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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Jesus e seu Abbá

Effatá! Abre-te! (parroquiaasuncion)

Jesus e seu Abbá

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)

Para cumprir minha missão, que me concedeste, ó Abbá, precisei ser um itinerante. Porque “as raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Não reclamo, ó Abbá, pois a itinerância é própria do nosso Espírito.

Eu estava na região de Tiro e sai da região. Passei por Sidônia e continuei até o mar da Galiléia, atravessando a região da Decápole. Uma caminhada bem intensa. E a minha missão de anunciar o Reino de Deus irrompendo-se na minha pessoa ia acontecendo mesmo de forma pequena. É verdade, ó Abbá, o seu Reino é como o grão de mostarda pequeníssimo lançado na terra, mas torna-se a maior das hortaliças.

Nesta minha itinerância pela região da Decápole, eminentemente pagã, aconteceu que um grupo de pessoas me trouxeram um homem surdo, que falava com dificuldade. Que pena me deu este homem: não poder ouvir e falar com dificuldade. Ele também tinha o direito de ouvir a boa-nova do Reino de Deus; também tinha o direito de anunciar essa boa-nova. Nele, eu enxergava tantos surdos e mudos para o teu Reino de todos os tempos e lugares!

O surdo e quase-mudo estava diante de mim e o grupo com insistência me pediu que lhe impusesse as mãos. Neste pedido estava já expresso a abertura de fé em mim por parte dos pagãos da Decápole. Pensei: é hora de exercer a força divina, mesmo somente curando a surdez e a mudez físicas. Fazia parte da missão: recuperar a vida física, mas sinalizar que eu vim para trazer a vida em abundância.

Como fiz para atender o pedido de impor as mãos e sinalizar o algo mais da vida em abundância?

Abbá, eu afastei-me com o surdo e quase-mudo para fora da multidão: eu não queria espetáculo! Aí eu coloquei os dedos nos seus ouvidos, e cuspi e com a saliva toquei a língua dele. Gestos bem concretos e de proximidade! Então, olhando para o céu, suspirei e disse: “Effatà!”, que quer dizer “Abre-te!”. Claro, a nossa força divina fez com que os ouvidos do homem se abrissem, sua língua se soltasse. Certamente vou precisar muitas e muitas vezes ainda pronunciar o “Effatà para muitos surdos e mudos. Aqui, visivelmente o homem surdo e quase-mudo começou a falar sem dificuldade. A surdez virou escuta, a mudez virou anúncio. Que grande sinal para a escuta e o anúncio do Reino de Deus! É necessário que as pessoas tenham ouvidos abertos e línguas livres para o Reino de Deus. E a vida em abundância estará próxima!

Mas, Abbá, após a abertura dos ouvidos e a liberdade da língua do homem surdo e quase-mudo, recomendei com insistência, que o grupo não contasse a ninguém o que tinha ocorrido. Eu temia que apenas espetacularizariam o fato sem entender o significado maior; não entenderiam como sinal de acolhida do Reino de Deus. Porém, quanto mais eu recomendava, mais eles o divulgavam. Realmente a profundidade do fato ainda não foi captado. Eu preciso ainda esperar mais: as coisas do Reino de Deus são lentas para compreender. A compreensão é uma graça do Alto.

Mas, Abbá, pelo menos, os que estavam me acompanhando e vivenciaram a abertura dos ouvidos e a liberdade da língua do surdo e meio-mudo, ficaram impressionados e diziam a meu respeito: “Ele tem feito todas as coisas: Aos surdos fez ouvir e aos mudos falar”. Já é um primeiro passo! Logo mais também entenderão que a vida em abundância consiste em abrir os ouvidos e libertar a língua para o Reino de Deus. “Surdos“ e “mudos“ não entram no Reino de Deus.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Timor-Leste: no enclave de Oekussi, onde teve início uma história de fé e salvação

O Papa na Missa celebrada em Dili, no Timor-Leste, que recebe a visita de Francisco de 9 a 11 de setembro (Vatican Media)

Timor-Leste vive nestes dias, de 9 a 11 de setembro, a histórica visita do Papa Francisco ao país do sudeste asiático. Nesse contexto, trazendo uma página da história da jovem nação independente desde 2002, o Pe. José Tacain, missionário Verbita, nos apresenta Oekussi-Ambeno, o lugar na ilha do Timor onde os portugueses desembarcaram pela primeira vez no século XVI e onde os primeiros missionários dominicanos desembarcaram com eles. É considerado, portanto, “o local de nascimento do Timor-Leste”

Vatican News

É a faixa de terra “onde tudo começou”, conta à agência missionária Fides o padre José Tacain SVD, missionário timorense nascido em Oekussi, citando a expressão que os timorenses gostam de usar. Oekussi-Ambeno é o lugar na ilha do Timor onde os portugueses desembarcaram pela primeira vez no século XVI e onde os primeiros missionários dominicanos desembarcaram com eles. É considerado, portanto, “o local de nascimento do Timor-Leste”. Mas Oekussi - eis a peculiaridade - hoje é um enclave do Timor-Leste localizado na parte oeste da ilha, portanto, em pleno território indonésio.

Em um território de 814 km² vive uma população de cerca de 70.000 habitantes, que sempre permaneceram, ao longo dos séculos, cultural e espiritualmente ligados ao Timor-Leste, independentemente de quem governasse o Timor-Oeste. Oekussi tem orgulho de seu passado, de sua cultura e de sua fé. Em Oekussi, a área chamada Lifau é o lugar exato onde os primeiros portugueses desembarcaram em 1515, e é o lugar de onde o frade dominicano Antonio Taveira, conhecido pelo povo local como o “Santo Antônio do Timor-Leste”, começou seu trabalho missionário na ilha, como nos lembram um monumento e uma série de placas que celebram a chegada do Evangelho.

O Tratado de Lisboa, entre Portugal e Holanda

Em 1556, um grupo de frades dominicanos estabeleceu o primeiro assentamento permanente em território timorense e Lifau se tornaria mais tarde a capital da então colônia portuguesa. Esse status foi perdido em 1767, quando, devido às frequentes incursões dos holandeses, os portugueses decidiram transferir a capital para Dili, a atual capital do Timor-Leste.

Em 1859, com o Tratado de Lisboa, Portugal e a Holanda dividiram a posse da ilha do Timor, mas confirmaram que o território de Oekussi permanecia sob o domínio português. E mesmo em 1975, quando a Indonésia invadiu o Timor-Leste, o território continuou a ser administrado como parte do Timor-Leste ocupado. Por fim, após o reconhecimento da independência do Timor-Leste em 2002, Oekussi-Ambeno tornou-se novamente parte integrante da jovem república.

Hoje, observa o padre Tacain, em nível político, Oekussi é agora uma “zona econômica especial” porque enfrenta o desafio diário de estar geograficamente separada do resto do país (a única ligação com o Timor-Leste é uma estrada costeira) e precisa de projetos de desenvolvimento, especialmente no setor de turismo.

História da nação e história da Igreja católica estão ligadas

“Oekussi - continua ele - também é um distrito da Arquidiocese de Dili onde a fé nunca desapareceu em 500 anos. Há cinco paróquias e há vestígios históricos da presença de missionários portugueses, como a Igreja de Santa Maria do Rosário. Gostaria de mencionar que havia um seminário católico no local já em 1700. E muitos padres da Igreja de Dili ou membros consagrados de ordens religiosas nasceram lá. As festas religiosas são muito preciosas e celebradas com grande devoção. Tudo isso é um sinal da vitalidade da fé”.

Os fiéis do Timor-Leste frequentemente organizam peregrinações ao monumento que comemora o momento e o local onde, em 18 de agosto de 1515, os portugueses desembarcaram “e onde teve início nossa história de fé e salvação”, observa o padre Verbita. “A história da nação e a história da Igreja católica estão ligadas. Aos colonizadores portugueses reconhecemos que trouxeram a dádiva do Evangelho”, observa ele.

Em Oekussi, encastoado em território indonésio, não nos sentimos sitiados: “Vivemos uma história reconciliada também com relação à Indonésia. Lembro-me de que, em minha infância, havia a administração indonésia como potência ocupante, mas nossa identidade timorense nunca foi enfraquecida. Naquela época, o regime de Suharto tinha objetivos imperialistas que não existem mais e hoje temos boas relações de vizinhança. Sempre fizemos parte do Timor-Leste, e o Senhor sempre acompanhou nosso caminho”.

(com Fides)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Quando acreditamos na ação da graça

Pio X em foto de 1904 | 30Giorni

Arquivo 30Giorni 09/09 - 2010

Quando acreditamos na ação da graça

Para fazer a primeira comunhão, basta que, na opinião dos pais e do confessor, a criança conheça, segundo as suas capacidades, os mistérios da fé necessários por necessidade e distinga o pão eucarístico do pão comum.

por Lorenzo Cappelletti

Em 8 de agosto de 1910, a Sagrada Congregação dos Sacramentos promulgou o decreto Quam singulari . Este decreto, que trata da idade de admissão das crianças à primeira comunhão eucarística ( de aetate admittendorum ad primam communionem eucharisticam ), completava uma série de pronunciamentos que, a partir do pontificado de Leão XIII, tinham visto a comunhão frequente com cada vez maior favor. . Um problema que é tudo menos marginal na era moderna. Não é à toa que desde meados do século XVII diferentes escolas, que só por preguiça historiográfica são identificadas sic et simpliciter com as jesuítas e jansenistas, lutaram por este problema. O que é pastoral sim, mas como catalisa toda uma dogmática e eclesiologia, toca o cerne do fato cristão.

Estávamos falando de Leão XIII. Pois bem, um dos últimos atos solenes do seu pontificado foi a encíclica Mirae caritatis de 28 de maio de 1902, dedicada precisamente à santíssima Eucaristia. «Nós, que temos pouco para viver», escreve o Papa, «nada melhor podemos desejar do que poder emocionar na alma de todos e nutrir o afeto da gratidão consciente e da devida devoção ao maravilhoso Sacramento no qual julgamos basear-nos. de modo especial na esperança e na eficácia daquela salvação e daquela paz pela qual todos se esforçam apaixonadamente». Por esta razão, o Papa quer, entre outras coisas, que “aquele erro muito prejudicial e generalizado daqueles que pensam que o uso da Eucaristia deveria ser reservado àquelas pessoas que, na ausência de [outras] preocupações e com uma visão estreita, alma consciente, estão cheios de resoluções de vida devocional. Enquanto aquilo, do qual nada é mais excelente e saudável, pertence absolutamente a todos, qualquer que seja a sua posição ou cargo, a todos os que desejam (e não há ninguém que não deva querer) nutrir em si a vida da graça divina , cujo propósito é alcançar uma vida abençoada em Deus."

Pio ditando o estado de graça e a intenção correta como as únicas condições. Com o decreto Quam singular Pio O decreto não é recomendado apenas pelas oito normas específicas (que relatamos na íntegra) que irão regular a admissão das crianças à confissão e à comunhão quase até aos dias de hoje, mas também pelo realismo e piedade com que a fragilidade é encarada pelos condição humana: «Embora uma instrução particularmente diligente e uma confissão sacramental precisa sejam precedidas da primeira comunhão, o que em todo caso não acontece em todos os lugares, deve-se sempre lamentar a perda da inocência primitiva, que talvez pudesse ter sido evitada se a 'Eucaristia nos anos anteriores'. Que possamos notar naquele “algo que não acontece em todos os lugares”, em oposição ao “sempre”, o realismo da ordem natural e sobrenatural de uma Igreja ainda especialista em humanidade. Ao realçar danos maiores do que as alegadas vantagens de uma preparação “particularmente diligente” (“o que não acontece em todo o lado”, recordemos), o decreto continua: “Danos deste tipo são infligidos por aqueles que insistem mais do que o necessário numa preparação particular para a primeira comunhão, talvez sem perceber que esse tipo de garantia se inspirava nos erros dos jansenistas, que afirmam que a santíssima Eucaristia é uma recompensa e não um remédio para a fragilidade humana. Porém, o Concílio de Trento (Sess. XIII, capítulo 2) entendeu diferentemente quando ensinou que “é um antídoto em virtude do qual somos libertos dos pecados diários e preservados dos pecados mortais” [...]. Por outro lado, parece não haver razão para exigir agora, quando em tempos antigos as restantes partes das espécies sagradas também eram distribuídas às crianças, uma preparação particular para as crianças que se encontram na condição muito feliz de primeira franqueza e inocência e que temos uma necessidade especial desse alimento místico, dados os muitos perigos e armadilhas do tempo presente." Às vezes, os acontecimentos atuais não coincidem com a contemporaneidade.

Abaixo relatamos os oito pontos regulatórios do decreto Quam singulari .

I. A idade de discernimento tanto para a confissão como para a comunhão é aquela em que a criança começa a raciocinar, ou seja, por volta dos sete anos, tanto acima como abaixo. A partir deste momento começa a obrigação de satisfazer os preceitos da confissão e da comunhão.

II. O conhecimento pleno e perfeito da doutrina cristã não é necessário para a primeira confissão e a primeira comunhão. Porém, a criança terá mais tarde que aprender gradativamente todo o catecismo de acordo com a capacidade de sua inteligência.

III. O conhecimento da religião que se exige da criança para a sua adequada preparação para a primeira comunhão consiste em perceber, segundo a sua capacidade, os mistérios da fé necessários por necessidade*, e em distinguir o pão eucarístico do pão comum que nutre o corpo, aceder à Sagrada Eucaristia com aquela devoção que a sua idade exige.

IV. A obrigação do preceito de confissão e comunhão que pesa sobre o filho recai especialmente sobre aqueles que dele devem cuidar, isto é, sobre os pais, sobre o confessor, sobre os tutores e sobre o pároco. Segundo o Catecismo Romano, cabe ao pai ou a quem o substituir e ao confessor admitir o filho à primeira comunhão.

V. Uma ou mais vezes por ano, os párocos tenham o cuidado de anunciar a comunhão geral dos filhos, à qual participam não só os novos comungantes, mas também os demais que, com o consentimento dos pais ou do confessor, como foi dito acima , já foram admitidos antes de se alimentarem pela primeira vez no altar sagrado. Alguns dias de instrução e preparação podem ser dados em favor de ambos.

VI. Quem cuida dos filhos deve zelar com toda a diligência para que, depois da primeira comunhão, os mesmos filhos tenham acesso frequente e, se possível, até diariamente, à mesa sagrada, como desejam Cristo Jesus e a Mãe Igreja, e que o façam com aquela devoção de alma que esta era acarreta. Quem tem esses cuidados deve também lembrar-se da gravíssima tarefa que tem de cumprir para garantir que as crianças continuem a participar na instrução pública do catecismo, ou pelo menos compensem a sua instrução religiosa de outra forma.

VII. A prática de não admitir as crianças à confissão ou de nunca as absolver quando atingiram o uso da razão deve ser absolutamente rejeitada. Portanto, os Ordinários locais, também tomando medidas legais, farão com que seja completamente eliminado.

VIII. O abuso de não administrar o viático e a extrema-unção às crianças que têm o uso da razão e de sepultá-las com o rito infantil é absolutamente detestável. Os Ordinários locais devem repreender severamente aqueles que não se afastam de tais práticas . * «Diz-se que um ato é de média necessidade quando, tanto pela sua própria natureza como em virtude do plano divino, é o único meio para obter a vida eterna e a ajuda necessária para alcançá-la, de modo que a sua omissão, mesmo involuntária , coloca a impossibilidade de alcançar a própria salvação" (do verbete necessité editado por Émil Amman no Dictionnaire de Théologie catholique ).

Fonte: http://www.30giorni.it/

A Eucaristia ensina fraternidade, diz o Papa Francisco

Papa Francisco em mensagem de vídeo aos participantes do 53° Congresso Eucarístico Internacional. | Captura de vídeo - Sala de Imprensa da Santa Sé (ACI Digital)

A Eucaristia ensina fraternidade, diz o papa em mensagem ao Congresso Eucarístico Internacional 2024

Por Hannah Brockhaus*

9 de setembro de 2024

O dom da Eucaristia nos ajuda a ser o corpo de Cristo para os outros, disse o papa Francisco em mensagem de vídeo enviada ontem (8) ao Congresso Eucarístico Internacional 2024 em Quito, Equador.

A Eucaristia ensina “uma profunda fraternidade, nascida da união com Deus, nascida de nos deixarmos moer, como o trigo, para que possamos nos tornar pão, corpo de Cristo, participando assim plenamente da Eucaristia e da assembleia dos santos”, disse o papa em mensagem gravada no Vaticano.

O 53º Congresso Eucarístico Internacional começou ontem em Quito, Equador, e vai até 15 de setembro, em comemoração ao 150º aniversário da consagração do país ao Sagrado Coração de Jesus.

Mais de 20 mil pessoas vão participar do congresso, vindas de pelo menos 40 países ao redor do mundo. Mais de 1,5 mil crianças fizeram sua primeira comunhão ontem (8) durante a missa de abertura. O tema do congresso internacional deste ano é “Fraternidade para curar o mundo”.

Missa de abertura do Congresso Eucarístico Internacional 2024 celebrada ontem (8) em Quito, Equador. Matteo Ciofi/CNA

A mensagem do papa Francisco chegou a Quito, onde o primeiro Congresso Eucarístico Nacional foi realizado em 1886, enquanto o papa está em viagem de 11 dias à Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor Leste e Singapura.

No vídeo, Francisco menciona os Padres da Igreja santo Agostinho de Hipona e santo Inácio de Antioquia.

Eles disseram “que o sinal do pão acende no Povo de Deus o desejo de fraternidade, pois assim como o pão não pode ser amassado de um único grão, também devemos caminhar juntos, porque ‘embora sejamos muitos, somos um só corpo, um só pão' ”, disse o papa.

Francisco também falou sobre a fraternidade “proativa” da venerável irmã Angela Maria do Coração de Jesus religiosa alemã, morta em campo de extermínio nazista na Segunda Guerra Mundial.

“Antes de ser presa, convidava todos, crianças, parentes e aos que eram devotos a rebelar-se contra o mal que dominava com gestos simples e, em certas áreas, perigosos”, disse o papa, como “aproximar-se o máximo possível do Sacramento do altar, rebelar-se comungando”.

A venerável Ângela encontrou na Eucaristia “um vínculo que fortalece esse vigor entre seus membros e com Deus, e ‘organizou’ a rede de resistência que o inimigo não pode desfazer, porque não responde a um desígnio humano”, disse Francisco.

“São esses gestos simples que nos tornam mais conscientes do fato de que, se um membro sofre, todo o corpo sofre com ele”, disse o papa.

*Hannah Brockhaus é jornalista correspondente da CNA em Roma (Itália). Ela cresceu em Omaha, no estado americano de Nebraska e é formada em Inglês pela Truman State University no Missouri (EUA).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59125/a-eucaristia-ensina-fraternidade-diz-o-papa-em-mensagem-ao-congresso-eucaristico-internacional-2024

Do Sermão sobre as Bem-aventuranças, de São Leão Magno, papa

Amar a Lei de Deus (Cléofas)

Do Sermão sobre as Bem-aventuranças, de São Leão Magno, papa

(Sermo 95,8-9: PL 54,465-466)                  (Séc.V)

Grande paz para os que amam a tua lei

Com razão a bem-aventurança de ver a Deus é prometida aos corações puros. Pois os olhos imundos não podem ver o esplendor da verdadeira luz; será alegria das almas límpidas aquilo mesmo que será castigo dos corações impuros. Para longe então a fuligem das vaidades terenas. Limpemos de toda iniquidade suja os olhos interiores, e o olhar sereno se sacie de tão maravilhosa visão de Deus.  

Merecer tal coisa, penso eu, é o fito do que se segue: Bem-aventurados os pacíficos porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9). Esta bem-aventurança, caríssimos, não consiste em um acordo qualquer nem em qualquer concórdia. É aquela de que fala o Apóstolo: Tende paz com Deus (Rm5,1) e o profeta: Grande paz para os que amam tua lei e para eles não há tropeço (Sl 118,165).  

Mesmo os mais estreitos laços de amizade e uma igualdade sem falha dos espíritos não podem, na verdade, reivindicar para si esta paz, se não concordarem com a vontade de Deus. Estão fora da dignidade desta paz a semelhança na cobiça dos maus, as alianças pecaminosas, os pactos para o vício. O amor do mundo não combina com o amor de Deus, nem passa para a sociedade dos filhos de Deus quem não se separa da vida carnal. Quem sempre com Deus tem em mente guardar com solicitude a unidade do espírito no vínculo da paz (Ef 4,3), jamais discorda da lei eterna, repetindo a oração da fé: Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu (Mt 6,10).  

São estes os pacíficos, estes os unânimes no bem, santamente concordes, que receberão o nome eterno de filhos de Deus, co-herdeiros de Cristo (cf. Rm 8,17). Porque o amor de Deus e o do próximo lhes obterão não mais sentir adversidades, não mais temer escândalo algum. Mas terminado o combate de todas as tentações, repousarão na tranquila paz de Deus, por nosso Senhor que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.  

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Francisco chega a Timor-Leste, terceira etapa de sua viagem à Ásia-Oceania

Papa Francisco chega a Dili  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

O Papa Francisco se despediu de Papua Nova Guiné nesta segunda-feira em um encontro com a presença de cerca de 10 mil jovens do país no Estádio Sir John Guise, na capital, com os quais o Pontífice conversou e garantiu: “Todos nós podemos cometer erros”.

Silvonei José – Vatican News

No aeroporto de Port Moresby, para o cerimônia de despedida, o Papa foi recebido pelo primeiro-ministro James Marape, na Meeting Romm 2, com quem manteve um breve colóquio. Antes de embarcar no avião, saudou a comitiva local e a delegação papuásia.

O avião papal deixou o aeroporto internacional de Port Moresby com destino a Timor-Leste às 12h12 locais. Depois de 3h30 de voo e percorrer 2.578 Km chegou ao aeroporto de Internacional de Dili, Presidente Nicolau Lobato às 14h20, hora local.

No aeroporto de Dili o Papa foi acolhido por duas jovens que lhe entregaram um buque de flores e um cachecol com as cores tradicionais. Em seguida o encontro com o presidente da República, José Manuel Ramos-Horta. O Papa passou em revista a guarda de honra e saudou as Delegações. Não houve discursos.

O Papa deixou o aeroporto Internacional de Dili transferindo-se para a Nunciatura Apostólica onde será hóspede durante a sua permanência em Timor-Leste.

No final da tarde desta segunda-feira o Papa se dirigirá até o Palácio Presidencial para a cerimônia de boas-vindas, visita de cortesia ao presidente Ramos-Horta e o encontro com as autoridades, a sociedade civil e o Corpo Diplomático. Ali fará o seu primeiro discurso em terras timorenses.

Chegada do Papa a Timor Leste

https://youtu.be/27GAo0b-_gs

Despedida de Papua Nova Guiné

Antes de seguir para Timor-Leste para a terceira etapa de sua Viagem Apostólica à Ásia-Oceania, Francisco foi ao estádio de Port Moresby para se encontrar com milhares de jovens em um país assolado pela pobreza, violência e calamidades naturais. O Papa percorreu o estádio em um carrinho de golfe e foi recebido com festa por jovens católicos de várias partes do país, que cantaram, dançaram e apresentaram danças tradicionais. Aos jovens desse grande arquipélago com mais de 800 idiomas, Francisco pediu que aprendessem “uma linguagem comum: a linguagem do amor”.

Como acontece nesse tipo de encontro, Francisco preferiu não fazer um discurso preparado e iniciou um diálogo com os jovens: “um jovem pode cometer um erro, um adulto pode cometer um erro e uma pessoa idosa como eu pode cometer um erro? Sim, todos nós podemos cometer erros, disse Francisco. Ele acrescentou que “o importante é perceber que estamos errados”. “Não somos o super-homem”, acrescentou, e explicou que podemos cair, ‘mas o importante é não permanecer caído’.

Papa com os jovens (Vatican Media)

Ele também falou aos jovens sobre a necessidade de não cair na indiferença, “que é quase pior do que o ódio”, e os exortou a que, quando encontrarem alguém caído na rua, ajudem-no, e pediu a todos os jovens que fizessem o gesto de levantar alguém do chão.

“Agradeço a presença de vocês, estou feliz com o entusiasmo de vocês e com tudo o que fazem. Agradeço por sua alegria, sua presença e suas ilusões”, acrescentou. E concluiu pedindo às pessoas que rezem por ele, porque seu trabalho “não é fácil”.

Francisco se despede de Papua Nova Guiné: o destino agora é Timor Leste (Vatican Media)

https://youtu.be/o_MJIXlIDb4

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 8 de setembro de 2024

Celular causa câncer no cérebro?

O celular não está associado ao câncer no cérebro, de acordo com uma importante revisão de 28 anos de pesquisas (Crédito: Getty Images)

Celular causa câncer no cérebro?

  • Author: Sarah Loughran* e Ken Karipidis*
  • Role: The Conversation*
  • 5 setembro 2024

Uma revisão sistemática sobre os possíveis efeitos à saúde decorrentes da exposição às ondas de rádio mostrou que os telefones celulares não estão relacionados ao câncer no cérebro.

A análise, encomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi publicada nesta semana na revista científica Environment International.

Os celulares geralmente são segurados junto à cabeça durante o uso. E eles emitem ondas de rádio, um tipo de radiação não ionizante. Estes dois fatores são, em grande parte, o motivo pelo qual surgiu a ideia de que os celulares poderiam causar câncer no cérebro.

A possibilidade de que os celulares possam causar câncer é uma preocupação de longa data. Os celulares — e a tecnologia wireless (sem fio) de forma mais ampla — são uma parte importante das nossas vidas cotidianas. Por isso, é fundamental que a ciência avalie a segurança da exposição às ondas de rádio destes dispositivos.

Ao longo dos anos, o consenso científico permaneceu forte — não há associação entre as ondas de rádio dos celulares e o câncer no cérebro, ou a saúde de forma mais ampla.

Radiação como possível carcinógeno

Apesar do consenso, foram publicados estudos de pesquisa ocasionais que sugeriram a possibilidade de fazer mal.

Em 2011, a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês) classificou a exposição a ondas de rádio como um possível carcinógeno para seres humanos. O significado desta classificação foi amplamente mal interpretado — e levou a um aumento na preocupação.

A IARC faz parte da Organização Mundial da Saúde. E sua classificação das ondas de rádio como um possível carcinógeno foi baseada, em grande parte, em evidências limitadas de estudos observacionais com seres humanos. Também conhecidos como estudos epidemiológicos, eles observam a taxa de doenças, e como elas podem ser causadas em populações humanas.

Estudos observacionais são a melhor ferramenta que os pesquisadores têm para investigar efeitos de longo prazo na saúde dos seres humanos, mas os resultados podem ser, com frequência, tendenciosos.

A classificação da IARC se baseou em estudos observacionais anteriores, em que pessoas com câncer no cérebro relataram que usavam o celular mais do que realmente usavam. Um exemplo é o estudo conhecido como Interphone.

Esta nova revisão sistemática de estudos observacionais em seres humanos é baseada em um conjunto de dados muito maior em comparação com o que a IARC analisou em 2011.

Ela inclui estudos mais recentes e mais abrangentes. Isso significa que agora podemos ter mais confiança de que a exposição a ondas de rádio de telefones celulares ou tecnologias sem fio não está associada a um risco maior de câncer no cérebro.

Nenhuma associação

Tradicionalmente, os celulares eram segurados junto à cabeça, mas hoje em dia as pessoas também usam fones de ouvido ou fazem videochamadas (Crédito: Getty Images)

A nova análise faz parte de uma série de revisões sistemáticas encomendadas pela OMS para investigar mais de perto os possíveis efeitos na saúde associados à exposição a ondas de rádio.

Esta revisão sistemática oferece a evidência mais forte até o momento de que as ondas de rádio de tecnologias sem fio não são um risco à saúde humana.

É a revisão mais abrangente sobre este tema. Ela levou em consideração mais de 5 mil estudos, dos quais 63, publicados entre 1994 e 2022, foram incluídos na análise final. A principal razão pela qual estudos foram excluídos foi que eles não eram realmente relevantes; isso é muito comum em resultados de pesquisa de revisões sistemáticas.

Não foi encontrada nenhuma associação entre uso de celular e câncer no cérebro, ou qualquer outro câncer na cabeça ou pescoço.

Também não foi encontrada associação com o câncer se a pessoa usava telefone celular por dez anos ou mais (uso prolongado). A frequência de uso — com base no número de chamadas ou no tempo gasto ao telefone — tampouco fazia diferença.

É importante ressaltar que estas descobertas estão alinhadas com pesquisas anteriores. Isso mostra que, embora o uso de tecnologias sem fio tenha aumentado enormemente nas últimas décadas, não houve aumento na incidência de câncer no cérebro.

Notícia boa

No geral, os resultados são muito tranquilizadores. Eles significam que nossos limites de segurança nacionais e internacionais são protetores.

Os celulares emitem ondas de rádio de baixo nível, abaixo destes limites de segurança, e não há evidências de que a exposição a elas tenha impacto na saúde humana.

Apesar disso, é importante que as pesquisas continuem. A tecnologia está se desenvolvendo em um ritmo acelerado. Com esse avanço, vem o uso de ondas de rádio de diferentes maneiras, com diferentes frequências. Por isso, é essencial que a ciência continue a garantir que a exposição às ondas de rádio provenientes destas tecnologias permaneça segura.

O desafio que temos agora é assegurar que esta nova pesquisa acabe com as concepções equivocadas e a desinformação persistentes sobre telefones celulares e câncer no cérebro.

Ainda não há evidências de nenhum efeito para a saúde decorrente da exposição relacionada aos telefones celulares — e isso é uma coisa boa.

* Sarah Loughran é diretora de pesquisa e assessoria em radiação da Agência Australiana de Proteção à Radiação e Segurança Nuclear (ARPANSA, na sigla em inglês), e professora da Universidade de Wollongong, na Austrália.

*Ken Karipidis é diretor assistente de avaliação de impacto na saúde da ARPANSA e professor da Faculdade de Saúde Pública e Medicina Preventiva da Universidade Monash, na Austrália.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgjve7y6407o

Transparência

Pedro e Cornélio (cancaonova)

Transparência

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

Diante do mar de corrupção que assola as sociedades modernas, se impõe a reflexão sobre a justiça, honestidade e cidadania na gestão das coisas públicas. Grandes conclomerados econômicos não raro, vão à falência por falta de transparência na sua gestão. A transparência é importante não só por motivos éticos, mas também para se obter o sucesso almejado.

No atual pontificado, o papa Francisco colocou para a Igreja uma agenda de atualização e mudanças que inclui o máximo de transparência no governo eclesial, em todas as áreas. Isto não é fácil, mas esta é uma proposta que veio para ficar, mesmo porque já está sendo implementada.

Uma Igreja sinodal necessita da cultura e prática da transparência e prestação de contas (accountability, um termo inglês também utilizada noutras línguas), que são indispensáveis a fim de promover a confiança recíproca, necessária para caminhar juntos e exercer a corresponsabilidade pela missão comum. Na Igreja, o exercício da prestação de contas não responde em primeiro lugar a exigências de carácter social e organizativa. O seu fundamento está na natureza da Igreja que é  “mistério da comunhão”.

Na Biblia se encontram práticas de prestação de contas na vida da Igreja primitiva ligadas à preservação da comunhão. O cap. 11 dos Atos dos Apóstolos oferece um exemplo: quando Pedro regressa a Jerusalém depois de ter batizado Cornélio, um pagão (cf. At 11,2-3). Pedro responde com uma narrativa que presta contas da sua atuação. A prestação de contas do ministério à comunidade faz parte da tradição mais antiga da Igreja. A teologia cristã do serviço (stewardship) oferece um quadro de referência que permite compreender o exercício da autoridade no priema da transparência e prestação de contas.

No nosso tempo, impôs-se a exigência de transparência e prestação de contas na Igreja e por parte da Igreja, após a perda de credibilidade resultante dos escândalos financeiros e principalmente dos abusos sexuais. A falta de transparência e de formas de prestação de contas alimenta o clericalismo, que assenta no pressuposto implícito de que os Ministros ordenados não devem prestar contas a ninguém no exercício da autoridade que lhes foi conferida. Erro fruto da exclusão da idéia de serviço no ministério.

Se a Igreja quer ser acolhedora, então, prestação de contas e transparência devem situar-se no centro da sua ação a todos os níveis e não apenas a nível da autoridade. No entanto, quem desempenha cargos de autoridade tem maior responsabilidade neste campo. Deve incidir igualmente nos planos pastorais, métodos de evangelização e modalidades com que a Igreja respeita a dignidade da pessoa humana.

A transparência deve ser uma característica do exercício da autoridade na Igreja. Hoje em dia, são necessárias estruturas e formas de avaliação regular do modo como são exercidas todas as responsabilidades. A avaliação, entendida em sentido não moralista, permite  introduzir ajustamentos e favorece o crescimento e a capacidade dos agentes de pastorais de prestarem um serviço melhor.

Acostumamos medir a honestidade alheia pela nossa, mas sempre é necessário ter presente que o melhor caminho é a honestidade, a transparência. Sabemos que não tardará a transigir sobre o fim quem está disposto a transigir sobre os meios. Enfim, como escreveu Lacordaire, político, jornalista orador sacro do oitocentos: “honesto é aquele que mede o seu direito pelo seu dever”.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Reflexão para o XXIII Domingo do Tempo Comum (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

“A Fé e a Palavra”: No Evangelho Jesus curou um surdo que, por causa dessa deficiência, falava com dificuldade. O Senhor o levou para fora da multidão, tocou-o em seu ouvido e língua e disse sobre ele: "Abre-te!"

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A segunda leitura de hoje, tirada da Carta de São Tiago, nos questiona quanto ao nosso relacionamento com as pessoas que são ricas, bonitas, inteligentes, realizadas profissionalmente, afetivamente, enfim, como nos portamos diante das pessoas bem sucedidas de acordo com o critério mundano. Ao mesmo tempo, São Tiago também analisa nosso comportamento em relação ao pobre, ao deficiente, ao feio, ao menos inteligente, ao desempregado, ao sem teto, enfim aos marginalizados em nossa sociedade.

Se somos batizados, se fizemos a profissão de fé cristã e a renovamos a cada domingo no momento do Credo, deveremos agir como Jesus Cristo e ter um especial carinho pelos pobres e oprimidos já que eles mereceram uma atenção especial de Jesus e continuam sendo os filhos queridos do Pai.

Contudo, deixamos a carne falar mais forte e agimos de acordo com os critérios humanos, mesmo sabendo que fazemos algo errado. O belo, o aceito socialmente nos atrai tanto, na mesma proporção em que repugnamos o feio. Ao mesmo tempo demonstramos também nossa fragilidade, temendo a reação do mundo, em não sermos aceitos por causa de nossa postura socialmente incorreta diante dos códigos sociais elitistas. Aí renegamos o Cristo crucificado, que está no marginalizado, e abraçamos as pompas e as obras que o crucificaram.

Muitas vezes conseguimos ter atitudes cristãs dentro das igrejas, na hora da missa, mas tal não consegue resistir a um confronto em um ambiente extra eclesial. É na sociedade, nos casamentos, nas festas, no trabalho, na rua, nos hospitais, que somos chamados a sermos sal da terra e luz do mundo. É aí que deveremos fazer a diferença.

Criticamos muito os nossos políticos e deveremos continuar criticando-os quando não fazem o que prometeram em época de eleições. Alguns até se deixam subornar por dinheiro ou por acordos partidários.

Mas atenção,  não só os políticos corruptos são coniventes com os erros denunciados por uma frase do livro do Eclesiastes (13,3), mas também nós: "O rico comete uma injustiça e ainda se mostra altivo, o pobre é injustiçado e ainda se desculpa”. Concordaremos com isso ou vamos lutar pela justiça, evitando discriminação? Se cremos em Deus, nossas relações serão marcadas pela justiça e pela caridade.

No Evangelho Jesus curou um surdo que, por causa dessa deficiência, falava com dificuldade. O Senhor o levou para fora da multidão, tocou-o em seu ouvido e língua e disse sobre ele: "Abre-te!"  O surdo, como não escuta, não sabe o que passa ao seu redor e geralmente, como no relato de hoje, tem dificuldade em se expressar e, por tudo isso se sente e é marginalizado. Jesus o retirou dessa situação, devolvendo-o capacitado. A ação cristã o reintegrou à sociedade.

Ao mesmo tempo o Senhor recomenda silêncio em relação ao seu feito. Perguntamo-nos o porquê? Porque Ele sabe que o testemunho dado só será possível quando as pessoas passarem, como ele Jesus passou, pela cruz e ressurreição. É no Calvário que surge o homem novo, o homem que supera os contra valores mundanos e revela a fé autêntica, a entrega radical ao querer do Pai, isto é, à prática da justiça.

Se Deus privilegia os pobres, que lugar ocupa os carentes em minha vida? Até onde pratico e luto por uma justiça social?

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 7 de setembro de 2024

Viagem à Ásia, entre os presentes de Francisco uma medalha que fala ao Oriente

Lado anverso das medalhas de prata e bronze da 45ª Viagem Apostólica Internacional do Papa Francisco à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura (Vatican Media)

Segundo a tradição, o Papa oferece às autoridades políticas e religiosas uma medalha cunhada por ocasião da viagem apostólica. Em poucos centímetros de diâmetro, os quatro países orientais são resumidos através dos seus símbolos principais, dominados pela proteção da Virgem com o Menino. No anverso da medalha, o brasão papal. A partir do terceiro ano de pontificado, por vontade do próprio Pontífice, não aparece a sua imagem, mas apenas o seu brasão.

Maria Milvia Morciano – Vatican News

O Papa Francisco doou, como é habitual, o medalhão comemorativo da viagem e a medalha de ouro do pontificado ao presidente da República da Indonésia, e doará também aos presidentes de Timor-Leste e Singapura e ao governador-geral da Papua Nova Guiné, bem como a cada nunciatura apostólica dos quatro países visitados. Ele entregará uma medalha da viagem ao primeiro-ministro de Singapura.

O presente, um vínculo de amizade

Na tradição mais arcaica, o presente é algo que uma pessoa leva consigo quando vai a um lugar. A troca de presentes é recíproca, entre convidado e anfitrião, símbolo universal de amizade e, portanto, de vínculo. Basta ler os poemas gregos para ter uma ideia precisa e perceber também como esse uso manteve o mesmo significado ao longo do tempo.

Uma linguagem dos tempos que mudam

Durante as suas viagens, o Papa dá e recebe presentes que, para além do seu valor intrínseco, têm um valor metafórico. As medalhas estão entre elas e o fato de serem realizadas para a ocasião, de terem imagens compreensíveis em todos os lugares e em todas as línguas, sublinha estes aspectos. O reverso anuncia os locais visitados ou as ocasiões nos seus aspectos fundamentais. O anverso refere-se ao Papa, ao seu nome e ao ano do seu pontificado. Nas medalhas papais o busto do Pontífice ficava principalmente de perfil, mas com o passar do tempo parece girar progressivamente, primeiro em três quartos e depois em posição frontal, que acabou prevalecendo. O perfil, na tradição das moedas gregas e romanas, mas também do Renascimento, provavelmente faz mais sentido no baixo-relevo inscrito nos poucos centímetros disponíveis, mas também confere à pessoa retratada um carácter hierático e, portanto, uma sensação de distância em quem olha. Talvez para evitar tudo isto, as imagens dos Papas mais recentes têm rostos a três quartos, ou estão em posição frontal, e por vezes com sorriso. A medalha por sua natureza parece querer parar o tempo, comemora uma determinada ocasião oficial, mas destaca, como qualquer obra figurativa, as mudanças de estilo, a percepção dos símbolos, sobretudo as mudanças na forma de comunicar: é uma verdadeira e própria linguagem de sinais em miniatura.

Com o Papa Francisco não a imagem, mas o seu brasão

Nos primeiros anos de seu pontificado, o Papa Francisco também foi representado de perfil ou vista de três quartos, mas com o tempo, em vez do rosto, o brasão papal se destaca no anverso da medalha. Aparece junto com outras figuras, por exemplo, uma criança na medalha anual do segundo ano de pontificado. Por fim, prevalece o seu brasão, acompanhado pelo nome e ano de pontificado: uma mudança de estilo que acaba por se consolidar totalmente.

Eleonora Giampiccolo, diretora do Departamento de Numismática da Biblioteca Apostólica Vaticana, confirma que “desde o terceiro ano de pontificado, nas medalhas oficiais, bem como nas moedas, do Papa Francisco a sua imagem já não está presente, mas o brasão, por escolha do próprio Pontífice. Não existe lei que estabeleça a presença ou ausência de uma ou de outra representação. É verdade que antigamente a representação do busto prevalecia nas medalhas, sobretudo nas anuais, mas em tempos mais recentes não faltam exemplos de medalhas oficiais em que encontramos o brasão em vez da imagem. Refiro-me, por exemplo, a algumas medalhas de Paulo VI, as celebrativas do 39º Congresso Eucarístico de Bogotá (1968), da viagem a Uganda (1969) e da viagem ao Extremo Oriente (1970). Elas trazem o brasão e não a imagem. Para as moedas, no passado, brasões e imagens se alternavam indiferentemente."

Arianna Cicconi criou a medalha comemorativa da viagem do Papa Francisco à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura de 2 a 13 de setembro de 2024, cunhada pela empresa Senesi. Ela descreve isso nos microfones dos meios de comunicação do Vaticano: “A medalha é um conjunto de símbolos dos países que o Papa visitará. Em particular, temos o Merlion para Singapura, a ave do Paraíso para a Papua Nova Guiné, um rapaz usando o kaibauk para Timor-Leste que é um cocar tradicional, e por fim, o Garuda dourado para a Indonésia, um símbolo nacional, ou seja, uma águia dourada. No centro, continua a desenhista, eu quis também incluir a figura de Nossa Senhora com o Menino em atitude de bênção, como que para consagrar a visita do Papa. Por fim, considerando que na minha opinião se trata de países com uma natureza de uma beleza incrível, eu quis acrescentar alguns elementos como flores e plantas típicas e uma faixa no centro com um elemento decorativo que lembra a água, porque são locais com tradições muito fortes ligadas ao mar. Quis fazer esta homenagem que pudesse abranger tanto o ponto de vista cultural da tradição quanto da natureza que são fundamentais para este povo”, conclui.

Uma das grandes dificuldades da arte da medalha é inserir e tornar legíveis tantos símbolos num espaço relativamente pequeno. Cicconi observa que “obviamente o espaço é limitado e procuramos sempre dar a mesma importância a cada elemento, até porque podemos criar o risco de a composição ficar muito cheia, e que os elementos se percam e se confundam. Criar o equilíbrio certo é bastante difícil, mas fazendo várias tentativas consegue-se sempre chegar à harmonia desejada."

Cliente e inspiração

“Recebi sugestões sobre quais tipos de símbolos representativos usar, e depois analisei mais detalhadamente para ver do que se tratava e como inseri-los corretamente. Por exemplo, o cocar típico de Timor-Leste foi inicialmente apenas mencionado pela Secretaria de Estado e eu nem sabia o que era. Obviamente acho que um artista, um desenhista, deve sempre se aprofundar nas sugestões que um cliente lhe dá, também para poder criar uma obra o mais completa possível”, explica Arianna Cicconi.

Partir de um esboço

Sobre a escolha dos símbolos e elementos que farão parte da composição, o artista explica: “Normalmente parto de um esboço, ou melhor, de uma série de esboços que depois são examinados pelo cliente e geralmente não se consegue resolver rapidamente porque há sempre preferências ou um estilo que o cliente prefere".

Um estilo que segue a tradição

O estilo de Arianna Cicconi é clássico, harmonioso, inspirado na grande tradição romana do barroco, como ela confirma: “Gosto muito de um estilo decorativo clássico. Estou muito inclinada para este tipo de imagens e representações. Não me sinto muito confortável com o abstracionismo ou com a linguagem minimalista atual. Algumas vezes me pediram esse tipo de design, mas acho a linguagem clássica mais adequada".

Os muitos passos para realizar uma medalha

Mas como se faz uma medalha? Quais são as etapas desde o esboço até o objeto finalizado? Arianna Cicconi explica as principais etapas que no nível tradicional incluem sempre a criação de um modelo de gesso, pelo menos até a chegada das tecnologias digitais. “O artista faz um esboço a partir do qual se desenha um modelo de gesso que depois é inserido numa máquina chamada pantógrafo que consegue reduzir as dimensões do baixo-relevo que tem um diâmetro maior - a medalha que criei tem 30 centímetros e assim é uma medalha importante – e se cria um modelo de bronze. É feita uma fundição em areia e criada a reprodução exata do bronze que é inserido dentro do pantógrafo e consegue reduzir as dimensões perfeitamente à escala, mantendo a modelagem e o desenho. Consegue-se reduzi-lo em muitos centímetros e assim criar uma punção, ou seja, um material criativo positivo com baixo-relevo positivo e não cavado. Da punção obtêm-se vários cones que são o negativo da modelagem. Depois de vários acabamentos com outros punções, obtém-se finalmente a matriz que se tornará então a fundamental, ou seja, aquela que será utilizada diversas vezes para o batimento de todas as peças”.

Diferença entre medalha e moeda

A autora da medalha para a viagem à Ásia e Oceania, quando questionada sobre a diferença entre medalha e moeda, explicou que “A medalha é antes de tudo um produto artístico, pode também ter formas e relevos particulares que também podem ser abstraídos da forma circular que é quase fundamental para a moeda. Além disso, pode ter relevos muito mais elevados e elementos particulares, ou seja, suplementos. Pode-se jogar muito mais no âmbito artístico. São peças mais raras porque uma medalha tem um valor inferior enquanto a moeda tem um valor institucional porque tem um valor em si, o valor nominal que pode ser lido no anverso da moeda que está sempre presente, pelo menos no que diz respeito às moedas em circulação, porque também existe uma diferença entre as moedas em circulação, ou seja, aquelas que podem ser utilizadas para pagar e as moedas de coleção que também podem ser mais artísticas, que podem ter características mais originais, enquanto as moedas atuais respeitam características rigorosas de produção, ou seja, um relevo de uma certa altura, um tamanho específico e principalmente uma certa percentagem de metal.

Uma Santa Ana jovem para o Canadá

Arianna Cicconi também criou outras medalhas para o Papa Francisco, por exemplo, a da viagem apostólica ao Canadá em 2022. “Foi a primeira medalha para uma viagem apostólica que me pediram para fazer. Na verdade, foi realmente uma emoção. Alguns anos antes, quando ainda frequentava a Escola de Arte da Medalha do Instituto Poligráfico e da Casa da Moeda do Estado de Roma, que frequentei até 2021, um dos meus projetos foi selecionado para a medalha do IX ano de pontificado do Papa Francisco. A medalha canadense, em particular, é um dos projetos que mais me são caros porque gostei muito da figura de Santa Ana com a menina Maria nos braços e depois ao lado dessas duas figuras uma decoração de folhas de bordo que são o símbolo do país. Lembro-me que me disseram que o Papa apreciou o meu desenho porque fui uma das poucas entre todos os seus participantes neste concurso que representou Santa Ana com uma aparência jovem e, portanto, com uma beleza inocente. Isso me emocionou de uma forma particular porque era exatamente isso que eu queria comunicar.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF