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sábado, 26 de outubro de 2024

O Papa: Santos Boaventura e Tomás, fontes de luz para a Igreja e a cultura

Santo Tomás de Aquino no Código Latino Vaticano 797, preservado na Biblioteca Apostólica Vaticana  (© Biblioteca Apostolica Vaticana)

Numa mensagem ao arcebispo Zani, Bibliotecário e Arquivista da Santa Igreja Romana, por ocasião da inauguração da mostra na Biblioteca Apostólica Vaticana "O livro e o espírito", pelos 750 anos da morte dos dois Doutores da Igreja, Francisco os lembra como “gigantes da doutrina católica”.

Alessandro Di Bussolo – Vatican News

São Boaventura de Bagnoregio e Santo Tomás de Aquino “continuam sendo hoje fontes de luz e inspiração para a Igreja e para a cultura”, como “luminares” para uma abordagem da Teologia “na qual se interpenetram e nutrem mutuamente a profundidade intelectual e a vida espiritual, ciência e sabedoria, humildade e caridade”. São santos mestres que não retiveram os frutos dos estudos, mas os compartilharam “com generoso impulso pastoral e missionário”. Assim, o Papa Francisco recorda o “Doctor Seraphicus” e o “Doctor Communis” numa mensagem enviada ao Bibliotecário e Arquivista da Santa Igreja Romana, dom Vincenzo Zani, por ocasião da inauguração da exposição “O livro e o espírito”, dedicada aos dois Doutores da Igreja, realizada pela Biblioteca Apostólica Vaticana, de 25 de outubro a 14 de dezembro de 2024, na Sala Kirk Kerkorian, no primeiro andar do edifício sistino. 

Os vínculos da Biblioteca com os dois Santos

Uma exposição que pretende celebrar os 750 anos da morte de São Boaventura de Bagnoregio e de Santo Tomás de Aquino, com a mostra de códigos e testemunhos documentais. Um ato devido à Biblioteca Apostólica Vaticana que conserva entre os seus tesouros, como recorda o Papa em sua mensagem, “autógrafos, códigos de obras e documentos relativos à vida e à atividade” do Seráfico e do Angélico. ”A ligação entre a Biblioteca do Papa e os dois santos”, sublinha Francisco, remonta a Sisto V, que em 1475 “inaugurou as primeiras salas da Biblioteca Vaticana”. Os dois são, não por acaso, retratados juntos por Ghirlandaio, na decoração da Biblioteca Latina, entre os grandes autores antigos e cristãos.

Preciosos companheiros dos peregrinos no caminho rumo a Cristo

Pouco mais de um século depois, o Papa Sisto V, num documento posteriormente retomado pelo Papa Leão XIII, associou-os à imagem bíblica das "duas oliveiras e dos dois castiçais que estão diante do Senhor da terra." Por isso, o Papa Francisco os define como “luminares” para uma abordagem ao conhecimento, “na disposição de não guardar para si os frutos da especulação, mas de partilhá-los com generoso impulso pastoral e missionário”. E fala dela como “uma 'companhia' preciosa para cada peregrino no caminho para Cristo”: O caminho que traçam é descrito por Santo Tomás como o “caminho” da inteligência iluminada pela fé, e por São Boaventura como o “itinerário" da mente, que da contemplação da criação se eleva para Deus. A referência é ao olhar "trinitário" que o Seráfico propõe sobre as criaturas e as suas relações, de que fala o Papa na Encíclica Laudato si', e à integração entre a “santidade da inteligência” e a “inteligência da santidade”, “que se manifesta no exemplo da sua vida”.

Um dia de estudo sobre os dois Doutores

Francisco recorda que este é “o elemento unificador que emerge da mostra”, que inclui também um dia de estudo sobre os dois Doutores, para a qual estão convidadas todas as Universidades e Faculdades Pontifícias Romanas. E elogia a colaboração internacional que se desenvolveu em torno do projeto, com o envolvimento da Embaixada da França junto à Santa Sé, do Centro São Luís em Roma, da Comissão Leonina, das Universidades Pontifícias Angelicum, Antonianum e Gregoriana, e da Universidade de Paris I Sorbonne, onde Santo Tomás e São Boaventura se formaram como Mestres em Teologia.

As palavras de São Paulo VI e Bento XVI

O Pontífice cita então os seus antecessores São Paulo VI, que por ocasião de uma exposição semelhante realizada em 1974, por ocasião do sétimo centenário da morte dos dois grandes Santos, definiu o Angélico como “Luminar da Igreja e do mundo inteiro”; e o Papa Bento XVI, estudioso do pensamento e da obra do Seráfico, numa catequese de 2010, recordou o seu elogio, redigido por um notário pontifício anônimo, como “um homem bom, afável, piedoso e misericordioso, cheio de virtude, amado por Deus e pelos homens."

A presente exposição, seguindo este exemplo, pretende contribuir para encontrar hoje linguagens e instrumentos adequados, para que o pensamento dos dois “gigantes” da doutrina católica possa continuar a difundir-se, chegando a todos.

A felicidade eterna é fruto da sabedoria, da ciência e da caridade

Verdadeiramente os dois santos mestres, conclui o Papa Francisco, olhando para as suas duas imagens na Biblioteca Latina, "nos ensinam a olhar para a felicidade eterna como fruto supremo da sabedoria, da ciência e da caridade, encorajando-nos a tornar-nos peregrinos na fé", para que, como escrito na Bula que anuncia o Jubileu de 2025, “o testemunho dos fiéis possa ser fermento de esperança genuína no mundo”, uma chama que ilumina, traçando um caminho.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

CIÊNCIA E FÉ: O Doutor gratiae e o conhecimento do mundo sensível

Acima, fragmento do Zodíaco com a imagem de Aquário. Este detalhe, como todos os reproduzidos, pertence ao ciclo de afrescos recentemente redescobertos no interior do mosteiro agostiniano de clausura da Basílica dei Santi Quattro Coronati, em Roma | 30Giorni.

Arquivo 30Giorni nº. 11 - 2006

POR QUE AGOSTINHO TERIA DEFENDIDO GALILEU ANTES DA INQUISIÇÃO

O Doutor gratiae e o conhecimento do mundo sensível

Entrevista com Padre Nello Cipriani, professor catedrático do Instituto Patrístico Augustinianum: «Em Agostinho, a ideia de que podemos ter um certo conhecimento do mundo externo não permanece uma afirmação abstrata. Também se aplica quando se trata de estabelecer a relação entre o ensino das Escrituras e os resultados das ciências naturais"

Entrevista com Nello Cipriani por Lorenzo Cappelletti

Com o padre Nello Cipriani, agostiniano, consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, ordinário do Instituto Patrístico Augustinianum fundado em Roma por Paulo VI, que falou diversas vezes a partir da década de 1990 nas páginas de 30Giorni sobre a atualidade da pensando em Santo Agostinho, retomamos um diálogo que na verdade nunca foi interrompido senão no papel. Fazemo-lo motivados, por um lado, por um debate sobre a relação entre fé e ciência que, nos últimos tempos, parece tornar-se mais acirrado, e por outro lado, por novas pesquisas do Padre Cipriani que, nesta mesma área, podem trazer uma contribuição de clareza e de relaxamento.

Qual é o tema da sua pesquisa mais recente?

NELLO CIPRIANI: Recentemente tratei da epistemologia de Santo Agostinho, ou seja, queria investigar como ele entendia a palavra scientia . Percebi que nos primeiros anos após a sua conversão ele ainda entendia este termo no sentido que tinha na tradição platónica e aristotélica. Ele entendia scientia como o conhecimento racional de realidades inteligíveis, eternas e imutáveis, objeto de especulação metafísica e matemática, principalmente Deus. Deste próprio conceito intelectual de scientia foi excluído, portanto, o conhecimento das coisas contingentes, daquelas que ocorrem no tempo, bem como . o conhecimento do mundo sensível. Mas no período do presbitério, Santo Agostinho faz uma verdadeira viragem epistemológica, porque descobre uma segunda scientia : o estudo da Escritura, passo indispensável para alcançar a scientia das coisas eternas. Esta descoberta é o resultado de uma leitura de São Paulo que fala do dom da ciência como algo distinto do dom da sabedoria. Assim, na De doctrina christiana a ciência torna-se sobretudo o estudo aprofundado da Escritura, conduzido com um método inspirado em critérios científicos. Isto já é uma grande novidade epistemológica. Mas então Santo Agostinho chega ao De Trinitate (especialmente nos livros XII e XIII) para distinguir a ciência da sabedoria de uma forma ainda mais profunda. A ciência já não é apenas o conhecimento do que aconteceu no tempo, isto é, da história da salvação e da moral cristã contidas nas Escrituras, mas inclui a fé temporal e histórica da Igreja em Deus e nos bens eternos. Neste conceito de ciência o objeto torna-se ainda mais amplo: tudo o que é temporal e que diz respeito à fé. A tarefa desta scientia , que nem todos devem necessariamente ter, é apoiar a fé dos crentes através da defesa contra as heresias.

Que interesse poderia ter esta sua descoberta para o percurso epistemológico de Santo Agostinho?

CIPRIANI: Isso é interessante porque os grandes filósofos gregos, como Platão e Aristóteles, não incluíram na episteme, isto é, na scientia , o que acontece no tempo, enquanto para Agostinho, como eu disse, a scientia se preocupa com o res temporais, isto é, de fatos históricos, e também de todos os fenômenos naturais. Agora, quando falamos de Agostinho, muitas vezes se acrescenta o atributo “platônico”, Agostinho dependeria inteiramente do platonismo. Na realidade Platão não tinha muita estima pelo conhecimento sensível, considerava-o uma doxa , uma opinião, não lhe atribuía a capacidade de fornecer determinados conhecimentos. Em vez disso, Agostinho, já na religião De vera , diz explicitamente que os sentidos não enganam, e mais tarde, em De Trinitate , igualmente explicitamente: longe de nós sustentar que as coisas que conhecemos através dos sentidos não são verdadeiras. Muito pelo contrário de Platão. Além disso, em Santo Agostinho, a ideia de que podemos ter certo conhecimento do mundo externo não permanece uma afirmação abstrata. Ele também a aplica quando se trata de estabelecer a relação entre o ensino das Escrituras e os resultados das ciências naturais. Isto acontece sobretudo em De Genesi ad litramam , em que Santo Agostinho define como imprudente o cristão que interpreta literalmente uma expressão bíblica e vai contra os resultados alcançados com certeza pelos cientistas da época. Na verdade, ele afirma que a Escritura não pretende ensinar-nos como o mundo é feito, isto é, não pretende dar uma explicação científica dos fenómenos naturais, mas antes quer ensinar-nos o caminho da salvação. Além disso, Santo Agostinho em De Genesi ad litramam não só reconhece que os escritores sagrados não têm a intenção de se pronunciar sobre como o mundo é feito, mas ainda afirma que os cientistas podem, com cálculos e experiências, chegar a resultados absolutamente certos, que aqueles quem é cristão deve aceitá-los sem contrastá-los com as Escrituras. Desde que os resultados científicos sejam verdadeiramente certos, alcançados com método sério.

Se Agostinho tivesse sido ouvido naquela época, o famoso caso Galileu não teria surgido.

CIPRIANI: É seguro. O próprio Galileu, numa das suas cartas de 1615, cita quinze vezes Santo Agostinho para afirmar, por um lado, a sua fé e, por outro, a sua liberdade como cientista. Foi um erro muito grave ter feito as Escrituras dizerem o que absolutamente não dizem. Não são as Escrituras que são contra a ciência. Pelo contrário, foi uma forma de interpretar as Escrituras dominada pela cultura da época que impedia a Igreja da época de se referir ao ensinamento de Agostinho. Havia a possibilidade de evitar o choque entre Galileu e a Inquisição, se tivessem presente este ensinamento de Agostinho que já havia reconhecido a autonomia da ciência muitos séculos antes.

Este Galileu agostiniano é muito interessante.

CIPRIANI: A reflexão desenvolvida por Santo Agostinho sobre o conceito de scientia , que percorre toda a sua reflexão filosófica e teológica, leva-o a conquistas que só serão recuperadas muitos séculos depois: primeiro por São Tomás, no que diz respeito à teologia (para definir objeto e propósito da teologia, São Tomás, no início da Summa , retomou o conceito de scientia de Agostinho ). Depois, de Galileu, no que diz respeito às ciências naturais.

Santo Agostinho sobre os ombros da personificação da virtude da Verdadeira Religião | 30Giorni

Pelo que você diz, parece que Santo Agostinho, ao excluir o contraste entre a ciência e as Escrituras, antecipou o que comumente consideramos ser o resultado da investigação exegética moderna. Como foi possível uma antecipação tão sensacional por parte de Agostinho?

CIPRIANI: Santo Agostinho certamente chegou a estes resultados através da sua reflexão, sempre muito atento ao ensinamento da Escritura. Mas há também um elemento importante que vem da sua experiência pessoal. Santo Agostinho foi maniqueísta durante nove anos. Depois distanciou-se progressivamente (escreve-o no capítulo V das Confissões ) precisamente pela decepção que lhe produziu a observação de que o ensinamento maniqueísta, que pretendia dar uma explicação certa e verdadeira de tudo, mesmo dos fenómenos naturais, estava em realidade em contradição com o ensino dos físicos, especialmente com suas explicações sobre os eclipses da Lua e do Sol. Os maniqueístas, de facto, interpretaram estes fenómenos à luz da luta mítica entre o bem e o mal, que estava no centro da sua religião. Mas Agostinho percebeu (ele diz ter lido todos os livros que pôde encontrar sobre esses temas) que as explicações completamente diferentes dadas pelos físicos haviam sido confirmadas pelos fatos. Na verdade, os físicos conseguiram prever eclipses da Lua e do Sol com muitos anos de antecedência. Foi a constatação do erro dos maniqueus em querer explicar os fenômenos naturais através do mito religioso que o alertou para que o mesmo não acontecesse com os cristãos. Portanto, quando lê a Escritura, Santo Agostinho quer protegê-la desta queda de credibilidade, tendo o cuidado de distinguir o que a Escritura quer daquilo que não quer ensinar.

Terá o desenvolvimento das ciências naturais sido favorecido por esta crítica à atitude mítica, por esta desmitificação ante litramam , para usar a conhecida expressão Bultmaniana?

CIPRIANI: Santo Agostinho reconhece a capacidade real dos cientistas para alcançar certos resultados no conhecimento do mundo, mas, dado que na sua época esse conhecimento era muito limitado, permanece sempre bastante cauteloso no estudo da natureza. Ele repete muitas vezes que este estudo não só não ajuda muito para a salvação eterna dos fiéis, mas nem sequer traz muitos benefícios à ordem humana. Refere-se sobretudo a certas ciências, como a ciência médica, que tinham alcançado maus resultados no seu tempo. Reconhece que a medicina, em princípio, seria útil para a saúde humana, mas na prática considera que a sua utilidade tem pouco valor. Em suma, em Agostinho existe a crença na possibilidade real de se poder alcançar determinados resultados no conhecimento do mundo externo; por outro lado, porém, existe também um certo cepticismo quanto à utilidade deste conhecimento.

Contudo, uma vez que as ciências naturais, como aconteceu na era moderna e contemporânea, tenham feito progressos reais, não apenas em termos cognitivos, mas também aplicados, a concepção agostiniana é capaz de acolher este progresso sem hesitação.

CIPRIANI: Acredito que com Santo Agostinho poderíamos aprender a ter mais confiança na razão humana e, portanto, também na capacidade de conhecer melhor o nosso mundo. É verdade que ele pretende lidar - dize-o desde o Soliloquia - com Deus e com a alma, mas há desde o início, e depois cada vez mais no Agostinho maduro, uma confiança no conhecimento do mundo exterior, conhecimento que pode até ajudá-lo a entender melhor as Escrituras. Santo Agostinho assinala diversas vezes em De Genesi ad litramam que a ciência poderia nos ensinar a não interpretar literalmente certas expressões bíblicas. E, vice-versa, não alegorizar onde o sentido literal deve ser aplicado. 

Voltando ao tema da alegada racionalidade dos maniqueístas, o que respondem os maniqueístas a Santo Agostinho?

CIPRIANI: Como eu disse, Santo Agostinho diz que percebeu o contraste que existia entre o ensino dos cientistas e os livros maniqueístas a respeito dos fenômenos celestes como as revoluções das estrelas, os eclipses do sol, da lua e assim por diante. Portanto, ele apresentou essas dificuldades aos seus amigos maniqueístas e pediu explicações, mas eles se protegeram dizendo que seria o seu bispo Fausto quem responderia a todas as suas dificuldades. Quando Fausto finalmente chegou a Cartago em 383, Agostinho apresentou-lhe suas dúvidas, mas Fausto reconheceu humildemente sua ignorância sobre esses assuntos. Agostinho, em alguns aspectos, achou-o simpático. Apreciou a sua modéstia e também a sua oratória, o seu estilo de bom retórico, mas perdeu a fé no maniqueísmo, que nem mesmo as pessoas mais autorizadas sabiam responder “à sua sede”, escreve.

Acima, Santo Agostinho sobre os ombros da personificação da virtude da Verdadeira Religião, detalhe | 30Giorni

Onde ele diz isso?

CIPRIANI: No quinto livro das Confissões , no sexto capítulo. A mesma desilusão do jovem Agostinho face aos maniqueístas, que davam explicações sobre os fenómenos naturais em conflito com a ciência, talvez seja também sentida por muitos jovens de hoje que, tanto pelo seu despreparo religioso como pela imprudência de alguns solistas cristãos, pode ser exposto ao perigo de pensar o ensino das Escrituras em contraste com os resultados das ciências modernas e, portanto, nutrir desconfiança em relação às Escrituras e à própria fé cristã. Santo Agostinho é sempre relevante. Ouçam o trecho de De Genesi ad litramam I, 19, 39 que mencionei antes, citado na íntegra por Galileu em sua carta de 1615 à Grã-Duquesa da Toscana Cristina:
«Acontece muitas vezes que mesmo aqueles que não são cristãos, em relação à terra, ao céu, aos outros elementos deste mundo, ao movimento e à revolução ou mesmo ao tamanho e distância das estrelas, em relação aos eclipses do sol e do a lua, o ciclo dos anos e das estações, da natureza dos animais, das plantas, das pedras e de todas as outras coisas deste tipo, tem conhecimentos que podem apoiá-los em virtude de razões ou experiências indiscutíveis. Agora, é realmente uma coisa vergonhosa, prejudicial e absolutamente deve ser evitada para essas pessoas ouvirem um cristão falar sobre essas coisas com base em textos cristãos e dizer tantas bobagens que, ao vê-lo tomar vaga-lumes por lanternas, como dizem, eles mal consegue conter sua raiva, arroz. E é doloroso não tanto que alguém que comete um erro seja ridicularizado, mas sim que aqueles que estão de fora possam pensar que os nossos autores defenderam tais opiniões e que são culpados e rejeitados como ignorantes, em grande detrimento daqueles que fazem parte da comunidade. cuja salvação somos solícitos. Na verdade, quando aqueles que estão de fora pegam um cristão que se engana em coisas que eles conhecem muito bem e defende a sua opinião errada com base nas nossas Escrituras, como podem acreditar naquelas Escrituras a respeito da ressurreição dos mortos, da esperança da vida eterna? e para o reino dos céus, visto que veem que essas Escrituras contêm erros relativos a coisas que puderam experimentar ou conhecer através de certos cálculos? É difícil expressar quanta dor e amargura essas pessoas imprudentes e presunçosas trazem aos nossos irmãos prudentes quando, quando são criticados e convencidos da perversa falsidade das suas opiniões por aqueles que não estão vinculados à autoridade das nossas Escrituras, eles tente aduzir as mesmas Sagradas Escrituras para defender o que elas apoiaram com uma leveza extremamente imprudente e com falsidade aberta. E chegam mesmo a citar de memória muitas palavras que consideram válidas como testemunho, “sem compreender nem o que dizem nem que significado isso tem”.
É significativo – acrescentamos no final desta entrevista – o comentário que São João Damasceno faz sobre esta frase final que Santo Agostinho retira da Primeira Carta a Timóteo (1, 7) e que poderia ter muitas aplicações atuais: «é o anseio de dominação que os obriga a arrogar o papel de Mestres".

Fonte: https://www.30giorni.it/

Santo Antônio de Sant'Anna Galvão

Santo Antônio de Sant'Anna Galvão (A12)
25 de outubro
País: Brasil (Guaratinguetá-SP)

Santo Antônio de Sant'Anna Galvão

O brasileiro Antonio de Sant'Anna Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, São Paulo. Quando tinha treze anos, Antônio foi enviado para estudar com os jesuítas. Desse modo, na sua vida estava plantada a semente da vocação religiosa. Aos vinte e um anos, Antônio deixa os jesuítas e ingressa na Ordem Franciscana, no Rio de Janeiro.

Em 1768 foi nomeado pregador e confessor do convento das Recolhidas de Santa Teresa. Entre suas penitentes encontrou a Irmã Helena Maria do Sacramento, que tinha visões sobre a fundação de um novo convento. Apesar das dificuldades, frei Galvão e Irmã Helena fundaram, em fevereiro de 1774, o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência.

Entre dificuldades e perseguições, frei Galvão conseguiu manter e ampliar este convento, construindo inclusive uma igreja anexa ao prédio. Hoje o convento, em São Paulo, é patrimônio cultural da humanidade. Em 1811, a pedido do Bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba.

Com a saúde enfraquecida, recebeu autorização especial para residir no Recolhimento da Providência. Durante sua última enfermidade, Frei Galvão foi morar num pequeno quarto, ajudado pelas religiosas que lhe prestavam algum alívio e conforto. Ele faleceu com fama de santidade em 23 de dezembro de 1822. Ele é considerado padroeiro dos engenheiros, arquitetos e construtores.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.

Reflexão:

Frei Galvão foi chamado “Bandeirante de Cristo”, porque tinha na alma a grandeza, o arrojo e fortaleza de um verdadeiro bandeirante. Renunciou a uma brilhante situação no mundo para servir a Jesus Cristo. Cheio do espírito de caridade, não media sacrifícios para aliviar os sofrimentos alheios. Foi considerado santo mesmo já antes de sua morte.

Oração:

Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu Vos adoro, louvo e Vos dou graças pelos benefícios que me fizestes. Peço-Vos, por tudo que fez e sofreu o Vosso servo Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, que aumenteis em mim a fé, a esperança e a caridade, e Vos digneis conceder-me a graça que ardentemente almejo. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Responsabilidade moral no uso da linguagem

Funções da linguagem (Arena Marcas e Patentes)

RESPONSABILIDADE MORAL NO USO DA LINGUAGEM 

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

Wittgenstein, em suas “Investigações Filosóficas”, ressalta que a linguagem desempenha diversas funções, indo além da simples descrição do mundo. Ao proferirmos certas palavras ou frases, realizamos ações que geram efeitos concretos no mundo e na vida das pessoas, transcendendo a mera transmissão de informações. Essa perspectiva é ilustrada por meio dos “jogos de linguagem”, que mostram como o uso de uma palavra está profundamente conectado às práticas sociais e aos contextos em que é empregada. Nas “Investigações Filosóficas”, Wittgenstein sugere que, ao usar palavras, não estamos apenas nomeando objetos ou descrevendo fatos, mas participando de ações e interações sociais, como dar ordens, fazer promessas ou assumir compromissos. A linguagem tem várias funções, portanto, não se limita a representar o mundo, mas também tem o poder de criá-lo e modificá-lo. Essa ideia é o ponto de partida para a função performativa da linguagem, na qual ao dizer algo, o falante não apenas descreve uma situação, mas age sobre ela. 

Essa concepção é aprofundada por J.L. Austin em seu livro “Quando Dizer é Fazer”, onde ele desenvolve a teoria dos atos de fala. Austin distingue entre declarações constatativas, que descrevem fatos e podem ser verdadeiras ou falsas, e atos performativos, que realizam ações simplesmente pelo fato de serem proferidos. Exemplos clássicos de atos performativos incluem promessas, ordens e votos. Ao dizer “sim” em um casamento ou “eu prometo”, o falante está, de fato, realizando uma ação – casar-se ou comprometer-se. 

Segundo Austin, a função performativa da linguagem revela que as palavras não apenas descrevem a realidade, mas têm o poder de transformá-la. Quando um sacerdote diz “eu te batizo…”, “eu te abençoo…”, ou “eu te absolvo…”, ele cria um fato no mundo. O que é dito realiza uma mudança real, uma transformação espiritual ou social na pessoa a quem se refere. Para que esses atos performativos sejam eficazes, é necessário que certas condições sejam atendidas. Essas condições incluem, por exemplo, o contexto apropriado, a intenção sincera do falante e a conformidade com as normas sociais ou rituais estabelecidos. Austin se refere a isso como as “condições de felicidade”, que determinam o sucesso ou fracasso de um ato de fala. 

Além de seu poder criativo, o uso performativo da linguagem implica uma responsabilidade moral do falante. Quando usamos palavras para prometer, ordenar ou perdoar, ofender, imprecar… estamos realizando ações que têm consequências reais na vida de outras pessoas. A linguagem, nesse sentido, é uma ferramenta poderosa que pode gerar confiança, moldar comportamentos, bem como enganar, ofender e manipular. O que dizemos tem o potencial de criar vínculos, influenciar decisões, e até alterar o curso de eventos em uma escala pessoal ou social. O uso da linguagem tem implicações éticas e nos responsabilizar moral e juridicamente. Devemos estar cientes de que nossas palavras podem tanto construir quanto destruir realidades. 

Austin explora essa relação entre palavras e ações, destacando que o poder de “fazer coisas” com palavras exige reflexão e responsabilidade. Wittgenstein, por sua vez, nos lembra que o significado de uma palavra é o seu uso. Isso reforça a ideia de que, ao utilizar a linguagem, estamos moldando o mundo ao nosso redor e interferindo nele. Cada vez que falamos, não estamos apenas relatando fatos, mas criando realidades e relações. Por isso, é essencial que o uso da linguagem seja pautado por uma ética responsável, já que nossas palavras têm um impacto profundo e duradouro no mundo e na vida das pessoas. 

A compreensão das diversas funções da linguagem e sua capacidade de criar fatos e alterar a realidade, sublinha a importância de utilizá-la com cuidado e consciência. As palavras não são apenas veículos de comunicação; elas têm o poder de transformar contextos sociais e até mudar vidas. Cabe a nós, usá-las com precisão e responsabilidade, cientes de que aquilo que dizemos molda o mundo de maneiras muitas vezes mais profundas do que imaginamos. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

“Amou-nos”, a Encíclica do Papa sobre o Sagrado Coração de Jesus

Imagem do Sagrado Coração de Jesus (Vatican News)

“Dilexit nos”, a quarta Encíclica de Francisco, repercorre a tradição e a atualidade do pensamento “sobre o amor humano e divino do coração de Jesus Cristo”, convidando a renovar sua autêntica devoção para não esquecer a ternura da fé, a alegria de colocar-se a serviço e o fervor da missão: porque o Coração de Jesus nos impele a amar e nos envia aos irmãos.

Alessandro Di Bussolo – Vatican News

“'Amou-nos', diz São Paulo referindo-se a Cristo (Rm 8,37), para nos ajudar descobrir que nada ‘será capaz de separar-nos' desse amor (Rm 8,39)”. Assim começa a quarta Encíclica do Papa Francisco, intitulada a partir do incipit “Dilexit nos” e dedicada ao amor humano e divino do Coração de Jesus: “O seu coração aberto precede-nos e espera-nos incondicionalmente, sem exigir qualquer pré-requisito para nos amar e oferecer a sua amizade: Ele amou-nos primeiro (cf. 1 Jo 4, 10). Graças a Jesus, ‘conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele’ (1 Jo 4, 16)” (1).

LEIA AQUI O TEXTO INTEGRAL DA ENCÍCLICA

O amor de Cristo representado em seu santo Coração

Em uma sociedade - escreve o Papa - que vê a multiplicação de “várias formas de religiosidade sem referência a uma relação pessoal com um Deus de amor” (87), enquanto o cristianismo muitas vezes esquece “a ternura da fé, a alegria do serviço, o fervor da missão pessoa-a-pessoa” (88), o Papa Francisco propõe um novo aprofundamento sobre o amor de Cristo representado em seu santo Coração e nos convida a renovar nossa autêntica devoção, lembrando que no Coração de Cristo “encontramos todo o Evangelho” (89): É em seu Coração que “finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar” (30).

O mundo parece ter perdido seu coração

Francisco explica que, ao encontrar o amor de Cristo, “tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum”, como ele nos convida a fazer em suas encíclicas sociais Laudato si' e Fratelli tutti (217). E diante do Coração de Cristo, pede mais uma vez ao Senhor “que tenha compaixão desta terra ferida” e derrame sobre ela “os tesouros da sua luz e do seu amor”, para que o mundo, “que sobrevive entre guerras, desequilíbrios socioeconômicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia, recupere o que é mais importante e necessário: o coração” (31). Ao anunciar a preparação do documento, no final da audiência geral de 5 de junho, o Pontífice deixou claro que este ajudaria a meditar sobre os aspectos “do amor do Senhor que podem iluminar o caminho da renovação eclesial; mas também que podem dizer algo significativo a um mundo que parece ter perdido seu coração”. E isso enquanto as celebrações estão em andamento pelos 350 anos da primeira manifestação do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, em 1673, que se encerrarão em 27 de junho de 2025.

A importância de voltar ao coração

Aberta por uma breve introdução e dividida em cinco capítulos, a Encíclica sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus reúne, como anunciado em junho, “as preciosas reflexões de textos magisteriais precedentes e de uma longa história que remonta às Sagradas Escrituras, para repropor hoje, a toda a Igreja, esse culto carregado de beleza espiritual”.

O primeiro capítulo, “A importância do coração”, explica por que é necessário “voltar ao coração” em um mundo no qual somos tentados a “nos tornarmos consumistas insaciáveis e escravos na engrenagem de um mercado” (2). E faz isso analisando o que queremos dizer com “coração”: a Bíblia fala dele como um núcleo “que se esconde por detrás de todas as aparências” (4), um lugar onde “não conta o que mostramos exteriormente ou o que ocultamos, ali conta o que somos” (6). Ao coração conduzem as perguntas decisivas: que sentido quero dar à vida, às minhas escolhas e ações, quem sou diante de Deus (8). O Papa ressalta que a atual desvalorização do coração nasce do “racionalismo grego e pré-cristão, do idealismo pós-cristão e do materialismo”, de modo que, no grande pensamento filosófico, foram preferidos conceitos como “razão, vontade ou liberdade”. E não encontrando lugar para o coração, também “não se desenvolveu suficientemente a ideia de um centro pessoal” que pode unificar tudo, ou seja, o amor, (10). Ao invés, para o Pontífice, é preciso reconhecer que “eu sou o meu coração, porque é ele que me distingue, que me molda na minha identidade espiritual e que me põe em comunhão com as outras pessoas” (14).

O mundo pode mudar a partir do coração

É o coração “que une os fragmentos” e torna possível “qualquer vínculo autêntico, porque uma relação que não é construída com o coração não pode ultrapassar a fragmentação do individualismo” (17). A espiritualidade de santos como Inácio de Loyola (aceitar a amizade do Senhor é uma questão de coração) e São John Henry Newman (o Senhor nos salva falando ao nosso coração a partir do seu sagrado Coração) nos ensina, escreve o Papa Francisco, que “perante o Coração de Jesus vivo e atual, o nosso intelecto, iluminado pelo Espírito, compreende as palavras de Jesus” (27). E isso tem consequências sociais, porque o mundo pode mudar “a partir do coração” (28).

“Gestos e palavras de amor”

O segundo capítulo é dedicado aos gestos e palavras de amor de Cristo. Os gestos com os quais nos trata como amigos e mostra que Deus “é proximidade, compaixão e ternura” são vistos em seus encontros com a Samaritana, com Nicodemos, com a prostituta, com a mulher adúltera e com o cego no caminho (35). Seu olhar, que “perscruta as profundezas do seu ser” (39), mostra que Jesus “está atento às pessoas, às suas preocupações, ao seu sofrimento” (40). De tal forma “que admira as coisas boas que encontra em nós”, como no centurião, mesmo que os outros as ignorem (41). Sua palavra de amor mais eloquente é ser “pregado numa cruz” (46), depois de chorar por seu amigo Lázaro e sofrer no Jardim das Oliveiras, ciente de sua própria morte violenta “nas mãos daqueles que tanto amava” (45).

O mistério de um coração que amou tanto

No terceiro capítulo, “Este é o coração que tanto amou”, o Pontífice recorda como a Igreja reflete e refletiu no passado “sobre o santo mistério do Coração do Senhor”. Ele faz isso fazendo referência à Encíclica Haurietis aquas, de Pio XII, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus (1956). Ele deixa claro que “a devoção ao Coração de Cristo não é o culto a um órgão separado da Pessoa de Jesus”, porque adoramos a “Jesus Cristo por inteiro, o Filho de Deus feito homem, representado numa imagem sua em que se destaca o seu coração” (48). A imagem do coração de carne, ressalta o Papa, nos ajuda a contemplar, na devoção, que “o amor do coração de Jesus não compreende somente a caridade divina, mas se estende aos sentimentos do afeto humano” (61). Seu Coração, prossegue Francisco citando Bento XVI, contém um “tríplice amor”: o amor sensível do seu coração físico “e o seu duplo amor espiritual, o humano e o divino” (66), no qual encontramos “o infinito no finito” (64).

O Sagrado Coração de Jesus é um compêndio do Evangelho

As visões de alguns santos, particularmente devotos do Coração de Cristo, ressalta Francisco, “são belos estímulos que podem motivar e fazer muito bem”, mas “não são algo em que os crentes sejam obrigados a acreditar como se fossem a Palavra de Deus”. Em seguida, o Papa lembra com Pio XII que não se pode dizer que este culto “deve a sua origem a revelações privadas”. Aliás, “a devoção ao Coração de Cristo é essencial para a nossa vida cristã, na medida em que significa a nossa abertura, cheia de fé e de adoração, ao mistério do amor divino e humano do Senhor, até ao ponto de podermos voltar a afirmar que o Sagrado Coração é um compêndio do Evangelho” (83). O Pontífice nos convida, então, a renovar a devoção ao Coração de Cristo também para combater as “novas manifestações de uma ‘espiritualidade sem carne’” que estão se multiplicando na sociedade (87). É necessário retornar à “síntese encarnada do Evangelho” (90) diante de “comunidades e pastores concentrados apenas em atividades exteriores, em reformas estruturais desprovidas de Evangelho, em organizações obsessivas, em projetos mundanos, em reflexões secularizadas, em várias propostas apresentadas como requisitos que, por vezes, se pretendem impor a todos” (88).

A experiência de um amor “que dá de beber”

Nos dois últimos capítulos, o Papa Francisco destaca os dois aspectos que “a devoção ao Sagrado Coração deve reunir hoje para continuar a alimentar-nos e a aproximar-nos do Evangelho: a experiência espiritual pessoal e o compromisso comunitário e missionário” (91). No quarto, “O amor que dá de beber”, relê as Sagradas Escrituras e, com os primeiros cristãos, reconhece Cristo e seu lado aberto em “aquele a quem trespassaram”, a quem Deus se refere na profecia do livro de Zacarias. Uma fonte aberta para o povo, para saciar a sede do amor de Deus, “para a purificação do pecado e da impureza” (95). Vários Padres da Igreja mencionaram “a chaga no lado de Jesus como a origem da água do Espírito”, sobretudo Santo Agostinho, que “abriu o caminho para a devoção ao Sagrado Coração como lugar de encontro pessoal com o Senhor” (103).  Esse lado trespassado, recorda o Papa, “assumiu gradualmente a forma do coração” (109), e enumera várias santas mulheres que “relataram experiências de encontro com Cristo, caracterizado pelo repouso no Coração do Senhor” (110). Entre os devotos dos tempos modernos, a Encíclica fala, em primeiro lugar, de São Francisco de Sales, que representa a sua proposta de vida espiritual com um “coração trespassado por duas flechas, encerrado numa coroa de espinhos” (118)

As aparições a Santa Margarida Maria Alacoque

Sob a influência dessa espiritualidade, Santa Margarida Maria Alacoque relata as aparições de Jesus em Paray-le-Monial, entre o fim de dezembro de 1673 e junho de 1675. O núcleo da mensagem que nos é transmitida pode ser resumido nas palavras que Santa Margarida ouviu: “Eis aqui este Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se tem poupado até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor” (121).

Teresa de Lisieux, Inácio de Loyola e Faustina Kowalska

De Santa Teresa de Lisieux, o documento recorda o fato de chamar Jesus de “Aquele cujo coração batia em uníssono com o meu” (134) e suas cartas à Irmã Maria, que ajudam a não concentrar a devoção ao Sagrado Coração “no âmbito da dor”, como o daqueles que entendiam a reparação como uma espécie de “primado dos sacrifícios”, mas na confiança “como a melhor oferta, agradável ao Coração de Cristo” (138). O Pontífice jesuíta também dedica algumas passagens da Encíclica ao lugar do Sagrado Coração na história da Companhia de Jesus, enfatizando que, em seus Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loyola propõe ao exercitante “entrar no Coração de Cristo” em um diálogo de coração para coração. Em dezembro de 1871, o Padre Beckx consagrou a Companhia ao Sagrado Coração de Jesus e o Padre Arrupe voltou a fazê-lo em 1972 (146). As experiências de Santa Faustina Kowalska, recorda-se, repropõem a devoção “colocando uma forte ênfase na vida gloriosa do Ressuscitado e na misericórdia divina” e, motivado por elas, São João Paulo II também “relacionou intimamente a sua reflexão sobre a misericórdia com a devoção ao Coração de Cristo” (149). Falando da “devoção da consolação”, a Encíclica explica que, diante dos sinais da Paixão conservados pelo coração do Ressuscitado, é inevitável “que o fiel queira responder” também “à dor que Cristo aceitou suportar por causa de tanto amor” (151). E pede “que ninguém ridicularize as expressões de fervor devoto do santo povo fiel de Deus, que na sua piedade popular procura consolar Cristo” (160). Pois que, então, “desejando consolá-lo, saímos consolados” e assim “também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer tribulação” (162).

A devoção ao Coração de Cristo nos envia aos irmãos

O quinto e último capítulo, “Amor por amor”, aprofunda a dimensão comunitária, social e missionária de toda autêntica devoção ao Coração de Cristo, que, ao mesmo tempo que “nos conduz ao Pai, envia-nos aos irmãos” (163). De fato, o amor aos irmãos é o “maior gesto que possamos oferecer-lhe para retribuir amor por amor” (167). Olhando para a história da espiritualidade, o Pontífice recorda que o empenho missionário de São Charles de Foucauld fez dele um “irmão universal”: “deixando-se plasmar pelo Coração de Cristo, quis abraçar no seu coração fraterno toda a humanidade sofredora” (179). Francisco fala então de “reparação”, como explicava São João Paulo II: “entregando-nos em conjunto ao Coração de Cristo, ‘sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e pela violência, poderá ser construída a civilização do amor tão desejada, o Reino do Coração de Cristo’” (182).

A missão de fazer o mundo se apaixonar

A Encíclica recorda novamente com São João Paulo II que “a consagração ao Coração de Cristo ‘deve ser aproximada à ação missionária da própria Igreja, porque responde ao desejo do Coração de Jesus de propagar no mundo, através dos membros do seu Corpo, a sua total dedicação ao Reino’. Por conseguinte, através dos cristãos, ‘o amor difundir-se-á no coração dos homens, para que se construa o Corpo de Cristo que é a Igreja e se edifique uma sociedade de justiça, de paz e de fraternidade’” (206). Para evitar o grande risco, sublinhado por São Paulo VI, de que na missão “se digam e façam muitas coisas, mas não se consiga promover o encontro feliz com o amor de Cristo” (208), precisamos de “missionários apaixonados, que se deixem cativar por Cristo” (209).

A oração de Francisco

O texto se conclui com a seguinte oração de Francisco: “Peço ao Senhor Jesus Cristo que, para todos nós, do seu Coração santo brotem rios de água viva para curar as feridas que nos infligimos, para reforçar a nossa capacidade de amar e servir, para nos impulsionar a fim de aprendermos a caminhar juntos em direção a um mundo justo, solidário e fraterno. Isto até que, com alegria, celebremos unidos o banquete do Reino celeste. Aí estará Cristo ressuscitado, harmonizando todas as nossas diferenças com a luz que brota incessantemente do seu Coração aberto. Bendito seja!” (220).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

DOCUMENTOS: “A imagem cristã do homem”: o texto inédito que Bento XVI autorizou a publicar após a sua morte

Papa Bento XVI Escrevendo (ZENIT)

Um dos pontos mais notáveis ​​do escrito são as críticas do Papa Emérito às correntes ideológicas atuais, como a ideologia de género e a manipulação da vida em laboratórios. Segundo Bento XVI, estas tendências são fruto de um marxismo disfarçado de liberalismo extremo, que distorceu o conceito de liberdade e ameaça minar a essência do que significa ser humano.

22 DE OUTUBRO DE 2024 23H49 ZENIT DOCUMENTOS EDITORIAIS

(ZENIT Notícias / Roma, 22/10/2024).- Um documento inédito do Papa Emérito Bento XVI, intitulado “A imagem cristã do homem”, revela uma profunda reflexão sobre os problemas morais e sociais que enfrenta a humanidade contemporânea. Este texto, escrito entre o Natal e a Epifania 2019-2020, aborda com especial atenção a crise da identidade, da família e do amor humano, temas que para o Papa Emérito são essenciais na busca de um futuro mais coerente com a dignidade do ser humano.

A publicação foi realizada pelo “Projeto Veritas Amoris”, fundado em 2019 com o objetivo de dar continuidade ao trabalho do Instituto João Paulo II de Estudos sobre Matrimônio e Família. O texto de Bento XVI aparece no  terceiro volume da revista italiana deste projeto , espaço que busca traçar caminhos para a verdade do amor em meio a um mundo em constante transformação.

Um dos pontos mais notáveis ​​do escrito são as críticas do Papa Emérito às correntes ideológicas atuais, como a ideologia de género e a manipulação da vida em laboratórios. Segundo Bento XVI, estas tendências são fruto de um marxismo disfarçado de liberalismo extremo, que distorceu o conceito de liberdade e ameaça minar a essência do que significa ser humano. Através das suas palavras, o Papa Emérito procura sublinhar que uma verdade sem amor se torna fria, e que é na combinação de ambos que reside a esperança de uma sociedade mais justa e humana.

Este último legado intelectual de Bento XVI não só convida a uma reflexão profunda sobre as questões mais prementes do nosso tempo, mas também deixa um aviso claro: a humanidade deve encontrar um equilíbrio entre o progresso e a preservação da sua natureza, ou correrá o risco de o conseguir. perdido na confusão dos tempos modernos. Abaixo está uma tradução espanhola do artigo.

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“A imagem cristã do homem”

Por Bento XVI

A atmosfera que se difundiu amplamente no cristianismo católico após o Concílio Vaticano II foi inicialmente concebida unilateralmente como uma demolição dos muros, como “derrubar as fortalezas”, de tal forma que em certos círculos começou a temer-se o fim do catolicismo. ou mesmo esperar com alegria.

A firme determinação de Paulo VI e a igualmente clara, mas alegremente aberta, de João Paulo II, conseguiram mais uma vez assegurar à Igreja – humanamente falando – o seu próprio espaço na história futura. Quando João Paulo II, que veio de um país dominado pelo marxismo, foi eleito Papa, alguns pensaram que um Papa vindo de um país socialista deveria ser necessariamente um Papa socialista e, portanto, levaria a cabo a reconciliação do mundo como uma “reductio ad unum” do cristianismo e do marxismo. A insensatez desta posição rapidamente se tornou evidente, assim que se percebeu que um Papa vindo de um mundo socialista conhecia perfeitamente as injustiças daquele sistema, e foi assim que pôde contribuir para a surpreendente viragem que ocorreu em 1989, com o fim do governo marxista na Rússia.

No entanto, tornou-se cada vez mais evidente que o declínio dos regimes marxistas estava longe de ter constituído uma vitória espiritual para o cristianismo. A secularização radical, por outro lado, revela-se cada vez mais como a autêntica visão dominante, privando cada vez mais o Cristianismo do seu espaço vital.

Livro inédito do Bento XVI (CANTAGALLI | ZENIT)

Desde os seus primórdios, a modernidade começa com o apelo à liberdade do homem: a partir da ênfase de Lutero na liberdade cristã e do humanismo de Erasmo de Roterdão. Mas foi apenas na era das convulsões históricas após duas guerras mundiais, quando o marxismo e o liberalismo se tornaram dramaticamente extremos, que surgiram dois novos movimentos que levaram a ideia de liberdade a um radicalismo inimaginável até então.

Na verdade, hoje se nega que o homem, como ser livre, esteja de alguma forma ligado a uma natureza que determina o espaço da sua liberdade. O homem já não tem natureza, mas “faz-se” a si mesmo. Já não existe natureza humana: é ele quem decide o que é, homem ou mulher. É o homem quem produz o homem e quem decide assim o destino de um ser que já não vem das mãos de um Deus criador, mas do laboratório das invenções humanas. A abolição do Criador como abolição do homem tornou-se então a autêntica ameaça à fé. Este é o grande desafio que a teologia enfrenta hoje. E só conseguireis enfrentá-lo se o exemplo de vida dos cristãos for mais forte que o poder das negações que nos cercam e nos prometem uma falsa liberdade.

A consciência da impossibilidade de resolver um problema desta dimensão apenas a nível teórico não nos isenta, no entanto, de tentar propor uma solução ao nível do pensamento.

Natureza e liberdade parecem, a princípio, estar inconciliavelmente opostas: porém, a natureza do homem é pensada, isto é, é criação, e como tal, não é simplesmente uma realidade desprovida de espírito, mas carrega em si o “Logos ”. Os Padres da Igreja – e em particular Atanásio de Alexandria – conceberam a criação como a coexistência da “sapientia” incriada e da “sapientia” criada. Aqui tocamos o mistério de Jesus Cristo, que une em si a sabedoria criada e a incriada e que, como sabedoria encarnada, nos chama a estar juntos com Ele.

Assim, a natureza – que é dada ao homem – já não é distinta da história da liberdade do homem e carrega em si dois momentos fundamentais.

Por um lado, somos informados de que o ser humano, o homem Adão, começou mal a sua história desde o início, de tal forma que o facto de ser humano, a humanidade de cada um, traz consigo um defeito original. “Pecado original” significa que cada ação individual está previamente registrada em um caminho errado.

Contudo, a isto se acrescenta a figura de Jesus Cristo, o novo Adão, que pagou antecipadamente a redenção para todos nós, oferecendo assim um novo começo na história. Isto significa que a “natureza” do homem está, de alguma forma, doente, necessitada de correção (“spoliata et vulnerata”). Isto coloca-o em oposição ao espírito, à liberdade, tal como a experimentamos continuamente. Mas, em termos gerais, também já está resgatado. E isto num duplo sentido: porque em geral já foi feito o suficiente por todos os pecados e porque ao mesmo tempo esta correção pode sempre ser concedida a cada um no sacramento do perdão.

Por um lado, a história do homem é a história de falhas sempre novas; Por outro lado, a cura está sempre disponível. O homem é um ser que precisa de cura, de perdão. O facto de este perdão existir como uma realidade e não apenas como um belo sonho pertence ao coração da imagem cristã do homem. É aí que a doutrina dos sacramentos encontra o seu devido lugar. A necessidade do Batismo e da Penitência, da Eucaristia e do Sacerdócio, bem como do sacramento do Matrimônio.

A partir daqui, a questão da imagem cristã do homem pode então ser abordada concretamente. Em primeiro lugar, é importante a observação expressa por São Francisco de Sales: não existe “uma” imagem do homem, mas antes muitas possibilidades e muitos caminhos nos quais a imagem do homem se apresenta: de Pedro a Paulo, de Francisco a Tomé Tomás de Aquino, do Irmão Conrad ao Cardeal Newman, e assim por diante. Onde há sem dúvida um certo destaque que fala a favor de uma predileção pelos “pequenos”.

Naturalmente, também seria útil examinar neste contexto a interação entre a “Torá” e o Sermão da Montanha, sobre o qual já falei brevemente no meu livro sobre Jesus.

Fonte: https://es.zenit.org/2024/10/22/la-imagen-cristiana-del-hombre-el-texto-inedito-que-benedicto-xvi-autorizo-publicar-tras-su-muerte/

Bispos da África falam sobre impacto do Sínodo da Sinodalidade no continente

O cardeal congolês Fridolin Ambongo Besungu; dom Andrew Nkea Fuanya, dos Camarões e o cardeal Edouard Sinayobye, de Ruanda, conversam com jornalistas em entrevistas coletivas do Sínodo da Sinodalidade em outubro de 2024. | Daniel Ibáñez/CNA

Bispos da África falam sobre impacto do Sínodo da Sinodalidade no continente

Por Kristina Millare*

23 de out de 2024

Delegados africanos de alto escalão que participaram das reuniões deste ano do Sínodo da Sinodalidade no Vaticano falaram sobre suas perspectivas sobre a jornada de “caminhar juntos como povo de Deus” e seu impacto na vida da Igreja na África.

O arcebispo de Kinshasa, República Democrática do Congo, dom Fridolin cardeal Ambongo, presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagascar (SECAM), falou ontem (22) a jornalistas sobre sua satisfação com as negociações sinodais globais deste ano que estão sendo realizadas no Vaticano.

“Devo dizer que estou feliz com o sínodo, que foi convocado para desenvolver uma nova maneira de ser Igreja e não para resolver questões específicas que existem na Igreja”, disse Ambongo ontem (22) em entrevista coletiva.

Mas como o Sínodo da Sinodalidade realmente teve impacto na Igreja na África? E como a Igreja na África teve impacto no processo sinodal global, quando proporcionalmente poucos africanos participam da sessão deste mês no Vaticano?

Pequenas comunidades cristãs: uma Igreja de base

O arcebispo de Bamenda, Camarões, dom Andrew Nkea Fuanya, disse aos jornalistas na entrevista coletiva que a sinodalidade é um “sinal escatológico” na Igreja hoje e falou sobre a importância das pequenas comunidades cristãs como “um grande tesouro para a África”.

“Estamos passando por um momento de boom do catolicismo na África”, disse o arcebispo camaronês. “A sinodalidade ganha muita vida nas pequenas comunidades cristãs porque não se vive no anonimato como católico”.

O padre Don Bosco Onyalla, editor-chefe da ACI África, agência para a África do grupo ACI, disse à CNA, agência em inglês da EWTN News, que o conceito teológico de sinodalidade em que “as pessoas se reúnem” é uma realidade e tradição que já é vivida entre os católicos em todo o continente.

“Na África, a Igreja foi concebida como um grupo de famílias — as pequenas comunidades cristãs”, disse o padre Onyalla. “A estrutura da Igreja na África é de famílias de base se unindo”.

O padre Onyalla disse também que “a instituição da família” — que se estende além do conceito ocidental de família nuclear — poderia “ser uma fonte de inspiração para outras partes do mundo”.

Comunhão, unidade e reconciliação

Segundo o bispo de Cyangugu, Ruanda, dom Edouard Sinayobye, o processo sinodal lançado pelo papa Francisco para a Igreja universal em 2021 dá os “fundamentos bíblicos e teológicos” para crescer em comunhão e reconciliação com Deus e com os outros.

Ruanda está em uma jornada de cura depois do genocídio ocorrido há 30 anos, que matou cerca de 800 mil pessoas do grupo étnico minoritário tutsi.

“Para nós, em Ruanda, falar sobre fraternidade e unidade é realmente uma mensagem muito bem recebida pelas pessoas — ajuda as pessoas a caminharem juntas e a fazerem a jornada juntas — porque depois de tudo o que aconteceu, estamos aprendendo a ser irmãos e irmãs”, disse o bispo a jornalistas em entrevista coletiva no Vaticano em 14 de outubro.

“Devemos acompanhar as vítimas e os perpetradores — isso é algo que fazemos em todas as paróquias e este sínodo nos ajudou consideravelmente”, disse dom Sinayobye. “Foi um espaço no qual fomos realmente capazes de aprofundar a maneira como podemos abordar a reconciliação”.

Cuidar dos pobres e vulneráveis

O arcebispo de Juba, Sudão do Sul, o cardeal Stephen Ameyu Martin Mulla, falou sobre seu apelo para que a Igreja em todo o mundo viva em solidariedade com os pobres e vulneráveis ​​que vivem em vários países.

Dom Mulla espera que o Sínodo da Sinodalidade promova o diálogo ativo e a colaboração entre os católicos e ajude a promover a doutrina social da Igreja, incluindo os princípios de solidariedade, a promoção da paz e a opção preferencial pelos pobres.

“Sinodalidade — caminhar juntos — deve ser o caminho para resolvermos nossos próprios problemas. E espero que todos nós juntos possamos resolver esses problemas”, disse o cardeal a jornalistas em entrevista coletiva no Vaticano em 18 de outubro.

“Os problemas que afetam o Sudão, ou o Sudão do Sul, ou a Colômbia, ou outras partes dos países do Mediterrâneo são nossos problemas”, disse o cardeal. “Estamos relacionados — inter-relacionados — e o diálogo tem que acontecer. Devemos sentir [compaixão] sobre essas situações”.

A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN International) diz que a África é a região prioritária para seus projetos. No ano passado, 31,4% de suas atividades foram dedicadas a apoiar padres e comunidades locais que sofrem perseguição ou pobreza persistente em todo o continente.

*Kristina Millare é jornalista freelance com experiência profissional em comunicação no setor de ajuda humanitária e desenvolvimento, jornalismo de notícias, marketing de entretenimento, política e governo, negócios e empreendedorismo.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/59747/bispos-da-africa-falam-sobre-impacto-do-sinodo-da-sinodalidade-no-continente

As três encíclicas do Papa Francisco, antes da publicação de “Dilexit nos”

Antoine Mekary | ALETEIA

I.Media - publicado em 23/10/24

Nesta quinta-feira, 24 de outubro, será publicada uma nova encíclica do Papa Francisco, por isso revisamos as três encíclicas anteriores do pontífice: Lumen fidei (2013), Laudato si' (2015) e Fratelli tutti (2020).

No dia 24 de outubro de 2024, o Papa Francisco publicará Dilexit nos (“Ele nos amou”, em latim), a quarta de suas encíclicas, dedicada ao “amor humano e ao Sagrado Coração de Jesus Cristo”.

Formalizada no século XVIII, a encíclica é uma carta do Papa dirigida aos bispos, aos fiéis da Igreja Católica e, por vezes, também “aos homens de boa vontade”. Do ponto de vista magisterial, é considerada mais importante que uma exortação apostólica, que por sua vez é mais importante que uma carta apostólica.

Lumen fidei, a quatro mãos com Bento XVI

Para completar a sua série de encíclicas dedicadas às três virtudes teologais (fé, esperança e caridade), Bento XVI avançou na elaboração de uma encíclica sobre a fé. No entanto, ele não teve tempo de publicá-lo antes de Pedro renunciar ao trono em fevereiro de 2013.

Após a sua eleição, o Papa Francisco decidiu retomar a obra do seu antecessor e completá-la, publicando Lumen fidei (A Luz da Fé) em 5 de julho de 2013. Com isso, demonstrou o seu desejo de assumir plenamente o legado de Bento XVI.

A Lumen fidei pretende sublinhar que a fé não é “uma ilusão de luz que dificulta o nosso caminho de homens livres rumo ao futuro”, mas, pelo contrário, “uma luz” que pode “iluminar o presente”. Não nos distância do mundo, insiste o Papa Francisco, porque a fé “não é alheia ao compromisso concreto dos nossos contemporâneos”.

As grandes linhas do pontificado do Papa Francisco podem ser percebidas em todos os momentos, como quando ele escreve que “a história da fé, desde as suas origens, foi uma história de fraternidade”, ou que a fé “nos faz respeitar mais a natureza, fazendo com que reconhecemos nela uma gramática escrita por [Deus]".

Laudato si', a encíclica do 'papa verde'

Antoine Mekary/Godong

Raramente uma encíclica teve tanto alcance como a Laudato si', texto do Papa Francisco sobre ecologia integral, publicado em 2015.

Inspirado no Cântico das Criaturas de São Francisco, do qual é emprestada a primeira linha do título ( Laudato si' , isto é, "Louvado sejas"), com este documento o Papa assume-se como uma das principais vozes a favor de “salvaguardar a Casa Comum” (subtítulo da encíclica).

A publicação da encíclica poucos meses antes da COP21 em Paris confere-lhe um impacto político e mediático sem precedentes.

Neste texto, o Papa apoia-se em relatórios de especialistas, particularmente os do IPCC, para denunciar os males que a Terra sofre devido à crise ecológica. Ele alerta contra uma forma de antropocentrismo moderno alimentada por um “paradigma tecnocrático dominante”, que considera a principal fonte da crise.

Perante este declínio previsto, o Papa Francisco propõe uma “ecologia integral”, isto é, uma visão de ecologia que integre todas as dimensões da vida. Num mundo em que “tudo está relacionado”, insiste ele, é contraproducente separar a ecologia científica ou política das dimensões humana e social.

Neste texto, com conotações sociais particularmente fortes, Francisco apela a um amplo diálogo ecológico a todos os níveis e a uma conversão pessoal para um modo de vida mais responsável.

Fratelli tutti, um manual universal de fraternidade

Inspirada mais uma vez em São Francisco de Assis, a encíclica Fratelli tutti é publicada no contexto particular da pandemia de Covid-19, uma crise que despertou “a consciência de que constituímos uma comunidade global que navega no mesmo barco”, escreve.

Neste documento, que resume os grandes princípios do seu pontificado centrado nas “periferias” e nos “marginalizados”, o Papa convida todas as pessoas de boa vontade, cristãs e não-cristãs, a cultivarem a “amizade social”.

Neste texto, o Papa desenvolve as suas reflexões sobre a “cultura do desperdício” e os ataques à dignidade humana, demasiado frequentes no mundo de hoje. Lembre-se, por exemplo, que os migrantes devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados.

No que diz respeito ao diálogo inter-religioso, o Papa confessa que a encíclica também se inspira no Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed Al Tayyeb. Reitera o seu apelo a todas as religiões para que condenem a violência cometida em seu nome.

O Papa Francisco também faz uma série de apelos no decorrer desta encíclica, que é mais uma vez decididamente social. Apela a uma proibição universal da pena de morte e das armas nucleares. Considera ainda que “hoje é muito difícil” defender o princípio da “guerra justa”. Ele ecoa as palavras do seu antecessor Paulo VI, que falou perante as Nações Unidas em 1965: “Nunca mais guerra!”

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/10/23/las-tres-enciclicas-del-papa-francisco-antes-de-la-publicacion-de-dilexit-nos

Santo Antônio Maria Claret

Santo Antônio Maria Claret (A12)
24 de outubro
País: Espanha (Barcelona)
Santo Antônio Maria Claret

Antônio nasceu em 23 de dezembro de 1807, em Barcelona, na Espanha. Na família aprendeu o caminho do seguimento de Cristo, a devoção à Maria e o profundo amor à Eucaristia. Na adolescência ouviu o chamado para servir à Deus. Assim, acrescentou o nome de "Maria" ao seu, para dar testemunho de que a ela dedicaria sua vida de religioso.

Em 1835 recebeu a ordenação sacerdotal. Trabalhou como pároco e depois, recorrendo a Roma, passou a ser missionário itinerante pela Espanha. Em 1948 foi enviado para evangelizar as ilhas Canárias.

Em 1849 na companhia de outros cinco jovens sacerdotes, fundou a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, ou Padres Claretianos. Nesse mesmo ano, o fundador foi nomeado arcebispo de Cuba. Neste país sofreu hostilidade dos grupos maçônicos.

Mas Monsenhor Claret continuou seu trabalho. Restaurou o antigo seminário cubano, deu apoio aos negros e índios escravos. Quando voltou à Madri em 1857, para ser confessor da rainha Isabel II, deixou a Igreja de Cuba mais unida, mais forte e resistente. Morreu com 63 anos no dia 24 de outubro de 1870, na França.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Santo Antonio Maria Claret destaca-se pelo amor a Palavra de Deus, que tratava com familiaridade e respeito. Ungido pelo Espírito Santo para evangelizar os pobres, é a palavra de Deus que configura sua personalidade no seguimento de Jesus e dos apóstolos. Em tudo Maria Claret fazia a vontade de Deus com humildade e claridade.

Oração:

Deus, nosso Pai, Santo Antônio Maria Claret foi inflamado pelo fogo do vosso Espírito Santo. À todos procurou levar a mensagem do Reino segundo as exigências de seu tempo. Senhor, saibamos nós também responder aos desafios de nosso tempo, extraindo do Evangelho a inspiração para o nosso agir e pensar. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

EDITORIAL: Um coração que muda o mundo

Papa Francisco abraça uma mulher idosa (Vatican Media)

A encíclica do Papa Francisco nos ajuda a compreender o modo como Cristo nos ama.

Andrea Tornielli

O Papa Francisco escreve em sua nova encíclica que “o modo como Cristo nos ama é algo que Ele não quis explicar muito. Ele mostrou isso em seus gestos. Observando-o agir, podemos descobrir como ele trata cada um de nós...”. Filhos como somos do racionalismo grego, do idealismo pós-cristão, do materialismo e, hoje, na cultura líquida do individualismo, lutamos para entender plenamente que o cristianismo não é redutível a uma teoria, uma filosofia, um conjunto de normas morais ou mesmo uma sequência de emoções sentimentalistas. É, em vez disso, um encontro com uma Pessoa viva.

Compreender o modo como ele nos ama, ou seja, como ele nos atrai e nos chama, e entrar em um relacionamento com ele não pode, portanto, ser reduzido ao raciocínio, a uma identidade cultural a ser ostentada ou a um manual de regras a ser consultado quando necessário. Compreender como Jesus nos ama tem a ver com o coração: é uma história de gestos, olhares e palavras. É uma história de amizade, uma questão de coração. “Eu sou o meu coração”, escreve o Sucessor de Pedro, ‘porque é o que me distingue, me configura em minha identidade espiritual e me coloca em comunhão com as outras pessoas’. Podemos entender como Jesus nos ama, sugere Francisco, “vendo-o agir”, ou seja, meditando as cenas do Evangelho e deixando-nos surpreender pelos eventos evangélicos que continuam a acontecer ao nosso redor, talvez onde menos esperamos.

Observando-O agir, vemos que Jesus “dá toda a sua atenção às pessoas, às suas preocupações, aos seus sofrimentos”. O que o Nazareno propõe é “o pertencimento mútuo de amigos”. Ele veio, venceu todas as distâncias, fez-se tão próximo de nós como as coisas mais simples e cotidianas da existência. De fato, Ele tem outro nome, que é “Emanuel” e significa “Deus conosco”, Deus próximo de nossas vidas, vivendo entre nós. O Filho de Deus se encarnou” e esvaziou-se, tornando-se servo e sacrificando-se por amor.

Encontrar a fé cristã é encontrar o coração de Cristo, aquele coração incapaz de permanecer indiferente, que nos abraça com sua infinita misericórdia e nos convida a imitá-lo. E isso tem consequências sociais, porque o mundo, que sobrevive em meio a guerras, desequilíbrios socioeconômicos, consumismo e uso anti-humano da tecnologia, “pode mudar a partir do coração”. A encíclica Dilexit nos se torna, portanto, uma chave interpretativa de todo o pontificado.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF