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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

'Se seus filhos têm celular, quem manda neles são as redes sociais' (2)

Pediatra e ativista pela infância, como se autodefine, Daniel Becker tem se tornado uma das principais vozes quando o assunto é o bem-estar de crianças e adolescentes (Crédito: Marco Weyne/Divulgação)

'Se seus filhos têm celular, quem manda neles são as redes sociais', diz pediatra Daniel Becker

31 agosto 2024

BBC News Brasil - Muitos educadores dizem que birra não existe. O que o senhor acha?

Becker - A gente chama de birra, mas acho que tem nomes mais apropriados. Seria uma crise de irritabilidade e está essencialmente ligada ao momento de desenvolvimento daquela criança.

Com cerca de 1 ano e meio, ela começa a dominar todas as capacidades de um ser adulto para a interação social. Começa a falar, a entender, a se movimentar, a alcançar as coisas, a desenvolver autonomia. E é por isso que quer fazer só o que ela quer, não vai aceitar ordens.

Qualquer coisa que venha contrariar seus desejos vai gerar uma briga e ela vai ficar irritada, porque não tem noção de controle de impulso. Se ficar chateada, aquela chateação vai dominá-la completamente. Ela vai chorar, se jogar no chão, vai bater.

As pessoas ficam ofendidas quando isso acontece, dizem "meu filho me bateu". Isso é um absurdo. São crianças que estão aprendendo as noções de sociabilidade e que não têm a menor noção das relações sociais. Não sabem o que significa um tapa ou se jogar no chão. Isso é adrenalina que está circulando ali dentro, e a criança precisa de movimento. Isso é parte do desenvolvimento necessário e natural de toda criança.

Crédito: Getty Images

BBC News Brasil - Até que idade isso é normal?

Becker - Até os 4 anos. Se passar muito disso, já é preciso ter um olhar mais cuidadoso. Com 4 anos, existe um salto de desenvolvimento em que a criança fica com mais inteligência, mais discernimento, mais capaz de compreender as regras sociais, ela fica com uma certa malícia, começa a entender piadinhas, ironias e brincadeiras.

É um momento delicioso de desenvolvimento. Os 4 anos são a minha idade preferida, porque a criança brinca contigo, sorri, entende a maldade, vira uma palhaçada, entende a piada.

A gente precisa entender que isso é parte do desenvolvimento e ter um pouco de paciência. Isso passa. Brigar, castigar, dar tapas nessa hora vai piorar e ainda gerar consequências muito negativas no futuro.

O momento da birra pode ser uma oportunidade educativa para a criança, porque é uma explosão emocional. Não adianta você fazer discurso nesse momento. É ridículo dizer para a criança que ela deve ir para o cantinho do pensamento, isso não funciona. Você acha que ela vai pensar sobre o que fez?

Nessa hora, é preciso acolher, acalmar, respirar junto. É o que a gente chama de corregulação. No meio da birra, o que a criança precisa é de um abraço, de ser contida. Respire junto com ela.

Uma coisa legal é ensinar a respiração do "cheira a florzinha, assopra a velinha" antes da crise. Na hora da crise, você faz com ela. Essa respiração é mágica, porque respirar fundo e expirar soprando tem um efeito calmante no cérebro. É um gesto que traz alívio.

Você pode usar esse momento para mostrar o que sente. Acolha os sentimentos, dê legitimidade a ela. Todo sentimento é legítimo. O que a gente não deve legitimar é a reação inadequada a um sentimento. Qualquer emoção é válida, e ninguém pode deixar de sentir uma emoção porque quer.

Acolha a emoção, diga: "Olha, você pode estar com raiva, eu também fico com raiva. Mas você não pode bater em mim. Aqui em casa, a gente não bate em ninguém".

BBC News Brasil - A Assembleia Legislativa de São Paulo está debatendo um projeto de lei para proibir o uso de celular nas escolas. Como estabelecer uma relação minimamente saudável dos jovens com o celular?

Becker - A tecnologia ocupa uma parte da nossa vida, e as crianças não vão ficar fora disso.

O problema é: a partir de que idade a criança tem que ter contato com uma tela digital? A partir de que idade ela tem que ter um celular ou estar em uma rede social? Essa é uma discussão muito relevante.

Existem tecnologias que são apropriadas e outras não, porque vão trazer riscos altíssimos para o desenvolvimento. A gente sabe que qualquer tela vai trazer prejuízos para uma criança pequena. Por isso, especialistas insistem que até 1 ano e meio, 2 anos, a criança não tenha acesso à tela. Isso não quer dizer que, se a mãe estiver amamentando um bebê de 6 meses enquanto assiste à novela, isso vai ser um problema. Não é isso.

Agora, uma mãe não deve ficar no celular enquanto amamenta, por exemplo, porque as redes sociais têm um algoritmo que determina o que vamos assistir, que geralmente é lixo viciante. Pode acontecer da criança se distrair também e ficar assistindo. Às vezes, acontece até de a criança morder o peito da mãe sem querer, devido a um estímulo vindo do celular.

Depois dos 2 anos, até uns 5 anos, você pode permitir o uso de tela, de preferência da televisão, porque você escolhe o que vai passar ali e, de preferência, com interação com um adulto. Até os 5 anos, você pode estabelecer uma hora e meia por dia de televisão.

Depois, dos 5 aos 10 anos, dá para flexibilizar um pouco. Mas ter um telefone celular, com acesso à internet, aos 8 anos, é escandaloso. É um erro muito absurdo e vai custar muito caro para a família depois. Quanto mais cedo a criança tiver o celular, mais nocividade ela vai sofrer. Maior tendência à depressão, ansiedade, pânico e até problemas graves de vício.

Uma criança com 8 anos não tem discernimento para distinguir um golpista de um amigo, um pedófilo de um professor. O crime mudou para a internet, e ele não está só nas redes sociais, está no WhatsApp também.

Por isso, a recomendação é não entregar um celular nas mãos da criança antes do fim do ensino fundamental. E não deixar que elas entrem em redes sociais antes dos 15, 16 anos. As redes sociais são um mundo de horror que se abre para a criança.

A ansiedade no Brasil, de 2013 para cá, aumentou 1500% na adolescência, segundo pesquisa do Datafolha feita com dados da atenção psicossocial do SUS [Sistema Único de Saúde].

É escandaloso. Superou o atendimento de adultos em número absolutos. E o que aconteceu de 2013 para cá? Teve a pandemia, mas ali só foi registrada uma leve oscilação. O problema começou em 2010, 2012, quando todo mundo começa a ter celular, redes sociais.

A escola é um lugar absolutamente estratégico hoje em dia, porque é regulamentada. É onde ainda é possível aplicar regras. As famílias não conseguem aplicar regras, porque ninguém consegue vencer a Meta [dona do Instagram, Facebook e WhatsApp] ou a ByteDance [dona do Tik Tok]. Quem manda nos seus filhos hoje, se eles têm celular, são essas empresas.

Por isso, tem que proibir o uso de celular não só na sala de aula, como também no recreio, que é o último reduto do brincar hoje. Brincar é a coisa mais importante da infância. Uma infância que não brinca gera adultos estúpidos, infelizes, deprimidos, violentos e intolerantes.

O recreio é precioso e não pode ser com celular. A escola tem que ser uma pausa dessa invasão do digital ao mundo real. É celular zero, da entrada até a saída.

Crédito: Getty Images

BBC News Brasil - Nessa era de cyberbullying, quais sinais a família precisa ficar atenta para saber se seu filho está sofrendo esse tipo de crime? E, por outro lado, o que fazer quando quem pratica o bullying é o seu filho?

Becker - A criança que sofre bullying não conta para ninguém, porque a humilhação é tão terrível. Ela se sente tão mal que tem vergonha do que ela está passando, de ser quem ela é, de ser tão fraca, de não conseguir reagir. Ela não vai contar para os pais, porque tem medo que reajam mal.

É preciso prestar atenção em quem são as vítimas preferenciais. Os tímidos, os mais nerds, os diferentões, o gorducho ou o magrelo, o cara que usa óculos fundo de garrafa, ou o que é atípico, o que não joga bola bem, o negro em uma escola branca.

Os mais novos da turma são vítimas preferenciais também, porque eles têm menos malícia e menos inteligência social para enfrentar essa malícia.

[Fique atento] Se o seu filho começa a dar qualquer sinal de que não está legal, seja porque ele chega da escola triste, inventa doença, faz cara triste para ir para a escola, está desanimado na hora de sair.

Ou a escola está reportando que ele não quis participar de alguma aula de educação física, que no recreio ele está sozinho. A escola geralmente não informa isso, mas esse é um sinal clássico.

Ele também deixa de conversar com a família, fica mais arredio, dentro do quarto jogando e deixando de sair com os amigos de fora da escola. São sinais claros de que algo não está bem, e você tem de conversar com ele de forma sutil.

Vá fazer um programa que ele goste, chame para passear. Tem vários filmes hoje sobre bullying — assista um com ele, converse depois sobre isso. São algumas das formas de conseguir chegar nessa criança.

Bullying é hoje um crime tipificado por lei, com consequências para quem pratica, para os responsáveis pela criança e para a escola. A escola que não toma providências pode ser responsabilizada judicialmente.

Existem muitas estratégias hoje em dia. Tem que ter educador preparado, fazer capacitação para enfrentamento de bullying. Sempre recomendo devolver isso para a turma em que o bullying ocorreu, questionando como resolver isso.

Aí, eles pesquisam, fazem debates, fazem roda de conversa, acolhem esses dois lados. Porque o agressor muitas vezes tem que ser acolhido também, ele está sofrendo em casa, muitas vezes.

A escola tem que ter política de prevenção de bullying, que começa com educação antirracista, inclusiva, cultura africana. Tem que ter a educação ambiental, socioemocional, tem que ter espaços de acolhimento para quem está sofrendo, tem que identificar meninos e meninas isolados, tem que ter tutores para essas crianças, um espaço de privacidade onde a criança possa contar para alguém o que está acontecendo com ela.

Em relação a quem está praticando bullying, essa criança está geralmente sofrendo também, mas é óbvio que aí a conversa é um pouco mais rigorosa. Também é importante a família falar de respeito ao outro, de privacidade, de educação, de etiqueta na internet.

Os sinais de um agressor são crianças mais raivosas, mais agressivas. Mas, geralmente, os pais sabem que a criança está praticando bullying quando a queixa chega na família,

Mas é importante dizer que ambos os lados do bullying têm trauma para o futuro.

Vítimas e praticantes de bullying, quando essas vivências não são processadas de forma adequada, são crianças que, no futuro, terão mais problemas de relacionamento, no trabalho, terão mais tendência a adoecimento físico, mental, ao uso de remédios e de drogas também.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c5yd0d2vplno

EDITORIAL: O que faz o mundo progredir

Papa Francisco com uma criança (Vatican Media)

O Papa Francisco explica que a compaixão “faz ver melhor as coisas”

ANDREA TORNIELLI

O que “faz o mundo progredir”? Alguns poderiam responder a economia, outros a luta de classes, outros ainda a curiosidade ou o desejo de empreender e experimentar, outros ainda o amor. Há mais de trinta anos, na Argentina, uma senhora idosa disse ao bispo Bergoglio que a misericórdia divina é o pilar que sustenta o mundo (“se o Senhor não perdoasse tudo, o mundo não existiria”); hoje, Francisco indica qual é o “motor” que faz o mundo progredir. Da catedral de Jacarta, o Papa explicou que o que impulsiona o mundo é “a caridade que se doa” na compaixão. Ele disse que compaixão não significa distribuir ajuda ou esmolas aos necessitados “olhando-os de cima para baixo”, mas significa inclinar-se para realmente se conectar com aqueles que estão no chão e, assim, erguê-los e dar-lhes esperança. Significa também abraçar sonhos e desejos de redenção e justiça dos necessitados, tornando-se promotores e cooperadores.

Há aqueles que têm medo da compaixão, observou ainda o Sucessor de Pedro, “porque a consideram uma fraqueza e, em vez disso, exaltam, como se fosse uma virtude, a astúcia daqueles que servem a seus próprios interesses mantendo distância de todos, não se deixando ‘tocar’ por nada nem por ninguém, pensando que assim são mais lúcidos e livres para atingir seus objetivos”. Mas isso”, explicou, ‘é uma maneira falsa de ver a realidade’. Porque “o que faz o mundo progredir não são os cálculos de interesse próprio - que geralmente acabam destruindo a criação e dividindo as comunidades - mas a caridade que se doa. A compaixão não obscurece a visão real da vida; pelo contrário, ela nos faz ver melhor as coisas, à luz do amor”.

É a compaixão que Jesus nos testemunha em cada página do Evangelho: ele não permanece indiferente à realidade, ele se comove visceralmente, se deixa ferir pelo drama e pela necessidade daqueles que encontra. Em vez disso, a indiferença, que a longo prazo se transforma em cinismo, nos faz acreditar que somos mais livres, mas na realidade nos torna, pouco a pouco, cada vez menos humanos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Marino

São Marino (A12)
04 de setembro
País: Croácia
São Marino

Há uma certa confusão de dados reais e lendários sobre a vida de São Marino, inclusive se viveu no século III ou entre os anos 500 e 700. Certo é que Marino (Marinho, ou Marinus – “do mar”) era cristão, originário da ilha de Arba ou Arbe, da Dalmácia (hoje ilha de Rab, Croácia, no mar Adriático), e pedreiro de profissão. Viajou com um amigo chamado Leão para Rimini, na Itália, para aí trabalhar. Se fugindo da perseguição do imperador Dioclesiano ou convocado por este com arquitetos e pedreiros de todo o império para reconstruir a cidade costeira de Arímino, a atual Rimini (neste caso no século III, em 275), é discutível. Mas lá encontraram muitos cristãos, mesmo nobres, obrigados a trabalhos forçados por serem cristãos.

Parece que os dois amigos estiveram no monte Titano, mais no interior, para a extração de rochas. Depois de aproximadamente 13 anos, desenvolvendo intenso apostolado além do serviço nas construções, seja por perseguição ou o término do trabalho, separaram-se, indo Leão para Montefeltro (hoje San Leo) e Marino voltando para Rimini. O Bispo desta diocese, São Gaudêncio, os ordenou diáconos como reconhecimento da sua profícua evangelização, e para que assim melhor pudessem exercê-la. A reputação das virtudes de Marino cresceu e se espalhou, chegando inclusive à Dalmácia, do outro lado do mar Adriático. (A referência ao bispo São Gaudêncio de Bréscia, falecido em 410, situaria a vida de São Marino no século V).

O diabo, irritado com as conversões conseguidas por Marino, instigou uma mulher da sua terra natal a se apresentar em Rimini como sua esposa legítima e abandonada, para humilhá-lo e desmerecer a sua boa fama. Foi rejeitada firmemente pelo santo, e ela então recorreu ao governador para que lhe fosse feita “justiça”. Marino então refugiou-se numa caverna do monte Titano, mas ainda assim ela o encontrou. Como ele se recusasse a recebê-la, depois de vários dias naquele lugar inacessível e isolado, ela desistiu; voltou para a cidade e confessou a sua culpa, vindo a morrer depois.

Marino, embora inocentado, decidiu ficar no monte Titano, levando uma vida eremítica. Construiu uma cela para si no cume, e uma igreja, dedicada a São Pedro, dedicando-se à oração. Realizou vários milagres, como a cura de um possesso da Dalmácia. Conta-se também que domesticou um urso que havia matado o seu burro, e que passou portanto a fazer o seu trabalho. Com o tempo e a fama da sua santidade, outros começaram a ir ter com ele, e surgiu assim um início de comunidade monacal sob os cuidados de Marino e Leão.

monte Titano ficava num terreno pertencente a uma viúva chamada Felicíssima (ou Felicidade) e ao seu filho Veríssimo, que começaram a exigir que eles fossem embora. Marino e Leão se puseram a rezar, pois havia a ameaça de violência. Inesperadamente Veríssimo ficou paralisado dos braços e das pernas, e sua mãe, em desespero, pediu a Marino que rogasse a Deus pelo filho, oferecendo-lhe o que desejasse para fazer isso. Marino lhe disse que não tinha outro desejo que a conversão dela e dos seus, e um terreno para descansar.

Felicíssima aceitou, e logo Veríssimo ficou curado; ela, o filho e mais 53 membros da família receberam o batismo, e o monte Titano foi doado a Marino e aos seus descendentes. Ali foi oficialmente fundado um mosteiro em 301, onde Marino permaneceu até o seu falecimento em 366. As suas últimas palavras aos companheiros teriam sido “Relinquo vos liberos ab utroque homine” (“Eu vos deixo livres de ambos os homens”).

Esta frase foi entendida tradicionalmente como uma promessa de autonomia em relação ao poder civil e ao Exarcado Bizantino, isto é, uma divisão administrativa do império romano do Oriente, dos territórios não conquistados pelos lombardos na Itália, no século VI (cf. https://www.a12.com/reze-no-santuario/santo-do-dia?s=sao-gregorio-magno). Ora, o Imperador bizantino Maurício, em 584, repartiu o exarcado em sete distritos, um deles o de Roma, que na prática era regida pelo Papa, gerando conflitos também no aspecto espiritual com o patriarcado religioso de Constantinopla (Bizâncio); por fim, com a expulsão dos lombardos em 756, o exercado de Ravena, onde ficava o monte Titano, foi doado à Igreja como parte do território que depois seria conhecido por Estados Pontifícios.

Em resumo, no execrado havia a influência tanto civil quanto religiosa, esta a do patriarcado bizantino que se opunha ao Papa. Portanto a última frase de São Marino garantiu a independência da região, que perdura até hoje, destas duas influências, civil e religiosa não-católica: de forma profética, se ele viveu no século III, ou de maneira concreta, se viveu entre os anos 500 e 700. Da comunidade fundada por São Marino desenvolveu-se a República de San Marino, a mais antiga da Europa.

São Marino é reconhecido pela Igreja como fundador e patrono da República de San Marino. A festa desse santo, venerado também pela Igreja Ortodoxa Oriental, e também feriado nacional no país é 3 de setembro – festa obrigatória de São Gregório Magno – e por isso foi deslocada no catolicismo para o dia seguinte.

 Existem mais sete santos com o nome de Marino, seis mártires dos primeiros séculos cristãos e um monge na Itália falecido em 1170, bem como três santas chamadas Marina.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Sair do isolamento insular do egoísmo, atravessar o mar revolto da vida e alcançar o cume da montanha espiritual, para aí edificar morada: este o programa de vida que nos é exemplificado na prática por São Marino. Mas nunca o conseguiremos sozinhos: para dominar a bestialidade de comportamento, e colocar o seu vigor ursulino no serviço humilde e benéfico, como o dos burricos, é necessário o auxílio do Leão de Judá… e este serviço não é outro que extrair rochas sólidas de espiritualidade dos picos de sabedoria e caridade da Palavra de Deus, e com elas construir para a Igreja. São Marino não foi estadista ou político, militar ou invasor, mas um simples pedreiro, que fundou uma nação a partir das “pedras vivas” (cf. 1Pe 2,5-6) de uma comunidade religiosa. A casa edificada sobre a rocha, não cairá (cf. Mt 7,24): sim, é possível erigir um país sobre a pedra angular (cf. At 4,10-12) sobrenatural do Cristo, cujo Corpo Místico e ao mesmo tempo concreto e encarnado está edificado sobre outra pedra (cf. Mt 16,18), Pedro, o pescador que, como São Marino, navegou em profundidade as águas do Batismo. Construir uma nação a partir de uma vida religiosa verdadeira, em Cristo Jesus: vocação natural no maior país católico do mundo.

Oração:

Senhor Deus, rochedo sólido de amor que sustenta o barro e o pó que somos nós, concedei-nos por intercessão de São Marino a sua mesma humildade e trabalho de caridade constantes, de modo a conseguirmos total independência dos poderes mundanos e das falsas doutrinas, mas sendo veríssimos na pureza do desejo de Vos seguir, alcançarmos a vida felicíssima no Paraíso. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

https://www.a12.com/

terça-feira, 3 de setembro de 2024

'Se seus filhos têm celular, quem manda neles são as redes sociais' (1)

Pediatra e ativista pela infância, como se autodefine, Daniel Becker tem se tornado uma das principais vozes quando o assunto é o bem-estar de crianças e adolescentes (Crédito,Marco Weyne/Divulgação)

'Se seus filhos têm celular, quem manda neles são as redes sociais', diz pediatra Daniel Becker

31 agosto 2024

Ele tem mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, rede social que utiliza para falar, dentre outras coisas, que crianças não deveriam estar ali.

Pediatra e ativista pela infância, como se autodefine, Daniel Becker tem se tornado uma das principais vozes quando o assunto é o bem-estar das crianças.

Ele defende cuidados simples, como a interação com elas, brincadeiras ao ar livre, acolhimento e criação de intimidade com os filhos.

Parece algo básico, mas a vida agitada e especialmente o uso excessivo do celular estão distanciando os adultos das crianças, causando uma série de efeitos, alerta Becker.

Para o pediatra, o celular se interpõe entre o olhar dos cuidadores e das crianças, tornando-se uma barreira para a criação de vínculo, afeto e intimidade.

Isso gera o que ele chama de "parentalidade distraída", o que pode ter até mesmo consequências catastróficas.

Estamos tão apegados a esse aparelho, que, segundo o médico, que é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e é mestre em saúde pública, até a televisão é melhor que o celular.

Ao menos você tem maior poder de escolha sobre o que assistir na TV e não fica submetido aos algoritmos, diz Becker, de seu consultório no Rio de Janeiro, nesta entrevista realizada por videochamada.

Mas, embora o celular seja o meio de propagação de conteúdos "viciantes" e comparáveis ao "lixo" que está nas redes sociais, o pediatra diz que dá para estabelecer uma relação minimamente saudável para crianças e adolescentes com ele.

BBC News Brasil - Este é um ano de eleições municipais, mas o debate entre os candidatos passa longe de temas voltados para a infância. O que um bom plano de governo voltado à infância deveria ter, na sua opinião?

Daniel Becker - Proteger a criança e promover a saúde e a qualidade de vida dela significa cuidar das famílias também, especialmente das mães. Existem muitas políticas que são municipais e que estão fora do radar, como a cobertura de creches.

O Brasil tem a meta de ter 50% de cobertura de creche [ou seja, ter creche para ao menos metade das crianças de 0 a 3 anos], mas existem municípios onde não há praticamente nenhuma creche. E, sem creche, você tem uma mãe completamente assoberbada que não tem onde deixar a criança, ou vai deixar sob cuidados precários.

No plano da saúde, é importante o investimento na saúde da família, que envolve, dentre outras coisas, a vacinação, algo que depende muito do município. O apoio à amamentação, crucial para o bebê e para a mãe, também precisa ser bem desenvolvido.

Todo médico de atenção básica e todo médico de família deveria ser treinado para dar apoio à amamentação. Temos uma política aqui no Brasil maravilhosa que são os bancos de leite, mas o município sequer divulga isso, muitas vezes.

Outra atividade muito bacana são os grupos de gestantes e os grupos de puérperas, que podem ser formados por meio da atenção básica da saúde. Os programas municipais de infância estão trabalhando algo também importantíssimo, que são os programas de educação parental.

Na maioria das vezes, as famílias, especialmente as mais pobres, não têm noção da importância, por exemplo, do estímulo ao desenvolvimento, do carinho e do afeto na criação dos filhos.

Isso inclui orientações sobre uma boa alimentação também. As pessoas não sabem que miojo não faz mal, que dar salgadinho e refrigerante para o bebê faz mal. Hoje, 80% das crianças acima de 8 meses já provaram coisas açucaradas, inclusive refrigerantes.

Tem outra política que considero especialmente importante e que é muito benéfica para toda a sociedade: a cidade amiga da criança.

Ou seja, manter as praças bem cuidadas, acessíveis, iluminadas, seguras, com bons brinquedos, com sombra, arborizar as calçadas. A brincadeira no espaço público é o melhor benefício possível para uma criança: vai beneficiar saúde física, mental, espiritual, emocional, melhora a imunidade, reduz problemas de comportamento, melhora o apetite.

Além disso, ativa o turismo e o comércio, aumenta a arrecadação da prefeitura.

BBC News Brasil - O senhor fala muito da importância de brincar em meio à natureza, no parque, na areia. Mas esses espaços, os parques, geralmente não estão nas periferias. Ou seja, as crianças da periferia, mais uma vez, são privadas dessa convivência.

Becker - Isso se chama racismo ambiental ou injustiça ambiental ou injustiça recreativa também.

BBC News Brasil - O uso do celular por crianças e adolescentes é um tema, mas queria perguntar antes sobre o uso pelos adultos. O senhor usa um nome para as consequências disso, "parentalidade distraída". Do que se trata?

Becker - O celular tem um apelo viciante muito mais profundo do que a televisão, e o adulto se perde nas redes sociais, deixando de olhar para a criança.

O celular acaba se interpondo entre o olhar do pai e do filho. O olhar é fundamental para a criança, porque é nesse olhar que ela vai encontrar o afeto, o carinho e o vínculo.

É na interação com a gente, por exemplo, que a linguagem se desenvolve. Não existe desenvolvimento da linguagem olhando para tela ou vídeo.

A precarização desse vínculo gera um empobrecimento de relação, e isso vai afetar a autoestima da criança. Ela vai perceber que aquele negócio na mão do pai é mais importante do que ela. Não é apenas o desenvolvimento em geral que está em risco. Acidentes estão acontecendo.

Canso de ouvir que filho não vem com manual. Mas o manual está ali dentro dos olhos dos seus filhos. Olhe para eles. Ninguém precisa passar duas horas brincando com a criança no chão para desenvolver intimidade. São ações simples, é o convívio simples, é acordar a criança, dar o café da manhã, dar um banho, contar uma história, jantar junto, brincar um pouquinho. Contar histórias na hora de dormir, que é um gesto simples, mas marca a criança pelo resto da vida dela de forma positiva.

Esse convívio gera uma coisa chamada intimidade, que é a chave da educação. Quem consegue intimidade com seus filhos não precisa apelar nem para a permissividade excessiva, nem para o castigo, para a palmada, para coisas piores. Castigo e palmada não fazem ninguém aprender nada.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c5yd0d2vplno

A Palavra de Deus nos Santos Padres

Rezar a Deua (CNBB Norte 2)

A Palavra de Deus nos Santos Padres

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)  

A Palavra de Deus possui uma validade que não passa, é eterna a sua normalidade porque ela provém de Deus Uno e Trino na qual ela visa à conversão das pessoas e dos povos. Tudo o que sai da boca do Senhor e vem a este mundo não volta para Deus sem dar o seu devido fruto (cf. Is 55,11). Jesus é a Palavra eterna do Pai em comunhão com o Espírito Santo. Ele nos revelou o Pai: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Nós estamos prestes a iniciar o mês bíblico, onde refletiremos a importância da Palavra de Deus nas nossas comunidades eclesiais em vista da conversão de vida e pela necessidade de realizar práticas de amor. Os primeiros escritores cristãos, os santos padres perceberam a Palavra de Deus como compromisso para uma vida de santidade no mundo para que assim o Reino de Deus crescesse sempre mais pelas suas atuações junto às suas comunidades, às pessoas necessitadas e pobres. 

As duas alianças 

Santo Ireneu de Lião, bispo, nos séculos II e III, afirmou que todos os apóstolos ensinaram a existência de duas alianças para dois diversos povos; no entanto único e idêntico é Deus que os concedeu para a utilidade dos seres humanos e à medida que as pessoas creram em Deus (1). O Antigo Testamento foi dado ao serviço divino, para o louvor próprio do Senhor e esse era ao mesmo tempo um símbolo das realidades celestes, pois o ser humano ainda não podia ver as coisas de Deus senão pelo seu Filho, Jesus Cristo, vindo a este mundo, fundamentando o Novo Testamento (2). 

O Antigo Testamento cumpriu-se em Cristo Jesus

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V teve presentes as idades que se cumpriram para a vinda de Cristo Jesus de modo que o Antigo Testamento deu o seu cumprimento no enviado do Pai, o Messias. A primeira idade iniciou com a criação do gênero humano e foi até Noé, pois com o dilúvio, ele construiu a arca (3). O segundo período foi até Abraão na qual ele foi chamado pai de todos os povos, de modo que o imitaram na fé. Ele também estava ligado ao futuro povo de Israel, antes mesmo que os povos acolhessem a fé cristã para que toda a terra adorasse o Deus verdadeiro e da qual Cristo, o Redentor, viria da sua descendência segundo a carne (4). Para Santo Agostinho estas duas etapas são percebidas com toda a clareza já nos livros do Antigo Testamento. O Evangelho de Mateus (cf. Mt 1,17) afirmou a descendência corpórea do Senhor Jesus Cristo na realidade humana afirmada no Antigo Testamento (cf. Is 7,14) (5). 

Jesus Cristo revelou o Novo Testamento

O bispo de Hipona ainda disse que Jesus Cristo revelou o Novo Testamento da hereditariedade eterna, na qual o ser humano novamente criado pela graça de Deus é chamado a viver uma vida nova no amor do Senhor. Ele também mostrou que os patriarcas, os profetas, as pessoas justas no Antigo Testamento almejavam em ver o Messias, o Salvador da humanidade (cf. Mt 13,17).  Assumindo a realidade humana, como a fome, a sede, o sofrimento, a dor, a cruz, Ele chegou à glória da ressurreição, para desta forma elevá-la até a divina, em vista da redenção de todas as pessoas junto de Deus (6).  

Jesus Cristo é a salvação das pessoas justas do Antigo Testamento

São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV disse que no Antigo Testamento, muitas pessoas justas, profetas sofreram perseguições, foram mártires ou mesmo viveram bem a lei do Senhor Deus acreditando na promessa divina da salvação, como dom em unidade com Cristo Jesus. O caso dos Macabeus (cf. 2 Mc 7) que sofreram o martírio, passaram a paixão de Cristo, não a teriam assumido se não fosse pela morte de Cristo por toda a humanidade. Eles imitaram o Senhor, mesmo não o conhecendo antes. Desta forma nenhum deles teriam alcançado a perfeição, sem a fé  e a caridade em Cristo Jesus. O Logos, Jesus Cristo foi anunciado de uma forma posterior, mas também isso antes ocorreu pelas almas das pessoas justas. Se eles não conheceram a cruz de Cristo, no entanto viveram conformidade à cruz do Senhor e na unidade da sua ressurreição (7).  

O Antigo Testamento em função do Novo Testamento

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V afirmou que o Antigo Testamento fosse lido em função do Novo Testamento. Para o bispo é fundamental a palavra de São Paulo que diz que “Quando virá o que é perfeito, será abolido aquilo que é imperfeito” (1 Cor 13,10). Isto valeu pelo Antigo Testamento por causa do Novo Testamento, não que ele fosse imperfeito, mas a antiga aliança apontou para a nova aliança. Desta forma, o Senhor exige de seu novo povo frutos e dons maiores que o povo da antiga aliança, por causa da vinda do Messias, do Salvador. Deus, em Jesus Cristo não prometeu mais ao ser humano uma terra onde fluía leite e mel, nem uma longa idade, abundância de pão e de vinho, mas acompanhadas por obras de caridade, o Senhor promete ao ser humano o céu, o paraíso, os bens celestes, a dignidade de ser filhos e filhas adotivos no Pai, irmãos e irmãs no Filho Unigênito, iluminados pelo Espírito Santo, participantes da sua gloria e do seu Reino (8). 

A Palavra de Deus é sempre viva e eficaz para a nossa vida de seguidores e de seguidoras de Jesus Cristo, de sua Igreja e de seu Reino. Ela não irá passar (cf. Mt 24,25) porque ela é vida eterna em vista da conversão do ser humano e de sua salvação.  

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Notas:

1 Cfr. Ireneu de Lião. IV,32,2. Paulus, São Paulo, 1995, pg. 470.
2 Cfr. Idem, pg. 470.
3 Cfr. Agostino. Come catecchizzare i principianti, 2, 39-40. In: La Teologia dei Padri, Volume IV. Roma:
Città Nuova Editrice. 1982, pg. 197.
4 Cfr. Idem, pg. 197.
5 Cfr. Ibidem, pg. 197.

6 Cfr. Ibidem, pg. 198.
7 Cfr. Gregorio di Nazianzo. Discorso in lode dei Maccabei, 15,1-2. In: Ibidem, pg. 197.
8 Cfr. Giovanni Crisostomo. Commento al Vagelo di San Matteo, 16,4-5. In: Ibidem, págs. 190-191.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Transmitir a fé (I) (2)

Foto: Mhonpoo (cc).| Opus Dei

Transmitir a fé (I)

É na própria família que se forja o caráter, a personalidade, os costumes... e também se aprende a conviver com Deus. Uma tarefa que cada dia é mais necessária, como se assinala neste artigo.

03/01/2012

O MISTÉRIO DA LIBERDADE

Ao utilizar a liberdade pessoal, as pessoas nem sempre fazem o que mais lhes convém, ou o que pareceria previsível tendo em conta os meios empregados. Às vezes, as coisas são bem feitas mas não saem como se esperava – pelo menos, aparentemente – e pouco serve culpar-se por esses resultados ou atribuir a culpa a outros.

O mais sensato é pensar como educar cada vez melhor e como ajudar outros a fazerem o mesmo; não há, neste âmbito, fórmulas mágicas. Cada um tem o seu próprio modo de ser, que o leva a explicar e a encarar as coisas de modo diverso. O mesmo se pode dizer dos educandos que, embora vivam num ambiente semelhante, possuem interesses e sensibilidades diversas.

Essa variedade não é, no entanto, um obstáculo. Aliás, amplia os horizontes educativos: por um lado, possibilita que a educação se enquadre, realmente, no quadro de uma relação única, alheia a estereótipos; por outro, a relação com os temperamentos e caráteres dos diversos filhos favorece a pluralidade de situações educativas.

Foto: More Good Foundation (cc). | Opus Dei

Por isso, se bem que o caminho da fé seja o mais pessoal que existe – pois faz referência ao mais íntimo da pessoa, a sua relação com Deus –, podemos ajudar a percorrê-lo; e isso é a educação. Se considerarmos com calma na nossa oração pessoal o modo de ser de cada pessoa, Deus dar-nos-á luzes para acertar.

Transmitir a fé não é tanto uma questão de estratégia ou de programação, mas é facilitar que cada um descubra o desígnio de Deus para a sua vida. Ajudá-lo a que veja, por si próprio, que deve melhorar e em quê, porque nós, de fato, não mudamos ninguém, eles mudam porque querem.

DIVERSOS ÂMBITOS DE ATENÇÃO

Há diversos aspetos que têm grande importância para transmitir a fé. Um primeiro é talvez a vida de piedade na família, a proximidade a Deus na oração e nos sacramentos. Quando os pais não a “escondem” – às vezes involuntariamente –, esse convívio com Deus manifesta-se em ações que O tornam presente na família, de um modo natural e que respeita a autonomia dos filhos. Abençoar as refeições, ou rezar com os filhos pequenos as orações da manhã ou da noite, ou ensinar-lhes a recorrer aos Anjos da Guarda ou a ter manifestações de carinho com Nossa Senhora, são modos concretos de favorecer a virtude da piedade nas crianças, tantas vezes dando-lhes recursos que os acompanharão por toda a vida.

Outro meio é a doutrina; uma piedade sem doutrina é muito vulnerável perante o assédio intelectual que sofrem ou sofrerão os filhos ao longo da vida; necessitam de uma formação apologética profunda e, ao mesmo tempo, prática.

Logicamente, também neste campo é importante saber respeitar as peculiaridades próprias de cada idade. Muitas vezes, falar sobre um tema de atualidade ou de um livro poderá ser uma ocasião de ensinar a doutrina aos filhos mais velhos (isto, quando não sejam eles próprios que se nos dirijam para nos perguntarem).

Com os menores, a formação catequética que podem receber na paróquia ou na escola é uma ocasião ideal. Rever com eles as lições que receberam ou ensinar-lhes de modo sugestivo aspectos do Catecismo que talvez tenham sido omitidos, fará com que as crianças entendam a importância do estudo da doutrina de Jesus, graças ao carinho que os pais demonstram por ela.

Outro aspecto relevante é a educação nas virtudes. Quando há piedade e doutrina, mas faltam virtudes, os filhos acabarão pensando e sentindo como vivem, e não como lhes dite a razão iluminada pela fé, ou a fé assumida, porque pensada. Formar as virtudes requer salientar a importância da exigência pessoal, do empenho no trabalho, da generosidade e da temperança.

Educar nesses bens eleva o ser humano acima dos desejos materiais; torna-o mais lúcido, mais apto para entender as realidades do espírito. Aqueles que educam os filhos com pouca exigência – nunca lhes dizem que “não” a nada e procuram satisfazer todos os seus desejos – fecham-lhes as portas do espírito.

É uma condescendência que pode nascer do carinho, mas também do querer poupar o esforço que exige educar melhor, pôr limites aos apetites, ensinar a obedecer ou a esperar. E como a dinâmica do consumismo é de per si insaciável, cair nesse erro leva as pessoas a estilos de vida caprichosos e volúveis e introduzem-nos numa espiral de procura de comodidade que implica sempre um déficit de virtudes humanas e de interesse pelos outros.

Crescer num mundo em que todos os caprichos são saciados é uma pesada carga para a vida espiritual, que incapacita a alma – quase na raiz – para a doação e o compromisso.

Outro aspeto importante é o ambiente, pois tem uma grande força de persuasão. Todos conhecemos jovens educados na piedade que se viram arrastados por um ambiente que não estavam preparados para superar. Por isso, é preciso estar pendentes de onde se educam os filhos e criar ou procurar ambientes que facilitem o crescimento da fé e da virtude. É algo parecido ao que ocorre num jardim: nós não fazemos crescer as plantas, mas podemos sim proporcionar os meios – adubo, água, etc. – e o clima adequados para que cresçam.

Como aconselhava São Josemaria aos pais: "procurai dar-lhes bom exemplo, procurai não esconder a vossa piedade, procurai ser puros na vossa conduta: então aprenderão e serão a coroa da vossa maturidade e da vossa velhice" [5].

A. Aguiló

[5] São Josemaria Escrivá, Tertúlia, 12-11-1972, em "Educação dos filhos"

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/transmitir-a-fe-i/

“Vivemos com naturalidade” (3)

Fiéis lotam a igreja principal da Administração Apostólica na missa dominical | Davi Corrêa / ACI Digital

“Vivemos com naturalidade”, dizem católicos nascidos e criados no rito romano antigo em Campos.

Por Natalia Zimbrão*

31 de agosto de 2024

A vida paroquial

O padre Ivoli Latrônico é pároco do Imaculado Coração de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Campos dos Goytacazes, maior cidade do Estado do Rio de Janeiro em área, com mais de 4 mil km², e o quinto maior em população, com 483.540 pessoas.

“Os paroquianos têm uma vida muito corrida no sentido de trabalho, coisas de uma cidade grande”, diz o padre Ivoli. “A questão da frequência é um pouco diferente de uma paróquia do interior, por exemplo, onde o acesso é mais fácil, por conta de uma proximidade da igreja”.

Padre Ivoli coloca o sal bento na boca de bebê durante a celebração do batismo na igreja principal da Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

Mas “a vida dos paroquianos, da paróquia em si, é muito sadia”, ressaltou o padre. “É uma paróquia normal. Embora pertença à Administração Apostólica e tenha a peculiaridade do rito na forma antiga, mas temos movimentos, pastorais, pastoral da acolhida, pastoral dos jovens, associações como Apostolado da Oração, Congregação Mariana, catequese, Cruzada Eucarística. Então, é uma vida muito normal, como outras paróquias, sendo que temos aquela característica da forma mais antiga da celebração dos sacramentos e a orientação mais tradicional da Igreja”, disse.

O casal Rafael Ferreira e Ana Cristina de Souza cresceu fazendo parte dessas atividades paroquias e hoje incentivam os filhos a seguir o mesmo caminho. “Desde novos, sempre fizemos parte de grupos e associações. Nós fizemos parte da Cruzada Eucarística, e as crianças hoje fazem parte da Cruzada Eucarística. Eu fui coroinha e o Tadeu também faz parte dos coroinhas. Ana é professora de catequese, fez parte da Pia União das Filhas de Maria. Eu faço parte da Congregação Mariana e ela hoje faz parte do Apostolado da Oração. E hoje nós somos o casal de apoio do grupo de jovens”, contou Rafael.

Integrantes da Pia União das Filhas de Maria fazem a coroação de Nossa Senhora no dia da Assunção de Maria, 15 de agosto. Davi Corrêa / ACI Digital

Para Luzia Salvatte Zanon, a participação na vida paroquial “vai além da participação da santa missa”. Há festa junina, almoço, festa com jovens, encontro de jovens, passeios, excursões. “Estamos aí, vivos, para quem quiser acompanhar a gente”, diz ela. 

O padre Ivoli contou que muitas pessoas acabam se aproximando “da paróquia porque se identificam com o carisma, digamos assim, da Administração Apostólica, do canto gregoriano, do silêncio da igreja e, sobretudo, da missa tradicional”, e acabam integrando a comunidade paroquial. Segundo ele, essas pessoas “têm o desejo de uma espiritualidade mais profunda, sobretudo litúrgica”, o que é favorecida na missa no rito romano antigo com “o canto, o incenso, a liturgia, que são muito ricos”.

O sacerdote disse que muitas famílias participam das missas com seus filhos. “Uma missa dominical tem 100, 120 crianças”, disse. A missa dominical com maior presença de crianças é a das 9h15. Depois, vem a catequese. “Enquanto as crianças vão para o catecismo de acordo com as faixas etárias, temos um momento de formação para os pais. Isso tudo ajuda muito a frequência”, disse.

Crianças da catequese na igreja principal da Administração Apostólica, depois da missa dominical. Davi Corrêa / ACI Digital

O pároco contou que, ao visitar os paroquianos em suas casas, observa “essa espiritualidade que é também vivida em suas vidas de oração, as famílias rezam juntas, frequentam ambientes que são mais católicos, evitam aqueles que são mais mundanos, o modo de falar, de se comportar, de se vestir, a questão da oração pessoal”. “Então, é uma característica que vai para além do recinto da igreja, que as pessoas levam consigo”, acrescentou.

Para Rafael Ferreira, a vivência na paróquia da Administração Apostólica “reflete positivamente” na vida da família, “por causa da sacralidade, da piedade que o rito antigo traz”.

“A vida ativa de missas, de catequese e de terço em família faz a gente conseguir ver coisas na nossa vida pelas mãos de Deus mesmo, providência divina na nossa vida, na nossa família, a gente sente a presença de Deus mesmo. Se a gente esmorece na fé, sente que está faltando alguma coisa a mais. E a gente acaba se entregando mais e a graça de Deus vem”, disse Ana Cristina.

Para o médico e organista Víctor Barcelos, a participação na paróquia e a formação que recebe o ajuda “a colocar Deus no centro de tudo”, o que faz a “procurar sempre seguir os princípios da fé, a ética, tudo isso como forma de louvar a Deus”.

Esta matéria faz parte de uma série de reportagens sobre a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. A próxima será publicada dia 2 de setembro.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59011/vivemos-com-naturalidade-dizem-catolicos-nascidos-e-criados-no-rito-romano-antigo

Papa Francisco já está na Indonésia

Chegada do Papa a Jacarta (Vatican Media)

Devido ao longo voo, não estão previstos compromissos oficiais na terça-feira.

Vatican News

O Papa já se encontra em Jacarta, depois de 13 horas de voo. Às 11h19 locais, o voo da Ita Airways aterrissou no Aeroporto Internacional Soekarno-Hatta da capital indonésia, a primeira etapa da viagem à Ásia e Oceania.

Ao deixar a aeronave, o Pontífice foi acolhido pelo Ministro dos Assuntos Religiosos e por duas crianças em trajes tradicionais, segurando flores. Após a saudação das delegações e da Guarda de Honra, o Papa se dirigiu à Nunciatura Apostólica, onde se encontrou com um grupo de doentes, migrantes e refugiados acompanhados pela Comunidade de Santo Egídio e pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados.

Devido à distância, não estão previstos compromissos oficiais na terça-feira.

Papa saúda criança na Nunciatura (Vatican Media)

Voo papal

Durante o voo, Francisco saudou pessoalmente os cerca de 80 jornalistas a bordo. “Agradeço a vocês por ter vindo a esta viagem. Obrigado por sua companhia, acho que esta é a viagem mais longa que já fiz”, disse o Pontífice. O Papa recebeu alguns presentes, sendo um deles uma tocha usada pelos migrantes para serem interceptados durante a travessia do Mediterrâneo. O objeto foi entregue por Clément Melki, correspondente da agência francesa AFP, enviado por 15 dias para acompanhar o trabalho da ONG "SOS Méditerranée" a bordo do navio "Mar Jonio". "Isso está no meu coração", respondeu Francisco.

Da jornalista da emissora espanhola Radio Cope, Eva Fernández, o Santo Padre recebeu uma mensagem da família do jovem Mateo, um menino de 11 anos de um vilarejo próximo a Toledo, Mocejon. Mateo foi morto em 18 de agosto passado durante um jogo de futebol com seus amigos. Inicialmente, migrantes foram acusados pelo crime, que depois se descobriu ter sido praticado por um colega com problemas mentais. Eva Fernández deu ao Papa o uniforme do time, uma camiseta vermelha com o número 11, abençoada pelo Pontífice.

Papa conversa com a jornalista Eva Fernández (Vatican Media)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Três dicas para cada casamento: de São Gregório Magno

koradras | Shutterstock | Dosseman | Wikimedia Commons | CC BY-SA 4.0 | Colagem de Aleteia

Michael Rennier - publicado em 02/09/24

São Gregório mostra como qualquer casamento pode ser mais feliz e tornar-se uma fonte de conforto e encorajamento à medida que avançamos para a próxima vida.

Gregório, o Grande, tornou-se Santo Padre em 590 e permaneceu Papa até o ano de sua morte em 604. Ele veio de uma nobre família romana e foi escolhido para liderar a Igreja numa época em que a antiga ordem romana estava desmoronando; o governo era menos eficaz e a Igreja estava a tornar-se a cola social que mantinha unida a cidade de Roma.

Gregory escreveu um livro chamado  The Pastoral Rule ,  no qual ensina ao clero como melhor aconselhar aqueles que os procuram com problemas. Este mesmo documento irá ajudá-lo em seu casamento.

Abaixo, São Gregório oferece alguns conselhos básicos para pessoas casadas que continuam a ser muito relevantes para pessoas casadas.

1 Nunca se esqueça que Deus faz parte do seu casamento

Branislav Nenin | Obturador

Gregório escreveu: “Aqueles que são casados ​​devem ser avisados ​​de que, embora se preocupem com o bem do outro, ambos devem procurar agradar aos seus cônjuges de forma a não desagradar ao seu Criador.

O casamento é, acima de tudo, uma relação em que um homem e uma mulher se tornam uma só carne para se ajudarem mutuamente a alcançar o Céu. O caminho particular para a santidade das pessoas casadas é a forma como expandem o seu amor ao longo dos anos.

Isto é conseguido através do aprofundamento da sua fidelidade e consideração mútua e, se Deus quiser, através do nascimento de filhos com os quais possam partilhar cada vez mais o seu amor. Mas Gregório adverte que devemos ter cuidado para que o relacionamento inclua Deus e não nos desviemos dos maus hábitos do outro.

2 Não fique muito preso aos detalhes práticos

O ideal seria que o casal “esperasse as coisas que vêm de Deus como fruto do fim do caminho”. Pelo contrário, o casal evitará dedicar-se “inteiramente ao que está fazendo agora”.

Em outras palavras, o casamento destina-se tanto ao nosso prazer e felicidade agora quanto à nossa felicidade eterna. Não sabemos como os casais se comportavam na época de Gregório, mas sabemos que na nossa época é fácil ficar completamente absorvido pelas preocupações e atividades cotidianas.

Há contas para pagar, filhos para criar, treinos esportivos para agendar, pratos para lavar e casas para manter arrumadas. Dias inteiros podem ser gastos concentrando-se apenas em questões práticas; Portanto, dedique um tempo para você, para conversar ou fazer atividades que lhe deem tranquilidade.

3 Melhore-se antes de exigir melhorias de seu cônjuge

“Eles deveriam ser aconselhados a não se preocuparem tanto com o que devem suportar de seu cônjuge, mas sim a considerar o que seu cônjuge deve suportar por causa deles”.

Este último conselho, se o colocarmos em prática, tornaria os nossos casamentos muito mais felizes. É muito fácil culpar a outra pessoa quando um relacionamento passa por um momento difícil. E é simples apontar o que há de errado com o cônjuge e explicar como isso pode ser corrigido. Mas é muito mais difícil ver o que há de errado conosco e mudar.

Em parte, isso ocorre porque temos um incômodo sentimento de injustiça: não é justo que eu me esforce para manter a cozinha limpa quando ela não o faz; Não é justo eu fazer exercícios e ficar em forma quando ele é viciado em televisão; Não é justo que eu tenha que ser responsável e economizar para a nossa aposentadoria quando ela é uma esbanjadora...

Com estas três dicas simples, Gregório, o Grande, mostra como qualquer casamento pode ser mais feliz e, mais importante ainda, tornar-se uma fonte de conforto e encorajamento à medida que avançamos para a próxima vida.

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/09/02/tres-consejos-para-todo-matrimonio-por-san-gregorio-magno

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

“Vivemos com naturalidade” (2)

Fiéis lotam a igreja principal da Administração Apostólica na missa dominical | Davi Corrêa / ACI Digital

“Vivemos com naturalidade”, dizem católicos nascidos e criados no rito romano antigo em Campos.

Por Natalia Zimbrão*

31 de agosto de 2024

“É tudo muito natural”

Para os fiéis da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, viver o rito romano antigo “é tudo muito natural”, disse o empresário Brunno Guimarães, 33 anos, de Campos dos Goytacazes. “Muitas pessoas olham de fora e falam: a Igreja tradicional e a Igreja progressista. Só que para a gente, isso é muito normal. Assistir uma missa em latim é normal. É como se a diocese tivesse uma continuidade”, disse.

Brunno participa da Administração Apostólica desde 2006. Ele é casado com a farmacêutica e professora universitária Amélia Rodrigues, 39 anos, com quem tem quatro filhos entre um e sete anos. Segundo ele, “até a convivência com as pessoas de fora e daqui da Administração Apostólica” é natural. “A gente não vê tanto essa separação”, disse.

O casal Brunno e Amélia com seus quatro filhos. Davi Corrêa / ACI Digital

“Às vezes, vamos a outros lugares e encontramos grupos ligados a conservadores e sentimos certa diferença”, disse. É comum perguntarem por que não cantam sempre em gregoriano, por que rezam o Pai-nosso em português. “Nós temos uma identidade própria que foi criada com o passar dos anos por essa diocese que nunca deixou de existir”, disse Brunno. “É uma tradição nossa”, porque “foi tudo construído no nosso meio”.

Mesmo quem veio de fora reconhece essa identidade. O padre Leonardo Wagner pertence ao clero da arquidiocese de Fortaleza (CE), mas está desde 2017 na Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, acompanhou pessoas no Ceará que queriam participar da missa no rito romano antigo. Já na Administração Apostólica, além de atuar nas paróquias, também passou um tempo no apostolado externo em Belo Horizonte (MG). O apostolado externo é o envio de padres da administração para rezar a missa tradicional em outras dioceses, sempre a pedido do bispo local. Há hoje padres da administração 14 cidades do país, como Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG).

“Quando eu vim para cá, já tinha 15 anos de padre, hoje tenho 22. A tradição que eu conheci foi esta daqui”, disse.

Para quem quer conhecer a missa tradicional, o padre às vezes diz: “Vocês precisam conhecer a Administração Apostólica, pelo menos ir no fim de semana, assistir a missa, ver como são as pessoas que nasceram aqui”.

Momento da comunhão na igreja principal da Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

A dona de casa Doroteia Silva Robert, 52 anos, de Santo Antônio de Pádua (RJ), também nasceu e cresceu no rito romano antigo. É casada há 35 anos com o representante comercial Antônio Flávio Bon Robert, 61, com quem têm três filhos já adultos. “Como você nasce e aprende a língua materna, a gente aprendeu a tradição”, disse. “Eu nasci na missa sendo rezada em latim, nesse rito. Participo da missa e sei tudo o que acontece, a gente aprende tudo”.

Para Paula Gualandi, 45 anos, filha de Rita de Cássia Gualandi, “é fácil de lidar”. “Eu nunca tive problema [com o latim]. Eu até já lidei com pessoas assim que ficavam questionando e eu achava estranho”, disse. “Procuro entender um pouco, traduzir alguma coisa. Mas, mesmo sem entender, para mim, não é uma questão. Prefiro aquilo pela fé mesmo, mesmo que eu não entenda”, acrescentou.

O padre João Motta Neto, pároco de Nossa Senhora de Lourdes, paróquia da zona rural de Bom Jesus do Itabapoana, contou que “esse povo da zona rural sempre escolheu o rito tradicional”. “Aqui, por exemplo, não tem nenhuma capela da diocese de Campos, porque sempre o povo quis essa missa na forma tridentina”, disse.

A paróquia, criada em 2023, “atende mais 14 comunidades, três situadas em distrito, mas as outras em zona rural, estrada de terra”, onde predominam o cultivo de café e a criação de gado.

Paróquia Pessoal de Nossa Senhora de Lourdes, na zona rural de Bom Jesus do Itabapoana. Davi Corrêa / ACI Digital

“O rito deixa claro a grandeza de Deus, deixa claro a sacralidade do nosso contato com Deus nosso Senhor, e de modo bem acessível. Por exemplo, a missa é em latim, mas nós não falamos em latim com o povo, as homilias, as leituras, algumas outras passagens da missa são em língua vernácula”, disse.

O padre João Neto disse que as pessoas da região “têm toda essa vivência desde seus pais, avós, bisavós, são pessoas simples, mas com muita fé, muita piedade”. Segundo ele, o rito romano antigo “traz essa conjunção da simplicidade do povo juntamente com a fé, que também é simples, porque Deus é simples”.

Para o sacerdote, “um ponto muito importante que é o cerne da questão é a forma do contato com Deus”. O padre João Neto disse que as pessoas falam que, “pelo silêncio, pelo rito em si favorece essa participação que é a participação principal da missa, a união da alma com Cristo crucificado, que é a renovação do sacrifício da Cruz, que é a santa missa”.

A nova geração

O padre Silvano Salvatte Zanon, 44 anos, filho de Luzia Aparecida Salvatte Zanon, é o pároco do Senhor Bom Jesus Crucificado e do Imaculado Coração de Maria, na região urbana de Bom Jesus do Itabapoana. Também cresceu e recebeu todos os sacramentos no rito romano antigo. Segundo ele, hoje se vê um grande número de pessoas em sua paróquia. “Não só meus contemporâneos e até pessoas anteriores a mim. Mas, agora, a Administração já [está] com 22 anos. Então, muitos dos nossos adolescentes, jovens que frequentam aqui já foram nascidos depois da criação da Administração Apostólica e também nascidos e criados vivendo tudo isso”, disse.

Crianças durante a missa dominical na Administração Apostólica. Davi Corrêa / ACI Digital

O sacerdote contou que busca trabalhar com os jovens para que eles possam “ter um grande amor a tudo isso, entender o valor e a grandeza de tudo isso e o quanto isso nos leva ao sobrenatural”. “E algo que buscamos incutir muito é um grande amor à Igreja, uma grande reverência ao Santo Padre o papa, um grande respeito com as autoridades da Igreja”, acrescentou.

A professora de educação infantil Andressa Xavier, 21 anos, participa desde pequena na igreja de Nossa Senhora de Lourdes, na zona rural de Bom Jesus do Itabapoana. “Eu sempre acompanhei meus pais e a vida toda foi assim, não tive outra formação, não conheci coisas diferentes”, disse.

A professora Andressa (à direita) com sua mãe Lucileia, na igreja de Nossa Senhora de Lourdes, onde recebeu os sacramentos e frequenta até hoje. Davi Corrêa / ACI Digital

A mãe de Andressa, a secretária paroquial Lucileia Mendes, 54 anos, que também cresceu no rito romano antigo, contou à ACI Digital que sempre educou os quatro filhos nesse rito da Igreja. “Os filhos seguem muito os pais, o que o pai e a mãe fazem. Então, tem muita coisa do rito novo que eles nem sabem muito bem por que não passamos. Passamos o rito antigo mesmo”, disse.

Para Andressa, viver neste ambiente “é algo normal”. “Nunca passou pela minha cabeça [deixar de participar da missa no rito antigo]”, disse. E o que a motiva a permanecer “é a missa, o silêncio dentro da igreja, a paz que transmite, [o fato de] a gente ter formação com o padre aqui, de a gente precisar de alguma coisa e ele estar presente”, disse.

Na paróquia, contou, além da missa e dos sacramentos, participa do grupo de jovens. “É maravilhoso, não tem explicação. A gente se reúne, senta, conversa, um vai trocando ideia com outro, dando conselho, rezamos o terço, assistimos a missa. Depois, fazemos gincana, brincadeiras. É muito legal”, disse.

O médico Víctor Barcelos, 25 anos, de Campos, cresceu frequentando a paróquia do Imaculado Coração de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a igreja principal da Administração Apostólica, e estudou no Colégio Três Pastorinhos, também da Administração. Além da vivência da fé, na igreja ele viu despertar outro interesse, pela arte. Hoje, é o organista oficial da paróquia.

O organista da igreja principal da Administração Apostólica, Víctor Barcelos. Davi Corrêa / ACI Digital

“Aqui eu vejo muita cultura. Dom Fernando, nosso bispo, sempre falou que a Igreja é uma patrocinadora da arte. Aqui, junto com a capela musical que temos, os corais e tudo o que tem a oferecer, sempre trouxe para mim um contato com a cultura que lá fora eu não encontro. Todo tipo de cultura, arte sacra, música sacra, tudo que tem de mais belo que a gente apresenta a Deus”, disse. “Aqui na Administração Apostólica, pela sacralidade que a missa tridentina traz, pela sacralidade da arte que a gente produz, tudo isso faz a gente enxergar o céu na terra. É um modo de viver a fé que muito enriquece espiritualmente”.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59011/vivemos-com-naturalidade-dizem-catolicos-nascidos-e-criados-no-rito-romano-antigo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF