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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Na caminhada do ano litúrgico

Santa Missa na Esplanada de Taci Tolu, Timor Leste  (Vatican Media)

"O ano litúrgico se apresenta como um verdadeiro “sacramento”, como um instrumento no qual e pelo qual Deus se faz presente, como na humanidade de Cristo, a sua vida divina mediante o Espírito Santo. O ano litúrgico não celebra o mistério de Cristo de forma genérica, mas celebra-o nos seus diversos momentos e episódios a que chamamos “mistérios”; por meio deles Cristo realizou nossa salvação, em sua morte e Ressurreição".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão. (Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, de Bento XVI)”

O Ano Litúrgico é a articulação do calendário anual da liturgia da Igreja Católica. No Rito Romano inicia no primeiro domingo do Advento, no final de novembro/início de dezembro e termina na última semana do Tempo Comum. Consiste em um calendário de celebrações estruturado em torno do mistério pascal de Cristo, com o ciclo maior da Páscoa e o ciclo menor do Natal; um ciclo de leituras bíblicas para a celebração da Eucaristia todos os dias do ano e um ciclo de leituras bíblicas e patrísticas, bem como de outros textos, para a Liturgia das Horas.

No programa passado, Pe. Gerson Schmidt* nos trouxe a reflexão "Deus se manifesta no tempo da história do homem". No programa de hoje, o tema é "Na caminhada do ano litúrgico":

"Diz assim o subsídio para o Ano Jubilar: “O Tempo litúrgico da Páscoa, impregnado da presença do Ressuscitado, envolve o tempo do homem, o nosso tempo, com impulso protetor, a fim de que a confiança não esmoreça, a esperança não se abale e a caridade não se renda. “Homo viator spe erectus”, diz um provérbio antigo medieval: o homem pode caminhar pelas estradas da vida graças a esperança que lhe permite manter uma postura ereta, de ressuscitado, e olhar para o futuro com confiança. Para caminhar como viajantes rumo a um destino, é importante sentir-se amparado pela esperança. E a esperança para nós, cristãos, tem um nome: chama-se Jesus. O tempo Pascal é o tempo que a Igreja nos leva a confiar no Ressuscitado e nos entregar a Ele, para experimentar como indivíduos e como comunidade cristã a sua presença viva e ativa que sussurra no coração de cada um a sua saudação pascal: “A Paz esteja convosco!”[1].

É precisamente no espaço de um ano, isto é, no espaço de uma volta completa da terra em torno do sol, que hoje a liturgia, enquanto o lugar privilegiado do encontro com Deus, nos torna participantes de todo o mistério de Cristo, fazendo-nos percorrer sacramentalmente, e não apenas como simples lembrança, as etapas de sua existência terrena, tornando-nos assim já hoje, de algum modo, partícipes de sua vida divina. O ano litúrgico se apresenta como um verdadeiro “sacramento”, como um instrumento no qual e pelo qual Deus se faz presente, como na humanidade de Cristo, a sua vida divina mediante o Espírito Santo. O ano litúrgico não celebra o mistério de Cristo de forma genérica, mas celebra-o nos seus diversos momentos e episódios a que chamamos “mistérios”; por meio deles Cristo realizou nossa salvação, em sua morte e Ressurreição[2].

E o Catecismo da Igreja Católica, no número 1168, sobre o compasso do ano litúrgico na Igreja, aponta assim: “Partindo do Tríduo Pascal, como da sua fonte de luz, o tempo novo da ressurreição enche todo o ano litúrgico da sua claridade. Progressivamente, dum lado e doutro desta fonte, o ano é transfigurado pela liturgia. Ele é realmente “o ano da graça do Senhor” (Lc 4,19). A economia da salvação realiza-se no quadro do tempo, mas a partir do seu cumprimento na Páscoa de Jesus e da efusão do Espírito Santo, o fim da história é antecipado, pregustado, e o Reino de Deus entra no nosso tempo”. Entenda-se a palavra “economia de salvação” não no sentido usual de ajuste financeiro, mas como o modo de proceder pedagógico de Deus, que se manifesta gradativamente ao ser humano, culminando com a revelação em Cristo Jesus.

E no número 1171 do Catecismo descreve assim: “O ano litúrgico é o desenrolar dos diferentes aspectos do único mistério pascal. Isto vale particularmente para o ciclo das festas em torno do mistério da Encarnação (Anunciação, Natal, Epifania), que comemoram o princípio da nossa salvação e nos comunicam as primícias do mistério da Páscoa”. A Páscoa, portanto, sempre estará por detrás de qualquer celebração, qualquer ato litúrgico, qualquer ação da Igreja, mesmo no Tempo Comum das ações cotidianas vivenciadas por Cristo, que sempre estarão em vista de sua entrega total.

A homilia Pascal do bispo São Basílio de Selêucia recupera a tônica pascal que perpassa todo o ano litúrgico: “Realmente na cruz obteve o triunfo sobre os nossos pecados, mergulhou na mística água do Batismo as vestes de nossa injustiça, e atirou para o fundo do mar todas as nossas faltas. Pensa na fonte do santo Batismo e apregoa a graça. Pois o Batismo é a síntese de todos os bens, a purificação do mundo, a restauração da natureza, o perdão total, o remédio que nada custa, a esponja que limpa a consciência, a veste que não envelhece com o tempo, o útero que concebe virginalmente, o sepulcro que dá vida aos que foram enterrados, o abismo em que somem os pecados, o túmulo de Satanás, o sinete e baluarte dos que foram assinalados, a fonte que extingue a geena, o anfitrião da ceia do Senhor, a graça dos antigos e novos mistérios, já prenunciada em Moisés, e a glória pelos séculos dos séculos. Amém”[3].

Tal importância do sacramento primordial, que nos faz pertencer à comunidade de fé e à filiação divina. O ciclo litúrgico não se repete em nós e na comunidade, mas se atualiza com um vigor ainda maior e mais intenso, a cada etapa do ano que celebramos. O nosso batismo se renova pela caminhada de fé celebrada em cada mistério, inseridos na Igreja particular e universal."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
________________

[1] BARBA, Maurizio. Cadernos do Concilio de número 13 – Os tempos Fortes do Ano litúrgico, Edições CNBB, p.33.
[2] Idem, p. 52.
[3] São Basílio de Selêucia. Hom. in Sanctum Pascha: SCh 187,275-277, Vincentium Riccardo interprete.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Paulo, apóstolo e mestre da Torá

Capa do livro "Paulo, apóstolo e mestre da Torá completa" (Vatican News)

O novo livro do padre Germano Lori e padre Francesco Giosuè Voltaggio, publicado pelas edições Paulinas, destaca a importância da educação judaica do Apóstolo Paulo, missionário que, com zelo, percorreu, incansavelmente, o coração do Império Romano para anunciar o mistério pascal de Cristo. No prefácio, o cardeal Pizzaballa afirma: “A figura de Paulo emerge com toda a sua riqueza”.

Débora Donnini – Cidade do Vaticano

Uma imersão na vida, nos escritos e no pensamento do Apóstolo dos Gentios é proposta no livro “Paulo, apóstolo e mestre da Torá completa”. O prefácio, assinado por Sua Beatitude, Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca de Jerusalém dos Latinos, recorda a importância da tradução “ex-novo”, que os dois autores fizeram das fontes extra bíblicas, jurídicas e patrísticas; expressa também a esperança de que “a obra encontre a devida difusão no campo dos estudos da exegese bíblica”. O Cardeal escreve ainda: “Uma das características peculiares da obra é estar profundamente ancorada nas Escrituras e em constante diálogo com elas”.

Novidades

A grande obra, com mais de 500 páginas, foi elaborada por dois sacerdotes italianos, Padre Germano Lori e Padre Francesco Giosuè Voltaggio, ambos “fidei donum” do Patriarcado Latino de Jerusalém. Durante anos, os sacerdotes estiveram comprometidos, não apenas no estudo científico da pesquisa bíblica, mas também dedicando as suas vidas ao anúncio do Evangelho na Terra Santa. Juntos, decidiram criar uma obra, que pretendia ser inovadora, sob diversos pontos de vista, dirigida não apenas para o setor acadêmico, mas para quem quisesse descobrir, plenamente, o alcance de São Paulo para a fé e o pensamento cristão. Os autores começam sua obra ressaltando a matriz cultural do Apóstolo: formação religiosa judaica, educação helenística e cidadania romana.

Em entrevista à Rádio Vaticano – Vatican News, Padre Francesco Giosuè Voltaggio fala, antes de tudo, da formação de Paulo no contexto judaico, “iniciada não só nas Escrituras, mas também na tradição oral de Israel, na releitura das Escrituras, cuja tradição oral, à luz da sua realização última, desemboca na novidade do Messias”. Daí, nasce o título do livro: “Paulo, apóstolo e mestre da Torá completa”.

O primeiro aspecto, sobre o qual os autores insistem, portanto, é precisamente o “judaísmo” de São Paulo, “nem sempre valorizado suficientemente”, como observa Padre Voltaggio, que acrescenta: “Em segundo lugar, fizemos uma revisão da cronologia da vida de Paulo, com base particular no possível resultado do seu julgamento, estudando em profundidade, sobretudo, o sistema jurídico do Império Romano, que propõe também a sua possível libertação da prisão, no ano 62, segundo as decisões jurídicas romanas daquela época".

Enfim, o sacerdote explica: “Em relação à questão da autenticidade das Cartas “Deuteropaulinas” (Efésios, Colossenses, I Tessalonicenses) e das Cartas pastorais (I e II Timóteo e Tito), tentamos rever, criticamente, as posições consolidadas na exegese de hoje, ao longo dos tempos".

Entrevista com padre Francesco Giosuè Voltaggio (Vatican News)

Conversão

Os autores dedicam espaço particular à conversão de Saulo, que, neste sentido, foi relevante o martírio de Estêvão, como explica ainda Padre Francesco Voltaggio: “Certamente, a aparição de Cristo a São Paulo foi uma manifestação sobrenatural, mas, sua conversão, de alguma maneia, dependeu de um processo por etapas. Achamos que uma das etapas fundamentais foi, como os Atos dos Apóstolos narram no capítulo sétimo, o fato de Paulo não ter sido apenas testemunha ocular do martírio de Santo Estêvão, mas ter aprovado seu assassinato. Ao ver como Estêvão perdoou seus inimigos, o amor de um homem pelos seus inimigos ou por aqueles que o matavam, certamente causou uma marca profunda na psicologia de Paulo, como também de modo implícito em alguns de seus escritos, mas, naturalmente, a sua conversão verdadeira e própria". Aqui, Padre Voltaggio, acrescenta: “Na tradição judaica, encontramos um lindo texto, que diz: 'Quem foi o maior herói de todos?' Alguns dizem: 'Aquele que consegue converter seu inimigo em amigo'."

Além das suas origens judaicas, a formação na cultura helenística e a cidadania romana foram fundamentais na vida de São Paulo. O apóstolo, judeu da diáspora, de língua e cultura gregas, foi educado também em Tarso, um centro famoso, também no que diz respeito à cultura, em particular, à retórica e filosofia helenísticas, uma importante escola de filosofia estoica. Tudo isso emerge em seus escritos.

O nome de Paulo era Saulo, em hebraico (שאול, Shaʾul), como recorda ainda Padre Voltaggio: Paulo era cidadão romano, tanto é verdade que, muitas vezes, se apresentava com o nome latino Paulus ou com o grego Pàulos (Παλος). Ele sabia confrontar-se com o mundo helenístico, com o mundo romano e com os procuradores Romanos; reivindicava seus direitos como cidadão romano, como também se nota em seus escritos, encarava a autoridade civil, inclusive a de Roma, como uma realidade desejada por Deus para o bem dos homens. De fato, Roma representava o ponto alto do seu projeto de evangelização, tanto que, precisamente, na Caput mundi, morreu como mártir".

Evangelização

No volume dos dois sacerdotes italianos, podem ser reconstituídas as viagens de Paulo, a obra de evangelização, a relação com as primeiras comunidades cristãs e com Pedro. Certamente, este foi um testemunho importante para os dias de hoje, como observa o autor do volume: “Paolo nunca agia sozinho. Antes de tudo, embora fosse depositário de uma revelação extraordinária de Jesus Cristo, o apóstolo foi apresentado por Ananias e por uma comunidade. Com o apoio de Barnabé, começou a fazer parte da primeira comunidade cristã de Antioquia, que o envia em missão; mantinha contato direto com a tradição apostólica e com os primeiros Pilares da Igreja, apesar de algumas tensões com Pedro, que sempre chamava Cefas, tinha grande respeito por ele e com ele mantinha profunda comunhão e unidade”.

Ainda segundo o autor do volume, “Paulo transmitia o que recebia, trabalhava em equipe e, em particular, colaborava com famílias missionárias, como Áquila e Priscila, e com mulheres, que mantinham um papel importante, como Lídia, nos Atos dos Apóstolos, mas sempre foi membro ativo na comunidade evangelizadora. Logo, ele nunca evangelizava sozinho, mas com a força impetuosa da primeiríssima comunidade. Em Paulo emerge, claramente, a instituição e o carisma coessenciais na Igreja”.

Segundo suas Cartas às primeiras comunidades cristãs, espalhadas por todo o Império Romano, nota-se que Paulo teve que enfrentar diversos problemas, como explica o Padre Voltaggio: “Os problemas enfrentados pelas primeiras comunidades eram inúmeros e isso deveria servir de grande esperança para a Igreja de hoje. As primeiras comunidades eram atacadas em várias frentes, por exemplo, a forte religiosidade pagã, muitas vezes, era ligada ao poder ou à forte identidade judaica. Mas, o que mais fez Paolo sofrer, desde os primeiros momentos, foram as tribulações no âmbito das primeiras comunidades; os falsos apóstolos, que tentavam desviar as comunidades da radicalidade e da genuinidade do Querigma, do anúncio totalmente centrado na gratuidade do amor de Deus, em Cristo. Essas grandes perseguições afetaram as primeiras comunidades, que, mais tarde, receberam uma força enorme”.

Cartas Paulinas

No volume, os autores italianos abordaram também a questão da discussão entre exegetas sobre a distinção das Cartas de São Paulo entre as Cartas “protopaulinas”, consideradas autênticas (Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Filipenses, I Tessalonicenses e Filêmon); as Cartas “Deuteropaulinas”, cuja autenticidade é discutida (Efésios e Colossenses), e as “Pastorais”, cuja autenticidade é, geralmente, considerada mais improvável (I e II Timóteo e Tito). Neste sentido, os autores sugerem um olhar diferente para aprofundar o debate: “Achamos que tais datações podem ser revistas criticamente, porque não dispomos de detalhes suficientes para datar, com exatidão, as Cartas Paulinas, exceto alguns casos raros. No caso das Cartas “Deuteropaulinas” e “Pastorais”, fizemos uma revisão de todos os dados. Sem entrar em detalhes – porque seria muito longo e são muitas as variações de uma Carta para a outra – jamais devemos esquecer que Paulo não escreveu todas as Epístolas de próprio punho. Muitas vezes, ele as ditou a algum secretário ou escriba, entre seus colaboradores. Tanto é verdade que na Carta aos Romanos lê-se: ‘Também eu, o Terceiro que escrevi a Carta, os saúdo no Senhor’. Isso pode explicar as várias diferenças de estilos ou conteúdos, porque a contribuição do escriba ou do editor também poderia ter sido bastante substancial, obviamente, sem prejudicar a íntima ligação com Paulo”.

Enfim, um dos autores do volume, Padre Voltaggio, sintetiza sua entrevista, dizendo: “Gostaríamos de rever todas estas datações e, sobretudo, a questão da sua autenticidade, à luz de dados certos, quanto possível. Seguimos esta linha, obviamente, com liberdade crítica e honestidade científica".

Imagem do apóstolo São Paulo na Praça São Pedro (Vatican News)

Graças, Fé, Querigma

Foram vários os temas da teologia paulina abordados no livro. Os autores recordam, por exemplo, que Paulo não apresenta a oposição entre fé e Lei, mas sim entre justificação pela fé e justificação através da Lei. Para entendermos isso, temos que voltar à etimologia, diz Padre Voltaggio: “Em hebraico, a lei se chama ‘Torá’, depois, foi traduzida para o grego como ‘Nomos’ e para o latim com ‘Lex’. Esta tradução, talvez, é a única possível, porém não expressa toda a riqueza semântica, ou seja, o significado do termo Torá significa ensino. Na Torá, que, antes de tudo, é o Pentateuco - os primeiros cinco livros da Bíblia - não há prescrições legais, primariamente, mas a história de salvação realizada por Deus”.

Para entender a teologia de Paulo, devemos referir-nos à sua formação Judaica, o autor explica: “Os judeus afirmam que a Lei é uma ‘graça’. Logo, por um lado, Paulo não podia se opor à Lei, ou seja, à Torá, e, por outro, à fé, porque a Torá foi dada por Deus e o próprio Cristo diz que não veio para abolir a Torá, mas para dar-lhe pleno cumprimento”.

Enfim, para o Padre Voltaggio, isso significa que Paulo se opõe, antes de tudo, à justificação pela Lei e à justificação pela fé: “Paulo está ciente de que o homem não tem toda a capacidade de cumprir a Lei, apenas com suas forças. Por isso, ele precisa de Cristo, que é o único Justo, que nos dá a Lei realizada no seu Espírito. Por conseguinte, a fé Nele e a Graça que nos permitem realizar as obras da Lei e, depois, as obras da fé, porque as obras são importantes para Paulo, são frutos da Graça, da aceitação do Querigma e da fé em Cristo”.

Para compreender, plenamente, a missão de Paulo de Tarso, é fundamental também recordar a importância do anúncio do Querigma, a Boa Nova da morte e ressurreição de Cristo. É precisamente este aspecto, que mais impressiona o coautor do livro, como conclui o Padre Voltaggio: “Paulo não perdia tempo em muitas discussões, mas era um grande missionário itinerante e cheio de zelo; sua ação 'motora' era levar o Querigma, isto é, o tesouro do mistério Pascal de Cristo, que ele experimentou em sua vida. Acho que é isso que o mundo espera de nós”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Tentações típicas do diabo para arruinar casamentos

Aliança trincada (Obturador)

Pílulas da Fé - publicada em 31/08/17

O diabo sabe claramente que se trabalhar para destruir o casamento, poderá desvendar e destruir toda a estrutura da sociedade.

É verdade que muitos de nós saímos de férias, mas há alguém que nunca sai de férias e, aliás, nunca sairá de férias. Você consegue adivinhar quem poderia ser? O diabo ! Isso mesmo, diabo! Ele trabalha 25 horas por dia, oito dias por semana e 366 dias por ano.

Na verdade, ele é um dos trabalhadores mais consistentes do mundo! Pai das Mentiras e Assassino desde o Princípio, Príncipe deste mundo, antiga serpente, Lúcifer, Satanás, demônio, diabo, todos esses são nomes para o diabo encontrados nos Textos Sagrados das Escrituras.

Os santos cunharam outros nomes que destacam diferentes aspectos de suas más intenções, aqui estão alguns:

São Tomás de Aquino chama o diabo de  O Tentador .

Santo Agostinho chama isso de  cachorro raivoso  na coleira, é melhor você manter distância!

Santo Inácio, que nos deu os Exercícios Espirituais e as Regras para o Discernimento dos Espíritos (explicando em parte a obra do diabo em nossas vidas), chama o diabo de  Inimigo  da natureza humana. No dia da festa litúrgica de São Martinho de Tours ele chama o diabo de “ Bloco ”.

Por fim, São Pedro, em uma de suas cartas, chama o diabo de  Leão que ruge  que procura devorar quem pode. Somos chamados a resistir!

Um dos principais ataques do diabo à sociedade moderna é lançar seus mísseis contra a mais antiga instituição estabelecida por Deus,  a família . O casamento é a união entre homem e mulher, marido e mulher, unidos num sacramento que chamamos de  Santo Matrimônio , aberto a ter filhos e a educá-los no amor e no temor do Senhor.

O diabo sabe claramente que se puder trabalhar para destruir a instituição da família, poderá ajudar a desvendar e  destruir  todo o tecido da sociedade. Os historiadores dizem-nos que uma vez que a família se desfaz, a sociedade  rapidamente se desintegra  .

Sendo este o caso, quais são algumas das tentações típicas que o diabo lança sobre os casais para enfraquecer e eventualmente destruir a família? Neste pequeno artigo apresentaremos cinco das tentações mais insidiosas, mas  comuns  , que o Pai da Mentira e o Assassino desde o Princípio lança contra a família.

1. Vivam juntos. União livre. Coabitação. Casamento experimental.

Listamos vários títulos para os numerosos acordos de casais que militam contra o Sacramento do Santo Matrimônio.

Há duas gerações, um casal católico que escolhesse uma das condições de vida acima mencionadas seria visto como radical, renegado, pária e um  escândalo flagrante  em todo o mundo. Hoje em dia, se um casal passa a viver junto em um casamento semelhante, é quase normal.

Muitos jovens dizem: “Temos que experimentar primeiro, verificar se temos química”. “Temos que ver se funciona, se somos compatíveis.”

Entretanto, estão dispostos a viver fora do  estado de graça , pondo assim em risco a sua salvação eterna, sem falar no mau exemplo que dão às crianças nascidas nestas circunstâncias.

Os casais que vivem neste estado estão se tornando uma verdadeira  epidemia . Pior ainda, a sociedade fica insensível a acreditar que isso é normal e correto. Nos bastidores deste cenário está ninguém menos que o diabo, o mentiroso!

2. Uniões do mesmo sexo.

Embora as uniões homossexuais tenham sido legalizadas, isso não significa que sejam  corretas . Tal como no caso do aborto, que foi legalizado nos Estados Unidos em 1973, isso não significa que as uniões legalizadas entre pessoas do mesmo sexo sejam morais.

O que é legal nem sempre é moral.

A Sagrada Escritura nos ensina que remontando ao Livro do Gênesis que Deus criou o homem e a mulher, Adão e Eva, e disse que o homem deve deixar seu pai e sua mãe para se unir à sua esposa:

“O que Deus uniu, entre homem e mulher, ninguém se separe” (Gênesis 3).

Por trás desta mentira das uniões entre pessoas do mesmo sexo está o diabo.

3. Adultério.

No Sermão da Montanha Jesus elevou o amor, a fidelidade e a pureza a um nível muito mais elevado. Jesus disse:

“Vocês já ouviram: não cometerão adultério. Mas eu vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher com desejo sexual já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mateus 5, 27-28).

Uma das interpretações modernas desta passagem, em relação ao Sacramento do Santo Matrimônio, é que mesmo que um homem casado não cometa o ato de  adultério físico  com outra mulher, ele ainda pode cometer adultério de outras maneiras, através dos olhos dela, em  sua mente  e nas profundezas do seu coração.

É claro que uma das formas mais comuns de adultério moderno são os homens casados ​​(e às vezes mulheres) que assistem  pornografia . Sem sombra de dúvida, isto está a tornar-se cada vez mais comum, causando  estragos  e destruindo famílias.

Mais uma vez, por trás de grande parte da indústria pornográfica não está apenas um demônio, mas uma enorme  multidão de demônios ! Uma das frases mais comuns que tenta minimizar a gravidade de ver pornografia, principalmente entre homens, é a seguinte: “Bom, meninos serão meninos. Os homens serão homens.”

Ao mesmo tempo, famílias estão sendo destruídas e crianças ficam gravemente feridas e com cicatrizes para o resto da vida.

4. Não estar aberto à vida.

Anos atrás, os casais se casavam e queriam que os filhos viessem o mais rápido possível. Casais com 6, 8, 10 ou 12 filhos eram quase a norma. Sempre foi assim, mesmo que financeiramente o casal não tivesse abundância.

Hoje é exatamente o oposto. Os casais se casam e sua mentalidade é como podemos  evitar  ter filhos.

Para muitos, a filosofia é a seguinte: vamos ter a nossa casa, o nosso carro novo, a nossa televisão de ecrã grande, o nosso iate, o nosso resort, e depois de todos estes bens materiais serem adquiridos, então talvez seja altura de ter um filho ou um filho. garota Dois, no máximo.

Numa sociedade saturada pelo materialismo, pelo hedonismo, pelo egocentrismo e pelo utilitarismo, a coisa prevalece sobre trazer ao mundo uma  nova entidade  com alma e uma existência imortal que chamamos de pessoa humana.

Esta atmosfera contraceptiva e anti-vida é  promovida e cultivada pelo diabo. Nosso Deus é um  Deus de vida . O diabo é um mentiroso e um assassino desde o início.

5. Falta de comunicação.

É preciso dizer, a nível social, que muitos casais, desde o início do casamento, nunca aprenderam verdadeiramente a dialogar. Eles nunca aprenderam a importante  arte da comunicação .

A comunicação é uma arte com a qual nenhum de nós nasce. Deve ser aprendido. Portanto, antes de chegarmos ao dia de pronunciar a fidelidade nos bons e nos maus momentos, na saúde e na doença, nos ricos e nos pobres, até que a morte nos separe, os casais devem estar conscientes da extrema  necessidade de comunicar , da arte da comunicação, e faça tudo ao seu alcance para nunca desistir de melhorar suas habilidades de comunicação.

Mesmo nesse processo, o diabo pode  atuar  como um verme no caminho da vida dos casais, bloqueando a comunicação das seguintes formas:

  • O diabo pode convencer um casal de que é melhor  não conversar  para evitar conflitos.
  • O diabo pode tentar um parceiro a proferir  palavras ofensivas  que agem como picadas de abelha.
  • O diabo pode agir de tal maneira que um queira falar sobre tudo e o outro não queira dizer nada.
  • O diabo pode convencer um casal a  evitar falar com Deus . Resumindo, Deus ajuda os casais a se comunicarem bem.
  • Por último, o diabo pode levar um casal a  falar mais com outra pessoa (ex-namorados ou mesmo novos “amigos” do sexo oposto) do que com o próprio cônjuge, em grande prejuízo do casamento.

Em conclusão, cabe a todos os cristãos estar profundamente conscientes das obras do diabo, que está empenhado em destruir a humanidade. Um dos seus primeiros ataques é à  Instituição da Família , ao berço da criança, à  Igreja Doméstica  e ao futuro da humanidade.

Voltemos à Sagrada Família: São José, Maria e Jesus, pedimos a vossa intercessão, ajudando-nos a ter consciência dos ataques astutos do diabo, ajuda-nos a rejeitar as suas tentações e encoraja tudo o que é puro, nobre e digno de louvor .

Artigo publicado por Faith Pills

Fonte: https://es.aleteia.org/2017/08/31/tentaciones-tipicas-del-diablo-para-arruinar-matrimonios

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

Apascenta as minhas ovelhas (Catequizar)

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 46,4-5: CCL 41,531-533)       (Séc.V)

O exemplo de Paulo

Estando Paulo, certa ocasião, em grande indigência e preso pela proclamação da verdade, alguns irmãos enviaram-lhe com que acudir a suas necessidades. Agradecido, responde-lhes: Fizestes bem provendo-me do necessário. Eu, porém, aprendi a bastar-me em qualquer situação. Sei ter muito e sei passar privações. Tudo posso naquele que me dá forças. No entanto fizestes bem em enviar-me aquilo de que preciso (cf. Fl 4,10-14).  

Mas desejando mostrar o que é que lhe interessava neste gesto em seu favor – não houvesse acaso entre eles algum dos que se apascentam a si e não as ovelhas – não se alegra tanto por ter sido socorrido em sua necessidade, quanto se congratula com eles por sua liberalidade. O que procurava então? Diz: Não porque espero dádivas para mim, mas porque busco frutos para vós (Fl 4,17). Não para que me sacie eu, mas para que não fiqueis vazios vós.  

Que aqueles que não podem, como Paulo, sustentar-se com o trabalho de suas mãos, aceitem o leite das ovelhas, supram as suas necessidades, mas não descuidem a fraqueza das ovelhas. Não procurem isto para o próprio proveito, como se anunciassem o Evangelho só para atender a sua penúria, mas tenham em mira a luz da palavra da verdade a fim de iluminar os homens. Pois parecem-se com lâmpadas, como foi dito: Estejam vossos rins cingidos e lâmpadas acesas (Lc 12,35); e: Ninguém acende uma lâmpada e a põe debaixo da vasilha, mas sobre o candelabro a fim de iluminar aqueles que estão em casa; assim brilhe vossa luz diante dos homens para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus (Mt 5,15-16).  

Se para teu uso acendessem em casa uma lâmpada, não lhe porias mais óleo para não se extinguir? Todavia, se mesmo com óleo a lâmpada não brilhasse, não seria de modo algum digna de ser posta no candelabro, mas logo quebrada. O bastante para viver, por necessidade se aceita, por caridade se dá. Não seja o Evangelho um objeto venal, como se fosse o preço que recebem os que o anunciam para terem com que viver. Se assim o vendem, por uma ninharia vendem uma coisa preciosa. Do povo recebem o sustento necessário; do Senhor, a recompensa de seu ministério. Não é o povo o indicado para dar a recompensa àqueles que servem ao Evangelho na caridade. Estes esperam sua recompensa da mesma fonte de que os outros aguardam a sua salvação.  

Por que então são repreendidos? Por que censurados? É que, bebendo o leite e cobrindo-se com a lã, descuravam as ovelhas. Procuravam apenas seu interesse, não o de Jesus Cristo.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Brasileiros participam de entronização de Nossa Senhora Aparecida em basílica nos EUA

Entronização de Nossa Senhora Aparecida na basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição em Washington, DC. | Crédito: Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição | ACI Digital

Mais de 6 mil brasileiros participam de entronização de Nossa Senhora Aparecida em basílica nos EUA.

Por Nathália Queiroz*

16 de setembro de 2024

Mais de 6 mil brasileiros participaram da missa de entronização de Nossa Senhora Aparecida na basílica da Imaculada Conceição, em Washington, DC, o maior templo católico dos EUA, no sábado (14).

“Que alegria estarmos aqui hoje! Que bom estarmos aqui!”, disse na homilia o bispo de Fall River, Massachusetts, dom Edgar da Cunha, brasileiro natural de Jacuíbe (BA). “Graças a Deus, conseguimos, pela primeira vez na história reunir o povo fiel da comunidade brasileira aqui nos EUA, vindos de tantas partes distantes deste país, da Florida a Califórnia, para juntos celebrarmos esse encontro e esse evento que permanecerá na história e perdurará na nossa memória”.

Nossa Senhora Aparecida na basílica da Imaculada Conceição em Washington, DC. Crédito: Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição | ACI Digital

A missa da entronização da imagem de Nossa Senhora Aparecida foi celebrada em português pelo arcebispo emérito de Boston, cardeal Seán O’Malley. O núncio apostólico nos EUA, dom Christophe Pierre, nove bispos e mais de 50 padres concelebraram a missa.

Bispos na entronização de Nossa Senhora Aparecida. Crédito: Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição | ACI Digital

A basílica estava lotada, havia muitas pessoas em pé e outras sentadas no chão. A maioria dos participantes vestia uma camiseta azul com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que foi vendida antes do evento como forma para arrecadar dinheiro para os custos da entronização.

Fiéis participam da missa da entronização de Nossa Senhora Aparecida. Crédito: Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição|  ACI Digital

“Estamos aqui para comemorar, celebrar, honrar, a Bem-Aventurada Virgem Maria, sob o título de Nossa Senhora Aparecida. Pedir sua intercessão e suas bênçãos, como também prometer imitá-la em suas virtudes”, continuou dom Edgar que mora há mais de 45 anos nos EUA.

Para ele, “esse não é um encontro social, cultural, político ou de entretenimento, mas sim, uma peregrinação, um momento para nos encontrarmos com Deus, com nossa Mãe Maria, com nossos irmãos na fé e um momento de verdadeira demonstração de fé”.

“Em Aparecida, Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe. Que Nossa Senhora Aparecida interceda por todos nós ao seu filho Jesus”, concluiu.

Fiéis levam uma imagem de Nossa Senhora Aparecida durante a missa. Crédito: Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição | ACI Digital

A organização da entronização da imagem de Nossa Senhora Aparecida em Washington, DC., começou há dois anos, liderada pela vice-reitora de estratégias globais da Universidade Católica da América (UCA), Duilia de Mello. Ela conseguiu a ajuda de dom Edgar, que envolveu mais de 20 líderes de comunidades católicas brasileiras de todos os EUA. Assim, a entronização se tornou uma grande peregrinação de brasileiros.

“É uma grande honra receber cada um de vocês que vieram de diferentes lugares em peregrinação para participar deste evento histórico e profundamente simbólico para nossas nações, Brasil e EUA”, disse Duilia de Mello antes de começar a missa.

“Hoje, a capital americana também se torna o lar da padroeira do Brasil. A entronização de Nossa Senhora Aparecida na Basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição nos une ainda mais. A partir de agora, temos um local sagrado para venerá-La e para depositar nossas preces aos seus pés”, continuou.

“Acolher a imagem de nossa mãe significa abrir nosso coração para seguir seu Filho Jesus e ‘fazer tudo o que Ele nos disser’”, concluiu.

Fiéis rezam a Nossa Senhora Aparecida. Crédito: Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição | ACI Digital

Além da missa, os brasileiros saíram em procissão nas ruas com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, rezaram o terço e tiveram pregações. O dia terminou com um momento de louvor e adoração com a irmã Kelly Patrícia.

*Nathália Queiroz - Escrevo para a ACI Digital há oito anos e desde 2023 sou correspondente do Brasil para o telejornal EWTN Notícias. Sou certificada em espanhol pelo Instituto Cervantes. Tenho experiência em redação de conteúdo religioso para mídias católicas em português e espanhol e em tradução de sites religiosos. Sou casada, tenho três filhos e sou catequista há mais de 15 anos. Escrevo de Petrópolis (RJ).

Fonte: https://www.acidigital.com/

São Roberto Belarmino

São Roberto Belarmino (Nossa Sagrada Família)
17 de setembro
País: Itália
São Roberto Belarmino

São Roberto Belarmino foi um dos teólogos e pensadores religiosos mais importantes do final do século XVI e início do século XVII. Sua vida e obra tiveram um impacto significativo na história da Igreja Católica e na teologia cristã.

Belarmino nasceu em Montepulciano, na Itália, em 1542. Ele ingressou na Companhia de Jesus, a ordem religiosa dos jesuítas, aos 18 anos, e rapidamente se destacou como um estudioso brilhante. Ele estudou filosofia e teologia em Roma e, mais tarde, ensinou teologia em Lovaina, na Bélgica, onde desenvolveu seu talento como professor e escritor.

São Roberto Belarmino é mais conhecido por suas contribuições para a teologia e a apologética católicas. Ele desempenhou um papel importante no Concílio de Trento, um dos eventos mais significativos da Reforma Católica. Belarmino trabalhou na Comissão Teológica do concílio, ajudando a esclarecer e definir a doutrina católica em resposta às críticas e desafios apresentados pelos reformadores protestantes.

Uma de suas obras mais notáveis é "Controvérsias", uma série de escritos teológicos que refutam os argumentos dos reformadores protestantes e defendem as doutrinas católicas. Esses escritos mostram sua habilidade em argumentação lógica e teológica e foram influentes na defesa da fé católica.

Além de sua erudição teológica, Belarmino também era conhecido por sua humildade e seu compromisso com a vida espiritual. Ele recusou ofertas para cargos eclesiásticos de alto nível, optando por uma vida mais simples e voltada para o estudo e a oração.

São Roberto Belarmino foi canonizado como santo pela Igreja Católica em 1930. Sua festa é celebrada em 17 de setembro. Ele é lembrado não apenas como um grande teólogo e defensor da fé católica, mas também como um exemplo de humildade, devoção e dedicação à busca da verdade e da justiça.

São Roberto Belarmino continua a ser uma figura de influência na teologia católica e é estudado por teólogos e acadêmicos em todo o mundo. Sua vida e trabalho representam o compromisso da Igreja Católica em defender e explicar sua fé em tempos de desafio e mudança.

São Roberto Belarmino, rogai por nós!

 https://youtu.be/QH6WPAFAKWU

Fonte: https://www.nossasagradafamilia.com.br/

O Papa Francisco realmente ouve a Ásia, afirma jesuíta Rothlin

Pontífice no Estádio Nacional de Singapura, por ocasião da celebração eucarística  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

A viagem do Papa à Ásia inspirou muitas pessoas. Com seus encontros e maneira de ouvir, Papa Francisco também enviou um importante sinal contra o eurocentrismo, afirma o jesuíta Stephan Rothlin em entrevista à Rádio Vaticano-Vatican News. O diretor do Instituto Ricci, de Macau, ao sul da China, vê muitas pontes para o cristianismo na ética e nas culturas asiáticas. Sobre o campo da ecologia e a encíclica Laudato si', ele confirma: na Ásia, há portas abertas para a mensagem do Papa.

Anne Preckel - Cingapura

O jesuíta suíço Stephan Rothlin vive e trabalha na Ásia há décadas. Ele ensina ética nos negócios e é o diretor do Instituto Ricci em Macau, dedicado ao legado do jesuíta Matteo Ricci (1552-1610), que é muito respeitado na China. Em uma entrevista à Rádio Vaticano-Vatican News, Rothlin fala sobre o significado da viagem do Papa a Singapura que, como Matteo Ricci, pode ser descrita como uma ponte entre culturas e religiões, descreve as reações à viagem do Papa à Ásia e explica os valores compartilhados que desempenham e desempenharão um papel cada vez mais importante no diálogo entre o cristianismo e as culturas da Ásia.

Uma região importante para a Igreja do futuro

Preckel: Padre Rothlin, o que o inspirou na viagem do Papa à Ásia?

P. Stephan Rothlin (diretor do Instituto Ricci em Macau): O que me inspirou e tocou particularmente: o fato de o Papa estar demorando tanto para fazer essa viagem à Ásia. Essa imagem do Papa em uma cadeira de rodas - empreendendo uma jornada muito extenuante - sugere fortemente que ele está ciente de que a Ásia se tornou uma região extremamente importante, de fato uma região importante para a Igreja do futuro. Em outras palavras, uma das regiões mais dinâmicas do mundo, que também é de extraordinária importância para a Igreja. E isso me parece ter sido impressionantemente sublinhado por sua viagem.

Preckel: O senhor é o diretor do Instituto Ricci em Macau, que leva o nome de Matteo Ricci, que foi uma ponte entre o Oriente e o Ocidente. Singapura pode ser descrita da mesma forma?

Rothlin: Acredito que Singapura também faz parte dessa tradição. Deve-se sempre ter em mente que Matteo Ricci - cujo nome chinês é Lì Mǎdòu 玛窦 - está muito mais presente na Ásia, especialmente entre os católicos. Ele viveu de 1552 a 1610, mas essa tradição de diálogo com a Ásia também está muito viva na Ásia hoje. E Singapura certamente também é um ponto focal de diferentes culturas asiáticas. Isso pode ser visto nos espaços públicos, onde não se fala apenas inglês, mas também outros idiomas. E nesse “caldeirão” de Singapura, o diálogo de Ricci com a China certamente tomou forma muito bem, por assim dizer.

A importância da educação

Preckel: Como o senhor interpreta o fato de o Papa ter ido para lá? Que mensagem vê associada a isso?

Rothlin: Na minha opinião, essa viagem é claramente parte de seus esforços para iniciar um diálogo com a China. E na situação atual, Singapura é certamente uma boa escolha. No entanto, em última análise, o objetivo é renovar o acordo entre o Vaticano e a China e garantir que o diálogo ocorra em um contexto muito favorável.

Um ponto muito forte a favor de Singapura é a importância da educação. Isso é particularmente apreciado na China por causa de Ricci e da tradição católica que atribui grande importância à educação. Singapura representa uma das melhores organizações educacionais. Eu mesmo lecionei lá por 7 anos. Eles foram os melhores alunos que já tive, vindos de todas as partes do mundo. E acho que é muito importante não esquecer o quanto todas as denominações cristãs contribuíram significativamente para a educação, em todos os níveis, seja no primário, secundário ou universitário.

Inspiração para pessoas de diferentes origens

Preckel: Que reações o senhor notou na Ásia em relação a essa viagem?

Rothlin: As reações que ouvi foram muito positivas. Pessoas de origens muito diferentes ficaram realmente comovidas com o fato de o Papa estar fazendo essa árdua viagem para ele. E, é claro, ficaram muito felizes por ele ter demonstrado seu grande amor pelas pessoas, pelos diferentes povos da Ásia e também pela Igreja na Ásia de uma maneira tão impressionante. Portanto, o feedback que recebi dessa viagem papal foi muito positivo. Estou viajando e já viajei para vários países e lugares da Ásia. Várias etapas na Ásia, onde também há pontos focais de fé, Macau como porta de entrada para a China e também Hong Kong, onde a resposta foi muito positiva. Foi realmente muito impressionante e positiva. Até mesmo os chineses do continente que conheci me disseram que a resposta foi muito positiva.

A ética econômica, uma oportunidade

Preckel: Singapura é um importante centro econômico da Ásia e um mosaico de culturas e religiões. O senhor mesmo ensina ética nos negócios na Ásia. Como o diálogo e o encontro podem enriquecer o mundo dos negócios do ponto de vista ético?

Rothlin: Acho que a ética econômica representa uma oportunidade especial. Que os valores também resumidos na doutrina social católica, como solidariedade e subsidiariedade, sejam implementados de forma muito concreta. O que isso significa, por exemplo, em termos de condições de trabalho? Essa é uma preocupação geral. Mas vejo uma grande oportunidade, especialmente por meio da discussão de estudos de caso, também no diálogo com o confucionismo e as outras religiões sapienciais da Ásia, de tentar abordar como esses valores são implementados em um ambiente muito competitivo e, às vezes, corrupto.

Preckel: O senhor vê desenvolvimentos na Ásia nesse sentido, com um foco maior na ética?

Rothlin: Com certeza! Estou na China há 26 anos e também em Singapura e Hong Kong, onde leciono principalmente em escolas de negócios. Há 20 anos, essas questões tendiam a ser deixadas de lado porque havia um grande impulso para o crescimento econômico, em que as pessoas diziam que o crescimento econômico era a coisa mais importante. E então, uma vez alcançado esse objetivo, era possível pensar também em questões éticas... Mas então a catástrofe ambiental, a poluição do solo, do ar e da água, simplesmente levou as coisas a tal ponto que todos os principais participantes perceberam a importância de levar a ética econômica a sério.

Na minha opinião, é surpreendente que esse assunto seja levado mais a sério nas escolas de administração do que nas escolas de administração europeias! Porque, na prática, na Ásia, somos imediatamente confrontados com questões éticas, tanto em termos de destruição ambiental quanto de corrupção. Será que todo esse confucionismo é apenas uma ruína vazia, como disse Eric Zürcher (sinologista holandês, 1928-2008)? Ou como esses valores de integridade e veracidade, baseados no confucionismo, também podem ser concretizados no mercado de trabalho?

Portas abertas

Preckel: O senhor mencionou o meio ambiente e a ética nos negócios - então as portas estão abertas para a mensagem do Papa Francisco nessas áreas na Ásia?

Rothlin: Com certeza, especialmente com relação ao diálogo. Você sabe melhor do que eu que uma imagem negativa e unilateral da China prevalece na mídia ocidental. E fazer um progresso real, especialmente em ecologia, em proteção ambiental, é de fato um nível em que os vários atores concordam. O progresso nessa área é realmente urgente. E é por isso que, em minhas relações com vários grupos, a mensagem da encíclica Laudato si', por exemplo, é extremamente importante, mas também muito significativa no contexto da Ásia. É uma abordagem concreta, em que não nos limitamos a falar da boca para fora. Pelo contrário, podemos ver um compromisso de melhorar essa catástrofe ambiental trabalhando juntos.

Preckel: Com relação à ética nas culturas asiáticas: que vínculos vê com o cristianismo, quais pontes?

Rothlin: Essa é precisamente a motivação do Instituto Macao Ricci: demonstrar as várias pontes que existem entre o confucionismo e o cristianismo. Por exemplo, o respeito pelos pais: esse é um elemento que está fortemente ancorado no confucionismo, mas também está em crise. Mais uma vez, na China há um regulamento que obriga as pessoas a visitarem seus pais todos os meses, porque a realização dos valores do confucionismo também sofreu. E talvez o cristianismo seja uma oportunidade, um enriquecimento mútuo. Assim como o diálogo entre o budismo e o cristianismo é um grande enriquecimento. Por exemplo, há trabalhos filantrópicos que surgiram do diálogo entre budistas e cristãos. E é claro que é muito estimulante intelectualmente aprender mais sobre essas religiões, o budismo e o taoismo, e ver como esses valores podem ser realizados em uma época de grande agitação.

Encontros genuínos

Preckel: O que o senhor diria que o Papa está trazendo de volta para a Europa? O que essa viagem à Ásia nos mostrou?

Rothlin: É sempre surpreendente ver como o Papa Francisco tem uma memória sensível. Especialmente quando se trata de reuniões e de sua extraordinária capacidade de realmente ouvir. Portanto, esses não são apenas eventos de massa, mas encontros muito genuínos. Acho que ele levará isso com ele: muitas pessoas da região talvez mais dinâmica do mundo, o que lhe dará a oportunidade de entender melhor essa cultura tão complexa e, certamente, de despertar as pessoas. Certamente há muitas pessoas em seu círculo que ainda não perceberam a importância da Ásia, que talvez ainda estejam adormecidas em um eurocentrismo. Acho que isso definitivamente o ajudará a despertar um pouco as pessoas. Em minha opinião, como essa viagem demonstra de forma impressionante, a estratégia do Papa de realmente ouvir a Ásia e ser transformado por ela, é muito importante. Especialmente na Europa e nos Estados Unidos, onde as pessoas caem em preconceitos precipitados ou em imagens simplistas e negativas da Ásia. Acredito que levará consigo muitas percepções e incentivos para sua estratégia na Ásia.

Preckel: Muito obrigado pela entrevista.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Fazer os sinos repicarem

Foto/Crédito: Opus Dei

Fazer os sinos repicarem

A Obra nasce repetidas vezes, com cada homem e cada mulher chamados a torná-la vida: habita no “perene hoje do Ressuscitado”.

07/03/2020

Jesus tinha muita familiaridade com o campo. É dali que surgem muitos dos seus exemplos e parábolas. Ele sabia como se cultivava a vide e o trigo, conhecia a semente e a planta da mostarda, falava do cuidado das figueiras... Um dos maiores elogios que saiu de sua boca foi justamente sobre a beleza dos lírios, pois “nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles” (Lc 12, 27). Referiu-se várias vezes ao modo como as plantas se enraízam na terra (cfr. Lc 8, 13). A imagem da raiz é de grande importância, pois se trata daquela parte da planta, oculta, com a qual ela se fixa na terra boa e se nutre. É invisível, e, no entanto, condição de vida e de fecundidade.

Raiz de todo bem

São Josemaria também gostava de utilizar a imagem da raiz, e o fazia em particular para falar do valor da Santa Missa na vida cristã. É lógico pensar assim, se considerarmos que em cada celebração se torna presente o único sacrifício de Jesus na cruz, o momento no qual o mal foi vencido e as portas do céu nos foram definitivamente abertas. Desse ato de amor por nós brotam os sacramentos, a Igreja, a vida cristã de todas as pessoas de todos os tempos. Por sua íntima união com o mistério da cruz poderíamos dizer que, de um modo misterioso, a santa Missa alimenta todas as coisas boas que acontecem no mundo[1]. Por isso São Josemaria procurava celebrá-la com toda a fé, com toda a piedade, com todo o amor de que era capaz.

Na sexta feira 14 de fevereiro de 1930, em um dos novos bairros que haviam surgido ao redor de Madri, no início da manhã, o jovem padre Josemaria ia precisamente celebrar a Missa num pequeno oratório, em uma casa na rua Alcalá Galiano, a cerca de duzentos metros da praça de Colón. Morava lá a mãe já idosa de Luz Casanova, fundadora das Damas apostólicas, que o jovem sacerdote atendia espiritualmente. Pouco depois de ter recebido o Senhor, algo novo surgiu em seu interior. Acontece às vezes que durante a Missa brotam em nós desejos de identificar-nos mais com Jesus, de santidade, luzes sobre o mistério de Deus... Desta vez, porém, era algo muito maior do que o habitual: compreendeu que, dali em diante, muitas mulheres receberiam a chamada de Deus para unir-se à missão do Opus Dei, recebida pouco mais de um ano antes, tornando presente no meio do mundo a santidade que vem do Senhor[2].

Quando se celebrou o quinquagésimo aniversário daquele dia, o primeiro sucessor de São Josemaria à frente da Obra dizia precisamente que “da santa Missa, presença sempre atual do sacrifício de Jesus Cristo, salta ao mundo esta chispa de amor divino que provocará incêndios de Amor em tantos corações”[3].

Um presente sempre novo

Para São Josemaria, as duas datas – 14 de fevereiro de 1930 e 2 de outubro de 1928 – formavam parte da mesma luz da fundação, eram duas notas de um mesmo acorde. Bem cedo deixaria inclusive testemunho escrito disso em seus Apontamentos íntimos: “Recebi a iluminação sobre toda a Obra”[4]. Pouco depois, em pleno conflito da guerra civil espanhola, escreve uma carta às pessoas da Obra que se encontravam dispersas em diferentes lugares, na qual pede-lhes que elevem diariamente uma oração a Deus pelo Padre, como chamariam, com o passar do tempo a quem viesse a ser o líder dessa família. Depois aconselha-os a começarem a rezar a oração pelo Padre “a partir do dia 14 de fevereiro próximo – dia de Ação de Graças, como o dia 2 de outubro”[5].

As características concretas da missão que São Josemaria recebeu de Deus foram-se perfilando com o passar do tempo, como quando se vai descobrindo as direções pelas quais discorre uma melodia. Mas poder-se-ia dizer que o ponto central dessa missão é “propagar entre os homens a chamada divina à santificação, promovendo uma obra – que mais adiante ele designará com o nome de Opus Dei – cujo fim seja precisamente difundir a busca da santidade e o exercício do apostolado no meio do mundo”[6]. Constitui igualmente um traço medular o fato de que esta missão se realizaria a partir das entranhas da própria sociedade, na vida de cristãos e cristãs normais, que moram, de modo autêntico, na sua própria pátria. E tudo isso, fundamentados na convicção sólida de que são filhos de Deus, que vivem em um mundo e um tempo herdados para nossa felicidade. Foi essa a luz que São Josemaria recebeu. E no dia 14 de fevereiro de 1930 ficou claro que Deus queria que muitas mulheres iluminassem a sua vida e o seu ambiente com esta mesma luz.

O espírito do Opus Dei é, antes de tudo, um presente sempre novo que Deus dá continuamente ao mundo; não se trata de um projeto elaborado por mentes humanas para solucionar problemas do passado ou de alguma região concreta[7]. A Obra nasce, repetidas vezes, com cada pessoa chamada a torná-la vida: habita no “perene hoje do Ressuscitado”[8]. Por isso, para caminhar rumo ao futuro com a mesma audácia de Deus, faremos ressoar continuamente em nossos ouvidos a melodia do dia 2 de outubro de 1928 e do dia 14 de fevereiro de 1930. Poderemos assim redescobrir, em qualquer idade, essa “avalanche irresistível”[9] que o Espírito Santo preparou para nós e para as pessoas que nos rodeiam.

A união mais forte

Parte essencial do que Deus pediu a São Josemaria – e que depois pediu a tantas pessoas através dele – consiste em um modo particular de nos relacionarmos com as pessoas que procuram viver este espírito. E esse modo particular é concretamente o da vida de uma família. Dentro deste desígnio de Deus, a presença da mulher na Obra ganha uma especial relevância. Como escrevia Mons. Fernando Ocáriz, esta presença é “um pressuposto necessário para que no Opus Dei exista de fato um espírito de família”[10]. Efetivamente a Obra é, sobretudo, uma grande família com homens e mulheres de todas as idades, à qual cada um e cada uma traz o seu modo de ser, os seus próprios talentos e interesses. Esta característica faz que cada pessoa seja, individualmente, o centro da atenção e das orações de todos, principalmente quando, por alguma razão, necessita disso de modo especial. Diz o livro dos Salmos: “Como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos”. (...) pois ali derrama o Senhor a vida e uma benção eterna” (Sl 133,1-3). Próprio de uma família é gerar o espaço idôneo, fértil, no qual cada membro possa encontrar o lugar onde deitar raízes sendo plenamente acolhido e feliz.

Ao mesmo tempo, São Josemaria decidiu que as atividades apostólicas do Opus dei – isto é, os contextos de formação e de governo, e os lugares onde estes se desenvolveriam – seriam realizadas separadamente para homens e mulheres. Isso, naturalmente, não impede a profunda unidade que move os corações de todos. Em uma época na qual dispomos cada vez mais de novos modos de estar unidos aos outros através da tecnologia ou do transporte, podemos agradecer a união e a comunicação mais forte de todas: a espiritual, que se realiza pela comunhão dos santos. Nunca haverá um desenvolvimento científico capaz de igualá-la, porque é o próprio Deus que a realiza.

A bem-aventurada Guadalupe Ortiz de Landázuri, como todas as pessoas que viveram com Deus, experimentou de muitos modos este tipo de união. Na quarta feira, 4 de junho de 1958, Álvaro del Portillo havia reservado o Santíssimo Sacramento pela primeira vez no sacrário do centro da Obra em Madri onde ela morava. Relatando alguns detalhes deste acontecimento, Guadalupe escrevia a São Josemaria, que se encontrava na Itália, a mais de mil quilômetros de distância: “[O pe. Álvaro] Falou-nos de Roma e parecia que estávamos ali com o Padre, como na realidade estamos sempre e queremos estar cada vez mais, mesmo que, como agora, estejamos longe”[11]. Quem experimentou um amor autêntico, reflexo do amor divino, sabe que os limites do espaço físico são muito relativos.

Quando terminou o Concílio Vaticano II, na metade dos anos sessenta, a Igreja dirigia estas palavras a todas as mulheres: “a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude (...). É por isso que, neste momento em que a humanidade sofre uma tão profunda transformação, as mulheres impregnadas do espírito do Evangelho podem tanto para ajudar”[12]. Daqueles anos até os nossos dias, passou mais de meio século no qual, às vezes muito velozmente, foi mudando a percepção da mulher – e junto, também a do homem – na sociedade. Trata-se de um processo ainda em curso, no qual a mulheres do Opus Dei são chamadas a colocar “em diálogo toda a sua riqueza espiritual e humana com as pessoas de nosso tempo”[13]. Essa é precisamente a missão divina transmitida a São Josemaria em 1928: dar às mudanças na sociedade, a partir dela mesma, o rosto de Cristo, sendo protagonistas principais da história.

“Minhas filhas – dizia São Josemaria em um 14 de fevereiro – gostaria que vocês hoje se dessem conta de tantas coisas que o Senhor, a Igreja e toda a humanidade esperam da Seção feminina do Opus Dei. E que, conhecendo toda a grandeza da sua vocação, amem-na cada dia mais”[14]. A vocação das mulheres no Opus Dei é uma vocação apostólica, uma luz que o Senhor suscitou, não para “pô-la num lugar oculto”, mas para que, em meio e através de cansaços e incompreensões que não faltarão, se possa pô-la “sobre o candeeiro” (Lc 11,33) de modo que chegue a todos a sua claridade e o seu calor.

“Da santidade da mulher depende em grande parte a santidade das pessoas que a rodeiam”[15], disse recentemente o Prelado do Opus Dei. Por isso, cada 14 de fevereiro é um dia de oração agradecida a Deus e de festa: porque, em continuidade ao 2 de outubro, nesse dia abriu-se um caminho de verdadeira alegria cristã para muitas mulheres e, consequentemente, para todos. Assim deixa-o perceber o diário do centro em que moravam muitas mulheres do Opus Dei em Roma, perto de São Josemaria, num aniversário daquela data: “Hoje é um dia grande e feliz, cheio de alegria para nós. É um dia para repicar festivamente todos os sinos de Roma, um dia para passá-lo inteiro agradecendo a Deus. E também para comemorar, porque é como se fossem os aniversários de todas”[16].

Andrés Cárdenas


[1] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1324 e 1330.

[2] Ele escreve literalmente em 1948: “Não posso dizer que vi, mas sim que captei intelectualmente, com detalhe (depois acrescentei outras coisas, ao desenvolver a visão intelectual), o que havia de ser a Seção feminina do Opus Dei”, Citado em Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do, tomo I, Quadrante, São Paulo, 2004, p. 297.

[3] Bem-Aventurado Álvaro Del Portillo, Carta 9/01/1980. (Crónica 1980, p. 105).

[4] São Josemaria, Apontamentos íntimos, n. 306. Citado em Andréz Vazquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, tomo I, p. 270. A cursiva não é do original.

[5] São Josemaria, Carta circular aos seus filhos, 9/01/1938. Citado em Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, tomo II, p. 221.

[6] José Luis Illanes, “Dos de octubre de 1928: Alcance y significado de una fecha”, em Scripta Theologica, vol. 13/2-3 (1981) p. 86.

[7] Cfr. São Josemaria, Instrucción acerca del espíritu sobrenatural de la Obra de Dios, n. 15.

[8] Francisco, Ex. Ap. Gaudete et exsultate, 19/03/2018, n. 173.

[9] São Josemaria, Carta 9/01/1932, n. 9. Citado em Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, tomo I, p. 278.

[10] Mons. Fernando Ocáriz, “A vocação ao Opus Dei como vocação na Igreja”, emO Opus Dei na Igreja", Rei dos Livros (Lisboa).

[11] Carta a São Josemaria, 4-VI-1958, em Cartas a um santo, Escritório de Informação do Opus Dei, 2019.

[12] São Paulo VI, Mensagem às mulheres, na Conclusão do Concílio Vaticano II, 8/12/1965.

[13] Mons. Fernando Ocáriz, Carta do Prelado, 5/02/2020.

[14] São Josemaria, Homilia, 14/02/1956. Citada em Francisca R. Quirogq, “14 de fevereiro de 1930: a transmissão de um acontecimento e uma mensagem” emStudia et Documenta, vol. 1 (2007).

[15] Mons. Fernando Ocáriz, Carta do Prelado, 5/02/2020.

[16] Diario de Villa Sacchetti, 14/02/1950. Citado em Francisca R. Quirogq, “14 de fevereiro de 1930: a transmissão de um acontecimento e uma mensagem” emStudia et Documenta, vol. 1 (2007).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/fazer-os-sinos-repicarem/

Santos Cornélio e Cipriano

Santos Cornélio e Cipriano (SIGNIS)
16 de setembro
País: Itália - Cornélio
         Tunísia - Cipriano
Santos Cornélio e Cipriano

Cornélio, Papa, e Cipriano, bispo, foram contemporâneos no século III, martirizados no mesmo dia do mês (14 de setembro, atualmente festa da Exaltação da Santa Cruz; dia 15 é a festa de Nossa Senhora das Dores, então a festa destes santos passou para o dia 16), mas com diferença de cinco anos.

Cornélio, de origem romana, foi eleito Papa em 251, após 22 meses de vacância do cargo, por causa da violenta perseguição do imperador Décio aos cristãos (não havia possibilidade de reunião do clero para se fazer uma eleição). Seus dois anos de pontificado foram tumultuados também por problemas internos na Igreja. Realmente, Novato, um mau presbítero africano, fugiu de Cartago para Roma, onde fez amizade com outro sacerdote, e médico, Novaciano, igualmente orgulhoso e interesseiro; Novato enganou três bispos estrangeiros e os convenceu a eleger Novaciano “papa”, opondo-se a Cornélio e provocando um cisma. Este antipapa fomentou uma heresia segundo a qual só pertenciam à Igreja os “puros” (ói kátaroi), negando o perdão para os pecados graves e as segundas núpcias para as pessoas viúvas.

Em paralelo, Cipriano, nascido no ano de 210 em Cartago, norte da África, de família rica e nobre, hábil advogado e retórico, convertido ao Catolicismo em 246, foi logo ordenado sacerdote e consagrado bispo em 249, mesmo ano em que teve que fugir de Cartago por causa da perseguição de Décio. Apoiou a eleição e autoridade do Papa Cornélio, deixando escritos nos quais ressalta suas virtudes e o seu excelente governo na Cátedra de Pedro.

heresia do novacianismo condenava em especial os numerosos cristãos que, por fraqueza, haviam negado a Fé durante a crudelíssima perseguição de Décio, os chamados lapsi, “caídos”, muitos dos quais, porém, se arrependeram. Verdade é que alguns pretendiam voltar à Igreja sem as devidas penitências, apresentando apenas um certificado de reconciliação conseguido com algum suposto confessor.

Mas Cornélio e Cipriano defenderam o direito de plena reconciliação eclesiástica para aqueles que sinceramente se arrependessem e fizessem as penitências devidas, num sínodo convocado em 251, no qual foi reafirmada a eleição de Cornélio, excomungado Novaciano e anatemizada a sua heresia. Cipriano teve ainda que se opor, com o apoio do Papa Cornélio, a um diácono de Cartago chamado Felicíssimo, que havia conspirado para a eleição de um anti-bispo, Fortunato.

Assim Cornélio e Cipriano se apoiavam mutuamente contra o cisma e a heresia, que tanto em Cartago como em Roma os perseguiam, e à Igreja. Externamente, o novo imperador Galo iniciou a 8a perseguição aos cristãos em 252, durante a qual Cornélio foi exilado em Centumcellae (atual Civitavecchia), aonde foi decapitado em 253. Mais tarde, em 258, na perseguição promovida agora pelo imperador Valeriano, Cipriano foi preso e condenado quando retornou clandestinamente a Cartago; ao receber a sentença de morte por decapitação com espada, respondeu: Deo Gratias (“Graças a Deus”).

São Cipriano deixou numerosos escritos doutrinais, sobre dogma, moral, ascetismo e disciplina eclesiástica, além de 81 cartas, estas obras-primas da literatura latina e importante fonte de informações sobre a vida da Igreja na época.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

As vidas e missões de São Cornélio e São Cipriano foram próximas e unidas, nem belo testemunho de amor pela causa comum de Cristo e da Igreja, e por isso os seus nomes também estão unidos no Cânon das Missas solenes. O amor a Deus e ao próximo sempre nos unem, pois sua base é a nossa mesma filiação divina, a essência do que somos por origem e ao que somos chamados a ser em plenitude no Paraíso Celeste. Como Igreja, Corpo Místico de Cristo, somos membros de um organismo vivo no qual cada um precisa ajudar o outro a combater e superar os problemas internos e externos, para a saúde geral. Aos membros acaso doentes, é preciso o cuidado da cura, e assim jamais pode ser negado a ninguém sinceramente arrependido o perdão dos pecados. Este aspecto do novacianismo revela uma hipocrisia monstruosa, que nada mais é do que a manifestação da soberba dos que pretendem ser essencialmente superiores aos irmãos. Soberba esta ainda tão comum na realidade humana, incluindo tantos e tantos católicos… haja visto os incontáveis casos de vaidades medíocres entre os que, sem ao menos terem conhecimento suficiente, provocam divisões artificiais a respeito de espiritualidades diferentes, mas perfeitamente válidas (na medida em que não sofrem distorções), por exemplo a respeito da Liturgia. Enquanto isso, o diabo, cujo nome significa “divisão”, sorri e mais prontamente afasta os fiéis de Deus, pois o que está desunido é muito mais facilmente conquistado. E as perseguições externas recrudescem cada vez mais, na área cultural, social, política, etc., em pressões dia a dia maiores. A promessa de Cristo é de que “as portas do inferno não prevalecerão sobre ela [a Igreja]” (cf. Mt 16-18), mas nem por isso podem os católicos negligenciar o seu compromisso de comunhão, em Cristo, por Cristo e para Cristo; o combate ao cisma e às heresias são tão atuais hoje como no século III, e a vitória só virá na unidade da oração e da vivência da caridade.

Oração:

Senhor Deus, que de tal modo quereis que estejamos unidos a Vós, a ponto de enviar o Vosso Filho para pagar os nossos pecados, concedei-nos por intercessão de São Cornélio e São Cipriano a firmeza da unidade na Fé, Esperança e Caridade, para que, apoiando-nos mutuamente na Verdade, possamos dar graças a Vós ao decapitar o pecado das nossas vidas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF