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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Cardeal Tempesta publica nova Carta Pastoral por ocasião do Jubileu de 2025 (2)

2021.06.09 DOM ORANI TEMPESTA (VATICAN MEDIA)

Cardeal Tempesta publica nova Carta Pastoral por ocasião do Jubileu de 2025

Com a Carta Pastoral: "Missão, Esperança e Paz", por ocasião do Ano Santo de 2025 - “Peregrinos da Esperança”, cardeal Tempesta institui também na Arquidiocese do Rio de Janeiro o Ministério de Catequistas.

Carlos Moioli – Arquidiocese do Rio de Janeiro

MISSÃO, ESPERANÇA E PAZ

Carta Pastoral do Cardeal

Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

por ocasião do Ano Santo de 2025

Peregrinos da Esperança

20 de outubro de 2024

Dia Mundial das Missões.

Os Jubileus na história da Igreja

26.             À medida que se aproxima o Jubileu do Ano Santo 2025, e com ele toda a exultação da Igreja pelo tempo de graça que será celebrado, é natural que se intensifique o interesse pela história das celebrações jubilares que tem suas raízes na Escritura Sagrada e na vida e missão da Igreja.                                                                                                       

27.              Fundamentada na tradição bíblica, a Igreja desenvolveu a tradição das celebrações jubilares, proclamando-as com o objetivo de serem efetivamente “tempos de graça”, experiências de perdão geral, e, portanto, de encontro com a misericórdia divina. O primeiro jubileu, de que se tem notícia, foi celebrado na história da Igreja foi o do Ano Santo de 1300, convocado pelo Papa Bonifácio VIII por meio da bula Antiquorum habet, de 22 de fevereiro de 1300, na qual proclamava aos romanos a concessão de uma “Indulgência Plenária” se visitassem por 30 vezes dentro do ano santo as Basílicas de São Pedro e de São Paulo, enquanto aos romeiros ou peregrinos que viessem de fora de Roma proclamava a mesma concessão de indulgência mediante 15 visitas às citadas basílicas.

28.             De acordo com a proclamação jubilar de Bonifácio VIII, os jubileus seriam celebrados a cada 100 anos. Contudo, o Papa Clemente VI reduziu para 50 anos o intervalo entre os jubileus por meio da bula Unigenitus Dei Filius, em 1343. O Papa Urbano VI, por sua vez, determinou pela bula Salvator noster Unigenitus, de 8 de abril de 1389, que a celebração do Jubileu deveria ocorrer a cada 33 anos, fazendo com que o ano santo ocorresse em 1390 quando, em vez disso, deveria ter caído em 1400.

29.             Pela bula Immensa et innumerabilia, de 19 de janeiro de 1449, o Papa Nicolau V restaurou o intervalo de 50 anos para as celebrações jubilares. No entanto, pela bula Ineffabilis Providentia, de 19 de abril de 1470, o Papa Paulo II proclamou o ano de 1475 como o próximo ano santo, determinando que a partir de então as celebrações jubilares deveriam ocorrer com intervalos regulares de 25 anos, mencionando expressamente a visita às Basílicas de São Pedro, São Paulo, São João de Latrão e Santa Maria Maior para se poder lucrar a indulgência jubilar, o que foi confirmado por Sisto IV através da bula Quemadmodum operosi, de 29 de agosto de 1473, tendo em vista a morte de Paulo II antes das celebrações jubilares por ele convocadas.

30.             Já o Papa Alexandre VI tornou as celebrações jubilares fortemente incrementadas quando da celebração do Jubileu do Ano Santo de 1500, fixando definitivamente o cerimonial de abertura e de encerramento dos anos santos, uma vez que até então esses ritos não tinham seguido uma liturgia específica. Sua intenção era que o início de cada jubileu fosse marcado por uma simbologia de forte impacto cerimonial, o que promoveu por meio da abertura da “Porta Santa” em alusão às palavras de Jesus no Evangelho: “Eu sou a porta. Quem passar por mim será salvo” (Jo 10,9). Alexandre VI estabeleceu ainda que nas outras três Basílicas papais se reservasse uma porta santa para os peregrinos dos anos santos, a qual se manteria emparedada em todos os intervalos jubilares. Deste modo, a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro seria desde então reservada ao próprio Pontífice, e a das outras três basílicas patriarcais aos legados papais. De acordo com a vontade do Papa, as portas santas deveriam permanecer abertas noite e dia.

31.               Sobretudo a partir do Concílio de Trento, as celebrações jubilares, já enriquecidas pelo incremento ritual dado por Alexandre VI, foram marcadas por aspectos penitenciais pessoalmente manifestados por alguns pontífices. Assim, por exemplo, quando o Papa Gregório XIII convocou o Jubileu do Ano Santo de 1575 por meio da bula Dominus ac Redemptor, procurou manifestar a Reforma Católica fortemente alavancada pelo Concílio de Trento através de um testemunho eclesial de vida devota consonante com o serviço de Deus no cumprimento dos deveres do estado de vida e no serviço ao próximo. Desta maneira, aboliu naquele ano os gastos para as comemorações do carnaval em Roma, destinando todo o recurso ao Hospital dos Peregrinos, sob a tutela de Filipe Neri. Nessa linha, Clemente VIII conferiu semelhante bom exemplo público quando, ao proclamar o Ano Santo de 1600 por meio da bula Annus Domini Placabilis, de 19 de maio de 1599, buscou ouvir confissões durante a Semana Santa, fazendo inclusive o exercício penitencial de subir a Escada Santa de joelhos, enquanto os cardeais renunciaram a vestir-se de vermelho no período, como sinal de penitência.

32.              Por ocasião do Jubileu do Ano Santo de 1625, proclamado pela bula Omnes Gentes, o Papa Urbano VIII concedeu a indulgência jubilar mesmo àqueles que não tinham oportunidade de ir a Roma, concedendo-a também aos prisioneiros e aos doentes. Sobre esse aspecto, convém destacar que no Arquivo da nossa Cúria Metropolitana se encontram transcritas desde o século XVIII várias diplomações pontifícias de proclamação de jubileus juntamente com editais dos nossos bispos antecessores no governo diocesano do Rio de Janeiro, regulando a forma de celebrar os jubileus, bem como de lucrar a Indulgência Plenária jubilar. 

33.              Desde o Ano Santo de 1500, os Jubileus mantiveram uma periodicidade relativamente constante. Contudo, alguns contextos históricos influenciaram o intervalo de suas celebrações, como no caso das guerras napoleônicas, que impediram a celebração do Jubileu do Ano Santo de 1800, e outros fatores que impossibilitaram o Jubileu de 1850. A regularidade dos intervalos de 25 anos foi restabelecida somente com o Jubileu do Ano Santo de 1875, convocado pelo Papa Pio IX pela bula Gravibus Ecclesiae, de 24 de dezembro de 1874. Desde então, celebraram-se regularmente os anos santos jubilares de 1900, 1925, 1950, 1975 e 2000.

34.             Houve, entretanto, os jubileus dos anos santos extraordinários, como o de 1933, proclamado pelo Papa Pio XI pela bula Quod Nuper, de 6 de janeiro de 1933, em celebração do 1900º aniversário da Redenção; o de 1983, proclamado pelo Papa São João Paulo II pela bula Aperite Portas Redemptori, de 6 de janeiro de 1983, em celebração do 1950º aniversário da Redenção; e o chamado “Jubileu da Misericórdia” de 2016, proclamado pelo Papa Francisco pela bula Misericordiae Vultus, de 11 de abril de 2015.

35.              Não obstante as variações rituais, as expressões simbólicas e os condicionantes históricos, as celebrações jubilares foram estabelecidas e vividas ao longo dos séculos pela Igreja como verdadeiros “anos da graça”, ocasiões solenes de experiência da misericórdia divina e momentos extraordinários de avivamento do povo cristão. Por isso, permanecem sempre atuais, convidando o povo cristão a vivenciá-las fervorosamente em todas as épocas em que são celebradas.

As peregrinações e indulgências jubilares

36.             Na bula de proclamação do Jubileu Ordinário de 2025, o Papa Francisco indica que a vida cristã é um caminho de esperança, cuja meta é o encontro com o Senhor Jesus.[2] Desde os primeiros séculos, a peregrinação é um elemento constitutivo da espiritualidade e da piedade cristã. Na verdade, a tradição judaica já enxergava a subida a Jerusalém para as festas celebradas no templo como uma peregrinação ao encontro do Senhor. São testemunhas desse aspecto da religiosidade judaica os chamados salmos graduais, como o salmo 121 (122): “Que alegria, quando ouvi que me disseram: ‘vamos à casa do Senhor!’ E agora nossos pés já se detêm, Jerusalém, em tuas portas.”[3]

37.              Ao longo da história da Igreja, muitas tradições surgiram da piedade do povo cristão acerca das peregrinações a santuários e locais considerados pelos fiéis como de especial encontro com Deus, seja pela presença de relíquias, seja pelos relatos de aparições ou graças alcançadas. Santuários como o de Compostela, na Espanha, onde repousam as relíquias do apóstolo São Tiago Maior, a Santa Casa de Loreto, na Itália, e mesmo o nosso Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida são belos sinais de como os fiéis reconhecem a presença de Deus e suas maravilhas, invocando a intercessão de sua Santa Mãe e de seus santos.

38.             Além desses santuários e locais de particular devoção, dois lugares receberam ao longo dos séculos especial atenção dos que partiam em peregrinação: a Terra Santa e Roma. Nos locais sagrados onde viveu Nosso Senhor e onde o cristianismo teve a sua origem, os fiéis encontram verdadeira fonte de piedade e de contato com o elemento histórico da fé cristã. Seja visitando a Basílica da Natividade, em Belém, ou o Santo Sepulcro, em Jerusalém, ou os demais locais santos, os peregrinos recordam cada passo do Salvador enquanto caminhou em meio aos homens. Muitos foram os cristãos que, ao longo de séculos de história, peregrinaram até a Palestina com espírito de fervor e piedade, vivendo a proximidade com Cristo através dos locais em que Ele viveu. Essa realidade não passou despercebida a São Paulo VI, que, em visita à Terra Santa em 1964, chamou-a de o “quinto evangelho”.

39.             Também a cidade de Roma se tornou um dos destinos preferidos daqueles que viam na peregrinação uma forma de santificação e testemunho da fé. Suas basílicas, santuários e igrejas, onde se encontram não poucas relíquias de inestimável valor espiritual e histórico, são como casas que acolhem aqueles que se achegam ad limina apostolorum (aos túmulos dos apóstolos), para ali, junto de onde estão sepultadas essas colunas de nossa fé que são os apóstolos Pedro e Paulo, renovar aquela fé recebida de Cristo e conservada pelo Sucessor de Pedro e pelo Colégio Universal dos Bispos.

40.            O Papa Francisco recorda que “a peregrinação representa um elemento fundamental de todo o evento jubilar.”[4] E apresenta uma justificativa que deve suscitar nossa meditação: “Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida.”[5] Compreendendo o alto valor simbólico da peregrinação para o cristão que está em constante jornada, rumo à morada eterna com o Senhor, a Igreja sempre enriqueceu os passos daqueles que se colocavam a caminho dos santuários e outros lugares santos com o tesouro espiritual das indulgências, sobretudo nos jubileus.

41.       Aqui vale citar algumas palavras que recordam o valor das indulgências na espiritualidade cristã. Como nos ensina a Igreja, a indulgência é “a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos.”[6] Sinais do amor misericordioso de Deus que tudo faz para nos alcançar, as indulgências educam os cristãos na prática da oração, da caridade e da comunhão.  Afirmou o Papa Francisco: “Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos pecados. No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado”[7].

42.             Recordamos que as indulgências devem ser buscadas sempre com espírito de contrição e plena adesão a Cristo. Para isso, os fiéis devem estar atentos ao cumprimento das condições ordinárias, a saber: ter repulsa a todo afeto por qualquer pecado, até mesmo venial; fazer a confissão sacramental; receber a comunhão eucarística; e oferecer uma oração pelas intenções do Sumo Pontífice, que pode ser o Credo, um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.[8]

43.             Ao longo do Jubileu, os fiéis poderão lucrar a indulgência plenária ao seguirem em piedosa peregrinação para os lugares que o bispo diocesano indicar em cada diocese. Nesses locais sagrados, deverão participar da Santa Missa ou de outros atos litúrgicos e de piedade que aí se promoverem, tais como a oração da Liturgia das Horas, a oração do Rosário, a celebração penitencial seguida de confissões individuais e outras celebrações.

44.             Além da peregrinação, feita muitas vezes em grupos, a Igreja também concederá a indulgência plenária jubilar aos fiéis que fizerem uma piedosa visita a esses mesmos lugares indicados pelo bispo. Aí devem se dedicar a um período considerável de adoração ao Santíssimo Sacramento, concluindo com a Profissão de Fé (o Credo), o Pai-Nosso e a Ave-Maria.

45.             Dentre os lugares que o bispo pode indicar como local de peregrinação jubilar numa Diocese, em primeiro lugar está a Igreja Catedral, ponto de unidade de toda a vida diocesana. Dessa forma, a nossa a Catedral Metropolitana de São Sebastião será um lugar especial de peregrinação, proporcionando aos fiéis um ambiente de reconciliação, oração e vivência da caminhada de cada cristão como peregrino da esperança.

46.            Além de lucrar as indulgências na ocasião das visitas a essas igrejas e santuários, também será possível lucrar indulgência pela participação em missões populares, em retiros, e em encontros formativos sobre textos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica. Também as obras de misericórdia, que se concretizarão principalmente nas visitas aos doentes, aos presos e aos necessitados, serão uma oportunidade para um autêntico encontro com o Coração misericordioso de Cristo.

47.             A Igreja, que tem uma opção preferencial pelos mais pobres e sofredores, se unirá ainda mais intensamente, no período jubilar, àqueles que não terão a possibilidade de se deslocar aos locais de celebração e peregrinação, como os idosos, enfermos e reclusos. Incluem-se também aqueles que, nos hospitais ou em outras instituições, dedicam-se ao serviço contínuo de assistência a estes irmãos e irmãs impossibilitados. A todos esses a Igreja oferecerá a oportunidade de lucrar a indulgência jubilar se, unidos em espírito aos fiéis presentes nesses locais, sobretudo acompanhando pelos meios de comunicação a transmissão das palavras do Sumo Pontífice ou do bispo diocesano, recitarem o Pai-Nosso, a Profissão de Fé e outras orações em conformidade com as finalidades do Ano Santo, oferecendo os seus sofrimentos ou as dificuldades da sua vida.

48.            Todas essas oportunidades indulgenciadas – às quais se acrescenta ainda a faculdade dada aos bispos diocesanos de conceder a Bênção Papal com indulgência plenária no dia mais oportuno do tempo jubilar[9] – são sinais da missão entregue por Cristo à Igreja de ser casa de misericórdia para todos aqueles que se aproximam com o coração sincero e desejoso de conversão. Cristo, nos recorda São Paulo VI, é a “nossa indulgência”[10], o Primogênito do Pai que por nós se entregou em sacrifício no altar da cruz. De sua entrega brotam os tesouros de salvação que a Igreja aplica aos fiéis, primeiramente nos Sacramentos, que causam em nós a graça. Mas também nas oportunidades sacramentais, como o Jubileu, a Igreja abre esse tesouro que brota da Cruz, e como despenseira da graça de que Cristo a fez depositária, enriquece cada fiel que se aproxima para experimentar “a plenitude do perdão de Deus que não conhece limites.”[11]

____________

2.     Deus nos olha, terno e paciente: nasce a aurora de um futuro novo. / Novos Céus, Terra feita nova: passa os muros, ‘Spirito’ de vida.

3.    Ergue os olhos, move-te com o vento, não te atrases: chega Deus, no tempo. / Jesus Cristo por ti se fez Homem: aos milhares seguem o Caminho.

[1] FRANCISCO, Carta ao Arcebispo Rino Fisichella pelo Jubileu 2025, 11 de fevereiro de 2022.

[2] FRANCISCO, Spes non Confundat, n. 5.

[3] Salmo 121 (122), 1.

[4] FRANCISCO, Spes non Confundat, n. 5.

[5] Ibidem.

[6] MANUAL de indulgências: normas e concessões, p. 8.

[7] FRANCISCO, Misericordiae Vultus, 22.

[8] As indulgências e concessões listadas a partir daqui são retiradas das Normas para a concessão de indulgências durante o Jubileu Ordinário do ano 2025, publicadas pela Penitenciaria Apostólica em 13 de maio de 2024.

[9] PENITENCIARIA APOSTÓLICA. Sobre a concessão da indulgência do Jubileu Ordinário do ano de 2025 proclamado por sua Santidade o Papa Francisco.2024.

[10] Apostolorum limina, II.

[11] FRANCISCO, Spes non Confundat, n. 23.

Com afetuosa bênção,

São Sebastião do Rio de Janeiro,
20 de outubro de 2024.

Orani João Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

1º Seminário de Inteligência Artificial no Ensino

Foto: Tung Nguyen/ Pixabay

1º Seminário de Inteligência Artificial no Ensino, Pesquisa e Extensão reúne especialistas, educadores e estudantes

Entre os dias 14 e 18 de outubro, das 19h às 22h, foi realizado de forma virtual o 1º Seminário de Inteligência Artificial no Ensino, Pesquisa e Extensão: impactos e desafios, um evento pioneiro que reuniu especialistas, educadores e estudantes para discutir o papel crescente da Inteligência Artificial (IA) no contexto educacional.

A iniciativa foi organizada pelo Vicariato Episcopal da Arquidiocese de São Paulo e do Rio de Janeiro, pelo Setor Universidades da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Pastoral Universitária do regional Sul 1 da CNBB, em parceria com instituições de ensino básico e superior.

O evento foi conduzido por dom Carlos Lema Garcia, bispo auxiliar de São Paulo e Vigário Episcopal para Educação e Universidade e bispo referencial para Educação e Ensino Religioso no regional Sul 1 da CNBB, além de bispo referencial para o Setor Universidades da CNBB. 

O evento proporcionou um espaço para reflexões sobre as oportunidades e os desafios que a IA impõe à educação em suas várias dimensões, desde o ensino até a pesquisa e extensão. Com a participação de renomados especialistas, o seminário explorou como essa inovação pode ser integrada ao ambiente educacional, quais os impactos diretos na formação de estudantes e como ela transforma a prática docente. 

Programação

O primeiro dia contou com a participação de dois grandes nomes: o sacerdote italiano Alberto Carrara, decano da Pontifícia Universidade Regina Apostolorum/ Roma e membro da Pontifícia Academia para a Vida da Santa Sé, e o professor emérito da USP, José Moran. Eles abordaram temas fundamentais como: transparência, inclusão, projetos educacionais inovadores, responsabilidade civil, imparcialidade, confiabilidade, segurança e privacidade, destacando a importância de uma abordagem ética no uso da IA. 

No segundo dia, uma roda de conversa trouxe valiosas contribuições com a participação do professor Diego Marihama, do Setor Universidades da CNBB; professora Alexandra Geraldini, pró-reitora da PUC-SP e professora Dora Kaufman, da PUC-SP e Colunista da Época Negócios. As discussões focaram nos usos da IA na educação, destacando suas aplicações práticas para alunos, professores e gestão escolar, além de reflexões sobre como essas tecnologias podem contribuir para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. 

O terceiro dia foi marcado pela apresentação e discussão de painéis com a participação de diversos especialistas. Entre os presentes estavam o professor Pedro Luiz Amorim Pereira (FAPCOM); professor Marcos Aurélio Marque (Faculdade Santa Marcelina); professor Patrick Pedreira Silva (UNISAGRADO); professor Felipe Cavalaro (USF); professor Marlon Tereziano (A Recreativa); professor Mario Graça (CAALA – Angola) e professor Diogo Cortiz (PUC-SP). Os painéis destacaram estudos de caso e abordagens práticas da IA em diferentes contextos e instituições acadêmicas.

No quarto dia, palestras inspiradoras de Adriana Martinelli (Bett Brasil) e Xavier Aragay (Reimagine Education): os consultores educacionais ressaltaram a importância de transformar universidades e escolas em laboratórios vivos, onde o aprendizado ocorre num diálogo constante e interativo, adaptando-se às demandas da inovação e da sociedade contemporânea.

O quinto dia trouxe discussões profundas conduzidas por três sacerdotes: padre João Paulo Silva (Setor Universidades da CNBB), padre Thiago Azevedo (Vicariato Episcopal para Educação da Arquidiocese do Rio de Janeiro) e padre Wagner Augusto Moraes dos Santos (Vicariato Episcopal para Educação da Arquidiocese do Rio de Janeiro). As reflexões exploraram o impacto da IA no cotidiano, abordando como essa tecnologia pode influenciar o ensino, a vida acadêmica e a formação cristã.

Conclusões

O seminário evidenciou que, embora a IA traga inúmeras vantagens para o setor educacional, é fundamental garantir um diálogo contínuo entre educadores, gestores e especialistas. A preparação para um uso consciente e ético da inteligência artificial, respeitando os valores humanistas e cristãos, é essencial para que seus benefícios sejam alcançados plenamente. 

Com a participação ativa de professores, estudantes e pesquisadores de várias partes do Brasil e do exterior, o evento reforçou a importância de discussões que colocam a IA como uma ferramenta de transformação, mas que também exigem cautela e responsabilidade social. A expectativa é que, após o sucesso desta primeira edição, o seminário se torne uma referência anual para discutir o impacto da tecnologia na educação, promovendo o desenvolvimento de uma educação inovadora e inclusiva no país. 

Padre João Paulo dos Santos Silva, do Setor Universidades da CNBB, destacou que a Igreja, nesses dois milênios de cristianismo, sempre contribuiu decisivamente para o progresso técnico e científico; e, com o advento da Inteligência Artificial não seria diferente, pois o Magistério da Igreja, sempre chamou a atenção acerca da atuação dos cristãos nos meios de comunicação social.

“A Inteligência Artificial é um instrumento poderosíssimo para a realização do bem e do mal. O enorme volume de informações disponibilizado pode ser uma perigosa fonte de dispersão, superficialidade, perda de tempo e desorientação para as pessoas. Ela pode aproximar-nos ou separar-nos. Podemos nos tornar joguetes nas mãos da mídia digital que a manipula com interesses escusos”.

Ele alega, ainda, que o mundo digital pode ser um ambiente favorável à santificação do cristão. “Ele pode ser um campo de ação para promover o que é verdadeiro, bom e belo, fomentar a justiça, a fraternidade e a paz. As pessoas que ocupam o espaço virtual precisam ser evangelizadas e inseridas no Reino de Deus. O que Evangelho tem a nos dizer sobre a Inteligência Artificial? Seus ensinamentos projetam uma luz para iluminar os caminhos da humanidade no mundo digital? Refletir sobre esses pontos torna-se fundamental nos dias de hoje, nos quais os cristãos não podem estar ausentes ou tímidos”, finaliza. 

Por padre João Paulo dos Santos Silva, do Setor Universidades da CNBB.

Foto: Tung Nguyen/ Pixabay

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Dilexit nos, a quarta encíclica de Francisco para “um mundo que parece ter perdido o coração"

Papa assina documento (Vatican Media)

Na próxima quinta-feira, 24 de outubro, será publicado o documento do Papa sobre a devoção ao Coração de Jesus. O Pontífice havia anunciado a encíclica em uma audiência geral em junho passado, e o texto reunirá reflexões de documentos magisteriais anteriores. A publicação acontece no ano das celebrações do 350º aniversário da primeira manifestação do Sagrado Coração de Jesus, ocorrida em 1673.

Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco publica a quarta encíclica de seu pontificado em um dos momentos mais dramáticos para a humanidade. Guerras corrosivas, desequilíbrios sociais e econômicos, consumismo desenfreado, novas tecnologias que ameaçam desfigurar a essência do ser humano marcam a época moderna. O Pontífice, por meio do documento intitulado Dilexit nos (Ele nos amou), pede que mudemos nosso olhar, nossa perspectiva e nossos objetivos, recuperando aquilo que é mais importante e necessário: o coração.

O anúncio do Papa

“Carta encíclica sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo” é o subtítulo do documento, cuja data de publicação — 24 de outubro — foi anunciada hoje pela Sala de Imprensa da Santa Sé. O texto é inteiramente dedicado ao culto do Sagrado Coração de Jesus. O Santo Padre havia anunciado o lançamento no outono, durante a audiência geral na Praça São Pedro em 5 de junho (mês tradicionalmente dedicado ao Sagrado Coração de Jesus), compartilhando o desejo de que o texto faça meditar sobre os aspectos “do amor do Senhor que possam iluminar o caminho do renovamento eclesial; e também que possam dizer algo significativo a um mundo que parece ter perdido o coração”. Francisco ainda explicou que o documento reunirá “as preciosas reflexões de textos magisteriais anteriores e de uma longa história que remonta às Sagradas Escrituras, para repropor hoje, a toda a Igreja, este culto repleto de beleza espiritual”.

As aparições em 1673

A encíclica é publicada durante as celebrações — que vão de 27 de dezembro de 2023 a 27 de junho de 2025 — do 350º aniversário da primeira manifestação do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, em 1673. Há três séculos e meio, em 27 de dezembro, Jesus apareceu à jovem freira visitandina francesa, com apenas 26 anos, para confiar-lhe a missão decisiva de difundir no mundo o amor de Jesus pelos homens, especialmente pelos pecadores. As aparições no convento de Paray-le-Monial, na Borgonha, continuaram por 17 anos, com o Coração de Jesus se manifestando sobre um trono de chamas, cercado por uma coroa de espinhos, símbolo das feridas infligidas pelos pecados dos homens. Cristo pediu à irmã Margarida que a sexta-feira após a festa de Corpus Christi — portanto, oito dias depois — fosse dedicada à Festa do Sagrado Coração de Jesus. Uma missão difícil para a religiosa, que encontrou incompreensões até entre as irmãs religiosas e superiores, sendo considerada uma visionária. Ela, porém, nunca desanimou e dedicou toda sua vida para que o mundo conhecesse o amor de Cristo.

A difusão da devoção

A festa do Sagrado Coração nasceu às portas do Iluminismo. Como escreveu o padre Enrico Cattaneo, professor emérito de Patrística, na revista 'La Civiltà Cattolica', “a espiritualidade do Coração de Cristo foi um contrapeso à mentalidade racionalista difundida, que alimentava a cultura ateísta e anticlerical”. Um acalorado debate, inclusive dentro da própria Igreja, surgiu em torno dessa devoção, até que, em 1856, Pio IX decidiu que a festa do Sagrado Coração de Jesus fosse estendida a toda a Igreja. No século XIX, a devoção se espalhou rapidamente com consagrações, surgimento de congregações masculinas e femininas, instituições de universidades, oratórios e capelas.

Haurietis aquas de Pio XII

Em 1956, foi publicada a 'Haurietis aquas' de Pio XII, escrita em um momento em que a devoção ao Coração de Jesus vivia uma crise. A encíclica do Papa Pacelli tinha o objetivo de reviver o culto e convidar a Igreja a compreender melhor e realizar suas várias formas de devoção, de “máxima utilidade” para as necessidades da Igreja, mas também como “estandarte de salvação” para o mundo moderno. Bento XVI, em uma carta para o 50º aniversário da 'Haurietis aquas', destacava: “Este mistério do amor de Deus por nós não constitui apenas o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: ele é, da mesma forma, o conteúdo de toda verdadeira espiritualidade e devoção cristã. É, portanto, importante ressaltar que o fundamento dessa devoção é tão antigo quanto o próprio cristianismo”.

A devoção de Francisco

O Papa Francisco sempre demonstrou um profundo vínculo com o Sagrado Coração, relacionando-o à própria missão dos sacerdotes. Em 2016, o encerramento do Jubileu dos Sacerdotes ocorreu justamente na Solenidade do Coração de Jesus, e na homilia da Missa o Pontífice pediu aos padres do mundo que orientassem o seu coração, como o Bom Pastor, em direção à ovelha perdida, àquele que está mais distante, deslocando o epicentro do coração para fora de si mesmos. Ainda no contexto do Jubileu, na primeira das Meditações sobre a misericórdia, o Papa recomendou aos bispos e sacerdotes que relessem a 'Haurietis aquas', porque “o coração de Cristo é o centro da misericórdia. Isto é próprio da misericórdia, que se suja, toca, se envolve, quer comprometer-se com o outro… empenha-se com uma pessoa, com sua ferida”.

Quarta encíclica do pontificado

Dilexit nos, como mencionado, é a quarta encíclica de Francisco após Lumen fidei (29 de junho de 2013), escrita “a quatro mãos” com Bento XVI; Laudato si’ (24 de maio de 2015), sobre a crise ambiental e a necessidade de cuidar da Criação; e Fratelli tutti (3 de outubro de 2020), que sintetiza os apelos e mensagens do Papa sobre a urgência da fraternidade e da amizade social em um mundo fragmentado, à época pela pandemia de Covid-19, e hoje por guerras fratricidas e conflitos conduzidos até em nome de Deus. Dilexit nos será apresentada na Sala de Imprensa vaticana em 24 de outubro por dom Bruno Forte, teólogo, arcebispo de Chieti-Vasto, e pela irmã Antonella Fraccaro, responsável geral das Discípulas do Evangelho.

A Coletiva de Imprensa será transmitida ao vivo, em língua original, pelo canal do Youtube do Vatican News.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 20 de outubro de 2024

Cardeal Tempesta publica nova Carta Pastoral por ocasião do Jubileu de 2025 (1)

2021.06.09 DOM ORANI TEMPESTA | VATICAN NEWS

Cardeal Tempesta publica nova Carta Pastoral por ocasião do Jubileu de 2025

Com a Carta Pastoral: "Missão, Esperança e Paz", por ocasião do Ano Santo de 2025 - “Peregrinos da Esperança”, cardeal Tempesta institui também na Arquidiocese do Rio de Janeiro o Ministério de Catequistas.

Carlos Moioli – Arquidiocese do Rio de Janeiro

O arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, assinou uma nova Carta Pastoral: "Missão, Esperança e Paz", por ocasião do Ano Santo de 2025 - “Peregrinos da Esperança”.
A assinatura ocorreu às vésperas do Dia Mundial das Missões, no dia 19 de outubro de 2024, na Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Centro, no final da celebração eucarística da 40ª Assembleia Arquidiocesana da Iniciação à Vida Cristã.
Na mesma celebração, foi instalado o Ministério de Catequistas na Arquidiocese do Rio de Janeiro e a instituição da primeira turma, com 80 catequistas, representantes dos 12 vicariatos da arquidiocese.

Cardeal Tempesta (Vatican Media)

Carta Pastoral

Na nova Carta Pastoral, assinada às vésperas do Dia Mundial das Missões, Dom Orani aborda a proclamação de um novo jubileu ordinário pelo Papa Francisco, em 2025, como o tema "Peregrinos da Esperança", os jubileus na Bíblia, na história da Igreja, peregrinações, indulgências jubilares e o Jubileu de 2025 em Roma.
Também destaca a realização do jubileu na arquidiocese, a abertura do Ano Santo, as celebrações jubilares dos vicariatos com o arcebispo, a celebração arquidiocesana e o jubileu no Regional Leste 1 da CNBB.
A Carta Pastoral sublinha a missão dos meios de comunicação no Ano Santo, o encerramento e, por fim, sobre o Jubileu e a paz: tempo de reconstrução da unidade no Rio de Janeiro - Deus habita esta cidade, e legado do jubileu.

Cardeal Tempesta assina a Carta Pastoral (Vatican Media)

MISSÃO, ESPERANÇA E PAZ

Carta Pastoral do Cardeal

Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

por ocasião do Ano Santo de 2025

Peregrinos da Esperança

20 de outubro de 2024

Dia Mundial das Missões.

Catedral do Rio de Janeiro (Vatican Media)

Um novo jubileu foi proclamado

1.                  A cada 25 anos a Igreja proclama o Ano Santo ordinário. Por isso, em carta datada de 11 de fevereiro de 2022, o Papa Francisco anunciou para toda a Igreja o lema que brotou do seu coração para este Jubileu Ordinário em 2025: Peregrinos da Esperança. A partir da meditação dessa importante virtude teologal, o Santo Padre indica que o jubileu “poderá favorecer imensamente a recomposição de um clima de esperança e confiança, como sinal de um renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência.”[1] De fato a proclamação de jubileus e anos santos na Igreja sempre teve a motivação de recordar aos cristãos que devemos continuamente manifestar ao mundo “a razão da nossa esperança” (cf. 1Pd 3, 15), levando a palavra do amor e da alegria que brota do evangelho de Jesus Cristo.

2.                 Também nós, atendendo ao convite do Santo Padre, iremos celebrar solenemente o jubileu, tanto indo nas peregrinações a Roma como também em nossa Arquidiocese. Estamos em um mês pleno de sentido, comemorações, celebrações solenes. Nesta ocasião, depois de celebrarmos tantas festas marianas (Rosário, Aparecida, Nazaré) e estando celebrando N. Sra. da Penha quisemos também escrever esta carta da celebração jubilar com as orientações e determinações próprias para nossa Arquidiocese. Rezemos para que ela nos leve a ser cada vez mais uma igreja que semeie esperança nesta grande cidade.

3.                Nestes últimos tempos a Igreja tem compreendido que sua atividade pastoral e missionária deve empenhar-se em avivar a esperança no coração dos fiéis e do mundo inteiro. Com este fim, escrevemos em 2015 uma carta pastoral intitulada “A Esperança não decepciona”, ocasião em que a Arquidiocese vivia o Ano da Esperança como proposta e referência evangelizadora para o Rio de Janeiro em seu 11º Plano de Pastoral. Em 2024, uma outra carta pastoral “Peregrinos de Esperança e construtores da paz” foi escrita para celebrar o 15º ano de nossa posse como Arcebispo Metropolitano.

4.                Ainda ressoam em nossos corações os momentos fortes do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, quando fomos convidados a ser “misericordiosos como o Pai” (Lc 6, 36), refletindo o rosto de Jesus Cristo para tantos irmãos sofredores. A experiência das várias portas santas abertas em nossa Arquidiocese, em que diversos grupos puderam fazer peregrinações para lucrar a indulgência jubilar, foi um belo testemunho de unidade e fé, através das diversas atividades e eventos organizados nas paróquias, movimentos e pastorais para a vivência das obras de misericórdia. Também o Grande Jubileu do ano 2000, aberto por São João Paulo II, foi um momento enriquecedor que preparou todo o mundo cristão para o início do novo milênio e para os desafios que o mesmo apresenta. Poderíamos ainda destacar outras comemorações jubilares que marcaram o século passado, como o Jubileu Extraordinário da Redenção, em 1983; o Jubileu de 1975, dedicado pelo Papa Paulo VI ao tema da reconciliação; e o Jubileu de 1950, no qual o Papa Pio XII proclamou o dogma da Assunção da Virgem Maria.

5.                A proclamação do novo jubileu a ser celebrado em 2025 é uma oportunidade para que o povo cristão reflita acerca do momento histórico que vivemos. Nesses dias pós-pandêmicos, marcados por conflitos e guerras, bem como por polarizações no âmbito social e político, mostrar que “a esperança não decepciona” (Rm 5,5) é um ato profético, um gesto de caridade para com uma humanidade ferida e marcada pela divisão e pelas situações difíceis de cada dia.

6.                É nesse espírito de comunhão com toda a Igreja universal que me dirijo a vós, caríssimos irmãos e irmãs desta arquidiocese, que a cada dia buscam anunciar Jesus Cristo em meio a esta grande cidade. “Deus habita esta cidade” (cf. Sl 47,9, versão da Liturgia das Horas) e é necessário desvelar o rosto de Deus presente em nosso meio. É nosso desejo que o jubileu convocado pelo Papa Francisco seja um tempo fecundo para que cada fiel, nas diversas paróquias, capelas e comunidades espalhadas pela cidade do Rio de Janeiro, viva essa oportunidade de fé, caminhando em meio às vicissitudes como “peregrinos da esperança. ”

O Jubileu na Bíblia

7.                   A origem mais remota das celebrações jubilares se encontra no texto veterotestamentário da Sagrada Escritura, mais precisamente no capítulo 25 do Livro de Levítico, o livro dos filhos de Levi, portanto, dos sacerdotes: um livro cerimonial que regulamentava minuciosa e meticulosamente os rituais do Templo de Jerusalém. Nele se encontra o termo jobel que, de acordo com análise do Cardeal biblista Gianfrancesco Ravasi, significava originalmente a celebração de um ano jubilar que começava solenemente em uma data específica e ao som da trombeta, e cujo eco, vindo de Jerusalém, rasgava o ar e se disseminava anunciando a celebração ritual de um tempo próprio, em conexão com a solenidade do Yôm Kippur, isto é, da expiação pelo pecado de Israel. Para este autor, o termo amplia a compreensão do Jubileu. Ele passava a ser visto não apenas como um tempo de celebração ritual, mas também como um período de reflexão ética, moral e existencial, incluindo, por exemplo, o perdão de dívidas e a libertação de escravos. Assim, houve uma evolução conceitual do jobel, de um ato meramente litúrgico para uma experiência com implicações ético-sociais. Desse modo, as celebrações jubilares passaram a ser marcadas por três dimensões essenciais: o repouso da terra, o perdão das dívidas e a libertação dos escravos. Aprofundemos, portanto, a análise deste termo e a sua compreensão na Escritura.

8.                O termo “jubileu” provém do latim jubilaeus que, por sua vez, tem origem no termo hebraico yobel. Este termo aparece 27 vezes na Bíblia Hebraica, a qual corresponde parcialmente ao nosso Antigo Testamento. Nestas ocorrências ele pode indicar duas coisas: o chifre do carneiro utilizado como um instrumento musical (Ex 19,13) ou o “ano jubilar” (Lv 25; 27,16-25). O termo yobel conecta-se à raiz hebraica do verbo yabal, que significa “levar, conduzir” e que aparece em alguns textos do Antigo Testamento, como o Sl 45,15.16; 108,11 e Jr 31,9. Particularmente significativo é o uso da raiz em Jr 31,9, onde Deus anuncia, pela boca do profeta, um tempo de libertação: “Em lágrimas eles voltam, em súplicas eu os trago de volta. Vou conduzi-los às torrentes de água, por um caminho reto, em que não tropeçarão. Porque eu sou um pai para Israel e Efraim é o meu primogênito”. Porque Deus é “um pai”, Ele não permitirá que o seu povo permaneça para sempre em uma situação difícil, mas os “trará de volta” (yabal).

9.                  O jubileu, no AT, tem muito a ver com este “trazer de volta”. O texto base para compreendê-lo é Lv 25, que pode ser dividido em três partes: nos vv. 2-22 o Jubileu é apresentado em estreita relação com o ano sabático e com o próprio sábado; nos vv. 23-34 apresenta-se o resgate das propriedades; por fim, nos vv. 35-55 fala-se do resgate das pessoas. Vejamos o sentido teológico de cada uma dessas partes.

10.              Nos vv. 2-22 o autor sagrado começa apresentando a lei do repouso sabático da terra. Assim como o sétimo dia devia ser consagrado a Deus, para o descanso, o louvor e a contemplação das suas obras, assim também a terra deveria descansar. O preceito do repouso sabático semanal encontra-se em Ex 20,8-11 e em Dt 5,12-15 com acentos teológicos próprios em cada um dos textos.

11.                 Em Ex 20,8-11 a motivação para o repouso sabático é a necessidade de se fazer memória da criação: “Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm, mas repousou no sétimo dia; por isso o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou” (Ex 20,11). Se o ser humano não faz uma pausa para contemplar a obra da criação e para percebê-la como sinal do amor e da generosidade de Deus que tudo nos deu, ele perde o sentido da própria existência. Absorvido pelo tempo, apenas produz, olhando sempre para o que é terreno, sem alçar seus olhos para o que está além, para Deus, que tudo criou por amor e para a alegria do homem, obra de suas mãos (Gn 2,8).

12.               Em Dt 5,12-15, a motivação para o repouso sabático é a memória do êxodo, por isso até mesmo o escravo e a escrava deveriam ter direito a este repouso: “Recorda-te que foste escravo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te fez sair de lá com mão forte e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te ordenou guardar o dia de sábado” (Dt 5,15). O sábado é, pois, para o judeu piedoso, memória da criação e memória do êxodo, duas realidades que se reclamam mutuamente. Deus “criou” o mundo e tudo o que há nele e “criou” também Israel, a partir do êxodo, para que ele fosse o receptor primeiro da mensagem salvífica, ou seja, para que, sendo seu povo, reconhecesse que a criação é obra das mãos de Deus, fruto da sua bondade, tal como foi a libertação e a criação do seu povo, a partir do êxodo do Egito.

13.               Segundo Lv 25,2-22, também a terra deverá gozar de um sábado. No sétimo ano a terra deverá repousar. Israel deverá reviver a experiência do deserto, onde experimentou a providência de Deus que tudo lhes dava mesmo sem que tivessem que plantar ou colher. Eles deverão usufruir do fruto da terra vivendo um grande ano de “repouso”. A partir do v. 8 é anunciado propriamente o “jubileu”. Este será celebrado a cada “sete semanas de anos”. Depois de sete anos sabáticos consecutivos, será celebrado um grande ano sabático, chamado de “jubileu”, que deverá começar com o toque da trombeta no Dia das Expiações: “No sétimo mês, no décimo dia do mês, farás vibrar o toque da trombeta; no dia das Expiações, fareis soar a trombeta em todo o país. Declarareis santo o quinquagésimo ano e proclamareis da libertação de todos os moradores da terra. Será para vós um jubileu... (Lv 25,9-10).

14.               A segunda parte do v. 10 e o v. 11 trazem já dois temas que serão desenvolvidos na continuação de Lv 25: o jubileu como libertação dos cativos (v. 10) e como tempo de remissão das dívidas e devolução das propriedades (v. 13). Enfatiza-se, contudo, no conjunto dos vv. 2-22 a ligação do jubileu com o ano sabático. Sem semear e fazer a colheita usual, cada um deve colher e comer, livremente, o produto dos campos. Esta primeira parte de Lv 25, como também as duas outras que se seguirão, termina com uma motivação teológica: Deus abençoará o sexto ano, fazendo com que a colheita produzida nesse ano os alimente pelo sétimo, oitavo e nono ano. Assim, também no ano jubilar, onde por dois anos consecutivos não se haveria de plantar nem de colher sistematicamente, pois ao sétimo ano sabático se seguiria o ano jubilar, o povo teria seu estoque de alimentos garantido pelo Senhor.

15.               A bênção do Senhor é a garantia que os israelitas têm de que podem observar suas normas, pondo n’Ele, e não simplesmente no trabalho de suas mãos, a sua segurança: “eu estabeleço a minha bênção no que colherdes no sexto ano, de modo que vos garanta produtos por três anos” (Lv 25,21). Tanto o ano sabático quanto o ano jubilar servem, sobretudo, para demonstrar a Israel que não é tanto pela força do seu trabalho que os campos produzem, ainda que este trabalho seja fundamental. Eles devem compreender que é a ação de Deus, verdadeiro senhor dos campos e do povo, que faz tudo crescer e prosperar, conforme nos recorda o Salmo 65,10-12: “Visitaste a terra e a inebriaste; multiplicaste a sua abundância. O rio de Deus está cheio de água; providenciaste o trigo deles, pois assim preparaste a terra: irrigaste os seus sulcos, aplanaste seus torrões, com as chuvas a amoleceste, abençoaste os seus brotos. Coroaste o ano com a tua benignidade, os teus passos destilam fertilidade”.

16.              Em Lv 25,23-34 apresenta-se o jubileu como o tempo do resgate das propriedades. Um importante enunciado abre esta seção de Lv 25: “A terra não será vendida perpetuamente, pois a terra me pertence e vós sois para mim estrangeiros e hóspedes” (Lv 25,23). Este é o princípio geral que norteia toda a lei concernente ao resgate das propriedades no ano jubilar. A terra é dom de Deus ao povo. Eles a “conquistaram”, mas não pela força das armas e sim, pela ação do Senhor. Os emblemáticos episódios de conquistas das cidades cananeias no livro de Josué são apresentados mais como ações do Senhor do que como grandes estratégias de guerra e conquista. Para confirmar isto, basta ler Js 6, onde as muralhas de Jericó caem ao som das trombetas tocadas por ordem divina. Já antes, em Ex 17, o povo vence a guerra contra os amalecitas somente porque Moisés, o servo de Deus, mantém seus braços estendidos em oração, os quais são sustentados assim por Aarão e Hur (Ex 17,11-13).

17.               Além de servir para que o povo tivesse uma consciência viva de que a terra lhes fora dada por Deus como dom, tal lei também servia para que se mantivesse um estilo de vida relativamente igualitário na terra. Em virtude de dívidas, alguém poderia ter que vender sua propriedade. Contudo, isso não podia ocorrer de modo absoluto. Se assim o fosse, seria possível que, em Israel, logo se estabelecesse uma sociedade extremamente desigual, com grandes acúmulos de terra nas mãos de poucos e uma grande população de israelitas vivendo sob seu jugo. Seria uma situação de grande dureza, em certa medida bastante parecida com a que Israel vivera no Egito. Deus não poderia permitir que o seu povo, liberto para servi-lo, vivesse em tais condições.

18.              Alguns textos nos ajudam a elucidar a situação de acúmulo indevido acontecida em Israel. Podemos aludir a dois deles. O primeiro seria Is 5,8: “Ai dos que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo até que não haja mais espaço disponível, até serem eles os únicos moradores da terra”. O profeta critica duramente os que acumulam sempre mais, tornando-se “os únicos moradores da terra”. Se a terra pertence a Deus e se Ele a deu para o povo, não faz sentido que, com o passar do tempo, somente alguns dentre o povo possam se outorgar o direito de verdadeiros proprietários. O “verdadeiro proprietário” é Deus, os outros todos são “estrangeiros e hóspedes” (Lv 25,23). Um segundo texto é o que nos fala da disputa entre Acab e Nabot (1Rs 21). Significativa é a resposta de Nabot de Jezrael ao rei Acab: “O Senhor me livre de ceder-te a herança dos meus pais” (1Rs 21,3). Mesmo diante de um pedido do rei, Nabot não cede. Quem lhe confiscará a propriedade às custas de mentiras será a rainha Jezabel, uma estrangeira na corte israelita. A resposta de Nabot demonstra sua clara consciência acerca da importância de preservar a herança paterna, a terra, uma vez que, retrocedendo às origens do povo, esta lhes foi dada como dom das mãos do próprio Deus, por meio de Josué, encarregado de reparti-la entre as tribos. Diante desse quadro, Lv 25,23-34 previa a possibilidade de resgate dos campos, ainda fora do ano jubilar. Previa ainda que, independentemente da possibilidade de um resgate, os mesmos voltassem aos seus primeiros proprietários no ano do jubileu.

19.              A última parte desse texto está nos vv. 35-55, que fala do resgate de pessoas. No Antigo Oriente Próximo, de modo geral, e também em Israel, era possível que alguém contraísse uma dívida tão alta que tivesse que vender a si mesmo como escravo até pagá-la totalmente. Algumas vezes, a família toda poderia ficar em tal situação. Em Israel, previa-se o resgate e a libertação dessas pessoas. Não somente Lv 25,35-55, mas também os livros do Êxodo (Ex 21,2-11) e do Deuteronômio (Dt 15,12-18) falam disso.

20.             Do modo como é formulada em Ex 21,2-11, a lei concernente à liberação dos escravizados por dívidas preocupa-se com questões familiares, e com a possibilidade de que o escravo que contraiu matrimônio não tenha que se separar da sua família. O texto trata também de uma mulher hebreia, vendida como escrava, que não poderá ser vendida a estrangeiros caso não agrade mais a seu patrão. O texto se preocupa, ainda, em garantir seus direitos matrimoniais, caso ela seja tomada como esposa pelo patrão ou por seu filho.

21.               No texto paralelo de Dt 15,12-18, o escravo é chamado de “irmão”. Neste texto se prevê uma “indenização” para o escravo ou a escrava (Dt 15,13-14) quando da sua libertação. Esta versão da lei no livro do Deuteronômio parece ser mais elaborada teologicamente: menciona-se três vezes o nome de Deus (15,14.15.18); fala-se duas vezes de bênção (15,14.18) e remete-se à experiência do Êxodo (15,15).

22.              Em se tratando de Lv 23,35-55, pode-se admitir uma relação tanto com Ex 21,2-11 quanto com Dt 15,12-18, mas não um forte vínculo com nenhum desses dois textos, pois ele possui características muito particulares. Embora o texto recorde aos israelitas que o endividado é um “irmão”, como o faz o paralelo em Deuteronômio, a escravidão é quase que abolida, já que Lv 25,39-40 afirma que não se deve impor sobre este um trabalho escravo, mas sim que ele deve ser tratado como um “estrangeiro” ou “hóspede”. A motivação teológica está no final de Lv 25: “Pois é de mim que os filhos de Israel são servos; são servos meus que fiz sair da terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus (Lv 25,55). Assim como a terra não pode ser vendida perpetuamente porque é propriedade de Deus, assim também nenhum israelita endividado poderá ser para sempre submetido ao trabalho servil. Se não for resgatado, será liberto no ano do jubileu, quando as dívidas serão, assim, definitivamente remidas. Nesse aspecto, a lei do jubileu garante que nenhum israelita retornará à condição que tinha antes de ter sido libertado do Egito pelo Senhor. A memória da Páscoa aparece fortemente como pano de fundo de Lv 25.

23.              Alguns autores concordam em ver na lei concernente ao jubileu uma certa dimensão escatológica. Embora não se negue que ela tenha sido aplicada em Israel, no todo ou em parte, percebe-se que sua execução plena remeteria a um momento ideal: o da redenção definitiva de Israel. O texto de Is 61 parece apontar nessa direção. O “profeta” por detrás desse capítulo compreende-se como aquele que veio inaugurar um “grande jubileu”. Aqui não se utiliza o termo yobel, mas fala-se de um “ano aceitável” a Deus, onde os homens serão interna e externamente renovados, pois ele vem para curar os de “coração quebrantado” e para anunciar a “libertação aos cativos”. O termo aqui traduzido como “libertação” é o termo hebraico derôr, o mesmo que ocorre em Lv 25,10, onde se fala do ano jubilar como o tempo da “libertação [derôr] de todos os moradores da terra”.

24.             Este “ano aceitável”, este “jubileu”, este tempo de “libertação e graça” foi inaugurado por Cristo na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-30). Quando vai à sua cidade Natal, Jesus entra na sinagoga em dia de sábado e faz a leitura de Is 61,1-2. Este trecho estava associado ao dia das Expiações, que marcava o início do ano jubilar. Nada é dito em Lucas que nos faça presumir que se tratava de tais comemorações. Poderia ser um sábado comum, mas que perde o seu caráter de um simples sábado para se tornar a proclamação feita, pelo próprio Cristo, do “verdadeiro jubileu”. Nele cumpre-se aquela Escritura que ele acabara de ler (Lc 4,21). Tudo o que concernia ao jubileu da Antiga Aliança é assumido, ressignificado e elevado à plenitude em Jesus de Nazaré. Ele veio para romper todas as cadeias e para fazer com que os homens vivam já hoje este tempo de graça e renovação.

25.              Ao fazer referência ao “ano da graça do Senhor”, Jesus sintetizava a sua missão salvífica, apresentando-a como a própria missão da Igreja: a evangelização dos pobres, isto é, o anúncio da “boa notícia” de Deus aos que se despojam; a libertação dos presos das amarras da injustiça e do egoísmo; a recuperação da vista aos cegos, retirando da escuridão do desespero e da aflição aqueles que viviam à margem da salvação; e, por fim, a libertação dos sofrimentos e males que oprimem não somente o corpo,  mas o espírito. A primeira comunidade cristã parece ter compreendido tal ensinamento, que se refletia em seu modo de viver (At 2,42-47; At 4,32-35).

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1.      Toda a língua, povo e nação, tua luz encontra na Palavra. / Os teus filhos, frágeis e dispersos se reúnem no teu Filho amado.

Com afetuosa bênção,

São Sebastião do Rio de Janeiro,
20 de outubro de 2024.

Orani João Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A recuperação milagrosa que permitirá a canonização de Giuseppe Allamano

Bárbara Bednarz | Shutterstock | Domínio Público | Modificado por Aleteia

Camille Dalmas – publicado em 18/10/24

Padre Giuseppe Allamano, fundador dos missionários da Consolata, será canonizado pelo Papa Francisco no domingo, 20 de outubro.

Uma recuperação milagrosa após um ataque de onça, atribuída à intercessão de Giuseppe Allamano, levou o Papa a reconhecê-lo como santo.

No dia 7 de fevereiro de 1996, Irmã Felicita Muthoni, religiosa queniana pertencente à Ordem da Consolata, encontrava-se no dispensário da missão Catrimatini, às margens do rio Catrimatini, no coração da selva amazônica. Lá, junto com outros missionários, atende o povo Yanomami, etnia indígena que vive na selva entre o Brasil e a Venezuela.

Naquela manhã, ela viu como um homem ligou para ela para explicar que Sorino Yanomami, seu genro, havia sido atacado por uma onça. O animal, uma fêmea, o pegou de surpresa, atingindo-o no crânio com uma garra violenta. Porém, o homem não perdeu a consciência, afastou-se, levantou-se e conseguiu manter o animal afastado com o arco e gritou por socorro. Aqueles que estavam próximos dele vieram, fazendo com que o felino fugisse.

Irmã Felicita, enfermeira do dispensário, foi rapidamente ao local do acidente para prestar os primeiros socorros, mas a situação era pior do que ela imaginava. Sorino, meio inconsciente, jazia numa poça de sangue.

De seu crânio, sob um pedaço de couro cabeludo arrancado pelas garras da fera, uma pequena massa cerebral branca se projetava agora. A freira reagiu rapidamente, colocando cuidadosamente o material de volta no crânio do pobre homem e depois no couro cabeludo. Mas o sangue continuou a fluir abundantemente e ele teve que fazer uma compressa improvisada com a única coisa que tinha naquele momento: a camisa.

O pessimismo do cirurgião

Por fim, Sorino é levado de carro até a missão. Os moradores não entendem quando Irmã Felicita Muthoni anuncia que quer levar o ferido ao hospital. Já pensavam que ele iria viver no “outro mundo” e queriam que ele morresse na sua própria terra. Resistindo às ameaças e dando-lhe mais cuidados, a freira insiste e consegue permissão para levá-lo de avião até Boa Vista, capital regional.

Mas antes de o avião decolar, alguns Yanomami presentes declararam que se seu companheiro morresse na cidade, longe da selva e entre os “brancos”, matariam com suas flechas os missionários presentes em Catrimani. Ao chegar ao hospital, o Dr. José Nunes da Rocha cuidou dele, mas ele estava pessimista, como contou mais tarde: “A situação do Sorino era muito grave e o paciente respirava com dificuldade […] não tínhamos muita fé na cura, pois do jeito que estava infectado, pútrido e em um lugar tão “nobre” como o cérebro, poderia causar encefalite e meningite Então não tínhamos muita esperança, mas ele havia chegado vivo e tivemos que tratar, fazendo todo o possível”.

Confiado à intercessão de Giuseppe Allamano

Padre Giuseppe Allamano | Domínio Público  (Crédito Aleteia)

Em coma, Sorino foi operado sob anestesia, com a ferida aberta. Ele finalmente acordou e teve que continuar operando, mas parecia ter se recuperado e conseguido se comunicar. Sua recuperação foi considerada extraordinariamente rápida e a ausência de sequelas foi surpreendente. Permaneceu internado por várias semanas antes de retornar para casa em 8 de maio de 1996. Aos poucos, retomou sua vida na selva:

“Quando voltei do hospital, eu era como os outros Yanomami: trabalhava, cultivava a roça, mas agora não posso mais trabalhar, porque estou velho. o sol está alto, vou para casa. Mas “me sinto bem”, disse ele na pesquisa diocesana.

Por uma feliz coincidência, o dia do seu acidente foi também o primeiro dia do nono dia preparatório para a festa do Beato Giuseppe Allamano, fundador dos missionários da Consolata. Portanto, Sorino naturalmente confiou-se à sua intercessão.

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/10/18/la-milagrosa-recuperacion-que-permitira-la-canonizacion-de-giuseppe-allamano

Conhecer Jesus Cristo

Conhecer Jesus (Crédito: cancaonova)

CONHECER JESUS CRISTO 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

Normalmente quando se vai participar da missa dominical se deseja que a Palavra de Deus diga algo de concreto para a vida cotidiana, seus problemas e como se comportar nas mais diferentes situações vitais. Chamamos isto de leitura moral ou ética da Escritura. A primeira finalidade e o conteúdo mais importante das Escrituras é revelar a verdade sobre Deus Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. Ela também revela quem é o homem e orienta seu modo de viver. A fé que nasce do encontro com este Deus revelado vai guiar a vida moral do fiel. 

 O Catecismo da Igreja ensina: “O Símbolo da fé professou a grandeza dos dons de Deus para o homem na obra da criação e, mais ainda, pela redenção e santificação. O que a fé confessa, os sacramentos comunicam: pelos “sacramentos que os fizeram renascer”, os cristãos se tornaram “filhos de Deus” (1Jo 3,1), “participantes da natureza divina” (2 Pd 1,4). Reconhecendo na fé sua dignidade, os cristãos são chamados a levar, desde então, uma “vida digna do Evangelho de Cristo”. Pelos sacramentos e pela oração, recebem a graça de Cristo e os dons de seu Espírito, que os tornam capazes disso” (nº 1692).  

Nos últimos domingos tivemos muitos ensinamentos sobre “a vida em Cristo”, isto é, a orientações morais para viver bem. Os textos deste domingo (Isaías 53,10-11, Salmo 32, hebreus 4,14-16 e Marcos 10,35-45) oferecem uma oportunidade para aprofundar o conhecimento de Jesus Cristo. Pois, para quem o conhece, será mais fácil ter os “mesmos sentimentos de Cristo” (Filipenses 2,5), fazer as próprias opções morais em harmonia com o Evangelho. A força do cristianismo está primariamente nisso. O cristianismo não é uma doutrina moral, ou uma ideologia, que se limita a dizer ao homem o deve fazer ou pensar. O cristianismo é uma pessoa, Jesus Cristo, que age por nós e conosco.  Os textos da liturgia oferecem uma visão unitária sobre Jesus Cristo, o Messias servo sofredor e servidor. 

O profeta Isaías apresenta um personagem misterioso com o título Servo do Senhor, título de honra e dignidade, aplicado aos patriarcas, a Moisés, a Josué, a Davi e depois a Maria. Este servo é como um broto de raiz num deserto solitário. A sua existência é graça porque não pode ser gerado e alimentado pela terra árida. É uma presença viva num mundo morto e desolado pelo pecado humano. É um homem desfigurado e desprezado na sociedade. Porém, ele é fonte de vida. “Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o Justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”. Desde o começo do cristianismo este servo foi relacionado com Jesus Cristo. 

No santo Evangelho Jesus se auto apresenta: “Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”. Aqui se revela a identidade de Jesus. A profecia de Isaías se realiza em Jesus que é o Messias sofredor. Obediente à vontade do Pai sofre a paixão e morte e, na ressurreição, “resgata a vida de muitos”. Diante deste anúncio o fiel deve se posicionar. A potência de Deus e sua sabedoria estão no sofrimento (1 Cor 1,23). Um dia, quando chegará o fim, compreenderemos que não existia um meio mais potente e mais sábio do que este para vencer o mal no mundo. 

 A garantia está no servo sofredor ressuscitado. A carta aos Hebreus afirma: “Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus. […] Aproximemo-nos então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno”. Cristo atravessou a nossa humanidade, fazendo-se próximo de cada homem, vivendo a mesma realidade, mas Cristo também atravessou os céus, isto é, a esfera de Deus a qual pertence por natureza e é próprio por esta passagem que ele pode salvar.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa na Missa com canonizações: “Vence não quem domina, mas quem serve por amor"

Santa Missa com Canonização e Angelus -20/10/2024 (Vatican Media)

Em Missa presidida pelo Papa Francisco na Praça São Pedro neste 20 de outubro, foram elevados à honra dos altares os franciscanos Manuel Ruiz López e sete companheiros e os leigos Francisco, Mooti e Raffaele Massabkis, conhecidos como "Mártires de Damasco"; Pe. José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata; Ir. Elena Guerra, conhecida como "Apóstola do Espírito Santo" e a canadense Ir. Marie-Léonie Paradis, fundadora das Pequenas Irmãs da Sagrada Família de Sherbrooke.

https://youtu.be/SmNMjmguHvo

Santa Missa e Canonização
HOMILIA DO SANTO PADRE
Praça de São Pedro
XXIX Domingo do Tempo Comum, 20 de outubro de 2024

Jesus pergunta a Tiago e a João: «Que quereis que vos faça?» (Mc 10, 36). E logo a seguir, desafia-os: «Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou batizado?» (Mc 10, 38). Jesus faz perguntas e, deste modo, ajuda-nos a discernir, porque as perguntas fazem-nos descobrir o que está dentro de nós, iluminam o que trazemos no coração. e que tantas vezes não sabemos.

Deixemo-nos interpelar pela Palavra do Senhor. Imaginemos que ele nos pergunta a cada um de nós: «O que queres que faça por ti?»; e a segunda pergunta «podes beber o meu cálice?»

Com estas perguntas, Jesus traz ao de cima o vínculo e as expectativas que os discípulos nutrem para com ele, com as luzes e sombras próprias de qualquer relação. Com efeito, Tiago e João estão ligados a Jesus, mas têm pretensões. Manifestam o desejo de estar perto dele, mas apenas para ocupar um lugar de honra, para desempenhar um papel importante, para “na sua glória, se sentarem um à sua direita e outro à sua esquerda” (cf. Mc 10, 37). Torna-se evidente que pensam em Jesus como Messias, um Messias vitorioso, glorioso e esperam que Ele partilhe a sua glória com eles. Veem em Jesus o Messias, mas pensam nele segundo a lógica do poder.

Jesus não se detém nas palavras dos discípulos, mas vai mais fundo, escuta e lê o coração de cada um deles e também de cada um de nós. E durante o diálogo, por meio de duas perguntas, procura trazer à tona o desejo que existe dentro daqueles pedidos.

Primeiro, pergunta: «Que quereis que vos faça?»; e esta interrogação revela os pensamentos dos seus corações, traz à luz as expectativas escondidas e os sonhos de glória que os discípulos cultivam secretamente. É como se Jesus perguntasse: “Quem queres que eu seja para ti?” E, assim, desmascara o que eles realmente desejam: um Messias poderoso e , um Messias vitorioso que lhes dê um lugar de honra. E tantas vezes na Igreja ocorre esse pensamento: a honra, o poder...

Depois, com a segunda pergunta, Jesus desmente esta imagem de Messias e ajuda-os, deste modo, a mudar de olhar, isto é, a converterem-se: «Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou batizado?». Revela-lhes, desta maneira, que não é o Messias que eles pensam que é; é o Deus de amor, que se abaixa para chegar aos que estão em baixo; que se faz fraco para levantar os fracos; que trabalha pela paz e não pela guerra; que veio para servir e não para ser servido. O cálice que o Senhor vai beber é a oferta da sua vida, e a sua vida que nos foi dada por amor, até à morte e morte de cruz.

E, portanto, à sua direita e à sua esquerda estarão dois ladrões, suspensos na cruz como Ele e não instalados confortavelmente em lugares de poder; dois ladrões pregados com Cristo na dor e não sentados na glória. O rei crucificado, o justo condenado torna-se escravo de todos: este é verdadeiramente o Filho de Deus! (cf. Mc 15, 39). Vence não quem domina, mas quem serve por amor. Repitamos: vence não quem domina, mas quem serve por amor. É o que nos recorda também a Carta aos Hebreus: «não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós» (Hb 4, 15).

Neste momento, Jesus pode ajudar os discípulos a converterem-se, a mudarem de mentalidade: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder» (Mc 10, 42). Mas não deve ser assim para aqueles que seguem um Deus que se fez servo a fim de chegar a todos com o seu amor. Quem segue Cristo, se quiser ser grande deve servir, aprendendo d’Ele.

Santa Missa com Canonização e Angelus -20/10/2024 (Vatican Media)

Irmãos e irmãs, Jesus revela os pensamentos,  Jesus revela os pensamentos, revela os desejos e as projeções no nosso coração, desmascarando por vezes as nossas expectativas de glória, domínio, de poder, de vaidade. Ele ajuda-nos a pensar já não segundo os critérios do mundo, mas segundo o estilo de Deus, que se faz último para que os últimos sejam erguidos e se tornem os primeiros. Faz-se último para que os últimos sejam reerguidos e se tornem os primeiros. Muitas vezes, estas perguntas de Jesus, com o seu ensinamento sobre o serviço, são tão incompreensíveis, incompreensíveis para nós como o eram para os discípulos. Porém, seguindo-O, percorrendo os Seus passos e acolhendo o dom do Seu amor que transforma a nossa maneira de pensar, também nós podemos aprender o estilo de Deus o estilo de Deus: o serviço. Não esqueçamos as três palavras que mostram o estilo de Deus para servir: proximidade, compaixão e ternura. Deus se faz próximo para servir; se faz compassivo para servir; se faz terno para servir. Proximidade, compaixão e ternura…

É a isto que devemos aspirar: não ao poder, mas ao serviço. O serviço é o estilo de vida cristão. Não se trata de uma lista de coisas a fazer, como se, uma vez realizadas, pudéssemos considerar terminado o nosso turno. Quem serve com amor não diz: “agora toca a outro”. Este é um pensamento de empregados, não de testemunhas. O serviço nasce do amor e o amor não conhece fronteiras, não faz cálculos, mas gasta-se e dá-se. O amor não se limita a produzir para ter resultados, nem é uma prestação ocasional; é sim algo que nasce do coração, um coração renovado pelo amor e no amor.

Santa Missa com Canonização e Angelus -20/10/2024 (Vatican Media)

Quando aprendemos a servir, cada gesto de atenção e cuidado, cada expressão de ternura, cada obra de misericórdia torna-se um reflexo do amor de Deus. E assim todos nós - e cada um de nós - continuamos a obra de Jesus no mundo.

Nesta luz podemos recordar os discípulos do Evangelho, que hoje são canonizados. Ao longo da história conturbada da humanidade, foram servos fiéis, homens e mulheres que serviram no martírio e na alegria, como o Irmão Manuel Ruiz Lopez e seus companheiros. Trata-se de sacerdotes e consagradas fervorosos, e fervorosos de paixão, da paixão missionária, como o Padre Giuseppe Allamano, a Irmã Paradis Marie Leonie e a Irmã Elena Guerra. Estes novos santos viveram o estilo de Jesus: o serviço. A fé e o apostolado que realizaram não alimentaram neles desejos mundanos e avidez de poder; pelo contrário, eles fizeram-se servidores dos seus irmãos, criativos em fazer o bem, firmes nas dificuldades, generosos até ao fim.

Supliquemos com confiança a sua intercessão, para que também nós possamos seguir Cristo, segui-lo no serviço, e tornarmo-nos testemunhas de esperança para o mundo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

dom Pedro Cipollini fala da necessidade de três conversões: espiritual, pastoral e de estruturas

Em coletiva do Sínodo, dom Pedro Cipollini fala da necessidade de três conversões: espiritual, pastoral e de estruturas.

O bispo de Santo André (SP), dom Pedro Carlos Cipollini, participou na quinta-feira, 17 de outubro, da Coletiva de Imprensa da segunda e última sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade começou dia 2 de outubro, em Roma, e segue até o próximo dia 27. A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade está prestes a concluir as reflexões sobre o terceiro Módulo do Instrumentum Laboris, que fala de lugares.

Além de dom Pedro, participaram da coletiva, a secretária da Comissão de Comunicação, Sheila Pires, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, a superiora geral das irmãs de Nossa Senhora das Dores, irmã Samuela Maria Rígon, o arcebispo de Rangoon (Mianmar), cardeal Charles Bo e o arcebispo de Quebec (Canadá), cardeal Gérard Lacroix.

O bispo de Santo André (SP), um dos 5 dos cinco delegados eleitos pelos bispos do Brasil, destacou a questão das mudanças como tema transversal, insistindo em que no processo sinodal alguma coisa deve mudar. Mudanças que na linguagem bíblica são chamadas de conversão. Por isso ele sublinhou que o Sínodo está exigindo mudança, conversão.

O bispo de Santo André falou sobre três conversões: pastoral, que tem a ver com o modo de exercer a missão, também na mídia, alargar os lugares de evangelização; conversão estrutural, mais desafiadora, tendo como horizonte o Reino de Deus; conversão espiritual, a partir do encontro com a pessoa de Jesus, que é a referência, ponto de partida e de chegada, insistindo na importância da Palavra de Deus e do testemunho pessoal de vida.

“As palavras podem convencer, mas é o testemunho que arrasta”, enfatizou dom Pedro Cipollini. Ele defendeu a necessidade de uma mudança racional e emocional, e para isso se faz necessário “aprender a dar adeus a coisas antigas que já cumpriram sua missão e acolher o novo que está chegando neste Sínodo”.

Temas abordados

Durante a coletiva foi falado sobre as dificuldades e o drama dos migrantes, a criação de uma Assembleia Eclesial Mediterrânea, uma região onde as igrejas têm criado estruturas de redes. Foi abordada a questão de novas propostas para o atendimento aos jovens, a reconfiguração das paróquias em redes de pequenas comunidades, como caminho para agilizar a sinodalidade. O trabalho da Rede Talitha Kum, com os migrantes e vítimas do tráfico de pessoas, o acompanhamento sem paternalismos das pessoas com necessidades especiais, a necessidade de abalar as consciências dos católicos com relação aos pobres, a presença da Igreja onde o Espírito sopra, nas encruzilhadas, lugares de sinodalidade e não se fechar em lugares seguros.

Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, destacou o serviço da Vida Religiosa, a importância da relação entre sinodalidade e primazia, com a contribuição das igrejas orientais, as contribuições dos fóruns teológicos, o papel das conferências episcopais, como responder às perguntas da cultura e do contexto. Junto com isso, o valor das igrejas locais, o papel dos bispos, a necessidade de não ter medo da sinodalidade, o status das conferências episcopais, a importância da escuta do Papa aos fiéis e a centralidade da Eucaristia, entre outras questões. Finalmente, Ruffini lembrou que nesta sexta-feira haverá um encontro dos membros da Assembleia Sinodal com mais de 150 jovens na Sala Sinodal.

Por Willian Bonfim, com informações do VaticanNews

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Reflexão para o XXIX Domingo do Tempo Comum (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Jesus propõe: “... entre vós não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos.”

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A liturgia nos convida, especialmente hoje, a um exame de consciência em relação ao nosso modo de nos relacionarmos com nossos irmãos. Deus é o único Pai, o único Mestre, o único Senhor e, para nos ensinar como queria que fôssemos, como deverá ser a nova sociedade, se fez servo, servo de todos. Assim, seremos mais cristãos, mais semelhantes a Jesus Cristo, à medida em que tomarmos posição de servos e nossa vida for um serviço, através de nossas ações e de nosso modo de ser, isto é, do modo de tratar as pessoas, de nos vestir, de nos postar.

No Evangelho Jesus diz aos seus discípulos que eles não devem seguir os exemplos dos líderes que gostam de serem tratados como senhores, ao contrário, os discípulos, quanto mais alta a função, deverão vivê-la na atitude de servo, não apenas nas ações, mas em todos os sentidos.

Desejar ocupar os primeiros lugares, receber cumprimentos cerimoniosos, usar roupas luxuosas, ser chamado por títulos honoríficos, tudo isso deverá estar longe do coração e da vida do autêntico discípulo. Jesus propõe: “... entre vós não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos.”

O servo está sempre disponível, acessível ao seu senhor, de prontidão. Jesus condena a atitude dos mestres que permitem ou até exigem que seus discípulos lhes lavem os pés, ao contrário será ele a lavar os pés dos discípulos. Inclusive irá vivenciar isso de modo excepcional na cruz, quando nos lavará a todos do pecado.

Como poderei ser servo? Se sou casado, não me considerar superior ao meu cônjuge; se desempenho uma profissão de prestígio, não por isso considerar-me superior aos outros; se sou comerciante, não visar só meu lucro, mas apresentar boa mercadoria e com preço justo; se sou um religioso, ser acessível, disponível, simples e misericordioso no trato com os fiéis; enfim, o cristão segue em tudo a pessoa do Mestre.

Devo aprender com o episódio dos filhos de Zebedeu. O Batismo me introduziu em uma nova sociedade. É necessário permitir ao Espírito Santo que construa em minha vida um novo homem, uma nova mulher. Minha alegria deverá estar não em posicionamentos de honra segundo este mundo caduco, mas com o mundo dos ressuscitados no batismo. Aceitar beber o cálice de Jesus, receber o seu batismo significa aceitar sofrer por causa da justiça, da verdade, pela construção de uma nova humanidade.

Conforta-nos as palavras do autor da Carta aos Hebreus, em um trecho anterior ao proposto hoje à nossa reflexão, quando escreve: “...embora fosse Filho de Deus, aprendeu, com o seu sofrimento, como é difícil para o homem obedecer e aceitar a vontade de Deus”. Isso nos conforta ao reconhecermos como nos é difícil sermos servos e também faz sermos compreensivos com tantas pessoas, especialmente com aquelas que são religiosas.

Por outro lado, sirva-nos de exemplo e elevação a Deus, para glorificá-lo, o que foi relatado por uma agente da saúde, de Kampala, Uganda, na época do Sínodo para a África, em 2009: um grupo de doentes de AIDS, gente muito pobre, que sobrevive vendendo pedras para construtores, quando soube das devastações causadas pelo furacão Kathrina, nos EUA, e do recente terremoto na região do Abruzzo, fez uma coleta de dinheiro e enviou às cidades italianas e americanas atingidas. Por quê? “Porque o coração do homem é internacional, não tem raça e nem cor”, disse Rose.

“Vi um povo nascer e mudar na fé” – disse. “Estas pessoas quebram pedras e comem uma vez por dia. Quando pedimos para rezarem pelas vítimas destas tragédias, responderam que sabiam muito bem o que significa viver sem casa e sem comida. “Se pertencem a Deus, pertencem a nós também”... Assim, organizaram-se em grupos, quebraram mais pedras, e no final, haviam recolhido dois mil dólares, que enviaram à embaixada americana”. Concluamos nossa reflexão com a palavra de Jesus: “Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos.” (Mt 11,25).

Fonte: https://www.vaticannews.va/p

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF