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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O coração de Pastor e a fé do povo

Multidão de peregrinos em Medjugorje (Vatican News)

O nada obsta para Medjugorje foi possível graças ao reconhecimento dos frutos positivos da experiência espiritual vivida naquele lugar e à abordagem pastoral do Papa.

ANDREA TORNIELLI

A autorização oficial para a devoção e a experiência espiritual que começou em Medjugorje em junho de 1981, quando seis jovens contaram ter visto Nossa Senhora, foi possível graças aos abundantes frutos positivos constatados nesta paróquia visitada por mais de um milhão de pessoas a cada ano e no mundo inteiro: peregrinações, conversões, retorno aos sacramentos, casamentos em crise que são reconstruídos. São esses elementos que o Papa Francisco sempre observou, desde que era bispo na Argentina: a piedade popular que move tantas pessoas em direção aos santuários deve ser acompanhada, corrigida quando necessário, mas não sufocada. Ao julgar os presumidos fenômenos sobrenaturais, é preciso sempre prestar atenção precisamente aos frutos espirituais. Corresponde a essa visão do Sucessor de Pedro o fato de ter dissociado, graças às novas normas publicadas em maio passado, o juízo da Igreja da declaração mais exigente de sobrenaturalidade. Esta última ainda pode estar presente, mas não é mais necessário esperar por ela para autorizar culto, devoções e peregrinações, se não houver engano ou interesses ocultos, se as mensagens forem ortodoxas e, sobretudo, se houver muitas experiências positivas.

Graças ao coração de pastor de Francisco, dá-se, portanto, o pronunciamento sobre uma das aparições marianas mais conhecidas e mais contrastadas do último século. Uma decisão que não é uma surpresa. Já em maio passado, o cardeal Fernández, respondendo a uma pergunta sobre Medjugorje, havia dito: “Com essas normas, pensamos que será mais fácil ir em frente e chegar a uma conclusão”. E essa não é uma abordagem sem precedentes, como atestam as palavras usadas pelo então cardeal Ratzinger no livro entrevista “Relatório sobre a fé”: “Um dos nossos critérios é separar o aspecto da verdadeira ou presumida ‘sobrenaturalidade’ da aparição daquele dos seus frutos espirituais. As peregrinações do cristianismo antigo foram a lugares sobre os quais nosso espírito crítico como modernos às vezes ficaria perplexo quanto à ‘verdade científica’ da tradição ligada a eles. Isso não diminui o fato de que essas peregrinações foram frutíferas, benéficas e importantes para a vida do povo cristão. O problema não é tanto o do hipercriticismo moderno (que acaba, entre outras coisas, em uma forma de nova credulidade), mas o de avaliar a vitalidade e a ortodoxia da vida religiosa que se desenvolve em torno desses lugares”. O próprio Bento XVI, em 2010, havia confiado a uma comissão liderada pelo cardeal Ruini o estudo do fenômeno, e o resultado foi favorável.

A Nota intitulada “A Rainha da Paz”, portanto, reconhece a bondade dos frutos, apresenta um juízo geral positivo das muitas mensagens ligadas a Medjugorje que foram difundidas ao longo dos anos, corrigindo alguns textos problemáticos e algumas interpretações que podem ter sido afetadas pela influência subjetiva dos videntes. No que diz respeito aos ex-jovens protagonistas do fenômeno, que foram objeto de controvérsia e até mesmo de acusações ao longo dos anos, o documento esclarece desde as primeiras linhas que o nada obsta não implica um juízo sobre a vida moral deles e que, em todo caso, os dons espirituais “não exigem necessariamente a perfeição moral das pessoas envolvidas para poder agir”. Ao mesmo tempo, o próprio fato de o nada obsta ter sido concedido significa que não foram detectados aspectos particularmente críticos ou arriscados, nem mentiras, falsificações ou mitomanias.

A Nota do Dicastério valoriza os dois núcleos centrais da mensagem de Medjugorje: o da conversão e do retorno a Deus, e o da paz. Quando o fenômeno teve início e Maria se apresentou como a “Rainha da Paz”, ninguém poderia imaginar que aquelas terras seriam o cenário de confrontos sangrentos. Aquele que escreve ficou profundamente impressionado, participando de uma peregrinação, com os testemunhos de amigos e concidadãos dos videntes: pessoas que não estavam de forma alguma envolvidas nas aparições ou nas mensagens, que, diante da crueldade da guerra travada naquelas terras mesmo entre vizinhos de casa, souberam perdoar. E graças à sua experiência de fé ligada às aparições de Medjugorje, também se reconciliaram com aqueles que haviam sido culpados de violência grave contra seus parentes. Isso é muito mais “milagroso” do que muitos outros fenômenos mencionados nos locais das aparições.

No fundo, a mensagem autêntica de Medjugorje está naquelas mensagens em que Nossa Senhora se relativiza e nos convida a não ir atrás de falsos profetas, a não buscar com curiosidade notícias sobre “segredos” e previsões apocalípticas, como pode ser visto em uma mensagem de novembro de 1982: “Não busqueis coisas extraordinárias, mas antes tomai o Evangelho, lede-o e tudo vos será claro”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

“A linguagem é uma fonte de mal-entendidos”

A linguagem (Crédito: Aliança da Misericórdia)

“A linguagem é uma fonte de mal-entendidos”

Dom João Santos Cardoso 
Arcebispo de Natal (RN)

Essa frase de Antoine de Saint-Exupéry, dita pela raposa ao Pequeno Príncipe durante o diálogo sobre “cativar” e criar laços, revela a limitação da linguagem em transmitir plenamente as experiências humanas mais significativas, como sentimentos e vivências subjetivas. Nessa esfera, as palavras geralmente são insuficientes e podem gerar mal-entendidos. 

Ludwig Wittgenstein reforça essa ideia ao afirmar que “a linguagem corrente é parte do organismo humano, e não menos complicada que ele. É humanamente impossível, de imediato, extrair dela a lógica da linguagem. A linguagem é um traje que disfarça o pensamento. E, na verdade, de um modo tal que não se pode inferir, da forma exterior da veste, a forma do pensamento vestido por ela, porque a forma exterior do traje foi constituída segundo fins inteiramente diferentes de tornar reconhecível a forma do corpo. Os acordos tácitos que permitem o entendimento da linguagem corrente são enormemente complicados” (Tractatus Logico-Philosophicus, proposição 4002). 

Essa proposição do Tractatus reflete a complexidade da linguagem humana e as dificuldades que temos em compreender totalmente como ela funciona. Embora usemos a linguagem para nos comunicar, não temos plena consciência de como cada palavra se relaciona com o mundo ou de como os sons que emitimos ganham sentido. Segundo Wittgenstein, a linguagem é como um “traje” que encobre o pensamento, de modo que, ao observar apenas sua forma externa, não podemos inferir diretamente o conteúdo ou o sentido que ela carrega. A função do traje não é revelar o corpo, mas embelezá-lo e ocultá-lo. Assim também ocorre com as palavras: muitas vezes, elas mais escondem do que revelam, pois, a linguagem disfarça o pensamento ao invés de revelar diretamente o que está sendo pensado. 

Isso acontece porque a linguagem, enquanto ferramenta humana, envolve uma série de acordos implícitos e regras complexas que organizam como as palavras e os símbolos ganham significado dentro de um sistema linguístico compartilhado. Esses acordos, por serem tão intrincados, tornam impossível entender de imediato a lógica completa de como funciona a linguagem e como uma expressão linguística adquire significado. A linguagem corrente é uma construção humana, complexa e viva, que depende de uma lógica subjacente não evidente a todos os seus falantes, e essa característica limita a compreensão direta daquilo que queremos expressar.  

Outrossim, há sempre algo inefável que a linguagem não pode expressar diretamente, sendo necessário que certas coisas se mostrem em vez de serem ditas. Esse fato leva Wittgenstein a distinguir entre o dizível e o mostrável, sendo este último o âmbito do que não pode ser dito e apenas se revela. Tal distinção o conduz a traçar os limites entre o dizível, que abrange proposições verificáveis, e o indizível, que engloba experiências humanas profundas, como sentimentos, ética, estética e o místico. Essas experiências não podem ser plenamente expressas, mas se manifestam de forma indireta, através da metáfora e da poesia. Wittgenstein defende que devemos nos calar sobre o que não pode ser dito, pois aspectos significativos da vida transcendem a linguagem e escapam à descrição teórica ou científica. Tais vivências são inefáveis — podem ser experimentadas e mostradas, mas não explicadas. O silêncio, a contemplação, os gestos, os tempos e os intervalos são mais adequados para expressá-las, já que as palavras frequentemente geram mal-entendidos. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O que acontece no seu cérebro quando você navega no celular

Foto/Crédito: Getty Images

O que acontece no seu cérebro quando você navega no celular (e 3 dicas para evitar que isso se torne compulsivo)

  • Author: Santiago Vanegas
  • Role: BBC News Mundo
  • 14 maio 2024

Um vídeo de um cachorrinho, uma foto de uma amiga na praia, um meme, uma notícia do outro lado do mundo — os conteúdos vão se intercalando. Se você gosta, você vê; se você não gosta, você passa.

O hábito de deslizar o dedo pela tela do celular faz parte do dia a dia de muita gente — às vezes por alguns segundos enquanto estamos no elevador, às vezes por horas antes de dormir.

Mas o que acontece a nível neural quando rolamos a tela do celular? Por que é tão viciante? E como podemos evitar que isso se torne um problema?

Éilish Duke, professora de psicologia na Universidade Leeds Beckett, no Reino Unido, diz que a primeira coisa que precisamos entender é que o impulso de pegar o celular e acionar a tela, que desencadeia a rolagem, é automático.

Não temos consciência disso porque construímos esse hábito ao longo do tempo — como fechar a porta ao sair de casa, por exemplo.

"Em uma pesquisa que fizemos há alguns anos, descobrimos que os participantes achavam que verificavam seus telefones a cada 18 minutos, mas quando usamos gravadores de tela, percebemos que, na verdade, eles verificavam (o celular) com muito mais frequência."

A partir do momento que ativamos a tela, certas funções do nosso cérebro e o design sofisticado dos aplicativos do nosso celular entram em cena em perfeita harmonia.

Segundo a professora Ariane Ling, do departamento de psiquiatria do NYU Langone Health, nos EUA, o hábito da rolagem de tela pode ser explicado pelo comportamento natural dos seres humanos, mas é agravado por fatores ambientais.

Ling explica que o ser humano está programado para querer saber o que está acontecendo. É por isso que lemos as notícias ou, por exemplo, paramos para olhar quando há um acidente na estrada. É algo que faz parte do desenvolvimento evolutivo que nos permitiu sobreviver.

E nosso celular foi projetado para nos alimentar continuamente com informações que nos interessam.

É um casamento perfeito.

Rolar a tela do celular ativa o circuito de recompensa do cérebro (Crédito: Getty Images)

A busca constante pelo prazer

Nossos cérebros buscam naturalmente ser recompensados. Temos certos centros neurais que reagem ao prazer — ao sexo, às drogas, a ganhar dinheiro em um cassino —, e esperam que isso se repita várias vezes.

"Estão buscando aquela novidade, aquela próxima dose de prazer, seja lá o que for que possamos realmente desfrutar", explica Duke.

Isso é conhecido como sistema ou circuito de recompensa do cérebro, e é exatamente o mesmo mecanismo pelo qual uma pessoa se torna dependente de uma substância como o álcool.

"Para muitos de nós, essa novidade vem na forma do nosso telefone."

As redes sociais, em particular, sempre têm algo novo prazeroso a oferecer: uma foto, um vídeo, uma notícia, uma mensagem.

Mas há outra parte do cérebro que luta contra esses impulsos de busca por prazer e recompensa imediata: o córtex pré-frontal.

É a região do cérebro responsável por fazer você tomar decisões menos impulsivas e mais equilibradas — aquela que faz você, por exemplo, parar de rolar a tela, levantar do sofá e decidir arrumar a casa ou praticar exercício físico.

Mas estas duas funções cerebrais nem sempre estão perfeitamente equilibradas.

O que acontece com muita gente é que "a parte lógica do nosso cérebro que controla os nossos impulsos não está fazendo a sua parte, ou pelo menos não tão bem quanto poderia, está sobrecarregada pela busca por prazer", afirma Duke.

E, no caso dos jovens, mais ainda.

"O que vemos nos adolescentes é que o circuito de recompensa está em alerta máximo, pronto para funcionar o tempo todo. Mas o córtex pré-frontal só termina de se desenvolver aos 23 ou 24 anos, por isso não consegue realmente controlar certos impulsos, como usar o telefone", explica a professora de psicologia.

O 'fluxo' em que nossa mente entra quando rolamos a tela do celular explica por que perdemos a noção do tempo (Crédito: Getty Images)

Distorção do tempo

O que acontece quando rolamos a tela do celular, segundo Duke, é que entramos em um estado de fluxo.

O conceito de fluxo em psicologia se refere a um estado mental em que a dificuldade da tarefa que uma pessoa está realizando se ajusta muito bem ao nível de atenção e habilidade que ela tem para oferecer naquele determinado momento.

Aplicativos como o TikTok, em que o algoritmo muda constantemente e oferece coisas novas especialmente direcionadas a você, alimentam diretamente este estado de fluxo.

"Eles absorvem toda a sua atenção, e você entra em uma fase de distorção do tempo em que não percebe que duas horas se passaram, e você está sentado com a mão dormente, e perdeu todo esse tempo vendo vídeos de cachorrinhos", acrescenta Duke.

Ariane Ling explica, usando uma metáfora, como nosso cérebro começa a adquirir o hábito de rolar a tela do celular excessivamente.

"Se você pensar em um caminho que já foi percorrido muitas vezes, esse caminho se torna muito mais claro, e continuamos caminhando por ele. É mais fácil."

"Se você rolar a tela constantemente, esta se torna a experiência padrão. E, assim, fica muito difícil focar sua atenção e seu tempo em outra coisa", completa.

Se você sente que realmente tentou controlar este hábito e não conseguiu, pode ser uma boa ideia procurar ajuda (Crédito: Getty Images)

dependência do celular não consta no manual de diagnóstico psiquiátrico. Portanto, não existem critérios estabelecidos para diferenciar o uso saudável do uso problemático — e, consequentemente, da dependência.

"Nos baseamos nos critérios clássicos de diagnóstico de dependências, como de que existe um impulso incontrolável ou que o comportamento está tendo um impacto funcional negativo no resto da vida da pessoa; por exemplo, que ela está deixando de fazer as coisas que precisa fazer no dia a dia ou apresenta sintomas de abstinência", explica Duke.

É importante, portanto, prestar atenção e tentar rever nossos próprios hábitos.

"Se você mesmo tentou parar, e tentou de verdade, mas não conseguiu, eu recomendaria procurar ajuda ou uma intervenção mais significativa", sugere Ariane Ling.

Como evitar a rolagem de tela compulsiva

1. Passar um tempo longe da tela

"Ter certos rituais que afastem você do celular é sempre muito útil", diz Ling.

Segundo ela, muitas pesquisas mostram como um exercício tão simples quanto caminhar sem o celular pode ter um grande impacto.

"Sempre que você puder deixar o telefone (em casa) e dar um tempo, seja para uma dar uma caminhada ou para ir à academia, é excelente", concorda Duke.

E não é só porque impede você de usar o telefone nesse período, mas também porque ajuda você a prestar atenção ao que está ao seu redor, exercitar outras funções do cérebro e ter consciência de como você se sente ao deixar o telefone para trás.

Criar o hábito/regra de não usar o celular à mesa quando estiver com a família ou amigos também é o ideal — uma vez que assim não depende apenas de você, outra pessoa vai te lembrar que não é hora de usar o celular. E ter um reforço visual desta regra, como uma cesta em que todos possam colocar o celular antes da refeição, pode torná-la ainda mais eficaz.

Em geral, qualquer esforço consciente para diferenciar na sua rotina o tempo com celular do tempo sem celular, pode ajudar a evitar a rolagem de tela sem sentido, por mero hábito.

"Se você puder reservar períodos de tempo em que não vai usar o telefone — mas, sim, se concentrar em uma tarefa ou apenas estar presente com os amigos, é uma boa ideia", aconselha Duke.

"Outra coisa que, às vezes, eu faço é colocar meu telefone em preto e branco, o que torna menos atraente olhar para a tela", compartilha Ling.

Adotar a regra de não permitir o uso de telefone à mesa é uma boa medida para limitar o tempo no celular, segundo especialistas (Crédito: Getty Images)

2. Interagir com o mundo físico

Fazer pequenas mudanças na rotina para realizar as tarefas que você faz no celular sem usar o dispositivo também pode ajudar a ter uma relação mais saudável com a rolagem de tela.

"Em um dos estudos que fizemos há alguns anos, vimos uma grande diferença entre as pessoas que usavam relógios normais, e aquelas que usavam o celular para ver a hora", conta Duke.

Sem querer, as pessoas que usavam o celular para ver a hora, acabavam "presas" na rolagem de tela.

Além disso, por exemplo, "se você conseguir ler o que for que esteja lendo sem estar online, é maravilhoso", acrescenta a professora de psicologia.

"Encorajo as pessoas a serem curiosas e buscarem truques para reduzir o tempo de uso do celular, e passar mais tempo no mundo tridimensional", completa Ling.

"Somos táteis, queremos nos envolver com as coisas do mundo real."

3. Tentar controlar o impulso

Raramente, quando sentimos o impulso de entrar em um aplicativo para simplesmente ficar rolando a tela ou quando já estamos fazendo isso há horas, paramos para pensar por que estamos fazendo isso ou o quão satisfeitos estamos com essa decisão.

Tentar estar mais conscientes das nossas decisões, de como nos sentimos e de como nossa mente funciona nestes momentos é uma intervenção poderosa que podemos fazer.

"O impulso de pegar o telefone é como ter um desejo. Você percebe que seu corpo começa a desejar aquilo. Seu cérebro diz: 'Oi, faz um tempo que não consumimos dopamina, vamos consumir um pouco'. E esse desejo pode crescer, como uma onda", explica Ling.

"Mas você pode resistir a esse impulso, certo? Você pode dizer: OK, é isso que estou percebendo, quero muito olhar meu celular, abrir aquela notificação, mas posso não fazer isso."

"É necessário muita prática e responsabilidade, mas acho que quem realmente pratica algo do tipo com diligência nota benefícios a longo prazo, como ser capaz de manter a atenção, se sentir melhor, ter experiências fora da tela que tornam sua vida mais rica e significativa", conclui Ling.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c6pyyjydmgqo

Medjugorje, o "Nulla osta" do Papa

Imagem de Nossa Senhora sendo incensada em Missa celebrada em Medjugorje (Vatican Media)

O documento do Dicastério para a Doutrina da Fé aprovado por Francisco não se pronuncia sobre a sobrenaturalidade, mas reconhece os abundantes frutos espirituais ligados à paróquia-santuário da Rainha da Paz e formula um juízo geral positivo sobre as mensagens, embora com alguns esclarecimentos.

Vatican News

“É chegado o momento de concluir uma longa e complexa história em torno aos fenômenos espirituais de Medjugorje. Trata-se de uma história em que se sucederam opiniões divergentes de Bispos, teólogos, comissões e analistas”. Estas são as palavras iniciais de “A Rainha da Paz”, uma nota sobre a experiência espiritual ligada a Medjugorje, assinada pelo cardeal Víctor Manuel Fernández e por monsenhor Armando Matteo, respectivamente prefeito e secretário da seção doutrinal do Dicastério para a Doutrina da Fé. Um texto aprovado pelo Papa Francisco em 28 de agosto, que reconhece a bondade dos frutos espirituais ligados à experiência de Medjugorje, autorizando os fiéis a aderir a ela - de acordo com as novas Normas para o discernimento desses fenômenos - uma vez que “foram verificados muitos frutos positivos e não se difundiram no Povo de Deus efeitos negativos ou arriscados”. Em geral, o juízo das mensagens também é positivo, embora com alguns esclarecimentos sobre algumas expressões. Também é enfatizado que “as conclusões desta Nota não implicam um juízo acerca da vida moral dos presumidos videntes” e que, em todo caso, os dons espirituais “não exigem necessariamente a perfeição moral das pessoas envolvidas para poder agir”.

Frutos positivos

Os lugares ligados ao fenômeno de Medjugorje são visitados por peregrinos do mundo inteiro. “Os frutos positivos revelam-se sobretudo na promoção de uma sadia prática da vida de fé”, de acordo com a tradição da Igreja. Há “abundantes conversões” de pessoas que descobriram ou redescobriram a fé; o retorno à confissão e à comunhão sacramental, numerosas vocações, “muitas reconciliações entre cônjuges e a renovação da vida matrimonial e familiar”. “É preciso mencionar - afirma a Nota - que tais experiências acontecem sobretudo no contexto das peregrinações aos lugares dos eventos originários, mais do que durante os encontros com os ’videntes' para presenciar as presumidas aparições”. Relatam-se também “numerosíssimas curas”. A paróquia da pequena localidade da Herzegovina é um lugar de adoração, oração, seminários, retiros espirituais, encontros de jovens e “parece que as pessoas vão a Medjugorje sobretudo para renovar a própria fé e não por causa de pedidos específicos”. Surgiram também obras de caridade que se ocupam de órfãos, dependentes químicos, deficientes e também há grupos de cristãos ortodoxos e de muçulmanos.

A mensagem da paz

A Nota do Dicastério prossegue examinando os aspectos centrais das mensagens, começando pelo da paz entendida não só como ausência de guerra, mas também em um sentido espiritual, familiar e social: o título mais original que Nossa Senhora atribui a si mesma é de fato “Rainha da Paz”. “Eu me apresentei aqui como Rainha da Paz para dizer a todos que a paz é necessária para a salvação do mundo. Somente em Deus se encontra a verdadeira alegria da qual deriva a verdadeira paz. Por isso, peço a conversão” (16.06.1983). É uma paz que é fruto da caridade vivida, que “implica também o amor por aqueles que não são católicos”. Um aspecto que se entende melhor “no contexto ecumênico e inter-religioso da Bósnia-Herzegovina, marcado por uma terrível guerra com fortes componentes religiosos”.

Deus no centro

O convite ao abandono confiante em Deus, que é amor, surge com frequência: “Podemos reconhecer um núcleo de mensagens nas quais Nossa Senhora não se põe a si mesma no centro, mas se mostra plenamente orientada para a nossa união com Deus”. Além disso, “a intercessão e a obra de Maria aparecem claramente submissas a Jesus Cristo, como autor da graça e da salvação em cada pessoa”. Maria intercede, mas é Cristo quem “nos dá a força, portanto, toda a sua obra materna consiste em motivar-nos a ir para Cristo”: “Ele vos dará força e a alegria neste tempo. Eu estou próxima de vós com a minha intercessão” (25.11.1993). Mais ainda, muitas mensagens convidam a reconhecer a importância de pedir a ajuda do Espírito Santo: “As pessoas erram quando se dirigem unicamente aos santos para pedir alguma coisa. O importante é rezar ao Espírito Santo para que desça sobre vós. Tendo-o, tem-se tudo” (21.10.1983).

Chamado à conversão

Nas mensagens aparece “um constante convite a abandonar um estilo de vida mundano e um excessivo apego aos bens terrenos, com frequentes convites à conversão, que torna possível a verdadeira paz no mundo”. A conversão parece ser o centro da mensagem de Medjugorje. Há também uma “insistente exortação a não subestimar a gravidade do mal e do pecado e a tomar muito a sério o chamado de Deus para lutar contra o mal e contra a influência de Satanás”, indicado como origem do ódio, da violência e da divisão. Também são fundamentais o papel da oração e do jejum, bem como a centralidade da Missa, a importância da comunhão fraterna e a busca do significado último da existência na vida eterna.

Esclarecimentos necessários

A segunda parte do documento destaca como “algumas poucas” mensagens se afastam do conteúdo listado até agora. E, portanto, “para evitar que este tesouro de Medjugorje seja comprometido, é necessário esclarecer algumas possíveis confusões que podem conduzir grupos minoritários a distorcer a preciosa proposta desta experiência espiritual”. Se algumas mensagens forem lidas parcialmente, elas podem parecer “conexas a experiências humanas confusas, a expressões imprecisas do ponto de vista teológico ou a interesses não totalmente legítimos”, embora algum erro possa não ser “devido à má intenção, mas à percepção subjetiva do fenômeno”. Em alguns casos, “Nossa Senhora parece mostrar certa irritação porque não foram seguidas algumas de suas indicações; adverte assim sobre sinais ameaçadores e sobre a possibilidade de não aparecer mais”. Mas, na realidade, outras mensagens oferecem uma interpretação correta: “Aqueles que fazem predições catastróficas são falsos profetas. Eles dizem: 'Em tal ano, em tal dia, acontecerá uma catástrofe'. Eu sempre disse que o castigo virá se o mundo não se converter. Por isso, convido todos à conversão” (15.12.1983).

Insistência nas mensagens

Depois, há mensagens para a paróquia nas quais Nossa Senhora parece desejar ter um controle sobre detalhes do caminho espiritual e pastoral, “dando assim a impressão de querer substituir-se aos organismos ordinários de participação”. Em outros momentos, insiste sobre a escuta e aceitação das mensagens, uma insistência provavelmente provinda “do amor e do generoso fervor dos presumidos videntes, que com boa vontade temiam que os chamados da Mãe à conversão e à paz fossem ignorados”. Esta insistência se torna ainda mais problemática quando as mensagens “se referem a pedidos de improvável origem sobrenatural, como quando Nossa Senhora dá ordens sobre datas, lugares, aspectos práticos e toma decisões sobre questões ordinárias”. Na verdade, é a própria Nossa Senhora que convida a relativizar as próprias mensagens, submetendo-as ao valor inigualável da Palavra revelada nas Sagradas Escrituras: “Não busqueis coisas extraordinárias, mas antes tomai o Evangelho, lede-o e tudo vos será claro” (12.11.1982); “Por que fazeis tantas perguntas? Toda resposta está no Evangelho” (19.09.1981). “Não acrediteis nas vozes mentirosas que vos falam de coisas falsas, de uma falsa luz. Vós, filhos meus, tornai à Escritura!” (02.02.2018).

Resumo do Evangelho

A Nota indica como problemáticas aquelas mensagens que atribuem a Nossa Senhora as expressões “o meu plano”, “o meu projeto”, expressões que “poderiam confundir. Na verdade, tudo quanto Maria realiza é sempre a serviço do projeto do Senhor e do seu plano divino de salvação”. Assim como não se deve erroneamente “atribuir a Maria um lugar que é único e exclusivo do Filho de Deus feito homem”. Por sua vez, o Dicastério para a Doutrina da Fé sublinha uma mensagem que pode ser considerada como uma síntese da proposta do Evangelho através de Medjugorje: “Desejo aproximar-vos sempre mais a Jesus e ao seu Coração ferido” (25.11.1991).

Culto público autorizado

“Ainda que isto não implique uma declaração do caráter sobrenatural” e recordando que os fiéis não são obrigados a crer nele, o nihil obstat - emitido pelo bispo de Mostar-Duvno em acordo com a Santa Sé - indica que eles “podem receber um estímulo positivo para sua vida cristã através desta proposta espiritual e autoriza o culto público”. A Nota também especifica que “a avaliação positiva da maior parte das mensagens de Medjugorje como textos edificantes não implica declarar que tenham uma direta origem sobrenatural”. E mesmo se possam subsistir - como é sabido - pareceres diversos “sobre a autenticidade de alguns fatos ou sobre alguns aspectos desta experiência espiritual, as autoridades eclesiásticas dos lugares onde ela esteja presente são convidadas a apreciar o valor pastoral e a promover a difusão desta proposta espiritual”. Permanece inalterado o poder de cada Bispo diocesano de tomar decisões prudenciais no caso de haver pessoas ou grupos que “utilizando inadequadamente este fenômeno espiritual, atuem de modo errado”. Por fim, o Dicastério convida aqueles que vão a Medjugorje “a aceitar que as peregrinações não são feitas para encontrar-se com os presumidos videntes, mas para ter um encontro com Maria, Rainha da Paz”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Januário (São Gennaro)

São Junuário (A12)
19 de setembro
País: Itália
São Januário (São Gennaro)

Januário (Gennaro em italiano) nasceu em Nápoles, cidade italiana aos pés do vulcão Vesúvio, na segunda metade do século III. Uma fonte cita que seu nome seria Prócolo, da família romana dos Ianuarii. Foi eleito bispo de Benevento, cidade próxima de Nápoles, parece que ainda jovem, em reconhecimento pela sua bondade, caridade e zelo pela Fé. Na época, o cristianismo implicava em alto risco de vida, pelas perseguições pagãs dos imperadores romanos. Em 304, Dioclesiano, de fato, iniciou a última e talvez a mais violenta perseguição contra a Igreja, antes da paz de Constantino em 313. Todos os representantes do clero eram, potencialmente, as principais vítimas.

Há informações contraditórias a respeito do martírio de Januário, mas o que parece mais certo é que foi preso junto com outros cristãos, incluindo o diácono Sósio, ao ir à prisão confortar fiéis encarcerados. Conduzidos até Puzzuoli, pequena cidade próxima de Nápoles, foram julgados e condenados à morte. Algumas versões citam uma tentativa de queimá-los numa fogueira, da qual saíram ilesos; mais certo é que foram, depois disso ou diretamente, levados à arena da cidade, para serem mortos por leões famintos.

Os animais, contudo, apenas lamberam os pés dos condenados; foi então decretada a sua morte por decapitação. Era o dia 19 de setembro do ano 305. O sangue de Januário, como frequentemente acontecia com os mártires, foi recolhido como relíquia por fiéis.

Este sangue, coagulado, conservado sem qualquer produto químico ao longo dos séculos numa ampola de vidro na catedral de Nápoles, foi exibido ao público pela primeira vez em 1305, já sendo um milagre o fato de simplesmente se ter mantido inalterado, sem se decompor totalmente, como seria natural. Mas em 17 de agosto de 1389, com testemunhos verbais de cerca de 5.000 pessoas, ele se liquefez espontaneamente, e posteriormente tornou a ficar coagulado.

O fenômeno tornou a se repetir ao longo do tempo; em 1728 Montesquieu (crítico da Igreja) o observou duas vezes, certificando que não se tratava de artifício; em 1902 o sangue foi examinado espectroscopicamente diante de testemunhas pelo Dr. Sperindeo, que declarou não haver dúvida de que se trata de sangue humano. A igreja sempre permite que o fenômeno seja investigado pela Ciência, que até o presente não tem reposta para ele.

O milagre costuma acontecer três vezes por ano, observado diretamente por multidões: no primeiro sábado que precede o primeiro domingo de maio, em memória da primeira translação do recipiente de com o sangue; em 19 de setembro, memória litúrgica de São Januário e data do seu martírio; e em 16 de dezembro, quando a intercessão de São Januário impediu a destruição da cidade pela catastrófica erupção do Vesúvio em 1631. Além da passagem do estado sólido para o líquido, a cor do sangue muda de escuro para vermelho vivo, o peso duplica, e é alterado o volume – independentemente de condições de temperatura ou quaisquer outros parâmetros naturais.

Historicamente, a intercessão de São Januário, pedida pelos fiéis de Nápoles em diversas situações críticas, como a erupção vulcânica, a peste que dizimou toda a região menos a cidade em 1884, em situações de guerra, carestia, etc., naturalmente levou a que ele fosse proclamado patrono da cidade. Também as igrejas ortodoxas o veneram como santo e mártir.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Januário, e também seus companheiros de martírio, resistiram à fogueira das vaidades e soberba pagãs, tornando dóceis, pela Fé e amor a Cristo, as feras das tentações de apostasia. A espada decapitou a morte para longe das suas almas, em total independência dos parâmetros naturais, e evitou a catastrófica erupção de uma condenação infinita para eles. A evidência do milagre proporcionado pelo sangue de São Januário é tão contundente que é difícil entender a descrença de tantos homens quanto à Igreja. A argumentação de que a Ciência “algum dia” o poderá explicar é, diante das circunstâncias, uma pobre e feia desculpa, que se apoia não nos fatos observáveis e mensuráveis – científicos – mas numa má vontade evidente de quem se recusa a reconhecer uma verdade cabal e indiscutível. Só uma mentalidade tão absurdamente relativista, da qual não se pode duvidar que chegue em algum momento a questionar se 2+2=4, pode fornecer o tanto de estupidez necessária para recusar até mesmo uma mínima disposição sincera para ao menos ouvir a mensagem da Boa Nova de Jesus. Ao invés disso, de forma irracional, arbitrária e preconceituosa, decreta a vazia soberba humana, por meio do mundanismo atual, dogmaticamente, que só o engenho humano tem explicação para o que existe, ainda que o mesmo engenho humano comprove, na prática, a impossibilidade desta noção. Este contraste, que contraria a Razão e o bom senso, além das evidências diretas, é um alerta monumental para a crítica situação do Homem, presentemente tão preocupado e obstinado em rejeitar a realidade e a Verdade, situação esta mais grave ao longo da História na medida em que o entendimento e o conhecimento de Deus são potencialmente mais acessíveis, e a Sua negação cada vez menos desculpável. Assim é que o mistério da liberdade humana, que Deus nos concedeu, e portanto a responsabilidade em relação a ela, agravam as escolhas que fazemos, tanto pessoal quanto socialmente. Nem por isso devemos desesperar da Sua Misericórdia, até porque Ele mesmo a garantiu a todos que O procuram sinceramente, mas sem dúvida é tempo de conscientemente buscar com coragem a santidade, como fizeram São Januário e companheiros, pois ela é o único caminho que conduz à paz.

Oração:

Senhor Deus, que nos concedestes por amor gratuito e eterno a existência e a Salvação por meio do martírio de Cristo, concedei-nos por intercessão de São Januário a solidificação da nossa Fé, de modo a que possamos aumentar o peso e o volume dos atos de caridade em favor do próximo e para a Vossa glória, e ao mesmo tempo a diluição cada vez maior dos nossos pecados no Sangue de Cristo, a fim de obtermos o Vosso perdão e a vida celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Medjugorje e a atitude da Igreja

BOSNIA-ITALY-VATICAN-RELIGION-CHRISTIANITY  (AFP or licensors)

Comissões de Estudo e pronunciamentos dos bispos: publicamos um amplo trecho da apresentação de monsenhor Armando Matteo, secretário do Dicastério para a Doutrina da Fé, que reconstrói a cronologia dos eventos.

Armando Matteo*

O fenômeno das presumidas aparições de Nossa Senhora em Medjugorje diz respeito aos eventos que começaram em 24 de junho de 1981 na paróquia de São Tiago em Medjugorje, administrada pelos Padres Franciscanos O.F.M., da Província da Herzegovina, na Diocese de Mostar-Duvno, na antiga Iugoslávia (hoje Bósnia-Herzegovina).

No final da tarde daquele dia, duas meninas, Ivanka Ivanković e Mirjana Dragičević, foram a Podbrdo, no sopé da colina Crnica. De repente, Ivanka vê Nossa Senhora (que não apareceu para Mirjana). As duas meninas continuam seu caminho para a aldeia. No mesmo dia, por volta das 18 horas, seis jovens veem no mesmo lugar a figura de Maria com uma criança em seus braços: além de Ivanka e Mirjana, estão presentes Vicka Ivanković, Ivan Dragičević, Ivan Ivanković e Milka Pavlović. Marija Pavlović e Jakov Čolo, que ainda estão entre os seis videntes, juntaram-se aos outros no dia seguinte, 25 de junho.

Em 21 de julho do mesmo ano, Sua Excelência dom Pavao Zanić, Bispo de Mostar-Duvno, reuniu-se com os seis “videntes”, que lhe contaram sua experiência recente. O Ordinário continua convencido de que “os jovens não mentem”. Ele também manifestará essa convicção alguns dias depois, por ocasião da administração da Crisma na paróquia de Medjugorje. Posteriormente, em 19 de novembro de 1983, Sua Excelência dom Pavao Zanić enviou à então Congregação para a Doutrina da Fé um relatório confidencial sobre a presumida aparição de Maria, expressando suas “dúvidas muito fortes” a respeito.

Em 12 de outubro do ano seguinte, a Conferência Episcopal Iugoslava emitiu uma declaração sobre os presumidos eventos em Medjugorje, lembrando a competência da autoridade eclesiástica para avaliar as aparições e proibindo peregrinações oficiais a Medjugorje.

Em 19 de maio de 1986, a Comissão diocesana encarregada de avaliar as presumidas aparições em Medjugorje emitiu seu juízo: para 11 membros contra 4 Non constat de supernaturalitate.

No mesmo ano, o Pró-Núncio em Belgrado expressou uma opinião negativa sobre o trabalho da Comissão diocesana. A então Congregação para a Doutrina da Fé decidiu confiar à Conferência Episcopal Iugoslava um novo exame do caso.

No ano seguinte, em 9 de abril, a Comissão da Conferência Episcopal Iugoslava iniciou seu trabalho, que durou até abril de 1991. No dia 10 daquele mês, foi publicado o relatório final da Comissão da Conferência Episcopal Iugoslava sobre o fenômeno de Medjugorje, conhecido como a Declaração de Zadar (Zara). A qual cito:

“Os bispos têm acompanhado as aparições em Medjugorje desde o início através do bispo da diocese, da comissão episcopal e da comissão da Conferência Episcopal Iugoslava para Medjugorje. Com base na investigação realizada até agora, não é possível afirmar que se trata de aparições e fenômenos sobrenaturais. No entanto, os numerosos fiéis que vêm a Medjugorje de vários lugares e que são movidos por motivos religiosos e de outra natureza precisam da atenção e do cuidado pastoral, em primeiro lugar, do bispo da diocese e, em seguida, também de outros bispos, de modo que uma devoção saudável à Santíssima Virgem Maria possa ser promovida em Medjugorje e com Medjugorje em harmonia com o ensinamento da Igreja. Para esse fim, os bispos fornecerão indicações litúrgico-pastorais adequadas e, por meio da comissão, continuarão a acompanhar e a lançar luz sobre os acontecimentos de Medjugorje”.

Passemos para 1994. É em 28 de outubro daquele ano que dom Ratko Perić, o novo Ordinário de Medjugorje, pede a João Paulo II que constitua uma Comissão para um veredicto definitivo sobre as “aparições”. Em julho de 1995, é preanunciada uma visita de João Paulo II a Medjugorje durante a viagem apostólica a Sarajevo. O Papa, em algumas cartas privadas, havia de fato se expressado positivamente sobre Medjugorje e sobre seu desejo de visitar o local. Informado sobre isso, dom Perić pediu à então Congregação para a Doutrina da Fé que evitasse tal visita, que de fato não ocorreu.

Em 2 de março de 1998, solicitada pelo Bispo de Saint-Denis-de-La Reunion, a então Congregação para a Doutrina da Fé respondeu que as peregrinações privadas a Medjugorje eram permitidas, desde que Medjugorje não fosse declarado um local de aparições autênticas. Também foi declarado que a posição de dom Perić sobre o juízo constat de non supernaturalitate não é a da Congregação para a Doutrina da Fé.

Nos anos que se seguiram, houve várias consultas entre a então Congregação para a Doutrina da Fé e a nova Conferência Episcopal da Bósnia-Herzegovina com relação a um novo exame de toda a documentação. A Conferência Episcopal da Bósnia-Herzegovina, no entanto, afirma que não está em condições de realizar um novo exame, nem o considera oportuno.

O ponto de virada foi em 14 de janeiro de 2008, quando Bento XVI decidiu instituir uma Comissão internacional para avaliar os presumidos fenômenos sobrenaturais de Medjugorje. O Presidente dessa Comissão é o Cardeal Camillo Ruini. Em janeiro de 2014, após cerca de seis anos de trabalho, a Comissão internacional emitiu seu juízo. As conclusões da Comissão Ruini não foram tornadas públicas, e isso ocorreu a pedido explícito da então Congregação para a Doutrina da Fé.

Esta última, nos anos seguintes, preparou uma série de aprofundamentos de todo o caso relacionado a Medjugorje. Foi solicitado o parecer de dois especialistas, que chegaram a resultados muito diferentes daqueles da Comissão Ruini.

Em dezembro de 2015, tendo recebido toda a documentação, o Papa Francisco tomou em suas mãos toda decisão sobre Medjugorje.

Posteriormente, em 11 de fevereiro de 2017, o Papa Francisco nomeou dom Henryk Hoser como Enviado Especial da Santa Sé para examinar a situação pastoral em Medjugorje, enquanto em 14 de janeiro de 2019, uma provisão do Pontífice foi tornada pública, segundo a qual “é possível organizar peregrinações a Medjugorje, desde que se tome cuidado para evitar que sejam interpretadas como uma autentificação dos eventos”.

Por fim, em 27 de dezembro de 2021, o Papa Francisco nomeou Sua Excelência dom Aldo Cavalli como novo Visitador apostólico em caráter especial para a Paróquia de Medjugorje, por tempo indeterminado e ad nutum Sanctae Sedis. Dom Cavalli sucedeu o Arcebispo polonês Henryk Hoser, que faleceu em 13 de agosto do mesmo ano.

*(secretário do Dicastério para a Doutrina da Fé)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Programas dos primeiros 26 grandes eventos jubilares disponíveis on-line

Abertura da Porta Santa no Jubileu da Misericórdia, em 8 de dezembro de 2015 (Vatican News)

Disponíveis no site - em breve em todas as línguas - os programas serão constantemente atualizados com informação de apoio aos peregrinos, dando-lhes também a oportunidade de se inscreverem para participar nos diversos eventos.

Edoardo Giribaldi - Cidade do Vaticano

Os programas dos primeiros 26 grandes eventos jubilares foram publicados no site do Jubileu 2025, na seção “Calendário Jubileu”, e em breve estarão disponíveis em todas as línguas.

Consultando os vários programas é possível conhecer os momentos e principais atividades relativas a cada evento. Eles serão ainda mais enriquecidos com detalhes nos próximos meses. Além disso, na página web de cada evento será também disponibilizado para download um manual com as principais indicações de apoio aos peregrinos, e o cartaz que poderá ser divulgado. No site também é possível inscrever-se para participar nos diversos eventos jubilares.

Eventos de jubileu

Os 26 grandes eventos jubilares são o Jubileu do Mundo das Comunicações (24-26 de janeiro de 2025), dirigido a todas as figuras profissionais do mundo da comunicação. Segue-se o Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança (8 a 9 de fevereiro de 2025), dirigido a todos os membros das forças militares e policiais, polícias de trânsito, operadores de segurança, veteranos, associações militares diversas, academias militares, capelanias e ordinariatos militares.

Jubileu dos Diáconos (21-23 de fevereiro de 2025) para todos os diáconos permanentes, e o Jubileu do Mundo do Voluntariado (8-9 de março de 2025) para os voluntários de cada associação, membros de organizações sem fins lucrativos, operadores de ONGs e assistentes sociais.

Além disso, o Jubileu dos Missionários da Misericórdia (28-30 de março de 2025), os sacerdotes selecionados de todo o mundo que receberam do Papa as suas próprias faculdades de absolver os pecados, que são da estrita competência da Sé Apostólica e de um mandato especial como pregadores durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia de 2016.

No programa, também o Jubileu dos Enfermos e o Mundo da Saúde (5-6 de abril de 2025) dirigido a todos os doentes e profissionais ligados ao mundo da saúde; o Jubileu das Pessoas com Deficiência (28-29 de abril de 2025) dirigido a todas as pessoas com deficiência, juntamente com os seus acompanhantes; o Jubileu dos Trabalhadores (1 a 4 de maio de 2025) dirigido a todos os trabalhadores de todas as categorias; o Jubileu dos Empresários (4 a 5 de maio de 2025) e o Jubileu das Bandas Musicais (10 a 11 de maio de 2025) para todos os membros de bandas militares, institucionais, amadoras, folclóricas, de cidades, desportivas, escolares e universitárias.

Realizar-se-á então o Jubileu das Irmandades (16-18 de maio de 2025) com os membros pertencentes às irmandades religiosas; o Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos (30 de maio de 2025 - 1 de junho de 2025), o Jubileu dos Movimentos, Associações e novas Comunidades (7 a 8 de junho de 2025) que envolverá todos os membros dos movimentos eclesiais, associações, novas comunidades e grupos de oração.

Entre os eventos, por fim, o Jubileu Santa Sé (9 de junho de 2025); o Jubileu do Desporto (14-15 de junho de 2025); o Jubileu dos Seminaristas (23-24 de junho de 2025); o Jubileu dos Bispos (25 de junho de 2025); o Jubileu dos Sacerdotes (25-27 de junho de 2025); o Jubileu da Consolação (15 de setembro de 2025), dirigido a todos aqueles que vivem um momento de dor e aflição, devido a doenças, lutos, violências e abusos sofridos.

Serão realizados ainda o Jubileu dos Operadores de Justiça (20 de setembro de 2025), destinado às pessoas envolvidas no mundo da justiça secular, canônica e eclesiástica; o Jubileu dos Catequistas (26-28 de setembro de 2025); o Jubileu dos Migrantes (4-5 de outubro de 2025); o Jubileu da Vida Consagrada (8-9 de outubro de 2025) que terá como protagonistas todos os religiosos e religiosas, monges e monjas, noviços e noviças. Além disso, o Jubileu da Espiritualidade Mariana (11-12 de outubro de 2025) para todos os membros dos movimentos marianos, irmandades e diversos grupos de oração. Finalmente, o Jubileu dos Coros (21-23 de novembro de 2025) e o Jubileu dos Reclusos (14 de dezembro de 2025).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Escutando o grito silencioso das árvores

Estas árvores estão a salvo, a menos que você apareça GETTY IMAGES)

Escutando o grito silencioso das árvores

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

Vivenciando e celebrando o Tempo da Criação não poderíamos deixar de meditar e ouvir no Dia Nacional das Árvores que se comemora desde o ano de 1965 no 21 de setembro, o seu grito sereno e silencioso; porém dramático diante do biocídio das queimadas.  

Tem se dito que as árvores são as naves mães da biodiversidade, informação plenamente correta pois o Dr. Martin Gossner observando no Parque Nacional da Floresta da Baviera, uma árvore de 600 anos, 52 metros de altura e 02 metros de diâmetro, analisando os nichos ecológicos que ela acolhia contou 2041 animais de 257 espécies, que recebiam proteção e moradia.  

Também estão entre os melhores aspiradores de CO 2, ajudando de forma vital em manter o ar saudável. Embelezam e dão harmonia aos biomas, climatizando o lar natural para todas as criaturas. Mas além destas “virtudes” ambientais afirma o engenheiro florestal Peter Wohlleben assim como nós, elas se comunicam, mantêm relacionamentos, formam famílias, cuidam das doentes e da sua geração, têm memória e lutam pela sua existência.  

Se pensamos bem, elas nos ensinam e inspiram no cuidado e relacionamento com a criação, despertam a nossa resistência diante da degradação e destruição da natureza, educam nossa capacidade de conexão e compaixão para com todas as criaturas, e a valorizar como um todo a vida planetária. Elas são muito mais que uma commodity, uma tora, ou energia para queimar e consumir, são as guardiãs e testemunhas da vida.  

Preservá-las e defendê-las é missão sagrada, significa proteger nossa vida e futuro na Terra. Esquecer das árvores ou desconsiderá-las na miopia do lucro fácil ou da ilusão de novas Babéis artificiais sem vida e sem Deus é caminhar inevitavelmente para a destruição da humanidade. Ao lembrarmos o doce lenho da Cruz que acolheu Jesus morto, abraçamos e abençoamos todas as árvores nossas amigas e irmãs aliadas no cuidado e preservação da nossa Casa Comum. Deus seja louvado! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Encontro do Cardeal Dom Paulo Cezar com os crismandos de Brasília

Dom Paulo Cezar e os crismandos de Brasília (arqbrasilia)

Encontro do Cardeal Arcebispo de Brasília com os crismandos reúne mais de sete mil pessoas

Na manhã de domingo (15/09), a Arquidiocese de Brasília vivenciou um momento muito bonito de comunhão e unidade, durante o Encontro do Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, com os crismandos da Arquidiocese, no Centro de Evangelização Renascidos em Pentecostes, localizado no Núcleo Rural Alexandre Gusmão, modelo 369, chácara 379.

16 de setembro de 2024

Com o tema central “Caminhem com os pés na terra, vivendo com o coração no céu” (São João Bosco) e o lema: “Buscai as coisas do alto” (Cl 3,1), o evento contou com a participação de mais de sete mil pessoas, que vivenciaram momentos de muita espiritualidade e formação.

“A Crisma é o Sacramento da maturidade, é o Sacramento onde o adolescente, o jovem e o adulto diz para si mesmo, para sua família, mas diz também para toda a comunidade: eu quero ser católico, eu quero seguir Jesus Cristo com beleza. Neste caminho de maturidade está também a inserção na vida da comunidade, a inserção através de diversas iniciativas da vida da paróquia, onde cada crismando é chamado a ir percebendo qual é o seu dom, o que deve fazer na vida da comunidade, como a sua vida deve se tornar riqueza na comunidade. A Crisma é esse momento bonito, de compromisso com Cristo e de viver esse compromisso na comunidade, se doando e participando, sendo um dom na vida da comunidade”, frisa o Cardeal Dom Paulo Cezar Costa.

Durante o evento, os crismandos participaram de uma feira vocacional, especialmente organizada para apresentar a variedade de carismas e vocações que a Santa Igreja oferece aos fiéis, para que sigam nas vocações que Deus sonhou para cada um e, assim, possam encontrar o seu caminho de maior proximidade com Deus, em busca da santidade.

“A Feira Vocacional no Encontro dos Crismando é um momento muito importante para auxiliar os jovens a discernir a vocação, ao chamado de Deus, aquilo que Deus quer para cada um de nós. Então, a Feira Vocacional é justamente esse auxílio que a Arquidiocese de Brasília, por meio da Pastoral Vocacional, oferece aos jovens para que possam fazer a vontade de Deus. É um momento muito frutuoso, com várias congregações e muitos religiosos participando desse momento, justamente para mostrar a beleza da Igreja nos seus carismas e, sobretudo, na vida feliz em servir a Deus. Peço que rezem pelas vocações, porque ‘A messe é grande, mas os operários são poucos’ (Mt 9,37)”, destaca padre Osmar Júnior, Coordenador da Pastoral Vocacional da Arquidiocese de Brasília.

Um dos momentos mais esperados pelo crismandos no encontro é o quadro “Diz aí, Dom Paulo”, no qual os jovens têm a oportunidade de fazer diversas perguntas ao Cardeal. “Para mim, esse momento de poder conversar com Dom Paulo foi muito especial, porque sempre foi meu sonho falar com alguém que tem tanto entendimento dentro da Igreja Católica. Então, como o encontro foi tão bom e tive essa oportunidade, significou muito para mim. Me surpreendeu a resposta do Cardeal, mas na verdade já esperava que seria uma boa resposta. Dom Paulo realmente é uma pessoa muito abençoada e eu gostei muito de ter feito a pergunta. Ele também interagiu com as pessoas e isso significa muito. Então, eu gostei muito da resposta dele e isso esclareceu todas as minhas dúvidas. Eu pretendo ser catequista. Acredito que essa será minha maior realização, pois quero sempre trabalhar dentro e fora da minha paróquia, e nunca abandonar minha fé”, declara Beatriz Aloque, Crismanda de 15 anos da Paróquia São José Operário (Vicente Pires).  

O trabalho dos Catequistas na formação dos crismandos é fundamental, pois garante que os ensinamentos de Cristo cheguem até eles de forma clara e efetiva, para que tenham uma real mudança de mentalidade.

“Ser catequista, no primeiro momento, é transmitir a Doutrina da nossa Igreja Católica Apostólica Romana, além de orientar o jovem que busca o Sacramento a encontrar sua identidade, viver sua vocação e se encontrar nessa Igreja que é única, Católica e Apostólica, para que ele possa viver sua verdadeira identidade com base na Doutrina, estabelecendo uma vivência firme e própria na fé”, salienta Antonio Alberto Sá Farias, Catequista há 14 anos.

Para a organização do evento, a cada Encontro de Dom Paulo com os Crismandos, a Catequese se fortalece ainda mais na Arquidiocese de Brasília. “Esse encontro tem sido uma graça de Deus e está tomando proporções que nós não estamos conseguindo espaço suficiente para acolher tantos jovens que querem estar com Dom Paulo. São verdadeiramente apaixonados pela homilia dele, pelo jeito com que ele se aproxima, pelo carisma que ele tem com os jovens. Essa integração entre e a Igreja e o jovem, intermediada por Dom Paulo, tem sido um diferencial na nossa Catequese de crismandos. Então, eu entendo que isso é uma mudança de vida na nossa Catequese, uma mudança de hábitos dos nossos catequizandos e de nós mesmos, catequistas. É um novo pensar para a nossa Igreja aqui de Brasília. Inclusive, quero dar até um testemunho, pois muitos Bispos têm comentado sobre esse encontro e estão querendo adotar essa ideia, pois acharam maravilhosa”, destaca Brasiliana de Castro Pereira, Coordenadora Arquidiocesana da Catequese.

O sentimento de real pertencimento à Santa Igreja reinou no coração dos crismandos. “Hoje é um dia em que a gente pode aprender muito sobre a Crisma e sobre a nossa Igreja. A Crisma é a nossa chance de viver a fé Católica. Então, está sendo uma experiência incrível. A gente pode cada vez mais aprender sobre a nossa fé e sobre Jesus. Agora, temos a oportunidade de estudar e por decisão própria confirmar o nosso Batismo”, finaliza Ester Alcântara, crismanda de 14 anos do Colégio Everest.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Na caminhada do ano litúrgico

Santa Missa na Esplanada de Taci Tolu, Timor Leste  (Vatican Media)

"O ano litúrgico se apresenta como um verdadeiro “sacramento”, como um instrumento no qual e pelo qual Deus se faz presente, como na humanidade de Cristo, a sua vida divina mediante o Espírito Santo. O ano litúrgico não celebra o mistério de Cristo de forma genérica, mas celebra-o nos seus diversos momentos e episódios a que chamamos “mistérios”; por meio deles Cristo realizou nossa salvação, em sua morte e Ressurreição".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão. (Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, de Bento XVI)”

O Ano Litúrgico é a articulação do calendário anual da liturgia da Igreja Católica. No Rito Romano inicia no primeiro domingo do Advento, no final de novembro/início de dezembro e termina na última semana do Tempo Comum. Consiste em um calendário de celebrações estruturado em torno do mistério pascal de Cristo, com o ciclo maior da Páscoa e o ciclo menor do Natal; um ciclo de leituras bíblicas para a celebração da Eucaristia todos os dias do ano e um ciclo de leituras bíblicas e patrísticas, bem como de outros textos, para a Liturgia das Horas.

No programa passado, Pe. Gerson Schmidt* nos trouxe a reflexão "Deus se manifesta no tempo da história do homem". No programa de hoje, o tema é "Na caminhada do ano litúrgico":

"Diz assim o subsídio para o Ano Jubilar: “O Tempo litúrgico da Páscoa, impregnado da presença do Ressuscitado, envolve o tempo do homem, o nosso tempo, com impulso protetor, a fim de que a confiança não esmoreça, a esperança não se abale e a caridade não se renda. “Homo viator spe erectus”, diz um provérbio antigo medieval: o homem pode caminhar pelas estradas da vida graças a esperança que lhe permite manter uma postura ereta, de ressuscitado, e olhar para o futuro com confiança. Para caminhar como viajantes rumo a um destino, é importante sentir-se amparado pela esperança. E a esperança para nós, cristãos, tem um nome: chama-se Jesus. O tempo Pascal é o tempo que a Igreja nos leva a confiar no Ressuscitado e nos entregar a Ele, para experimentar como indivíduos e como comunidade cristã a sua presença viva e ativa que sussurra no coração de cada um a sua saudação pascal: “A Paz esteja convosco!”[1].

É precisamente no espaço de um ano, isto é, no espaço de uma volta completa da terra em torno do sol, que hoje a liturgia, enquanto o lugar privilegiado do encontro com Deus, nos torna participantes de todo o mistério de Cristo, fazendo-nos percorrer sacramentalmente, e não apenas como simples lembrança, as etapas de sua existência terrena, tornando-nos assim já hoje, de algum modo, partícipes de sua vida divina. O ano litúrgico se apresenta como um verdadeiro “sacramento”, como um instrumento no qual e pelo qual Deus se faz presente, como na humanidade de Cristo, a sua vida divina mediante o Espírito Santo. O ano litúrgico não celebra o mistério de Cristo de forma genérica, mas celebra-o nos seus diversos momentos e episódios a que chamamos “mistérios”; por meio deles Cristo realizou nossa salvação, em sua morte e Ressurreição[2].

E o Catecismo da Igreja Católica, no número 1168, sobre o compasso do ano litúrgico na Igreja, aponta assim: “Partindo do Tríduo Pascal, como da sua fonte de luz, o tempo novo da ressurreição enche todo o ano litúrgico da sua claridade. Progressivamente, dum lado e doutro desta fonte, o ano é transfigurado pela liturgia. Ele é realmente “o ano da graça do Senhor” (Lc 4,19). A economia da salvação realiza-se no quadro do tempo, mas a partir do seu cumprimento na Páscoa de Jesus e da efusão do Espírito Santo, o fim da história é antecipado, pregustado, e o Reino de Deus entra no nosso tempo”. Entenda-se a palavra “economia de salvação” não no sentido usual de ajuste financeiro, mas como o modo de proceder pedagógico de Deus, que se manifesta gradativamente ao ser humano, culminando com a revelação em Cristo Jesus.

E no número 1171 do Catecismo descreve assim: “O ano litúrgico é o desenrolar dos diferentes aspectos do único mistério pascal. Isto vale particularmente para o ciclo das festas em torno do mistério da Encarnação (Anunciação, Natal, Epifania), que comemoram o princípio da nossa salvação e nos comunicam as primícias do mistério da Páscoa”. A Páscoa, portanto, sempre estará por detrás de qualquer celebração, qualquer ato litúrgico, qualquer ação da Igreja, mesmo no Tempo Comum das ações cotidianas vivenciadas por Cristo, que sempre estarão em vista de sua entrega total.

A homilia Pascal do bispo São Basílio de Selêucia recupera a tônica pascal que perpassa todo o ano litúrgico: “Realmente na cruz obteve o triunfo sobre os nossos pecados, mergulhou na mística água do Batismo as vestes de nossa injustiça, e atirou para o fundo do mar todas as nossas faltas. Pensa na fonte do santo Batismo e apregoa a graça. Pois o Batismo é a síntese de todos os bens, a purificação do mundo, a restauração da natureza, o perdão total, o remédio que nada custa, a esponja que limpa a consciência, a veste que não envelhece com o tempo, o útero que concebe virginalmente, o sepulcro que dá vida aos que foram enterrados, o abismo em que somem os pecados, o túmulo de Satanás, o sinete e baluarte dos que foram assinalados, a fonte que extingue a geena, o anfitrião da ceia do Senhor, a graça dos antigos e novos mistérios, já prenunciada em Moisés, e a glória pelos séculos dos séculos. Amém”[3].

Tal importância do sacramento primordial, que nos faz pertencer à comunidade de fé e à filiação divina. O ciclo litúrgico não se repete em nós e na comunidade, mas se atualiza com um vigor ainda maior e mais intenso, a cada etapa do ano que celebramos. O nosso batismo se renova pela caminhada de fé celebrada em cada mistério, inseridos na Igreja particular e universal."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] BARBA, Maurizio. Cadernos do Concilio de número 13 – Os tempos Fortes do Ano litúrgico, Edições CNBB, p.33.
[2] Idem, p. 52.
[3] São Basílio de Selêucia. Hom. in Sanctum Pascha: SCh 187,275-277, Vincentium Riccardo interprete.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF