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domingo, 15 de setembro de 2024

São Nicomedes

São Nicomedes (A12)
15 de setembro
País: Turquia
São Nicomedes

Nicomedes era um sacerdote romano que viveu no século I, onde os cristãos eram perseguidos pelo imperador Domiciano, um homem tirano e cruel. Nicomedes enterrava os cristãos, vítimas das perseguições. Por isso, foi preso, e, ao se recusar a oferecer sacrifícios aos deuses e abandonar a sua fé, foi assassinado e jogado no rio Tibre, em Roma.

Seu corpo foi recolhido por um clérigo, e enterrado em uma catacumba na Via Nomentana, perto da porta com o mesmo nome. Mais tarde o Papa Adriano I restaurou a igreja construída sobre ele. Além disso, no século V, existia uma igreja titular em Roma dedicada a ele.

Ele é lembrado como um santo cujo martírio ocorreu em uma data específica, 15 de setembro, e é mencionado em diversos documentos históricos, como o Martyrologium Hieronymianum e o Sacramentário Gregoriano.


Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Os mártires são considerados exemplos de fé e coragem, e sua devoção é uma expressão da crença na comunhão dos santos e na intercessão dos santos junto a Deus. A vida de São Nicomedes, como a de qualquer mártir, pode inspirar os fiéis a permanecerem firmes em sua fé, mesmo diante das piores dificuldades e desafios.

Oração:

Ó Deus, que São Nicomedes seja para todos nós exemplo de fidelidade e de espírito resoluto para que possamos nos inspirar em sua vida, professando a fé cristã em todas as circunstâncias. Dai-nos, por sua intercessão, a Graça de permanecer firme na fé. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 14 de setembro de 2024

Exaltação da Santa Cruz: sinal de vida, redenção e esperança

A Festa da Exaltação da Santa Cruz é celebrada neste sábado, 14 de setembro  (Renan Dantas - Diocese de Juína)

A festa em honra à Santa Cruz é celebrada neste sábado (14/09) para meditar sobre o símbolo da nossa fé. O bispo diocesano de Juína - MT, dom Neri José Tondello, assina artigo com reflexão sobre a esperança que nasce da cruz de Jesus: o sinal feito pela manhã pede proteção pelo novo dia; à noite, é de gratidão pela jornada. "Ao fazer o Sinal da Santa Cruz, o cristão sente-se protegido por uma bênção traçada sobre seu corpo em forma orante: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém."

Dom Neri José Tondello*

A Igreja exalta a Santa Cruz, como "sinal do mais terrível entre os suplícios, é para o cristão a árvore da vida, o tálamo, o trono, o altar na nova aliança. De Cristo, novo Adão adormecido na cruz, jorrou o admirável sacramento de toda a Igreja. A cruz é o sinal do senhorio de Cristo sobre os que, no Batismo, são configurados a ele na morte e na glória (cf. Rm 6,5). Na tradição dos Padres, a cruz é o sinal do Filho do Homem que comparecerá no fim dos tempos (cf. Mt 24,30). A festa da Exaltação da Cruz, que no Oriente é comparada Àquela da Páscoa, relaciona-se com a dedicação das basílicas constantinianas construídas no Gólgota e sobre o sepulcro de Cristo" (Missal Romano, Festa da Exaltação da Santa Cruz, 800p)

Na vida cristã, automaticamente ao levantarmos pela manhã, o nosso dia começa com o Sinal da Santa Cruz. Assim, pedimos que a Cruz de Jesus nos proteja durante todo o novo dia e em todas as nossas atividades. Ao dormir, da mesma forma, o cristão conclui a jornada de vida e labor com a bênção do Sinal da Cruz como sinal de gratidão a Deus Trindade. Ao fazer o Sinal da Santa Cruz, o cristão sente-se protegido por uma bênção traçada sobre seu corpo em forma orante: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Se, a cruz é libertadora e redentora, também a cruz representa os tantos crucificados que, como Jesus, esperam que os tiremos da cruz do abandono, da indiferença, do descaso e da morte certa. "É preciso tirar os crucificados da cruz", diz também Jhon Sobrino.

Crucificados pelo pecado do mundo, pecado da injustiça, falta de educação de qualidade para todos. Muitos não têm acesso à saúde. Muitos morrem antes de chegar ao primeiro socorro. Muita cruz, também pesa sobre os ameaçados pela ação de despejo da terra. A cruz sobre aqueles que sofrem por não saberem onde vão dormir amanhã. "Onde vão dormir os pobres" crucificados sem casa e sem trabalho? A Cruz de Jesus não pode esquecer as vítimas do racismo e as vítimas da violência doméstica. Tamanha é a cruz dos dependentes químicos. Mas, a cruz dos sem fé e sem religião pode ser ainda maior. A cruz dos sem Cruz. A cruz pesada que carrega o Pantanal e a Amazônia pelas chamas criminosas da destruição. A Casa de todos, Casa Comum, está queimando. Os rios estão morrendo. A cruz do planeta todo sofre o pecado do descaso. A natureza perdeu o caráter sagrado. A Tecnologia a domesticou e a tem subordinado à mão humana a ação violenta contra a natureza, tirando a sua espiritualidade para esgotar todo poder econômico possível. Aquilo que era, no princípio, um Jardim para todos, está ladeira abaixo aumentando as temperaturas, ameaçando cidades, desequilibrando a biodiversidade, pondo em risco todo o tecido da vida no planeta.

Contudo, e apesar de tudo, a esperança, nasce da Cruz de Jesus, porque morreu nela para que fosse Cruz salvadora, não mais a Cruz do sinal opróbrio da morte. Isto é, morreu nela, para dar-nos toda a vida em nova árvore verdejante, oxigênio imprescindível - porque, "somos filhos das folhas". Os povos originários ainda conservam em muito a espiritualidade na sua relação de amizade e cuidado com a natureza. Sabem-se e sentem-se natureza. Por outra parte, o divórcio de profanação da natureza permitiu uma união adúltera sem escrúpulo. O Sinal da Santa Cruz, por si e em si, é semáforo dos limites que se deve impor às forças ocultas e visíveis do mal, do ódio e da raiva, contra Deus, contra o mundo e contra a pessoa humana. Toda vez que avistamos uma cruz, damo-nos conta de que o mal e a morte foram vencidos por Jesus, que diz: "Eu venci o mundo", que quer dizer: vencer as forças malignas da destruição violenta e todas as causas e formas que levam à morte, ou seja, impõe limites ao mal.

"Pusestes, no lenho da cruz, a salvação do gênero humano para que, onde a morte teve origem, aí a vida ressurgisse; e o que venceu na árvore do paraíso, na árvore da cruz fosse vencido, por Cristo, Senhor nosso" (Prefácio à Vitória da Cruz Gloriosa).

* Bispo Diocesano de Juína - MT

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

CNBB divulga nota e expressa tristeza pelo falecimento do padre Fabrício Rodrigues

Pe. Fabrício Rodrigues (Crédito: CNBB)

Comissão para a Comunicação Social da CNBB divulga nota e expressa tristeza pelo falecimento do padre Fabrício Rodrigues.

A Comissão Episcopal para a Comunicação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) expressou nessa sexta-feira, 13, por meio de uma nota,  profunda tristeza pelo falecimento do padre Fabrício Rodrigues, do grupo de Padres Evangelizadores no Ambiente Digital. No texto, a Comissão presta solidariedade, ainda, a dom Vital Corbellini, bispo de Marabá (PA), à Igreja de Marabá e a todos os familiares e amigos do padre Fabrício.

“Sua dedicação à evangelização no mundo digital, aliada ao seu carisma e entusiasmo, deixará uma marca indelével na Igreja e em todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Que o Padre Fabrício encontre o descanso eterno nos braços do Pai e que sua memória inspire a todos nós a continuarmos a missão de levar a Boa Nova a todos os cantos do mundo, inclusive no ambiente digital”, diz um trecho da nota.

Acesse (AQUI) a nota na íntegra.

Falecimento

Padre Fabrício faleceu na quinta-feira, 12 de setembro, por volta das 21h, por ocasião de um acidente de moto na Vila 1º de março, município de São João do Araguaia (PA). A diocese de Marabá (PA) publicou nota de falecimento.

Por Larissa Carvalho

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

NAZARENO: A madrugada de Domingo (Páscoa da Ressurreição) - (58)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 58 - A madrugada de Domingo (Páscoa da Ressurreição)

Embora dos onze Apóstolos restantes, apenas João estivesse presente no Gólgota e tivesse participado do sepultamento, todos os outros souberam quase em tempo real o que havia acontecido com seu Mestre. Nas horas que se seguiram à sua morte, alguns se refugiaram no Getsêmani. Outros permaneceram na casa de Dã, onde jantaram com Jesus pela última vez na quinta-feira. Na mesma casa também estavam Maria, sua mãe, e Maria Madalena. Todos se encontram no local da última ceia.

Uma profunda angústia se espalhou entre os apóstolos. Jesus estava morto há um dia e eles já sentiam profundamente sua falta. Naquela casa, havia apenas duas pessoas que preferiam o silêncio às palavras. Pedro e Maria.

O apóstolo, um homem que só na aparência parece um duro, não se conforma por ter deixado Jesus sozinho no Gólgota. Parecia-lhe que o havia renegado mais uma vez. Sentia-se indigno, o mais indigno de todos. O silêncio de Maria era diferente. A mãe do Nazareno mais do que ser consolada, consolava.

Nas primeiras horas do dia seguinte ao sábado, as mulheres haviam preparado os unguentos perfumados. Querem ir ao sepulcro para terminar a preparação do corpo de Jesus. Maria Madalena chega primeiro ao túmulo e percebe que a pedra foi removida. Os guardas não estavam lá para protegê-la. Fugiram depois de ver a pedra se mover como se tivesse sido empurrada de dentro do túmulo.

Maria Madalena fica atônita com essa visão. Detém-se junto ao sepulcro, de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para o interior do sepulcro e viu dois jovens, vestidos de branco, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado. Disseram-lhe então: “Mulher, por que choras?”. Ela lhes diz: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram!”.

Depois de dizer isso, ela se vira para trás e vê um homem parado e olhando para ela. Não o reconhece e vira o rosto novamente para o sepulcro. Jesus lhe diz: “Mulher por que choras? A quem procuras?”. Pensando ser ele o jardineiro, ela lhe diz: “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar!”. Diz-lhe Jesus: “Maria!”. Voltando-se ela lhe diz em hebraico: “Rabbibi!”, que quer dizer “Mestre”. Jesus lhe diz: “Não me retenhas, pois ainda não subi ao Pai. Vai, porém, aos meus irmãos e dize-lhes: “Subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus”. O rosto de Madalena é irradiante.

Enquanto isso, também chegaram as outras mulheres. Jesus veio ao seu encontro e lhes disse: “Alegrai-vos”. Elas, aproximando-se abraçaram-lhe os pés, prostrando-se diante dele. Então Jesus disse: “Não temais! Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galileia; lá me verão”.

Deixam o jardim correndo. Uma felicidade irreprimível move seus passos quando retornam ao cenáculo. Batem à porta com força, gritando de alegria. Os apóstolos já estão de pé. Entram correndo, repetindo: "O Senhor ressuscitou, está vivo... nós o vimos!". Pedro se aproxima de Maria Madalena. "O que estás dizendo? Quem tu viste?" "Jesus, o Mestre, o Senhor", repete a mulher. E acrescenta: "O túmulo estava vazio... e ele falou comigo! Era ele! Era ele!" As outras confirmam o ocorrido.

Pedro calçou os sapatos às pressas, enquanto João já o aguardava na porta. "Vamos lá ver!" Maria, a mãe de Jesus, entra nesse meio tempo e todos ficam em silêncio. Sorri. Ela já sabia. Ela já o tinha visto. Pedro e João correm como loucos pelas ruas de Jerusalém.

Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Inclinando-se, viu os panos de linho por terra, mas não entrou. Então, chega também Simão Pedro, que o seguia e entrou no sepulcro; vê os panos de linho por terra e o sudário que cobrira a cabeça de Jesus. Nada na cena sugere que alguém tenha roubado o corpo.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/09/13/15/138258763_F138258763.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

CRISTANDADE: A ressurreição sem o ressuscitado (2)

O Jesus ressuscitado aparece aos discípulos de Emaús | 30Giorni

A ressurreição sem o ressuscitado

Arquivo 30Giorni – 10/2006

Para o idealismo moderno, a ressurreição surge da idealização póstuma do Jesus morto. A glória vem da derrota. Inverte-se assim a história evangélica, segundo a qual a fé nasce da percepção real do Ressuscitado, daquele que venceu a morte.

por Massimo Borghesi

Na órbita de Hegel 

É estranho que Torres Queiruga cite várias vezes Kant - para a mediação imaginativa da fé - e não lembre Hegel. Singular porque a sua reflexão se situa, de forma perfeita, no horizonte especulativo idealista, a sua cristologia seguindo a hegeliana, com divergências que, para o tema tratado, são completamente marginais (22). Tal como para Hegel, também para o filósofo espanhol, a revelação “não consiste na irrupção de algo externo, mas sim na descoberta de uma presença que, talvez ignorada e talvez prevista, já estava dentro e tentava dar-se a conhecer” (23). O cristianismo trata de ontologia , não de história . Revela o que sempre esteve presente , ainda que velado, na interioridade do ego ; é uma relação imanente , não movida de fora. «Não é que num determinado momento Deus “entre” no mundo para revelar algo com uma intervenção extraordinária. Ele está sempre presente e ativo no mundo, na história e na vida dos indivíduos, e procura sempre dar a conhecer a sua presença, para que possamos interpretá-la corretamente” (24). Por isso “o que é preciso não é que o sol comece a brilhar, mas que as janelas estejam abertas e limpas” (25). A revelação não é Deus “revelando-se”, pois sempre o faz, mas a descoberta humana “que constitui a revelação em sentido estrito ” (26). Torres Queiruga deshistoriciza radicalmente o cristianismo. Ele a resolve numa estrutura ideal , numa concepção gnóstica-panteísta pela qual o Deus-no-mundo anseia tornar-se cognoscível perfurando o véu de sombra da ignorância humana. O Cristo histórico, como em Hegel, é apenas a “ocasião” do despertar, na consciência, da consciência do Cristo ideal. Como Sócrates, ele é a “parteira” cuja arte maiêutica traz à luz o Deus-em-nós segundo a «rica e profunda tradição da mestre interior » (27).

Esta perspectiva, a ideia de uma revelação imanente, face à qual o Cristo histórico é apenas uma provocação contingente, esclarece o segundo ponto de proximidade entre Hegel e Torres Queiruga: a negação da dimensão empírica da fé. Nas suas Palestras sobre a Filosofia da Religião Hegel distingue uma fé dupla: fé externa e fé interna . A fé “externa” baseia-se no Cristo histórico, na sua pessoa e autoridade. Contudo, para Hegel, esta é uma fé limitada e contingente. É «uma forma de fé externa e acidental. A verdadeira fé repousa no espírito da verdade. A outra ainda diz respeito a uma relação com a presença sensível imediata. A verdadeira fé é espiritual, está no espírito: tem como fundamento a verdade da ideia” (28). Comparada a ela «a fé externa deve, portanto, ser considerada apenas como um meio para alcançar a verdadeira fé; como externo, está sujeito à contingência e o espírito alcança a sua verdade não segundo a contingência, mas segundo o testemunho livre" (29). A fé interior repousa na ideia eterna , no ideal imanente do espírito, não em milagres ou revelação empírica. É aquela fé que, segundo o idealista Hegel, “produz” a ideia do Homem-Deus, transforma o morto em ressuscitado. A fé interior provoca a metamorfose do Cristo histórico, um utópico judeu com uma mensagem revolucionária, no Cristo "teológico" e divino. Graças a ela, a figura de Jesus de Nazaré é remetida à memória , ao passado, à primeira aparição não espiritual do divino.

O ponto que medeia a passagem entre as duas imagens de Cristo, a empírica e a ideal, – e é o terceiro elemento que a cristologia de Torres Queiruga tem em comum com a hegeliana – é a morte de Cristo. A morte é a ressurreição : este topos da cristologia idealista, de Hegel a Bultmann, é o verdadeiro ponto crucial em torno do qual gira grande parte da exegese histórico-crítica. É um nó que só se mantém, a nível especulativo, se for válido o pressuposto da dialética, aquele segundo o qual o positivo procede necessariamente do negativo . Como escreve Torres Queiruga: « O próprio pensamento moderno , tanto filosófico como teológico, sabe da capacidade reveladora deste tipo de experiência, porque a própria contradição obriga-nos a procurar uma síntese capaz de a conciliar » (30). No caso da morte de Jesus «só a ressurreição e a exaltação permitiram superar este terrível contraste, que ameaçava afundar tudo no absurdo» (31) . Da morte, do negativo , emerge a necessidade do positivo . Uma necessidade ideal: Cristo ressuscita na ideia, na concepção de comunidade, na fé interior. Não na realidade factual. Desta forma, como escreve Hegel: «Esta morte é o ponto central em torno do qual tudo gira, na sua concepção reside a diferença entre a concepção externa e a fé, ou seja, a mediação com o espírito» (32). Segue-se, como consequência, que a fé autêntica se baseia na morte de Jesus, não na sua ressurreição , surge do Cristo morto, não do Cristo ressuscitado. O Cristo ressuscitado não funda a fé, é antes “fundado”, idealizado pela fé. O idealismo, subjacente à oposição entre Cristo da fé e Cristo da história, subverte assim os termos com os quais, na concepção da Igreja, se apresenta a relação entre fé e realidade. Na medida em que o Ressuscitado já pressupõe a fé no Homem-Deus, essa fé deve surgir, necessariamente, da sublimação de uma derrota . O cristianismo, como dogma, surge da idealização de um fracasso , e não do empirismo joanino baseado naquilo que foi “visto, ouvido, tocado com as mãos”. 

Uma morte incompreensível e uma fé sem ressurreição

O idealismo histórico-crítico, fundado na dialética do negativo, dificulta não só a compreensão da ressurreição – obra dos “visionários” em qualquer caso – mas também a da morte de Cristo. Se Jesus não foi condenado à morte por se proclamar Deus, por que foi crucificado? A autoproclamação divina é negada em nome da oposição entre o Cristo histórico e o Cristo da fé. Somente a comunidade dos crentes diviniza Jesus, que em si mesmo nunca teria se concebido como Deus. Para explicar o motivo da condenação, resta apenas a hipótese política: Jesus como um fanático em potencial que, perigoso para a ordem romana, é crucificado. É o leitmotiv do Jesus “judeu” que orienta a Investigação sobre Jesus de Corrado Augias e Mauro Pesce (33). Um teste final de uma investigação, curiosa e por vezes não trivial, que, no entanto, falha, devido a pressupostos mais uma vez idealistas, em produzir algo de novo. O Jesus judeu não cristão (34) de Augias-Pesce é um utópico, próximo do grupo de João Baptista, caracterizado pela confiança total em Deus e pela atenção particular aos últimos. Um radical, porém, sem uma utopia social organizada, que, além do seu tom e testemunho, não mostra nada de original na moralidade em comparação com a lei judaica. Por que, então, esse sonhador, apolítico e inofensivo, foi enviado para a morte? Pesce declara que não é por razões religiosas, mas políticas, que Jesus é condenado pelo poder romano. As responsabilidades dos membros do Sinédrio seriam obra de uma reconstrução subsequente pelos editores pró-romanos dos Evangelhos. Quais são, porém, as razões políticas pelas quais Jesus foi condenado? São suspeitas sobre a natureza de um movimento, que surgiram entre aqueles que “não compreenderam as reais intenções da ação de Jesus. Portanto, foi um erro grosseiro e grave de avaliação política por parte dos romanos” (35) . Uma consideração verdadeiramente surpreendente, que deixa totalmente suspensas as razões da sentença de morte de Jesus. Contudo, elas não se estenderam, e isto também parece estranho, aos seus discípulos. Igualmente misteriosa permanece a ressurreição, afirmada não por testemunhas oculares, mas por videntes que “viram” dentro dos esquemas religiosos-culturais de Israel. Igualmente totalmente enigmático, no Inquérito , é a ascensão do Cristianismo. Pesce não concorda «com a ideia de que o cristianismo nasceu com a fé na ressurreição de Jesus, nem que nasceu graças a Paulo [...]. Mesmo Paulo, como Jesus, não é um cristão, mas um judeu que permanece no judaísmo" (36). O Cristianismo surgiria mais tarde, na segunda metade do século II, num processo de helenização da posição judaica original.

Comparados a Hegel e Torres Queiruga, Augias e Pesce acrescentam mais uma fratura que torna o nascimento da fé cristã ainda mais enigmático. No quadro hegeliano, o cristianismo é mediado pela morte de Jesus, cujo produto é a ideia do Ressuscitado. Na Investigação sobre Jesus surge muito depois da visão da ressurreição, fruto não da fé, mas de uma elaboração teológico-filosófica helenística tardia. O que permanece inalterado é o topos dominante a fé não se baseia na ressurreição , ela a precede ou segue sem ter qualquer relação com ela. Uma abordagem que, em vez de simplificar o problema, complica-o enormemente. Se o Cristo histórico é aquele descrito por Augias-Pesce, um judeu observante sem nada verdadeiramente original, não está claro como ele poderia ser “o homem que mudou o mundo”. Não está claro por que ele foi condenado. Se este homem terminou a sua vida derrotado, não está claro para aqueles que não aceitam a necessidade lógica da dialética como a fé numa pessoa viva poderia surgir de uma pessoa morta na comunidade primitiva. Por último, não está claro como o “Cristo da fé” pôde ignorar a ressurreição, seja ela real ou imaginária, e só se formar no século II, como deseja Pesce. Um destino singular para o racionalismo histórico-crítico: nascido com a intenção de esclarecer o contexto, consegue traçar um quadro global cheio de zonas cinzentas e saltos no vazio. O modelo idealista demonstra todos os seus limites. Partindo do preconceito de que o acontecimento não pode ter acontecido – de que Deus não pode tornar-se homem e ressuscitar dos mortos – deve justificar a fé como idealização . Com isso, porém, a narrativa evangélica torna-se incompreensível. Se as descrições do Cristo ressuscitado constituem o grande enigma para o leitor antigo e moderno, no entanto a sua remoção gera uma série de questões sem resposta. É o Cristo “histórico” que se torna incompreensível. Encontrado, arqueologicamente , sob as camadas da fé, aparece como um sonhador, radical e ingênuo ao mesmo tempo, que não motiva o fogo que atingiu a história. As conclusões do racionalismo crítico – trazer os vivos dos mortos, uma revolução espiritual a partir de uma utopia análoga a muitas outras – são profundamente irracionais. A derrota desta posição é a premissa “crítica” para uma retomada de uma posição realista que não pretende demonstrar o dogma, mas sim reconhecer que é contra toda evidência racional e humana afirmar que a visão desolada de um crucifixo pode gerar a ideia gloriosa de uma pessoa ressuscitada. 

Notas 

22 Sobre a cristologia hegeliana, ver M. Borghesi, A figura de Cristo em Hegel , Studium, Roma 1983; Idem, A Era do Espírito em Hegel. Do Evangelho “histórico” ao Evangelho “eterno” , Studium, Roma 1995. 

23 A. Torres Queiruga, A ressurreição sem milagre , op. cit., pág. 59. 

24 Ibid. , pág. 36. 

25 Ibid 

26 Ibid. , pág. 37. 

27 Ibid. , pág. 38. 

28 GFW Hegel, Palestras sobre a Filosofia da Religião , trad. isto., 2 vols., Zanichelli, Bolonha 1974, vol. II, pp. 388-389. 

29Ibidem vol. Eu, pág. 283. 

30 A. Torres Queiruga, A ressurreição sem milagre , op. cit., pág. 30. Nosso itálico. 

31 Ibid. , pág. 31. 

32 GFW Hegel, Palestras sobre a Filosofia da Religião , op. cit., vol. II, pág. 372. 

33 C. Augias-M. Pesce, Investigação sobre Jesus Quem foi o homem que mudou o mundo , Mondadori, Milão 2006. 

34 Ver ibidem , pp. 221 e 237. 

35 Ibidem , pp. 168-169. 

36 Ibid. , pág. 201.

Fonte: http://www.30giorni.it/

O Papa na Santa Maria Maior ao retornar da viagem à Ásia e Oceania

O Papa Francisco na Basílica de Santa Maria Maior após a viagem à Ásia e Oceania (Vatican Media)

Imediatamente após desembarcar em Roma vindo de Singapura, o Papa rezou diante do ícone da Salus Populi Romani na Basílica Mariana.

Vatican News

O avião com o Papa Francisco a bordo chegou ao Aeroporto Internacional Leonardo da Vinci de Roma-Fiumicino, na tarde desta sexta-feira (13/09), às 18h46 locais, vindo de Singapura, depois de percorrer 9.500 km em 12 horas e meia.

Como de costume, o Papa quis transmitir à Virgem Maria o seu agradecimento pela 45ª Viagem Apostólica Internacional, a mais longa desde o início do seu Pontificado, que se concluiu após doze dias e o levou à Ásia e Oceania. Francisco visitou a Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura.

O post da Sala de Imprensa da Santa Sé

Em seu retorno, informou há pouco um post no Telegram da Sala de Imprensa da Santa Sé, “o Papa Francisco foi à Basílica de Santa Maria Maior, onde se deteve em oração diante do ícone da Virgem Salus Populi Romani. Ao final da visita, retornou ao Vaticano”. O retorno à sua residência ocorreu poucos minutos depois das 20h locais.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém

Santo Alberto (carmelitasmensageiras)
14 de setembro
País: Itália
Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém

Alberto nasceu no ano 1150 em Parma, na Itália, no seio da rica e nobre família Avogrado, dos condes Sabbioneta. Ainda muito jovem,20 anos, depois de acabar os primeiros estudos de direito, resolveu deixar a vida mundana da Corte, ingressando no Convento dos Cónegos de Santo Agostinho de Mortara, em Pavia. Optou pela vida religiosa, não por uma carreira eclesiástica cômoda, prometedora e remunerativa, mas pela austera vida comunitária de pobreza e de oração litúrgica coral unida ao serviço pastoral. Tornou-se um intérprete autorizado se sua regra de vida, até ao ponto de obter a confiança de seus superiores e dos irmãos para converter-se em mestre de noviços. Em pouco tempo, 1180, foi eleito prior pelos companheiros e, em 1184, foi nomeado bispo de Bobbio, cargo que recusou porque não se achava preparado e à altura da função.

Porém essa não era a opinião do papa Clemente III, que nesse mesmo ano o encarregou de assumir o bispado de Vercelli. Assim, Alberto não teve como recusar. Assumiu a missão com tanta vontade de fazer um bom ministério que ficou na função por vinte anos, levando o povo local a uma vida de penitência, oração e caridade. Este período foi rico em atividade pastoral e diplomática, aspectos fortemente unidos em sua vida. De fato, ele não só presidia a diocese, mas também representava o imperador, em cujo nome governava o condado de Vercelli. Sendo bispo acompanhou a igreja eusebiana na celebração de um sínodo diocesano (1191), no qual nasceram novos estatutos, fruto, ao menos em boa parte, da clarividência e da competência do próprio bispo. Esta antiga legislação, desafortunadamente desaparecida, esteve em vigor ao menos até o início do século XVII, sendo modelo de concreção e flexibilidade. Alberto teve outra preocupação, a formação do clero diocesano. Foi muito valorizado pelos papas, os quais enviaram-no como mediador para dirimir desavenças entre os bispos e os capítulos dos cônegos ou entre as dioceses vizinhas. Estes foram também anos de intensa atividade política: como bispo-conde manteve sempre boas relações com os imperadores Frederico I “Barbarocha” e seu filho Henrique IV, a quem acompanhou muitas vezes em suas viagens para Itália. Não foi fácil a relação com o município de Vercelli, cuja conhecida notoriedade ia crescendo. A sabedoria e a competência jurídica de Alberto também tornaram-se visíveis por ocasião da reforma dos estatutos dos capítulos dos Cônegos de Biella e Santa Ágata e Santa Maria Maggiore de Vercelli. O bispo também foi requerido para colaborar na revisão das constituições dos Humilhados, a nova ordem religiosa composta por leigos em continência e sacerdotes. Era sempre tão conciliador e justo na intermediação de causas que o imperador Frederico Barbaroxa solicitou seus préstimos para solucionar uma disputa entre Parma e Piacenza, em 1194. Com sua intervenção junto à Sé, em Roma, a desavença chegou ao fim rapidamente.

Todas estas atividades, junto com sua fama de homem espiritual, fizeram que os cônegos do capítulo do Santo Sepulcro sugerissem o seu nome ao papa para ser patriarca de Jerusalém. Inocêncio III (1198-1216) acolheu a proposta e, depois de vencer sua resistência como candidato, enviou-o como patriarca de Jerusalém e legado papal para a província da Terra Santa. O argumento usado pelo papa foi definitivo: a Palestina sofria uma pressão fortíssima por parte dos muçulmanos e era preciso ter entre os católicos alguém com carisma e disciplina de “mão forte”, pois havia o risco do desaparecimento do cristianismo naquela região. Nos primeiros meses de 1206, Alberto permaneceu em São João de Acre, sede provisória do patriarcado, por estar impedida a entrada e a residência em Jerusalém, que estava em mãos dos sarracenos. Em seguida, ocupou-se em melhorar a situação da Igreja latina na Terra Santa. Como legado papal interviu no nomeamento de bispos e fomentou o diálogo com os sarracenos e entre os diversos grupos e autoridades cristãs. Foi necessário pouco tempo para que ele reconduzisse as ovelhas desgarradas ao rebanho, ganhando o respeito tanto dos cristãos como dos árabes muçulmanos.

Nessa ocasião, o reino latino de Jerusalém se limitava a pouco mais da costa do golfo de Haifa aos territórios libaneses e à ilha de Chipre. Depois da batalha de Hattin (1187) o domínio sarraceno fora restabelecido em quase toda a Terra Santa. Entre os territórios dominados pelos “francos” ficou o promontório do Carmelo. Justamente em sua vertente ocidental sul, no vale do Peregrino (la Wadi ‘ ain es Siah), nas ruínas da antiga capela bizantina, depois de 1189, estabeleceu-se um grupo de peregrinos latinos que se propuseram viver como eremitas em santa penitência.

Combateu heroicamente a igreja de Kerala de um grande cisma que atingiu a Igreja local no ano de 1861. Com a supressão das sedes de Cranganor e Cochin, por decisão do Papa Gregório XVI muitos anos antes (1838), todos os católicos malabares passaram a ser subordinados da Sede de Verapoli. Durante este período, cismáticos que defendiam a manutenção de ritos indianos/orientais nas cerimônias da Igreja, tiveram de suportar contrariados às ordens de uma autoridade de rito latino e acabaram tentando estabelecer um prelado próprio por intercessão do patriarca caldeu José Audo VI. Este mandou-lhe, em 1861, um bispo caldeu de nome Tomás Rokos que, sem autoridade eclesiástica reconhecida por Roma, tentou inutilmente impor liderança e autoridade sob a comunidade católica local. Pela resistência que encontrou, principalmente pela atuação brilhante de Ciríaco, que manteve e difundiu fidelidade à Roma, a autoridade de Tomás Rokos não foi reconhecida, tendo de retornar para seu local de origem. Em decorrência dos fatos, Ciríaco Elias Chavara foi nomeado como Vigário-Geral da Igreja Sírio-Malabar pelo Arcebispo de Verapolly. Por isto, desde aquele tempo até hoje, é reconhecido pela comunidade católica e pelos mais altos dignitários da Igreja como defensor da Igreja de Cristo, pela sua incansável e árdua luta pelo respeito e fidelidade à Roma, especialmente sua histórica liderança, rápida e eficaz no combate à infiltração cismática de Tomás Rokos.

Formavam uma de tantas comunidades nascidas durante aqueles anos na terra fecunda de uma sociedade em movimento e de uma Igreja em efervescência pelos interrogantes sobre a essencialidade, a simplicidade e a radicalidade de vida. A sociedade ocidental estava em profunda transformação: as antigas estruturas feudais, fechadas e baseadas numa agricultura de subsistência como mínimas mudanças sociais, iam dando espaço a novas aglomerações urbanas cujo centro vital era o mercado, o bispado, a administração municipal e inclusive a universidade. Novos grupos sociais compostos por mercadores, artesãos, profissionais, iam substituindo as antigas estratificações sociais dos cavaleiros e camponeses. Inclusive na própria Igreja, pululavam os movimentos de opção pela pobreza e os “evangélicos”, que eram pregadores populares que com frequência percorriam amplas regiões, alimentando a fome da Palavra de Deus; além desses, ainda havia os eremitas solitários e em grupo, que se estabeleciam em lugares desérticos, passando a ser um atrativo para muita gente. O desejo espiritual de uma vida cristã mais substancial e baseada no Evangelho mesclou-se com a explosão demográfica, o crescimento da riqueza e, como causa disto, as diferenças sociais, o aumento da cultura universitária, a mobilidade social e outros fatores, provocando uma imponente marcha à Terra Santa, o que levou às cruzadas. O desejo de trasladar-se àquela Terra para encontrar o Senhor, visitando os lugares de sua vida terrena, provocara efetivamente um movimento intenso no povo, que se transformou na peregrinação armada chamada cruzada.

Neste contexto nasceu a comunidade dos Irmãos Eremitas do Carmelo. Durante esse período reuniu todos os eremitas de Monte Carmelo, redigindo ele mesmo as Regras para a comunidade. Brocardo, então prior dos carmelitas, pediu ao Patriarca Alberto que lhes desse uma norma de vida. Alberto lhes escreveu a Fórmula de Vida, autêntica coluna vertebral da vida carmelitana, que passou a ser a Regra Carmelita, tornando-se assim no Legislador da nossa Ordem. Por isso, e apesar de não ter sido carmelita, a Ordem do Carmo o representa nas suas imagens vestido de carmelita e com a Regra na mão. Uma breve carta na qual se descrevia em poucas linhas seu propósito, ou seja, a vida e a fisionomia pelas quais o grupo se decidira. Pretendiam ser uma fraternidade de eremitas obedientes ao prior, reunidos em torno de Jesus Cristo, em contínua e orante meditação de sua Palavra, alimentados pela Eucaristia, em silêncio, trabalho, pobreza, discernimento e diálogo fraterno.

Nela aparece, pela primeira vez, o DNA do grupo, ou seja, o carisma. Este era formado por dois elementos essenciais da vida cristã e religiosa, porém combinados de uma maneira original. Caridade, oração, centralidade de Cristo, serviço e algum outro elemento da vida espiritual, tudo isto articulado de maneira harmoniosa tal que proporcionava ao grupo e aos seus membros a graça de permanecerem em constante busca do rosto de Cristo, para serem transformados pelo Espírito e viverem em plena comunhão com o Pai e também com os irmãos. O ícone ideal da primeira comunidade de Jerusalém, como é descrito nos Atos dos Apóstolos ( 2,42-47; 4,32-35; 5, 12-16) constituía a firme referência estrutural dos primeiros Carmelitas. É difícil saber se a ideia foi sugerida por eles ou por Alberto, porém é certo que a composição da Fórmula de Vida e a articulação dos elementos são do patriarca.

Alberto, sem que saibamos de que modo, porém certamente em diálogo com os próprios irmãos, conseguiu harmonizar as diversas aspirações que aparecem na Fórmula de Vida. Antes de tudo, aparece o forte chamado a seguir Jesus justamente ali onde ele viveu, consumou seu sacrifício e ofereceu a vida por sua ressurreição: este era o ideal da peregrinação a Jerusalém, contido na tradição cristã. Tratava-se de um caminho de transformação contínua, que conduzia os eremitas a fazer a experiência de ressuscitar da morte, a passar da vida carnal à espiritual. Deste modo, os carmelitas se fizeram irmãos, capazes de construir uma comunidade na qual é possível encontrar o Senhor e estar dispostos para servir os irmãos e irmãs do povo de Deus. Tinham o desejo de seguir Jesus na pobreza apostólica, como sinal da essencialidade da vida e da radical dependência de Deus, próprio de muitos movimentos do tempo que optavam pela pobreza. Havia um chamado à solidão do deserto, mesmo que mitigado por elementos comunitários e cenobíticos, que expressava o desejo de buscar o Senhor como o absoluto, para permanecer na intimidade com Ele. Havia a exigência da luta espiritual expressa no convite a revestir-se da armadura espiritual (Ef 6,11-17): uma interessante releitura da mentalidade do momento imbuída dos ideais cavalheirescos e do espírito da cruzada. O desejo de contribuir com a reforma da Igreja se expressou na escolha por venerar a Maria, a Mãe do Senhor, a Senhora do Lugar, ou seja, do próprio Carmelo e da Terra Santa, conquistada pelo sangue de seu Filho: a ela foi dedicada a capela construída no meio das celas dos irmãos. Esta devoção mariana inicial continha todos os elementos que se desenvolveram ao longo da multissecular história da Ordem. À semelhança da escolha do modelo ideal do profeta Elias, ao qual estava unido o lugar no qual se estabeleceram os eremitas – “junto à fonte”, chamada popularmente de Fonte Elias -, a devoção mariana passou a ser motivo de identificação e chamado à dimensão profética, ou seja, ao anúncio livre e visível do quanto Deus quer para a história humana.

Alguns autores têm tentado definir a contribuição específica de Alberto e seu papel na fundação do Carmelo; porém são somente hipóteses baseadas em provas frequentemente frágeis e não sempre suficientemente verificadas. Se bem que seja plausível atribuir a Alberto a redação da carta que contém a Fórmula de Vida (isto nunca foi posto em dúvida pelas fontes), e, além disso, se possa atribuir a Alberto as citações bíblicas diretas ou indiretas (são tantas que alguém chegou a dizer que a Fórmula de Vida se apresenta como fruto de uma lectio divina), sem embargo não se pode afirmar com certeza que partes ou que conselhos são fruto exclusivo da mente e do coração do patriarca e quais do desejo dos próprios eremitas. De fato, estes já viviam no Carmelo e haviam dado uma forma inicial a seu propositum (Regra 3). Ainda assim, creio que se pode atribuir à experiência de Alberto, cônego da Santa Cruz de Mortara, ao menos a indicação de São Paulo como modelo (Regra 20): um dom específico do patriarca Alberto aos Carmelitas. A menção do apóstolo foi, de maneira mais ou menos consciente, de grande ajuda para os irmãos na hora de orientar-se para o apostolado explícito e direto, sem que por isso fosse desprezada a dimensão contemplativa carismática, originária e própria.  Por outra parte, o mesmo Paulo foi também um místico (cfr. 2Cor 12,1-10) e um homem de profunda oração (Rom 16,25-27; 2Cor 2,1; Ef. 3,14-21). Da mesma maneira se pode manter que é uma herança de Alberto a forte dimensão eclesial que percorre o texto da Fórmula de Vida, a qual conservou em todo tempo o esforço dos Carmelitas a favor da vida eclesial e da evangelização.

Instigados pelo aumento de membros da comunidade, pela pressão sarracena e pela insegurança do lugar, decidiram iniciar a migração para o Ocidente, do qual procediam os primeiros peregrinos penitentes. Desta maneira, além das fundações na Terra Santa e em Chipre, formaram-se Carmelos na Sicília e na Itália (Messina e, depois, Pisa), na Inglaterra (Aylesford, em Kent, e Hulne, em Northumberland), em Provenza (Les Aygalades e Valenciennes), e na Alemanha (Colônia).

A Fórmula de Vida de Santo Alberto continuou modelando a vida dos irmãos e passou a ser Regra reconhecida e aprovada, com alguns importantes acréscimos e modificações do papa Inocêncio IV (01 de outubro de 1247). A essencialidade, a flexibilidade e o dinamismo deste tesouro fizeram dele uma referência capaz de oferecer alimento e inspiração a muitos grupos de fiéis, religiosos e leigos, que constituem a Família Carmelitana. 

Santo Alberto (carmelitasmensageiras)

A carta entregue por Alberto aos irmãos eremitas que viviam junto à fonte de Elias completa agora mais de 800 anos, porém não perdeu absolutamente seu frescor, e, como um fruto em tempos de mudança, conseguiu adaptar-se a situações sempre novas, abertas à esperança de  Deus para os homens.

Santo Alberto (carmelitasmensageiras)

Alberto foi o patriarca da Palestina durante oito anos.

Morreu assassinado pelo professor e prior do Hospital do Espírito Santo, ao qual ele havia primeiro advertido e depois afastado, por suas atrocidades. Quando Alberto conduzia uma procissão, o malfeitor investiu contra ele com um punhal, matando-o na frente de todos os fiéis. Era o dia 14 de setembro de 1214 em São João de Acre, cabo norte do golfo de Haifa. Assim morreu o patriarca Alberto, vítima de seu compromisso com uma igreja fiel ao Evangelho.

Fonte: 
https://www.carmelitasmensageiras.org.br/

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

CRISTANDADE: A ressurreição sem o ressuscitado (1)

Algumas imagens e detalhes das predelas da Maestà de Duccio di Buoninsegna, preservadas no Museo dell’Opera del Duomo de Siena; acima, Jesus ressuscitado e Maria Madalena | 30Giorni

A ressurreição sem o ressuscitado

Arquivo 30Giorni – 10/2006

Para o idealismo moderno, a ressurreição surge da idealização póstuma do Jesus morto. A glória vem da derrota. Inverte-se assim a história evangélica, segundo a qual a fé nasce da percepção real do Ressuscitado, daquele que venceu a morte.

por Massimo Borghesi

A ressurreição sem milagre

«A ressurreição não só não é um milagre, mas nem sequer é um acontecimento empírico. E a fé na ressurreição não depende de aceitarmos ou rejeitarmos a realidade histórica do túmulo vazio”. É o que diz o mote da capa como comentário ao texto de Andrés Torres Queiruga, A Ressurreição sem Milagre , recentemente traduzido para o italiano (1). O panfleto é interessante na medida em que é a expressão completa de uma tendência que, depois de Bultmann, se tornou hegemônica nos estudos exegéticos e teológicos: aquela para a qual a ressurreição é uma pedra errante, uma pedra errática que a crítica deve remover para poder tornar o conteúdo da fé cristã compreensível ao homem moderno. O Cristo Ressuscitado de Piero della Francesca ou a Incredulidade de Tommaso di Caravaggio pertencem à arte do passado. No futuro já não será possível fazer uma leitura realista da ressurreição, só se poderá admitir a leitura “simbólica”. Numa singular inversão dos processos cognitivos, a fé não pressupõe o túmulo vazio e a experiência tangível do Ressuscitado; pelo contrário, é Cristo ressuscitado que “aparece” como tal apenas na pré-compreensão da fé. Desta forma, uma parte conspícua da literatura teológica – aquela que toma como certa a oposição entre o “Cristo histórico” e o “Cristo da fé” – abandona a posição realista e encontra necessariamente o ponto de vista idealista . Pois não é a realidade, o que acontece concretamente, que move e explica a “persuasão”; pelo contrário, é a “visão do mundo”, a fé preliminar, que torna evidentes, “visíveis”, factos que de outra forma não existem. A fé, privada de toda razoabilidade, já não é “julgamento”, mas pré-julgamento que “vê” de uma forma diferente da realidade, o lugar de uma experiência “mística”, afetiva, idealizadora. A fé idealiza , graças à mediação imaginativa , o seu objeto. No caso do Cristianismo isto significa que Cristo “aparece” como Ressuscitado na fé , graças à fé. Fora da fé só existe o mistério de um túmulo vazio, de um cadáver desaparecido. Um problema que não diz respeito à fé para a qual o que importa é apenas o Cristo ideal, divino. A ressurreição não precisa da carne de Jesus de Nazaré, sua pessoa singular; a ideia , o símbolo do Homem-Deus, é suficiente. A fé vive da idéia , não da realidade .

Esse pressuposto, verdadeiro a priori conceitual, fica evidente no texto de Torres Queiruga. Para o filósofo de Santiago de Compostela, as aquisições “ irreversíveis ” da exegese e da cultura atual fazem com que não possamos mais conceber “a presença ativa de Deus como uma irrupção pontual, isto é, física e acessível aos sentidos, no tecido da mundo” (2). Uma definição perfeita da Encarnação, que o autor apaga com um simples traço de caneta. Tal como Bultmann, para quem «a concepção em que o não-mundano, o divino, aparece como o mundano, o humano, o além como o além é mitológica» (3), também para Torres Queiruga Deus não pode agir sensivelmente neste mundo. Por isso «a análise da ressurreição de Jesus como um “milagre” – o mais espetacular – desapareceu definitivamente dos tratados sérios. A tal ponto que mesmo nos tratados mais “ortodoxos” se pode ler a afirmação de que a ressurreição não só não é um milagre, mas nem sequer é um acontecimento “histórico”” (4). A “experiência” do Ressuscitado deve eliminar qualquer presença empírica . «Se o Ressuscitado fosse tangível ou comido, estaria necessariamente limitado pelas leis do espaço, ou seja, não ressuscitaria. E o mesmo aconteceria se fosse fisicamente visível" (5). Acreditar de outra forma significaria submeter-se ao “ imperialismo do princípio empirista ” (6), tornando impossível “a razoabilidade da fé na ressurreição” (7). Para o autor «os discípulos não viam o Ressuscitado com os olhos nem lhe tocavam com as mãos, porque isso era impossível porque estava fora do alcance dos seus sentidos» (8). O que eles “viram” “não pode manter nenhuma relação material com um corpo espaço-temporal” (9). Além disso, “nem mesmo na vida terrena o corpo pode ser considerado o suporte absolutamente indispensável da identidade”, nem “podemos ver o que poderia provocar a transformação (?) do corpo morto, isto é, do cadáver” (10). Para o “idealista” Torres Queiruga a “realidade” do Cristo ressuscitado não pressupõe a sua realidade sensível e corpórea. Baseia-se na subjetividade do crente, em “experiências psíquicas, visualizações ou imaginações de crenças íntimas”. Crenças que podem ter um referente real – o místico em sua visão realmente conecta a Cristo – independentemente da forma como ele se apresenta” (11). A “visão” pressupõe a experiência interna, a condição pessoal e ambiental peculiar, a partir da qual a “mediação imaginativa” (12) – que o autor evoca ao referir-se a Kant – se concretiza dando forma ao objeto de sua aspiração. No caso dos discípulos, «dentro da cultura da época, aberta às manifestações extraordinárias e empíricas do sobrenatural, o esquema imaginativo da ressurreição poderia funcionar muito naturalmente como uma espécie de regresso à vida» (13). Ou seja, os discípulos acreditaram que o viam por que estavam predispostos a isso por um contexto, um ambiente espiritual. Neste horizonte, o elemento decisivo, a centelha, é causado pela experiência fundamental da morte de Jesus : «O contexto altamente emocional causado pelo drama do Calvário» (14). É aqui, no drama do desaparecimento de um ente querido, que amadurece «o que poderíamos chamar em termos kantianos de “esquema imaginativo” para compreender a ressurreição como já ocorrida» (15). No contexto messiânico-escatológico de Israel, a morte de Jesus provoca um vazio penetrante , uma experiência de dor que empurra para a sua resolução. A cruz de Cristo é “transformada” na ressurreição: «A ressurreição realiza-se na própria cruz» (16). Cristo, o morto, retorna vivo na fé. Torres Queiruga segue Rudolf Bultmann ao pé da letra, sem citá-lo: « Cruz e ressurreição como acontecimento “cósmico” são uma e a mesma coisa » (17). A ressurreição não é um evento real que se segue à morte de Jesus na cruz. É, simbolicamente, a transfiguração ideal de Cristo induzida pela experiência trágica do seu fim. De forma paradoxal, que está no centro do modelo idealista, a ausência produz presença, o vazio dá origem à plenitude, a privação se transforma em vitória. Isto exige que se retire da cruz o aspecto do escândalo, no sentido paulino: o Filho de Deus pendurado no que para os modernos é a forca. Este aspecto seria, nos Evangelhos, uma construção literária, e não um elemento histórico. Torres Queiruga reconhece que «um hábito inveterado, que se apoia fortemente na letra dos Evangelhos, levou a ver a cruz como um lugar de “escândalo”, que decretou o fim da fé dos discípulos, que neste momento teriam fugido , negando e traindo seu Mestre. Para explicar a sua posterior conversão, algo extraordinário e milagroso teve de acontecer que, com a sua evidência irrefutável, os teria devolvido à fé. Este algo seria a ressurreição, que obtém assim uma autêntica “demonstração” histórica. Não se pode negar que o argumento tem força própria , e de fato continua a ser o mais atual nos tratados em uso. No entanto, uma reflexão mais cuidadosa tem mostrado, cada vez com maior clareza e maior aceitação entre os estudiosos, a sua natureza de "dramatização" literária com um cunho apologético" (18). Esta conclusão seria comprovada pelo facto de “a hipótese de uma traição ou negação ser profundamente incompreensível e injusta para os discípulos” (19 . Estes teriam traído Jesus no momento da prova suprema, teriam sido ingratos e sem coração. O que, para o autor, é inaceitável. Por outro lado, o escândalo aplica-se aos romanos, não aos judeus: «Os criminosos de Roma eram os heróis do povo que submetiam» (20).

A cruz de Cristo, na perspectiva inteiramente positiva pintada por Torres Queiruga, não é o que nos distancia, o lugar da solidão. Pelo contrário, é o ponto coagulante da fé: «A crucificação, com o horrível escândalo da sua injustiça, surge como o catalisador mais decisivo para compreender que o que aconteceu na cruz não poderia ser a conclusão definitiva» (21). A cruz não é um ponto de fuga, mas um “ponto de viragem”. Conclusão obrigatória, esta de Torres Queiruga, na medida em que nada acontece entre a morte de Jesus e a fé da Igreja nascente . O idealismo, como filosofia do não-acontecimento , implica um curto-circuito para o qual a fé deve preceder o evento, não o acompanhe. O argumento segundo o qual os discípulos fogem, assustados e desmoralizados, tem “força própria”, como reconhece o autor, e, no entanto, não pode ser admitido. O vazio deve produzir plenitude, a morte deve tornar-se uma ideia do Ressuscitado, não gerar escândalo, fuga, desorientação. Caso contrário teríamos “apologética”, não história. Na sua realidade, o morto é uma bandeira, o símbolo de uma vida que não poderia desaparecer.

Notas 

1 A. Torres Queiruga, A ressurreição sem milagre , trad. it., Edizioni La Meridiana, Molfetta (Ba) 2006. O texto, cujo original em espanhol não é indicado, é uma síntese da obra principal, Repensar la resurrección. Diversidade cristã na continuidade das religiões e da cultura , Trotta, Madrid 2003. 

2 A. Torres Queiruga, A ressurreição sem milagre , op. cit., pág. 8. 

3 R. Bultmann, Novo Testamento e Mitologia. Das Problem der Entmythologisierung der neutestamentlichen Verkündigung , Herbert Reich Verlag, Hamburg-Bergsted 1948, trad. isto., Novo Testamento e mitologia. O problema da desmitologização da mensagem do Novo Testamento , em: R. Bultmann, Novo Testamento e mitologia , Queriniana, Brescia 1973, p.119. 

4 A. Torres Queiruga, A ressurreição sem milagre , op. cit., pág. 8.

5 Ibidem p.42. 

Ibid ., pág. 48.

7 Ibid , pág. 47. 

Ibidem , pp. 46-47. 

Ibid. , pág. 49. 

10 Ibid. , pág. 54. De maneira idêntica, Kant afirma: «A razão não tem interesse em arrastar para a eternidade um corpo que (assumindo que a personalidade repousa na identidade do corpo) deve sempre, por mais purificado que seja, ser composto da mesma matéria que está na base do nosso organismo e ao qual o próprio homem nunca se ligou durante a sua vida; nem é compreensível o que esta terra calcária da qual o homem é feito pode ter em comum com o céu" (I. Kant, Religião dentro dos limites da razão simples , trad. it., em: I. Kant, Escritos morais , Utet, Turim 1970, p. 457, nota a). 

11 A. Torres Queiruga, A ressurreição sem milagre , op. cit., pág. 42. 

12 Ibid. , pág. 65. 

13 Ibid. , pág. 41. 

14 Ibid. , pág. 23. 

15 Ibid 

16 Ibid. , pág. 53. 

17 R. Bultman, Novo Testamento e mitologia. O problema da desmitologização da mensagem do Novo Testamento , op. cit., p.165. 

18 A. Torres Queiruga, A ressurreição sem milagre , op. cit., pp. 26-27. Nosso itálico. 

19 Ibid. , pág. 26. 

20 Ibid. , pág. 29. 

21 Ibid. , pág. 30.

Fonte: http://www.30giorni.it/

A oração de Maria: o Magnificat

O Magnificat (igrejamatrizsa)

A oração de Maria: o Magnificat

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

O cântico de Maria é conhecido como o “magnificat”, porque em latim começa dizendo “magnificat anima mea Dominum” (A minh’alma engrandece o Senhor). Todavia, a grandeza dessa oração (de fato magnífica), não está simplesmente em seu conteúdo, mas sobretudo, na revelação do perfil da consciência religiosa de Maria e na visão que ela tem de Deus. O magnificat não nos fala somente de Maria, mas também da presença de Deus na história da Salvação revelando sua misericórdia.   

 Magnificat: conteúdos e horizontes 

O dinamismo da fé de Maria presente em sua oração, nos estimula a ampliar os nossos horizontes nos educando a não nos fecharmos no intimismo espiritual e religioso. Maria é a fiel de mente religiosa aberta! A oração de Maria é aberta pois é uma oração de louvor pela manifestação de Deus em sua vida, na história do seu povo e dos povos ao longo do tempo. Repetindo as palavras do magnificat, somos chamados também a louvar a Deus pelas maravilhas que faz conosco e por suas grandes marcas ao longo da história. Dessa forma somos chamados ao louvor e à ação de graças por suas maravilhas também em nossa história contemporânea, às vezes, tão marcada pelo pessimismo. O magnificat é profundamente otimista, cheio de alegria e esperança. Maria nos ensina que a nossa confiança em Deus deve nos levar ao reconhecimento das suas obras no universo, no mundo e na vida das pessoas.  

Na oração do magnificat, Maria nada pede! Isso nos diz que quando somos beneficiários de grandes graças, o sentido da gratidão e de louvor a Deus devem estar em primeiro lugar. Quantas vezes somos beneficiários de muitas graças, entretanto, nem sempre manifestamos o devido louvor e gratidão a Deus por sua bondade. 

Diante de tão grande graça que representava enorme responsabilidade assumida, Maria não manifesta medo, ansiedade, insegurança, dúvidas. O magnificat também nos revela a solidez da confiança que Maria tinha em Deus. Por isso, não se sentiu abalada pela incerteza do futuro.  

O contexto do magnificat é vocacional e missionário. Após o seu sim, Maria vai ao encontro da sua prima Isabel necessitada de sua ajuda. O magnificat acontece, então, dentro da experiência missionária contemplando as maravilhas que Deus fizera também na vida de Isabel. A experiência de Deus fazendo maravilhas no ventre de Isabel precedeu aquela experiência de Maria. Deus é sempre assim, nos precede aonde quer que vamos. E todos aqueles que encontramos como destinatários da nossa missão já fizeram, de muitas formas, alguma experiência de Deus. No magnificat encontramos, então o perfil de Maria afetivamente livre, missionária, contemplativa. 

Do ponto de vista geográfico, ou socioambiental, o magnificat não acontece numa sinagoga, nem no templo e nem em algum santuário, mas ocorre num ambiente familiar. Maria nos estimula a pensar que Deus faz maravilhas nas famílias, e elas constituem ambientes de oração, de louvor e de ação de Graças. No magnificat nós temos um encontro de famílias, um abraço de mulheres grávidas! Nessa imagem tão querida, temos a profecia da beleza da Pastoral da Criança chamada a acompanhar e a catequizar as grávidas, promovendo o amor à vida e a catequese do ventre materno. 

O magnificat não é um solilóquio, mas é parte de uma experiência de diálogo entre duas mães de gerações diferentes; dessa forma o magnificat é a manifestação de Maria no seu diálogo com Isabel (cf. Lc 1,42-45).  

O cântico de Maria, não está no vazio gratuito, mas dentro de um contexto de comunicação, de relacionamento, de troca de experiência de fé, de manifestações da gratidão de Deus por seus benefícios concedidos a elas e à humanidade. Está dentro de um contexto de profundas experiências místicas, ou seja, de envolvimento com o mistério de Deus que se manifestou nelas profundamente beneficente e misericordioso.  

 O magnificat na Redemptoris mater

O Papa São João Paulo II na encíclica Redemptoris mater (1987) refletindo sobre o magnificat afirma: “No arroubo do seu coração, Maria confessa ter-se encontrado no próprio âmago desta plenitude de Cristo. Está consciente de que em si está a cumprir-se a promessa feita aos pais e, em primeiro lugar, em favor de «Abraão e da sua descendência para sempre»: que em si, portanto, como mãe de Cristo, converge toda a economia salvífica, na qual «de geração em geração» se manifesta Aquele que, como Deus da Aliança, «se recorda da sua misericórdia» (RM,36). 

Ainda afirma que no magnificat está a denúncia do pecado ao longo da história: a incredulidade, a fome, a soberba, as injustiças, a prepotência dos poderosos. Ainda nos adverte o Papa João Paulo II que o magnificat, na sua riqueza de conteúdos, alerta a Igreja para o cuidado dos pobres e é permanentemente chamada conservar a liberdade de Maria proclamando a soberania de Deus na história (cf. RM, 29). 

O cântico de Maria está em profunda sintonia com a sincera oração dos pobres, daqueles que depositavam sua esperança só em Deus, que conservavam em seu coração a expectativa de ver o Messias como fez o velho Simeão (cf. Lc 2,25-29).  

Um dos aspectos mais significativos da oração de Maria é o ato de louvor a Deus manifestando sua convicção de que tudo o que lhe aconteceu é Dom de Deus (Graça!) e não mérito seu. “A minha alma engrandece o Senhor e meu Espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lc 1,46) porque Deus “olhou”, “mostrou”, “fez”, “estendeu”, “dispersou”, “derrubou”, “encheu”, “socorreu”, “cumpriu suas promessas”… Deus é o protagonista da sua vida e da história. Deus faz maravilhas surpreendentes! Esse reconhecimento dos feitos divinos em sua vida pessoal e ao longo da história é sinal da sua humildade, sensibilidade, consciência histórica do seu povo e da fidelidade do amor de Deus para com seus filhos.  

Outro ponto merecedor de evidência é a importância dada à ação de Deus em favor dos pobres em detrimento dos ricos (egoístas, violentos), soberbos, orgulhosos, poderosos deste mundo. Deus é o senhor da história e seguindo os critérios evangélicos “quem se humilha será elevado e quem se eleva será humilhado” (Mt 23,12). Deus tem a última palavra por isso nunca devemos nos deixar levar pela vaidade.  

No cântico de Maria encontramos uma profunda e firme postura profética quando ela afirma: “Doravante todas as gerações me felicitarão…” (Lc 1,46). Essa frase revela que Maria tinha consciência de ser a mãe do Messias. Todas as gerações a chamarão Bem-aventurada por causa da sua íntima relação com o Salvador da humanidade. Indiretamente ela estava proclamando o seu papel único no processo de preparação da salvação da humanidade. Ela é a mãe do “Deus conosco” e a “cheia de graça” (Mt 1,23; Lc 1,28). 

 O cântico de Ana e o magnificat 

O cântico de Maria tem uma profunda relação com o cântico de Ana (cf. 1Sm 2,1-10), mãe do profeta Samuel. Isso nos diz que Maria era conhecedora das Sagradas Escrituras. Ana era estéril, vivia triste, amargurada e sendo humilhada por Fenena (a outra mulher de Elcana, esposo de ambas). Em sua angústia Ana pede em oração: «Javé dos exércitos, se quiseres dar atenção à miséria da tua serva e te lembrares de mim, e não te esqueceres da tua serva, e lhe deres um filho homem, então eu o consagrarei a Javé por todos os dias de sua vida…» (1Sm 1,11). 

Deus vem o encontro dos pobres e sofredores no tempo oportuno porque acompanha a história e se interessa por seus filhos. Ambas, Maria e Ana, contemplam a grandeza de Deus presente na história que vai deixando as marcas do seu poder e da sua bondade. Ambas nos ensinam que quem tem confiança em Deus, não dá espaço para o desespero diante dos males da história.   

Deus com seu poder amoroso vai ao encontro dos pobres e humilhados que suplicam a sua manifestação, mas ao mesmo tempo é aquele que surpreende a humanidade apresentando aos homens e mulheres, o seu projeto propondo-lhes mudança de rota, redimensionamento de suas intenções, pois foi isso que aconteceu com Maria.  

Sobressaem em ambos os cânticos uma atitude orante, cheia de louvor e gratidão a Deus por sua misericórdia. Ana e Maria nos ensinam que a experiência da oração deve ser alegre, cheia de gratidão e resposta ao amor de Deus. São duas mulheres contempladoras da misericórdia divina.  

Enfim, no cântico de Ana há forte súplica, mas nos eventos que envolvem Isabel e Maria não há nenhuma forma de oração a Deus por uma graça, tudo é espontâneo. No caso de Isabel e Zacarias, Lucas afirma que eles “não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois já eram de idade avançada” (Lc 1,7). Já viviam conformados, numa situação de resiliência e serenos. Ninguém pede nada, nenhum suplica e tudo recebem; é o mesmo que acontece com Maria: tudo é graça de Deus. 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Qual é o perfil de Maria presente na oração do magnificat? 

Em que o magnificat pode enriquecer a nossa experiência de oração?  

Quais advertências religiosas colhemos do magnificat? 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

NAZARENO: Gólgota (Elì, Elì, lemà sabactàni) - (57)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 57 - Gólgota (Elì, Elì, lemà sabactàni)

Agora os soldados colocam o "patibulum", o braço horizontal da cruz, sobre seus ombros. Dos três condenados, Jesus é o que mais se esforça para suportar a pesada trave, por causa da tortura que acabara de lhe ser infligida. Cada passo, cada solavanco, lhe causam dores lancinantes.

As ruas da cidade estão lotadas de gente. Jesus está exausto, desidratado. Várias vezes ele cai no chão, vencido pelo peso do patíbulo. Uma máscara de sangue e poeira cobre seu rosto. Requisitaram um certo Simão Cireneu, que passava por ali vindo do campo. Em uma esquina, quando estavam prestes a sair das muralhas da cidade antiga, uma pequena mulher se aproxima deles. Carrega em uma das mãos um grande copo de barro cheio de vinho aromático e, na outra, um pedaço de pano branco do tamanho de um véu. Jesus não quer beber, mas pega o véu e limpa o rosto, deixando o pano manchado de sangue com a marca de seu rosto.

Então chegam a lugar chamado Gólgota, que, traduzido, quer dizer o “Lugar da Caveira". No Gólgota, os robustos postes verticais das três cruzes, já estão fixados. Os soldados lhe tiram a túnica e o colocam no chão com os braços sobre o patíbulo. De uma sacola tiram pregos pesados e muito longos, juntamente com bastões de metal que serviam para martelá-los. Enquanto eles o puxam, Jesus repete: "Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem". Depois de pregá-lo na cruz, eles içam Jesus no poste vertical da cruz. Depois dele são crucificados Dimas, à sua direita, e Gestas, à sua esquerda.

Os dois malfeitores crucificados ao lado do Nazareno são mais falantes. Um deles, Gestas, começa a insultar Jesus: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Mas do outro lado, à direita de Jesus, Dimas, o outro ladrão, o repreendia: “Nem sequer temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto a nós, é de justiça; estamos pagando por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres com teu reino”. E lhe responde: "Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.

Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!”. Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!”. E a partir dessa hora, João acolhe Maria consigo.

Às três horas da tarde, Jesus deu um grande grito: “Eli, Eli, lemà sabactàni?, isto é: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”. Alguns dos que tinham ficado ali, ouvindo-o disseram: “Está chamando Elias”. Depois, dando um grande grito, expirou. Seu coração se parte. Sua cabeça cai reclinada sobre seu lado esquerdo.

Enquanto isso, José de Arimatéia, ilustre membro do Conselho, pede a Pilatos o corpo de Jesus. O governador lhe concede. José pegou o corpo de Jesus. Chegou também Nicodemos trazendo cerca de cem libras de uma mistura de mirra e aloés. Eles tomaram então o corpo de Jesus e o envolveram em panos de linho com aromas.

Havia um jardim, no lugar onde ele fora crucificado e, no jardim, um sepulcro novo no qual ninguém fora ainda colocado. É um túmulo nobre. Eles colocam o corpo sobre a laje de pedra.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/09/13/15/138258750_F138258750.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF