2021.06.09
DOM ORANI TEMPESTA (VATICAN MEDIA)
Cardeal Tempesta publica nova Carta Pastoral por ocasião
do Jubileu de 2025
Com a Carta Pastoral: "Missão, Esperança e Paz",
por ocasião do Ano Santo de 2025 - “Peregrinos da Esperança”, cardeal Tempesta
institui também na Arquidiocese do Rio de Janeiro o Ministério de Catequistas.
Carlos Moioli – Arquidiocese do Rio de Janeiro
MISSÃO, ESPERANÇA E PAZ
Carta Pastoral do Cardeal
Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo de São Sebastião do Rio
de Janeiro
por ocasião do Ano Santo de 2025
“Peregrinos da Esperança”
20 de outubro de 2024
Dia Mundial das Missões.
O
Jubileu e a paz: tempo de reconstrução da unidade no Rio de Janeiro – Deus
habita esta cidade
77.
O jubileu é tempo de graça e de reconstrução. Em nossa grande cidade, muitas
vezes somos atingidos por uma avalanche de notícias negativas e de
acontecimentos preocupantes. São situações de violência, de pobreza, de
abandono, de ausência ou falhas na execução de políticas públicas, que geram um
aumento crescente da desigualdade social, e, não raro, abrem espaço para o
surgimento de situações que causam dor e sofrimento.
78.
O contato cotidiano com tantos aspectos negativos da realidade, muitas vezes
excessivamente explorados pela mídia, pode gerar, também em nós, homens e
mulheres de fé, um olhar pessimista diante de tantos problemas. Como
consequência, podemos nos deixar dominar pelo medo e pela tristeza e corremos o
risco de enxergar a realidade como algo imutável, sem perspectiva de mudança e
melhora.
79.
No entanto, também nesta oportunidade, o Santo Padre, o Papa Francisco, nos
convoca a sermos “peregrinos da esperança”. De fato, essa deve ser a nossa
missão de cristãos no mundo, e toca a nós, de modo especial, sermos peregrinos
da esperança em nossa Cidade Maravilhosa. Se temos tantos motivos de apreensão
e medo, é necessário ampliarmos nosso olhar sobre a realidade que nos cerca,
para reconhecermos que, apesar das tristezas, há também muitos motivos de
alegria.
80.
Por um lado, observamos uma crescente fragmentação de nossa grande cidade,
resultando em uma cidade dividida, setorizada em ambientes que muitas vezes não
dialogam entre si, permanecendo, de fato, isolados e incomunicáveis. Por outro
lado, é imprescindível reconhecer que um dos pontos mais relevantes da nossa
ação eclesial é justamente a capacidade de promover a integração, o diálogo e,
acima de tudo, assegurar nossa presença estável e permanente em todos os
espaços da cidade. Na multiforme e complexa conjuntura urbana do Rio de
Janeiro, a ação pastoral e missionária de nossa Arquidiocese se apresenta como
um sinal de esperança em meio a essa fragmentação, anunciando o Reino de Deus e
partilhando com as pessoas aquilo que temos.
81.
Essa presença pode ser sentida não apenas por uma forma de organização
estrutural e institucional, mas, acima de tudo, pela atuação de nossos agentes
de pastoral distribuídos por todo o território da cidade. Eles alcançam também
aquelas realidades que não são, especificamente, geográficas, mas muitas vezes
existenciais. É o que chamamos de capilaridade da ação pastoral. É nessa
capilaridade que temos nossa grande riqueza. Onde está presente um batizado,
está presente com ele e através dele toda a nossa Igreja Arquidiocesana.
82.
Nosso coração de pastor se rejubila em cada encontro. Tantas vezes em locais em
que muitos não querem ir, ali chegamos e percebemos que, antes de nós, já havia
uma ação eclesial. As realidades são as mais diversas, seja em uma
“Cracolândia”, às margens da linha de trem, ou no constante cuidado com a
população de rua, ou ainda nos inúmeros abrigos e asilos, nos hospitais, nos
cemitérios. Quando ocorre um evento adverso, podemos testemunhar que sempre
encontramos nossos agentes de pastoral atuando das mais variadas formas,
exercendo nossa missão de ser portadores de esperança.
83.
Se temos motivos para nos entristecer, podemos afirmar, caros filhos, que temos
muito mais motivos para nos alegrar. Somos chamados a fazer a experiência dessa
mudança de perspectiva: nossa presença nesta grande metrópole pode e deve ser o
fator para uma verdadeira mudança e transformação de nossa sociedade.
84.
Nossa tarefa não é fácil, mas é necessária. Não se trata, simplesmente, de
desejar a paz, mas, antes, de construí-la, no dia a dia, nos pequenos gestos e
atitudes. Nesse sentido, a experiência de celebrar o jubileu deve se tornar, em
nossa vida, uma oportunidade ímpar de renovar nossa experiência de encontro com
Cristo. Encontrá-lo em nossa vida, em nossa história, em nossas alegrias e em
nossas angústias. Renovar em nosso coração o encontro com Cristo nos faz
reafirmar nossa opção de segui-lo, nos faz colocá-lo no centro de nossa
existência, nos faz exercitar a cada dia o discipulado, trazendo em nosso
coração os mesmos sentimentos de Cristo (cf. Fl 2,5).
85.
Frequentemente desejamos transformar a realidade ao nosso redor, buscando
mudanças externas na sociedade ou na ação política. No entanto, a mudança mais
eficaz não ocorre fora de nós. A celebração do Jubileu pode ser o ponto de
partida para um projeto pessoal de transformação, que se inicia em nosso
coração, no íntimo de nossa alma. Trata-se de uma verdadeira mudança de
mentalidade, atitudes e prioridades, uma caminhada gradual e contínua,
semelhante a uma pequena semente que, germinando no interior do solo, permanece
invisível, mas, ao crescer, torna-se uma nova planta. Da mesma forma, nossas
novas atitudes devem começar no interior de nossos corações, para depois se
traduzirem em ações concretas em nossa vida cotidiana. Somos responsáveis pela
reconstrução de nossa cidade, sustentados pela unidade da fé que professamos.
86.
Nesse jubileu, gostaria de convidá-los a assumir conosco este propósito.
Permitamos que a experiência do Jubileu nos faça mudar não apenas o nosso olhar
sobre a realidade, mas, principalmente, as nossas ações. Em uma realidade de
violência, nossas atitudes sejam de paz, em uma realidade de abandono, nossas
atitudes sejam de acolhida, em uma realidade de condenação, nossas atitudes
sejam de perdão, em uma realidade de intolerância, nossas atitudes sejam de
tolerância. Enfim, que a fé que professamos com os lábios possa ser
testemunhada através de nossas ações concretas, manifestando Aquele a quem
encontramos e seguimos, Cristo Jesus.
87.
Desse modo, caríssimos irmãos e irmãs, convido-os a assumirem uma fé viva e
testemunhá-la em todas as situações da vida diária. Assim lançaremos sementes
de eternidade por onde passarmos. Deixaremos um rastro de boas ações e de
testemunhos concretos, anunciaremos a presença de Cristo em nossa cidade, não
simplesmente com palavras, mas com a nossa vida.
88.
Em um mundo que desaprendeu a amar, nós poderemos testemunhar que é possível
amar de verdade; em um mundo que, cada vez mais, afasta e constrói muros de
separação, poderemos ser construtores de pontes de diálogo, de acolhida e de
caridade; em um mundo em que o mal se paga com o mal, com violência e com
vingança, poderemos mostrar que é possível, mesmo diante do mal, fazer o bem.
Enfim, poderemos testemunhar que é possível, em meio a toda essa realidade que
nos cerca, viver, pensar e agir de um modo novo, pelo qual nossa vida fará
diferença no mundo em que vivemos.
89.
Assumamos juntos esse compromisso, que deverá ser exercitado e renovado todos
os dias. Busquemos uma verdadeira transformação de nosso coração e uma
autêntica mudança em nossas atitudes, para que, uma vez transformados, nos
tornemos agentes de transformação no mundo em que vivemos. Que a experiência do
encontro com Cristo nos leve a resplandecer Sua face através de nossas atitudes
e que nossa vida, reconstruída por Ele, seja um instrumento de reconstrução da
sociedade na qual estamos inseridos.
O que deixaremos como legado do Jubileu?
90.
Todo Ano Santo deve provocar em nós a conversão pessoal e comunitária das
nossas ações e a presença ativa na fé e na vida da comunidade eclesial. Este
Jubileu também nos impele a uma renovação de atitudes e posturas para assumir a
novidade que o Evangelho realiza toda vez que acolhemos a Palavra de Deus e a
pomos em prática.
91.
O grande legado que levamos do Jubileu está em nosso interior: no crescimento
da fé, na reconciliação, no fortalecimento dos laços familiares, no perdão, na
renovação das nossas vidas e na profunda experiência do amor e da misericórdia
de Deus. Essas são as maiores marcas que o Jubileu deve deixar em cada um de
nós.
92.
No entanto, é importante que esse tempo jubilar também seja marcado por sinais
externos, que se manifestem de forma concreta na vida pastoral e comunitária,
testemunhando nas nossas paróquias e comunidades o que vivemos internamente.
Por isso, queremos deixar um legado pastoral que perpasse o tempo do Jubileu,
manifestado através de iniciativas concretas: seja na criação de um espaço
dedicado à oração, em projetos sociais que atendam os mais necessitados, ou em
uma obra de evangelização que possa alcançar cada vez mais pessoas. Como parte
desses sinais visíveis, em cada uma das igrejas jubilares será colocada uma
cruz em mármore que representará o Ano Santo, e, nas demais igrejas matrizes de
cada paróquia, o logotipo do jubileu, em acrílico colorido, será instalado como
marco desse tempo jubilar.
93.
Ao proclamarmos com o nosso testemunho o “Ano da graça do Senhor”, que a
esperança seja o tema que norteie nossas vidas e atividades pessoais, pastorais
e comunitárias. Impulsionados pela graça que se derrama sobre cada um de nós e
sobre a Igreja como um todo, somos chamados a assumir o compromisso de difundir
esse dom com fidelidade e dedicação. Sejamos presença eclesial efetiva em nossa
cidade e no mundo: criando novos locais – e incrementando os existentes – de
atuação da Igreja que reza, ajuda o próximo, colabora, constrói, edifica,
ensina a fé cristã, dispensa os sacramentos e as inúmeras graças, e enche o
coração de esperança, porque Deus comunicou a sua salvação “de muitos modos e
maneiras” (Hb 1,1).
94.
Cada batizado (e cada pessoa que faz o bem) é uma presença do Senhor em todos
os locais do mundo. As atividades pastorais e evangelizadoras devem convergir
para um anúncio concreto da esperança que é Jesus Cristo. Para tanto, pensamos
também que a Pastoral da Escuta pode ser um legado do Jubileu
2025, assumido por todas as paróquias e futuramente elevado à condição de
ministério extraordinário tal como outros já existentes em nossa Arquidiocese.
95.
A Pastoral da Escuta – já existente em pouquíssimas comunidades – é presença de
quem, como o Cristo, ouve com atenção, acolhimento, solidariedade e compaixão
os dramas e sofrimentos do outro e projeta sobre eles as luzes do Espírito
Santo a fim de que, confiando em Deus, acredite que “a esperança não
decepciona” (Rm 5,5) e que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm
8,28). Será um espaço para gerar esperança, renovar a fé e a alegria, retomar
com otimismo e sob novas perspectivas os desafios da vida. Não podemos ficar
parados e inertes, mas, impelidos pela graça, devemos prosseguir decididamente,
como Peregrinos da Esperança!
96.
Abertos à graça que se derrama sobre cada um de nós neste tempo fecundo e
atentos à voz do Espírito que ora em nós e por nós, queremos ainda assinalar
que a memória do Ano Santo deverá perpetuar-se através de um marco
significativo que nos recorde a esperança no Senhor. Cada comunidade paroquial
deverá, portanto, discernir o sinal concreto que deseja deixar, para que o
Jubileu seja lembrado não apenas pela sua dimensão espiritual, mas também pelas
obras visíveis que dele nasceram.
97.
Seguindo os exemplos de São Sebastião e Santana, que possamos, neste jubileu,
ser testemunhas corajosas e fiéis do Evangelho em nossa grande cidade. Que
vivamos este tempo de graça com o coração renovado e desejoso de deixar um
legado de fé, unidade e amor em nossas comunidades e famílias.
98.
As comemorações do meu Jubileu de Ouro Sacerdotal, em sintonia com a preparação
e a celebração do Ano Santo, sejam marcadas por graças abundantes e pela
redescoberta da misericórdia de Deus, tempo propício para pedir ao Senhor da
messe que envie operários para a sua colheita. Assim, como o Jubileu nos
convida à renovação da fé e à reconciliação, ele também deve inspirar uma
renovada dedicação à promoção vocacional, especialmente ao ministério
sacerdotal. Que meu Jubileu sacerdotal seja, então, um terreno fértil de onde
brotem novas vocações, e que o testemunho dos sacerdotes inspire muitos jovens
a seguirem esse caminho de doação e de serviço à Igreja e ao mundo.
99.
O mês de outubro de 2024 é um período especial para a Igreja, marcado por
eventos significativos: a Semana Missionária, o Sínodo dos Bispos sobre a
Sinodalidade, as canonizações e o II Sínodo Arquidiocesano. A Semana
das Missões, com o tema "Viver a Missão: Testemunho de
Sinodalidade", destaca o papel de todos os batizados como missionários,
vivendo em comunhão e participando da evangelização. O Sínodo dos
Bispos sobre a Sinodalidade sublinha a importância de uma Igreja que
caminha unida, ouvindo e discernindo em comunidade, reforçando a missão
evangelizadora de maneira inclusiva e participativa. As canonizações deste
mês nos mostram que a santidade está ao alcance de todos e serve de inspiração
para nossa própria missão de viver o Evangelho. Por fim, o II Sínodo
Arquidiocesano marca o esforço da nossa Igreja local em promover a
renovação pastoral e a sinodalidade, convidando todas as paróquias e
comunidades a participarem ativamente no discernimento dos caminhos que Deus
nos aponta. Outubro, portanto, nos chama a renovar o compromisso missionário,
viver a sinodalidade e inspirar-nos no exemplo dos novos santos e na caminhada
sinodal da Arquidiocese.
100. Que
neste Ano Santo jubilar não nos falte a intercessão da Virgem Maria, a Senhora
da Penha, peregrina e mãe da esperança, para que, vivendo as abundantes bênçãos
deste tempo da graça, renovemos nossa fé em Cristo, nossa esperança! (1Tm 1,1)
Com afetuosa bênção,
São Sebastião do Rio de Janeiro,
20 de outubro de 2024.
Orani João Cardeal Tempesta, O.
Cist.
Arcebispo de São Sebastião do Rio
de Janeiro
Oração do Jubileu 2025
Pai que estás nos céus,
a fé que nos
deste no teu filho
Jesus Cristo, nosso irmão,
e a chama da caridade
derramada nos nossos corações pelo
Espírito Santo,
despertem em nós a
bem-aventurada esperança
para a vinda do teu Reino.
A tua graça nos transforme
em cultivadores diligentes das
sementes do Evangelho
que fermentem a humanidade e o
cosmos,
na espera confiante
dos novos céus e da nova terra,
quando, vencidas as potências do
Mal,
se manifestar para sempre a tua
glória.
A graça do Jubileu reavive em nós,
Peregrinos da Esperança,
o desejo dos bens celestes
e derrame sobre o mundo inteiro
a alegria e a paz do nosso
Redentor.
A ti, Deus bendito na eternidade,
louvor e glória pelos séculos dos
séculos.
Amém
Hino do Jubileu 2025
Chama viva da minha esperança, este canto suba para Ti!
Seio eterno de infinita vida, no caminho eu confio em Ti!
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt