que vai para além do recinto da igreja, que as pessoas levam consigo”, acrescentou.

Para Rafael Ferreira, a vivência na paróquia da Administração Apostólica “reflete positivamente” na vida da família, “por causa da sacralidade, da piedade que o rito antigo traz”.

“A vida ativa de missas, de catequese e de terço em família faz a gente conseguir ver coisas na nossa vida pelas mãos de Deus mesmo, providência divina na nossa vida, na nossa família, a gente sente a presença de Deus mesmo. Se a gente esmorece na fé, sente que está faltando alguma coisa a mais. E a gente acaba se entregando mais e a graça de Deus vem”, disse Ana Cristina.

Para o médico e organista Víctor Barcelos, a participação na paróquia e a formação que recebe o ajuda “a colocar Deus no centro de tudo”, o que faz a “procurar sempre seguir os princípios da fé, a ética, tudo isso como forma de louvar a Deus”.

Esta matéria faz parte de uma série de reportagens sobre a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. A próxima será publicada dia 2 de setembro.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59011/vivemos-com-naturalidade-dizem-catolicos-nascidos-e-criados-no-rito-romano-antigo

Papa Francisco já está na Indonésia

Chegada do Papa a Jacarta (Vatican Media)

Devido ao longo voo, não estão previstos compromissos oficiais na terça-feira.

Vatican News

O Papa já se encontra em Jacarta, depois de 13 horas de voo. Às 11h19 locais, o voo da Ita Airways aterrissou no Aeroporto Internacional Soekarno-Hatta da capital indonésia, a primeira etapa da viagem à Ásia e Oceania.

Ao deixar a aeronave, o Pontífice foi acolhido pelo Ministro dos Assuntos Religiosos e por duas crianças em trajes tradicionais, segurando flores. Após a saudação das delegações e da Guarda de Honra, o Papa se dirigiu à Nunciatura Apostólica, onde se encontrou com um grupo de doentes, migrantes e refugiados acompanhados pela Comunidade de Santo Egídio e pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados.

Devido à distância, não estão previstos compromissos oficiais na terça-feira.

Papa saúda criança na Nunciatura (Vatican Media)

Voo papal

Durante o voo, Francisco saudou pessoalmente os cerca de 80 jornalistas a bordo. “Agradeço a vocês por ter vindo a esta viagem. Obrigado por sua companhia, acho que esta é a viagem mais longa que já fiz”, disse o Pontífice. O Papa recebeu alguns presentes, sendo um deles uma tocha usada pelos migrantes para serem interceptados durante a travessia do Mediterrâneo. O objeto foi entregue por Clément Melki, correspondente da agência francesa AFP, enviado por 15 dias para acompanhar o trabalho da ONG "SOS Méditerranée" a bordo do navio "Mar Jonio". "Isso está no meu coração", respondeu Francisco.

Da jornalista da emissora espanhola Radio Cope, Eva Fernández, o Santo Padre recebeu uma mensagem da família do jovem Mateo, um menino de 11 anos de um vilarejo próximo a Toledo, Mocejon. Mateo foi morto em 18 de agosto passado durante um jogo de futebol com seus amigos. Inicialmente, migrantes foram acusados pelo crime, que depois se descobriu ter sido praticado por um colega com problemas mentais. Eva Fernández deu ao Papa o uniforme do time, uma camiseta vermelha com o número 11, abençoada pelo Pontífice.

Papa conversa com a jornalista Eva Fernández (Vatican Media)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Três dicas para cada casamento: de São Gregório Magno

koradras | Shutterstock | Dosseman | Wikimedia Commons | CC BY-SA 4.0 | Colagem de Aleteia

Michael Rennier - publicado em 02/09/24

São Gregório mostra como qualquer casamento pode ser mais feliz e tornar-se uma fonte de conforto e encorajamento à medida que avançamos para a próxima vida.

Gregório, o Grande, tornou-se Santo Padre em 590 e permaneceu Papa até o ano de sua morte em 604. Ele veio de uma nobre família romana e foi escolhido para liderar a Igreja numa época em que a antiga ordem romana estava desmoronando; o governo era menos eficaz e a Igreja estava a tornar-se a cola social que mantinha unida a cidade de Roma.

Gregory escreveu um livro chamado  The Pastoral Rule ,  no qual ensina ao clero como melhor aconselhar aqueles que os procuram com problemas. Este mesmo documento irá ajudá-lo em seu casamento.

Abaixo, São Gregório oferece alguns conselhos básicos para pessoas casadas que continuam a ser muito relevantes para pessoas casadas.

1 Nunca se esqueça que Deus faz parte do seu casamento

Branislav Nenin | Obturador

Gregório escreveu: “Aqueles que são casados ​​devem ser avisados ​​de que, embora se preocupem com o bem do outro, ambos devem procurar agradar aos seus cônjuges de forma a não desagradar ao seu Criador.

O casamento é, acima de tudo, uma relação em que um homem e uma mulher se tornam uma só carne para se ajudarem mutuamente a alcançar o Céu. O caminho particular para a santidade das pessoas casadas é a forma como expandem o seu amor ao longo dos anos.

Isto é conseguido através do aprofundamento da sua fidelidade e consideração mútua e, se Deus quiser, através do nascimento de filhos com os quais possam partilhar cada vez mais o seu amor. Mas Gregório adverte que devemos ter cuidado para que o relacionamento inclua Deus e não nos desviemos dos maus hábitos do outro.

2 Não fique muito preso aos detalhes práticos

O ideal seria que o casal “esperasse as coisas que vêm de Deus como fruto do fim do caminho”. Pelo contrário, o casal evitará dedicar-se “inteiramente ao que está fazendo agora”.

Em outras palavras, o casamento destina-se tanto ao nosso prazer e felicidade agora quanto à nossa felicidade eterna. Não sabemos como os casais se comportavam na época de Gregório, mas sabemos que na nossa época é fácil ficar completamente absorvido pelas preocupações e atividades cotidianas.

Há contas para pagar, filhos para criar, treinos esportivos para agendar, pratos para lavar e casas para manter arrumadas. Dias inteiros podem ser gastos concentrando-se apenas em questões práticas; Portanto, dedique um tempo para você, para conversar ou fazer atividades que lhe deem tranquilidade.

3 Melhore-se antes de exigir melhorias de seu cônjuge

“Eles deveriam ser aconselhados a não se preocuparem tanto com o que devem suportar de seu cônjuge, mas sim a considerar o que seu cônjuge deve suportar por causa deles”.

Este último conselho, se o colocarmos em prática, tornaria os nossos casamentos muito mais felizes. É muito fácil culpar a outra pessoa quando um relacionamento passa por um momento difícil. E é simples apontar o que há de errado com o cônjuge e explicar como isso pode ser corrigido. Mas é muito mais difícil ver o que há de errado conosco e mudar.

Em parte, isso ocorre porque temos um incômodo sentimento de injustiça: não é justo que eu me esforce para manter a cozinha limpa quando ela não o faz; Não é justo eu fazer exercícios e ficar em forma quando ele é viciado em televisão; Não é justo que eu tenha que ser responsável e economizar para a nossa aposentadoria quando ela é uma esbanjadora...

Com estas três dicas simples, Gregório, o Grande, mostra como qualquer casamento pode ser mais feliz e, mais importante ainda, tornar-se uma fonte de conforto e encorajamento à medida que avançamos para a próxima vida.

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/09/02/tres-consejos-para-todo-matrimonio-por-san-gregorio-magno

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

“Vivemos com naturalidade” (2)

Fiéis lotam a igreja principal da Administração Apostólica na missa dominical | Davi Corrêa / ACI Digital

“Vivemos com naturalidade”, dizem católicos nascidos e criados no rito romano antigo em Campos.

Por Natalia Zimbrão*

31 de agosto de 2024

“É tudo muito natural”

Para os fiéis da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, viver o rito romano antigo “é tudo muito natural”, disse o empresário Brunno Guimarães, 33 anos, de Campos dos Goytacazes. “Muitas pessoas olham de fora e falam: a Igreja tradicional e a Igreja progressista. Só que para a gente, isso é muito normal. Assistir uma missa em latim é normal. É como se a diocese tivesse uma continuidade”, disse.

Brunno participa da Administração Apostólica desde 2006. Ele é casado com a farmacêutica e professora universitária Amélia Rodrigues, 39 anos, com quem tem quatro filhos entre um e sete anos. Segundo ele, “até a convivência com as pessoas de fora e daqui da Administração Apostólica” é natural. “A gente não vê tanto essa separação”, disse.

O casal Brunno e Amélia com seus quatro filhos. Davi Corrêa / ACI Digital

“Às vezes, vamos a outros lugares e encontramos grupos ligados a conservadores e sentimos certa diferença”, disse. É comum perguntarem por que não cantam sempre em gregoriano, por que rezam o Pai-nosso em português. “Nós temos uma identidade própria que foi criada com o passar dos anos por essa diocese que nunca deixou de existir”, disse Brunno. “É uma tradição nossa”, porque “foi tudo construído no nosso meio”.

Mesmo quem veio de fora reconhece essa identidade. O padre Leonardo Wagner pertence ao clero da arquidiocese de Fortaleza (CE), mas está desde 2017 na Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, acompanhou pessoas no Ceará que queriam participar da missa no rito romano antigo. Já na Administração Apostólica, além de atuar nas paróquias, também passou um tempo no apostolado externo em Belo Horizonte (MG). O apostolado externo é o envio de padres da administração para rezar a missa tradicional em outras dioceses, sempre a pedido do bispo local. Há hoje padres da administração 14 cidades do país, como Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG).

“Quando eu vim para cá, já tinha 15 anos de padre, hoje tenho 22. A tradição que eu conheci foi esta daqui”, disse.

Para quem quer conhecer a missa tradicional, o padre às vezes diz: “Vocês precisam conhecer a Administração Apostólica, pelo menos ir no fim de semana, assistir a missa, ver como são as pessoas que nasceram aqui”.

Momento da comunhão na igreja principal da Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

A dona de casa Doroteia Silva Robert, 52 anos, de Santo Antônio de Pádua (RJ), também nasceu e cresceu no rito romano antigo. É casada há 35 anos com o representante comercial Antônio Flávio Bon Robert, 61, com quem têm três filhos já adultos. “Como você nasce e aprende a língua materna, a gente aprendeu a tradição”, disse. “Eu nasci na missa sendo rezada em latim, nesse rito. Participo da missa e sei tudo o que acontece, a gente aprende tudo”.

Para Paula Gualandi, 45 anos, filha de Rita de Cássia Gualandi, “é fácil de lidar”. “Eu nunca tive problema [com o latim]. Eu até já lidei com pessoas assim que ficavam questionando e eu achava estranho”, disse. “Procuro entender um pouco, traduzir alguma coisa. Mas, mesmo sem entender, para mim, não é uma questão. Prefiro aquilo pela fé mesmo, mesmo que eu não entenda”, acrescentou.

O padre João Motta Neto, pároco de Nossa Senhora de Lourdes, paróquia da zona rural de Bom Jesus do Itabapoana, contou que “esse povo da zona rural sempre escolheu o rito tradicional”. “Aqui, por exemplo, não tem nenhuma capela da diocese de Campos, porque sempre o povo quis essa missa na forma tridentina”, disse.

A paróquia, criada em 2023, “atende mais 14 comunidades, três situadas em distrito, mas as outras em zona rural, estrada de terra”, onde predominam o cultivo de café e a criação de gado.

Paróquia Pessoal de Nossa Senhora de Lourdes, na zona rural de Bom Jesus do Itabapoana. Davi Corrêa / ACI Digital

“O rito deixa claro a grandeza de Deus, deixa claro a sacralidade do nosso contato com Deus nosso Senhor, e de modo bem acessível. Por exemplo, a missa é em latim, mas nós não falamos em latim com o povo, as homilias, as leituras, algumas outras passagens da missa são em língua vernácula”, disse.

O padre João Neto disse que as pessoas da região “têm toda essa vivência desde seus pais, avós, bisavós, são pessoas simples, mas com muita fé, muita piedade”. Segundo ele, o rito romano antigo “traz essa conjunção da simplicidade do povo juntamente com a fé, que também é simples, porque Deus é simples”.

Para o sacerdote, “um ponto muito importante que é o cerne da questão é a forma do contato com Deus”. O padre João Neto disse que as pessoas falam que, “pelo silêncio, pelo rito em si favorece essa participação que é a participação principal da missa, a união da alma com Cristo crucificado, que é a renovação do sacrifício da Cruz, que é a santa missa”.

A nova geração

O padre Silvano Salvatte Zanon, 44 anos, filho de Luzia Aparecida Salvatte Zanon, é o pároco do Senhor Bom Jesus Crucificado e do Imaculado Coração de Maria, na região urbana de Bom Jesus do Itabapoana. Também cresceu e recebeu todos os sacramentos no rito romano antigo. Segundo ele, hoje se vê um grande número de pessoas em sua paróquia. “Não só meus contemporâneos e até pessoas anteriores a mim. Mas, agora, a Administração já [está] com 22 anos. Então, muitos dos nossos adolescentes, jovens que frequentam aqui já foram nascidos depois da criação da Administração Apostólica e também nascidos e criados vivendo tudo isso”, disse.

Crianças durante a missa dominical na Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

O sacerdote contou que busca trabalhar com os jovens para que eles possam “ter um grande amor a tudo isso, entender o valor e a grandeza de tudo isso e o quanto isso nos leva ao sobrenatural”. “E algo que buscamos incutir muito é um grande amor à Igreja, uma grande reverência ao Santo Padre o papa, um grande respeito com as autoridades da Igreja”, acrescentou.

A professora de educação infantil Andressa Xavier, 21 anos, participa desde pequena na igreja de Nossa Senhora de Lourdes, na zona rural de Bom Jesus do Itabapoana. “Eu sempre acompanhei meus pais e a vida toda foi assim, não tive outra formação, não conheci coisas diferentes”, disse.

A professora Andressa (à direita) com sua mãe Lucileia, na igreja de Nossa Senhora de Lourdes, onde recebeu os sacramentos e frequenta até hoje. Davi Corrêa / ACI Digital

A mãe de Andressa, a secretária paroquial Lucileia Mendes, 54 anos, que também cresceu no rito romano antigo, contou à ACI Digital que sempre educou os quatro filhos nesse rito da Igreja. “Os filhos seguem muito os pais, o que o pai e a mãe fazem. Então, tem muita coisa do rito novo que eles nem sabem muito bem por que não passamos. Passamos o rito antigo mesmo”, disse.

Para Andressa, viver neste ambiente “é algo normal”. “Nunca passou pela minha cabeça [deixar de participar da missa no rito antigo]”, disse. E o que a motiva a permanecer “é a missa, o silêncio dentro da igreja, a paz que transmite, [o fato de] a gente ter formação com o padre aqui, de a gente precisar de alguma coisa e ele estar presente”, disse.

Na paróquia, contou, além da missa e dos sacramentos, participa do grupo de jovens. “É maravilhoso, não tem explicação. A gente se reúne, senta, conversa, um vai trocando ideia com outro, dando conselho, rezamos o terço, assistimos a missa. Depois, fazemos gincana, brincadeiras. É muito legal”, disse.

O médico Víctor Barcelos, 25 anos, de Campos, cresceu frequentando a paróquia do Imaculado Coração de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a igreja principal da Administração Apostólica, e estudou no Colégio Três Pastorinhos, também da Administração. Além da vivência da fé, na igreja ele viu despertar outro interesse, pela arte. Hoje, é o organista oficial da paróquia.

O organista da igreja principal da Administração Apostólica, Víctor Barcelos. Davi Corrêa / ACI Digital

“Aqui eu vejo muita cultura. Dom Fernando, nosso bispo, sempre falou que a Igreja é uma patrocinadora da arte. Aqui, junto com a capela musical que temos, os corais e tudo o que tem a oferecer, sempre trouxe para mim um contato com a cultura que lá fora eu não encontro. Todo tipo de cultura, arte sacra, música sacra, tudo que tem de mais belo que a gente apresenta a Deus”, disse. “Aqui na Administração Apostólica, pela sacralidade que a missa tridentina traz, pela sacralidade da arte que a gente produz, tudo isso faz a gente enxergar o céu na terra. É um modo de viver a fé que muito enriquece espiritualmente”.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59011/vivemos-com-naturalidade-dizem-catolicos-nascidos-e-criados-no-rito-romano-antigo

Perder o essencial é hipocrisia

Hipocrisia (Crédito: iStock)

Perder o essencial é hipocrisia

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)

JESUS e o seu ABBÁ – no Evangelho dominical (01/09/24)

Eu me encontrava, Abbá, em Genesaré e o seus habitantes me reconheceram. De toda região vinham pessoas e levavam em macas os que estavam doentes. Suplicavam que pudessem ao menos tocar a borla da minha veste. Com alegria interior, eu constatava que todos que a tocavam ficavam curados.

Aconteceu então, Abbá, que um grupo de fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, reuniram-se em torno a mim. Eles viram que alguns de meus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. De fato, os fariseus e os judeus em geral, apegados à tradição, só comem depois de lavar bem as mãos; ao voltar da praça, não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição, como, a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre.

Isso, levou, ó Abbá, os fariseus e os mestres da Lei me perguntarem: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” Inspirado pelo Espírito Santo, que me assiste na minha missão, percebi, ó Abbá, que era hora de chamar atenção ao demasiado legalismo e ritualismo dos fariseus e mestres da Lei.

Lembrei-lhes as palavras do grande profeta Isaías e apliquei-as a eles, chamando-os de hipócritas. As palavras de Isaías são: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”.

Honrar-nos com os lábios, Abbá, mas o coração longe de nós, é hipocrisia; prestar-nos culto, mas ensinando doutrinas que são meros preceitos humanos, é hipocrisia; abandonar o nosso mandamento para seguir a mera tradição dos homens, é hipocrisia. Como o ser humano, criado com tanta semelhança conosco, perde-se no essencial e encontra-se no acidental! Como o ser humano, criado com tanta semelhança conosco, desvia-se da liberdade do espírito e fixa-se na escravidão da lei! É preciso sempre chamar a atenção!

Feita a advertência aos fariseus e mestres da lei, chamei a multidão mais perto de mim. Queria, Abbá, que todos escutassem e compreendessem bem a mensagem que lhes tinha a dar. Afirmei com toda a força: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”.

Ter tomado o exemplo da pureza e impureza, penso, ó Abbá, que todos entenderam bem do que se tratava. Realmente o que torna impuro o homem e a mulher é o que “sai do interior”. Os exemplos que lembrei a eles, elenquei muitos para não deixar dúvida nenhuma: “Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o ser humano”.

Abbá, peço-te pela humanidade para que não se perca no essencial; para que sinta sua hipocrisia nessa perda do essencial; para que ouça a nossa voz e não ouça tanto “as vozes das serpentes”: essas são especialistas de fazer comer “das árvores proibidas. Amém!”

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Transmitir a fé (I) (1)

Foto: Mhonpoo (cc). | Opus Dei

Transmitir a fé (I)

É na própria família que se forja o caráter, a personalidade, os costumes... e também se aprende a conviver com Deus. Uma tarefa que cada dia é mais necessária, como se assinala neste artigo.

03/01/2012

Cada filho é uma prova da confiança de Deus nos pais, que lhes confia o cuidado e a orientação de uma criatura chamada à felicidade eterna. A fé é o melhor legado que se lhe pode transmitir; mais ainda, é a única coisa verdadeiramente importante, pois é o que dá sentido último à existência. Deus, além disso, nunca confia uma missão sem dar os meios imprescindíveis para levá-la a termo; e assim, nenhuma comunidade humana está tão bem dotada como a família para facilitar que a fé enraíze nos corações.

O TESTEMUNHO PESSOAL

A educação da fé não é um mero ensinamento, mas a transmissão de uma mensagem de vida. Ainda que a palavra de Deus seja eficaz em si mesma, para difundi-la o Senhor quis servir-se do testemunho e da mediação dos homens; o Evangelho é convincente quando se vê encarnado.

Isto é válido de maneira especial quando nos referimos às crianças, que distinguem com dificuldade entre o que se diz e quem o diz; e adquire ainda mais força quando pensamos nos próprios filhos, pois não diferenciam claramente entre a mãe ou pai que reza e a própria oração; mais ainda, a oração tem valor especial, é amável e significativa, porque quem reza é a sua mãe ou o seu pai.

Isto faz com que os pais tenham tudo a seu favor para comunicar a fé aos filhos; o que Deus espera deles, mais do que palavras, é que sejam piedosos, coerentes. O seu testemunho pessoal deve estar presente diante dos filhos a todo o momento, com naturalidade, sem procurar dar lições constantemente.

Às vezes, basta que os filhos vejam a alegria dos seus pais ao confessar-se, para que a fé se torne forte nos seus corações. Não se deve desvalorizar a perspicácia das crianças, mesmo que pareçam ingênuas; na realidade, conhecem os seus pais, no bom e no menos bom, e tudo o que estes fazem – ou omitem – é para eles uma mensagem que os ajuda a formar ou a deformar.

Foto: celesteh (cc). | Opus Dei

Bento XVI explicou muitas vezes que as alterações profundas nas instituições e nas pessoas costumam ser promovidas pelos santos, e não pelos mais sábios ou poderosos: «Nas vicissitudes da história, [ os santos ] foram os verdadeiros reformadores que tantas vezes elevaram a humanidade dos vales obscuros nos quais está sempre em perigo de se precipitar; iluminaram sempre de novo» [1].

Na família acontece algo parecido. Sem dúvida, é preciso pensar no modo mais pedagógico de transmitir a fé, e formar-se para serem bons educadores; mas o que é decisivo é o empenho dos pais por quererem ser santos. É a santidade pessoal o que permitirá acertar com a melhor pedagogia.

"Em todos os ambientes cristãos conhecem-se, por experiência, os bons resultados que dá essa natural e sobrenatural iniciação à vida de piedade, feita no calor do lar. A criança aprende a pôr o Senhor na linha dos primeiros e fundamentais afetos, aprende a tratar a Deus como Pai e à Nossa Senhora como Mãe, aprende a rezar seguindo o exemplo dos pais. Quando se compreende isto, vê-se a enorme tarefa apostólica que os pais podem realizar e como têm obrigação de serem sinceramente piedosos, para poderem transmitir – mais do que ensinar – essa piedade aos filhos" [2].

AMBIENTE DE CONFIANÇA E AMIZADE

Vemos que muitos rapazes e moças – sobretudo, na juventude e na adolescência – acabam por afrouxar a fé que receberam, quando sofrem algum tipo de prova. A origem destas crises pode ser muito diversa – a pressão de um ambiente paganizado, amigos que ridicularizam as convicções religiosas, um professor que dá as lições numa perspectiva ateia ou que põe Deus entre parêntesis –, mas estas crises ganham força quando aqueles que passam por elas deixam de expor às pessoas adequadas o que lhes está acontecendo.

É importante facilitar a confiança com os filhos e que estes sempre encontrem os pais disponíveis para lhes dedicarem tempo. Os jovens – mesmo os que parecem mais indóceis e desprendidos – desejam sempre essa aproximação, essa fraternidade com os pais. O segredo costuma estar na confiança. Que os pais saibam educar num clima de familiaridade, que nunca deem a impressão de que desconfiam, que deem liberdade e que ensinem a administrá-la com responsabilidade pessoal. É preferível que enganem alguma vez. A confiança que se põe nos filhos faz com que eles próprios se envergonhem de terem abusado, e se corrijam. Pelo contrário, se não têm liberdade, se veem que não se confia neles, sentir-se-ão levados a enganar sempre [3] . Não se deve esperar a adolescência para pôr em prática estes conselhos; podem ser aplicados desde muito cedo.

Foto: Pyrat Wesly (cc). | Opus Dei

Falar com os filhos é das coisas mais gratas que existem e a porta mais direta para estabelecer uma profunda amizade com eles. Quando uma pessoa ganha confiança com outra, estabelece-se uma ponte de mútua satisfação e poucas vezes desaproveitará a oportunidade de conversar sobre as suas inquietações e os seus sentimentos, o que é, por outro lado, uma maneira de se conhecer melhor a si próprio. Embora haja idades mais difíceis do que outras para conseguir essa proximidade, os pais não devem afrouxar no seu entusiasmo por chegarem a ser amigos dos filhos; amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consulta sobre os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável [4]. Nesse ambiente de amizade, os filhos ouvem falar de Deus de um modo agradável e atrativo. Tudo isto requer que os pais encontrem tempo para estar com os filhos e um tempo que seja “de qualidade”; o filho deve perceber que as suas coisas nos interessam mais do que o resto das nossas ocupações. Isto implica ações concretas, que as circunstâncias não podem levar a omitir ou a atrasar uma e outra vez; desligar a televisão ou o computador quando a menina ou o garoto pergunta por nós e se percebe que querem falar; reduzir a dedicação ao trabalho; procurar formas de recreio e entretenimento que facilitem a conversa e a vida familiar, etc.

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A. Aguiló

[1] Bento XVI, Discurso na Vigília da Jornada Mundial da Juventude de Colônia, 20-08-2005.

[2] São Josemaria Escrivá, Temas Atuais do Cristianismo , n. 103.

[3] São Josemaria Escrivá, Temas Atuais do Cristianismo , n. 100.

[4] São Josemaria Escrivá, Cristo que passa , n. 27.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/transmitir-a-fe-i/

Francisco inicia sua 45ª Viagem Apostólica com destino à Ásia e Oceania

Papa Francisco inicia sua Viagem Apostólica (Vatican Media)

O Papa embarcou para Jacarta, Indonésia, iniciando sua 45ª Viagem Apostólica, a mais longa de seu pontificado. Antes de partir, Francisco recebeu um grupo de sem-teto no Vaticano, acompanhado pelo cardeal Konrad Krajewski. Durante a viagem de 32.814 quilômetros, que também inclui visitas a Timor-Leste, Papua-Nova Guiné e Singapura, o Santo Padre abordará temas como paz, diálogo inter-religioso, reconciliação social e mudança climática.

Vatican News

Sorridente, o Papa Francisco embarcou no voo que o levará a Jacarta, na Indonésia, primeira etapa de sua 45ª Viagem Apostólica internacional. O avião, que leva o Santo Padre ao continente asiático, decolou nesta segunda-feira, 2 de setembro, às 17h32, horário de Roma.

Antes de deixar o Vaticano, conforme informou a Sala de Imprensa da Santa Sé, "pouco depois das 16 horas locais, cerca de quinze pessoas em situação de rua, homens e mulheres, acompanhadas pelo cardeal Konrad Krajewski, Esmoleiro de Sua Santidade, visitaram o Papa Francisco na Casa Santa Marta antes de sua partida para a próxima Viagem Apostólica pela Ásia e Oceania".

O momento de saudação com os sem-teto na Casa Santa Marta (Vatican Media)

A viagem mais longa do seu Pontificado

Fé, oração, compaixão, fraternidade, harmonia e esperança são os temas presentes nos lemas e nos logotipos da Viagem Apostólica. Serão percorridos 32.814 quilômetros, atravessando quatro fusos horários diferentes, desde a partida do Aeroporto Fiumicino até o retorno a Roma na sexta-feira, 13 de setembro. Além da Indonésia, Timor-Leste, Papua-Nova Guiné e Singapura são as outras etapas desta peregrinação.

Nos 16 discursos e homilias a serem pronunciados em italiano e espanhol, o Papa abordará temas como o diálogo e a convivência harmoniosa entre as religiões, a reconciliação social, a mudança climática e seus efeitos devastadores em regiões de oceanos e vulcões, além do equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e tecnológico e o desenvolvimento humano, social e espiritual das comunidades.

Adicionalmente, será abordada a evangelização, tanto antiga quanto moderna, em regiões onde as comunidades cristãs vivem em condições semelhantes às da Igreja primitiva, o acolhimento de refugiados e o incentivo aos jovens a se engajarem nos processos políticos e sociais.

Avião que leva o Santo Padre à Indonésia após decolar de Roma (Vatican Media)

Indonésia: o primeiro destino

Em um período histórico marcado por guerras, o Papa Francisco reiterará em diversos encontros seu apelo pela paz e pelos esforços em andamento para alcançá-la. Dois momentos simbólicos em Jacarta, a capital da Indonésia, evidenciarão esse compromisso. A cidade, que no passado recente foi atingida pelo terrorismo religioso e pela tentativa de estabelecer um Islã transnacional no modelo do ISIS — rejeitado pela "Pancasila" indonésia, com seus cinco pilares de respeito às crenças, culturas, religiões e línguas, conforme estabelecido na Constituição —, acolherá o Papa em sua mensagem de paz.

O primeiro momento será a visita à mesquita Istiq’lal, o maior edifício de culto islâmico do Sudeste Asiático, projetado na década de 1950 por um arquiteto cristão e, desde 2019, conectado à Catedral da Assunção pelo chamado "túnel da fraternidade".

A Rádio Vaticano/Vatican News acompanhará passo a passo mais esta peregrinação de Francisco, transmitindo também em português os eventos com o Santo Padre.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF