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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

“Amou-nos”, a Encíclica do Papa sobre o Sagrado Coração de Jesus

Imagem do Sagrado Coração de Jesus (Vatican News)

“Dilexit nos”, a quarta Encíclica de Francisco, repercorre a tradição e a atualidade do pensamento “sobre o amor humano e divino do coração de Jesus Cristo”, convidando a renovar sua autêntica devoção para não esquecer a ternura da fé, a alegria de colocar-se a serviço e o fervor da missão: porque o Coração de Jesus nos impele a amar e nos envia aos irmãos.

Alessandro Di Bussolo – Vatican News

“'Amou-nos', diz São Paulo referindo-se a Cristo (Rm 8,37), para nos ajudar descobrir que nada ‘será capaz de separar-nos' desse amor (Rm 8,39)”. Assim começa a quarta Encíclica do Papa Francisco, intitulada a partir do incipit “Dilexit nos” e dedicada ao amor humano e divino do Coração de Jesus: “O seu coração aberto precede-nos e espera-nos incondicionalmente, sem exigir qualquer pré-requisito para nos amar e oferecer a sua amizade: Ele amou-nos primeiro (cf. 1 Jo 4, 10). Graças a Jesus, ‘conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele’ (1 Jo 4, 16)” (1).

LEIA AQUI O TEXTO INTEGRAL DA ENCÍCLICA

O amor de Cristo representado em seu santo Coração

Em uma sociedade - escreve o Papa - que vê a multiplicação de “várias formas de religiosidade sem referência a uma relação pessoal com um Deus de amor” (87), enquanto o cristianismo muitas vezes esquece “a ternura da fé, a alegria do serviço, o fervor da missão pessoa-a-pessoa” (88), o Papa Francisco propõe um novo aprofundamento sobre o amor de Cristo representado em seu santo Coração e nos convida a renovar nossa autêntica devoção, lembrando que no Coração de Cristo “encontramos todo o Evangelho” (89): É em seu Coração que “finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar” (30).

O mundo parece ter perdido seu coração

Francisco explica que, ao encontrar o amor de Cristo, “tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum”, como ele nos convida a fazer em suas encíclicas sociais Laudato si' e Fratelli tutti (217). E diante do Coração de Cristo, pede mais uma vez ao Senhor “que tenha compaixão desta terra ferida” e derrame sobre ela “os tesouros da sua luz e do seu amor”, para que o mundo, “que sobrevive entre guerras, desequilíbrios socioeconômicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia, recupere o que é mais importante e necessário: o coração” (31). Ao anunciar a preparação do documento, no final da audiência geral de 5 de junho, o Pontífice deixou claro que este ajudaria a meditar sobre os aspectos “do amor do Senhor que podem iluminar o caminho da renovação eclesial; mas também que podem dizer algo significativo a um mundo que parece ter perdido seu coração”. E isso enquanto as celebrações estão em andamento pelos 350 anos da primeira manifestação do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, em 1673, que se encerrarão em 27 de junho de 2025.

A importância de voltar ao coração

Aberta por uma breve introdução e dividida em cinco capítulos, a Encíclica sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus reúne, como anunciado em junho, “as preciosas reflexões de textos magisteriais precedentes e de uma longa história que remonta às Sagradas Escrituras, para repropor hoje, a toda a Igreja, esse culto carregado de beleza espiritual”.

O primeiro capítulo, “A importância do coração”, explica por que é necessário “voltar ao coração” em um mundo no qual somos tentados a “nos tornarmos consumistas insaciáveis e escravos na engrenagem de um mercado” (2). E faz isso analisando o que queremos dizer com “coração”: a Bíblia fala dele como um núcleo “que se esconde por detrás de todas as aparências” (4), um lugar onde “não conta o que mostramos exteriormente ou o que ocultamos, ali conta o que somos” (6). Ao coração conduzem as perguntas decisivas: que sentido quero dar à vida, às minhas escolhas e ações, quem sou diante de Deus (8). O Papa ressalta que a atual desvalorização do coração nasce do “racionalismo grego e pré-cristão, do idealismo pós-cristão e do materialismo”, de modo que, no grande pensamento filosófico, foram preferidos conceitos como “razão, vontade ou liberdade”. E não encontrando lugar para o coração, também “não se desenvolveu suficientemente a ideia de um centro pessoal” que pode unificar tudo, ou seja, o amor, (10). Ao invés, para o Pontífice, é preciso reconhecer que “eu sou o meu coração, porque é ele que me distingue, que me molda na minha identidade espiritual e que me põe em comunhão com as outras pessoas” (14).

O mundo pode mudar a partir do coração

É o coração “que une os fragmentos” e torna possível “qualquer vínculo autêntico, porque uma relação que não é construída com o coração não pode ultrapassar a fragmentação do individualismo” (17). A espiritualidade de santos como Inácio de Loyola (aceitar a amizade do Senhor é uma questão de coração) e São John Henry Newman (o Senhor nos salva falando ao nosso coração a partir do seu sagrado Coração) nos ensina, escreve o Papa Francisco, que “perante o Coração de Jesus vivo e atual, o nosso intelecto, iluminado pelo Espírito, compreende as palavras de Jesus” (27). E isso tem consequências sociais, porque o mundo pode mudar “a partir do coração” (28).

“Gestos e palavras de amor”

O segundo capítulo é dedicado aos gestos e palavras de amor de Cristo. Os gestos com os quais nos trata como amigos e mostra que Deus “é proximidade, compaixão e ternura” são vistos em seus encontros com a Samaritana, com Nicodemos, com a prostituta, com a mulher adúltera e com o cego no caminho (35). Seu olhar, que “perscruta as profundezas do seu ser” (39), mostra que Jesus “está atento às pessoas, às suas preocupações, ao seu sofrimento” (40). De tal forma “que admira as coisas boas que encontra em nós”, como no centurião, mesmo que os outros as ignorem (41). Sua palavra de amor mais eloquente é ser “pregado numa cruz” (46), depois de chorar por seu amigo Lázaro e sofrer no Jardim das Oliveiras, ciente de sua própria morte violenta “nas mãos daqueles que tanto amava” (45).

O mistério de um coração que amou tanto

No terceiro capítulo, “Este é o coração que tanto amou”, o Pontífice recorda como a Igreja reflete e refletiu no passado “sobre o santo mistério do Coração do Senhor”. Ele faz isso fazendo referência à Encíclica Haurietis aquas, de Pio XII, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus (1956). Ele deixa claro que “a devoção ao Coração de Cristo não é o culto a um órgão separado da Pessoa de Jesus”, porque adoramos a “Jesus Cristo por inteiro, o Filho de Deus feito homem, representado numa imagem sua em que se destaca o seu coração” (48). A imagem do coração de carne, ressalta o Papa, nos ajuda a contemplar, na devoção, que “o amor do coração de Jesus não compreende somente a caridade divina, mas se estende aos sentimentos do afeto humano” (61). Seu Coração, prossegue Francisco citando Bento XVI, contém um “tríplice amor”: o amor sensível do seu coração físico “e o seu duplo amor espiritual, o humano e o divino” (66), no qual encontramos “o infinito no finito” (64).

O Sagrado Coração de Jesus é um compêndio do Evangelho

As visões de alguns santos, particularmente devotos do Coração de Cristo, ressalta Francisco, “são belos estímulos que podem motivar e fazer muito bem”, mas “não são algo em que os crentes sejam obrigados a acreditar como se fossem a Palavra de Deus”. Em seguida, o Papa lembra com Pio XII que não se pode dizer que este culto “deve a sua origem a revelações privadas”. Aliás, “a devoção ao Coração de Cristo é essencial para a nossa vida cristã, na medida em que significa a nossa abertura, cheia de fé e de adoração, ao mistério do amor divino e humano do Senhor, até ao ponto de podermos voltar a afirmar que o Sagrado Coração é um compêndio do Evangelho” (83). O Pontífice nos convida, então, a renovar a devoção ao Coração de Cristo também para combater as “novas manifestações de uma ‘espiritualidade sem carne’” que estão se multiplicando na sociedade (87). É necessário retornar à “síntese encarnada do Evangelho” (90) diante de “comunidades e pastores concentrados apenas em atividades exteriores, em reformas estruturais desprovidas de Evangelho, em organizações obsessivas, em projetos mundanos, em reflexões secularizadas, em várias propostas apresentadas como requisitos que, por vezes, se pretendem impor a todos” (88).

A experiência de um amor “que dá de beber”

Nos dois últimos capítulos, o Papa Francisco destaca os dois aspectos que “a devoção ao Sagrado Coração deve reunir hoje para continuar a alimentar-nos e a aproximar-nos do Evangelho: a experiência espiritual pessoal e o compromisso comunitário e missionário” (91). No quarto, “O amor que dá de beber”, relê as Sagradas Escrituras e, com os primeiros cristãos, reconhece Cristo e seu lado aberto em “aquele a quem trespassaram”, a quem Deus se refere na profecia do livro de Zacarias. Uma fonte aberta para o povo, para saciar a sede do amor de Deus, “para a purificação do pecado e da impureza” (95). Vários Padres da Igreja mencionaram “a chaga no lado de Jesus como a origem da água do Espírito”, sobretudo Santo Agostinho, que “abriu o caminho para a devoção ao Sagrado Coração como lugar de encontro pessoal com o Senhor” (103).  Esse lado trespassado, recorda o Papa, “assumiu gradualmente a forma do coração” (109), e enumera várias santas mulheres que “relataram experiências de encontro com Cristo, caracterizado pelo repouso no Coração do Senhor” (110). Entre os devotos dos tempos modernos, a Encíclica fala, em primeiro lugar, de São Francisco de Sales, que representa a sua proposta de vida espiritual com um “coração trespassado por duas flechas, encerrado numa coroa de espinhos” (118)

As aparições a Santa Margarida Maria Alacoque

Sob a influência dessa espiritualidade, Santa Margarida Maria Alacoque relata as aparições de Jesus em Paray-le-Monial, entre o fim de dezembro de 1673 e junho de 1675. O núcleo da mensagem que nos é transmitida pode ser resumido nas palavras que Santa Margarida ouviu: “Eis aqui este Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se tem poupado até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor” (121).

Teresa de Lisieux, Inácio de Loyola e Faustina Kowalska

De Santa Teresa de Lisieux, o documento recorda o fato de chamar Jesus de “Aquele cujo coração batia em uníssono com o meu” (134) e suas cartas à Irmã Maria, que ajudam a não concentrar a devoção ao Sagrado Coração “no âmbito da dor”, como o daqueles que entendiam a reparação como uma espécie de “primado dos sacrifícios”, mas na confiança “como a melhor oferta, agradável ao Coração de Cristo” (138). O Pontífice jesuíta também dedica algumas passagens da Encíclica ao lugar do Sagrado Coração na história da Companhia de Jesus, enfatizando que, em seus Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loyola propõe ao exercitante “entrar no Coração de Cristo” em um diálogo de coração para coração. Em dezembro de 1871, o Padre Beckx consagrou a Companhia ao Sagrado Coração de Jesus e o Padre Arrupe voltou a fazê-lo em 1972 (146). As experiências de Santa Faustina Kowalska, recorda-se, repropõem a devoção “colocando uma forte ênfase na vida gloriosa do Ressuscitado e na misericórdia divina” e, motivado por elas, São João Paulo II também “relacionou intimamente a sua reflexão sobre a misericórdia com a devoção ao Coração de Cristo” (149). Falando da “devoção da consolação”, a Encíclica explica que, diante dos sinais da Paixão conservados pelo coração do Ressuscitado, é inevitável “que o fiel queira responder” também “à dor que Cristo aceitou suportar por causa de tanto amor” (151). E pede “que ninguém ridicularize as expressões de fervor devoto do santo povo fiel de Deus, que na sua piedade popular procura consolar Cristo” (160). Pois que, então, “desejando consolá-lo, saímos consolados” e assim “também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer tribulação” (162).

A devoção ao Coração de Cristo nos envia aos irmãos

O quinto e último capítulo, “Amor por amor”, aprofunda a dimensão comunitária, social e missionária de toda autêntica devoção ao Coração de Cristo, que, ao mesmo tempo que “nos conduz ao Pai, envia-nos aos irmãos” (163). De fato, o amor aos irmãos é o “maior gesto que possamos oferecer-lhe para retribuir amor por amor” (167). Olhando para a história da espiritualidade, o Pontífice recorda que o empenho missionário de São Charles de Foucauld fez dele um “irmão universal”: “deixando-se plasmar pelo Coração de Cristo, quis abraçar no seu coração fraterno toda a humanidade sofredora” (179). Francisco fala então de “reparação”, como explicava São João Paulo II: “entregando-nos em conjunto ao Coração de Cristo, ‘sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e pela violência, poderá ser construída a civilização do amor tão desejada, o Reino do Coração de Cristo’” (182).

A missão de fazer o mundo se apaixonar

A Encíclica recorda novamente com São João Paulo II que “a consagração ao Coração de Cristo ‘deve ser aproximada à ação missionária da própria Igreja, porque responde ao desejo do Coração de Jesus de propagar no mundo, através dos membros do seu Corpo, a sua total dedicação ao Reino’. Por conseguinte, através dos cristãos, ‘o amor difundir-se-á no coração dos homens, para que se construa o Corpo de Cristo que é a Igreja e se edifique uma sociedade de justiça, de paz e de fraternidade’” (206). Para evitar o grande risco, sublinhado por São Paulo VI, de que na missão “se digam e façam muitas coisas, mas não se consiga promover o encontro feliz com o amor de Cristo” (208), precisamos de “missionários apaixonados, que se deixem cativar por Cristo” (209).

A oração de Francisco

O texto se conclui com a seguinte oração de Francisco: “Peço ao Senhor Jesus Cristo que, para todos nós, do seu Coração santo brotem rios de água viva para curar as feridas que nos infligimos, para reforçar a nossa capacidade de amar e servir, para nos impulsionar a fim de aprendermos a caminhar juntos em direção a um mundo justo, solidário e fraterno. Isto até que, com alegria, celebremos unidos o banquete do Reino celeste. Aí estará Cristo ressuscitado, harmonizando todas as nossas diferenças com a luz que brota incessantemente do seu Coração aberto. Bendito seja!” (220).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

DOCUMENTOS: “A imagem cristã do homem”: o texto inédito que Bento XVI autorizou a publicar após a sua morte

Papa Bento XVI Escrevendo (ZENIT)

Um dos pontos mais notáveis ​​do escrito são as críticas do Papa Emérito às correntes ideológicas atuais, como a ideologia de género e a manipulação da vida em laboratórios. Segundo Bento XVI, estas tendências são fruto de um marxismo disfarçado de liberalismo extremo, que distorceu o conceito de liberdade e ameaça minar a essência do que significa ser humano.

22 DE OUTUBRO DE 2024 23H49 ZENIT DOCUMENTOS EDITORIAIS

(ZENIT Notícias / Roma, 22/10/2024).- Um documento inédito do Papa Emérito Bento XVI, intitulado “A imagem cristã do homem”, revela uma profunda reflexão sobre os problemas morais e sociais que enfrenta a humanidade contemporânea. Este texto, escrito entre o Natal e a Epifania 2019-2020, aborda com especial atenção a crise da identidade, da família e do amor humano, temas que para o Papa Emérito são essenciais na busca de um futuro mais coerente com a dignidade do ser humano.

A publicação foi realizada pelo “Projeto Veritas Amoris”, fundado em 2019 com o objetivo de dar continuidade ao trabalho do Instituto João Paulo II de Estudos sobre Matrimônio e Família. O texto de Bento XVI aparece no  terceiro volume da revista italiana deste projeto , espaço que busca traçar caminhos para a verdade do amor em meio a um mundo em constante transformação.

Um dos pontos mais notáveis ​​do escrito são as críticas do Papa Emérito às correntes ideológicas atuais, como a ideologia de género e a manipulação da vida em laboratórios. Segundo Bento XVI, estas tendências são fruto de um marxismo disfarçado de liberalismo extremo, que distorceu o conceito de liberdade e ameaça minar a essência do que significa ser humano. Através das suas palavras, o Papa Emérito procura sublinhar que uma verdade sem amor se torna fria, e que é na combinação de ambos que reside a esperança de uma sociedade mais justa e humana.

Este último legado intelectual de Bento XVI não só convida a uma reflexão profunda sobre as questões mais prementes do nosso tempo, mas também deixa um aviso claro: a humanidade deve encontrar um equilíbrio entre o progresso e a preservação da sua natureza, ou correrá o risco de o conseguir. perdido na confusão dos tempos modernos. Abaixo está uma tradução espanhola do artigo.

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“A imagem cristã do homem”

Por Bento XVI

A atmosfera que se difundiu amplamente no cristianismo católico após o Concílio Vaticano II foi inicialmente concebida unilateralmente como uma demolição dos muros, como “derrubar as fortalezas”, de tal forma que em certos círculos começou a temer-se o fim do catolicismo. ou mesmo esperar com alegria.

A firme determinação de Paulo VI e a igualmente clara, mas alegremente aberta, de João Paulo II, conseguiram mais uma vez assegurar à Igreja – humanamente falando – o seu próprio espaço na história futura. Quando João Paulo II, que veio de um país dominado pelo marxismo, foi eleito Papa, alguns pensaram que um Papa vindo de um país socialista deveria ser necessariamente um Papa socialista e, portanto, levaria a cabo a reconciliação do mundo como uma “reductio ad unum” do cristianismo e do marxismo. A insensatez desta posição rapidamente se tornou evidente, assim que se percebeu que um Papa vindo de um mundo socialista conhecia perfeitamente as injustiças daquele sistema, e foi assim que pôde contribuir para a surpreendente viragem que ocorreu em 1989, com o fim do governo marxista na Rússia.

No entanto, tornou-se cada vez mais evidente que o declínio dos regimes marxistas estava longe de ter constituído uma vitória espiritual para o cristianismo. A secularização radical, por outro lado, revela-se cada vez mais como a autêntica visão dominante, privando cada vez mais o Cristianismo do seu espaço vital.

Livro inédito do Bento XVI (CANTAGALLI | ZENIT)

Desde os seus primórdios, a modernidade começa com o apelo à liberdade do homem: a partir da ênfase de Lutero na liberdade cristã e do humanismo de Erasmo de Roterdão. Mas foi apenas na era das convulsões históricas após duas guerras mundiais, quando o marxismo e o liberalismo se tornaram dramaticamente extremos, que surgiram dois novos movimentos que levaram a ideia de liberdade a um radicalismo inimaginável até então.

Na verdade, hoje se nega que o homem, como ser livre, esteja de alguma forma ligado a uma natureza que determina o espaço da sua liberdade. O homem já não tem natureza, mas “faz-se” a si mesmo. Já não existe natureza humana: é ele quem decide o que é, homem ou mulher. É o homem quem produz o homem e quem decide assim o destino de um ser que já não vem das mãos de um Deus criador, mas do laboratório das invenções humanas. A abolição do Criador como abolição do homem tornou-se então a autêntica ameaça à fé. Este é o grande desafio que a teologia enfrenta hoje. E só conseguireis enfrentá-lo se o exemplo de vida dos cristãos for mais forte que o poder das negações que nos cercam e nos prometem uma falsa liberdade.

A consciência da impossibilidade de resolver um problema desta dimensão apenas a nível teórico não nos isenta, no entanto, de tentar propor uma solução ao nível do pensamento.

Natureza e liberdade parecem, a princípio, estar inconciliavelmente opostas: porém, a natureza do homem é pensada, isto é, é criação, e como tal, não é simplesmente uma realidade desprovida de espírito, mas carrega em si o “Logos ”. Os Padres da Igreja – e em particular Atanásio de Alexandria – conceberam a criação como a coexistência da “sapientia” incriada e da “sapientia” criada. Aqui tocamos o mistério de Jesus Cristo, que une em si a sabedoria criada e a incriada e que, como sabedoria encarnada, nos chama a estar juntos com Ele.

Assim, a natureza – que é dada ao homem – já não é distinta da história da liberdade do homem e carrega em si dois momentos fundamentais.

Por um lado, somos informados de que o ser humano, o homem Adão, começou mal a sua história desde o início, de tal forma que o facto de ser humano, a humanidade de cada um, traz consigo um defeito original. “Pecado original” significa que cada ação individual está previamente registrada em um caminho errado.

Contudo, a isto se acrescenta a figura de Jesus Cristo, o novo Adão, que pagou antecipadamente a redenção para todos nós, oferecendo assim um novo começo na história. Isto significa que a “natureza” do homem está, de alguma forma, doente, necessitada de correção (“spoliata et vulnerata”). Isto coloca-o em oposição ao espírito, à liberdade, tal como a experimentamos continuamente. Mas, em termos gerais, também já está resgatado. E isto num duplo sentido: porque em geral já foi feito o suficiente por todos os pecados e porque ao mesmo tempo esta correção pode sempre ser concedida a cada um no sacramento do perdão.

Por um lado, a história do homem é a história de falhas sempre novas; Por outro lado, a cura está sempre disponível. O homem é um ser que precisa de cura, de perdão. O facto de este perdão existir como uma realidade e não apenas como um belo sonho pertence ao coração da imagem cristã do homem. É aí que a doutrina dos sacramentos encontra o seu devido lugar. A necessidade do Batismo e da Penitência, da Eucaristia e do Sacerdócio, bem como do sacramento do Matrimônio.

A partir daqui, a questão da imagem cristã do homem pode então ser abordada concretamente. Em primeiro lugar, é importante a observação expressa por São Francisco de Sales: não existe “uma” imagem do homem, mas antes muitas possibilidades e muitos caminhos nos quais a imagem do homem se apresenta: de Pedro a Paulo, de Francisco a Tomé Tomás de Aquino, do Irmão Conrad ao Cardeal Newman, e assim por diante. Onde há sem dúvida um certo destaque que fala a favor de uma predileção pelos “pequenos”.

Naturalmente, também seria útil examinar neste contexto a interação entre a “Torá” e o Sermão da Montanha, sobre o qual já falei brevemente no meu livro sobre Jesus.

Fonte: https://es.zenit.org/2024/10/22/la-imagen-cristiana-del-hombre-el-texto-inedito-que-benedicto-xvi-autorizo-publicar-tras-su-muerte/

Bispos da África falam sobre impacto do Sínodo da Sinodalidade no continente

O cardeal congolês Fridolin Ambongo Besungu; dom Andrew Nkea Fuanya, dos Camarões e o cardeal Edouard Sinayobye, de Ruanda, conversam com jornalistas em entrevistas coletivas do Sínodo da Sinodalidade em outubro de 2024. | Daniel Ibáñez/CNA

Bispos da África falam sobre impacto do Sínodo da Sinodalidade no continente

Por Kristina Millare*

23 de out de 2024

Delegados africanos de alto escalão que participaram das reuniões deste ano do Sínodo da Sinodalidade no Vaticano falaram sobre suas perspectivas sobre a jornada de “caminhar juntos como povo de Deus” e seu impacto na vida da Igreja na África.

O arcebispo de Kinshasa, República Democrática do Congo, dom Fridolin cardeal Ambongo, presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagascar (SECAM), falou ontem (22) a jornalistas sobre sua satisfação com as negociações sinodais globais deste ano que estão sendo realizadas no Vaticano.

“Devo dizer que estou feliz com o sínodo, que foi convocado para desenvolver uma nova maneira de ser Igreja e não para resolver questões específicas que existem na Igreja”, disse Ambongo ontem (22) em entrevista coletiva.

Mas como o Sínodo da Sinodalidade realmente teve impacto na Igreja na África? E como a Igreja na África teve impacto no processo sinodal global, quando proporcionalmente poucos africanos participam da sessão deste mês no Vaticano?

Pequenas comunidades cristãs: uma Igreja de base

O arcebispo de Bamenda, Camarões, dom Andrew Nkea Fuanya, disse aos jornalistas na entrevista coletiva que a sinodalidade é um “sinal escatológico” na Igreja hoje e falou sobre a importância das pequenas comunidades cristãs como “um grande tesouro para a África”.

“Estamos passando por um momento de boom do catolicismo na África”, disse o arcebispo camaronês. “A sinodalidade ganha muita vida nas pequenas comunidades cristãs porque não se vive no anonimato como católico”.

O padre Don Bosco Onyalla, editor-chefe da ACI África, agência para a África do grupo ACI, disse à CNA, agência em inglês da EWTN News, que o conceito teológico de sinodalidade em que “as pessoas se reúnem” é uma realidade e tradição que já é vivida entre os católicos em todo o continente.

“Na África, a Igreja foi concebida como um grupo de famílias — as pequenas comunidades cristãs”, disse o padre Onyalla. “A estrutura da Igreja na África é de famílias de base se unindo”.

O padre Onyalla disse também que “a instituição da família” — que se estende além do conceito ocidental de família nuclear — poderia “ser uma fonte de inspiração para outras partes do mundo”.

Comunhão, unidade e reconciliação

Segundo o bispo de Cyangugu, Ruanda, dom Edouard Sinayobye, o processo sinodal lançado pelo papa Francisco para a Igreja universal em 2021 dá os “fundamentos bíblicos e teológicos” para crescer em comunhão e reconciliação com Deus e com os outros.

Ruanda está em uma jornada de cura depois do genocídio ocorrido há 30 anos, que matou cerca de 800 mil pessoas do grupo étnico minoritário tutsi.

“Para nós, em Ruanda, falar sobre fraternidade e unidade é realmente uma mensagem muito bem recebida pelas pessoas — ajuda as pessoas a caminharem juntas e a fazerem a jornada juntas — porque depois de tudo o que aconteceu, estamos aprendendo a ser irmãos e irmãs”, disse o bispo a jornalistas em entrevista coletiva no Vaticano em 14 de outubro.

“Devemos acompanhar as vítimas e os perpetradores — isso é algo que fazemos em todas as paróquias e este sínodo nos ajudou consideravelmente”, disse dom Sinayobye. “Foi um espaço no qual fomos realmente capazes de aprofundar a maneira como podemos abordar a reconciliação”.

Cuidar dos pobres e vulneráveis

O arcebispo de Juba, Sudão do Sul, o cardeal Stephen Ameyu Martin Mulla, falou sobre seu apelo para que a Igreja em todo o mundo viva em solidariedade com os pobres e vulneráveis ​​que vivem em vários países.

Dom Mulla espera que o Sínodo da Sinodalidade promova o diálogo ativo e a colaboração entre os católicos e ajude a promover a doutrina social da Igreja, incluindo os princípios de solidariedade, a promoção da paz e a opção preferencial pelos pobres.

“Sinodalidade — caminhar juntos — deve ser o caminho para resolvermos nossos próprios problemas. E espero que todos nós juntos possamos resolver esses problemas”, disse o cardeal a jornalistas em entrevista coletiva no Vaticano em 18 de outubro.

“Os problemas que afetam o Sudão, ou o Sudão do Sul, ou a Colômbia, ou outras partes dos países do Mediterrâneo são nossos problemas”, disse o cardeal. “Estamos relacionados — inter-relacionados — e o diálogo tem que acontecer. Devemos sentir [compaixão] sobre essas situações”.

A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN International) diz que a África é a região prioritária para seus projetos. No ano passado, 31,4% de suas atividades foram dedicadas a apoiar padres e comunidades locais que sofrem perseguição ou pobreza persistente em todo o continente.

*Kristina Millare é jornalista freelance com experiência profissional em comunicação no setor de ajuda humanitária e desenvolvimento, jornalismo de notícias, marketing de entretenimento, política e governo, negócios e empreendedorismo.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59747/bispos-da-africa-falam-sobre-impacto-do-sinodo-da-sinodalidade-no-continente

As três encíclicas do Papa Francisco, antes da publicação de “Dilexit nos”

Antoine Mekary | ALETEIA

I.Media - publicado em 23/10/24

Nesta quinta-feira, 24 de outubro, será publicada uma nova encíclica do Papa Francisco, por isso revisamos as três encíclicas anteriores do pontífice: Lumen fidei (2013), Laudato si' (2015) e Fratelli tutti (2020).

No dia 24 de outubro de 2024, o Papa Francisco publicará Dilexit nos (“Ele nos amou”, em latim), a quarta de suas encíclicas, dedicada ao “amor humano e ao Sagrado Coração de Jesus Cristo”.

Formalizada no século XVIII, a encíclica é uma carta do Papa dirigida aos bispos, aos fiéis da Igreja Católica e, por vezes, também “aos homens de boa vontade”. Do ponto de vista magisterial, é considerada mais importante que uma exortação apostólica, que por sua vez é mais importante que uma carta apostólica.

Lumen fidei, a quatro mãos com Bento XVI

Para completar a sua série de encíclicas dedicadas às três virtudes teologais (fé, esperança e caridade), Bento XVI avançou na elaboração de uma encíclica sobre a fé. No entanto, ele não teve tempo de publicá-lo antes de Pedro renunciar ao trono em fevereiro de 2013.

Após a sua eleição, o Papa Francisco decidiu retomar a obra do seu antecessor e completá-la, publicando Lumen fidei (A Luz da Fé) em 5 de julho de 2013. Com isso, demonstrou o seu desejo de assumir plenamente o legado de Bento XVI.

A Lumen fidei pretende sublinhar que a fé não é “uma ilusão de luz que dificulta o nosso caminho de homens livres rumo ao futuro”, mas, pelo contrário, “uma luz” que pode “iluminar o presente”. Não nos distância do mundo, insiste o Papa Francisco, porque a fé “não é alheia ao compromisso concreto dos nossos contemporâneos”.

As grandes linhas do pontificado do Papa Francisco podem ser percebidas em todos os momentos, como quando ele escreve que “a história da fé, desde as suas origens, foi uma história de fraternidade”, ou que a fé “nos faz respeitar mais a natureza, fazendo com que reconhecemos nela uma gramática escrita por [Deus]".

Laudato si', a encíclica do 'papa verde'

Antoine Mekary/Godong

Raramente uma encíclica teve tanto alcance como a Laudato si', texto do Papa Francisco sobre ecologia integral, publicado em 2015.

Inspirado no Cântico das Criaturas de São Francisco, do qual é emprestada a primeira linha do título ( Laudato si' , isto é, "Louvado sejas"), com este documento o Papa assume-se como uma das principais vozes a favor de “salvaguardar a Casa Comum” (subtítulo da encíclica).

A publicação da encíclica poucos meses antes da COP21 em Paris confere-lhe um impacto político e mediático sem precedentes.

Neste texto, o Papa apoia-se em relatórios de especialistas, particularmente os do IPCC, para denunciar os males que a Terra sofre devido à crise ecológica. Ele alerta contra uma forma de antropocentrismo moderno alimentada por um “paradigma tecnocrático dominante”, que considera a principal fonte da crise.

Perante este declínio previsto, o Papa Francisco propõe uma “ecologia integral”, isto é, uma visão de ecologia que integre todas as dimensões da vida. Num mundo em que “tudo está relacionado”, insiste ele, é contraproducente separar a ecologia científica ou política das dimensões humana e social.

Neste texto, com conotações sociais particularmente fortes, Francisco apela a um amplo diálogo ecológico a todos os níveis e a uma conversão pessoal para um modo de vida mais responsável.

Fratelli tutti, um manual universal de fraternidade

Inspirada mais uma vez em São Francisco de Assis, a encíclica Fratelli tutti é publicada no contexto particular da pandemia de Covid-19, uma crise que despertou “a consciência de que constituímos uma comunidade global que navega no mesmo barco”, escreve.

Neste documento, que resume os grandes princípios do seu pontificado centrado nas “periferias” e nos “marginalizados”, o Papa convida todas as pessoas de boa vontade, cristãs e não-cristãs, a cultivarem a “amizade social”.

Neste texto, o Papa desenvolve as suas reflexões sobre a “cultura do desperdício” e os ataques à dignidade humana, demasiado frequentes no mundo de hoje. Lembre-se, por exemplo, que os migrantes devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados.

No que diz respeito ao diálogo inter-religioso, o Papa confessa que a encíclica também se inspira no Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed Al Tayyeb. Reitera o seu apelo a todas as religiões para que condenem a violência cometida em seu nome.

O Papa Francisco também faz uma série de apelos no decorrer desta encíclica, que é mais uma vez decididamente social. Apela a uma proibição universal da pena de morte e das armas nucleares. Considera ainda que “hoje é muito difícil” defender o princípio da “guerra justa”. Ele ecoa as palavras do seu antecessor Paulo VI, que falou perante as Nações Unidas em 1965: “Nunca mais guerra!”

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/10/23/las-tres-enciclicas-del-papa-francisco-antes-de-la-publicacion-de-dilexit-nos

Santo Antônio Maria Claret

Santo Antônio Maria Claret (A12)
24 de outubro
País: Espanha (Barcelona)
Santo Antônio Maria Claret

Antônio nasceu em 23 de dezembro de 1807, em Barcelona, na Espanha. Na família aprendeu o caminho do seguimento de Cristo, a devoção à Maria e o profundo amor à Eucaristia. Na adolescência ouviu o chamado para servir à Deus. Assim, acrescentou o nome de "Maria" ao seu, para dar testemunho de que a ela dedicaria sua vida de religioso.

Em 1835 recebeu a ordenação sacerdotal. Trabalhou como pároco e depois, recorrendo a Roma, passou a ser missionário itinerante pela Espanha. Em 1948 foi enviado para evangelizar as ilhas Canárias.

Em 1849 na companhia de outros cinco jovens sacerdotes, fundou a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, ou Padres Claretianos. Nesse mesmo ano, o fundador foi nomeado arcebispo de Cuba. Neste país sofreu hostilidade dos grupos maçônicos.

Mas Monsenhor Claret continuou seu trabalho. Restaurou o antigo seminário cubano, deu apoio aos negros e índios escravos. Quando voltou à Madri em 1857, para ser confessor da rainha Isabel II, deixou a Igreja de Cuba mais unida, mais forte e resistente. Morreu com 63 anos no dia 24 de outubro de 1870, na França.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Santo Antonio Maria Claret destaca-se pelo amor a Palavra de Deus, que tratava com familiaridade e respeito. Ungido pelo Espírito Santo para evangelizar os pobres, é a palavra de Deus que configura sua personalidade no seguimento de Jesus e dos apóstolos. Em tudo Maria Claret fazia a vontade de Deus com humildade e claridade.

Oração:

Deus, nosso Pai, Santo Antônio Maria Claret foi inflamado pelo fogo do vosso Espírito Santo. À todos procurou levar a mensagem do Reino segundo as exigências de seu tempo. Senhor, saibamos nós também responder aos desafios de nosso tempo, extraindo do Evangelho a inspiração para o nosso agir e pensar. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

EDITORIAL: Um coração que muda o mundo

Papa Francisco abraça uma mulher idosa (Vatican Media)

A encíclica do Papa Francisco nos ajuda a compreender o modo como Cristo nos ama.

Andrea Tornielli

O Papa Francisco escreve em sua nova encíclica que “o modo como Cristo nos ama é algo que Ele não quis explicar muito. Ele mostrou isso em seus gestos. Observando-o agir, podemos descobrir como ele trata cada um de nós...”. Filhos como somos do racionalismo grego, do idealismo pós-cristão, do materialismo e, hoje, na cultura líquida do individualismo, lutamos para entender plenamente que o cristianismo não é redutível a uma teoria, uma filosofia, um conjunto de normas morais ou mesmo uma sequência de emoções sentimentalistas. É, em vez disso, um encontro com uma Pessoa viva.

Compreender o modo como ele nos ama, ou seja, como ele nos atrai e nos chama, e entrar em um relacionamento com ele não pode, portanto, ser reduzido ao raciocínio, a uma identidade cultural a ser ostentada ou a um manual de regras a ser consultado quando necessário. Compreender como Jesus nos ama tem a ver com o coração: é uma história de gestos, olhares e palavras. É uma história de amizade, uma questão de coração. “Eu sou o meu coração”, escreve o Sucessor de Pedro, ‘porque é o que me distingue, me configura em minha identidade espiritual e me coloca em comunhão com as outras pessoas’. Podemos entender como Jesus nos ama, sugere Francisco, “vendo-o agir”, ou seja, meditando as cenas do Evangelho e deixando-nos surpreender pelos eventos evangélicos que continuam a acontecer ao nosso redor, talvez onde menos esperamos.

Observando-O agir, vemos que Jesus “dá toda a sua atenção às pessoas, às suas preocupações, aos seus sofrimentos”. O que o Nazareno propõe é “o pertencimento mútuo de amigos”. Ele veio, venceu todas as distâncias, fez-se tão próximo de nós como as coisas mais simples e cotidianas da existência. De fato, Ele tem outro nome, que é “Emanuel” e significa “Deus conosco”, Deus próximo de nossas vidas, vivendo entre nós. O Filho de Deus se encarnou” e esvaziou-se, tornando-se servo e sacrificando-se por amor.

Encontrar a fé cristã é encontrar o coração de Cristo, aquele coração incapaz de permanecer indiferente, que nos abraça com sua infinita misericórdia e nos convida a imitá-lo. E isso tem consequências sociais, porque o mundo, que sobrevive em meio a guerras, desequilíbrios socioeconômicos, consumismo e uso anti-humano da tecnologia, “pode mudar a partir do coração”. A encíclica Dilexit nos se torna, portanto, uma chave interpretativa de todo o pontificado.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Como resolver nossas dificuldades de maneira cristã

Mangusto | Obturador

Carlos Padilla Esteban - publicado em 25/05/22 - atualizado em 22/10/24

As dificuldades sempre estarão presentes na vida, mas o Espírito Santo se encarregou de ajudar aqueles que desejam agir de forma cristã.

O que acontece quando surgem dificuldades porque queremos fazer o bem e o irmão busca o mesmo, mas seguimos o caminho oposto? É necessário cedermos ou o outro ceder? Como o Espírito Santo nos ajuda a saber que caminho seguir e a resolver divergências de maneira cristã?

O estilo inspirador dos primeiros cristãos

Na primeira Igreja Cristã muitas coisas estavam indecisas. Talvez como agora em outras áreas. Alguns pensaram: “Se não forem circuncidados segundo o costume mosaico, não serão salvos” (cf. Atos 15:1 ).

Os gentios discutiam e ficavam inquietos. Não foi isso que Paulo e Barnabé ensinaram. Por isso foi necessário que houvesse um Concílio em Jerusalém onde tudo ficasse claro.

E isso não foi tão fácil. Até que finalmente foi tomada uma decisão que deixou os gentios felizes:

“Que o Espírito Santo e nós decidimos não impor-vos mais fardos do que estes indispensáveis: abster-vos de coisas sacrificadas aos ídolos, de sangue, de animais estrangulados e de impureza. coisas. Adeus."

Atos 15, 28-29 )

Como o Espírito Santo deixa as coisas claras

Espírito Santo deu-lhes clareza para que pudessem pensar no que era certo, no que era apropriado e no que era conveniente.

Os líderes tiveram que decidir o que era bom para todos, mesmo que nem todos pensassem o mesmo. Eles não se dividiram em duas igrejas, permaneceram unidos.

Às vezes é mais fácil dividir, marcar dois caminhos, embarcar em duas direções. Você desse lado, eu deste outro. Mais fácil separar o que estava unido.

Para se unir é preciso desistir. Você tem que sacrificar algo para estar ao lado de outro. Se ambos têm um caminho muito marcado, é impossível chegar a um caminho comum.

Coloque-se no lugar de outra pessoa

O casamento não seria possível sem renúncia, sem deixar de lado os próprios desejos. Não se trata de deixar de ser você mesmo por amor ao outro. Mas procure pensar colocando-se no coração do irmão.

Afirmar veementemente nossas crenças, pensamentos e escolhas de vida é valioso. Desde que isso não nos leve a desqualificar categoricamente tudo o que os outros nos propõem.

Não saímos da nossa posição. Não cedemos nem um centímetro. Nem estamos dispostos a viver de acordo com o que nos propõem.

Não cedemos, não aceitamos, não continuamos. E então a comunhão torna-se uma utopia impossível.

Compreender Jesus, aberto às mudanças

Aquela primeira Igreja nasceu com uma herança muito forte. Jesus era judeu, assim como todos os seus discípulos. E eles foram circuncidados.

Era evidente que Jesus tinha vindo para eles, para o seu povo. Como separar aquele pensamento tão arraigado no seu coração?

A circuncisão era o sinal da aliança de Deus com o seu povo. A maneira de garantir o pertencimento.

Compreender que Cristo veio para mais ovelhas, para mais homens que viviam fora do povo judeu, parecia impensável.

Ele esteve com eles por apenas três anos. Ele não tinha tempo para tanto. Ele viveu com judeus, apaixonou-se por judeus, Jesus era judeu.

Pensar numa missão como a que Paulo iniciou era uma utopia. Portanto, o sinal de pertencimento tinha que ser a circuncisão.

Compartilhe, ore, não separe

Desistir de Jerusalém ser o centro do mundo cristão foi uma renúncia muito grande.

Maria e José eram judeus. Jerusalém, sua casa. O que Jesus teria desejado? Quando e onde você disse que precisava se abrir para outras pessoas?

Não houve nenhum discurso de Jesus que dissesse algo assim. Como entender o Espírito Santo?

Eles se encontram, oram, conversam, compartilham, discutem. Eles não se afastam. Eles nem se odeiam. Eles não se separam. Eles permanecem unidos em suas diferenças.

É mais fácil distanciar-nos de quem é diferente, fugir de quem não é como nós ou que não pensa o mesmo. Mais fácil correr e construir um muro que nos proteja e nos separe. Para manter a nossa postura e que ninguém perturbe o nosso espírito.

Não se limite a um caminho

As coisas podem ser feitas de maneira diferente. Não existe um estilo único que todos devamos assumir.

Só porque as coisas foram feitas de uma maneira ontem, não significa que terei que fazer da mesma maneira amanhã. Podemos ser fiéis ao espírito mesmo que a forma seja diferente.

Queremos viver segundo o que Jesus quis, embora agora seja mais difícil ouvir a sua voz e compreendê-la.

Podemos aceitar que às vezes é melhor seguir o caminho mais longo e não o caminho mais curto, apenas para agradar aos outros.

Devemos adotar outros caminhos apenas para mostrar aos outros o quanto os amamos.

O valor da paz

Assumimos que a vida é curta e vale a pena viver em paz com o irmão, e não viver na guerra.

Viva cedendo e não viva querendo ter sempre razão. Deixando os holofotes para outros.

Que estejam no centro, mesmo que eu não brilhe. Deixe-os se destacarem, mesmo que não sejamos importantes.

Abra mão do que parece fundamental para não ir à guerra. Pode ser que tudo não saia como deveria.

Só o amor quebra barreiras

Aquele Concílio de Jerusalém foi uma pedra fundamental nos alicerces da nova Igreja. A porta para a bondade foi aberta. Qualquer um poderia ser um seguidor de Cristo a partir daquele momento.

Não haveria cristãos de primeira e de segunda classe. Todos valeriam o mesmo. Todos poderiam se apaixonar por aquele Jesus que ainda estava vivo no meio de suas vidas.

O amor dos irmãos é o único que poderia quebrar todas as barreiras que queriam separá-los.

Fonte: https://es.aleteia.org/2022/05/25/como-solucionar-desacuerdos-de-manera-cristiana

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

O pastor e as suas ovelhas (Crédito: Facebook)

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 46,20-2 1: CCL 41,546-548)                (Séc. V)

Fazei o que dizem, não o que fazem

Por esta razão ouvi, pastores, a palavra do Senhor. Mas, pastores, ouvi o quê? Isto diz o Senhor Deus: Vou intimar os pastores e reclamarei de suas mãos as minhas ovelhas (Ez 34,9).

Ouvi e ficai sabendo, ovelhas de Deus: ele reclama dos maus pastores as suas ovelhas e pede-lhes contas das que morreram. Em outro lugar diz pelo mesmo Profeta: Filho do homem, eu te constituí sentinela na casa de Israel. Ouvirás uma palavra de minha boca e alertá-los-ás de minha parte. Se eu disser ao pecador: Morrerás por certo e se tu não a repetires para que o ímpio abandone seus caminhos, ele, pecador, morrerá com seu pecado, mas exigirei de tua mão seu sangue. Se, ao contrário, advertires ao pecador que deixe seu caminho e ele não quiser dele se afastar, morrerá por seu pecado, mas tu livrarás tua alma (Ez 33,7-9).

Que quer dizer isto, irmãos? Vedes como é perigoso calar? Morre o ímpio e morre justamente; morre em sua impiedade e em seu pecado; sua indiferença o matou. Pois poderia encontrar o pastor interessado que diz: Por minha vida, diz o Senhor. Mas por ser indiferente e não advertido por aquele que é guarda e sentinela, é justo que morra aquele e que este seja condenado. Se porém disseres ao ímpio a quem ameacei com a espada: Morrerás por certo e ele nada fizer para evitar a espada, esta virá e o matará. Morrerá por seu pecado; tu, porém, livraste tua alma. Por isto, a nós cabe-nos não calar; a vós, mesmo se calarmos, cabe ouvir pela Sagrada Escritura as palavras do Pastor.

Vejamos, como era a minha intenção, se ele retira as ovelhas aos maus pastores e as dá aos bons. Vejo-o, de fato, tirando as ovelhas aos maus pastores, quando diz: Eu enfrentarei os pastores e reclamarei as minhas ovelhas das suas mãos; não permitirei que apascentem mais as minhas ovelhas e deixarão de ser pastores (Ez 34, 10). Eu disse-lhes que apascentassem as minhas ovelhas, mas eles apascentam-se a si mesmos e não as minhas ovelhas. Por isso, não permitirei que apascentem mais as minhas ovelhas.

Como é que afastará, a fim de que não mais apascentem suas ovelhas? Fazei o que dizem, não façais o que fazem (cf. Mt 23,3).

Como se dissesse: “Dizem o que é meu, fazem o que é seu”. Quando não fazeis o que os maus pastores fazem, estes não vos apascentam; quando fazeis o que dizem, sou eu que vos apascento. 

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Gustavo Gutiérrez, pai da Teologia da Libertação, morre aos 96 anos

Gustavo Gutiérrez, pai da Teologia da Libertação | Dominic Chavez/World Bank (CC BY-NC-ND 2.0)

Gustavo Gutiérrez, pai da Teologia da Libertação, morre aos 96 anos

Por Walter Sánchez Silva*

23 de out de 2024

Gustavo Gutiérrez Merino, sacerdote dominicano peruano que deu nome à teologia da libertação, morreu ontem (22) aos 96 anos.

A província dominicana de San Juan Bautista do Peru informou a morte do sacerdote e teólogo peruano. “Pedimos que nos acompanhem com suas orações para que nosso querido irmão desfrute da vida eterna”, diz comunicado assinado pelo frei dominicano Rómulo Vásquez Gavidia, provincial dos dominicanos no Peru.

Os restos mortais do sacerdote serão sepultados no convento de Santo Domingo, no centro histórico de Lima, Peru.

A vida de Gustavo Gutiérrez

Gustavo Gutiérrez Merino Díaz nasceu em 8 de junho de 1928. Foi ordenado sacerdote em 1959 e era dominicano desde 2001.

Estudou medicina e literatura na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, quando já fazia parte da Ação Católica.

Gutiérrez estudou teologia na Universidade de Louvain, Bélgica e na Universidade de Lyon, França. Foi professor nas universidades de Michigan e em Berkeley, EUA; Cambridge, Inglaterra; Comillas, Espanha, entre outras.

Foi professor na cátedra de teologia John Cardinal O'Hara na Universidade de Notre Dame, EUA. Em 2003, recebeu o prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades concedido pelo governo espanhol.

Em 2012, recebeu o Prêmio Nacional de Cultura do Ministério da Cultura do Peru e da companhia petrolífera Petroperú.

Uma das últimas palestras de Gustavo Gutiérrez num evento internacional aconteceu em Roma, em outubro de 2019, no congresso Comunhão e Participação, realizado na cúria geral dos jesuítas em Roma. Na ocasião, a Pontifícia Comissão para a América Latina o convidou para fazer a conferência “A opção preferencial pelos pobres”.

Um ano antes, em junho de 2018, o papa Francisco enviou uma carta a Gutiérrez por ocasião de seu 90º aniversário, na qual agradecia a Gutiérrez por sua “contribuição à Igreja e à humanidade através do seu serviço teológico e o seu amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade”.

A Santa Sé e a teologia da libertação

O padre Gutiérrez deu nome à principal corrente teológica nascida no continente sul-americano. Articulada ainda na década de 1950 em torno da virada política da ação de vários bispos do continente, a Teologia da Libertação ganhou predominância graças à assembleia do Conselho Episcopal da América Latina e Caribe (CELAM) de Medellín, Colômbia, em 1968. O propósito dessa assembleia era discutir a aplicação das decisões do Concílio Vaticano II no continente. Ali foi definida a “opção preferencial pelos pobres” da Igreja na América do Sul.

Gutiérrez foi o primeiro grande articulador de um modelo de teologia que usava conceitos das ciências sociais e da militância política de esquerda do continente. O nome de seu livro deu o nome à teologia que, nos anos 1970 e 1980 cresceu em importância e se tornou dominante na Igreja do Brasil.

“A teologia da libertação foi uma coisa positiva na América Latina”, disse o papa Francisco em entrevista publicada em janeiro de 2017 pelo jornal espanhol El País. “Foi condenada pelo Vaticano a parte que optou pela análise marxista da realidade”.

No pontificado de são João Paulo II, a congregação para a Doutrina da Fé, atualmente um dicastério, fez uma investigação sobre o tema. Ao final, foram publicadas duas instruções.

A primeira, Libertatis nuntius, publicada em 6 de agosto de 1984, trata dos postulados de Gutiérrez em seu livro Teologia da Libertação. A segunda instrução, Libertatis conscientia, foi publicada em 22 de março de 1986.

Ambas as instruções foram assinadas pelo cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da congregação para a Doutrina da Fé, que mais tarde tornou-se o papa Bento XVI.

“A Instrução Libertatis nuntius acerca de alguns aspectos da teologia da libertação anunciava que a Congregação tencionava publicar um segundo documento, que poria em evidência os principais elementos da doutrina cristã acerca da liberdade e da libertação. A presente Instrução responde a esse intento. Entre os dois documentos existe uma relação orgânica. Devem ser lidos um à luz do outro”, diz o segundo parágrafo da segunda instrução.

Numa nota de 2006, a Conferência Episcopal Peruana disse que a Santa Sé havia “concluído o caminho de esclarecimento dos pontos problemáticos contidos em algumas obras do autor” em 2004, com uma segunda versão revisada do artigo de Gutiérrez chamada La Koinonía ecclesial .

*Walter Sánchez Silva é jornalista na ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, com mais de 15 anos de experiência cobrindo eventos da Igreja na Europa, América e Ásia.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59737/gustavo-gutierrez-pai-da-teologia-da-libertacao-morre-aos-96-anos

São João de Capistrano

São João de Capistrano (A12)
23 de outubro
País: Itália
São João de Capistrano

João nasceu no dia 24 de junho de 1386, na cidade de Capistrano, no então reino de Nápoles. Era filho de um conde alemão e uma jovem italiana. Estudou direito civil e canônico, formando-se com honra ao mérito. Ainda jovem casou-se com um nobre dama da sociedade.

Numa crise política no Reino de Nápoles, João foi cogitado para auxiliar nas negociações. Entretanto houve confusões e o jovem acabou preso. Para piorar a situação ele recebeu a notícia da morte de sua esposa.

Foi então um momento de mudança radical de vida. Abriu mão de todos os cargos, vendeu todos os bens e propriedades, pagou o resgate de sua liberdade e pediu ingresso num convento franciscano. Mas antes de vestir o hábito precisou enfrentar as humilhações do superior da comunidade.

Durante trinta anos fez rigoroso jejum, duras penitências e se dedicou às orações. Trabalhou com energia, evangelizando na Itália, França, Alemanha, Áustria, Hungria, Polônia e Rússia. Tornou-se grande pregador e missionário. Foi conselheiro de quatro Papas.

João de Capistrano contava com setenta anos de idade, quando um enorme exército muçulmano ameaçava tomar a Europa. O Papa Calisto III o designou como pregador de uma cruzada, que defenderia o continente. Durante onze dias e onze noites João esteve entre os soldado, animando-os para a resistência. Finalmente os cristãos conseguiram vencer os invasores.

Morreu no dia 23 de outubro de 1456.  João de Capistrano é o padroeiro dos juízes.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Por causa de suas andanças pela Europa, João mereceu ser chamado o apóstolo da Europa. Espírito inquebrantável, organizou a ordem franciscana, foi conselheiro de papas e em suas viagens apostólicas, procurou fortalecer a moral cristã e refutar os erros dos heréticos. Deixou uma obra escrita em dezessete volumes e foi um homem que participou ativamente da angústia de seu tempo, em tudo reconhecendo a ação de Deus.

Oração:

Deus, nosso Pai, a exemplo de São João Capistrano, faça de nós o sal da terra, mediante uma vida honrada e íntegra, trabalhando com ardor para construção da paz e da comunhão. Dai-nos também ser luz para este mundo carente de valores espirituais, fazendo o bem sem olhar à quem. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF